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Ano 1 / N° 233 / Natal, DOMINGO, 22 de agosto de 2010

RODA VIVA

GOVERNO ANUNCIA RECURSOS PARA A ZPE DE MACAÍBA, MAS OMITE A ZPE DO SERTÃO

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03

03 03

POLÍTICA

/ ELEIÇÃO / MANASSÉS QUER SER DEPUTADO PARA DEFENDER OS 10% DOS GARÇONS. COMO ELE, VÁRIOS CANDIDATOS SE PROPÕEM A SER REPRESENTANTES DE SUAS CATEGORIAS PROFISSIONAIS

POLÍTICA P OLÍTICA

CIDADES

O NOVO

FOLCLORE

POTIGUAR

Quem são os sucessores de Dona Militana, Chico Daniel e Cornélio Campina? Folclorista Deífilo Gurgel analisa legado deixado por estes artistas populares. MAGNUS NASCIMENTO / NJ

VOTO DE BANDEJA

GARANTE GORJETA

TIAGO LIMA / NJ

MAGNUS NASCIMENTO / NJ

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ECONOMIA

EDITAL PARA ZPE DO SERTÃO VAI SAIR NO PRÓXIMO DIA 28

02

O prefeito de Assu, Ivan Júnior, anunciou que o edital para a concorrência que definirá o administrador da Zona de Processamento de Exportação do município vai ser lançado dia 28. Dúvida é se modelo de gestão será por concessão ou licitação.

GERAL

FILHOS DE AMÉRICO BRIGAM POR BIBLIOTECA Autor de um livro considerado clássico da literatura potiguar, “A Biblioteca e seus habitantes”, o crítico literário, professor e advogado Américo de Oliveira Costa, que se fosse vivo faria 100 anos hoje, é o centro de uma ação singular na justiça. Dois de seus filhos brigam no Judiciário pelo acervo de 10 mil livros. Por causa dessa questão, a biblioteca do professor Américo permanecesse fechada - sem habitantes - numa triste ironia que remete ao seu livro mais cultuado. 15

ESPORTES

ABC QUER GANHAR E FAZER SALDO CONTRA SALGUEIRO

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CIDADES HUMBERTO SALES / NJ

IVAN CABRAL

WWW.IVANCABRAL.COM

▶ Praça São Camilo de Lelis, em Lagoa Nova

ABANDONADAS, PRAÇAS DEIXAM DE SER LOCAIS DE CONVÍVIO Calçadas e bancos quebrados, quadras destruídas e falta de manutenção. A maioria das praças de Natal precisa de reparos. Prefeitura tem diagnóstico.


Geral 2

Editor Carlos Prado

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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010

/ HÍGIA /

O HABITANTE DA BIBLIOTECA FECHADA

ALEGAÇÃO DE LAURO É QUE NÃO PÔDE SE DEFENDER

/ POLÊMICA / DISPUTA JUDICIAL ENTRE OS FILHOS DE AMÉRICO COSTA MANTÉM INACESSÍVEL O ACERVO DO JORNALISTA E ESCRITOR MACAUENSE, QUE HOJE COMPLETARIA CEM ANOS MAGNUS NASCIMENTO / NJ

KLÊNIO GALVÃO

DO NOVO JORNAL

SE ESTIVESSE VIVO,

o escritor, jornalista, professor e critico literário Américo de Oliveira Costa estaria completando cem anos no dia de hoje. Na última quinta-feira, seu neto João Eduardo Costa, 25, lançou uma biografia intitulada “O Habitante da Biblioteca: 100 anos de Américo de Oliveira Costa”, para homenagear os feitos do avô na política, no jornalismo e, principalmente, na literatura. Porém, em meio a uma data tão importante e tantas celebrações, um fato curioso tem dividido a família Costa desde 2001, ano em que se iniciou uma briga judicial pela biblioteca pessoal de Américo Costa. São cerca de 10 mil obras da literatura brasileira, portuguesa e francesa, que estão confinadas em um cômodo da casa onde viveu o autor, localizada na Rua Mipibu, no bairro de Petrópolis. Hoje, a residência pertence ao mais velho dos cinco filhos de Américo, Pedro Costa, 73, que comprou as partes do imóvel que cabiam aos irmãos. Após a morte do pai, em 1° de julho de 1996, Pedro passou a morar no lugar. Mas foi depois da morte da mãe, a pernambucana Josefa dos Santos Costa, em 2001, que a questão da biblioteca entrou na justiça. Segundo a única filha mulher do escritor, a doutora em direito constitucional e também escritora, Vitória Costa, 66, a biblioteca lhe pertence na forma da lei. “Papai deixou pra mim em testamento”, garante. Vitória morava na casa dos pais até que um dia precisou sair e nunca mais pôde voltar. Ela diz que Pedro, hoje proprietário da casa, frustrou qualquer tentativa dela em resgatar os livros deixados

pelo pai. “Ele [Américo] deixou pra mim porque eu já morei na França, lia em francês e a maioria das obras dele, cerca de 70%, era em francês”, afirma Vitória. Pedro Américo afirma que as obras não sairão de sua casa, e vai além; “Quando eu morrer os livros vão ficar aqui. Na minha casa ninguém entra!”, assegura o filho mais velho. Quando perguntado sobre a questão da herança que o pai deixou para a sua irmã, o senhor de cabelos brancos e voz abatida desconversa, muda de assunto e volta a afirmar: “aqui ninguém entra”. Sua irmã, Vitória, fala diz que já tentou resolver a questão amigavelmente, sem sucesso. “Além dos livros, deixei muita coisa lá. Coisas que eu escrevi e alguns objetos pessoais. Mas tem uns pitbulls por lá e ele não me deixa entrar. Depois que mamãe morreu nunca mais eu entrei na casa”, lamenta a escritora. Fato é que as obras estão guardadas em um quarto da casa da Rua Mipibu e, agora, é biblioteca de uma pessoa só, com inúmeros livros de autores importantes como Machado de Assis, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Nísia Floresta, Zila Mamede, Câmara Cascudo, além de publicações raras, toda a biografia do português José Saramago e as publicações do próprio Américo. Enquanto isso, todos esses livros poderiam estar sendo usados, por exemplo, pelos jovens e crianças que freqüentam o Centro Cultural e Biblioteca Escolar Prof. Américo de Oliveira Costa, na Zona Norte de Natal. O lugar foi inaugurado em 26 de janeiro de 2001 e o discurso de agradecimento na abertura do Centro deu origem a um livro, escrito por Vitória Costa.

▶ O acervo de Américo Costa, esquecido em um dos quartos da casa do escritor, na Rua Mipibu

LIVRO RESGATA VIDA E OBRA Quando Américo Costa morreu, João Eduardo tinha apenas dez anos. Filho de Paulo Américo e sem poder interferir no conflito dos tios Pedro e Vitória, decidiu em 2007 resgatar as memórias do seu “voinho”, através de documentos, revistas, livros, entrevistas dos alunos e depoimentos de amigos e ad-

miradores do escritor. Assim, João começou a registrar a biografia de um homem com jeito “elegante e refinado de escrever” que mantinha uma simplicidade admirável. “A cada dia que passava eu ficava mais encantado e mais orgulhoso com sua cultura”, comenta João. Sua tia, Vitória, ajudou como pôde para preencher os “buracos” do livro. Com uma memória de dar inveja, ela é capaz de contar com detalhes toda a trajetória de

seu idolatrado pai. Para a escritora, existem três livros “fundamentais para carregar na vida”. 1° a Bíblia; 2° Os Ensaios de Montaigne (escritor e filósofo francês); e 3° A Biblioteca e Seus Habitantes, de Américo de Oliveira Costa. Vida e obra do escritor, nascido em Macau, estão no livro “O Habitante da Biblioteca”. Segundo o autor, João Eduardo Costa, o centenário é para encher de orgulho o Rio Grande do Norte.

MAGNUS NASCIMENTO / NJ

HUMBERTO SALES / NJ

HUMBERTO SALES / NJ

▶ Pedro Costa: guardião irredutível

▶ João Eduardo fez resgate em livro

/ MARINA /

Empresários se dizem surpresos com decisão da prefeitura HUMBERTO SALES / NJ

EMPRESAS INTERESSADAS EM

construções na área da Zona de Proteção 7 (ZPA7) foram surpreendidas com o novo projeto de lei enviado para a Câmara Municipal de Natal, pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), disciplinando construções nas proximidades do Forte dos Reis Magos e da Ponte Newton Navarro. A Marina de Natal, sob responsabilidade do grupo espanhol BCM Ingenieros, aguardava a regulamentação ambiental para construção há quatro anos - seria construída em área cedida pelo município próxima ao Forte dos Reis Magos - e agora voltou à estaca zero. Segundo o empresário espanhol Alejandro Escudero, a empresa conta com uma resposta positiva do poder público municipal. Segundo ele o grupo espera informações do Município, já que estudo prévio de viabilidade técnica apontava que o empreendimento só poderia ser construído na área da ZPA7. “O local é ideal para a obra”, afirma o empresário. O empresário Wilson Nepomuceno Calado Júnior, gerente da imobiliária Sotheby’s, também se mostrou surpreso com as mudanças, já que permutou com Exército

▶ Olegário Passos, secretário da Semurb: competência do executivo Brasileiro um terreno na cabeceira da Ponte Newton Navarro, e esperava também investir no local. A área foi terraplanada pelo próprio Exército em março passado e só dependia da regulamentação da prefeitura para ser entregue ao grupo empresarial. O secretário da Semurb, Olegário Passos, afirmou que o município, na discussão sobre as ZPAs, “não tem compromisso com nenhum grupo”. A ZPA-7 espera pela regulamentação desde 1984, como outras quatro Zonas de Pro-

teção. O texto enviado à Câmara dos Vereadores delimita toda a ZPA-7 e restringe a construção de novos empreendimentos no local. O gabarito – altura máxima – para novas construções é de 7,5 m. “Administração é a favor da Marina, mas não naquele local”, alega o secretário. Para ele, o empreendimento será de grande importância turística e econômica, mas que Natal não pode negligenciar as questões ambientais. A área em questão, em razão do grande potencial turístico, é vista

como a “galinha dos ovos de ouro”, tanto pela prefeitura quanto pelos empresários. Sendo estes os principais interessados na regulamentação da área com autorização para construção de negócios turísticos e imobiliários. No projeto de lei, a ZPA 7 está dividida em três subzonas (SZ1, SZ2 e SZ3). Olegário Passos estranhou as criticas emitidas à imprensa pela promotora do Meio Ambiente Gilka da Mata. Segundo a promotora, o projeto de lei foi enviado à revelia, de modo unilateral, sem qualquer tipo de comunicação ao Ministério Público e a sociedade. Para o secretário da Semurb, o projeto de lei valoriza os aspectos ambientais, paisagísticos, culturais e históricos da região ao delimitar as características locais e restringir a ocupação e uso para proteção e manutenção. “Não é competência do Ministério Público regulamentar a área de Proteção Ambiental. Esta é uma atribuição exclusiva do Executivo enquanto proposta e de projeto de lei a ser votado pelo legislativo”, atacou. “A posição do Ministério Público é estranha”, afirma Olegário. Para ele, a Semurb honrou com a transparência em todos os atos.

▶ Vitória Costa: testamento

A DECISÃO DO desembargador Vladimir Souza Carvalho, do Tribunal Regional da 5ª Região, em Recife, que concedeu habeas corpus ao advogado Lauro Maia, filho da ex-governadora Wilma de Faria, candidato a deputado estadual pelo PSB e acusado de comandar o que o Ministério Público Federal chamou de esquema na área da saúde estadual, não beneficiou somente a ele, mas os outros réus da Operação Hígia, que iriam depor amanhã na Justiça Federal. Com a medida, em caráter liminar, todos os depoimentos foram suspensos pelo menos até o julgamento do mérito do habeas corpus pela 3ª Turma do TRF, o que está previsto para o início de setembro. A alegação da defesa de Lauro Maia é que ele foi impedido pelo juiz Mário Jambo de se manifestar no processo. O magistrado solicitou defesa prévia dos acusados por escrito, depois a encaminhou ao MPF e em seguida acatou a denúncia. Embora tenha alegado o fato de não ter podido se manifestar na Justiça, o candidato Lauro Maia não tem aproveitado a campanha para tratar do tema e apresentar sua defesa. O habeas corpus evitou que ele tivesse de suspender a agenda política em busca dos votos, para prestar depoimento à Justiça. Caso seja eleito, Maia passa a ter foro privilegiado. A Operação Hígia é resultado de uma investigação do Ministério Público Federal que apontou o envolvimento de quinze pessoas num esquema de fraude em licitações e contratos firmados pelo governo do RN com empresas de mão-de-obra terceirizada. Os desvios, segundo a Polícia Federal, somam em torno de R$ 36 milhões. Lauro Maia, que chegou a ser preso em junho de 2008, é apontado pelo MPF como líder do grupo.


Política

Editor Heverton de Freitas

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NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

DE OLHO NO

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/ CAMPANHA / CANDIDATOS DE DIFERENTES PARTIDOS BUSCAM OS VOTOS DE SUAS CATEGORIAS PROFISSIONAIS OU DE SEGMENTOS RELIGIOSOS PARA TENTAR CONQUISTAR UMA CADEIRA NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA OU NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

VOTO DA CORPORAÇÃO RAFAEL DUARTE

DO NOVO JORNAL

você estiver olhando neste momento, há um candidato em potencial. E se o sujeito for professor, evangélico, policial militar, médico, vigilante, cigano, contador, sindicalista ou garçom é bem possível que ele dispute este ano uma vaga na Assembleia Legislativa ou na Câmara Federal pelo Rio Grande do Norte. Uma pesquisa no site do Tribunal Superior Eleitoral aponta que existem CUIDADO: PARA ONDE

41 candidatos que usam a patente ou a profissão no nome estampado no material de campanha, ou seja, querem ter o nome ligado à categoria que representam. No entanto, uma olhada no horário político gratuito nota-se que o número de candidatos identificados com a profissão ou um segmento específico é bem maior, o que também não significa certeza de vitória nas urnas. O cientista político e professor do departamento de Ciências Sociais da UFRN, João Emanuel Evangelista, acredita que esse

tipo de candidatura tem importância variada e reitera que quantidade não significa retorno garantido. “Algumas categorias, por mais que sejam numerosas, não conseguem traduzir a quantidade em importância política, depende da circunstância e das características do candidato ou candidata. Não é suficiente para assegurar eleição do candidato. É importante você ter uma área segmentada para ter um ponto de partida, mas só isso é insuficiente”, analisa. Segundo ele, as eleições para HUMBERTO SALES / NJ

▶ Sargento Regina chegou à Cãmara Municipal com os votos dos PMs

ASSOCIAÇÃO DA PM DEFENDE ESCOLHA POR PLEBISCITO Para as entidades de classe que representam um segmento específico, a presença de filiados nas esferas públicas é mais um aliado na hora de lutar por conquistas para a categoria. No entanto, pelo menos em alguns setores da PM, esse debate vive uma crise atualmente. Segundo o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nove PMs que se identificam através de suas patentes, disputarão vagas na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal por oito partidos diferentes, o que significa que, mesmo na mesma corporação, a pluralidade é uma marca. Segundo o presidente da associação dos cabos e sargentos do Rio Grande do Norte, Jeoás Santos, as últimas candidaturas que tiveram êxito apoiadas pela entidade, casos dos sargentos Siqueira e Regina, não fizeram jus ao esforço da militância. Ele criticou a postura da dupla – a vereadora sargento Regina é candidata à deputada estadual e não tem o apoio da associação que a projetou na primeira eleição – e defende um plebiscito interno, a partir da próxima eleição, para a escolha do representante dos policiais. “Infelizmente essas candidaturas não acrescentaram muito para a categoria. Ajudamos nas duas eleições, mas depois que os companheiros foram eleitos não tivemos o devido espaço político nos gabinetes nem participamos das decisões políticas nos dois mandatos”, diz Santos, que reclama, principalmente, da falta de apoio de Regina nas idas a Brasília para a aprovação da PEC 300 pelo Congresso Nacional, que previa a criação do piso úni-

co para policiais militares, civis e bombeiros. De acordo com ele, contabilizando os 12 mil PMs da ativa, se tem uma estimativa de pelo menos 36 mil votos em disputa na corporação, isso levando em consideração que a família média de um policial militar possui três pessoas. Dada a importância e a quantidade de votos em disputa, Jeoás defende a candidatura segmentada. “Acho que a categoria deveria avançar no processo democrático classista no sentido de ter ferramentas de unificação dessas candidaturas. Um candidato que representa a categoria não seria um deputado da PM, mas um deputado que também defendesse questões ligadas à segurança pública e à polícia militar. Procurada pela reportagem para comentar as críticas do exaliado, a vereadora e candidata a deputada estadual, sargento Regina, não quis criar polêmica. Mas lembrou que Jeoás foi expulso da corporação e tentou sair candidato a deputado federal, mas não conseguiu. Sobre o apoio da associação dos cabos e sargentos, a vereadora afirmou que foi a única entidade representativa da PM que não a apoiará nesta eleição. “Temos o apoio da associação dos subtenentes da PM, dos bombeiros, dos praças do Seridó e do agreste e o apoio da associação dos praças de Mossoró, além da guarda municipal que possui 1.600 guardas na reserva. A associação dos cabos e sargentos foi a única entidade de reconhecimento que não apóia. Não há nada pessoal”, desconversou.

AJUDAMOS NAS ELEIÇÕES, MAS DEPOIS QUE OS COMPANHEIROS

vereador e deputado estadual, que necessitam de menos votos para eleger o candidato, são as que têm o maior retorno nesse tipo de segmentação. “A categoria consegue convergir em torno de determinado candidato. (Deputado) federal é mais complicado, precisa ter proposta mais abrangente. Para vereador e estadual é menos”, disse. O cientista político cita dois exemplos clássicos de candidaturas segmentadas identificadas com a categoria, e coincidentemente na área de educação, o de-

putado estadual Fernando Mineiro e a deputada federal Fátima Bezerra, ambos do PT e egressos dos movimentos social e sindical. E mesmo com trajetórias parecidas, cita diferenças entre elas. “Fátima tem um grande enraizamento na categoria e se especializou em todos os níveis. Luta pela educação superior, no segmento estadual tem os IFRNs e no local a questão do Fundeb. Já Mineiro expandiu a atuação em vários setores. A sargento Regina é uma incógnita: será que ela vai ter o mesmo êxito a de-

putada estadual como teve como vereadora?”, questiona. Sobre o crescente segmento evangélico, Emanoel ressalta que, nesse caso, é preciso ver com calma. “Algumas igrejas conseguem uma forte adesão aos seus candidatos, mas não são todas. É preciso cuidado também porque as pessoas têm mania de achar que evangélico é tudo a mesma coisa. E há desde as denominações históricas às neopetencostais. É preciso saber para que tipo de fiel você está falando”, reflete.

GARÇOM CANDIDATO QUER FISCALIZAR OS 10% O metier dos bares, botecos, botequins e restaurantes também está representado nessa eleição. Candidato pela primeira vez, Manasses Romano Rodrigues da Silva luta para ser o representante na Assembleia Legislativa de uma categoria essencial para a diversão natalense: a dos garçons. E aposta na fiscalização da polêmica comissão de 10% cobrada pelos proprietários da maioria dos estabelecimentos para chegar ao parlamento. O que muita gente desconhece, e Manasses denuncia, é que nem sempre a verba é repassada aos profissionais que atendem os clientes. Se eleito deputado estadual pelo PV, o garçom Manasses, nome pelo qual vem se apresentando no horário político do rádio e da TV, avisa que não abrirá mão do pagamento dos 10% aos garçons embora saiba que a lei não exige a cobrança no final da conta. Mas admite que, no máximo, numa futura negociação, aceitaria rachar o valor entre o garçom, o cozinheiro e o patrão. “A gente poderia fazer um acordo para dar 6% para o garçom, 2% para o cozinheiro e 2% ficaria para a casa. Ninguém é obrigado a pagar, mas se paga é no intuito de que o garçom receba. Hoje, no entanto, quase nenhuma casa repassa o valor, e isso não é justo. Se eu for deputado vou fiscalizar”, disse o garçom que não sabe quantos profissionais existem no mercado. Além da comissão, o garçom Manasses também foca a geração de emprego sem despesa para o estado. A implantação da meiapassagem de transporte coletivo aos domingos, como já ocorre durante os feriados nacionais, é outra ideia para fortalecer a profissão. “Pagando meia tarifa no domingo, o cidadão tem condição de levar a família para a praia. E com mais gente, os proprietários das

TIAGO LIMA / NJ

▶ Manasses defende temas de interesse dos garçons para chegar na AL barracas serão obrigados a contratar mais garçons para atender o público”, explica. Funcionário há seis anos do hotel Ocean Palace, Manasses trabalha há 29 anos como garçom. E pela experiência adquirida, diz que vai cobrar uma linha de ônibus saindo da Zona Norte em direção a Ponta Negra que passe pela via Costeira, trajeto onde se concentra a maioria dos grandes hotéis da cidade e boa parte dos garçons. “Tem garçom que sai às 4h da manhã de casa para chegar ao hotel antes das 6h,

que é a hora que começa a ser servido o café-da-manhã. Como a linha 07 e 29 não vai mais até Ponta Negra, muitos colegas chegam a se atrasar e os patrões mandam embora para casa na hora. Falo porque eu já vi”, disse o garçom que, entre outras propostas, também pretende defender a criação de um passeio de barco entre as praias de Ponta Negra e Redinha que forçaria a contratação de mais garçons, barmens e cozinheiros, além de uma revitalização do Beco da Lama, ponto alto da boemia natalense.

FORAM ELEITOS NÃO TIVEMOS

A ÂNCORA E OS MARES DA POLÍTICA

ESPAÇO”

Há casos em que a segmentação de uma candidatura é a porta de entrada para um cargo público, o que não significa que o parlamentar feche os olhos para o restante das demandas da sociedade. Exemplo de deputado que tem um público alvo, mas expandiu sua atuação é o petista Fernando Mineiro. Egresso dos movimentos sociais, mas com foco principalmente na educação, ele é visto engajado no meio cultural e integrado a discussões que vão desde a agricultura familiar, demandas do movimento negro até a polêmica hoje em torno da realização da

Jeoás Santos Presidente da Associação dos Cabos e Sargentos

Copa do Mundo de 2014 em Natal. “Minha âncora é a educação, mas navego em vários mares”, filosofa. E divide o crédito dessa diversidade parlamentar com a própria assessoria. “Montei a assessoria para contribuir comigo e apresentar projetos em diversas áreas. Meu mandato dialoga com vários temas. Me engajo naquilo que considero importante. Faço campanha voltada para esses movimentos e sou chamado a responder aos mais variados temas”, diz. Indagado se a educação já não é o carro-chefe da atuação como parlamentar, ele afirma que o pro-

fessor ainda é seu principal eleitorado. E explica que, por conta dessa relação com a educação, teve a oportunidade de expandir sua atuação. “Essa pluralidade foi surgindo desde os exercícios do meu mandato de vereador. Fiz uma opção para ter um mandato de dialogo, mas meu principal eleitorado e minha principal referência é o professor. Esse exercício me possibilitou ir além da corporação”, conta.

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Opinião 4

Editor Franklin Jorge

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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010

Editorial Peladeiros políticos ▶ rodaviva@novojornal.jor.br

Mais um Governo está chegando ao fim sem que se tenha resolvido o problema que virou o Distrito Irrigado do Baixo Assu, que está completando 25 anos. Nos três mil hectares da primeira etapa, mais de 90% está produzindo, mas os outros três mil hectares da segunda etapa tem um quadro de terra arrasada. Cerca de 90% da área total está sem produzir, e a infra-estrutura foi dilapidada: primeiro levaram os transformadores; depois os fios condutores de energia; em seguida roubaram as estações de bombeamento. Agora estão quebrando o concreto dos canais para a retirada de manta plástica para fazer barraca em assentamento.

MÃO DE OBRA

O CTGás (agora Centro de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis) pode se tornar mais um argumento para o Rio Grande do Norte se firmar como o principal pólo brasileiro de geração de energia eólica, por ser o primeiro capacitado a qualificar a mão de obra demandada pelos projetos que estão sendo aprovados. Divulgado o resultado dos leilões que vão acontecer esta semana será divulgado o programa de cursos – e de vagas – que o CTGás vai oferecer para atender a demanda.

DOIS PESOS

A AGN (Agência de Fomento do Estado) convocou uma assembléia geral para a próxima sexta-feira tendo como único assunto de pauta “autorizar a participação acionária da Agência na constituição da Zona de Processamento de Macaíba” Trata-se de uma decisão elogiável, mas, da forma que está sendo colocada por demonstrar o uso de dois pesos e duas medidas do Governo, que participa da ZPE no município onde a Prefeita apoia o Governador, e exclui Assu, que também tem uma ZPE autorizada, mas o Prefeito não vota na reeleição do Governador.

VOLTA DOS ESPANHÓIS

SER OU NÃO SER Que o presidente Lula se transformou no maior eleitor desta campanha, nem o seu maior inimigo é capaz de discordar. Aceita essa premissa, precisamos entender para onde será canalizada a força eleitoral do Presidente da República. Toda a sua capacidade de comunicação – reforçada por enorme empatia com o povão – tem sido usada para fazer da eleição de 3 de Outubro um plebiscito julgando o seu Governo (as pesquisas mostram que ele acertou na mosca). O discurso de Lula para conquistar votos para Dilma está direcionado para uma comparação do seu com o Governo FHC, “O Governo dos Tucanos”. Esta é a prioridade de Lula: fazer o eleitor, sobretudo o eleitor de baixa renda, comparar Governos a partir de critérios por ele apresentados. Para tanto Lula tem se municiado de dados capazes de mostrar que a vida do brasileiro melhorou nos últimos anos graças aos programas sociais que priorizou. No Rio Grande do Norte, para conquistar o povão para os seus candidatos, Lula terá de fazer um discurso inverso. Ou seja: aqui não vai dar para ele comparar os últimos sete anos da administração estadual, simplesmente pela falta de ter o que apresentar, que não sejam obras inauguradas sem estarem concluídas, muitas pela metade. Os primeiros movimentos depois de iniciada a propaganda na televisão, mostram que o governismo não quer usar o espelho retrovisor para justificar o que fez, mas só olhar para frente com um novo estoque de promessas (muitas delas antigas e não resgatadas), porém mostrando que pretende fazer o que não conseguiu fazer. Este é o desafio de Lula: - Pedir ao eleitor que vote plebiscitariamente para Presidente da República, aprovando a continuidade do seu Governo, mas na eleição de Governador esqueça isso. Mude os rumos do Governo, mantendo esse Governo nas mãos de quem já vinha no seu Comando há oito anos. Para alguns dos mais atentos observadores da cena política não existe discurso que resista à incoerência da mensagem. É isso que Lula vai ter que fazer para que os seus objetivos duplos sejam alcançados. E o eleitor se convencer que o melhor para ele é continuar com Dilma e mudar com Iberê, porque é isso que Lula quer. A escolha dessa estratégia termina virando um caminho sem volta. Do jeito que Lula centraliza as atenções e os argumentos para que se faça o julgamento do seu Governo, não vai dar para tirar da eleição o sentido de plebiscito do Governo Wilma de Faria, com toda herança de escândalos não esclarecidos. Para julgar o Governo Lula, o eleitor também julgará o Governo Wilma.

TIAGO LIMA / NJ

TERRA ARRASADA

É uma atitude errada que pode aniquilar a possibilidade de futuras alianças”

DO EX-PREFEITO AGNELO ALVES SOBRE A TENTATIVA DA ASSESSORIA DE IBERÊ FERREIRA TENTAR IMPEDIR A PARTICIPAÇÃO DE LULA NO PROGRAMA DE CARLOS EDUARDO

ALÔ ALÔ O Rio Grande do Norte está muito próximo da universalização do telefone celular. Para cada grupo de cem pessoas, 92.5 tem uma linha de celular ativa. No total são 2.975.625 linhas ativadas. O Brasil dispõe de 187 milhões, das quais 42.8 milhões ficam no Nordeste. Maior participação per capita que o RN só Sergipe: 93.4 linhas por cada grupo de cem.

A parceria do grupo espanhol Iberdrola (“Iberdrola Renovables”) com a Neoenergia, que controla a Cosern, foi ampliado. Os dois vão entrar no próximo leilão de energia para desenvolvimento e operação dos parques eólicos. Há mais de dez anos que a Iberdrola estuda a energia dos ventos no Rio Grande do Norte.

PERDÃO FOI FEITO

A prefeita Micarla de Souza sancionou uma lei concedendo total isenção do IPTU e Taxa da Limpeza Pública a todos os imóveis cedidos ou locados à administração municipal A lei também oferece remissão de dívida de todos os imóveis nos anos que tenham ficado sob posse da Prefeitura no dia 1º de janeiro do exercício.

MOSSORÓ NO AR

Depois de dois anos que a empresa BRA suspendeu sua operação no Aeroporto Dix-sept Rosado, Mossoró poderá voltar a ser servida por uma companhia aérea que se propõe a manter uma linha para quatro capitais do Nordeste. A empresa pernambucana Noar pediu autorização a ANAC para operar, a partir do dia 30 uma linha área ligando a cidade a Natal e, em seguida, a quatro capitais (João Pessoa, Recife, Maceió e Aracaju) com aeronaves LET com capacidade de 20 passageiros, já apresentada num vôo panorâmico.

TRABALHO MAL FEITO

A agenda da candidata Wilma de Faria programa uma caminhada pela Praia do Meio, às 10 h deste domingo. Mostrada ao Rio Grande do Norte, há oito anos como resultante do trabalho – “trabalha, trabalha, trabalha” – de Wilma, o calçadão da Praia do Meio tornouse um libelo contra quem fez um trabalho tão mal feito. O calçadão não resistiu nem dez anos.

A ILHA

Do colunista Lauro Jardim, na Veja on line: “É em pleno Nordeste, núcleo duro do lulismo, que o DEM tem a sua solitária ilha de tranqüilidade no país. No Rio Grande do Norte segundo a mais recente pesquisa do Ibope, a candidata do DEM ao governo, Rosalba Ciarlini, ganharia no primeiro turno, e o senador José Agripino, líder nacional do partido, ganharia uma vaga no Senado”.

ZUM ZUM ZUM ▶

Principal manchete da Folha de S Paulo neste sábado: Dilma dispara, sobra vantagem e venceria Serra no 1º turno”. No Datafolha: 47 a 30. ▶ O maior crescimento de Dilma foi no público feminino (que a rejeitava), na região sul. ▶ “Casar faz bem” é a reportagem de capa da revista Veja desta semana. ▶ O empresário Glauber Gentil

participa, hoje, da Meia-Maratona do Rio de Janeiro. Depois vai assistir Fluminense X Vasco, no Maracanã. ▶ Neste domingo completa cem anos do nascimento – em Macau – do escritor Américo de Oliveira Costa. ▶ João Marcelino está ensaiando uma nova montagem do “Auto da Liberdade”, que volta a ser encenado, agora no Teatro Dix-huit Rosado a

partir do 17 de setembro. ▶ Padre Sabino Gentili foi homenageado em Mãe Luiza com o seu nome dado a uma Alameda, na rua paralela a avenida João XXIII. ▶ De Zé Simão na Folha sobre guia eleitoral em Sampa: “A Marta (Suplicy) lançou uma novidade na TV: o Botoshop, botox com fotoshop. ”. ▶ Começa neste domingo a 9ª

Semana de Psicologia e a 5ª Jornada de Psicologia promovida pela UFRN. ▶ Nesta segunda-feira o programa “Café com o Presidente” não será transmitido. Foi suspenso até o fim da campanha eleitoral. ▶ Alexandre Moreira e Trio estará neste domingo, no Praia Shopping, apresentando o espetáculo “Instrumental Bandolim”.

A discussão em torno da aprovação do Fundo Garantidor com o qual o governo estadual espera afiançar a empresa que vai operar a Parceria Público-Privada – responsável pela construção da Arena das Dunas – transforma uma questão que é, a princípio, de natureza meramente técnica e operacional em problema político. Provavelmente, nenhuma das outras onze capitais escolhidas para sediar os jogos da Copa de 2014 viva no momento entrave semelhante ao do Rio Grande do Norte, atado num embate político e num confronto de forças que só o prejudica. Esse enfrentamento pode explicar, em parte, o fato de Natal ser considerada a mais lenta entre todas as cidades-sedes no cumprimento dos prazos estabelecidos pela Fifa, segundo os levantamentos feitos até agora. O debate em torno das obras necessárias para a construção do novo estádio, da maneira como serão autorizadas as consultorias e da forma legal com que será implementada a PPP revela, acima de tudo, o fracasso na capacidade de negociação política dos gestores à frente do projeto da Copa. Em praticamente todas as questões que exigiam um acordo houve divergências extremas – e sem a menor sinalização de ajuste ou de entendimento. É triste, então, constatar a atual incapacidade de dialogar neste RN. Mais triste ainda notar que esse posicionamento pode resultar em prejuízos para todos – o que se dará caso Natal perca o direito de sediar os jogos do mundial. Há uma questão que precisa ser avaliada de maneira macro, portanto sem considerar que possa haver vencedores ou vencidos: sem o poder de convencimento, de negociação, dentro, evidente, dos parâmetros definidos pela lei, as obras da copa não fluirão com a rapidez que se espera. Aliás, sem negociar, nada flui. O governo erra e novamente propõe o confronto quando tenta atribuir à Assembleia Legislativa a demora em aprovar o Fundo Garantidor. Ainda que haja desinteresse da oposição, como acusa o governo, o Executivo errou, no princípio, ao enviar o projeto à Casa no último dia antes do recesso parlamentar do primeiro semestre. E usou da pressão ao sugerir que a mensagem fosse dispensada de toda a tramitação legal, que inclui o debate em três comissões, para ser logo submetida ao voto em plenário. O que a oposição tem feito é cumprir o rito, ainda que se entenda haver componente político na decisão que tomou. Se tinha pressa em ver a mensagem aprovada, o estado deveria tê-la enviado antes e não às pressas à Assembleia. Esse é apenas um aspecto do entrave. A questão maior, que assusta, porém, é a inaptidão política dos líderes do RN para negociar, para contemporizar. Parece que o RN vive uma geração de teimosos.

Artigo CARLOS MAGNO ARAÚJO Diretor de Redação ▶ carlosmagno@novojornal.jor.br

Falta perguntar A figura mais ausente na campanha eleitoral deste ano é a do perguntador. O velho e bom jornalismo caiu em desuso nas disputas políticas modernas. Para se ter ideia, os debates, meio que ao longo dos últimos anos promoviam o grande embate de toda disputa, hoje aprisionam os jornalistas. Os candidatos, descolados, já que amparados por eficientes serviços de mídia training que contratam, aprendem a se safar dos apertos – e ensaiam as respostas. Sem jornalistas preparados para questionar, tudo vira um jogo de quase adulação. Quem perde é o cidadão eleitor. Como conseqüência, todo debate é sem graça, ainda mais porque amarrados por regras rigorosas que atendem perfeitamente à Justiça Eleitoral, mas desinformam a sociedade, já que não trazem novidade alguma. Os tais debates se tornaram uma grande enganação. O Brasil, de moderníssimo sistema eleitoral, inventou o debate que não debate. O candidato que não vai é execrado pelos demais; e os que vão se contentam se saírem no zero a zero. As exceções são os representantes dos partidos nanicos, franco atiradores. Portanto, nestes simulacros de enfrentamento, saem satisfeitos aqueles que, se não ganharam, aos menos não perderam. Eles sabem que vão tentar desempatar noutro campo, em que atuam como mandantes: no corpo a corpo das ruas ou no guia eleitoral, que também é muito bem ensaiadinho, por isso resulta, por mais credibilidade que se tente pregar, num programa de laboratório, pré-concebido – de resultado satisfatório, para quem criou e para o candidato. A sociedade, o eleitor, mais uma vez, submetidos. Falta, portanto, mais vida real. Nas primeiras disputas após a redemocratização do país os debates eram importantes porque os candidatos tinham de suplantar as duras perguntas dos entrevistadores. Era o momento em que o pretendente a governante era posto contra a parede e tinha de ter, além de jogo de cintura, conhecimento para tentar virar o jogo – entendendo-se aí que a entrevista é aquela peleja em que o entrevistador tenta arrancar do entrevistado uma boa frase, uma boa história; e o entrevistado tenta o drible, a resposta que o beneficie sem que pareça ter fugido da questão. A alternativa que surgiu no lugar dos debates consegue ser ainda pior. Nas tais sabatinas, com temas em geral voltados para um segmento específico, a sociedade fica ainda mais perdida. Cada candidato pode dizer o quer, daí surgem as soluções para tudo. A conclusão é fácil: como nas campanhas recentes, sobra tecnologia, sobra dinheiro, sobra tudo. Falta somente quem pergunte, de verdade, aos candidatos.


▶ POLÍTICA ◀

NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

Painel RENATA LO PRETE Da Folha de São Paulo

PROFUSÃO DE PROFESSORES

painel@uol.com.br

Assunto proibido Embora a disparada de Dilma Rousseff nas pesquisas acelere, no PT e entre os aliados, a disputa por espaço no futuro governo, o assunto permanece interditado no ‘núcleo duro’ da campanha. ‘Por aí todo mundo está falando aos montes, mas conosco ninguém tem coragem de falar’, diz um dos coordenadores. Até porque, explica ele, a candidata se esquiva ao menor sinal de conversa, mesmo em tom de brincadeira, sobre nomes para ministérios e outros cargos. Quem está de fato cotado para assumir algum posto, como por exemplo o deputado José Eduardo Cardozo (PT), que tem chances de assumir a Justiça, guarda ainda mais reserva do que Dilma.

ELE OU ELA? Registro de observador atento: quando Dilma conta, na propaganda de TV, que na infância rasgou uma nota em duas partes para dar metade a uma criança pobre, a petista primeiro diz que ‘apareceu um menino na porta da minha casa’. Depois, que o dinheiro rasgado foi dado a ‘ela’.

LULA LÁ 1

Lula gravou na quinta-feira quase duas horas de entrevista ao repórter Steve Kroft, do programa ‘60 minutes’, da rede CBS. Como o programa só deve ir ao ar em outubro, a palavra ‘Dilma Rousseff ’ ficou de fora da conversa. Nem o presidente mencionou sua candidata.

LULA LÁ 2

Lula se estendeu nos comentários sobre a questão iraniana, mas somente no que diz respeito ao programa nuclear, diga-se de passagem. Nem ele nem o repórter entraram no tema dos direitos humanos.

QUESTÃO DE MARCA

A maioria (65%) dos eleitores entrevistados na mais recente pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial identifica que o PT é o partido de Dilma. No caso de José Serra, apenas 36% sabem que é o PSDB. Na região Nordeste, 65% ignoram que ele é tucano. O PV é apontado como partido de Marina por 32%.

NINGUÉM VIU

Comentário de um tucano tentando minimizar a polêmica causada pelo uso da imagem de Lula no programa eleitoral de Serra: ‘O Paulo Hartung apareceu em dois dos programas do Serra e ninguém fa-

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lou nada’. O governador do Espírito Santo é amigo de longa data do tucano, mas está ao lado de Dilma na disputa eleitoral deste ano.

INCRÍVEL

O deputado Paulo Delgado (PT-MG) enumera os ‘cinco milagres’ da atual campanha: 1) ninguém é ficha suja; 2) todo mundo ama Lula; 3) o PSB é capitalista; 4) a direita acabou; 5) o PC do B tem dinheiro.

CAIXA FORTE

No primeiro mês oficial de campanha, 65 candidatos aparecem na lista de doadores eleitorais. No total, eles declararam repasses de R$ 11,4 milhões a suas campanhas ou à de terceiros.

RECICLAGEM

O slogan ‘Foi Siqueira que fez, é o Siqueira que faz’, com o qual Duda Mendonça embala a candidatura de Siqueira Campos (PSDB) ao governo de Tocantins, foi usado pelo marqueteiro pela primeira vez em 1998, quando Paulo Maluf (PP) perdeu para Mário Covas (PSDB), que se reelegeu em São Paulo.

MEU QUERIDO

Por piores que estejam as relações entre Ana Júlia (PT) e Jader Barbalho, o Planalto trabalha para garantir o apoio do peemedebista à governadora, caso se confirme o cenário de segundo turno entre ela e Simão Jatene (PSDB) no Pará.

PESADO

O avanço de Flexa Ribeiro (PSDB) sobre Paulo Rocha (PT) nas pesquisas para o Senado no Pará deu origem a um bordão repetido pela campanha tucana: ‘flecha voa, rocha afunda’.

TIROTEIO Pelo visto, Lula falou a verdade quando disse que não se afastaria da Presidência. Ele está fazendo campanha na cadeira mesmo. DO DEPUTADO ACM NETO (DEM-BA), sobre o crescente espaço dedicado, na agenda do presidente, à tarefa de eleger Dilma Rousseff.

CONTRAPONTO TAMBÉM QUERO Em entrevista a emissoras de rádio do Nordeste, na terçafeira passada, Lula mencionou o recente anúncio da descoberta de gás no Maranhão: — O Sarney tinha me dado um livro para explicar porque o Maranhão é pobre, mostrando que a terra não era da qualidade de outras terras, que o Maranhão não tinha minério. Eu acabo de receber o livro, mal tinha lido a dedicatória, e o Eike Batista encontra gás... O presidente ainda brincou: — O Piauí está doidinho, achando que tem gás lá...

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 3 ▶ Até que ponto pode ir o apoio de uma entidade representativa a uma candidatura identificada com a causa da categoria? Para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Rio Grande do Norte (Sinte/RN), Fátima Cardoso, a pluralidade dos nomes tem que refletir dentro da entidade. Essa diversidade, inclusive, está nos números. Ao todo, 13 candidatos de nove partidos distintos se identificaram como professores no site do TSE. Ela conta que, além de não

declarar apoio oficial, o sindicato não distribui material de campanha de ninguém e, durante as assembleias, faz questão de divulgar os nomes de todos os candidatos que estejam no local independente de representar, ou não, os professores. “A nossa categoria é muito plural, tem gente de vários partidos. Por isso, apresentamos todas as candidaturas porque achamos legítimos e não fere a lei. Eu peço voto como cidadã, mas dentro da instituição não temos retrato de nenhum candidato nem distribuímos material de campanha. E se botarem, arranco tudinho”, diz.

Para a sindicalista, a importância de um representante da categoria num parlamento facilita as conquistas. “Passamos a ter um porta-voz da causa da educação no parlamento e temos encaminhados nossos pleitos diretamente a esses profissionais. O vereador Luís Carlos tem sido importante na Câmara Municipal, assim como Fernando Mineiro na Assembleia Legislativa e a deputada Fátima Bezerra. Eles conhecem a causa da educação, o que é um facilitador, além de serem mediadores nos momentos das discussões”, analisa. Embora o SINTE seja um sin-

dicato ligado historicamente ao PT, Fátima diz que por conta da relação segmentada tem estreitado relações com o vereador Luís Carlos (PMDB). Para ela, que considera essa aproximação “um namoro inseparável”, o surgimento das candidaturas segmentadas tem origem na dominação elitista dos cargos públicos. “As elites dominantes têm seus interesses particulares e por conta desse vácuo surge a categoria para reafirmar interesses coletivos. O professor Luiz Carlos é do PMDB, e tem sido decisivo em muitos momentos para nós na Câmara Municipal”, conta. ARQUIVO

A BÍBLIA E O BRASÃO Há quem diga que a campanha de uma candidatura segmentada é mais fácil porque, ainda que dispute com outros colegas, os votos já estão concentrados numa mesma categoria. Diante dessa hipótese, o caso do soldado Canuto é diferente. Além de buscar os votos do policial militar, o candidato a deputado estadual pelo PSB ainda tem um desafio: ir atrás do voto dos policiais evangélicos. Presidente da associação dos Praças da PM, Canuto é pastor afastado da igreja “Deus é Amor” e vai apostar nas duas frentes. Para isso, já elegeu até a proposta unificadora dos dois segmentos: lutar pela construção da capelania evangélica da PM. “O quartel já tem duas capelas católicas, mas ainda não tem a capelania evangélica. Essa é uma luta que vamos enfrentar. Também vou buscar uma biblioteca para evangélicos, já que os pregadores têm dificuldade para pregar seus sermões com o material que já existe, além de lutar pela construção de um espaço para a realização de eventos evangélicos”. O soldado Canuto não vê empecilho em conciliar a busca por eleitores nesses dois segmentos. E já prevê que com 20 mil votos, por conta do coeficiente eleitoral da coligação a que pertence, “Vitória do Povo”, vai conseguir se eleger. Junto aos policiais, acredita que as lutas que vêm travando até em nível nacional pela associação dos praças da PM do RN, como a permissão para os policiais militares votarem em trânsito, o ajudarão a chegar na Assembleia Legislativa. A formação acadêmica é outro ponto que, segundo ele, lhe coloca à frente de outros candidatos. “Foi uma vitória de repercussão nacional que conquistamos no TSE, mas o TRE negou. Fomos a primeira entidade a lutar pelo piso na-

MISSIONÁRIO DA ESPERANÇA Apesar de corporativo, o segmento evangélico está longe de ser unificado. O missionário da igreja Mundial, João da Costa (PSDB), candidato a deputado federal pela primeira vez, acusa todos os candidatos que assumiram um discurso evangélico no Estado e ocupam cargos públicos de não representar o segmento. “Não existe ninguém com uma atuação visível hoje nem na Câmara Municipal nem na Assembleia Legislativa. O único rastro que existe é de corrupção porque quando você olha para a Câmara e vê um representante evangélico lembra a operação Impacto”, diz em referência ao candidato Adenúbio Melo. Ele conta que, se eleito, vai priorizar a educação por entender que “é a base de tudo”. E acredita que pela quantidade de votos do segmento, os evangélicos tinham condições de eleger dois deputados federais. Só da igreja mundial são 41 mil no estado,

Soldado Canuto quer o voto dos policiais evangélicos e propõe construção de uma biblioteca para os pregadores

cional da categoria. E como sou formado em direito, o conhecimento da legislação me ajuda”, afirma. O segmento evangélico é um dos setores que mais tem crescido nos últimos anos. O último levantamento do IBGE, de 2009, aponta que 430 mil fiéis potiguares estão aptos a votar nas eleições de três de outubro. No site do TSE, é possível identificar sete ‘irmãos’ que de alguma forma se identificam como pastores, irmãos ou missionários. No entanto, com base num levantamento feito pelo NOVO JORNAL em algumas igrejas evangélicas, o número pode ser bem maior. Levando em consideração o posto ocupado por um representante da igreja evangélica, o deputado estadual e candidato à reeleição, Antônio Jácome, da Assembleia de Deus, pode ser considerado o pastor que foi mais longe. Vereador, deputado estadual e vicegovernador está, desde 1988, na vida pública pregando em nome do segmento evangélico. Nesta eleição Jácome faz uma dobradi-

nha com o candidato a deputado federal e também evangélico, Adenúbio Melo, que concorre a uma vaga na Câmara Federal. A dupla vem percorrendo bairros e municípios do interior com um caminhão que vira palco. Em seguida, os dois pregam a palavra de Deus e vão embora. Questionado, o deputado diz que não se trata de campanha. “Não é campanha, mas uma estrutura móvel de evangelização, pregação do evangelho. O povo sabe separar muito bem, não adianta político fazer proselitismo. E não comecei a fazer isso agora, há mais de 20 anos trabalho dessa forma”, disse. Sobre a relação duradoura com o segmento evangélico, Jácome diz que não é um deputado exclusivo dos evangélicos, mas admite que é uma das bandeiras de seu mandato. “Sou evangélico de nascimento, filho de pastor, sou pastor antes de entrar na vida pública. Antes do primeiro mandato em 1988, vereador, entrei na vida pública já por recomendação e por vocação. O seg-

mento evangélico é plural e muito grande. Nem eu nem ninguém pode se arvorar a falar pelo segmento todo. Tive 40.700 votos na última eleição, mas também tenho um trabalho muito grande como médico voltado para atendimento de pessoas carentes”,. Mesmo sem ser questionado pelo tema, o pastor e deputado se adiantou ao dizer que não vê a formação de uma bancada evangélica como segregação e compara o movimento às bancadas representativas da área da saúde e ruralista do Congresso Nacional. “Qual é o problema ter a bancada evangélica, para defender os princípios da bandeira evangélica? Não vejo de forma segregacionista. Só acho que não pode ser fechado. Eu, por exemplo, tenho uma postura ética, que nunca se envolveu em escândalo. As igrejas têm demandas como a legalização delas, documentação... e tenho sido uma ponte entre as igrejas e o poder público. Não há troca de barganha. As igrejas evangélicas têm um grande trabalho silencioso que não aparece na mídia”, alfineta. HUMBERTO SALES / NJ

11 mil somente em Natal. “Coordenando uma campanha em outro estado, já cheguei a multiplicar esse número por oito. Se aqui conseguir multiplicar por quatro posso não me eleger, mas fico na primeira suplência. E como Rogério Marinho será o secretário estadual de educação de Rosalba, entro na Câmara”, diz já adiantando o secretariado da candidata Rosalba Ciarlini.

NÃO EXISTE NINGUÉM COM ATUAÇÃO VISÍVEL, O ÚNICO RASTRO QUE EXISTE É DE CORRUPÇÃO ” João da Costa Candidato a Deputado Federal

▶ João da Costa conta com Rogério Marinho secretário para ele assumir


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▶ OPINIÃO ◀

/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010

FRANKLIN JORGE Jornalista

Jayme Hipólito, leitor exemplar Gustavo Luz está reunindo em livro o que escreveu Jayme Hipólito Dantas e o que escreveram sobre ele, o que creio não ter sido muita coisa, pois não temos aqui o hábito da critica literária, por muitos considerada uma atividade incivilizada e fora de propósito capaz de colocar no limbo aqueles que se aventuram a fazê-lo. Só vale mesmo a louvaminha, o elogio, o puxa-saquismo, enfim, tudo o que afaga o ego dessa população de literatos cuja produção devia ir para a cesta de lixo e não para as prateleiras das estantes. Soube-o por um gentil telefonema de Misherlany Gouthier, que me pediu que o que tenho escrito, no curso dos anos, sobre o escritor que embora nascido em Caicó se fez mossoroense, compondo com o jornalista Dorian Jorge Freire a mais importante representação literária da terra de Santa Luzia. Mexendo, pois, em meus papéis, descobri o texto

O EDITOR MOSSOROENSE

franklinjorge@novojornal.jor.br

Mossoró, Jayme Hipólito viveu discretamente, pensando e escrevendo, entre o jornalismo e uma promotoria de justiça que lhe garantia a dignidade da sobrevivência. Para ele, o jornal foi uma espécie de cátedra e de tribuna, que exerceu sem dogmatismo e sem arrogância, como um perfeito liberal afeito aos desafios da circunstância. Leu muito e leu bem. E, ao contrário de muitos jornalistas, escrevendo com estilo, correção e fluência. Cultivava uma virtude rara -- tinha opinião e não interesses. Tivemos poucos encontros, mas ele sempre externou um vivo interesse por tudo o que eu produzia, no jornal e no livro. Inclusive chegou a apresentar o meu “Jornal de Bolso”, de 1986, há muito esgotado. Nos últimos anos, já morando em Natal, encontramo-nos algumas vezes na calçada do banco onde ele recebia seus proventos de aposentado, na vizinhança do Café São Luiz, quando aproveitávamos para trocar algumas idéias. A política e a literatura eram temas recorrentes desse intelectual privilegiado pelos sentidos da discriminação e da seleção. E, naturalmente, os nossos escritores, ainda mergulhados, em sua maioria, no limbo do absenteísmo e, mesmo – ai de nós! --, da alienação. Como se a criação estivesse acima ou apartada da vida. Jayme Hipólito morreu ainda moço, em plena maturidade e imerso em inquietações intelectuais. Testemunha engajada do nosso tempo, havia muito deixara de escrever para jornais ou o fazia nos de Mossoró, sem repercussão na capital do Estado, onde viveu seus últimos anos, sem publicar mais nada na imprensa, ao lado de Marília e de Emílio, o filho querido com o qual tinha uma ligação seminal. Contista, mas vocacionalmente um pensador, destacou-se no ensaio curto, escrito para atender às solicitações do jornal, transformado por ele em cátedra – porém sem o dogmatismo pedante dos catedráticos profissionais. Com Dorian Jorge Freire deu qualidade e prestígio ao jornalismo praticado em Mossoró. Sua obra publicada e inédita ou dispersa em jornais, precisa ser urgentemente reeditada, para engrandecimento das idéias e da cultura norte-rio-grandense, da qual é um mestre. Especialmente o seu “De Autores e de Livros”, que em 1992 teve uma precária edição chancelada pela Editora Queima-Bucha. Nesse livro, de escritor e jornalista, uma série de ensaios curtos dão a dimensão de sua grandeza de crítico ao nos revelar o leitor exemplar que ele era e continua sendo, mesmo depois de tocado pelo dedo longo da morte. Porém, que seja uma edição bem cuidada e digna do seu nome, contendo, se possível, um estudo introdutório capaz de situar, no nosso contexto literário e jornalístico, a contribuição desse lúcido e espirituoso mestre.

abaixo reproduzido que inclui em meu livro “Leituras Potiguares”, ainda inédito. Espero que possa servir para alguma coisa: Autor de dois ou três títulos publicados em vida, Jayme Hipólito Dantas produziu, no entanto, para o jornal, artigos que dão testemunho não apenas do seu estilo, mas, também, da atividade de um intelectual autêntico, generoso e preocupado com a qualidade do seu ofício. Ainda me lembro de um artigo seu, publicado na Tribuna do Norte, sobre a alienação dos nossos escritores – dos escritores do Rio Grande do Norte – em matéria de política. Parecialhe que a realidade não lhes tocava a sensibilidade e o interesse, de modo que ele só podia citar uns poucos politizados e capazes de discernir a importância do ato de escrever e as responsabilidades de quem ousa fazê-lo. Nascido em Caicó e radicado por muitos anos em

Franklin Jorge escreve nesta coluna aos domingos

Plural

Cartas do Leitor

FRANÇOIS SILVESTRE Escritor ▶ fs.alencar@uol.com.br

▶ cartas@novojornal.jor.br

Traquinagem e adivinhação O engenheiro Ângelo da Costa, vulgo Costa de Luiz Lino, disse certa vez que descobrira a minha real ideologia. Após assistir a alguns capítulos do “Bem Amado” de Dias Gomes, que a televisão popularizou, Costa não teve mais dúvidas. “Você é um Esquerdista Cervejista”. Pronto. Tava aí a definição mais próxima da verdade que mereceu minha ideologia. Analogia da jenipapança. Dia desses, ele me telefonou para lembrar uma lição do matuto, meu tio, Zé Suassuna de Alencar. “Seu Zé me disse, numa tarde distante de Umarizal, que a adivinhação é prerrogativa dos velhos e a traquinagem é direito das crianças”. Repetiu o texto integral: “velho que não adivinha tá bom de morrer e menino que não traquina precisa de médico”. Tudo para falar de festas e dores da velhice. Foi dito que a única alternativa para a velhice era a morte. Portanto, não é apenas saudável gostar de ser velho. É o único jeito de adiar a despedida. Como definiu a mulher do filósofo: A vida é um demorado adeus. Quanto mais demorar melhor. Só que a alegria apressa o tempo. E o sofrimento o alentece. Taí a encruzilhada. Se for feliz, o tempo voa. Enquanto a dor amarra os ponteiros. Duas horas numa festa não dura cinco minutos. Dois minutos sob tortura atravessa o século. Dos tempos da traquinagem, cada criança carrega consigo um baú de lembranças. E elas se grudam feito tatuagem no matulão da memória. Não há velho que não carregue uma criança para esticar as rugas do peito. Que o faz, na ante-sala do sono, sentir o cheiro de uma mareta de açude. Cá no sertão. Nas cidades, as lembranças são outras. Se bem que lembrança de menino é como casa de avó; só existe uma. E todas estão no mesmo endereço. Das traquinagens experimentei todas. Ou quase todas. Das imitações dos adultos, das mentiras cadentes, das safadezas e ritos que inventam prazeres e descobrem o sexo. Mas havia o confessionário para purgar as culpas. Tudo até a Sexta-Feira. Semana de sacanagens. No Sábado, a confissão. O padre alemão, geralmente reprimido, demorava perguntando os detalhes das bronhas ou do troca-troca. No Domingo, o corpo de Cristo. A hóstia feita de finíssima película de trigo, que se dissolvia na língua antes do sabor atingir o paladar. À saída da igreja, o corpo leve. E a promessa feita diante da imagem da Conceição de que aquela seria a última penitência paga. Não pecaria nunca mais. Como era bom carregar o corpo maneiro. Só faltava voar. Segunda-Feira, pela manhã, os primeiros encontros com a turma da bola de meia e das gaiolas. Discussões, palavrões. Na TerçaFeira, o corpo com saudade do peso. Voar uma ova. O banho da tarde já cobrava o trabalho da mão. Fazer o quê? Era preciso arranjar assunto para o confessionário. Té mais! François Silvestre escreve nesta coluna aos domingos

CEDIDA/ASSECOM

assunto, no qual o autor dizia que Iberê, recémconvertido ao lulismo, quer ser mais lulista do que os lulistas de carteirinha. Para mim isso é oportunismo que não cola mais.Hoje a sociedade está melhor informada e sabe quem é quem. Não adianta forçar a barra, pois a informação não é mais privilégio de grupos. Está na blogosfera, que pertence a todos e não a partidos.É deplorável que um político ignore fato tão corriqueiro. Ou então seus assessores não estão fazendo o dever de casa.

e na orfandade dos poderes públicos. O que impressiona mais é que está no governo um partido comprometido com o meio ambiente. Mas a realidade é outra. O Parque da Cidade, uma das nossas raríssimas áreas verdes, está completamente abandonado. Dá uma tristeza enorme passar diante dele e ver que por pura picuinha o Parque chegou ao estado atual.

Carlos Brito, Conj. Panorama

Bandidagem

Dengue

▶ Iberê quer Lula no palanque

E agora mais esta: um novo surto de dengue em nosso já tão combalido RN? Que tem feito nossas autoridades que não acabam de vez com esse problema?

Era o que faltava

Marilza Guedes, Ponta Negra

Não sei o que passou pela cabeça do governador Iberê Ferreira de Souza ao tentar impedir que o seu adversário Carlos Eduardo não utilizasse em sua campanha a imagem do Presidente Lula, quando Carlos Eduardo sempre foi lulista e até se insurgiu contra o comando da até então sua parceira Wilma de Faria para apoiar a candidatura de Fatima Bezerra em sua sucessão.Li hoje na internet um comentário muito bom sobre o

Quem tem boca Li no NOVO JORNAL que a prefeita está toda empenhada em viabilizar a participação de Natal na Copa de 2014. Quem tem boca diz o quer. Mas, como natalense há 59 anos, penso que ela faria melhor cuidando da limpeza da cidade que nunca esteve mais suja

Renzo Pedrosa de Lima, Cidade Satélite

Os bandidos estão cada vez mais ousados. Eu me lembro que já assaltaram deputados, delegados de policia, gente que estaria “protegida”, mas o fato é que não há mais ninguém em segurança aqui no Rio Grande do Norte, onde os governos tem ignorado essa demanda.O assalto a Monte Alegre, nas “barbas” de Natal – a capital do RN – prova que não há mais limites: os assaltantes fugiram com equipamentos dos próprios policiais...É muita bandidagem comendo solta. Precisamos, no governo do estado, de alguém que seja capaz de enfrentar o crime organizado e de oferecer ao cidadão, senão a tranqüilidade que ele almeja uma pausa nessa situação que tira o sono dos potiguares. Carlos Cunha, Petrópolis

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NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

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0,01%

/ DESENVOLVIMENTO / ZONA DE PROCESSAMENTO DE EXPORTAÇÃO DE ASSU, A ZPE DO SERTÃO, ESTÁ PRESTES A SAIR DO PAPEL

PARA O MUNDO LOUISE AGUIAR

DO NOVO JORNAL

O RIO GRANDE do Norte deu o pri-

meiro passo para viabilizar as Zonas de Processamento de Exportação esta semana. A Prefeitura de Assu publicou no Diário Oficial desta terça-feira que o edital para a concorrência que definirá o administrador da ZPE estará disponível aos interessados a partir do dia 28. No entanto, a Prefeitura ainda aguarda parecer do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para definir qual será o modelo de gestão da área, se concessão ou licitação. Em se tratando de ZPE no Brasil, nunca houve licitação, mas o prefeito de Assu, Ivan Lopes Júnior, defende a modalidade de concorrência. “Preferíamos fazer licitação por uma questão de segurança, mas até hoje nunca foi feito por-

que todos estão sendo por concessão. Questionamos o Tribunal de Contas da União a respeito disso e eles não souberam nos dizer o que fazer, porque tudo em ZPE é muito novo. Aguardamos agora a posição do Ministério para então decidir como iremos proceder”, explica o gestor. Se o modelo escolhido for o de concessão, o prazo final para publicação do edital será 9 de setembro. Caso seja escolhido o processo licitatório, o prazo se estende até 5 de outubro. A concessão é a delegação sob contrato, à iniciativa privada, da administração de um serviço por um determinado período e sob condições controladas pelo poder público, incluindo qualidade do serviço e tarifas. Já na licitação a administração pública convoca empresas interessadas e é declarado vencedor do processo quem oferecer mais vantagens

ao Governo. Segundo Ivan Júnior, a licitação só se explicaria se houvesse muitas empresas interessadas em gerir a ZPE, o que não acontece devido às inúmeras especificações técnicas necessárias para ocupar o posto. Mas por medida de segurança – exatamente pela legislação ser recente – o município optou pelo processo. A expectativa é que até a próxima semana o Ministério de Desenvolvimento termine a análise dos documentos e aponte qual modelo de administração será adotado pelo município. Independente do módulo escolhido, até o final de outubro a empresa administradora estará definida. A partir daí, terá 90 dias para apresentar o projeto de alfandegamento à Receita Federal.

CONTINUA NA PÁGINA 8 ▶

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Fruticultura será incentivada com funcionamento da ZPE

REPRODUÇÃO / INTERNET


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▶ ECONOMIA ◀

/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010

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IMPLANTAÇÃO DA ZPE CUSTA R$ 17 MILHÕES REPRODUÇÃO / INTERNET

De acordo com as estimativas da Prefeitura de Assu, a empresa vencedora deverá apresentar o projeto entre dezembro e janeiro. A Receita terá que homologar a proposta para que as empresas finalmente se instalem. Depois de aprovado, o Governo tem até 21 meses para colocar a ZPE em funcionamento. Negócios na área de mineração, fruticultura e eletrônicos deverão integrar a área de mil hectares correspondente à zona alfandegária de Assu. Entretanto, a etapa que concerne à Receita Federal pode demorar. De acordo com Ivan Júnior, o órgão tem especificações rigorosas com relação à entrada e saída de produtos nas zonas de livre comércio. “Será uma área com muitas exigências para que não haja vazamento de mercadorias sem fiscalização”, justifica. Para participar do certame, as empresas devem ter experiência comprovada na área de gestão e comércio exterior. Segundo o prefeito de Assu, os participantes terão que comprovar knowhow em articulação nacional e internacional e gerenciamento de pólos industriais com política

de funcionamento parecida com a ZPE – como é o caso da Zona Franca de Manaus, por exemplo. “Essa empresa terá que se articular para atrair investimentos para a região alfandegária”, define. Estima-se que somente no estágio de implantação da ZPE sejam necessários investimentos da ordem de R$ 17 milhões. Para o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Francisco de Paula Segundo, tanto a licitação quanto a concessão são boas para o Estado. Independente do modelo que seja escolhido, o importante é que a ZPE seja tocada pela iniciativa privada. “A ideia do Governo é diminuir as distâncias, mas deixar o gerenciamento para a iniciativa privada. Em ambas as opções isso vai ocorrer”, disse. Depois da sanção presidencial autorizando a criação das áreas, a etapa a partir de agora é a mais difícil segundo o secretário. “O processo agora é muito maior. A ZPE precisa de certificações e licenças ambientais, além da habilitação da Receita Federal que permite ser uma área alfandegária. Agora é a parte mais difícil”, define. NEY DOUGLAS / NJ

COMO FUNCIONA A ZPE

As Zonas de Processamento de Exportação - ZPEs são distritos industriais incentivados, onde as empresas neles localizadas operam com suspensão de impostos, liberdade cambial (não são obrigadas a converter em reais as divisas obtidas nas exportações) e procedimentos administrativos simplificados com a condição de destinarem pelo menos 80% de sua produção ao mercado externo. A parcela de até 20% da produção vendida no mercado doméstico paga integralmente os impostos normalmente cobrados sobre as importações.

▶ Ivan Júnior, prefeito de Assu

Objetivos:

PROJETO VITAMINA DA ECONOMIA POTIGUAR As duas Zonas de Processamento de Exportação prometem mudar a economia norterio-grandense. As empresas que se instalarem nas áreas alfandegárias poderão exportar até 80% da produção livres de impostos federais e estaduais. A expectativa do Governo do Estado é que 100 empresas estejam atuando

nas ZPEs de Macaíba e Assu nos próximos dois anos. O prefeito de Assu diz que embora não possa falar quais empresas estão interessadas em se instalar na ZPE, vários investidores na área de minério de ferro já procuraram o Governo em busca de informações. “Algumas estão em estágio

SENADORA PREVÊ IMPACTO EM TODO O ESTADO A criação de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) no município de Assu originou-se de um Projeto de Lei do Senado(PLS) apresentado pela senadora Rosalba Ciarlini, no Congresso Nacional, em novembro de 2007. Nos três anos entre a apresentação da proposta de sua autoria e a assinatura de Decreto pelo presidente Lula, agora em 2010, foram realizados estudos e levantamentos para comprovar a viabilidade econômica de implantação da chamada ZPE do Sertão.

Segundo Rosalba, a implantação da ZPE terá impacto não somente na região Oeste, mas também no Seridó, beneficiando a produção e comercialização de sal, barrilha, granito e outros minerais, além de produtos agropecuários. A senadora cita ainda o artesanato, a apicultura e a caprinocultura como atividades com potencial de crescimento que receberão incentivos através da ZPE. Antes mesmo de o projeto ser aprovado, Rosalba Ciarlini já informava que empresas es-

avançado de negociação”, destaca Júnior. Até pela região onde está localizada, a ZPE do Vale do Açu deverá receber indústrias pesadas como minério, fruticultura, sal e eletroeletrônicos. Já em Macaíba, por estar mais próximo ao aeroporto de São Gonçalo do Amarante, Segundo de Paula diz que produtos de maior valor agregado – entre eles informática e tecnologia em neurociência – serão exportados pela ZPE.

As ZPEs (ou mecanismos similares) são o instrumento mais utilizado no mundo para promover, simultaneamente, os seguintes objetivos: ▶ - Atrair investimentos estrangeiros voltados para as exportações; ▶ - Colocar as empresas nacionais em igualdade de condições com seus concorrentes localizados em outros países, que dispõem de mecanismos semelhantes;

▶ - Criar empregos; ▶ - Aumentar o valor agregado das exportações e fortalecer o balanço de pagamentos; ▶ - Difundir novas tecnologias e práticas mais modernas de gestão; ▶ - Corrigir desequilíbrios regionais.

Incentivos: As empresas instaladas nas ZPEs gozarão dos seguintes incentivos na esfera federal (Lei 11.508/2007, com as alterações introduzidas pela Lei 11.732/2008): ▶ - Suspensão de impostos e contribuições federais (Imposto de Importação, IPI, PIS, COFINS, PIS-Importação e COFINSImportação e Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante). Quando se tratar de bens de capital, o incentivo vale tanto para bens novos como usados; ▶ - As empresas poderão destinar o correspondente a até 20% do valor da receita bruta resultante da venda de bens e serviços para o mercado interno. Sobre estas vendas incidirão, integralmente, todos os impostos

e contribuições normais sobre a operação e mais os impostos/ contribuições suspensos quando da importação e aquisição de insumos no mercado interno; ▶ - As empresas implantadas em ZPE localizada nas áreas da SUDAM ou da SUDENE terão direito à redução de 75% do Imposto de Renda pelo prazo de 10 anos; ▶ - As empresas terão “liberdade cambial” (poderão manter no exterior 100% das divisas obtidas nas suas exportações); ▶ - Os tratamentos fiscal, cambial e administrativo resumidos acima serão assegurados pelo prazo de até 20 anos; e ▶ - As empresas em ZPE poderão se beneficiar ainda da isenção do ICMS nas importações e nas compras no mercado interno. O Convênio ICMS 99/1988 do CONFAZ, autoriza a isenção do ICMS nas saídas destinadas aos estabelecimentos localizados em ZPEs; na entrada de mercadorias de bens importados do exterior; e na prestação do serviço de transporte de mercadorias ou bens entre as ZPEs e os locais de embarque / desembarque.

WALLACE ARAÚJO / NJ

tavam sendo contatadas para se instalarem na zona de processamento, na época já desapropriada, no início de 2009. “Isso é muito importante para gerar emprego e renda para a população do Rio Grande do Norte”, diz ela. No dia 8 de dezembro de 2009, o Conselho Nacional das Zonas de Processamento para Exportação aprovou a criação da ZPE do Sertão. A atração de investidores, dando conta que grupos econômicos já preparavam projetos de instalação de empresas na ZPE, foi um forte argumento para que Rosalba conseguisse aprovar a proposta. Agora, a senadora aguarda que seja definido o cronograma de ações conjuntas

PARA UMA REGIÃO QUE VEM SENDO ARRASADA PELAS ENCHENTES, A INSTALAÇÃO DA ZPE É UM GRANDE INCENTIVO PARA A REESTRUTURAÇÃO para agilizar a instalação do projeto. “Para uma região que vem sendo arrasada pelas enchentes,

a instalação da ZPE é um grande incentivo para a reestruturação da economia”, afirma.

DA ECONOMIA” Rosalba Ciarlini Senadora


Cidades

Editor Moura Neto

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NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

UERN,

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/ EDUCAÇÃO/ ENQUANTO O ENSINO MÉDIO PRECISA DE INVESTIMENTOS URGENTES, O ORÇAMENTO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL TRIPLICA NOS ÚLTIMOS SEIS ANOS

O ÚLTIMO GRAU DA REDE PÚBLICA MAGNUS NASCIMENTO / NJ

MARCELO LIMA

DO NOVO JORNAL

A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA prevê que

os estados invistam prioritariamente no ensino médio, enquanto os outros níveis de educação devem ficar sob a responsabilidade dos municípios e da União. Estados ricos como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, porém, aplicam recursos no ensino de terceiro grau, mantendo às vezes mais de uma universidade na rede pública. Apesar de pequeno e pobre, o Rio Grande do Norte não fica atrás. A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) tem previsto no seu orçamento deste ano R$ 149.380 milhões, enquanto o ensino médio se ressente de investimentos urgentes para suprir suas deficiências. Mesmo dispondo de vultosos recursos, oriundos do governos estadual e federal, a instituição não está situada entre as melhores do RN, segundo levantamento do Ministério da Educação. Para quem defende o ensino superior estadual, como o reitor da UERN Milton Marques, o argumento é o de que “uma vez criada a universidade, o estado tem a obrigação de mantê-la”. Nos últimos anos, no entanto, a universidade não só se manteve como também se expandiu. Para ter uma ideia, em 2004 o orçamento da instituição era de R$ 45.481 milhões. Em seis anos, o valor mais que triplicou, chegando a quase

R$ 150 milhões. Nas contas do ex-secretário de Planejamento e candidato a vicegovernador, Vágner Araújo, o orçamento da universidade estadual cresceu 205% nos anos do governo Wilma de Faria, segundo divulgou durante encontro recente com docentes da universidade. De acordo com o reitor, do governo Sarney até os primeiros quatro anos de governo Lula, a União praticamente não investiu na rede de universidades federais. No entanto, nos últimos quatro anos o governo federal voltou a investir fortemente na educação superior com o Programa de Reestrutução e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e criação de novas instituições. “A grande meta da universidade era estar presente em todas as regiões do estado e hoje já conseguimos”, comentou Milton Marques. Atualmente a UERN possui Campus Central em Mossoró e Campi Avançados em Assu, Patu, Pau dos Ferros e Natal, além de núcleos instalados em outras 11 cidades do interior. Para 2011, há planos de instalar um núcleo na cidade de São José de Mipibu. Além disso, no Campus Natal existe a previsão de criar mais dois cursos de engenharias na área de tecnologia da informação e o curso de mídia e arte.

QUALIDADE

O investimento do governo estadual, porém, não tem garanti-

AVALIAÇÃO DO MEC ÍNDICE GERAL DE CURSOS (IGC)

1º UFRN IGC contínuo 333 Faixa 4

2º IFRN IGC contínuo 265 Faixa 3

3º FARN IGC contínuo 263 Faixa 3

4º UNP IGC contínuo 249 Faixa 3

▶ Universidade Estadual do Rio Grande do Norte: na escala 3, segundo o Índice Geral de Cursos (IGC), indicador do MEC

5º UERN IGC contínuo 246 Faixa 3

do que a UERN se destaque como uma das melhores instituições de ensino superior do Rio Grande do Norte. Pelo menos é o que revela resultado do mais recente do Índice Geral de Cursos (IGC), divulgado em 2008. O IGC é um indicador utilizado pelo Ministério da Educação (MEC) para avaliar todos os aspectos de instituições de ensino superior no país, da graduação a pós-graduação. Numa escala de 0 a 500, a UERN conseguiu chegar aos 246 pontos. Dentre cinco faixas de pontuação, a universidade está na faixa 3. Abaixo desse nível, o MEC

considera o resultado insatisfatório. A Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte (Farn), instituição privada, obteve 263 pontos e também está na faixa 3. A Universidade Potiguar (Unp), que também é privada, chegou aos 249 pontos situando-se na mesma faixa. Os cursos superiores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) também ficaram à frente da UERN. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) está na faixa 4 de pontuação, acima das demais institui-

ções. A divulgação desse resultado, em 2008, corresponde ao triênio que inclui os anos de 2006 e 2007. “Quando foi feita essa avaliação, não incluiu a pós-graduação Strictu-Sensu [mestrado e doutorado]”, justificou o reitor. Segundo Milton Marques, os mestrados em Física, Ciências da Computação e Letras foram criados em 2008. Apesar da tímida entre as instituições locais de ensino superior, segundo o reitor, a UERN conquistou a segunda colocação entre as universidades estaduais do Nordeste, ficando atrás apenas da Universidade de Pernambuco (UPE).

REPRODUÇÃO / INTERNET

ARGEMIRO LIMA / NJ

NEY DOUGLAS / NJ

FONTE: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (MEC/INEP).

NÚMEROS

14 6 11 52 1.020

mil alunos

Campi Avançados

Núcleos

grupos de pesquisa

PROFESSOR CRITICA A ESTRUTURA DOS NÚCLEOS Na estrutura administrativa da UERN, os Campi Avançados – localizados em Natal, Assu, Pau dos Ferros e Patu - são semelhantes ao Campus Central. Os núcleos, porém, são organizados de maneira diferenciada e contam com apoio das prefeituras que desejam receber a instituição estadual. Basicamente, a universidade participa da parceria fornecendo professores e equipamentos. O Município banca a estrutura para a instalação dos cursos. O professor do curso de Ciências da Computação Leandro Rodrigues, 27, leciona disciplinas nos núcleos de Santa Cruz e Nova Cruz e no Campus de Natal. “Aqui em Natal a estrutura é ótima, os computadores são modernos, a internet é rápida”, disse. Contudo, nos núcleos do interior a situação é bem diferente. “As máquinas são muito antigas e a internet praticamente não anda”, comentou. Em Nova Cruz, o núcleo funciona no mesmo terreno de uma escola municipal; e em Santa Cruz ao lado de uma creche. Leandro é professor substituto há dois semestres da UERN

e pretende ingressar num curso de pós-graduação da sua área de conhecimento na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). De acordo com o reitor da universidade estadual, a instituição possui muitos professores substitutos em razão do modelo de funcionamento dos núcleos. “Depois que um curso permanece quatro ou cinco anos naquele local, o curso é remanejado para outra cidade, porque se entende que o município está provido daquele profissional”, explicou Milton Marques. Para os Campi Avançados, foram contratados 127 professores efetivos. O professor substituto nem sempre substitui, de fato, um professor efetivo. A situação ideal é abrir concurso para um substituto quando um professor efetivo vai cursar mestrado ou doutorado, por exemplo, e pede licença. Mas tornou-se mal hábito das universidades contratar temporariamente substitutos pelo simples fato de não ter capacidade financeira para bancar um professor efetivo.

HISTÓRIA A instituição que hoje é conhecida como Universidade do Estado do Rio Grande do Norte existe desde 1968, quando foi criada pela Prefeitura de Mossoró. Só em 1987, o governador Radir Pereira incorporou a universidade ao Estado. Nesse período, a então Universidade

Regional do Rio Grande do Norte (URRN) já contava com os Campi Avançados de Assu, Patu e Pau dos Ferros, além do Campus Central em Mossoró. Foi em 1999 que a instituição ganhou o nome atual de Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

professores (efetivos e substitutos)

36 3

cursos de graduação

cursos de mestrado

ORÇAMENTO

▶ Milton Marques, reitor: “Estado tem ▶ Leandro Rodrigues, professor: “Nos ▶ Eleika Bezerra, do IDE: “Os estados

a obrigação de manter UERN”

núcleos a situação é diferente”

não assumem nem educação básica”

ESPECIALISTA DIZ QUE PRIORIDADE DEVERIA SER O ENSINO MÉDIO

dade se dispõe a defender a educação básica. “Quem é que vai lutar por Severino, Jéssica e Maria, se boa parte da nossa população é semi-analfabeta”, acrescentou. Eleika Bezerra ressalta, contudo, que não defende que a universidade estadual seja simplesmente abandonada. Na sua opinião, ela deveria ser federalizada e passar para o comando do governo federal. Em meio às duas décadas de paralisia de investimento no ensino superior por parte do governo federal, a Lei 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em 1996, estabeleceu no artigo 10, inciso 6º, que uma das responsabilidades dos estados é “assegurar ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio”. A lei passou a valer, mas os governos estaduais continuaram a investir no ensino superior, ou por desconhecerem a LDB ou por fingir não conhecê-la. Atualmente existem 46 universidades estaduais espalhadas pelo Brasil. O reitor da UERN defende que os baixos índices de qualidade na

rede estadual de educação básica não se deve à falta de investimento nesse nível, em favorecimento do ensino superior. “O que está necessitando é a captação de recursos do governo federal para projetos. Nós também tivemos, nos últimos anos, a média de um secretário de Educação por ano e isso contribui para o resultado”, observou. O secretário estadual de Educação, Otávio Tavares, também não enxerga problema no fato de o governo investir também no ensino superior. “A grande questão da educação básica é utilizar os recursos de maneira adequada”. Ele também entende que a lei não proíbe o investimento no ensino superior, apenas elege uma prioridade. “A responsabilidade [dos estados] maior é com a educação básica”, opinou. Otávio Tavares também lembrou que a lei da educação nacional prega a colaboração entre os entes federados. Embora a universidade esteja vinculada a pasta da Educação, a UERN tem autonomia financeira. Isso significa que possui orçamento independente.

Uma das coordenadoras da ONG Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), professora Eleika Bezerra não acredita que os estados sejam capazes de priorizar os dois níveis de ensino – médio e superior - e consiga ao mesmo tempo oferecer um serviço de qualidade. “Algum estado do Nordeste vai conseguir assumir o que não é de sua responsabilidade, se não consegue assumir a educação básica adequadamente?”, lançou o questionamento. Para ela, o governo cedeu à pressão popular que enxergava somente na educação superior a necessidade de uma efetiva mudança de vida. “Acho que a pressão por parte da população pelo ensino superior é legítima, porque as pessoas querem chegar lá”, disse. Por outro lado, uma minoria da socie-

2010

▶ SEEC R$ 1.009.330.000 ▶ UERN R$ 149.380.000 2009

▶ SEEC R$ 976.024.000 ▶ UERN R$ 121.238.000 2008

▶ SEEC R$ 805.217.00 ▶ UERN R$ 117.148.000 2007

▶ SEEC R$ 784.073.00 ▶ UERN R$ 100.825.000 2005

▶ SEEC R$ 478.142.000 ▶ UERN R$ 51.908.000 2004

▶ SEEC R$ 454.418.000 ▶ UERN R$ 45.481.000 OBS.: TANTO A SEEC QUANTO A UERN CONTAM COM PROJETOS DO GOVERNO FEDERAL.


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▶ CIDADES ◀

/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010

FOTOS: HUMBERTO SALES / NJ

A PRAÇA É DO POVO, QUE RECLAMA DO

ABANDONO

▶ Praça São Camilo de Lellis, em Lagoa Nova

/ URBANIZAÇÃO / LOGRADOUROS PÚBLICOS DE NATAL PRECISAM DE MANUTENÇÃO REGULAR E INVESTIMENTO EM PAISAGISMO E ILUMINAÇÃO: RELATÓRIO DA SEMSUR APONTA OS PROBLEMAS HUGO FRANÇA

DO NOVO JORNAL

livre de edificações, que favorecem a convivência ou recreação para os usuários, as praças de Natal, em bom número, não correspondem a esse conceito. Falta investimento na manutenção desse importante equipamento que, largado à ação do tempo, acaba se deteriorando. Na tentativa de mudar essa realidade, a Prefeitura de Natal elaborou, ainda no ano passado, um diagnóstico do patrimônio público sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur). O relatório, que contém quase 400 páginas, lista os problemas de todas as praças – além dos das feiras permanentes, mercados e cemitérios – com o objetivo de facilitar o planejamento da recuperação desses bens públicos, o que não foi feito até agora. Deficiências nas áreas de paisagismo, iluminação, identificação, limpeza e manutenção, relacionadas no próprio relatório da Semsur, estão atribuídas a um bom número de praças, como a de São Camilo de Lellis, que há 35 anos está localizada entre as Ruas Grossos e Lucrécia, no bairro de Lagoa Nova, Zona Sul. Segundo os moradores da região, há dois anos foi realizada uma reforma na praça, mas no começo desse ano parte dos bancos, itens contemplados na reforma, foi atingida por ferrugem. Sem reparos, poucos assentos estão apropriados para uso – alguns, inclusive, estão sustentados por tijolos colocados pelos moradores da região. “Fiz um pedido à Prefeitura para que os bancos fossem restaurados, mas eles responderam que não havia recursos disponíveis”, conta Williams Gomes, presidente do Conselho Comunitário do bairro. Segundo ele, se os bancos não forem trocados nos próximos dois meses, ficarão completamente imprestáveis. “Se não fosse pela comunidade, a praça já tinha se acabado”, ressalta. A situação precária da área de lazer vai além do problema com os bancos. A calçada apresenta rachaduras e buracos; e não há qualquer tipo de manutenção. “Aqui quem varre a praça e planta as árvores são os moradores, cada um escolhe um cantinho mais próximo da sua residência”, diz Gomes. No bairro da Candelária, Zona Sul, a Praça Matriz, localizada entre as Ruas Bento Gonçalves e Marechal Rondon, ao lado da Paróquia do bairro, está em situação ainda mais complicada. O próprio relatório da Semsur reconhece que a área pública está com a calçada danificada; sem acessibilidade; não há equipamentos públicos; presença de comércio no local; bastante lixo; sem manutenção na iluminação; e sem manutenção em geral.

ESPAÇO PÚBLICO URBANO,

NINGUÉM OLHA PARA CÁ, TEMOS UMA PISTA DE UM ESPORTE OLÍMPICO, UM VERDADEIRO CENTRO DE TREINAMENTO QUE ESTÁ CAINDO AOS PEDAÇOS” Fábio Plínio Atleta

▶ Jorge Luiz de Sousa: “Roubaram a placa e a Prefeitura não recolocou”

ATÉ RESTOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL SÃO JOGADOS NA ÁREA E, O PIOR, SÃO OS MORADORES QUE COLOCAM ESSE TIPO DE LIXO POR AQUI” Heroaldo Fulco Aposentado

SEM PLACA

▶ Willians Gomes: “Se não fosse a comunidade, a praça já tinha se acabado”

Segundo Jorge Luiz de Souza, proprietário de uma banca na região, o nome da praça já foi até esquecido pelos moradores. “Há muito tempo roubaram a placa e a Prefeitura não recolocou”, conta. De acordo com ele, a vegetação presente na praça só persiste no local por causa da ação das

chuvas e da boa vontade de alguns moradores. O aposentado Heroaldo Fulco, 67, garante que plantou 80% dos cajueiros da praça. “Eu nem considero isso aqui uma praça, mas sim um pequeno espaço verde”, conta. Ele ainda destaca a presença de lixo no local. “Há tanto que muitas vezes os ratos entram nas casas, eu mesmo já sofri muito com isso”. Além da falta de acessibilidade, crescimento desordenado da vegetação, falta de iluminação em alguns pontos e o lixo, Fulco ressalta ainda que os próprios moradores contribuem com a deterioração da praça. “Aqui ninguém respeita ninguém, até restos de construção civil são jogados na área e, o pior, são os moradores das redondezas que colocam esse tipo de lixo por aqui”, diz indignado. No bairro de Ponta Negra, uma praça voltada para a prática de esportes se encontra nesta mesma triste realidade. A Praça do Bicicross, localizada nas ruas Praia Ponta do Mel com a Praia de Areia Branca, aparece no relatório da Semsur com os seguintes problemas listados: calçada danificada; sem acessibilidade; sem iluminação; sem placa de identificação; sem ponto d’água; e sem manutenção. Quase um ano depois do diagnóstico da Semsur, sem as providências requisitadas, a situação só fez piorar. Os bancos estão deteriorados, o lodo toma conta deles. A vegetação cresce de forma desordenada e invade a área tomada por depressões e rachaduras. A pista de bicicross só sobrevive pela ajuda de atletas como Fábio Plínio, 29 “Ninguém olha para cá, temos uma pista de um esporte olímpico, um verdadeiro centro de treinamento que está caindo aos pedaços”, disse indignado. Segundo ele, como todos os atletas trabalham, a pista só pode ser utilizada à noite. “O problema é a falta de iluminação e muitas vezes acabamos treinando no escuro”, conta. De acordo com ele, já houve tempos em que a pista ficou totalmente sem iluminação por até 20 dias. “Pedimos ajuda pra Prefeitura, mas eles nunca nos atendem. Não queremos dinheiro, queremos apenas a manutenção do local”, aponta. No bairro de Areia Preta, Zona Leste, na Avenida Governador Silvio Pedrosa, a Praça Sérgio Dieb já não é mais nem utilizada por populares que moram na região. A criminalidade nos arredores é tamanha que os donos de comércios próximos aconselham seus clientes a não visitem a praça. “As pessoas vêm comer aqui e às vezes querem ir apreciar a vista da praia, mas sempre desencorajamos eles”, conta Márcia Medeiros, operadora de caixa do Farol Bar, restaurante localizado em frente à praça. A criminalidade é tamanha que a placa de bronze, que continha o nome da praça, foi roubada. Os bancos de madeira estão jogados na grama, com pedaços de pregos e farpas à mostra, trazendo perigo as pessoas que transitam por ela. Esse quadro, por sinal, já tinha sido pintado no relatório municipal: calçada danificada; sem manutenção; sem acessibilidade; sem placa de identificação; sem paisagismo; e bancos danificados.

▶ Praça em Areia Preta, em frente ao Farol Bar

▶ Praça do Bicicross, no Conjunto Ponta Negra

▶ Praça de Candelária, na Av. Marechal Rondon

ENTRE OS TRÊS PODERES, A MESMA SITUAÇÃO Localizada em meio ao Palácio José Augusto, sede da Assembléia Legislativa, a Pinacoteca do Estado e a sede do Tribunal de Justiça, está a Praça Sete de Setembro, no bairro de Cidade Alta, Zona Leste . Apesar da localização nobre, a situação do local não é diferente das outras localidades. A calçada está destruída pela ação do tempo e pelas raízes das árvores que quebram o pavimento. Os bancos estão quebrados e até a acessibilidade da praça está comprometida. Segundo Erivaldo Teixeira, responsável pela jardinagem do local, a situação é de puro abandono. “Só não está pior porque todos os dias eu venho cuidar da praça”, disse o funcionário da Semsur. Segundo ele, No relatório da Semsur os problemas da praça são apontados como: sem placa de identificação; sem manutenção; calçada danificada; e acessibilidade danificada.

PANATIS

Na Zona Norte, o espaço cultural Francisco das Chagas Bezerra de Araújo, conhecido popularmente como Área de Lazer do Panatis, virou ponto utilizado por traficantes da

região. Segundo o mecânico Ismael Barbosa, 23, os criminosos tomam conta do local à noite, oferecendo risco para os que utilizam o complexo. “Como a iluminação não funciona direito, eles aproveitam da escuridão para fazer o que querem: assaltam, vendem drogas e ninguém faz nada”, conta. Além da falta de iluminação e de segurança, outros itens problemáticos, encontrados em outras praças pela reportagem do NOVO JORNAL, também são comuns ao centro de lazer da Zona Norte. A calçada está danificada; parte dos bancos está quebrada e até itens que deveriam ser utilizados para o lazer pessoal, como brinquedos e quadras poliesportivas, já foram tomados pela ferrugem. No lado oeste da praça, moradores ergueram, com verba própria, rampas de bicicross. O estudante Joel Nunes, de 19 anos, que costuma utilizar a pista, disse que já está cansado de ser assaltado. “Eu vinha aqui várias vezes por semana para andar de bicicleta, mas cansei de ser assaltado; só venho aqui se for de grupo, assim poderemos reagir aos assaltos”, conta. No relatório da Semsur, a situação relatada é a mesma que foi identificada pela reportagem: bancos quebrados; playground danificado; quadra danificada; calçada danificada; sem acessibilidade; e sem manutenção.


▶ CIDADES ◀

NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

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LEGADO E HERANÇA DAS

TRADIÇÕES POTIGUARES / DIA DO FOLCLORE / MESMO COM A CARÊNCIA DE INCENTIVOS, AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS GANHAM HERDEIROS NAS NOVAS GERAÇÕES MAGNUS NASCIMENTO / NJ

DÉBORA SOUSA

DO NOVO JORNAL

EU TENHO O

DEPOIS DE ASSISTIR a uma apresen-

tação do grupo de danças Bumba Meu Boi, na cidade de São Gonçalo do Amarante, em 1970, Deífilo Gurgel, um dos maiores folcloristas do Rio Grande do Norte, deslumbrou-se pelo mundaréu de fitas coloridas a girar e pela pouca luz dos postes que refletia nos espelhos das coroas e peitorais dos galantes. Era o começo de uma paixão que ele cultiva até o tempo presente, aos 84 anos. Entretanto, o cenário folclórico atual distingue-se daquele de 40 anos atrás, provocando uma série de reflexões com o Dia do Folclore, comemorado hoje, 22 de agosto. Seguindo a ordem natural das coisas, muitos dos mestres da cultura popular partiram, deixando para o estado um legado de artes e tradições que vivem hoje através daqueles que - apesar da carência de incentivo - se dispõem a levá-lo adiante. Gurgel menciona o artesão Chico Santeiro e o mamulengueiro Chico Daniel como alguns dos grandes nomes do folclore potiguar cuja arte teve continuidade através dos filhos. O embolador de cocos e protegido de Mário de Andrade, Chico Antônio; o capitão de mar e guerra e coordenador do grupo Fandango, Antônio Lima; e o mestre dos Congos de São Gonçalo do Amarante, João Menino, são citados por Gurgel como alguns dos que não deixaram sucessores entre familiares. “Quando estes nobres intérpretes morrem e não existe quem perpetue o trabalho deles, sem dúvida

SONHO DE CONSTRUIR UMA VILA, ONDE ESSAS FAMÍLIAS MORARIAM E TERIAM CONDIÇÕES DIGNAS E NECESSÁRIAS PARA CONTINUAR PRODUZINDO” Deífilo Gurgel Folclorista

abre uma lacuna na cultura do estado. O mamulengueiro Zé Relampo, por exemplo, foi outro que era excelente, e apesar de ter tido vários filhos, nenhum quis continuar o trabalho feito pelo pai. É lamentável que um nome como o dele seja perdido com o tempo”, disse. Natural do município de Areia Branca, formado pela Faculdade de Direito de Natal em 1967, Gurgel preferiu dedicar-se exclusivamente à cultura, fazendo poesias e escrevendo livros sobre as pesquisas que realizou sobre folclore. Por causa de uma de suas maiores obras, ‘Romanceiro Potiguar’, cuja busca de dados durou 10 anos, viajou por todo o Rio Grande do Norte.

Foi também descobridor de grandes figuras representativas da cultura popular enquanto ocupava os cargos de diretor cultural da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Natal, diretor de Promoções Culturais da Fundação José Augusto, presidente da Comissão Norte-Rio-Grandense de Folclore e professor de Folclore Brasileiro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) durante 12 anos.

IDENTIDADE

Segundo o pesquisador, em um mundo cada vez mais globalizado, a construção da própria identidade exige um esforço cada

vez maior devido à escassez de incentivo à cultura da terra, fazendo com que a população não tenha conhecimento da própria história. Ele diz que é preciso que haja uma reestruturação dentro dos espetáculos de folclores. “As cantigas são muito longas e as pessoas não têm mais tempo nem saco pra isso”, diz. Ele também fala que deveria haver um resguardo com esses artistas e com os seus descendentes para que eles tenham consciência da importância do trabalho que desenvolvem para a cultura do Brasil. “Eu tenho o sonho de construir uma vila, onde essas famílias morariam e teriam condições dignas

e necessárias para continuar produzindo. Além disso, o lugar seria também uma espécie de parceria entre o folclore e o turismo, oferecendo ao público feiras de artesanato, restaurante de comidas típicas, apresentação de espetáculos, dentre outras atrações”, explica. Gurgel afirma que a riqueza e diversidade da cena folclórica do RN são indiscutíveis, porém, ele ressalta que, para a fomentação da mesma, essas pessoas precisam de assistência. Segundo o folclorista, o que falta é apenas iniciativa das autoridades, ainda bastante negligentes com a cultura popular do estado. Falecida há pouco mais de

dois meses, Dona Militana, a maior romanceira do Brasil, foi uma das grandes personalidades descobertas por Deífilo Gurgel em São Gonçalo do Amarante, em 1991, durante a pesquisa do livro ‘Romanceiro Potiguar’. Ele acredita que, pelo menos até o momento em que Dona Militana morreu, não existiu no Brasil alguém que chegasse aos pés dela. “Eu cheguei a gravar 33 romances com Dona Militana, e nunca vi nada igual. Ela sabia demais do Romanceiro. E foi reconhecida por isso quando recebeu, pelas mãos do presidente Lula, o prêmio de Comenda do Mérito Cultural Brasileiro em 2005”, falou.

WALLACE ARAÚJO / NJ

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“TUDO QUE SEI HOJE APRENDI COM ELE”

▶ Lídia do Nascimento, neta e sucessora da romanceira Dona Militana

“QUERO QUE SAIBAM QUEM FOI MINHA AVÓ” Lídia do Nascimento, neta de Dona Militana, declara que pretende seguir os passos da avó, juntamente com o irmão Rafael, 13. Claramente comovida, ela diz que seu maior sonho é poder levar adiante a arte da avó. “Eu quero que as pessoas saibam quem foi a minha avó”, disse. Aos 25 anos, a mãe de Cícero, 8, Paulo Sérgio, 6, Maria Militana, 3, e Ellen Elizabeth de apenas um ano, pensa em voltar ao colégio para concluir o ensino médio – que foi obrigada a interromper devido a um problema de saúde de um dos filhos. Além de continuar o trabalho de Dona Militana, ela fala que pretende ainda, no futuro, estudar enfermagem e direito. “Se Deus me ajudar, ainda vou conseguir tudo isso”, diz esperançosa. Lídia revela que passou boa parte da vida ao lado da avó, e na companhia dela viajou pelo Brasil inteiro. “Tenho tantas boas lembranças dessas viagens”, confessa. Segundo a neta de Dona Militana, os moradores de São Gonçalo não fazem idéia da importância que a avó tem para a cultura brasileira. “Geralmente as pessoas de fora são

as que mais reconhecem”, observa, ao lembrar de um episódio em que Dona Militana, por ser analfabeta, foi motivo de risos de um grupo de alunos, durante uma apresentação que fez numa instituição local. “Eu cheguei pra eles e disse: ‘Tenho certeza que a mãe de vocês deve saber ler e escrever, mas duvido que saibam fazer o que minha avó faz’”, contou emocionada. “Ela sempre batalhou pra criar todos nós, e por isso tenho muito orgulho dela. É motivo suficiente pra defendê-la quando for preciso”, completa. Lídia diz que já sabe cerca de dez romances herdados da avó, e aproveita para cantarolar “Antonino”, um de seus preferidos. No momento, se dedica a aprender o restante deles, um por um. “Infelizmente eu perdi o CD que ela gravou com o professor”, diz referindo-se a Deífilo Gurgel e ao CD Romances e Cantos de Incelências’, que gravou com Dona Militana no final do ano de 1990. Lídia fala que assim que tiver o CD em mãos, ficará mais fácil de dar continuidade ao trabalho da avó.

Na mesma direção que segue a neta de Dona Militana, estão também os três dos dez filhos do famoso mamulengueiro Chico Daniel, natural de Assu. Com a mesma determinação que a moça, Josivan, mamulengueiro, Daniel, ventriloquista, e Antônio, confeccionador de bonecos, estão mais do que dispostos a não deixar que o nome do pai – falecido em março de 2007 - seja esquecido com o tempo. Josivan, mais conhecido como Josivan de ‘Chico Daniel’, conta que começou a trabalhar ao lado do pai aos 15 anos, e hoje, aos 42, ainda continua exercendo a profissão. “Tudo que sei hoje aprendi com ele. Meu pai fazia as apresentações andando de jumento e bicicleta pelo Nordeste inteiro, e foi assim que conseguiu alimentar todos nós. É isso que eu pretendo ensinar aos meus cinco filhos, e é disso que quero viver até o resto dos meus dias”, disse. Desde pequeno, Josivan conta que admirava o pai e a capacidade que ele tinha de fazer as pessoas rirem. “Rapaz, eu sempre achei isso bonito demais, e graças a Deus, eu acho que herdei o dom que ele tinha porque por onde passo as pessoas elogiam o meu trabalho”, acrescenta. O mamulengueiro reclama da falta de espaço para o folclore no estado, a ausência de eventos como o Festival Internacional de Bonecos de Brasília, e afirma que tudo se resume à vontade política. “Eu noto que o espaço encontra-se um pouco melhor de como era antigamente, mas ainda não é o bastante. Basta querer, só isso. Mas lamentavelmente, eles não querem”, falou. No momento, Josivan de Chico Daniel percorre os estados das regiões Norte e Nordeste ao lado do irmão Daniel, com o espetáculo “Teatro de João Redondo de Josivan de Chico Daniel”.

EU NOTO QUE O ESPAÇO ENCONTRA-SE UM POUCO MELHOR DE COMO ERA ANTIGAMENTE, MAS AINDA NÃO É O BASTANTE” Josivan de Chico Daniel Mamulengueiro

▶ Francisco Carlos Araújo, sucessor de Cornélio Campina no grupo Araruna

“SE O MESTRE MORRE, A ARTE NÃO ACABA” Fugindo um pouco à regra, o dançarino Francisco Carlos Araújo, 51, surge como sucessor do grande mestre e fundador da Associação de Danças Antigas e Desaparecidas Araruna, Cornélio Campina, falecido há pouco mais de dois anos. Ao contrário das histórias anteriores, Araújo não é parente de Campina. Foi através de seu pai, Raimundo Araújo, sócio-fundador da entidade, que ele entrou no universo do folclore e desde então não saiu mais. Desde os 12 anos está na associação, sendo presidente da mesma de 2005 a 2007. Hoje, assume o cargo de mestre-diretor do folclore, cargo ocupado anteriormente por Campina, e tenta passar para as três filhas o conhecimento que adquiriu ao longo dos anos. A associação é composta por cerca de 14 pares, homens e mulheres da comunidade, e oferece 15 números de danças como araruna, valsa, camaleão, dentre outras. Araújo revela que, com as apresentações cada vez mais escassas, é constante a luta para manter a entidade ativa e motivada. “Fica difícil porque somos re-

quisitados apenas por universidades e, mesmo assim, só pela questão do conhecimento cultural. São poucas as pessoas que vêem o folclore como um lazer”, diz. Araújo admite ainda que esse negócio de reinventar não está com nada e acredita que deve ser valorizado a beleza natural das coisas, exatamente como foram. “As pessoas falam direto sobre inovar, mas eu não acho que os grupos ou as artes devam mudar. Pra mim não tem lógica, porque, se muda, não é mais tradição”, acrescenta o mestre-diretor. Ele acredita que há talento de sobra para que seja dada continuidade ao folclore genuinamente potiguar, o que falta é iniciativa. “Não é porque o mestre morreu que a arte acabou, isso não existe”, diz. Segundo Araújo, o problema maior não é o capital e, sim, o descaso da população. “Ninguém quer saber mais de onde veio. As pessoas dão cada vez menos valor às raízes, e é justamente isso que mata o folclore, essa desvalorização, essa falta de apoio e estímulo”, completou.


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TURISMO E AVENTURA / AVENTURA / SEBRAE DISCUTE SEGMENTAÇÃO DO SETOR TURÍSTICO E APONTA OPORTUNIDADES QUE INCLUEM SERTÃO E LITORAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ALEXIS PEIXOTO

DO NOVO JORNAL

EMBORA SEJA CONHECIDO

principalmente pelas belezas de seu litoral, o Nordeste brasileiro tem muitas potencialidades turísticas a serem exploradas, tanto por quem é adepto de uma boa praia quanto por quem prefere maneiras diferentes de viajar. De acordo com dados divulgados recentemente pela Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA), aproximadamente 5 milhões de brasileiros procuraram o turismo de aventura no país em 2009, em especial para a região Nordeste. Apostando nas potencialidades do Seridó potiguar e dos passeios de mergulho nas praias do litoral, o Sebrae começa a desenvolver ações para incluir o Rio Grande do Norte no mapa dos destinos mais badalados desse segmento. De acordo com o diretor técnico da ABETA, Patrick Muller, o RN é hoje um dos estados mais promissores na área do turismo de aventura no Brasil. “O RN tem um grande potencial, tanto no litoral com os passeios de mergulho, quanto na região do Seridó, onde podem ser realizadas caminhadas ecológicas e passeios de off-road”, apontou Muller, que participou como palestrante do I Seminário de Estratégias de Acesso ao Mercado e Segmentação Turística do RN, realizado em Natal entre os dias 17 e 18 passados, pelo Sebrae em parceria com a Secretaria Estadual de Turismo (Setur) e a Universidade Potiguar (UnP). De olho no potencial desse segmento para o âmbito turístico potiguar, o Sebrae começa a alinhar alguns projetos que visam colocar o RN na rota dos viajantes e mochileiros do Brasil e do mundo. Uma das ações que mais vem dando resultado é o projeto Roteiro Seridó, desenvolvido pelo Sebrae em parceria com o Governo do Estado, que visa divulgar o potencial turístico do interior do RN, com atuação centrada nos municípios de Caicó, Currais Novos, Carnaúba dos Dantas, Parelhas, Lagoa Nova, Acari, Cerro Corá e Jardim do Seridó. Outra ação que deve ser posta em prática ainda em 2010 é o projeto Turismo de Aventura, que pretende oferecer cursos de capacitação nesse tipo de roteiro para micro e pequenos empresários do setor turístico potiguar. Segundo explica Daniela Tinoco, gestora de projetos do setor de Turismo do Sebrae, a ação seria realizada em parceria com a ABETA, seguindo as normas do programa Aventura Segura, desenvolvido pelo Ministério do Turismo em parceria com as duas entidades, e voltada para o fortalecimento do segmento do turismo de aventura em harmonia com as normas de sustentabilidade e segurança. “O nosso objetivo é levar esses conceitos para os empresários do estado, para que eles possam enxergar o potencial e as riquezas turísticas do Seridó, que tem potencial gastronômico, religioso e cultural”, destaca a gestora. Para Patrick Muller, o aproveitamento do potencial do turismo de aventura no RN está à mão dos empresários, desde que eles se disponham a investir em segurança, sustentabilidade e uma boa gestão administrativa. “O investimento é relativamente baixo e o retorno vem fácil. O importante é que os empresários interessados em explorar a área procurem se informar, e frequentar cursos de capacitação para poder oferecer ao turista o melhor serviço possível”, afirma. Muller também destacou as vantagens econômicas do turismo de aventura. “É um segmento que vem crescendo bastante no país e que traz grandes benefícios, já que não necessita de grandes estruturas turísticas, é uma atividade sustentável do ponto de vista do meio ambiente e, ao apostar em destinos alternativos, ajuda a levar investimentos para o interior do estado”.

▶ Diretor do Sebrae-RN, José Ferreira de Melo Neto; secretário estadual de Turismo, Múcio Sá; e Sâmela Gomes, reitora da UnP

NOVAS TENDÊNCIAS Além dos aspectos do turismo de aventura e do ecoturismo, o I Seminário de Estratégias de Acesso ao Mercado e Segmentação Turística do RN, também abriu espaço para a discussão a respeito de outros segmentos turísticos, como o turismo da terceira idade, turismo GLS, acessibilidade no turismo e turismo rural, além de oferecer uma programação com oficinas e cursos de capacitação para empresários da cadeia turística e estudantes de turismo. Para a gestora de turismo do Sebrae, Daniela Tinoco, a principal contribuição do seminário foi expandir a visão dos participantes para alguns nichos do setor turístico que, ainda pouco conhecidos, tem grande potencial para serem explorados. “Embora alguns segmentos turístico não tenham tanta projeção quanto outros, existem várias tendências que podem ser exploradas pelos empresários. A

nossa ideia, ao propor esse seminário, é incentivar a criação de novos roteiros e novos empreendimentos nessa área”, destacou. Para a coordenadora geral de segmentação do Ministério do Turismo, Mara Flora Lottici Krahl, é importante discutir a segmentação da cadeia turística para que se possa ter uma melhor ideia a respeito dos grupos de consumo da indústria, focalizando nas necessidades dos turistas baseado em dados como idade, classe social, sexo, região de origem ou preferências culturais. “Os estados às vezes sentem dificuldade de se adaptar a determinados segmentos, justamente porque ainda falta uma compreensão mais ampla do que é segmentação. Discussões como esse seminário ajudam esclarecer a importância econômica de pensar no turismo como um leque de vários setores”, explica.

OS ESTADOS ÀS VEZES SENTEM DIFICULDADE DE SE ADAPTAR A DETERMINADOS SEGMENTOS” Mara Flora Krahl Palestrante

PRAIA PARA TODOS Aproveitando as discussões do Seminário de Estratégias de Acesso ao Mercado e Segmentação Turística, diretores da ONG carioca Instituto Novo Ser, que desenvolve ações de cidadania voltadas para pessoas portadoras de necessidades especiais, estiveram em Natal para discutir com o Sebrae a implantação do projeto Praia Para Todos na orla urbana da capital. Desenvolvido pelo Instituto Novo Ser e implantado com sucesso nas praias cariocas da Barra da Tijuca, Copacabana, Ipanema e Piscinão de Ramos, o projeto Praia Para todos propõe a implantação de uma infra-estrutura básica para inclusão de cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção por meio da criação de vagas de estacionamento, rampas de acesso à areia, esteira para passagem de cadeira de rodas, banheiro adaptado, piso táctil para deficientes visuais, entre outras ações. De acordo com o vice-presidente do Instituto Novo Ser, Ricardo Gonzales, a ideia é apresentar o projeto a empresários e gestores públicos que compõem a cadeia produtiva do turismo no RN. “O objetivo do programa não é apenas beneficiar o público portador de necessidades especiais por

meio de uma ação pontual, mas sim criar um movimento contínuo de conscientização”, explica. Para viabilizar a vinda do projeto Praia Para Todos para Natal, o Instituto Novo Ser já conta com o apoio do Sebrae, UnP e Governo do Estado, por meio da Setur. O próximo passo e definir as metas e um cronograma de operação do projeto na cidade. Segundo explica Sergina Fernandes, gestora do projeto Turismo Melhor do Sebrae que lida, enter outros aspectos, com a questão da acessibilidade em bares e restaurantes da cadeia turística, a iniciativa contará com a participação de todos os setores da cadeia turística. No plano de ações do projeto deverão constar cursos de capacitação de atendimento diferenciado para pessoas portadores de necessidades especiais, além de oficinas sobre os diferentes aspectos da acessibilidade destinadas a estudantes de engenharia civil, fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional, entre outros. “A ideia é envolver toda a cadeia nas mais diversas frentes, para que todos estejam capacitados para lidar com a questão da acessibilidade”, destaca Sergina Fernandes.

O RN TEM UM GRANDE POTENCIAL, TANTO NO LITORAL QUANTO NO SERIDÓ” Patrick Muller Diretor da ABETA

▶ Flagrante do encontro


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NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

Marcos

Sadepaula

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Na política não há amigos, apenas conspiradores que se unem” Victor Lasky

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Desfile de Cultura Comemorando o Dia Mundial do Folclore, a Fundação Cultural Capitania das Artes – Funcarte – realiza hoje um cortejo cultural que percorrerá várias ruas do centro da cidade. A concentração acontece às 15h, na Praça André de Albuquerque (em frente à antiga Catedral) e contará com a participação de diversos grupos que representam a cultura popular, entre eles o Folia de Rua, o Grupo de Dança Popular do Colégio Marista, o Centro Cultural do Conjunto Bom Pastor, Quadrilhas Juninas, Grupo de Jurema, Escolas de Samba, e vários grupos folclóricos como Pastoril, Bois de Reis, Araruna, dentre outros. A caminhada seguirá até a Praça Augusto Severo, em frente ao Museu de Cultura Popular, na Ribeira, onde acontecerão várias apresentações culturais e show das bandas “Farra Boa” e “Guto e o Forró Universitário”, que apresentarão repertório de Forró Pé de Serra.

Para marcar na agenda

O Caos do Corpo

O festival Starts With You (SWU), que acontece entre os dias 9 e 11 de outubro em uma fazenda em Itu, no interior de São Paulo, vai contar com a cantora russa Regina Spektor. Fazem parte de seu repertório sucessos como “Us”, “On The Radio” e “Fidelity”. Além dela, também farão parte do festival as bandas Pixies, Dave Matthews Band, Linkin Park, Incubus, Sublime e Kings of Leon. Os ingressos estão à venda no site www.ingressorapido.com.br

Autora do sensível “Chuva Ácida” (2000), a poeta norte-riograndense Carmem Vasconcelos lançará no próximo dia 25 (quartafeira), na Livraria Siciliano do Midway, o esperado “O Caos no Corpo”. O livro reúne 81 poemas e é dividido em cinco partes: O Corpo, A Casa, Elogio do Clitóris, Cânticos do Cântico e O Caos (ou a poesia da cidade visível). No mesmo dia e hora, a filha da poeta, Carol, lança “Contos do Mundo Mágico”, seu primeiro livro.

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Festa na TT Como prometeu, Tereza Tinoco trará para sua festa de lançamento dia 26 (quinta-feira), a estilista carioca Patrícia Vieira. Pela primeira vez em Natal, Patricia mostra sua coleção de peças em couro que são as preferidas no eixo Rio/São Paulo. As roupas desfilarão com as modelos do casting de George Azevedo e muita badalação promete agitar o evento, que terá como sempre um delicioso coquetel com espumante e sucos além do bem selecionado repertório de Dj Dilvan.

▶ O apresentador

e locutor Jean o Fernandes com anda Robozão da Mir

D’LUCA / NJ

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▶ Isabelle Duarte e Lar

em Ponto

Até que enfim! A obra prima romântica de Marçal Aquino, “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, que conta a história de amor de Cauby e Lavínia, vai virar filme. Lavínia, uma prostituta aposentada, vai ser interpretada por ninguém menos que Camila Pitanga, que vai contracenar com Gustavo Machad como o fotógrafo Cauby. Marçal Aquino assina o roteiro junto com Beto Brant e Renato Ciasca. Vale a pena ler o livro antes!

Registro Os anais do I Encontro dos Escritores de Língua Portuguesa - EELP, serão lançados amanhã, às 18h, dentro da programação da II Semana de Expressões Populares, que está acontecendo desde o último dia 17 e vai se estender até o próximo domingo. O lançamento do documento será na Galeria Newton Navarro, que funciona na Fundação Cultural Capitania das Artes – Funcarte – e contará com a presença da Prefeita Micarla de Sousa, do presidente da Funcarte, Rodrigues Neto, dentre outras autoridades. O evento será abrilhantado com a apresentação da Banda Sinfônica da Cidade do Natal e show da cantora lírica Hilkélia, que cantará para a apresentação de um solo da bailarina Jarliane de Souza.

Clowns News O grupo teatral Clowns de Sheakspeare está em processo de imersão para a montagem do espetáculo Ricardo III; projeto que, após dois anos de preparação, iniciou seus trabalhos no último dia 15 de julho. Além do diretor Gabriel Villela, está em Natal a preparadora vocal Babaya, o assistente de direção Ivan Andrade e a assistente de figurino e adereços Giovana Vilela. O processo já teve um espaço de destaque no Segundo Caderno, do jornal O Globo, do Rio de Janeiro. O espetáculo está sendo viabilizado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, Programa BNB de Cultura 2010 e pelo patrocínio da Oi, além dos apoios do La Tavola, Mozzarella e LocarX. A estreia deverá ser em novembro deste ano aqui em Natal.

Fazendo cabeças O Lirêda Coiffeur abriu suas portas em Petrópolis e nasce como um dos maiores e mais bem equipados salões da cidade. São cerca de 500 metros de área no coração do Plano Palumbo, vizinho ao Agaricus, disponibilizando os serviços de qualidade da hair stylist Lirêda Bezerra, já conhecidos pelas natalenses na unidade de Lagoa Nova.

O troco Uma professora universitária estava acabando de dar as últimas orientações para os alunos acerca da prova final que ocorreria no dia seguinte. Finalizou alertando que não haveria desculpas para a falta de nenhum aluno, com exceção de um grave ferimento, doença ou a morte de algum parente próximo. Um engraçadinho que sentava no fundo da classe, perguntou com aquele velho ar de cinismo: - Dentre esses motivos justificados, podemos incluir o de extremo cansaço por atividade sexual? A classe explodiu em gargalhadas, com a professora aguardando pacientemente que o silêncio fosse restabelecido. Tão logo isso ocorreu, ela olhou para o palhaço e respondeu: - Isto não é um motivo justificado. Como a prova será em forma de múltipla escolha, você pode vir para a classe e escrever com a outra mão... ou, se não puder sentar-se, pode respondê-la em pé.

▶ Colaboração de Dominique Sá SADEPAULA / NJ

de Selma Bezerra

Selma Bezerra nasceu em Currais Novos, Rio Grande do Norte. Casada com Haroldo Bezerra, mãe de três filhos e avó de cinco netos, é formada em letras pela UFRN. Depois de ter sido professora da universidade por alguns anos, ela passou a ser diretora do Teatro Alberto Maranhão, onde ficou de 1991

a 1994, além de gerenciar o Solar Bela Vista até dois anos atrás. Atualmente, vive voltada para o seu belo atelier de artes com vista para o Rio Potengi. A coluna pediu para que listasse os dez melhores pintores de sua preferência. Tarefa nada fácil, considerando que ela o fez sem ordem temporal.

1

Leonardo Da Vinci - pela sua versatilidade e visão de futuro, gênio;

2

Michelangelo Buonarroti - mestre de todas as artes;

3

Frida Kalo - fez o diário de sua vida através da pintura;

4

Paul Klee - pelo muito de tintas e materiais usados em suas telas;

5

Pablo Picasso - um revolucionário, inovador e um destruidor de formas;

6 7

Matisse - o pintor das cores;

8

Manabu Mabe - com seus abstratos, os verdes, vermelhos e amarelos;

9

Mark Rothko - um dos maiores coloristas do mundo, cores superpostas com um trabalho super elaborado;

10

Candido Portinari - que retratou tão bem e fortemente o Brasil;

Newton Navarro - com seus desenhos e a representação da cultura de nossa terra.


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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010

CALCANHARES COM ASAS / PERFIL / O PERFORMÁTICO MARCELO GANDHI ENCONTROU NA ARTE UM MOTIVO DE INSATISFAÇÃO PARA FUGIR DA MORTE

MAURÍCIO CUCA / ESPECIAL PARA O NOVO JORNAL

DE FÉRIAS, ARTISTA REENCONTRA SUAS RAÍZES

▶ Um artista empenhado em desmanchar conceitos SHEYLA DE AZEVEDO DO NOVO JORNAL

MARCELO GANDHI SE

O ATO DE OLHAR É SEMPRE MAIS AMPLO. ENGLOBA O CONTEMPORÂNEO, ASSIMILA OUTRAS EXPERIÊNCIAS, TEM INTERATIVIDADE, ESPONTANEIDADE, SENSAÇÕES” Marcelo Gandhi Artista

considera um artista visual, ao invés de artista plástico, por acreditar que a denominação é mais elástica e carrega mais possibilidades. “O ato de olhar é sempre mais amplo. Engloba o contemporâneo, assimila outras experiências, tem interatividade, espontaneidade, sensações”, enumera. A articulação das palavras, que fluem com suavidade numa voz calma, não disfarça a segurança do momento que está vivendo. O natalense de 35 anos, com raízes em Parnamirim – há três vivendo em São Paulo – está se encontrando na pauliceia desvairada. O que fazer por lá ele tem muito: seja criando seus desenhos (a maioria em papel e nanquim que tanto podem ter centímetros ou metros de tamanho), apresentando suas performances; sendo guia no Instituto de Arte Contemporânea (IAC) - uma instituição voltada para as artes visuais, ligada à USP e a iniciativa privada que lhe dá um emprego fixo ou então como palestrante, oficineiro, espectador de arte contemporânea nos museus, galerias, preparando portifólios; participando de mostras nacionais e internacionais, tudo sempre focado no seu objetivo que é trabalhar com arte. “Não fiz Faap ou Santa Marcelina (renomadas escolas de arte de São Paulo) mas estou conseguindo meu espaço”, comemora o artista, acrescentando que isso se deve a muito trabalho, em “assumir” a arte como profissão, foco no que quer e, claro, um pouco de sorte. Com uma veia artística aflorada desde sempre, tendo também incursionado na área musical, com dois CDs gravados (e nunca lançados), seu trabalho visual começou a ganhar visibilidade nacionalmente quando em 2006 participou do Projeto Rumos do Itaú Cultural, com seis desenhos a nanquim que compõem a proposta do trabalho Paradoxos, es-

colhido pelas curadoras Aracy Amaral e Lizette Lagnado, consideradas duas “papisas” das artes contemporâneas. Até hoje, Gandhi é o único potiguar a ser selecionado nesse projeto. Na época, mais 20 haviam se inscrito também. Em todo o Brasil foram 1500 trabalhos inscritos e apenas 78 selecionados. O Rumos funciona como uma espécie de aposta a “inéditos que prometem”. Para compor sua obra, ele se apropria de símbolos infantis e procura lidar com materiais simples como papel e nanquim. “Meu trabalho é um convite à sensações e reflexões. Agora, ser contemporâneo não é, necessariamente, trabalhar com um laptop na mão”, diz. Por outro lado, não há nenhuma resistência à. Atualmente está pesquisando para compor uma temática denominada Espaço Processado, na qual as peças artísticas serão cristais com desenhos internos feitos a laser. Sobre a pergunta para que serve a sua arte, Gandhi revela: “meu desenho não serve para nada”. Ao menos num sentido prático, cartesiano, porque sua intenção é provocar o espectador a partir “de símbolos não afirmativos”. “Meu desenho é randônico (em cadeia), é espiritual, dialógico, é para fugir da morte”. A morte, inclusive, pode ser matéria para suas reflexões e provocações. Como é no caso da performance O Educador, na qual ele usa uma máscara que traz a caveira – inspirado na obsessão artística do estilista brasileiro, Alexandre Herchcovitch e a silhueta do Michey Mouse (Walt Disney).“Acredito que a simbologia da caveira é uma subversão porque ela nos faz entrar em contato com a morte. Dentro do conceito de transitoriedade, efemeridade, limites. Para mim, ser artista é tentar criar formas de interlocução comigo mesmo e com o mundo”, explica. O Educador já foi apresentada em vários locais brasileiros e também no Chile.

Na época em que foi selecionado para o Rumos, Gandhi também ganhou um das quatro bolsas de residência artística para passar uma temporada em São Paulo, numa parceria com a Exo Experimental, uma organização autônoma que propõe debates, mediações culturais, discussões sobre a arte contemporânea e esse tipo de residência. Era seu primeiro contato mais próximo com São Paulo e também um marco: “Fiquei hospedado no Copan ( famoso edifício projetado por Oscar Niemeyer, no Centro de São Paulo, onde moram mais de mil famílias) e fiquei aqueles meses vendo galerias, visitando instituições e fiz duas performances”, lembra. Inclusive, uma delas, Banheiros que é uma performance registrada em vídeo, já circulou em festivais visuais no Brasil e em países como Espanha, Suíça, México e Colômbia. Passando umas curtas férias de 15 dias no final de julho passado em Natal, Gandhi não disfarça a saudade das suas raízes. Chegou para a entrevista depois de almoçar com uma das irmãs – ele é filho do meio - tendo na mão um pacote pequeno: era o biju feito de goma e coco, para matar a saudade da culinária local. “Engraçado isso, fui nos ambientes onde costumava sempre ir, praia, casa de amigos, lojas de shopping, a gente acaba reproduzindo os caminhos”, reflete. E faz questão de frisar a importância do apoio da família, tendo no pai Francisco (a mãe, Francisca já é falecida), um dos grandes incentivadores de sua arte e dos caminhos que resolveu tomar. “Quando a coisa aperta e não tenho o dinheiro do aluguel, ele tá lá”, reconhece. Muito embora Gandhi procure se virar de outras formas também. Filho de uma família espiritualista, ele joga Tarô profissionalmente e, já chegou a fazer consultas por telefone até para fora do país: “Já me ligaram para eu ler as cartas do Japão, França e Espanha”, lembra. Licenciado em Arte-Educação pelo Departamento de Arte da UFRN, em 2007, Marcelo Gandhi Avelino Batista passou num concurso público e foi lecionar em Parnamirim para turmas de ensino fundamental. A realidade cheia de limitações foi o estopim para que o moço tranqüilo e senhor de seus domínios, decidisse que estava na hora de alçar vôos mais altos. Desde que está em São Paulo já participou de diversas mostras como o Projeto Tripé, no Sesc Pompeia, em 2008, no qual ele levou desenhos feitos em pães sírios; no Centro Cultural Cervantes; no Museu de Arte de Ribeirão Preto; no Memorial da América Latina, dentre outros. “Em São Paulo a arte já é vista como uma instituição: existem galerias, crítica especializada, tudo está lá”, explica fatores que impulsionam seu trabalho. Ao mesmo tempo em que reconhece que há sim barreiras a serem transpostas num mundo em que, às vezes, tem inveja e descrença no trabalho de alguém que não fez Belas Artes em escolas caras e ainda por cima tem sotaque diferenciado.

NO MUNDO

No momento, Gandhi participa da coletiva Obra Inventário, aberta desde o dia 12 desse mês no Tribunal de Contas da União, em Brasília (DF), promovida pela Galeria Marco Antônio Vilaça. Ao todo são oito artistas brasileiros a expor, cujo trabalho tem interface com arquivamento e museologia. Para essa mostra, Gandhi leva aos espectadores 48 micro desenhos – que poderão ser manuseados – e que são guardados dentro de uma caixa de remédios. Enquanto sonha em participar da Bienal de São Paulo “porque é uma grande vitrine e agrega valor às obras dos artistas”, Gandhi vai conquistando outros espaços: tem sete desenhos que podem ser vistos no Portifólio On-Line da Drawning Center (http://www.drawingcenter.org/viewingprogram/share_portfolio.cfm?pf=5409), uma renomada galeria norte-americana, que também serve de vitrine e referenda o trabalho de novos e já famosos artistas do mundo todo. Privilégio dividido apenas com mais outros dois artistas contemporâneos brasileiros. Fazer parte desse portifólio pode ser passaporte para expor – fisicamente – nesta mesma galeria, futuramente. Ainda esse ano, a arte de Gandhi deverá passar uma temporada no Chile, dentro do projeto Deforme, que chegará aquele país, por intermédio de uma curadora argentina, Gabriela Alonso, que o indicou ao curador Gonzales Arrabal. Ao falar e mostrar o seu trabalho, Gandhi parece transpor barreiras de onde é e para onde vai. Isso faz parte do seu processo, não há como negar, mas é apenas mais um detalhe. Ultrapassando qualquer necessidade de levantar bandeiras sobre sexualidade, tribos, gostos e tendências artísticas, esse rapaz quer mesmo é chegar na “humanidade” de si mesmo e dos outros. “Penso em arte 24 horas do dia. E tenho plena consciência de que de 30 trabalhos que penso e executo, pode ser que apenas um esteja bom”, sentencia e segue pela vida de artista.


Esportes

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NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

HUMBERTO SALES / NJ

CANSAÇO PREOCUPA CONTRA O CARCARÁ

/ SÉRIE C / ABC ENTRA EM CAMPO CONTRA O LANTERNA, SALGUEIRO, DE OLHO NA LIDERANÇA DO GRUPO B; LEANDRO CAMPOS PREGA RESPEITO À EQUIPE PERNAMBUCANA, QUE MUDOU DE TÉCNICO E VEM A NATAL NO DESESPERO MAGNUS NASCIMENTO / NJ

de assumir a liderança ao final da rodada, o ABC entra em campo hoje, às 17h, no estádio Frasqueirão, contra o Salgueiro/PE, animado e contando com o apoio da torcida. Mesmo enfrentando o último colocado co grupo, com apenas dois pontos ganhos, treinador e jogadores acreditam que o jogo será difícil, mas lembram que uma vitória é essencial. Leandro Campos tem dúvidas para escalar a equipe e aposta em uma melhora no rendimento de Cascata. São sete pontos somados até agora, um a menos que o líder Alecrim. Se conquistar o planejado resultado positivo, o alvinegro volta a assumir a liderança isolada do Grupo B. Com essa possibilidade, o comandante abecedista elegeu a vitória como primordial para a sequência da competição. “Não podemos nem pensar em um resultado diferente da vitória. Jogamos em casa, temos a obrigação de vencer”, ressaltou. O goleiro Wellington, que vem se destacando nos últimos jogos, foi outro a repetir a necessidade dos três pontos. “Nós vamos em busca da vitória. É muito importante conseguir essa vitória para chegar no clássico na primeira posição do grupo.” Apesar de enfrentar um adversário já conhecido – o ABC venceu os pernambucanos fora de casa, ainda no primeiro turno, por 3 a 0 –, o técnico não acredita que encontrará a mesma facilidade. “É um jogo diferente. Lá eles tinha a obrigação de ir para frente, pois jogavam em casa. Agora a situação é a oposta, nós vamos ter que ir para cima, mas sempre mantendo uma boa marcação para não darmos espaços para o adversário”, COM A POSSIBILIDADE

comentou. O volante Basílio partilha da mesma opinião do chefe. “Acho que vai ser um jogo bem diferente. Está na reta final da competição, eles chegam precisando mais do que nunca de uma vitória. Mas temos que vencer para não ter que buscar um resultado fora”, explicou. Uma das principais armas do alvinegro para o duelo é Cascata. O meia ofensivo, que sempre encantou a torcida por seus dribles e arrancadas, tem caído de rendimento nas rodadas passadas e preocupado, além dos torcedores, a comissão técnica. “O Cascata vem sendo o único homem de armação da nossa equipe. É normal que ele venha sentindo um pouco. Ele vem sendo muito marcado pelos adversários, mas acredito que ele vai superar tudo isso”, aposta um compreensivo comandante. Sabedor que é do esforço do atleta, Leandro Campos também minimiza o preparo físico do camisa 10. “Sabemos que fisicamente o Cascata é assim mesmo. Ele sente o desgaste mais que os outros jogadores”, frisou. Para o jogo de hoje, o ABC ainda tem algumas dúvidas. No ataque, Eraldo e Éderson brigam para ver quem será o companheiro de João Paulo, titular absoluto no ataque. Já no meio de campo, o mistério é sobre o aproveitamento ou não de Claudemir e Ricardo Oliveira. O técnico alvinegro explicou que a escalação dependeria de uma avaliação física dos atletas e que não pretendia se antecipar. “Nós temos que respeitar a condição física dos nossos jogadores. O Ricardo (Oliveira) não jogou contra o Santa Cruz, já o Claude-

NEM PENSAR EM DIFERENTE DA VITÓRIA. JOGAMOS EM CASA, TEMOS A OBRIGAÇÃO DE VENCER” Leadro Campos Técnico do ABC

Além de amargar a lanterna

/ SÉRIE D /

JÁ ELIMINADO, O Potiguar

UM RESULTADO

SALGUEIRO

▶ Xavier: aproveitamento zero

POTIGUAR QUER HONRAR CAMISA

NÃO PODEMOS

mir não joga há mais de uma semana. Não podemos colocar os jogadores em campo para depois ele voltarem a sentir”, disse. Contando com o jogo de hoje, o alvinegro potiguar tem três compromissos seguidos em Natal. Por isso, o treinador já anda fazendo contas para a classificação. “Gostaria que pudéssemos conseguir nove pontos nos jogos em Natal, mas se não conseguirmos, sete pontos já está de bom tamanho. Acredito que com essa pontuação nós estaremos praticamente classificados”, analisou. O time para enfrentar o Salgueiro deve ter Welligton; Lisa, Leonardo, Thiago Garça e Renatinho Potiguar; Basílio, Ricardo Oliveira (Bileu), Éverton Cézar (Claudemir) e Cascata; João Paulo e Éderson (Eraldo).

▶ 1, 2, 3, 4 obstáculos no caminho alvinegro: meta é somar 9 pontos do grupo, com apenas dois pontos ganhos, as coisas não andam boas para o Carcará Pernambucano. O time, que já havia perdido o atacante Paulo Rangel, perdeu também seu provável substituto, Jesuí. De acordo com o site do clube, o atleta pediu à direção para resolver uma pendência trabalhista em Portugal, de onde voltaria no último dia 17. Não voltou e nem deu

notícias. Mas o time ganhou motivação para tentar surpreender o ABC em Natal. E ele responde pelo nome de Cícero Monteiro, que assumiu o comando da equipe esta semana após a saída de Pedro Manta. O técnico não divulgou a equipe que pretende botar em campo. O juiz do jogo é o cearense Joaquim Florenço.

de Mossoró cumpre tabela hoje, contra o Confiança/SE, no estádio Nogueirão. Para o duelo, o treinador Júnior Xavier espera que os atletas entrem em campo para honrar o time mossoroense, que é o único, nas quatro divisões do Brasileirão que ainda não conseguiu nenhum ponto. Mesmo sem ter somado nenhum ponto, o técnico Júnior Xavier espera conseguir um bom resultado no jogo contra os sergipanos. “Temos que tentar a vitória. Estamos eliminados e não conseguimos nenhum ponto até agora. Mas espero que isso possa mudar na partida de hoje”, declarou. O comandante também conta com o apoio dos jogadores, que eles estejam com a mesma vontade de vencer. “Os nossos jogadores estão tranquilos. Sabem da responsabilidade de vencer e somar os primeiros pontos. É a honra de cada um que está em jogo. Espero que eles entrem em campo com um espírito vencedor”, declarou o treinador. Para desespero de sua fanática torcida – e gozação da parte dos torcedores do rival Baraúnas –, com uma campanha de cinco derrotas em cinco jogos, o Potiguar é o único time, em todas as divisões do Campeonato Brasileiro 2010, que ainda não pontuou.

/ CLÁSSICO /

/ INTERNACIONAL /

/ FLAMENGO /

Amigos no Porto, Deco e Carlos Alberto ficam no banco

ROTH POUPA TITULARES CONTRA O LANTERNA

RUBRONEGRO TENTA UMA VAGA NO G4

JEFFERSON BERNARDES / VIPCOMM

de comemoração pela conquista da Taça Libertadores da América, o Internacional manda a campo seus reservas hoje, quando recebe o lanterna Atlético-GO, às 16h, no Beira-Rio. A partida é válida pela 15ª rodada do Campeonato Brasileiro. A ideia do técnico Celso Roth é dar mais tempo para que titulares como o meia D’Alessandro e o atacante Taison se recuperem do desgaste da final contra o Chivas, mantendo apenas o goleiro Renan. O ataque também terá a baixa de Rafael Sóbis, que cumpre suspensão por ter levado cartão vermelho na derrota de 3 a 0 para o Fluminense, no domingo passado, no Rio. Sem ele, Leandro Damião será o homem de referência na área. Guiñazu e Tinga, lesionados, e Wilson Mathias, suspenso, desfalcam a equipe no meio-campo. No domingo, o setor vai contar com Derley, Glaydson, Edu, Andrezinho e Giuliano. Apesar do momento festivo e da ausência de titulares no domingo, o meia-atacante Giuliano disse que o time segue atento ao Brasileiro. “Vamos tentar ser campeões brasileiros. Temos qualidade no

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AINDA EM CLIMA

DOIS DOS PRINCIPAIS astros de Vas-

co e Fluminense deverão começar no banco das 18h30, no Maracanã. A expectativa é de casa cheia. O Fluminense é líder isolado do Campeonato Brasileiro, com 32 pontos, e manterá a ponta mesmo se perder - o vice-líder, Corinthians, tem 28. Nono colocado, o Vasco tem 20 pontos e defende uma invencibilidade que já dura sete rodadas. Por opção dos técnicos Muricy Ramalho, do Fluminense, e PC Gusmão, do Vasco, tanto Deco como Carlos Alberto não devem figurar entre os titulares de suas equipes. O meia brasileiro naturalizado português ainda não estreou pelo time das Laranjeiras, enquanto o ex-capitão vascaíno treinou entre os reservas durante a semana. A opção de Muricy se deve à manutenção do esquema 3-5-2. Com a entrada do meia - a mais badalada contratação do Fluminense na temporada -, o técnico abriria mão de um dos zagueiros e armaria o time no 4-4-2. Como Deco ainda não fez nenhum jogo pelo novo time, ficará como opção para o decorrer do jogo. No Vasco, ocorre justamen-

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RICARDO RAMOS / AGIF / FOLHAPRESS

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▶ Para não mexer no esquema de jogo Muricy vai deixar Deco como opção te o inverso. PC Gusmão pretende manter o time no esquema 4-42, com o lateral esquerdo Max na vaga que seria ocupada por Carlos Alberto. Porém, o lateral é dúvida para o clássico e, caso Carlos Alberto entre como titular, o Vasco passará a jogar com três zagueiros. “São dois times com grandes jogadores. Não gosto de opinar sobre o adversário, pois se você diz que o seu time é melhor, parece uma critica e não sou assim. Nosso time é bom como o deles e que tem ótimos jogadores. Será um

grande jogo, sem sombra de dúvidas”, afirmou Muricy, sem assumir o favoritismo de sua equipe no clássico. Por sua vez, PC Gusmão demonstra empolgação com a ascensão vascaína na competição. “É um jogo que tem todos os atrativos, o Vasco está em recuperação e o Fluminense é o líder do campeonato. O jogo representa muito, o estádio estará lotado e espero que a gente possa fazer uma boa partida e sair com a vitória”, disse.

DEPOIS DA VITÓRIA apertada

▶ Giuliano: artilheiro entra no time grupo para lutar por este título. Ano passado faltou só um pontinho. O Mundial vem só depois deste objetivo”, disse Giuliano. No Atlético-GO, o técnico Renê Simões terá o retorno do volante Robston, destaque da equipe no meio-campo. Suspenso na derrota de 2 a 0 para o Botafogo, no último sábado, o volante entra no lugar de Carlinhos Bala. Simões também terá os retornos do zagueiro Jairo e do meia Elias. O Atlético-GO é o último colocado da competição, com apenas 9 pontos. Já o Internacional, com 20 pontos, tenta voltar ao G4, a zona de classificação para a Taça Libertadores.

sobre o Ceará no último sábado, o Flamengo tenta engrenar rumo ao G4 hoje, às 16h, contra o Atlético-PR. A partida acontece na Arena da Baixada, em Curitiba, no complemento da 15ª rodada do Campeonato Brasileiro. Apesar da campanha irregular neste primeiro turno, o time carioca segue no grupo de candidatos a entrar na zona de classificação para a Libertadores. “O objetivo é buscar o G4. Estamos a apenas um ponto de uma vaga. Temos um time forte e o objetivo é formar uma equipe competitiva, como no ano passado, para lutar pelo título. Temos que pensar no jogo contra o Atlético-PR, fazer um bom jogo, e começar a ganhar confiança para deslanchar”, disse o apoiador Renato. À espera das estreias de Deivid e Diogo, os dois reforços anunciados pelo clube nesta semana, o técnico Rogério Lourenço vai manter o time que venceu o Ceará por 1 a 0, com Leandro Amaral e Val Baiano no ataque.


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▶ ESPORTES ◀

/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 22 DE AGOSTO DE 2010

AVE SESI!

/ ESPORTE / TRABALHO DESENVOLVIDO EM NATAL E MOSSORÓ BENEFICIA 5.OOO PESSOAS E FAZ DO CLUBE UMA INDÚSTRIA DE TALENTOS E QUALIDADE DE VIDA

AUGUSTO RATIS / NJ

BRUNO ARAÚJO

DO NOVO JORNAL

o maior clube esportivo do Rio Grande do Norte?”. A fama e mesmo a torcida pode ter pesado em sua resposta, mas se você optou por ABC, América ou mesmo AABB, ela está errada. O maior clube do estado se esconde por uma trás de uma fachada tão imponente quando sisuda que margeia a Avenida Mor Gouveia, no bairro de Lagoa Nova: é o Sesi Clube Natal. Apesar de ter sido criado para oferecer assistência dos mais variados tipos aos industriários, o clube do Serviço Social da Indústria tem hoje mais de cinco mil beneficiados pelas atividades esportivas e de qualidade de vida oferecidas num espaço amplo. A estrutura inclui campo de futebol, ginásio, sala de ginástica, quadras de futevôlei, vôlei de areia, beach soccer, piscinas olímpica e semiolímpica, além de pista com medidas oficiais e equipamentos para a prática de atletismo. Gerente de Cultura, Esporte e Lazer do clube, Daniela Faria afirma que o objetivo, não apenas do clube, mas do próprio Sesi é ofeRESPONDA RÁPIDO: “QUAL

▶ Rotina de trabalho no Sesi, em Natal: espaço para os industriários se transformou no maior clube do estado recer uma perspectiva de melhora na qualidade de vida dos industriários e da comunidade em geral. A instituição trabalha quatro eixos importantes como responsabilidade social, educação, saúde e lazer. Acreditamos que todos es-

ses pontos podem ser explorados através da prática esportiva que proporciona não apenas uma vida melhor às pessoas, mas também estimula a cidadania”, destaca. Além de oferecer a oportunidade aos industriários e à po-

pulação em geral infra-estrutura à prática esporte, o Sesi também desenvolve diversas ações de responsabilidade social. Além do programa Atleta do Futuro e a cessão gratuita do espaço atletismo, a instituição ainda desenvol-

AUGUSTO RATIS / NJ

▶ Jackson entre os amigos Francisco e Nélio: reencontro com a vida

QUALIDADE É REFERÊNCIA NO ESPORTE Um dos beneficiados pela proposta do Sesi Clube de transformar concreto, terra, água e grama em um caminho para saúde e qualidade de vida é o nadador Jackson Alexandre, de 28 anos. Há sete, depois de atender ao convite de um amigo, ele faz das piscinas do parque poliesportivo um trampolim para uma vida melhor. “Sofri um assalto quando saía de casa e acabei baleado. Fiquei paraplégico e a impressão que a gente tem de imediato é que há pouco a se fazer”, relatou o para-atleta. Anos depois, ele garante que aquele momento triste está se perdendo no passado e acredita que a oportunidade de praticar um esporte amparado pela estrutura diferenciada, oferecida pelo clube em Lagoa Nova, foi um ponto fun-

damental para sua recuperação e seu presente de conquistas dentro e fora das raias. “Não fosse o esporte, eu estaria preso a uma cadeira de rodas. Graças a ele, posso me considerar uma pessoa livre”, confessou Jackson, que fez questão de destacar o espaço adaptado pelo clube para oferecer acessibilidade aos portadores de necessidades especiais. “O Sesi tem todo seu espaço adaptado e a gente pode praticar nosso esporte aqui com tranquilidade”, avaliou o nadador que, além de ter o esporte como meio de vida, já foi convocado duas vezes para a seleção brasileira paraolímpica. Para o aposentado Antônio Ferreira, de 67 anos, o serviço e a atenção oferecidos pelos instrutores do Sesi são um dos diferenciais para que o clube se destaque entre os melhores do estado e, segundo ele, do país. “As pessoas nos recebem com educação, além de serem bem preparados. Saio daqui renovado depois de cada aula”, diz o assíduo aluno de hidroginástica.

5.000 É o número beneficiados pelas atividades do Sesi Clube em Natal e Mossoró

NADA MELHOR DO QUE INVESTIR NAS PESSOAS ATRAVÉS DO ESPORTE” Daniela Faria Gerente de Cultura, Esporte e Lazer do SESI

AUGUSTO RATIS / NJ

▶ Escolinha de futebol; uma das muitas atividades do clube

AUGUSTO RATIS / NJ

▶ Natação do Sesi: duas piscinas, uma delas olímpica

PROJETO DE INCLUSÃO SOCIAL REVELA TALENTOS EM NATAL

A POTIGUAR JULY FERREIRA DA SILVA ESTÁ NA FINAL DOS 2000 METROS COM OBSTÁCULOS DOS JOGOS DA JUVENTUDE, EM CINGAPURA

FORMAÇÃO DE ATLETAS E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL O Sesi se diferencia dos demais clubes existentes no Rio Grande do Norte, que costumam investir em quem já mostra vocação para o esporte; atletas formados nos projetos desenvolvidos pelas prefeituras no interior do estado, escolinhas e clubes menores. Em Lagoa Nova chegam as pedras brutas, como Eduardo Medeiros de 17 anos, também cria do Sesi e do Programa Atleta do Futuro. Destaque da natação local ele

AUGUSTO RATIS / NJ

ve, em parceria com a Petrobras, o Programa de Criança que contempla 100 crianças e adolescentes carentes em Natal com atividades esportivas, culturais, reforço escolar e alimentar, informática e ações voltadas à saúde e higiene. Somadas às atividades desenvolvidas na capital potiguar junto à unidade instalada em Mossoró, são mais de cinco mil pessoas atendidas. “Lazer e esporte fazem parte da vida das pessoas. Por isso, nada melhor do que investir nas pessoas através do esporte”, avalia Daniella. A gerente do clube revela ainda que a estrutura deverá passar,em breve, por modificações para oferecer condições ainda melhores. “Estamos com a perspectiva de até outubro, inaugurarmos a quadra tênis. Além disso, temos planos para instalar uma cobertura na piscina olímpica, oferecer musculação no clube, além de realizar nosso sonho que é transformar nossa pista de atletismo, ainda de terra, em sintética. Acredito que estamos bem próximos de torná-lo realidade”, previu em tom de ansiedade pela nova estrutura do clube.

começa a se mostrar para o esporte nacional. No mês passado, Eduardo conseguiu quebrar o recorde nos 50 metros e foi vice-campeão nos 100 livres do 14º Torneio Internacional/13ª Copa Mercosul, em Curitiba/PR. Para a professora de atletismo Tânia Cabral, há 13 anos no Sesi/ RN, é normal a revelação de talentos no Programa Atleta do Futuro, pois ele oferece oportunidades a quem normalmente não teria.

Através do Projeto Atleta do Futuro (Paf), o Sesi tem buscado promover a inclusão social de crianças e adolescentes com idade entre 07 e 14 anos, filhos de trabalhadores da indústria e moradores de comunidades localizadas próximas a instalações industriais, com ações esportivas, lazer e cultura. O projeto chegou ao Rio Grande do Norte em 2008, mas existe desde 1999 em São Paulo. Como programa sócio-esportivo, muito mais do que formar atletas, o maior objetivo do projeto é formar cidadãos. E a oportunidade oferecida pelo clube “viaja ao mundo”. A atleta July Ferreira da Silva que o diga. Há apenas dois anos treinando no clube, a jovem estudante da escola municipal Luís Maranhão foi campeã brasileira na modalidade 2000 metros

na categoria juvenil, quando ainda tinha 15 anos, um a menos do que as competidoras da categoria. Há mais de um mês fora do país – foi primeiro para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para um período de aclimatação –, a jovem agora com 16 anos está em Cingapura para a dispu-

ta dos Jogos da Juventude. A atleta potiguar garantiu vaga na final dos 2000 metros com obstáculos que, por coincidência, será realizada hoje no Bishan Estadium. Vale a torcida e quem quiser pode conferir o desempenho de July no site www.cbat.org.br, da Confederação Brasileira de Atletismo. A largada é às 8h55 da segunda-feira no horário do país asiático e 22h55 deste domingo, horário de Brasília. CEDIDA

▶ De pés descalços, July disputa Olimpíada de Menores da Caixa: futuro

HUMBERTO SALES / NJ

No entanto, mais do que o esporte em si, a treinadora faz questão de lembrar a verdadeira função do projeto e do esporte. “Isso [Paf] que temos aqui é um instrumento de transformação social, une pessoas, educa e muda vidas. Aqui no Sesi, a estrutura oferecida facilita o trabalho de transformar crianças em pessoas de bem e responsáveis”, atesta Tânia destacando o auxílio psicológico e social oferecido. Superintendente do Sesi no Rio Grande do Norte, Rodrigo Melo se mostra feliz com o resultado que o Sesi tem obtido frente

às estatística que apontam Natal como uma “cidade de pessoas sedentárias” e que, ao mesmo tempo, tem propiciado a crianças e adolescente um aprendizado pautado na cidadania e a chance de transformar suas vidas através do esporte. “O Sesi tem quatro pilares de atuação: saúde, lazer, responsabilidade social e educação. A partir do clube, temos conseguido convergir esses pilares numa ação integrada para mudar a consciência da sociedade a partir das crianças e jovens e plantando a semente da transformação social.”

▶ Melo: clube agrega pilares do SESI


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