Revista O Campeão, Nº 161

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BRASIL

DIVULGAÇÃO

ANO 15

#161  •  JANEIRO DE 2015

www.revistaocampeao.com.br

Estamos sem educação? O PISA é uma avaliação realizada a cada três anos pela OCDE. Participam estudantes com 15 anos de idade. A avaliação pretende aferir o quanto os alunos aprenderam em sala de aula e também fornecer subsídio para políticas de educação. A Coreia fez o dever de casa enquanto que entre 65 nações participantes, estamos na lanterna!

NESTA EDIÇÃO: EDITORIAL: Cabo de guerra....................................................... P. 04 n n n n

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Creches fechadas nas férias................................................... P. 05 Que país é esse?.......................................................................... P. 06 Lição de casa, melhor desempenho.................................. P. 08 Artimanha para inflar presença no ENEM....................... P. 10   JANEIRO DE 2015

n n n n n

A escolha das escolas de seus filhos.................................. P. 16 Os métodos da Coreia do Sul e da Finlândia................. P. 18 Dia a dia em uma escola dos EUA...................................... P. 03 Reserva de vagas......................................................................... P. 22 Nossa escola é desonesta....................................................... P. 24


ÍNDICE

Supermercados - horários de funcionamento u DAVITA ( 3466-3199 Das 08 às 20h00 - Domingos e feriados 08 h00 às 13h00 u DIA% ( 0800 775 1080 - Sumaré e Nova Odessa 08 às 20h00 - Domingos e feriados 08h00 às 14h00 u GUELERE (Picerno) ( 3828-2997 7h30 às 21h00 - Domingos e feriados 08 h00 às 13h00 u PAGUE MENOS ( 3466-8100 08 às 22h00 - Sábado 08 às 21h00 - Domingos e feriados 08 h00 às 20h00 u PARANÁ ( 3883-5978 ( 3476-3770

08 às 21h00 - Domingos e feriados 08h00 às 08h00 u POUPAR: ( 3476-5911 08 às 21h00 - Domingos e feriados 08h00 às 18h00 u SANTANA (Picerno) ( 3873-6006 08 às 20h00 - Domingos e feriados 08 h00 às 13h00 u SÃO VICENTE ( 3466-8950 08 às 22h00 - Domingos e feriados 08 h00 às 20h00 u VAREJÃO SHOPPING FRUTAS ( 3476-3103 08 às 19h30 - Domingos e feriados 08h00 às 12h30

TELEFONES ÚTEIS, ESPECIAIS E ESSENCIAIS

O MELHOR DO COMÉRCIO E DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS ESTÁ AQUI! ALIMENTAÇÃO Lanches, pizzas............................. 11/14 Rodízio de Pizza.................................. 21 Marmitex.............................................06 Panificadora........................................06 Cerveja, Tábua de frios, quenga....... 20 Salgadinhos para festas ..................... 21 ARTIGOS ESPORTIVOS ................... 06 AUTOS / PEÇAS / SERVIÇOS Auto center, lava rápido, freios ......... 22 Auto peças, auto elétrica....................22 Borracheiro, Posto de gasolina, Vidros, Radiadores............................. 22 ASSISTÊNCIA TÉCNICA Eletrodomésticos...........................16/17 BELEZA Cabelo, Noivas...................................10 Cosméticos........................................ 07 CONSTRUÇÃO Impermeabilização.............................19 Madeiras.............................................19 Marcenaria, planejados................ 03/11 Pisos e azulejos...................................19 Calhas.................................................19 DECORAÇÃO Cortinas, Estofados ...................... 16/17 ESCOLAS Teatro Musical, Ballet clássico,

Sapateado, Fotografia........................04 Auto-Escola.........................................23 Ginástica para o cérebro....................13 FESTAS/SERVIÇOS Artigos para festas..............................14 Salões para eventos............................14 Aluguel de trajes ................................10 IMOBILIÁRIAS .................................. 15 MODA Feminina, Masculina, Infantil........ 06/13 Plus Size, cama, mesa, banho .......... 12 Moda com atendimento VIP............. 24

NOVA ODESSA

ECT - Correioss..................... 0800-725-7282

SUMARÉ Biblioteca Pública de Sumaré... 3828-8342 Prefeitura Municipal.....................3399.5100 Câmara de Vereadores................3873.1891 Fórum.............................................3873.2811 Delegacia da Mulher...................3873.3493 Ciretran..........................................3883.7100 Guarda Municipal........................ 3873-2656 Conselho Tutelar....3828-7893 / 3873-2122 Procon............................................3873.1071 Hospital Dr. Leandro Franceschini.... 3828.4700 DAE...................................... 0800-015-10-25

100  DIREITOS HUMANOS

135  PREVIDÊNCIA SOCIAL

102 LISTA

158  MIN. DO TRABALHO

0800-0101010 CPFL

167 ANEEL

Biblioteca Municipal................... 3466-2196 CODEN........................................ 3476-8500 Conselho Tutelar..........................3466-5901 Fórum.............................................3466-5997 Hospital......................................... 3476-8194 Revista O Campeão.................... 3466-4328 Polícia Civil................................... 3466-1399 Polícia Militar................................ 3466-1320 Segam........................................... 3466-1900 Táxi Central.................................. 3466-7042

ESPORTE Material esportivo...............................06 PAPELARIA Xerox, Produtos p/ informática...........06 SERVIÇOS Ginástica para o cérebro....................13 Empréstimos.......................................19 Seguros............................................... 17 Filtros para água.................................18 Locação de roupas: noivas, noivos.... 16 Táxi...................................................... 17 Sapataria consertos............................19 SAÚDE Academia............................................06 Farmácias............................................08 Odontologia................................. 05/08 Veterinária, Pet.............................. 12/16

Denúncias de violação de direitos das crianças e adolescentes, idosos, LGBT e moradores de rua; Para obter número de telefone a partir do nome ou endereço e mudanças de telefones fixos;

Para informações sobre falta de energia ou reclações do boleto de cobrança

146  RECEITA FEDERAL

Para informações sobre restituição do imposto de renda, CPF e agendadmento de serviços;

1331 ANATEL

Para denúncia de abuso das operadoras de telefonia

ZD REPRESENTAÇÕES S/C LTDA Rua São Luiz, 390 - Jd. São Jorge - Nova Odessa/SP - CEP 13460-000 EDITOR Eurípedes de Freitas

NOSSAS EDIÇÕES NA INTERNET www.revistaocampeao.com.br

TIRAGEM 10.000 exemplares

IMPRESSÃO Gráfica São Francisco

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Em Nova Odessa: bancos, condomínios fechados e prédios; Em Sumaré: semáforos.

FALE CONOSCO

3466-4328 98101-9044 contato@revistaocampeao.com.br

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Para agendar atendimento sobre a aposentadoria ou requerer serviços como auxílio-doença

Para informações sobre legislação trabalhista, seguro-desemprego, abono salarial e programas sociais;

Agência Nacional de Energia Elétrica  Para denúncia de abuso das operadoras de energia elétrica;

193 BOMBEIROS 194  POLÍCIA FEDERAL

Para obter documentação de estrangeiros, fazer denúncia de tráfico de drogas e de mercadorias ilícitas

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DISQUE DENÚNCIA

POLÍCIA MILITAR

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POLÍCIA ROD. FEDERAL

BOMBEIROS

3476-8193 192 OU

CENTRAL DE AMBULÂNCIAS OU SAMU


PONTO DE VISTA

A escolha das escolas de seus filhos A escolha da escola de seus filhos é uma das mais difíceis a ser feita por uma mãe e por um pai de família. Primeiro porque a maioria dos pais não sabe exatamente o que está escolhendo, nem sabe o que está fazendo. Basicamente, vocês estão terceirizando uma importante função materna e paterna. Antigamente quem educava os filhos eram os próprios pais. Era dos pais que os filhos recebiam os ensinamentos, os valores, a ética e a moral, e a profissão a seguir, seja marceneiro ou ferreiro. Antes de 1620, a educação era basicamente um livro lido em voz alta na cozinha pelo único membro da família que sabia ler. A Bíblia. Hoje, há famílias que sequer livros possuem nas suas casas. A maioria das pessoas acha, corretamente, que as melhores escolas são aquelas que têm os melhores professores. Deveriam ser, mas curiosamente a maioria dos pais não escolhe usando esse critério. Tanto é que nem conversam com os futuros professores, às vezes nem sabem quem serão. Pais normalmente avaliam o prédio, as instalações, o tamanho da biblioteca, o tamanho do playground e do jardim, o menor preço de mensalidade, mas não sentam pelo menos uma hora para assistir a uma aula dos professores. Poucas escolas sequer anunciam os currículos dos seus professores, as notas que eles tiraram no vestibular, o QI de cada um, e se eles estão no primeiro ou no terceiro casamento, para quem se preocupa com o “investimento paternal” dos que serão os guias

de seus filhos. Muitos acham que ter mais candidatos do que vagas. as escolas com os melhores alunos, E aí, o ensino público acaba só com as melhores notas no ENEM, ensinando os mais inteligentes, terão os melhores professores, por para os quais o ensino nem fadefinição. Ledo engano. Notas no rá diferença - nem positiva nem ENEM podem ser um resultado es- negativamente. É isso o que a tatístico enganoso. Isto porque as maioria dos professores quer, melhores escolas muitas vezes são não correr risco de má avaliação. aquelas que selecionam os melhoO ensino público deveria ser res alunos. Se os melhores alunos organizado por bairros, sem vestisão os que entram na escola, os que bular, para os menos inteligentes saem da mesma escola também que precisam muito mais de proserão os melhores, independente- fessores do que os primeiros colomente do que tenha sido ensinado. cados no vestibular. Se o seu filho Essa estratégia, usada pelas não entrar na melhor escola, não se melhores escolas, até tem um no- preocupe, isso não significa que ele me, chama-se o “arco do triunfo”: não terá os melhores professores. selecione os melhores alunos da Os reis da Inglaterra não iam cidade, coloque-os em fila, man- para as melhores escolas, eles tide-os passar debaixo de um arco, nham tutores. Em vez de terceirizar e, voilà, os que passam serão os a educação de seus filhos, seja o melhores da cidade. Basta ter um tutor do seu próprio filho. Compre playground, biblioteca fantástica 480 livros que é o que ele conseguirá e instalações boas que o número ler, caso se dedique a ler dois livros de pais interessados será maior por mês por vinte anos. Entre nodo que o de vagas, permitindo um vos, usados e baixados da internet, processo de seleção. O processo de isso não vai custar mais que R$ seleção permite aceitar os alunos R$ 8.000,00. Ao longo de 20 anos, mais inteligentes, e excluir os que serão R$ 400,00 por ano. Dá para têm QI menos, justamente os que encarar. Mesmo assim são poucas mais precisam da escola. as famílias que compram 480 liNas universidades públicas vros para os seus filhos, além dos nem instalações boas são necessá- obrigatórios para fins escolares. rias, é só dar aula de graça para Em vez de se locomover para a melhor escola do outro lado da cidade, ele agora poderá ir para a escola do bairro, terá tempo para A maioria das ler aqueles livros, e terá um cérebro pessoas acha, não impregnado de CO2 e fulicorretamente, que gem - e dez pontos de QI a menos. A escola de bairro é fácil de as melhores escolas escolher. Fique uma tarde na hora são aquelas que da saída e converse com quem têm os melhores está buscando a criançada. Se professores” forem pais como você, seu filho

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STEPHEN KANITZ, Consultor de empresas e conferencista, mestre em Administração de Empresas pela Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo. Em 1975 criou a edição anual Melhores e Maiores da revista Exame, determinando as empresas com melhor desempenho global de cada ano.

terá colegas cujos pais colocam suas famílias em primeiro lugar. Se você encontrar motoristas particulares e seguranças, você já sabe que seu filho terá colegas cujos pais são do tipo G, são os endinheirados que não têm tempo nem para buscar os filhos no colégio. Nesse caso, você terá mais preocupações com drogas, valores, ética, e terá de explicar para os seus filhos o que significa a expressão “famílias alternativas” nas quais um filho fica com a mãe num dia, e no outro fica com o pai. Se você quer os seus filhos compartilhando os seus valores, coloque seu filho numa escola cujos pais compartilham os seus valores.

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15 anos! Uma caminhada...

EDITORIAL

Cabo de guerra

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abo de guerra é uma atividade esportiva onde duas equipes disputam entre si um teste de força entre si. A regra determina que cada equipe deve ser composta de oito integrantes. Os competidores ficam dispostos em linha reta, seguidos ao longo da corda. Entre os dois grupos existe uma linha central. A corda é marcada em seu ponto central e em dois outros pontos distantes quatro metros de seu centro. A disputa é iniciada com os dois times tendo a marca central da corda coincidindo com a linha central do chão. O objetivo do jogo é puxar o grupo oponente, fazendo com

que ele cruze a linha central com sua marca de quatro metros da corda. Outra forma de vencer a disputa é conseguir fazer o oponente cometer uma falta. Tomando-se como analogia o jogo acima, poderíamos sem nenhum exagero figurar nossa sociedade em um dos lados da corda, e do outro, a classe política, que embora muito menor, conseguiu ao longo da história não permitir que a maioria dos brasileiros tivesse acesso à educação e assim, manteve tudo como sempre esteve. Nas páginas seguintes, O Campeão tem a satisfação de poder refletir abalizados pontos de vistas a respeito.

“Sr. Editor: Escrevo para agradecer a oportunidade da entrevista e dizer que ficou muito bonita a edição. Certamente estaremos em contato para novas publicações interessantes à nossa comunidade. ...Para complementar o agradecimento, não poderia deixar de consignar que vocês respeitaram o que foi colocado por mim na entrevista, e isso é... Michelli Ruesta Changman, Juíza

de Direito da 2ª Vara de Nova Odessa” – dezembro/2014 **** “Prezado Sr. Editor: Nossa presidente acusou o recebimento de O Campeão no Portal dos Nobres, onde reside. A mesma solicitou-nos contatar vosso veículo para eventual parceria... Juan Piva, assessor de imprensa, IEMA - Instituto de Educação e Meio Ambiente, Nova Odessa” – dezembro/2014

PALESTRA

EVASÃO ESCOLAR PÚBLICO ALVO: Pais que não conseguem levar seus filhos à escola Dia 30/01 (sexta-feira), às 14h30

PALESTRANTES: DRA. MICHELLI VIEIRA DO LAGO RUESTA CHANGMAN Juíza de Direito da Vara da Infância e Juventude de Nova Odessa DR. ANDRÉ MARROIG Médico Psicanalista Especialista em Medicina Familiar e Comunitária pela Unicamp e Coordenador do Projeto: Limite, Sem Limites

ENTRADA GRATUITA E VAGAS LIMITADAS! Inscrições até o dia 26/01/2015, pelo e-mail: palestraevasaoescolar@yahoo.com.br Somente será fornecido atestado de comparecimento às famílias oficialmente convocadas pela Vara da Infância e Juventude ou pelo Conselho Tutelar

LOCAL: AUDITÓRIO DO IZ – INSTITUTO DE ZOOTECNIA Rua Heitor Penteado, 56 - Centro - Nova Odessa 04

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EDUCAÇÃO

Fechamento de creches nas férias MEC autoriza fechamento de creches e pré-escolas durante as férias

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Ministério da Educação (MEC) autorizou o fechamento de creches e pré-escolas durante o período de férias. O órgão homologou um parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), que defende a necessidade de recesso escolar para que instituições de educação infantil possam realizar serviços de manutenção em seus prédios, além de avaliar práticas pedagógicas e replanejar o currículo de professores. O posicionamento do CNE foi concedido em 2011, atendendo a uma consulta feita pela Secretária Municipal de Educação de São Paulo. À época, a secretaria justificou que o fechamento das unidades durante as férias

deveria ocorrer para eventuais reformas e trabalhos de dedetização e desratização, que não poderiam ser realizados no período de funcionamento regular em razão do risco de contaminação que oferecem aos alunos. O parecer aprovado pelo MEC justifica que as creches e pré -escolas são estabelecimentos educacionais e não têm funções meramente assistencialistas. “As necessidades de atendimento a crianças em dias ou horários que não coincidam com o período de atividades educacionais (...) deverão ser equacionadas segundo os critérios próprios da assistência social”, diz. Em outro trecho, o texto afirma é adequado a creches e pré-escolas adotar “uma estrutura curricular que se fundamente no planejamento de atividades durante um período, sendo normal e plenamente aceitável a existência de intervalo”. O pare-

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cer do CNE foi uma resposta ao questionamento da Secretaria de Educação da cidade de São Paulo. Mas, ao ser aprovado pelo MEC, pode ser utilizado como diretriz em todo o país. DEPÓSITO DE CRIANÇAS. O Campeão observa que os novos tempos da economia levou as mães, cuidadoras naturais dos

filhos, a buscarem no mercado de trabalho ajuda para aumento da renda familiar - mas onde deixar as crianças nas férias escolares? O MEC, foi apressado. Tal qual o secretário de transportes que precisa andar de ônibus para entender o transporte coletivo, esse órgão deveria ter discutido com a sociedade essa nova situação. FONTE: REVISTA VEJA

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EDUCAÇÃO

Que país é esse? Que país é esse em que a professora tem de cobrar as fotocópias usadas nas aulas, ou apelar por fazer vaquinha para custear uma viagem de estudos ao museu de ciências?

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nquanto informam que na Coreia o professor é valorizado ao ponto de ser o melhor partido para casamento, e a escola o valoriza ainda mais oferecendo todo recurso para extrair o melhor de seus alunos, no Brasil o professor ganha troféu por driblar as dificuldades de sua escola procurando a motivar seus alunos... Uma discussão sobre o valor arrecadado pela professora para custear fotocópias usadas nas aulas de matemática deu origem a uma proposta pedagógica premiada – o ideal não seria dispensar prêmio a essa professora e dar a todo mestre escolar o mínimo de estrutura em sua sala de aula? O projeto Aprendendo a Poupar, desenvolvido com alunos do oitavo ano do ensino fundamental da Escola Estadual de Educação Básica Professor Mathias Schütz, em Ivoti, região metropolitana de Porto Alegre, foi um

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dos vencedores do 8.º Prêmio Professores do Brasil, promovido pelo Ministério da Educação. De acordo com a professora de matemática Denise Brandão Kern, autora do projeto, alguns alunos consideravam alto o valor a ser pago pelas cópias. Ela propôs aos estudantes que anotassem todos os gastos. “Assim, poderiam identificar se aquele valor era justo”, esclarece. De acordo com Denise, o envolvimento dos pais e de outras pessoas da comunidade no processo de discussão e de reflexão sobre o tema enriqueceu a aprendizagem. De março a outubro de 2013, os alunos atendidos pelo projeto participaram de diversas atividades, tanto internas, em sala de aula, quanto externas, durante passeios. Em visita a um supermercado, os estudantes tiveram como tarefa anotar os produtos que custavam centavos e os preços daqueles

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mais consumidos nos lanches. fessora. “As aulas contribuíram na Durante visita a uma agência formação da cidadania.” bancária, puderam conversar com o gerente a respeito do fun- RECONHECIMENTO. Para Denise, cionamento do estabelecimento. receber o Prêmio Professores do Outra atividade foi a abertu- Brasil representa reconhecimento. ra de uma conta de poupança da “O trabalho de um professor, em turma, com previsão de depósitos nosso país, ainda é pouco valomensais. O total arrecadado ao rizado, e a visibilidade que um final do projeto permitiu cus- prêmio como esse nos dá ajuda tear uma viagem de estudos ao a acreditar que vale a pena ser Museu de Ciências e Tecnologia professor”, enfatiza. “Estar entre da Pontifícia Universidade Cató- os selecionados é uma forma de lica (PUC) do Rio Grande do Sul, representar a classe dos professoem Porto Alegre. “Com o dinheiro res que lutam dia a dia para fazer economizado, conseguimos pagar a diferença na educação no Brasil.” o ônibus e os ingressos. E ainda Essa professora fez a sua parte sobraram R$ 6,50 para cada um”, em se preparar, pois Denise tem lirevela a professora. Em sala de cenciatura plena em ciências e em aula, o conteúdo sobre números matemática e mestrado em ensino decimais foi trabalhado a partir de ciências exatas. Há 25 anos no dos valores pesquisados no super- magistério, ela diz esperar que sua mercado. “As discussões ajudaram influência seja sempre positiva na os alunos, que aprenderam a se vida dos alunos e os ajude a fazer posicionar com respeito, a ouvir boas escolhas. FÁTIMA SCHENINI e a argumentar”, esclarece a proPORTALDOPROFESSOR.MEC.GOV.BR


EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO

Dia a dia em uma escola dos EUA DIA LONGO. Nas escolas norte-americanas, os alunos estudam em período integral - das 8 às 16 horas - e não existe horário noturno. Cada aula dura aproximadamente uma hora e há seis ou sete disciplinas por dia. No total, são cerca de oito horas de ralação. INDEPENDENTES. Na época do Ensino Médio, que por lá se chama high school (do 9º ao 12º ano), a maioria dos estudantes já têm carteira de habilitação e vai para a aula dirigindo o próprio carro - nos EUA, a carta de motorista pode ser tirada aos 16. Os alunos também têm liberdade de sair para dar uma voltinha nos intervalos. ESTUDANTES NÔMADES. Na high school, os professores é que recebem os alunos na sala de aula. A galera não tem

carteira fixa e precisa carregar o material de uma classe para outra. É por causa do vaivém de gente e de material que existem os armários com cadeados no corredor, onde é possível guardar os pertences. HORA DO RANGO.

O intervalo serve para os alunos almoçarem. Ele acontece entre 12 e 14 horas. Nos bandejões, os alunos formam fila e pagam, em média, US$ 2 pelo almoço. Os estudantes que não têm condições de pagar recebem um auxílio da escola. QUER MAIS? Além das aulas optativas, os alunos podem participar de clubes de estudo após o fim das aulas. Neles, há cursos como liderança, redação e debate político. Todos eles podem dar créditos ao aluno, mas,

caso esteja pendurado em alguma disciplina, a escola pode recusar sua inscrição. ANO LETIVO. O ano letivo dos norte-americanos começa em agosto ou setembro e termina em maio ou junho. As férias deles são em julho (para aproveitarem o verão), com alguns dias de descanso entre o Natal e o Ano Novo. VOCÊ MANDA. Nos EUA, os alunos escolhem o que querem estudar. Há disciplinas obrigatórias, como matemática, inglês, ciências, história, economia e governo dos EUA. O resto são aulas optativas, como educação artística, música, esportes e teatro. Em certas escolas, é possível aprender cuidados com horta, marcenaria e culinária.

PUNIÇÃO. Há seis tipos de punição para os alunos baderneiros. Elas vão desde o simples comunicado no caderno, que precisa ser assinado pelos pais, até as detenções, em que o aluno precisa ficar por algumas horas ou mesmo um sábado inteiro na escola, estudando. E há também as suspensões e expulsões, iguais às do Brasil. ESPORTES. Entre os esportes optativos, o futebol só pode ser praticado por meninas, enquanto o futebol americano é exclusivo para os meninos. O BOLETIM. A partir do quinto ano, as notas nos EUA vão de A a F: A - De 90 a 100 pontos B - De 80 a 89 pontos C - De 70 a 79 pontos D - De 60 a 69 pontos F - Abaixo de 59 pontos

FONTE: SITE DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DOS EUA

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EDUCAÇÃO

Lição de casa dá melhor desempenho Por que alunos que fazem lição de casa têm melhor desempenho escolar?

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ão é raro ver os estudantes reclamando e alegando falta de tempo. Porém, pesquisas mostram que estudantes que costumam fazer as lições de casa têm melhor desempenho escolar, ou seja, ao dar lição para os estudantes o professor está possibilitando que o aluno fixe os conteúdos e construa conhecimento por si próprio. Com isso, não apenas as notas escolares melhorarão, mas ele aprenderá habilidades muito importantes como independência e responsabilidade. Pesquisas relacionam o hábito de fazer lição de casa e a melhora do rendimento escolar. Uma pesquisa feita por Cláudio Ferraz e Maurício Fernandes, do Departamento de Economia da PUC-RJ, concluiu que quem faz lição de casa tem um melhor rendimento escolar. Os estudiosos chegaram a essa conclusão tendo

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como base os dados do SARESP, o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, entre os anos de 2007 e 2009. Nesse sistema de avaliação, são aplicadas tanto provas como questionários, o que permite que os pesquisadores tenham acesso a uma ampla base de dados para uma análise completa. Os alunos que recebiam uma quantidade de lição de casa menor, ou que não faziam as lições indicadas pelos professores, tiveram um desempenho inferior na avaliação do que os que se dedicavam às atividades propostas após a aula. Os que faziam lição de casa tiveram uma média 14% maior em língua portuguesa e 10% maior em matemática. Esses resultados indicam que estimular o aluno a estudar fora da escola traz resultados muito positivos para o seu desempenho, e que a lição de casa é uma forma muito eficaz de estimular essa prática. É uma maneira de estimulá-los a refletir sobre o que foi visto em sala, ler e rever o conteúdo passado e pensar criticamente sobre ele. Embora o benefício tenha sido comprovado, a pesquisa

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mostrou também que passar lição de casa não é algo comum na rede pública paulista, pois penas 5% dos professores de língua portuguesa e 14% dos professores de matemática têm esse hábito. OUTRAS VANTAGENS. A lição reforça o aprendizado ao fazer com que o aluno leia e formule dúvidas. Por isso é uma prática de estudo diário que fortalece o aprendizado. Além disso, fazer lição de casa aumenta a interação do estudante com os pais e, mesmo que indiretamente, chama os responsáveis a se envolverem com o aprendizado da criança.

Com isso, os pais conseguem descobrir o que está acontecendo na escola, qual conteúdo está sendo discutido em sala de aula e se tornam mais presentes na educação escolar dos filhos. A lição de casa também desperta para autonomia e responsabilidade, melhora o pensamento critico e chama o aluno para estudar fora da sala de aula. No entanto, é importante lembrar que, para ter efeitos positivos, é preciso dosar as tarefas, orientar aos alunos sobre como fazer as atividades e dar tempo suficiente para que eles possam completá-las. WP.WPENSAR.COM.BR


PISA

O que é que a China tem? DIVULGAÇÃO

Com Xangai campeã em todas as categorias e mais três regiões no topo do PISA 2012, esta é a pergunta que não quer calar no mundo da Educação

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ursos de reforço são a norma para todo estudante; período de estudo é, no mínimo, de 12 horas por dia. Tem Educação? Tem, sim, senhor. Grande estrela do PISA 2012, a toda-poderosa asiática surpreendeu aparecendo em quatro lugares entre as seis primeiras posições desse ranking internacional, considerado o maior balizador da área. Entre as 65 economias avaliadas, Xangai repetiu a proeza de 2009 e ficou em primeiríssimo, obtendo as maiores notas nas três categorias - Matemática,Leitura e Ciências; Hong Kong ficou em 2º em Leitura e Ciências e em 3º em Matemática; Taipé, em 4º em Matemática, 7º em Leitura e 13º em Ciências; e Macau em 6º em Matemática e 16º nas outras duas disciplinas. No mesmo ranking geral, o Brasil ocupa o 58º lugar. Essa lavada chinesa, porém, não foi muito bem digerida mundo afora. Jornais britânicos, como Finantial Times e The Guardian, questionaram os resultados: será que Xangai e essas outras regiões refletem mesmo a Educação de toda a República Popular da China?

Estamos falando de um país A controvérsia começa na per- bro, completando logo abaixo: imenso em extensão (o 3º maior gunta básica: por que a China, “Pequim deve fornecer dados do mundo), com a maior popu- diferentemente de todos os ou- nacionais aos avaliadores, em lação do planeta (1,35 bilhão tros países, aparece dividida em vez de resultados de pequenas de pessoas), uma vasta zona regiões? E por que só aparecem minorias de estudantes de elite”. rural (onde vivem 656 milhões de essas quatro no ranking - onde Polêmicas à parte, o fato habitantes) e uma agressiva eco- estão as outras 30 regiões? O é que, mesmo que apenas os nomia capitalista (a 2ª mais bem portal Time World (world.time. estados brasileiros de melhor posicionada, perdendo apenas com) não usou meias palavras: desempenho (Espírito Santo e para os Estados Unidos), estra- “China trapaceia no ranking do Distrito Federal) fossem avalianhamente inserida no contexto sistema estudantil mundial”, dos, ainda assim ficaríamos bem de um Estado semicomunista. noticiou no último dia 4 de de longe do posicionamento chinês no ranking. Portanto, é possível que tenhamos muito a aprender com a China como um todo. A OCDE (Organização para • 23,7 milhões de habitantes na província, 14 Cooperação e Desenvolvimento milhões na cidade (a maior do mundo). Econômico), responsável pelo PI• Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) SA (sigla para Programme for Inem 2012: 0,908 (muito elevado); ternational Student Assessment, • Contribui com 1/8 do PIB da China; ou Programa de Avaliação Inter• 764 escolas primárias e 754 escolas secundárias nacional de Alunos), não poupa para 1,4 milhão de estudantes; elogios à província de Xangai e à • 20% das escolas são particulares; região autônoma de Hong Kong. • Bicampeã no PISA (2009 e 2012) em todas as categorias. Em 1990, circulava em Xangai FONTE: EDUCARPARACRESCER.ABRIL.COM.BR o slogan “cidade da primeira classe, Educação de primeira classe”.

Xangai em números

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(SEM) EDUCAÇÃO

Artimanha para inflar presença no ENEM

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Escola campeã do ENEM ocupa, ao mesmo tempo, 1º e 569º lugar do ranking DIVULGAÇÃO

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primeira colocada no ENEM não é uma escola, é uma artimanha jurídica que faz com que os alunos tenham suas notas computadas em duas listas diferentes. A escola que se auto intitula a primeira colocada no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ocupa, ao mesmo tempo, a 1ª e a 569ª posição no ranking que a imprensa faz com os resultados do ENEM. E faz 5 anos que a escola usa do mesmo expediente (fingir ser outra escola para ficar em primeiro lugar no ENEM) e ninguém toma nenhuma providência. Como ela fez isto? Fácil. A escola, localizada na Avenida Paulista, em 2009 separou numa sala diferente os alunos que acertavam mais questões em suas provas internas. Trouxe, inclusive, alguns alunos de suas franquias pela grande São Paulo. E “criou” uma outra escola (abriu outro CNPJ), mesmo estando no mesmo espaço físico. E de lá pra cá esta ‘outra escola’ todo ano é a primeira colocada no ENEM. A 569ª posição é a que melhor reflete as condições da escola. O 1º lugar é uma farsa. A primeira colocada no ENEM NÃO é uma escola, é uma artimanha jurídica que faz com que os alunos tenham suas notas computadas em duas

listas diferentes. Uma minoria que acerta muitas questões vai para o CNPJ novo e fica em primeiro lugar no ENEM. Todos os demais – a maioria – fica no CNPJ antigo e tem resultados muito ruins no ENEM (em 2013 a 569ª colocação). Todos estudam no mesmo prédio, com os mesmos professores, com o mesmo material, no mesmo horário, convivendo no mesmo pátio e no mesmo horário de intervalo. O resultado (1º ou 569º) não é diferente por qualquer motivo pedagógico. É diferente porque a escola selecionou quem ela queria que fizesse as provas para representar o novo CNPJ.

O Campeão pergunta: Na caminhada do homem, por que em todo quartel-general (econômico/ militar, etc.) os valores humanos sempre são subvalorizados?


No Rio a mesma instituição é a 3ª colocada e a 2015ª No Rio de Janeiro tivemos mais um desses absurdos. A terceira colocada nacional, que nunca tinha aparecido nem perto das primeiras nacionais e nem nas primeiras posições do Rio de Janeiro, este ano apareceu em terceiro lugar nacionalmente. Mas uma análise um pouquinho mais aprofundada mostra que a escola em 2013 dividiu-se em 13 unidades diferentes (eram menos em outros anos, vários bairros do Rio receberam uma segunda unidade) e a unidade que aparece em terceiro lugar nacional teve somente 15 alunos que fizeram a prova. E sabe qual a posição de todas as 13 unidades da escola ? Aí vai : 3ª, 13ª, 19ª, 387ª, 509ª, 610ª, 739ª, 2105ª, 1549ª, 1034ª, 1010ª,

958ª, 764ª. É isto mesmo. A escola conseguiu ser as mesmo tempo a 3ª melhor escola e a 2105ª do ENEM 2013, e isto passando por escola 1010, escola 1034, escola 1549. É obvio e ululante, estas escolas foram criadas somente para aparecer entre as primeiras colocadas no ENEM. Mandaram pra “lá” quem acerta mais questões entre seus centenas, ou até milhares de alunos, e criaram uma ilusão de que possuem as melhores escolas do Brasil. Tem dúvida? Tente matricular seu filho em alguma destas duas escolas. Sim, você vai conseguir (se puder pagar quanto eles pedem), mas não na turma que eles tanto usam como propaganda. O expediente é usado por centenas de escolas em todo o Brasil. Não, isto não é exclusividade destas duas escolas. No Brasil todo temos centenas de escolas que trabalham com a regra na mão para tentar parecer que são a melhor e depois divulgar, em suas propagandas, que são a melhor escola do país, do estado, da

região, da cidade e, em cidades grandes, como várias capitais, até mesmo que é a melhor escola de um determinado bairro. Uma curiosidade é que a ‘primeira’ colocada no ENEM não aprovaria, se consideramos que seus cerca de 40 selecionados alunos tivessem a nota média divulgada no ENEM, NENHUM aluno para o curso de Medicina nas Federais mais tradicionais do Sudeste. E, pior, a escola verdadeira, aquela que faz a captação dos alunos que mais gabaritam em simulados, não aprovaria ninguém (se considerarmos que todos tivessem a média divulgada para a escola) em nenhum curso muito ou mediamente concorrido. Eles ficariam com nota média um pouco menor que 624 pontos, o que significa um pouco mais de um desvio padrão em relação ao aluno médio nacional, o que é um desastre pedagógico se consideramos as condições socioeconômicas dos alunos e o valor de sua mensalidade (superior a dois mil reais).

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‘Receita’ para ficar entre as primeiras no ENEM Antes de explicar a “receita” para alcançar os primeiros lugares nestas divulgações já digo, de antemão, que não adianta o MEC simplesmente falar que ele não faz e não divulga ranking, que quem faz isto é a imprensa. Pode até ser que hoje seja assim, mas algumas vezes, em anos anteriores, o MEC tinha ferramentas, em seu site, que classificava as escolas por ordem de nota, igual ao que fazemos com uma tabela de Excel. O MEC trabalhou para incentivar os “Inchar nota atuais ranqueamentos. A receita é simples para uma no ENEM é um escola estar entre as primeiras expediente usado colocadas: Tenha uma mensalidade alta (famílias de maior por centenas de capital econômico tendem a ter escolas em todo maior capital cultural), selecione seus alunos com prova e/ou o Brasil.” O fator entrevistas (assim sua ‘escola’ econÔmico fala alto. já irá iniciar o ensino médio com os alunos que tendem a acertar esteja entre seus matriculados). mais questões do tipo ENEM/ Por fim não admita, em nenhuma Vestibular), separe os alunos que hipótese, que alunos de inclusão acertam mais questões nos simu- (com necessidades especiais) lados e faça a matrícula destes estejam na escola (no CNPJ) num outro CNPJ, dê a esta ’nova que você deseja que apareça escola’ um nome parecido ao da bem no ENEM. Depois disto é sua escola principal. Distribua só correr pra galera e contar bolsas para os alunos de outras para a sociedade a lorota de escolas que acertam muitas ques- que sua escola é a melhor do tões em seus simulados abertos, país, do estado, da metrópole, mesmo que a família destes alu- da região, ou – para delírio de nos tenham plenas condições de muitos – a melhor colocada do pagar pelo curso (mas se o aluno ENEM no bairro. não tiver condições econômicas Todas as escolas nas primeide frequentar a sua escola você ras colocações no ENEM usam pode até ‘pagar’ para que ele um ou mais dos expedientes que

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citei. Tem algumas que usam (700 é algo, para 2013, entre 80 todos. Até as públicas melhores e 90 acertos de um total de 180 colocadas usam de um destes questões) é muito baixa para expedientes (elas selecionam os escolas particulares. Uma noalunos com prova, que chamam ta abaixo de 600 (600 foi, para de ‘vestibulinho’. Já começam o 2013, um pouco mais ou pouco primeiro ano com quem, entre menos de 60 acertos nas 180 seus inscritos, acertam mais questões) demonstra que os três questões. Boa parte de seus alu- anos de ensino médio serviram nos são provenientes de famílias para quase nada na formação de boas condições econômicas do aluno, seja em escola pública e/ou cultural). ou particular. A média 600, nas O que é fundamental entender quatro provas objetivas já é um é, que do jeito que analisamos as desastre total na formação do notas do ENEM, que na média aluno. A média 500, que é a nota nacional são muito baixas para do aluno mediano (o aluno do todas as escolas, tanto públicas meio na escala de notas), é um como particulares (é bom expli- desastre ainda maior, e metade car que 600 não é 60%, e 700 não dos alunos que estavam no terceié 70%, a nota do ENEM é dada ro ano e fizeram o ENEM ficaram em uma escala de desvio padrão) com nota menor que 500 (em uma só conseguimos descobrir onde distribuição de desvio padrão estão os alunos de melhores con- metade da distribuição da amosdições sócio econômicas. Só isto. tra fica acima de 500 e metade Notas são todas muito baixas, fica abaixo de 500). Lembro que, inclusive das escolas particula- como a nota é dada em desvio res melhores colocadas padrão, de média 500 e desvio Qualquer média, nas quatro 100, o aluno nunca zera, mesprovas objetivas, abaixo de 700 mo que erre todas as questões.


E existe solução para que o indicador seja mais claro e objetivo, tenha função pedagógica e não seja instrumento de propaganda de algumas escolas mal intencionadas? Sim, claro que há. Primeiro é óbvio que ter algum indicador é melhor do que não ter nenhum. Neste sentido é melhor a nota do ENEM, para avaliar as escolas, do que nada. Mas este indicador foi jogado ao país sem maiores explicações de seu significado e imediatamente apoderado pelas escolas e pelos sistemas de ensino que querem passar a impressão que as primeiras colocações são da responsabilidade deles. Não são. São resultado da história de vida dos alunos que as escolas captaram. Escolas, ou sistemas de ensino, que usam de pelo menos alguns destes expedientes estão muito pouco preocupados com o desenvolvimento da Educação e com as reformas necessárias para que o Ensino Médio seja de fato uma porta de oportunidades com menor diferenças para ricos e pobres. O ENEM, como avaliador do ensino médio, precisa criar mecanismos para que a sociedade possa olhar para uma escola e saber o que de fato ela acrescentou ao aluno. E a única forma

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Como melhorar a avaliação das escolas de Ensino Médio? de saber isto é saber ‘onde ele estava’ quando entrou no ensino médio e ‘onde ele chegou’ quando saiu dele. Dessa forma todos nós saberemos se o método, o material, os professores, a estrutura e tudo mais ao redor do aluno, na escola, colaboraram para sua formação no ensino médio ou se essa formação foi tão somente fruto de seu amadurecimento, de sua estrutura familiar e de sua convivência em sociedade. A nota, das escolas, tem que ser dada à diferença entre onde ela recebeu a turma e até onde ela caminhou com ela. E não tem jeito, a única forma de fazer isto é criar um exame no fim do nono

ano do ensino fundamental para que os alunos o façam e tenham seus resultados comparados com o que venham a ter no ENEM. E este exame precisa ter alguma coisa com poder de incentivo suficiente para atrair a maior parte dos alunos brasileiros a realizá-lo. E que se dediquem a estudar para ele. O ENEM tem algum tipo de incentivo a isto, com a possibilidade do aluno entrar em uma Universidade, mas ele não é absoluto. Milhões de pessoas que estão no ensino médio, mas não acreditam na perspectiva, de fato, de passar em uma Universidade Pública não chegam nem a fazer a inscrição para o

ENEM – muitas vezes fazem, mas deixam de comparecer nos dias do exame ou simplesmente ‘abandonam’ a prova pela metade em um ou nos dois dias de Prova (isto acontece principalmente em Matemática, a última prova, no caderno de provas, do segundo dia do exame). Com o ‘jeitinho’ que centenas de escolas usam pra burlar a avaliação feita pelo ENEM, e o consequente ranking, nos deparamos com uma grande distorção entre esses resultados e o das escolas que não utilizam o artifício e, com essa situação, quem sai perdendo mais uma vez é a sociedade. MATEUS PRADO, Cursou Ciências Sociais e Gestão de Políticas Públicas na Universidade de São Paulo (USP). Fundou em 2000 a ONG Henfil Educação e Sustentabilidade, onde é presidente de honra, à frente de projetos como o Cursinho Comunitário Henfil e a revista Glocal. Também oferece assessoria pedagógica a escolas como especialista no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). É autor de materiais didáticos, como o Guia Prático Enem. - Estadão, 27/12/2014

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EDUCAÇÃO

Cotuca é a melhor escola pública CRÉDITO

É o primeiro colégio público a aparecer no ranking do Enem sobre as melhores instituições do Brasil

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Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), não conseguiu entrar no ranking das cem melhores escolas do Brasil, listado pelo Ministério da Educação (MEC) e divulgado dia 22 de dezembro pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Entretanto, o Cotuca foi a primeira escola pública do estado de São Paulo a aparecer na lista geral: está na 116.ª posição. Tirou 654,90 na parte objetiva da prova. De acordo com o ranking nacional, entre as cem maiores notas, só sete são de escolas públicas. A Região Metropolitana de Campinas (RMC) só tem quatro escolas entre as 100 melhores – e todas particulares. São elas: Etapa, que ficou em 52º lugar, com

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O prédio do Cotuca, no bairro Botafogo, foi tombado como patrimônio histórico: construção é de 1918 e está interditado

677,78 pontos; Colégio Visconde de Porto Seguro, em 80º, com 664,62 de nota; Instituto Educacional Imaculada, em 90°, com 661,45; e Colégio Monteiro Lobato, de Mogi Guaçu, em 98°, com 660,01. Neste ano, todas as dez escolas com as maiores médias nas provas objetivas do Enem são privadas e cinco colégios têm menos de 45 alunos por sala. A listagem foi elaborada com base nas médias obtidas pelas escolas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013 e demostra o domínio da qualidade da rede privada ante à pública. Essa é a primeira vez que os dados trouxeram a classificação socioeconômica das escolas - uma reivindicação antiga de especialistas, uma vez que esse aspecto é um dos que mais influenciam o sucesso escolar.

O Colégio, pode valorizar essa colocação por adotar linha de atuação com prefeituras na elaboração de currículos, conteúdos programáticos, cursos de extensão, além de manter contato com as empresas para desenvolvimento de projetos. Além dos cursos técnicos semestrais, o colégio também oferece o Ensino Médio comum e cursos de extensão. Ele é nacionalmente conhecido por sua qualidade e por possuir um vestibular (popularmente chamado de vestibulinho) com grande concorrência, superando a relação candidato/vaga de muitos cursos do ensino superior da rede pública. É considerado pelo mercado de trabalho e pelo meio acadêmico como um dos melhores colégios técnicos do Brasil. CORREIO.COM


A

comunidade indígena Kotiria (Wanano), localizada na fronteira do Brasil com a Colômbia, possui um modelo de educação que tem uma relação estrita com as condições de vida de seus moradores. Para eles, o desenvolvimento educacional dos membros da comunidade interfere nas condições de vida de todos, pois a gestão escolar (escolha de professores e disciplinas. por exemplo) é pensada coletivamente, longe da burocracia exigida pelas secretarias municipais e estaduais de educação. Para chegar a essa conclusão, a pesquisadora da Faculdade de Educação da USP (FE), Aline Abbonizio, passou dois meses junto às 33 famílias que integram o povo Kotiria e participou ativamente das atividades escolares e comunitárias, prestando assessoria pedagógica que incluíam aulas de informática para alunos do ensino fundamental e médio. O resultado gerou a tese Educação escolar e indígena como inovação educacional: a escola e as aspirações de futuro das comunidades. Aline partiu da observação

Lições indígenas Incrível! Parece que nossos indígenas estão tendo mais facilidade para se enquadrarem à nova realidade educacional do que o Estado brasileiro ARQUIVO PESSOAL

A pesquisadora Aline Abbonizio: a escola é percebida pelo povo Kotiria como um bem comunitário que o nexo entre escola e melhoria de vida aparecia com frequência nas pesquisas relacionadas às comunidades in-

dígenas brasileiras. Percebeu, então, que a escola é entendida como um bem comunitário. A alimentação dos alunos, por

exemplo, é garantida em partes pelos ensinamentos passados por pais e avós ao longo do processo de cultivo de mandioca em uma roça feita especialmente para este fim. Por contar com o problema de escassez sazonal de alimentos na comunidade, a escola Kotiria se articulou, então, com um instituto público do Amazonas para realizar oficinas de manejo agroflorestal e psicultura que atraiu muitos ex-alunos e pais. A pesquisadora cita este caso para demonstrar o nível de articulação entre as partes estudadas. Com a pesquisa, pode-se concluir que o sistema educacional indígena é capaz de incorporar elementos positivos do sistema tradicional para se aprimorar. Aline cita a recente formação de professores licenciados pelo sistema universitário, constituindo a primeira geração com esse nível acadêmico. Tal aprimoramento, afirma Aline, quando atrelado à profissionalização em áreas como saúde produção agrícola, “gera uma expectativa mais geral de que a elevação dos níveis de estudo deve contribuir para melhorar as condições de vida comunitária”. ARIANE ALVES

“A educação é a mais poderosa arma pela qual se pode mudar o mundo.” NELSON MANDELA 1918-2013

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EDUCAÇÃO

Avaliar para mudar O Pisa (Programme for International Student Assessment) é uma avaliação realizada a cada três anos pela OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

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articipam estudantes com 15 anos de idade. A avaliação pretende aferir o quanto os alunos aprenderam em sala de aula, mas também se conseguem aplicar conhecimentos na solução de problemas reais. Outro objetivo da avaliação é fornecer subsídio para políticas de educação. Em 2012, 510.000 jovens de 65 países ou regiões econômicas delimitadas (caso de Xangai) aplicaram a prova. No Brasil, foram 19.877 estudantes, divididos em 837 escolas. O ensino nas escolas públicas brasileiras é, em geral, muito ruim. Ponto. Resta saber se ele está melhorando. O relatório do Pisa, mais importante avaliação da educação internacional, publicado em dezembro, mostra que a formação oferecida nas escolas (públicas e privadas) do país vem avançando desde 2000, quando a primeira edição do levantamento

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foi lançada. Contudo, o movimento ascendente vem perdendo força muito antes de colocar o Brasil ao lado dos melhores ou até mesmo dos medianos. Isso faz com que especialistas sentenciem: para avançar mais, o país terá que promover reformas profundas. “Não cresceremos mais sem isso”, diz Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação, ONG que atua ao mesmo tempo vigiando e propondo políticas públicas. São Paulo tem Comparadas as notas das educação abaixo avaliações de 2009 e 2012, o da média do Brasil - 58º do novo ranking caiu em leitura (412 pontos país no Pisa para 410), marcou passo em ciências (405) e registrou melhora em matemática (386 para 391). Praticamente estagnado na faixa dos 400 pontos, o país - e se mantém na vizinhança de permanece distante dos líderes nações como Albânia, Tunísia. do levantamento - a província A pontuação não é decorativa. chinesa de Xangai, por exemplo, Estar na faixa dos 400 poncom média geral de 588 pontos tos significa manter na rede de

ensino jovens que, em média, possuem baixíssimo nível de proficiência. Notas em torno dos 600 são sinal de que os estudantes dominam habilidades refinadas fundamentais para lidar com tarefas do dia a dia, incluindo o trabalho. Isso porque o objetivo do Pisa não é descobrir se os alunos memorizaram conteúdos vistos em aula, mas, sim, se conseguem usar conhecimentos aprendidos para solucionar questões semelhantes às vividas fora da escola.


Apenas quatro redes estaduais tiveram resultados superiores à média nacional

Xangai afrontou a tese que é impossível continuar subindo quando já se está no topo e avançou 13, batendo nos 613 pontos. São 222 pontos a mais do que o Brasil.

Avanço do Brasil na educação perde fôlego, revela o Pisa. Apenas quatro redes estaduais de ensino do Brasil têm resultados superiores à média geral do país no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) de 2012. A rede de São Paulo, o Estado mais rico, está abaixo da média nacional. Os dados desagregados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que trabalha com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na realização do Pisa. A OCDE realiza a avaliação em 34 países considerados de primeiro mundo e em outros convidados, como o Brasil. Nesta última edição da avaliação, o país ocupou o 57º lugar entre 65 nações. O índice geral leva em consideração as redes particular e pública. Quando separadas apenas as redes estaduais (que concentram 85% das matrículas do ensino médio, fase em que está a maioria dos alunos avaliados no Pisa), o cenário é ainda mais preocupante. A rede estadual de Santa Catarina, a mais bem colocada do país, está a 75 pontos de distância da média dos países ricos. Essa pontuação equivale a quase dois anos de aprendizado. São Paulo - A rede estadual de São Paulo está um ponto abaixo da média geral do país. Apenas na área de matemática o resultado paulista é superior ao nacional. Se São Paulo fosse um país, estaria na 58ª posição, abaixo de Brasil, Uruguai e Chile e acima somente de oito países, incluindo Jordânia, Argentina, Colômbia e Peru. Para a professora Maria Izabel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), os resultados mostram uma falta de continuidade na política educacional nos últimos 20 anos. “São Paulo tem tomado medidas muito pontuais na educação, responde a questões emergenciais. Falta um plano estadual de educação, um projeto articulado”, diz Maria Izabel. A consultora em educação Ilona Becskeházy concorda que o sistema educacional ainda é deficiente, mas ressalta que a amostra do Pisa para a rede estadual pode esconder alguns aspectos positivos. “São Paulo é a rede que tem mais gente dentro da escola e mais gente no ensino médio. Fica difícil penalizar”, afima. O argumento é o mesmo utilizado pela Secretaria Estadual de Educação: “As escolas estaduais de São Paulo são caracterizadas pelo atendimento universal, inclusivo, e que respeita a diversidade da maior rede de ensino do país, com 4,3 milhões de alunos.” Em nota, a pasta refutou a comparação da rede estadual com a média geral do país, afirmando que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do governo federal, aponta evolução no desempenho dos alunos. No Ideb de 2011, o ensino médio de São Paulo teve melhora, mas os dois ciclos do ensino fundamental ficaram estagnados, com o mesmo resultado no índice de 2009. - ESTADÃO, THINKSTOCK, VEJA

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EDUCAÇÃO

Coreia do Sul e Finlândia são exemplos d Mesmo com sistemas distintos, ensino de ambos os países pode servir de modelo para a educação brasileira

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ois países com dimensões, culturas e sistemas escolares bastante diferentes vêm conseguindo resultados parecidos, nas últimas décadas, na missão de educar crianças e adolescentes com excelência. A Coreia do Sul e a Finlândia costumam ocupar posições de destaque nos rankings do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), exame que mede o quanto alunos de mais parativamente menos dinheiro de seis dezenas de países – in- no sistema educacional. O pilar cluindo o Brasil – aprendem em que sustenta os dois modelos, leitura, matemática e ciências. porém, é o mesmo: seleção e O destaque na comparação formação de professores de internacional, na qual os brasi- ponta, com reconhecimento leiros não conseguem ficar entre profissional e boas condições os 50 melhores, é conquistado de trabalho. apesar de contrastes entre os modelos. Ambos, porém, oferecem Na Coreia, a prioridade é a lições capazes de catapultar o educação básica. Todas as esdesempenho do Brasil. Enquanto colas têm dois turnos, e os meos coreanos aplicam um sistema lhores professores estão lá, não baseado na tradicional disciplina, no Ensino Superior – comenta com muitas horas diárias de es- o doutor em Educação e diretor tudo e investimentos pesados do regional do Serviço Nacional de governo, os finlandeses são bem Aprendizagem Comercial (Senac) menos formais e aplicam com- no Estado, José Paulo da Rosa,

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que visitou o país oriental em 2009. Na Finlândia, a disputa pelo posto de professor da rede pública é tão grande que apenas 10% dos candidatos conseguem vaga nos cursos de formação. Veja outros segredos que fazem destes países modelos de excelência educacional e que lições podem ser adaptadas para o Brasil: GESTÃO. O modelo de sucesso

implantado pela Coreia do Sul combina um dos mais elevados investimentos governamentais do mundo – com 7,6% do PIB destinado à educação – com a determinação das famílias do

país de garantir um aprendizado de alto nível para crianças e adolescentes. Para isso, os pais costumam se envolver na gestão dos colégios. Os educadores, que são bem pagos e trabalham em escolas com excelente infraestrutura, são auxiliados e monitorados pelos pais dos alunos, em um dos maiores diferenciais do modelo coreano. Lá, as famílias ajudam a organizar as escolas. – Encontrei pais dentro da sala de aula, acompanhando o professor – surpreende-se José Paulo da Rosa. Os pais podem fazer parte do chamado Conselho da Escola


s de como se investir na educação com um grau de autonomia que permite interferir na seleção e na promoção de professores, organizar eventos de reciclagem profissional e outras atividades cruciais para o funcionamento de uma instituição de ensino. – Faz parte de um programa do governo que dá aos pais acesso direto ao processo educativo dos filhos – observa o professor Soleiman Dias, brasileiro que atua no país oriental. Além disso, o foco, público e privado, é na Educação Básica. Assim, boa parte dos investimentos e dos melhores educadores estão no equivalente aos ensinos Fundamental e Médio, enquanto no Brasil a excelência se concentra no Superior. FONTES: ZH.CLICRBS.COM.BR, SESC/SP, PROBLEMAS BRASILEIROS E MINISTÉRIO DE

Família integrada até na sala de aula Quase todas as escolas têm associações de pais atuantes, que se encontram regularmente e escolhem representantes para cada sala ou série. Esses “delegados” servem de ponte entre os demais pais e a administração da escola. Outros atuam como voluntários em serviços de apoio, como monitores de trânsito em frente à instituição, seguranças nos quarteirões ao redor do colégio, nas cafeterias, bibliotecas ou em passeios. Como estão constantemente nas escolas, acompanham de perto o que acontece na sala de aula, conhecem o currículo e os recursos - assim, podem cobrar dos filhos e das autoridades. Um dos fatores mais comuns para o sucesso de um sistema educacional, na Coreia do Sul os professores também são muito valorizados socialmente. Além de serem bem pagos - no topo da carreira, com a formação mínima exigida, recebem mais de US$ 80 mil, atrás apenas de Luxemburgo e da Suíça entre os países da OCDE - contam com grande reconhecimento da sociedade. É muito comum, inclusive, que alguns dos principais educadores do país trabalhem na Educação Básica, e não no Ensino Superior. Em países como o Brasil, os professores com melhor formação costumam estar nas universidades. Em 2005, o governo coreano começou a investir fortemente em tecnologia de informação e comunicação nas escolas, distribuindo equipamentos como laptops. Também lançou um programa pelo qual os alunos podem acessar o conteúdo pela internet, a partir de qualquer computador. Agora, há um projeto para digitalizar todo o conteúdo do currículo até 2015 - quando escolas de ensino Fundamental e Médio contarão com livros didáticos em versão informatizada.

RELAÇÕES EXTERIORES DA FINLÂNDIA

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Combate imediato às dificuldades Em cada escola finlandesa, os professores estão permanentemente atentos ao aproveitamento dos alunos. Ao primeiro sinal de dificuldade em aprender qualquer conteúdo, soa um alerta que mobiliza toda a escola. O professor pede ajuda a um professor especial, dedicado a derrubar barreiras à aprendizagem. Além disso, todos os casos são discutidos por um “comitê de socorro” que pode incluir o diretor, psicólogo, outros professores e até pais. Esse tipo de estratégia desperta tanta confiança no sucesso das escolas que o governo finlandês não impõe qualquer tipo de avaliação externa – para surpresa dos milhares de estrangeiros que costumam visitar a Finlândia em busca de receitas para seus próprios sistemas educacionais. Isso só é possível graças a outro fator: a extrema qualificação dos educadores. Esse nível de autonomia, que permite ainda a cada professor ajustar o currículo básico nacional à sua realidade local, conta com uma força de trabalho habilitada com diploma de mestrado e selecionada entre a elite dos estudantes do país. E os finlandeses conseguem selecionar os melhores alunos mesmo sem pagar salários acima da média entre os países europeus – o que atrai os jovens é o respeito social, a autonomia e as boas condições de trabalho encontradas nos colégios.

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As lições vindas da Coreia do Sul Tempo integral e atividades extraclasse. Uma explicação para o fato de os estudantes coreanos despontarem nos exames internacionais enquanto os brasileiros patinam nas últimas colocações é simples: os orientais simplesmente estudam mais. Em média, enquanto um aluno brasileiro passa cerca de quatro horas e meia na escola, no outro lado do mundo esse tempo chega a mais do que o dobro. As crianças coreanas estudam perto de 10 horas, e algumas ainda complementam com atividades extraclasse. No nível equivalente ao Fundamental, mais de 80% das crianças contam com algum tipo de estudo complementar.

Atendimento ao primeiro sinal de dificuldade Cada escola conta com uma “tropa de elite” para garantir que nenhum estudante fique para trás em rendimento. Ao primeiro sinal de dificuldade, o professor pede a interferência de outro educador. Esse colega, pelo sistema chamado de “educação especial”, se dedica a atender as dificuldades específicas do aluno. Ao longo da vida escolar, não é raro qualquer estudante finlandês ser encaminhado para o professor especial – e isso não é encarado como fracasso. Diretor e professores se reúnem para discutir a situação de cada aluno.

Escolas com autonomia e boas condições Na Finlândia, a profissão de professor tem status semelhante à medicina. Isso não quer dizer que o rendimento de um educador se equipare ao de um médico – enquanto o primeiro recebe, em média, US$ 2,7 mil mensais, o segundo ganha acima de US$ 6 mil. O que faz o magistério competir em igualdade com outras carreiras de ponta é o reconhecimento social, a autonomia e as boas condições de infraestrutura. O governo nacional estabelece definições gerais do currículo, mas cada professor pode adaptá-lo às características locais. Isso cria um ambiente de profissionais altamente motivados. O país consegue excelentes resultados mesmo sem grandes investimentos – o salário dos professores fica na média dos países europeus, assim como a verba da educação por aluno. O segredo está em aplicar a maior parte do dinheiro diretamente nas escolas e salas de aula. Isso é possível graças a um sistema enxuto – em que até os diretores costumam lecionar –, e poucas instâncias burocráticas. A estrutura administrativa inclui as autoridades federais da área e os governos municipais, que respondem pela maior parte das escolas. Os coreanos sabem que construíram uma nação que já deu certo graças à revolução pela educação. Basta olhar para os jardins da universidade Postech para ter um exemplo disso: a instituição reservou um terreno de 300 metros quadrados onde pretende espetar estátuas de bronze dos futuros prêmios Nobel produzidos nas suas salas de aula. “Estamos obcecados com essa idéia”, diz o diretor Oh Dong-Ho. Ninguém duvida de que vão conseguir concretizá-la.


As lições da Finlândia: Melhores alunos viram professores Se apenas 2% dos jovens estudantes brasileiros dizem sonhar com a profissão de professores, conforme o estudo Atratividade da Carreira Docente no Brasil, na Finlândia a carreira do magistério atrai a elite dos estudantes. Como resultado da grande procura, apenas um em cada 10 candidatos consegue vaga nos cursos universitários que preparam os educadores para atuar nas escolas. A formação é outro diferencial do ensino finlandês – todos os professores precisam contar com o título de mestres em educação para conseguir trabalho.

Na Coreia, ser professor da rede pública significa ter bom salário, e status na sociedade Uma pesquisa feita pela Universidade Nacional de Seul chegou a uma conclusão interessante sobre o assunto: para as mulheres da Coréia, o professor é visto como o “melhor partido para casar” porque tem emprego estável, férias longas (raridade no país), jeito para lidar com crianças – e ótimo salário. Além de dinheiro no bolso, ele dispõe de excepcionais condições de trabalho, com dedicação exclusiva a uma só escola e direito a quatro horas diárias para preparar aulas e atender os estudantes. A Coreia leva o ensino tão a sério que até professor de jardim-deinfância precisa ter diploma de ensino superior (e a maioria conta com a pós-graduação).

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Aula com o professor-robô. Na Coreia, o investimento tecnológico é algo que impressiona. O país foi um dos primeiros do mundo a equipar escolas com internet de banda larga.

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ou chamá-lo de João. Com exceção do seu nome, que é fictício, todo o restante da história é verdadeira. Conheci João, 15, na festa de Natal de uma ONG de São Paulo que cuida de crianças e de adolescentes retirados da guarda dos pais. Assim como os demais “irmãos” postiços, João chegou a um dos abrigos da ONG – chamados de “lar social” – porque sofreu maus tratos da família. Como é negro e garoto, as chances de sair do espaço com uma família adotiva diminuem conforme a sua idade aumenta. No Brasil, a preferência das famílias na hora de “escolher” uma criança para adotar ainda é por crianças pequenas e brancas, de preferência meninas. Se não for adotado nos próximos três anos, João sairá do abrigo quando completar 18. Então, terá de seguir sua vida e se sustentar. O garoto não me contou como chegou ao abrigo: se sofreu violência, abuso ou se foi vítima de negligência familiar. Esses são alguns dos motivos pelos quais muita criança vai parar em abrigos temporários no Brasil, como o que visitei.

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A reserva de vagas ‘Vou aproveitar que sou negro para entrar em uma boa universidade’ CRÉDITO

As cotas deram certo. Mais de uma década depois, a política de inclusão de negros nas universidades apresentam resultados surpreendentes onde eles têm tirado notas mais altas que a média

Muitas são retiradas das ruas; a maioria é filha de usuários de drogas pesadas. ÓCULOS RETRÔ. O que sei é que João chegou ao abrigo há alguns anos. E que, além de chamar atenção pelo estilo descolado, com penteado black power e óculos retrô, ele também se destaca pelas boas notas. Acabou de ser aprovado no ‘vestibulinho’ de uma escola pública onde fará ensino médio técnico. Quer ser jornalista. Claro, quis saber tudo sobre mim: onde me formei, onde comecei a trabalhar, como é a minha rotina. A cada palavra, tentei incentivá-lo. Dizia que ele tinha de estudar bastante, essas coisas. “Vou aproveitar que sou negro para entrar em uma boa universidade”, disse. Como assim, João? Ele explicou: “Ser negro agora é vantagem para quem quer estudar porque dá pontos no vestibular em boas universidades públicas. Se não fosse por isso, eu nem pensaria em fazer faculdade.” Sim, há dez anos, candidatos auto-declarados pretos, pardos e indígenas (classificação do IBGE) passaram a ter vagas reservadas


no exame de ingresso da UnB, 5ª melhor universidade federal do país, de acordo com o RUF. A reserva de vagas acabou alcançando todas as escolas federais do país e, espera-se, deve chegar às três universidades estaduais paulistas –USP, Unicamp e Unesp– até 2018 (hoje, USP e Unicamp dão pontos extras no vestibular para pretos, pardos e indígenas e para egressos de escolas públicas). ‘SE NÃO FOSSE ISSO’. Pois bem.

Já escrevi muitas vezes sobre cotas e outras formas de ação afirmativa no ensino superior. Também já escrevi aqui sobre a importância da família na educação das crianças e sobre as vantagens de uma boa escola na corrida para a boa universidade. Mas vamos pensar no caso do João: ele não tem família, não tem em quem se espelhar e tampouco estudou em uma escola competitiva –dessas que custam, em média, cinco salários mínimos por mês. João tem, no entanto, um benefício no vestibular. “Se não fosse isso, eu jamais pensaria em fazer faculdade.” Eu não sei se João vai concluir o ensino médio ou se entrará

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SABINE RIGHETTI, Jornalista pela Unesp, mestre e doutoranda em política científica e tecnológica pela Unicamp, onde dá aula na pós-graduação em jornalismo científico do Labjor/Unicamp

para as estatísticas de quem não termina a última etapa da educação básica (o que acontece com 50% dos alunos no Brasil). Tampouco sei se ele vai entrar em um curso de jornalismo. O que sei é que, hoje, esse garoto tem uma perspectiva por causa das cotas e, consequentemente, ganhou um motivo para se manter na escola e para brigar por uma vaga em uma boa universidade. Isso me parece bastante transformador, não?

Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) validou dia 26/04/2012, a adoção de políticas de reserva de vagas para garantir o acesso de negros e índios a instituições de ensino superior em todo o país. O tribunal decidiu que as políticas de cotas raciais nas universidades estão de acordo com a Constituição e são necessárias para corrigir o histórico de discriminação racial no Brasil.

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EDUCAÇÃO

‘Nossa escola é desonesta’ O sistema é perverso e é nele que as crianças e jovens passam a maior parte de seu tempo

abstração. Realmente ninguém pode acreditar no que e feito ali. Alunos acabam o ensino médio sem saber ler e escrever. Como isso pode ter acontecido? Como ele passou ano, após ano? Foi tudo uma fraude e os professoossa sociedade está res, diretores, alunos e a família doente a olhos vistos. compactuaram com as mentiras. A educação está tão Ninguém denuncia por achar que atrasada que ficamos vendo estão levando vantagem. O aluno acontecimentos morais da mais não aprendeu, o professor não baixa qualidade. A moral do de- ensinou e recebeu seu salário ver (dente por dente, olho por todos os meses. Isso é honesto? olho - 7/8 anos de idade mental) Os professores em nossas esé a tônica social. Muitos adultos colas continuam dando aulas nos agem e respondem às situações quadros achando que isso vai como crianças. Temos que me- influenciar seus alunos e mudar lhorar a educação para melhorar o nível da educação. Isso vem a sociedade. A escola continua acontecendo há longos anos e a na inércia e isso é o retrato do escola continua em vez de formar, nosso país. Se a sociedade é de- deformando os seus alunos. sonesta é natural que a escola Os alunos fazem as provas e também o seja porque ela é o nada sabem e continuam? Quem seu reflexo direto. Nossa escola é autoriza? Veja que é um sistedesonesta. As notas, a frequência, ma todo combinado. A ética e a os conteúdos, tudo é uma total moral continuam sendo artigo

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de luxo em nossas escolas. Os professores não conseguem ensinar porque não sabem como se deve fazer e às vezes não acreditam. Um professor que falta, embroma a aula fazendo chamada de 50 alunos quando tem 50’ de aula não poderá falar em ética para esses alunos. Um professor que usa a prova para coagir seus alunos e mantê-los quietos e dentro da sala também não pode falar em moral. O discurso de nossas escolas nada tem a ver com a sua prática. O discurso “Formar cidadãos conscientes” alguém acredita? Não é possível, vemos que nossa população não tem a menor consciência social. O que está acontecendo? Dizem uma coisa e realizam outra. O que acontece e se dão conteúdos básicos e mínimos. Não temos, em nosso sistema, respeito pelos alunos e as suas famílias. O sistema é perverso e é nele que as crianças e jo-

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vens passam a maior parte de seu tempo. Nossa escola é um retrato do país, logo ele não mudará. Precisamos dar um choque educacional para que depois da mudança educacional tenhamos uma mudança estrutural na sociedade. A sociedade depende da Escola. BLOG DA BETA


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