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CARTA AO PROFESSOR

Prezado(a) professor(a),

Que alegria poder apresentar O morcego sem asas para você! Este é um livro que evidencia a importância da persistência e da empatia para com o próximo. Subliminarmente ele trabalha a normalidade de viver com deficiência, já que o personagem principal é um morcego que nasceu sem as asas, mas sua deficiência não é o foco da história e sim sua vontade de poder voar e o que ele faz para conseguir realizar seus sonhos, jamais desistindo.

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Não temos, com este material, a intenção de dirigir sua leitura, tampouco de engessar sua interpretação da obra. Nosso intuito é apoiá-lo(a) no seu imprescindível trabalho de formação de leitores críticos e atuantes, a fim de que eles, em um futuro bem próximo, possam contribuir para tornar este mundo mais justo e feliz.

Para tanto, gostaríamos de inserir em nossa conversa a frase de Jules Ferry, ministro da Instrução Pública na França nos anos de 1880: “Aquele que é senhor do livro é senhor da educação”. Refletindo sobre a importância dessa frase para a construção de leitores conscientes e críticos, enxergamos com mais clareza o papel fundamental do professor na sociedade, bem como sua responsabilidade nessa formação.

Infelizmente, para grande parte das crianças do nosso país, o único lugar onde elas podem ter contato com os livros é a escola, situação que ocorre por vários motivos, como a baixa ou nenhuma escolarização dos pais, a extrema desigualdade social, o esvaziamento cultural e mesmo a falta de

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interesse das famílias pelos livros. Daí a importância e a responsabilidade do trabalho do professor com os livros, com a literatura e na elaboração de propostas capazes de atrair seus alunos para a leitura.

O psicanalista Bruno Bettelheim, no livro A psicanálise da alfabetização, afirma que a capacidade de ler é de importância tão singular para a vida de uma criança, que sua experiência na aprendizagem e na prática da leitura sela o seu destino para toda a vida, pois aquilo que ela experimenta na escola determinará o modo como irá lidar com a aprendizagem em geral. A capacidade de ler com desenvoltura, além de provocar na criança uma grande satisfação, habilita-a a enfrentar os mais diversos desafios que lhe serão propostos ao longo da sua vida escolar.

Como sabemos, a aprendizagem da leitura não se esgota na alfabetização, e também não deve ser encarada apenas de maneira utilitária. Ler um texto literário é diferente de ler uma carta, um jornal, uma poesia, uma receita ou um manual. São diversos os níveis de leitura que precisamos alcançar, assim como são diversos os gêneros dos discursos.

Por tudo isso é que a prática da leitura deve despertar na criança a fé de que um mundo de experiências maravilhosas se abrirá à sua frente se ela for capaz de ler. No que diz respeito à leitura literária, o ensino da literatura deve ser visto como a iniciação de um novato num mundo de experiências, fonte de um conhecimento ilimitado, na aquisição de uma arte arcana que revelará segredos. A leitura abre as portas para a sabedoria e dá ao leitor a permissão para compartir as sublimes conquistas da poesia.

Outro ponto que merece nossa reflexão é que a leitura de textos literários não deve ser encarada apenas como entretenimento, mas principalmente como fonte inesgotável de aprendizado, restauração da nossa psiquê, compreensão dos conflitos e adversidades que aparecem tanto nos textos como na vida real, e, sobretudo, como uma comovente experiência estética.

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Mesmo que você ache um tanto exagerado e idealista, podemos dizer que o professor pode se tornar um especialista da aventura interior, sua e de seus alunos, pois é capaz de guiá-los na viagem em busca do conhecimento. Quando realiza suas tarefas de forma competente e apaixonada, sempre será lembrado pelos alunos, e se lembrará deles. Será uma referência, um exemplo a ser seguido. Basta nos lembrarmos dos professores que nos marcaram, aos quais queríamos ser iguais. Nesse sentido, o ensino da literatura e o trabalho com o texto favorecem essa identificação, uma vez que o texto pode suscitar reflexões que nos provocam, que dialogam com nossa alma, com nossos desejos, com nossas descobertas e até com nossas dores. E o professor é o guia dessa viagem.

A literatura é fundamental para que exercitemos a capacidade de nos colocar no lugar do outro e de enxergar a pluralidade do mundo para além do senso comum. Ao transportar o leitor para o universo do texto, onde pode escapar da realidade, ele tem a oportunidade de renovar sua percepção de mundo e, desse modo, contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável. O livro de Fernanda Emediato poderá contribuir de forma bastante significativa nessa direção, sobretudo porque aponta caminhos para o debate e a resolução de conflitos raciais. Além disso, ele certamente oferecerá a você e aos seus alunos uma agradável experiência estética de leitura, entrelaçando texto e imagem em composições capazes de proporcionar efeitos sensoriais importantes para a faixa etária a que se destina.

Os livros infantis de qualidade, além do prazer que sua leitura e/ou escuta são capazes de proporcionar, contribuem para o amadurecimento da criança, bem como para a formação do sentimento de empatia, tão fundamental para o convívio em sociedade. A literatura infantil configura-se em meio para transformar a experiência humana. Por meio dela, a criança pode imaginar aquilo que nunca viu e pode representar, pela experiência dos personagens, aquilo que só existe no plano da fantasia, indo além de suas limitações, assimilando a experiência histórica e social de outros. Sem contar que a imaginação é condição absolutamente necessária para, praticamente, toda atividade intelectual.

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E como a imaginação não brota do nada, ela precisa de alimento, experiência, trocas e vivências para se manifestar em sua plenitude. Logo, devido às restrições inerentes à pouca idade, essa troca de experiências e vivências, bem como a oportunidade de sentir o que o outro sente, a criança as retirará do seu contato com a literatura infantil, na qual pode buscar o alimento necessário para desenvolver sua imaginação e, consequentemente, sua cognição.

No livro O prazer do texto, Roland Barthes, pensador francês de grande importância para os estudos literários no mundo ocidental, afirma que um texto literário precisa seduzir o leitor, “precisa dar provas de que o deseja”. Premissa fundamental para pensarmos a formação de leitores, embora Barthes não estivesse se referindo às obras destinadas ao público infantil, mas sim a todo tipo de texto literário. Essa afirmação, porém, pode servir de norte para a nossa prática diária de formação de leitores, principalmente o leitor criança. O pensador também destacou a força da literatura como instrumento privilegiado de conhecimento do mundo. Para ele, a obra literária reúne saberes plurais, pertinentes a todas as ciências.

Essas premissas de Barthes dialogam com a forma de pensar de Aristóteles, filósofo grego para quem “todos os homens tendem por natureza ao conhecimento”. Em todo homem, portanto, habitaria o desejo de conhecer. A essa afirmação, cabe acrescentar que os livros devem despertar esse desejo.

Fundamentados por essas premissas é que nos propomos a elaborar este material, que julgamos capaz de contribuir com seu trabalho de formação de cidadãos leitores, além de propiciar a você e aos seus alunos a oportunidade de realizar um mergulho na história desse livro, munidos com os equipamentos necessários para uma travessia prazerosa e segura.

Esperamos que você goste do livro e deste material de apoio. Boa leitura! Fernanda Emediato

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