Revista No Script! do projeto Cinecom UFV – Edição nº 17 – março/2025
MARÇO/2025
CAPA
Luisa Serrano
EDIÇÃO GERAL
Luisa Serrano
DIAGRAMAÇÃO
Luisa Serrano
Luisa Serrano
PROJETO GRÁFICO
Beatriz Valente e Luisa Serrano
REVISÃO
Sofia Souto
REPORTAGEM E REDAÇÃO
Ana Clara Barbosa
Gabriel Victor
Geovana Cassamali
Hamilton Silva
Jairo Augusto Levate
Lahila Soares
Larissa Vidal dos Reis
Luisa Serrano
Matheus Miranda
Milena Miranda
Paloma Fagundes
Rachel Camargo
Rogher Raphael
Ronaldo Scanavini
Sofia Souto
O que pode ser melhor do que ver o Brasil representado no Oscar em plena época de Carnaval? Festejar com a nova edição da No Script ! Viemos celebrar o sucesso de Ainda Estou Aqui e a aclamação de Fernanda Torres nas premiações internacionais, além de analisar ponto a ponto essa temporada.
O CineCom segue entregando o melhor conteúdo para você, que nos acompanha. E, mudando um pouquinho as palavras de Torres: o Cinemigo tem pena de quem não sabe o que CineCom sabe. Esperamos vê-los em 2025. Bom Oscar, boas festas de Carnaval e, é claro, boa leitura!
Redação do Cinecom
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Documentário ou filme de terror? O indicado ao Oscar de Melhor
Documentário No Other Land (Sem Chão, aqui no Brasil) escancara os horrores que palestinos têm vivido no conflito com Israel. O longa mostra a destruição de Masafer Yatta, região no sul da Cisjordânia, pelas lentes do palestino Basel Adra.
Basel luta contra a expulsão em massa da sua comunidade pela ocupação israelense, e denuncia com sua câmera as violências vividas por seus familiares e vizinhos. O filme é uma coprodução de um coletivo palestino-israelense de quatro ativistas, entre eles o israelense Yuval Abraham, que protagoniza o documentário junto de Basel. Essa amizade é sempre reforçada pela desigualdade extrema entre os dois.
Não há como escolher lados num genocídio. É importante se politizar e aprender cada vez mais sobre a história palestina e sobre os terrores causados por Israel. Por isso, o Cineducação trouxe algumas mídias para você conhecer melhor a situação Israel-Palestina, afinal, a arte também é denúncia.
“Palestine Film Institute”, que disponibiliza gratuitamente filmes palestinos ou sobre a Palestina toda semana. Você pode acessar no QR Code ao lado.
POR LUISA SERRANO
Quadrinho
Anora, uma princesa dos tempos modernos
Anora , o filme vencedor da Palma de Ouro de Cannes, dirigido por Sean Baker, pode até parecer um conto de fadas no início. Mas, basta a primeira hora passar para que a gente entenda que princesas só existem mesmo nos filmes da Disney.
Na trama, Ani (Mikey Madison) é uma stripper nova-iorquina de ascendência russa. No trabalho, acaba conhecendo Ivan (Mark Eydelshteyn), filho irresponsável de um oligarca russo, cujo único desejo e preocupação é divertir-se dia e noite (como todo garoto bilionário de vinte anos). A partir daí, os dois começam um romance relâmpago e resolvem se casar em Las Vegas. Os problemas surgem quando os pais de Ivan descobrem o casamento e decidem pôr um fim na lua de mel do casal.
A princípio, pode até parecer que o longa segue o arco clichê de todo filme romântico, com um casal injustiçado que encontra um meio de ficar junto no final. Entretanto, Anora é realista ao mostrar que todas as relações são construídas por interesse, refletindo a dinâmica de um jogo de poder.
Nesse quesito, o roteiro, ainda que dramático, consegue ser divertido, possibilitando ao espectador compreender as razões por trás das ações de todos os personagens envolvidos na história.
O filme conta com atuações excelentes, com destaque para Mikey Madison e Yura Borisov, que interpreta Igor, além de uma fotografia e trilha sonora grandiosas. Logo, não surpreende que Anora esteja indicado ao Oscar em seis categorias.
No fim, neste conto de fadas ao avesso, quem nasceu para ser gata borralheira jamais será Cinderela.
POR LAHILA SOARES
Ainda Estou Aqui
Por dentro do aclamado filme sob a direção de Walter Salles
Uma grande família
O entrosamento entre os atores é fundamental em uma produção cinematográfica. Em entrevista ao podcast da Telecine, Valentina Herszage, intérprete de Veroca, contou que o clima nos bastidores era leve, fruto de uma imersão intensa no projeto. A preparação ocorreu na casa onde o filme foi gravado, fortalecendo a conexão familiar do elenco. Um exemplo disso foi a decoração do quarto de Veroca e Eliana Paiva (Luiza Kosovski), feita pelas próprias atrizes a pedido de Walter Salles.
Parceria de milhões
A escolha do elenco é essencial no cinema. Ainda Estou Aqui baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, narra o desaparecimento de Rubens Paiva durante a ditadura sob a perspectiva de sua esposa, Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres. Walter Salles retorna às telonas como diretor e reforça sua parceria com a atriz. Em entrevista à Forbes, Torres revelou que foi convidada sete meses antes das gravações e se surpreendeu, pois atuava na comédia há anos. Sentindose lisonjeada, mergulhou na preparação para o papel, chegando a emagrecer 10kg.
Mais um integrante da família
A casa que os Paiva alugavam no Rio de Janeiro é vista por Salles e pelo elenco como um personagem da história. O casarão simboliza o afeto entre os familiares, mas também evidencia a ausência de Rubens Paiva, levado pelo DOI-CODI, órgão de repressão da ditadura. Embora a moradia original não existisse mais, com a ajuda de Nalu, a direção de arte encontrou uma casa semelhante na Urca, zona sul da cidade
É preciso falar sobre a trilha sonora, Meu amigo
A trilha sonora do filme foi cuidadosamente selecionada por Affonso Gonçalves, Heitor Lorega, Murilo Hauser e Walter Salles. Em entrevista à Superinteressante, Gonçalves revelou que algumas músicas foram escolhidas ainda no roteiro. Ele destacou também a inclusão consensual de Roberto Carlos, cuja figura na ditadura era ambígua: ora compondo protestos, como É preciso dar um jeito, meu amigo, com Erasmo Carlos, ora recebendo honrarias militares. Essa canção tem papel central no longa, marcando sua abertura e desfecho para reforçar a memória. Além de caracterizar os personagens, a trilha é essencial para a ambientação e o contexto histórico da trama.
Reencontro com o passado
A história contada no longa é um fato familiar. O diretor revelou em uma matéria concedida ao Harper’s Bazaar que conheceu e teve acesso à intimidade da família durante sua juventude por meio de sua amiga, Nalu Paiva, a irmã do meio. Nalu abriu as portas de sua casa, permitindo que Salles passasse sua adolescência convivendo com os Paivas no Leblon, onde a família residia. Naquele ambiente, Walter também teve sua vida transformada, pois foi ali que teve contato com diversas pessoas e discussões que circulavam na casa que alimentou seu conhecimento de política e de mundo. Dessa forma, ao contar essa narrativa, Salles revisita também seu passado.
POR LARISSA REIS
O compromisso do Cinecom sempre foi trazer cinema de qualidade gratuito e nós cumprimos com nosso papel. Nessa temporada de premiações é importante lembrar de algumas obras que nós trouxemos para vocês e que além de serem indicadas, venceram diversos prêmios.
Abrindo com chave de ouro, em abril de 2018, nós trouxemos um dos filmes mais aclamados do século XXI, LionUma Jornada para Casa foi lançado em 2016 e conta a história real de Saroo Brierley, um menino indiano que depois de se perder da sua família, é adotado por uma família australiana, aos 25 anos ele tenta reencontrar a família biológica.
Mas 2018 não parou só aí, em setembro, o filme escolhido foi O Show do Truman , que conta a história de Truman, um homem que se acha normal mas descobre que toda a sua vida é televisionada e quase tudo, montado.
Em 2019, tivemos três destaques, em maio, um dos filmes nacionais mais amados pelo público Que Horas Ela Volta? , estrelado por Regina Casé nos
leva a conhecer Val, uma empregada doméstica que mora na casa de seus patrões em São Paulo, quando sua filha decide ficar um tempo com ela, as dinâmicas na casa mudam e ela começa a perceber seu papel e valor. Ainda no mesmo ano passamos Infiltrado na Klan e A Viagem de Chihiro , ambos vencedores do Oscar.
Muito antes do sucesso de AindaEstou Aqui , O Menino e o Mundo conquistou seu espaço na premiação e também na UFV, com uma sessão super especial em 2022.
E é claro que não poderia faltar Pequena Miss Sunshine , que em 2007 ganhou o Oscar de melhor roteiro original e o prêmio de sessão favorita do Cinecom em 2023. Escolhido por causa do setembro amarelo, acompanhamos uma família que vai atravessar o país de van para levar Olive, de sete anos, a um concurso de beleza infantil.
Mas não se preocupe que a gente não para por aqui, o Cinecom sempre está por aí, ameaçando trazer mais um filme.
POR SOFIA SOUTO
A
Sub S tânci A conqui S tA e S pA ço e repre S entA o terror no oS c A r
APÓS QUASE 100 EDIÇÕES, O TERROR CONTINUA SENDO O GÊNERO MAIS ESNOBADO PELA ACADEMIA.
Não é de hoje que o terror é deixado de lado pela premiação mais famosa do cinema. Ao longo de quase um século, apenas sete filmes foram indicados para Melhor Filme: A Substância, O Exorcista, Tubarão, Sexto Sentido, Cisne Negro, Corra! e, o único vencedor, OSilênciodosInocentes .
Contudo, o que torna a presença de A Substância na corrida pelo prêmio tão interessante não é apenas o gênero pelo qual faz parte, mas também o quão terrorífico ele é. Basta analisar os filmes e perceber que alguns nem são associados diretamente ao terror, e outros tentam navegar para fora do estereótipo dos clássicos filmes B, mostrando-se como sérios e prestigiosos. A Substância não tenta nada disso. Ele se apresenta como um filme de terror bem escrachado, sanguinolento e irônico. Ele é tudo o que a Academia vem menosprezando em filmes de terror. Então por que o filme está tão forte nessa temporada?
Antes de entrar nesse ponto, vamos falar da categoria de Melhor Atriz. Apesar de ser um pouco mais receptiva aos filmes de terror, muitas atrizes grandiosas como Toni Collette em Hereditário , Lupita Nyong’o em Nós e
a recente Lily-Rose Depp em Nosferatu foram completamente esquecidas pela premiação. Mas Demi Moore, a protagonista de A Substância , foi indicada e tem fortes chances de vitória.
Essa força da campanha de Moore, (e de A Substância) vem da narrativa de ser uma atriz também esquecida pelos prêmios, uma mera “atriz pipoca”. Quando, de repente, ela surge num filme de terror corporal extremamente sangrento, num papel que preza pela nojeira e repulsa em tela. Mas não só isso, A Substância parece retratar a vida de Demi Moore, e os padrões de beleza inalcançáveis que, não só ela, mas todas as mulheres sofrem.
A Substância arromba as portas do Oscar com uma narrativa feminista forte, uma atriz pronta para disputar o prêmio e muito sangue. Independente da vitória, as indicações representam que filmes de terror finalmente estão sendo levados a sério.
POR LUISA SERRANO
POR ANA CLARA BARBOSA
incident
Quando pensamos no Oscar, a categoria de “melhor documentário de curta-metragem” não vem à nossa cabeça automaticamente. Mas isso não quer dizer que não sejam obras de ótima qualidade!
Um dos indicados esse ano é Incident , um filme que traz um formato completamente original e vem com um objetivo: a verdade jornalística. Feito e lançado gratuitamente pelo The New Yorker, esse documentário vai nos mostrar o que aconteceu com Snoop Augustus, um cabeleireiro preto que foi brutalmente assassinado por policiais em Chicago em 2018.
Além da trama interessante, o filme tem um formato inovador, todas as imagens, vídeos e áudios presentes são de câmeras de vigilância locais ou da vestimenta dos policiais. Ao assistir o filme, sentimos como se tudo estivesse acontecendo ao vivo, com a obra ainda trazendo diversas perspectivas paralelas.
Existe um ponto de discussão óbvio: a brutalidade policial. Percebemos como a vítima é tratada em relação ao seu comportamento e a tentativa incessante dos policiais de justificarem o porquê de suas ações e insistirem que estavam em perigo. Mas além disso, em apenas 30 minutos, ainda conseguimos ver a reação visceral do público que repugna o que aconteceu e como tudo rapidamente se torna um protesto, vemos o amigo e colega de Snoop reconhecendo seu corpo, amigos e vizinhos lutando e chorando por ele e como mais uma vez os policiais transformam essas pessoas inocentes em monstros.
Incidentnão é só um filme, ele representa o que o jornalismo deve ser, honesto, justo e escancarado, mostrando ao povo que nossos protetores são muitas vezes nossos piores inimigos.
POR SOFIA SOUTO
Olhar único sobre um passado sombrio não tão distante
Nos holofotes do mundo, o filme de Walter Salles usufrui de história real e brilhantismo de Fernanda Torres para alcançar dramatização impressionante
POR RONALDO SCANAVINI
Sucesso brasileiro sem igual, o filme Ainda Estou Aqui deu seus primeiros passos antes mesmo de seu lançamento. Durante o tradicional Festival de Veneza - o mais antigo de cinema do mundo - a obra foi amplamente aclamada e aplaudida por 10 minutos ininterruptos.
Seu tamanho sucesso e inquestionável qualidade garantiram a conquista da categoria de Melhor Roteiro no Festival, sem contar a disputa pelo Leão de Ouro, prêmio de Veneza cedido ao melhor filme do ano.
O reconhecimento internacional de prélançamento foi crucial para posicionar os holofotes à obra, que chegou ao top 20 filmes brasileiros mais assistidos da história, com mais de 5 milhões de espectadores. Isso após as redes sociais serem palco de elogios e críticas que impulsionaram a exibição em todo o Brasil e no mundo.
Aos poucos, Ainda Estou Aqui foi invadindo o espaço de outras premiações prestigiadas de cinema, e não somente por seu roteiro, mas por atuações “dignas de Oscar”. É o caso do brilhantismo de Fernanda Torres.
A sua performance conquistou o prêmio de Melhor Atriz de Drama do Globo de Ouro e do Satellite Awards. Ela ainda concorre ao Oscar de Melhor Atriz, e se junta aos seus colegas em mais duas indicações: Melhor Filme e Filme Internacional.
Uma obra cuja narrativa que conta uma história vivida na América latina conseguiu chegar mais uma vez ao estrelato do cinema. Walter Salles, diretor do longa e também de Central do Brasil - outro sucesso brasileiro, levou uma narrativa real e profunda para as telonas e ela, por si só, já é testemunha de uma época sombria da realidade brasileira e que respinga até hoje em outros países.
“O filme é um drama simples e universal - que, mesmo tendo especificidades sobre a história do Brasil, reverbera em uma audiência de qualquer nacionalidade.”
A produção é uma adaptação do livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, em que conta um recorte histórico da Ditadura Militar Brasileira. A história de 1971, verídica e vivida por Marcelo, tem como protagonista sua mãe, Eunice Paiva (Fernanda Torres), esposa de Rubens Paiva (Selton Mello), um ex-deputado cassado após o golpe e que é sequestrado pelo regime militar.
Tanto o filme quanto o livro exibem um olhar próximo de uma mãe e esposa que lida com o desaparecimento, sem explicações, de seu marido. No longa-metragem, Salles expõe com excelência o contexto frágil emocionalmente vivido por uma família da elite carioca. Ele trata, de forma nada sutil, as ações repressivas de um governo fascista, que afetou até as famílias de classes sociais mais altas, abrindo verdadeiras feridas que nunca cicatrizaram.
De acordo com Alexandre Almeida, crítico do site Omelete, o filme, apesar de contar uma história específica, consegue impactar qualquer um que o assista.“O filme é um drama simples e universal - que, mesmo tendo especificidades sobre a história do Brasil, reverbera em uma audiência de qualquer nacionalidade.” Mas, ainda assim, o longa gerou controvérsias quanto aos possíveis motivos do enorme sucesso internacional.
O jornalista e escritor Tom Farias, durante o programa Roda Viva da TV Cultura, questionou Marcelo Rubens Paiva sobre críticas de que o filme precisava de um recorte mais amplo da Ditadura, exibindo o sofrimento de pessoas negras e de classes sociais mais baixas, estas, inclusive, consideradas as mais afetadas daquela época.
Mas o escritor rebateu e discordou das opiniões. “O que é importante no filme é que mostra uma família burguesa que poderia se acomodar, como quase todas as famílias burguesas brasileiras, [ela] poderia se aproveitar da ditadura para enriquecer, só que não”.
No mais, o filme teve uma carta triunfo que muitas produções almejam ter: uma atriz com técnica impecável e atuação única. Fernanda Torres conseguiu passar ao público o peso dramático na quantidade certa - nem mais, nem menos. O longa ainda conta com fotografias de tirar o ar de Adrian Tejido e da perfeita trilha sonora de Warren Ellis, ambos da equipe imparável de Walter Salles. A obra, então, concede uma visão de uma família que, mesmo amparada em privilégios sociais, sofre com o fascismo da Ditadura Militar e tem de se reinventar em meio a censura e a tortura vivida por parentes, que nunca mais voltaram para casa.
a totalmente premiada
FERNANDA TORRES
“Torres
ficou conhecida por seu trabalho na comédia, atuando na popular sitcom brasileira Slaps & Kisses (Tapas & Beijos)”
Mas a carreira brilhante da carioca começou muito antes disso. Fernanda é filha dos também atores Fernando Torres e Fernanda Montenegro, nasceu no Rio de Janeiro em 15 de setembro de 1965 e desde então respirou arte, acompanhando os pais nos ensaios e nos palcos.
Ainda aos 13 anos, entrou para o Tablado, um tradicional espaço de formação de atores. Em 1978 teve sua estreia na peça UmTangoArgentino.No ano seguinte teve sua primeira participação na televisão, no programa Nossa Cidade . Além disso, deu início a sua carreira na Globo na série Aplauso . Aos 15 anos, atuou em Baila Comigo (1981), sua primeira novela. Desde então nunca parou, atuou na TV, no cinema, no teatro e em 2013 publicou seu primeiro livro, que foi adaptado para a televisão em 2023, projeto no qual trabalhou como roteirista.
Fernanda é extremamente eclética, obteve papéis de destaque do drama à comédia, seja em novelas, peças, filmes, seriados ou programas de humor. A atriz recebeu várias indicações ao longo de sua carreira e foi premiada por diversos trabalhos, é a primeira (e única) atriz brasileira a ganhar um Globo de Ouro e fez história novamente ao ser indicada ao Oscar, assim como sua mãe, trazendo a segunda indicação ao país.
Com uma carreira consagrada e celebrada por seus pares e fãs, Fernanda está impecável como Eunice Paiva em AindaEstouAqui,torcemos para que ela traga mais essa estatueta para casa. Entretanto, independente do resultado, ela já ganhou a admiração e o coração de todos com seu carisma e talento!
POR PALOMA FAGUNDES
Quando um diretor francês decide abordar uma temática tão sensível quanto as pessoas que desaparecem por causa do tráfico de drogas no México, sem pesquisar nada sobre o assunto, através de um musical, parece uma ideia absurda. Ainda por cima gravar o filme fora do México, com quase nenhum mexicano no elenco e produção do filme, enquanto a maior parte do filme é em espanhol? Parece um desastre premeditado. Infelizmente a primeira impressão é a que fica em EmiliaPérez .
O longa conta a história de Emilia Pérez, uma mulher trans que antes de transicionar era um dos maiores chefes de cartel do México. Para poder viver a vida que sempre quis, a protagonista forja a própria morte para todos, até mesmo sua esposa e filhos. Agora em sua nova vida, Emilia se sensibiliza com os desaparecidos do narcotráfico e cria uma ONG que ajuda a encontrar essas pessoas.
A trama se enche de narrativas e não desenvolve de fato nenhuma delas, não existe personagem ou relação
no filme que marque o espectador. As músicas mal parecem ter sido pensadas para o contexto das cenas e estão apenas jogadas no meio do filme, muitas vezes sendo mais um diálogo cantarolado do que uma música. O filme ainda consegue entregar uma visão eurocêntrica do que é o México, resumindo o país a violência, corrupção, morte e terremotos.
Não obstante, a obra ainda usa o fato de Emilia Pérez ser trans quase como um ponto de dupla personalidade, separando completamente a pessoa antes e depois de suas cirurgias. Tudo isso para tentar justificar a santificação da personagem por todo bem que sua ONG gerou, fingindo que não foi a própria que gerou muitos dos desaparecimentos.
No fim, Emilia Pérez precisa das polêmicas para não ser simplesmente esquecível.
POR MATHEUS MIRANDA
E O OSCAR
VAI PARA... (não)
… bem, para muitos filmes! Em todos esses anos nessa indústria vital essa não é nem de longe a primeira vez que acontece do Oscar esnobar alguns dos melhores lançamentos do ano. Sobre a edição de 2025 podemos apontar algumas ausências.
Tendo aparecido como forte competidor a uma vaga na categoria, com sua presença ainda na shortlist, o sentimental Comofazermilhõesantes que a vovó morra (2024) foi a aposta para melhor filme estrangeiro vindo diretamente da Tailândia. Com uma carga emocional altíssima e apostando em um roteiro que capta o mais frio dos corações, o drama implodiu em diversos festivais ao redor do globo e tinha como certo seu ingresso na disputa de melhor filme internacional. O que não aconteceu já que infelizmente EmiliaPerezexiste.
Comentado o ano inteiro, (2024) foi a primeira aposta de Luca Guadagnino nos esportes e ele conseguiu ser muito bem sucedido com sua abordagem. A trilha sonora de excitar todos os nervos e a direção precisa fizeram par as atuações à flor da pele de Zendaya, Faist e O’Connor serem levadas ao ápice. É criminoso que o longa não esteja sequer indicado nas categorias técnicas, crime maior é Luca não estar disputando melhor diretor após captar o POV de uma bola
Nas animações, o japonês Look Back (2024) conquistou lágrimas e corações ano passado, ele conseguiu transmitir um pouco do mundo interno que habita aqueles que criam arte. Mostrando esse poder como uma válvula de pressão. Esse ano melhor animação está bem concorrido, logo seria melhor criar uma merecida sexta vaga.
Vale a pena ressaltar que o principal fator que leva a ausência de um filme na premiação é sua campanha, que constroi um enredo durante a temporada e torce para ser comprado no Oscar. Quando um filme foca mais em seu produto do que por fazer campanha, ele pode ser ignorado pelas competições.
POR HAMILTON SILVA
Em setembro de 2024, fomos aclamados por um filme de terror corporal que deixa qualquer um agoniado. A Substância foi escrito e dirigido por Coralie Fargeat e estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, as quais fizeram sucesso pela cautela em tratar um tema delicado de forma brusca.
Caso não tenha ainda assistido a trama, se trata de uma celebridade em declive (Elisabeth Sparkle) que foi demitida logo após completar 50 anos, este considerado já velha demais para um papel de um programa aeróbico de acordo com seu diretor. Anos de carreira foram destruídos em segundos ao ser demitida, afinal, o público sempre quer algo novo. E o novo só poderia ser ela - só que melhor. A fragilidade de não ser mais aceita fez com que passasse por cima de todas as evidências que a substância se tratava de um tratamento perigoso - te lembra algo?
Sua nova versão (Sue) é alimentada pelo ego de realizar seus desejos momentâneos, se tornar jovem novamente e recuperar seu papel na TV. Ignorando a regra dos 7 dias para cada troca, achou melhor abusar do corpo mãe e viver seu reconhecimento do que lamentar por não estar vivendo aquilo.
A Estrela na Calçada da Fama em que esta faz uma analogia ao uso e abuso dos artistas, se assemelhando a uma lápide, cuja importância irá durar tanto quanto o frescor da tinta e a qualidade do cimento ali usado. Toda sociedade nos afeta, mas até onde essa influência nos levará? Numa população com padrões altíssimos para se encaixar no mundo da fama como uma mulher ideal, Elisabeth foi longe demais.
POR MILENA MIRANDA
HORÓSCOPO DO MARKETING
A No Script do mês de Março é uma revista pisciana. Empolgada, criativa e sensível, assim como tem que ser. Apurada e com incrível senso estético, os piscianos são artistas por natureza, assim como todos os membros do CineCom. Então topam uma indicação astrológica do Cinecas?
ÁRIES TOURO GÊMEOS CÂNCER
LEÃO VIRGEM LIBRA ESCORPIÃO
As premiações do cinema já estão rolando e vêm embaladas pelas trilhas sonoras dos filmes indicados. Por isso, selecionamos 15 músicas para você curtir enquanto aguarda as próximas cerimônias; e, é claro, trouxemos algumas faixas especiais do filme Ainda Estou Aqui , nosso queridinho premiado do momento.
POR LUIZ FELIPE E MILLENA KELLY
POR ALEISTER LIMA
rádio
CONCLAVE
A hipocrisia de uma instituição que prega aceitação
Conclaveé um thriller político que desmascara as contradições da Igreja Católica
Conclave , filme dirigido por Edward Berger e indicado a oito Oscars , é inspirado no livro de mesmo nome e tem como objetivo central expor algumas contradições e hipocrisias que envolvem a Igreja Católica. Embora os religiosos frequentemente assumam posições simbólicas sobre o que é certo ou errado, o que vemos no conclave são cardeais mesquinhos, individualistas e “pecadores”, numa trama envolvente que se desenrola como um verdadeiro “Game of Thrones” do Vaticano.
O protagonista, Cardeal Thomas Lawrence, enfrenta profundos questionamentos sobre sua fé, chegando a pedir exoneração do cargo antes mesmo da morte do papa anterior, pedido que foi negado. Apesar de sua crise espiritual, Lawrence é responsável por gerenciar todo o processo da eleição papal, um personagem perturbado e dividido em meio a um turbilhão de disputas políticas.
O filme mostra o Vaticano como um campo de batalha pelo poder, onde a hegemonia e a influência são mais importantes do que a fé e os valores pregados pela instituição. Essa abordagem crítica faz com que o filme seja polêmico e mal recebido pelos religiosos, especialmente pelo desfecho considerado “anticatólico” por alguns.
ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS!
A parte mais impactante ocorre com a chegada inesperada de Cardeal Benitez, um mexicano que foi indicação do papa anterior. A polêmica surge quando é revelado que Benitez é intersexo, ele explica que foi criado como menino e só descobriu
sua condição na vida adulta, mas isso não é suficiente para muitos religiosos, que acreditam firmemente que apenas homens cis podem ocupar o papado.
Mesmo descobrindo o segredo de Benitez, Lawrence decide não revelar aos demais cardeais. Essa decisão é motivada por um senso de justiça e humanidade. Em vez
de julgamento, Lawrence escolhe analisar seu caráter e confiar na sabedoria do antigo papa. Esse gesto simboliza uma esperança utópica de acessibilidade que o diretor Edward Berger desejou retratar, embora reconheça que essa mudança está longe de acontecer na realidade.
A escolha de Lawrence representa uma crítica direta à postura tradicional da Igreja em relação à identidade de gênero e à vida individual das pessoas, expondo as contradições de uma instituição que deveria pregar o amor ao próximo.
Conclave é um thriller político carregado de ambições, traições e reviravoltas em um universo taxado como “perfeito”. Com atuações surpreendentes, uma trilha sonora envolvente e uma fotografia impecável, o filme se torna uma das obras mais impactantes do ano. Não à toa, é considerado um dos favoritos ao Oscar 2025.
POR GABRIEL VICTOR
Por meio de uma coletânea de registros feitos em meados de 1960 até o momento atual, o diretor belga Johan Grimonprez relata as consequências da disputa de países africanos no período da Guerra Fria que desencadearam na tortura e morte do líder anticolonialista congolês Patrice Mulumba.
Após uma colonização que resultou no massacre de 15 milhões de pessoas, Mulumba foi eleito primeiro-ministro do Congo independente. Sendo um líder e intelectual que ocupava um lugar de destaque em toda a luta, foi responsável pela unificação dos países africanos em busca de independência. Em 17 de janeiro de 1961, com envolvimento da Bélgica, Inglaterra e Estados Unidos, o político foi brutalmente assassinado e teve seu corpo derretido em ácido, restando somente um dente levado como souvenir pelos colonizadores.
Trazendo nomes como Louis Armstrong, Nina Simone, Abbey Lincoln, Dizzy
Documentário indicado ao Oscar relaciona jazz e exploração da República do Congo
Gillespie e Archie Sheep, o diferencial da obra se estende no uso de instrumentais e canções do jazz afro americano durante toda a trajetória documentada. Torna-se possível entender que, apesar de ser um símbolo de resistência, o cenário do jazz em seu tempo de ouro foi maliciosamente articulado como propaganda política pelo governo estadunidense.
Na disputa da exploração mineral e dominação de territórios, mesmo sem saber, os artistas foram utilizados por meio de turnês em solo africano como cortina de fumaça ao golpe de estado arquitetado pela CIA.
Em uma orgia de imagens e sons perfeitamente articulados, Grimonprez traz uma conscientização política necessária e enfatiza que o Congo até hoje enfrenta um genocídio promovido por nações europeias e Estados Unidos.
POR GEOVANA CASSAMALI
Flow é um daqueles filmes que te pegam desprevenido, que você olha e pensa: que poster bonito e um gato de protagonista, deve ser excelente para apenas relaxar e descansar a cabeça. Porém, quando você menos espera, naquele momento de transição entre as cenas, você está comovido pelo gato, curioso pelo mundo e chocado pelo fato que não tem nenhum diálogo no filme, tudo é contado por essas imagens em sequência que formam um filme, algo fascina os seres humanos desde o começo, basta lembrarmos do desejo de pintar em cavernas no lugar de fazer algo considerado “produtivo”.
E além disso, um filme que tem um foco em uma enchente, enquanto vivemos em um mundo que precisa se adaptar às crises climáticas, com pessoas que vivenciaram situações similares, faz tudo parecer muito real, como se o filme convidasse o telespectador a sentir e questionar durante toda essa jornada, onde estão os humanos? O que houve com esse mundo? Esse é um futuro distópico ou apenas o nosso presente?
Em um mundo atual que preza cada vez mais por um individualismo irreal e salvar a economia no lugar do planeta, acompanhar vários animais tentando se salvar em um mundo devastado, mas também cheio de vida e cor, é algo que faz qualquer um pensar no fim que está sendo construído neste exato momento, esse é o grande poder dessa animação, além de ser visualmente impecável e cheio de carisma, você termina carregando questionamentos dentro de si e com algo a mais, algo que apenas artistas são capazes de entregar.
POR ROGHER RAPHAEL
Fernanda Torres, conhecendo o seu país, disse para não entrarmos em clima de copa do mundo; mas como não se emocionar com um filme nacional recebendo todo esse reconhecimento e aclamação? Não é um raio que costuma cair duas vezes no mesmo lugar. E assim como na copa, é impossível não termos nossas torcidas. A equipe da redação (como bons cinéfilos que somos) tem seus favoritos para as indicações.
Para as categorias de Melhor Atriz e Melhor Filme nossa torcida vai obviamente para Fernanda Torres e Ainda Estou Aqui , não apenas pelo patriotismo mas também pela beleza, sensibilidade, importância histórica e contemporânea ao retratar um período tão difícil na história de nosso país que muitos lutam para resgatar e reescrever. Fora isso a inigualável performance de Fernanda que transmite com maestria a tristeza, dor e força de Eunice.
Mas infelizmente sabemos que o Oscar está longe de ser uma premiação justa, em boa parte se trata de um conjunto de fórmulas e parcerias além de servir como um mecanismo para fortalecer o soft power estadunidense. Então, apesar da torcida, muitos estão céticos de que a premiada será Demi Moore por sua atuação em ASubstância . Outros longas citados para Melhor Filme são Conclave , Duna e OBrutalista .
Para a categoria de Melhor Ator, o nome mais citado foi o veterano Ralph Fiennes por sua atuação em Conclave . Outro queridinho é o também veterano Colman Domingo. Um nome citado poucas vezes mas que merece ser falado é o de Timothée Chalamet por sua atuação em Um Completo Desconhecido que, mesmo não sendo o filme mais aclamado ou a atração de maior destaque do ator, possui sim uma grande chance de ser o vencedor.
Em direção (muito provavelmente pela injustiça de Walter Salles não ter sido indicado) o nome mais apontado como favorito foi Caroline Farger por A Substância , o que é totalmente compreensível devido ao impacto que o filme teve no ano passado ao trazer um novo ar para o cenário de terror, além de ser um sucesso de crítica e de público. Fora isso, algo que deve ser celebrado é que a indicação de A Substância e Caroline Farget representa um ato histórico na academia após anos em que filmes de terror foram esnobados e considerados um gênero “inferior” do cinema, sua vitória representaria uma revitalização para o gênero.
Essas são nossas torcidas e apostas, esperamos não nos decepcionar mesmo sendo realistas, pois somos brasileiros e não desistimos nunca.
Ei, ainda não acabou! Não esquece de conferir nossas matérias do blog sobre os indicados ao Oscar!
CRÍTICA WICKED (2024)
CENAS QUE MARCAM A MEMÓRIA DA DITADURA
REDAÇÃO ANALISA CONCLAVE
O HORROR É FEMININO?
2024 FOI O ANO DOS FILMES DE SEQUÊNCIA
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