01-08-2010

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R$ 1,50

Ano 1 / N° 215 / Natal, DOMINGO, 1º de agosto de 2010

ECONOMIA

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PROPRIETÁRIOS DE TERRA NO RN PODEM FATURAR ARRENDANDO ÁREA PARA ENERGIA EÓLICA

RODA VIVA

GOVERNO DO ESTADO DESTINA MAIS R$ 13,5 MILHÕES PARA TAPAR O BURACO DA CAERN

HUMBERTO SALES / NJ

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ESPORTES

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O treinador que a menos de uma semana conquistou a Liga Mundial de Vôlei, na Argentina, pela oitava vez, vê o nordeste com enorme potencial para formar atletas, principalmente na praia. Bernardinho elogia a potiguar Amanda, treinada por ele no Unilever.

BERNARDINHO O ENSINA A TRANSFORMAR R SUOR EM OURO O 09

CIDADES

PRAIA DO MEIO... NEY DOUGLAS / NJ

ÚLTIMAS

FICHA LIMPA JÁ BARROU 18 CANDIDATOS NO PAÍS 03

POLÍTICA AUGUSTO RATIS / NJ

DO DESCASO, DA POLUIÇÃO, DO ABANDONO, DA DECADÊNCIA

A praia que já foi cartão postal de Natal vive em franca decadência. A taxa de ocupação dos hotéis caiu 60% em dez anos. Alguns passaram a ser ocupados por mensalistas, em vez de turistas. A desatenção do poder público, a insegurança e a poluição afastaram o turista e até o natalense. Em quinze anos, 40 empreendimentos fecharam. O calçadão destruído é hoje o retrato mais fiel da Praia do Meio.

A CAMPANHA DA DONA BARATINHA, QUE É MUITO CARA Com a proibição de outdoors, candidatos passam a investir nas “baratinhas”, os carros pequenos com caixas de som. Há “barateiros” faturando até R$ 12 mil na campanha. 11

CIDADES HUMBERTO SALES / NJ

ARGEMIRO LIMA / NJ

SEM APOIO PÚBLICO, NEUROCIÊNCIA NÃO SE DESENVOLVE 05

POLÍTICA

IVAN CABRAL

WWW.IVANCABRAL.COM

TRE TEME QUE NOVA LEI GERE ABSTENÇÃO RECORDE NO RN

Presidente da Academia Brasileira de Neurocirurgia, Luciano Araújo se associa às críticas de Miguel Nicolelis. Falta apoio para o Instituto de Neurociências de Natal. 15

ESPORTES ARGEMIRO LIMA / NJ

A partir deste ano, eleitor tem que apresentar na hora do voto, além do título eleitoral, um documento de identidade com foto. Tribunal teme aumento na abstenção. 02

ÚLTIMAS

EM AÇÃO INÉDITA, TRT CONDENA 11 POR EXPLORAÇÃO SEXUAL

Nesta edição, encarte da Botton, Dia dos Pais e, para assinantes, caderno Correio Aplicado, do colégio Ciências Aplicadas.

JOÃO PAULO, A ARMA DO ABC CONTRA O ALECRIM


Últimas 2

Editor Marcos Bezerra

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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010

/ F1 /

VETTEL FAZ A POLE NO GP DA HUNGRIA; MASSA LARGA EM 4º O PILOTO ALEMÃO Sebastian Vettel, da Red Bull, fez o melhor tempo nos treinos classificatórios para o GP da Hungria, ontem, e largará na pole, seguido por seu companheiro de equipe, o australiano Mark Webber. Felipe Massa, em sua volta ao circuito de Hungaroring, onde sofreu um grave acidente que abreviou sua temporada em 2009, larga em quarto, logo atrás do espanhol Fernando Alonso, terceiro colocado no grid. Rubens Barrichello, da Williams, que não conseguiu chegar à última etapa do classificatório, fez o 12º melhor tempo. Lucas di Grassi, foi o 22º e Bruno Senna, o 23º.

/ SATIAGRAHA /

TRF ARQUIVA AÇÃO DE DANTAS CONTRA O JUIZ DE SANCTIS A CORREGEDORIA DO TRF

da 3ª Região (Tribunal Regional Federal), em São Paulo, arquivou esta semana um processo movido pelo banqueiro Daniel Dantas contra o juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo. O dono do banco Opportunity processou o juiz por causa de uma autorização para vistoriar fazendas dele no Pará. Essa foi a quinta ação de Dantas contra De Sanctis. Apenas duas ainda estão em aberto. O juiz foi o responsável pela Operação Satiagraha que acabou com a condenação do banqueiro, que pode recorrer da decisão.

PEDÓFILOS PEGOS PELA JUSTIÇA TRABALHISTA / PARAÍBA / DECISÃO HISTÓRICA FAZ TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO CONDENAR ACUSADOS DE EXPLOIRAÇÃO SEXUAL um grupo de acusados de pagar por sexo com meninas de 12 a 17 anos na Paraíba foi condenado pela Justiça trabalhista, informa o jornal Folha de S. Paulo. Enquanto a ação penal ainda nem foi julgada em primeira instância, a decisão do Tribunal Regional do Trabalho, já em segunda instância, prevê que 11 dos 13 citados no caso paguem juntos ao Estado uma indenização de R$ 500 mil. Cabe recurso. O caso aconteceu em Sapé, na zona da mata paraibana, e veio a público em 2007. Políticos, empresários e profissionais liberais foram acusados de pagar de R$ 20 a R$ 100 por programas com as crianças e as adolescentes. Entre os condenados pela Justiça trabalhista, está um expresidente da Câmara Municipal de Sapé e um ex-secretário municipal. A ação do Ministério Público do Trabalho tramitou em paralelo à criminal. “Como o processo penal é moroso e cheio de benefícios para os réus, apelamos para uma ação trabalhista por entender que a exploração sexual é a pior forma de trabalho infantil”, explica o procurador Eduardo Varandas. A decisão do TRT saiu três anos depois da denúncia. Antes, houve decisão pró-reus em primeira instância. Desde dezembro de 2008, o Ministério Público do Trabalho recomenda que procuradores atuem assim em casos de exploração sexual.

TRABALHO INFANTIL

Para embasar a ação, o procurador da Paraíba recorreu à convenção nº 182 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que enquadra recrutameto e oferta de crianças para prostituição”.

DECISÃO INÉDITA Quem são os 11 condenados pela Justiça Trabalhista por exploração sexual de menores na Paraíba Antônio João Adolfo Leôncio Glauco de Melo França 1 Ex-presidente da Câmara Municipal de 7 Agricultor, acusado de estupro de Sapé. É acusado de estupro de vulnerável vulnerável e corrupção de menores. Não e corrupção de menores, mas nega tudo foi localizado pela Folha Robson Guedes Vasconcelos Luís Carlos Lisboa 2 Ex-vereador de Sapé, acusado de estupro 8 Comerciante, acusado de estupro de de vulnerável e corrupção de menores. vulnerável. Não retornou ligação da Afirma que fez um acordo com a Promotoria reportagem Derval Moreira de Araújo Nelson Davi Xavier 9 Advogado, acusado de corrupão de Ex-secretário Municipal de Sapé. Acusado de corrupção de menores, diz que foi menores. Afirma ter sido excluído da excluído da ação penal ação penal

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Bruno Campos Marinho de Góes 4 Representante comercial, acusado de estupro de vulnerável e corrupção de menores. Não foi localizado pela Folha

Romildo Martins dos Santos 10 Dono do motel Pousada Paraty, acusado de estupro de vulnerável e corrupção de menores. Não retornou ligação da reportagem

Erinaldo Francisco do Nascimento 5 Dono do motel Happy End, acusado de estupro de vulnerável e corrupção de menores. Não foi localizado

Severino Pereira de Oliveira 11 Ex-prefeito de Mari, é acusado de corrupção de menores. Não foi localizado pela Folha

Cícero Tiago de Souza Agricultor, acusado de aliciamento/ exploração sexual de crianças e adolescentes. Não foi localizado pela Folha

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“Quem sabe agora, pesando no bolso dos poderosos, vamos avançar contra a impunidade, ao contar com a Justiça trabalhista como aliada”, afirma a senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), que presidiu a CPI contra Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em 2003. Os R$ 500 mil vão para um fundo municipal em Sapé para apoio das vítimas de exploração sexual. “A ação coletiva cria jurisprudência e abre o precedente para que as garotas vítimas dos réus entrem com pedidos individuais de indenização”, afirma o procurador. O caso de Sapé ficou conhecido em abril de 2007, quando duas mulheres foram presas sob suspeita de submeter crianças e adolescentes à exploração sexual. Segundo a acusação, as garotas eram mandadas de mototáxi ao encontro de ricos e poderosos do município, que tem 53 mil habitantes e fica a 55 km de João Pessoa.

QUEM SABE

FALA NESSA GRANDE QUANTIDADE DE VAGAS DE EMPREGO, UMA BOA PARTE SERÁ DESTINADA AQUI PARA O NORDESTE” Oscar Gabriel Professor

FICHAS-SUJAS

Paraná ▶ Erivan Passos da Silva (deputado estadual, PRTB)

Minas Gerais ▶ Adilson da Vale Verde (candidato a deputado federal, PTN) ▶ Antônio Carlos Bouzada (a estadual, PC do B) ▶ Athos Avelino Pereira (a estadual, PPS) ▶ Carlos Alberto Pereira (a federal, PDT) ▶ Eduardo Santos Porcino (a estadual, PV) ▶ Leonídio Henrique Correa Bouças (a estadual, PMDB) ▶ Maria Lúcia Soares de Mendonça (a estadual, DEM) ▶ Pedro Caminhas Pinduca (a estadual, PP) ▶ Silas Brasileiro (a federal, PMDB) ▶ Wellington Magalhães (a estadual, PMN)

Santa Catarina ▶ João Pizzolatti (a deputado federal, PP)

PODEROSOS,

Espíriro Santo

VAMOS AVANÇAR

▶ Luiz Carlos Moreira (estadual, PMDB) ▶ Marcelino Fraga (estadual, PMDB) ▶ Roberto Valadão Almokdice (estadual, PMDB)

CONTRA A IMPUNIDADE,

Ceará

AO CONTAR

▶ Sineval Roque (deputado estadual, PSB)

COM A JUSTIÇA

Paraíba

TRABALHISTA COMO

▶ Francisco Edmilson da Silva Ribeiro (deputado estadual, PCB)

ALIADA” Patrícia Saboya Senadora, PDT-CE

FOTOS: ALEX FERNANDES / DIVULGAÇÃO

▶ Pesquisadora da UnP analisa produto em laboratório Petróleo por dia”, afirma. Ainda de acordo com Oscar, o Nordeste não tem reservas para produzir essa quantidade de petróleo, a quantidade será disponibilizada através do pré-sal. O petróleo virá para ser processado para virar gasolina e óleo diesel para abastecer prioritariamente o mercado americano. Não é interessante vender petróleo, o interessante é vender os derivados, pois se usa a tecnologia, a mão-de-obra e os salários que ficam no país. Por isso essa é uma área que trará muitas oportunidades para quem se profissionalizar. Diante de tal realidade, as instituições educacionais precisam estar preparadas para qualificar as pessoas para o mercado emergente. Como, então, estar pronto para um futuro tão próximo? Será preciso mudar de cidade e ou estado

órgãos colegiados do Poder Judiciário, como os TJs (Tribunais de Justiça) estaduais. Os candidatos que tiveram os pedidos de registro eleitoral rejeitados pelos TREs ainda podem recorrer ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ao STF (Supremo Tribunal Federal).

NO BOLSO DOS

DADOS DIVULGADOS PELO

Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), em parceria com a Confederação Nacional da Indústria, mostram que a China forma em média 150 mil engenheiros e a Índia cerca de 350 mil. A Coréia do Sul forma 80 mil e o Brasil fica apenas com 30 mil por ano. Esse número é deficitário para a grande demanda que surgirá decorrente do pré-sal, até 2014. A mesma pesquisa aponta que o mercado de trabalho necessitará mais de 500 mil profissionais na área de petróleo e gás. O grande debate em vigor é como suprir essa demanda num curto espaço de tempo. O diretor do Curso Superior Técnico de Petróleo e Gás da UnP, professor Oscar Gabriel, alerta que o Nordeste alocará grande parte desses profissionais. “É bom lembrar que quando se fala nessa grande quantidade de vagas de emprego, uma boa parte será destinada aqui para o Nordeste. São quatro refinarias nessa região: a refinaria Clara Camarão, que ficará em Guamaré, prestes a entrar em operação; Abreu e Lima, que fica no estado de Pernambuco, previsto funcionamento até 2014; e mais duas refinarias Premium, que serão localizadas em Fortaleza e São Luiz do Maranhão. Elas vão processar respectivamente 600 e 300 mil barris de

Ficha Limpa já foi usada como fundamento para indeferir 18 candidaturas no país. O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Minas Gerais foi que mais barrou candidatos: 10. A legislação aprovada neste ano estabelece que são inelegíveis os políticos condenados por

AGORA, PESANDO

Mercado precisa de 500 mil engenheiros

QUE QUANDO SE

TREs barram 18 candidatos com ficha suja A LEI DA

EM DECISÃO HISTÓRICA,

/ PETRÓLEO E GÁS /

É BOM LEMBRAR

/ LEI /

para entrar para esse grupo restrito e promissor? A diretora do curso de Engenharia de Petróleo e Gás da UnP, professora Regina Brasil, aposta na teoria aliada à prática. “Quando você vai escolher uma profissão tem que identificar se o local possui infraestrutura. Na Universidade nós temos laboratórios com instrumentos de trabalhos que os estudantes só teriam acesso no campo de trabalho. Além disso, nossa grade curricular está totalmente atualizada, os alunos têm como base a utilização de biocombustível, o que é muito importante de ser trabalhado. Damos um enfoque na área de qualidade de combustível, trabalhamos o gás natural e a preocupação com o meio ambiente, o que é fundamental”, enfatizou.

Rondônia ▶ Jair Miotto (deputado estadual, PPS)


Política

Editor Viktor Vidal

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NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

MAGNUS NASCIMENTO / NJ

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TIAGO LIMA / NJ

▶ Veículos com caixas acopladas são encontrados por toda parte da cidade

LÁ VEM A BARATINHA / PROPAGANDA / CARROS EQUIPADOS COM CAIXA DE SOM TOMAM CONTA DAS RUAS DURANTE A CAMPANHA ELEITORAL

AUGUSTO RATIS / NJ

AUGUSTO RATIS / NJ

CRISTIANO FÉLIX DO NOVO JORNAL

ELAS FAREJAM AGLOMERAÇÃO de pessoas e fazem barulho por onde passam. Assim são as “baratinhas”, como ficaram conhecidos os carros cheios de adesivos com os rostos e números de políticos e caixas de som acopladas sobre o teto, que se proliferam em época eleitoral. Em todo o Rio Grande do Norte a “peste” é impossível de ser medida com a campanha em curso, uma vez que a prestação de contas dos gastos só deve ser apresentada ao Tribunal Regional Eleitoral (TER/RN) trinta dias depois do pleito de outubro. Mas, informalmente se pode ter idéia da consequência financeira dessa modalidade de exposição. Muitos proprietários dos veículos “envelopados” com material de campanha se negam a falar sobre as vantagens obtidas com a disponibilização dos carros para circular com os adesivos e, muitas vezes, caixas de som que tocam repetidamente os jingles dos candidatos. Sem querer ser identificado, um deles contou a reportagem do NOVO JORNAL que “vendeu” a “mídia ambulante” pela bagatela de R$ 12 mil mais o combustível usado para passar o dia rodando. A movimentação nas ruas é intensa. Em dias de pique – com carreatas em mais de um município – o trajeto pode ultrapassar a marca dos 200 quilômetros. “Essa é uma média, mas tem dias que a gente anda muito mais. Depende de qual o itinerário do candidato e o cargo que ele disputa. Na maioria das viagens a gente tem que contar a ida e a volta”, disse o “barateiro”, que revelou consumir em um carro com motor 1.6 mais em média três tanques de gasolina por semana. Para ter tempo disponível e acompanhar a agenda de um candidato que tenta ser reconduzido a uma vaga na Assembleia Legislativa, o militante pediu licença não remunerada da colocação de trabalho que conseguiu através de indicação do mesmo parlamentar. “Só consegue esse tipo de serviço quem já trabalha com o político ou quem é indicado por um funcionário dele de confiança. Conheço quem não cobre um extra para identificar o carro, mas são casos de gente que tem cargos mais altos e recebem melhor”, contou a fonte. As baratinhas vêm se reproduzindo em alta velocidade des-

de que foi aprovada a mini-reforma política que proibiu a utilização de outdoors, uniformização – então vista mais frequentemente em camisetas – e distribuição de brindes. A medida entrou em vigor as vésperas das eleições de 2006, tendo como objetivo de baratear as campanhas, o que visivelmente não aconteceu. Quando da confecção da norma, outra idéia era que a proibição traria um impacto significativo no sentido de reduzir a poluição visual nas cidades. Nesse aspecto a lei disciplinando os espaços que podem ser utilizados pelos candidatos surtir algum efeito, haja vista que o material publicitário utilizado nas mídias convencionais levava mais tempo para ser retirado, enquanto nos carros não dura muito tempo depois de anunciado o resultado das urnas.

CONTROLE

Desde as eleições municipais de 2008, comitês de campanha são obrigados a requerer um registro no Cadastro nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) para, nessa firma reconhecida, disponibilizar todos os gastos tidos durante os três meses de campanha. A comprovação das despesas precisa ser protocolada em duas etapas, além de um relatório final. O prazo para apresentar a primeira parcial já está aberto e segue até o dia 3 de agosto. De acordo com informações da Coordenadoria de Controle Interno e Auditoria do TRE, o procedimento é obrigatório para todos os comitês financeiros que optaram por arrecadar e aplicar recursos obtidos por meio de doações. A exigência é prevista no artigo 48 da resolução número 23.217/2010 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ela estabelece que os entes envolvidos devam “apresentar demonstrativo contendo todos os recursos arrecadados, financeiros ou estimáveis em dinheiro, bem como os gastos realizados durante a campanha, até então”. A segunda parcial deve ser apresentada até o dia 3 de setembro e a prestação de constas consolidada precisa acontecer até 30 dias depois do pleito. Em um eventual segundo turno corre um prazo de mais um mês. As informações são utilizadas para subsidiar o exame de computação das despesas. A falsidade dos dados pode levar às penas previstas no Código Eleitoral, como reclusão e pagamento de multa.

▶ Funcionários trabalham no serviço de adesivagem

PRECISAMOS TRABALHAR COM AGENDAMENTO PARA NÃO DEIXAR MUITA GENTE NO PÁTIO ESPERANDO E GERAR UMA CONFUSÃO”” Zênio de Paula, arte finalista AUGUSTO RATIS / NJ

SERVIÇO DE ADESIVAGEM TRIPLICA NESSA ÉPOCA Circula um cheiro forte de tinta e solvente dentro dos estúdios de plotagem, onde se adesivam os carros, a ponto de fazer os profissionais que trabalham em empresas especializadas em impressão em tamanhos grandes – além da área de limitação das impressões convencionais – reclamar de fortes dores de cabeça todas as noites, ao deixar o trabalho. O volume de trabalho também é entorpecente. Segundo o arte finalista Zênio de Paula, a quantidade de serviço triplicou desde o início do mês. Desde o dia 6 de julho a campanha pôde tomar as ruas, de acordo com o calendário eleitoral. “O quem mais fazemos nos últimos dias é envelopar carros com material de campanha política. Precisamos trabalhar com agen-

damento para não deixar muita gente no pátio esperando e gerar uma confusão”, disse. Cada montador na empresa onde ele atua consegue adesivar uma média de 15 automóveis por dia. Welligton Gomes é o mais rápido. “Às vezes cansa um pouco. Todo mundo que chega aqui parece ter muita pressa e cobra agilidade. A gente se vira como pode”, destacou o profissional que há dez anos atua no ramo. Desde que chega até sair com um novo layout o carro passa pouco mais de 40 minutos parado. A impressão demora entre 10 e 12 minutos, dependendo da quantidade de cores na imagem disposta. Soma-se a isso mais meia hora para a aplicação do decalque.

PROPAGANDA EM CARRO PODE RENDER ATÉ R$ 1,5 MIL Além de poder ser considerada uma mídia “inclusiva”, já que os preços dos adesivos podem variar de R$ 150 a mais de R$ 1,5 mil dependendo do tamanho, a plotagem dos carros tem a favor a mobilidade. O recurso é utilizado inclusive nos automóveis dos próprios postulantes a cargos públicos. A diferença entre os com mais e os que dispõem de menos recursos para investir em estrutura, nesse caso, fica por conta da quantidade. Na movimentação dos candidatos, em especial daqueles que disputam as eleições majoritárias – governo e Senado Federal

– é comum presenciar a reunião de dezenas de carros, organizados em fileiras. Nos maiores eventos organizados até este momento da campanha, como o que aconteceu durante a passagem da candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT), a “caminhada” anunciada pela equipe de articulação da campanha governista foi substituída por uma carreata. Os motores poupam a energia dos candidatos, afastam do contato com a população que vai às ruas, movidos muitas vezes pela música festiva que ecoa das caixas de som acopladas aos veículos.

Na coligação “Vitória do povo” candidatos a vagas na Assembleia Legislativa como a deputada Márcia Maia (PSB) e o irmão Lauro Maia (PSB), Cláudio Porpino (PSB) e Larissa Rosado (PSB) utilizam os carros repaginados. Além deles, o deputado Vober Júnior (PPS), que pela primeira vez concorre a uma vaga na Câmara Federal, não fez economia. Todos esses veículos são vistos mais facilmente em Natal – o maior colégio eleitoral do estado. Pela coligação “A força da união”, em termos de quantidade de “baratinhas, destacam-se o deputado federal Felipe Maia (DEM) e a candidata democrata ao gover-

no, Rosalba Ciarlini. Na aliança feita para as eleições proporcionais entre PV, PR e PMDB a predominância é no tom verde. Os candidatos a deputado federal Paulo Wagner e Rosy de Sousa são os que mais têm mídias circulando. Mas o jornalista Miguel Weber, candidato a deputado estadual, não fica muito atrás. Já os deputados João Maia e Henrique Eduardo Alves concentram a ação mais afastada da capital. O deputado Walter Alves (PMDB) e o senador Garibaldi Filho (PMDB) também utilizam a estratégia, sempre vinculando a imagem a dos senadores Rosalba e José Agripino (DEM).


Opinião 4

Editor Franklin Jorge

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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010

Editorial O caos oficializado ▶ rodaviva@novojornal.jor.br

PRINCIPAL E SECUNDÁRIO

BATALHAS DA GUERRA ELEITORAL

Explicação do Superintendente da Band, Djalma Correia, para a sonegação do resultado da Pesquisa Vox Populi para o Senado, no noticiário da emissora: “A questão é exclusivamente de tempo hábil para a formatação do programa. Por termos tido pouco tempo, achamos por bem divulgar os principais dados”. Faltou tempo para a informação correta (Garibaldi, 59%; Agripino, 57%; Wilma, 39%) e sobrou para a divulgação da informação incorreta: Garibaldi, 35%; Agripino, 28% e Wilma, 22%), privilegiando o principal em favor do secundário, levando outros órgãos de comunicação ao erro.

Historicamente, a importância de Natal em qualquer eleição no Rio Grande do Norte, levava em conta, muito mais, sua importância como caixa de ressonância e influência sobre o resto do Estado do que propriamente sobre sua expressão numérica (em 1960 as bandeiras verdes mostravam a todo o Estado a definição de Natal por Aluizio Alves) em relação ao todo. Ultimamente, essa importância numérica vem se tornando cada vez mais robusta. Na eleição do próximo dia 3 de Outubro, de cada quatro votos apurados no RN, um será de Natal. Os seus 524.443 eleitores já representam um percentual de 23.35% do total do Rio Grande do Norte, tendo a seu favor os índices de abstenção bem menores do que dos chamados grotões. Se incluirmos os outros quatro municípios que formam a Região Metropolitana (Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Ceará Mirim), tal percentual se aproxima de um terço do total do Estado, ou, exatos 28.02%. Não precisa ser matemático ou estatístico para sentir o peso desta parcela na soma do todo. Por maior que seja sua estrutura, um candidato, que não tiver um desempenho satisfatório na capital, dificilmente terá condições de disputar a eleição com algum sucesso. Lembrando que na capital e cidades maiores o eleitor é muito menos dependente das chamadas estruturas Somando-se aos quase 160 mil eleitores de Mossoró, se terá quase metade do eleitorado – número que ultrapassará essa marca, se acrescentados os outros quatorze municípios de maior eleitorado. Na última eleição para o Senado, Rosalba Ciarlini terminou vitoriosa, embora seu opositor tenha sido o mais votado em 138 municípios de menor densidade eleitoral. A importância dos maiores colégios eleitorais no resultado final da eleição implica na redução da influência dos chefes políticos, e da necessidade de intermediários entre o candidato e o eleitor. Assim como Natal, a conquista dos eleitores dos maiores municípios será fruto da ação pessoal do candidato, do seu discurso. Nos próximos 17 dias será a ação física, o pé no chão, a mão na mão, o contato direto nos grandes aglomerados, até o começo da hora da verdade na TV. Certamente que a televisão – e seu horário eleitoral – terá enorme peso na avaliação dos candidatos. Fora disso, resta uma ação penosa de caminhadas para tentar uma aproximação com o eleitor, porque os showmicíos foram proibidos e o comício, propriamente dito, acabou. Resumindo: Por mais que o jogo já esteja sendo jogado e a campanha em andamento, é preciso ter consciência de que daqui pra frente o maior espaço para mudanças – se essas vierem a ocorrer – será no ringue da televisão. Depois do dia 17 de Agosto.

POÇO SEM FUNDO Enquanto se mantém estatal, a Caern continua igual a um poço sem fundo, consumindo recursos do Governo do Estado, do jeito que era com a Cosern. Sexta-feira foi publicado um resumo de convênio transferindo R$ 13.572.785,00, num total de R$ 38.074.780,73. A exemplo da companhia de energia, hoje um dos maiores contribuintes de ICMS, a Caern nem pensa em transferir o imposto recebido do usuário.

MÊS DO CENTENÁRIO

A Academia Norte-rio-grandense de Letras pretende comemorar, este mês, o centenário do imortal Américo de Oliveira Costa. O ponto alto será o lançamento de sua biografia, escrita pelo neto, João Eduardo.

NEY DOGLAS / NJ

ARMA DE HUGO

O “escanteio” imposto pela exgovernadora Wilma de Faria nessa fase inicial de campanha ao candidato Hugo Manso, pode ter seu troco. E que troco... Como é o PT que tem maior tempo de TV na propaganda gratuita, um grupo do partido defende que se adote aqui o mesmo critério de São Paulo (desde a eleição de Aluízio Mercadante e mantido agora por Martha Suplicy) de não dividir o tempo de TV na propaganda do Senado com o aliado. Hugo ficaria com mais do dobro do tempo de Wilma, e como tem bom desempenho na telinha, poderia equilibrar o jogo.

Tudo que é fumado faz mal. O fumo faz mal, a fumaça faz mal” DO NEUROCIENTISTA SIDARTA RIBEIRO, QUE DEFENDE A DESCRIMINALIZAÇÃO DA MACONHA.

MAISA DE VOLTA Ainda este mês será feito um teste de carga do maquinário da fábrica de polpa de frutas da antiga Maisa, dando início ao processo de funcionamento, por todo o mês de setembro. Fechada há dez anos, a fábrica foi arrematada, num leilão da Justiça do Trabalho pelo grupo paulista Rosatex, que vinha atuando na área de cosméticos, com fábricas em cinco estados. O grupo pretende manter a marca Maisa, muito mais forte do que as dificuldades que a empresa enfrentou até o seu fechamento.

MUDANÇA NA EDUCAÇÃO

Considerada uma das áreas mais sensíveis na Secretaria de Educação, a Subcoordenadoria de Ensino Médio está mudando. Erileide Maria de Oliveira Rocha substituiu Maria do Socorro Ferreira de Souza.

COMEÇA O CENSO O chefe da unidade estadual do IBGE, José Aldemir Freire, acompanhado de sua equipe estará, hoje, às 8 hs, na residência oficial (rua Desembargador Raimundo de Brito, nº 1891, em Morro Branco para iniciar a contagem populacional do Rio Grande do Norte, entrevistando o governador Iberê Ferreira de Souza.

NOVA FACULDADE

As inscrições para o primeiro vestibular da Faculdade D. Heitor de Araújo Sales, da Arquidiocese, vão até sexta-feira próxima. No sábado serão aplicadas as provas para acesso aos cursos de Teologia e Filosofia.

GRANA DOS VELHINHOS

Aposentados da Previdência Social, que ganham mais de um salário mínimo, começam a receber, nesta segunda-feira, a diferença dos 7.72% do aumento correspondente ao período de janeiro a junho. No Rio Grande do Norte são beneficiados 56.763 aposentados que receberão R$ 70 milhões.

PERSONAL STILYST

Uma especialista em moda feminina, analisando o visual das candidatas, disse acreditar que a ex-governadora Wilma de Faria contratou os serviços de uma personal stylist que estaria definindo os modelos cheios de estampas para transmitir um ar de juventude na candidata. Dilma Rousseff, na última quarta-feira, em Natal, desfilou dois modelos nas poucas horas em Natal: “Tailler” verde para a reunião da SBPC e blusa vermelha PT na carreata.

ARENGA A VISTA

O Conselho Municipal de Saúde resolveu radicalizar contra a terceirização da gestão da Unidades de Saúde (UPAs), antes mesmo de fazer avaliação do modelo de gestão em benefício do usuário. Está propondo a anulação imediata do contrato firmado com o Instituto Pernambucano de Assistência e Saúde.

PARCERIA LITERÁRIA

O nosso Café Santa Clara – agora 3 Corações – firmou uma parceria com o jornal Folha de S. Paulo marcando presença no Flip, que começa nesta quarta-feira, na cidade de Paraty. No Espaço Folha de S. Paulo, no Festival, o café é 3 Corações.

ZUM ZUM ZUM ▶

Zé Agripino fala no programa Compromisso com o Desenvolvimento, da Fecomércio, nesta segunda, ao meio-dia, no Hotel Escola Barreira Roxa. ▶ Completa 140 anos neste domingo da chegada a Natal dos Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai, passageiros do navio Marcílio Dias. ▶ O Governo do Estado transferiu

R$ 400.000,00 para a Faculdade de Ciência da Saúde, da UERN, em Mossoró. ▶ Contagem regressiva: - Neste Domingo, só ficam faltando 62 dias para a Eleição. ▶ A Universidade Federal abriu concurso para escolha de uma logomarca para o projeto de coletas seletivas nas residências universitárias.

▶ O aniversariante do domingo é a Paróquia de Santa Terezinha, no Tirol, criada em 1950, como Freguezia. ▶ Diógenes da Cunha Lima defende a instalação de um Memorial de Nísia Floresta para marcar o seu bicentenário. ▶ O jornalista Jailton Guedes da Fonseca foi acometido de um infarto na manhã desse sábado.

▶ Nesta segunda-feira completa 47 anos da criação do município de Passa e Fica, desmembrado de Nova Cruz. ▶ Aluízio Alves Filho promove jantar, nesta segunda-feira para comemorar aniversário e fazer o pré-lançamento do livro “Repensando o tempo”. ▶ Michel Temer, Presidente do PMDB, disse a revista Veja, nas bancas, que o partido está “92% unido”.

O secretário de Educação convocou a imprensa nesta semana para apresentar um diagnóstico do setor no estado, o que há muito se aguardava. Otávio Tavares, o décimo a ocupar a pasta em quase oito anos de governo, reuniu inúmeros dados estatísticos para chegar a uma conclusão que há muito tempo já se sabia, porque na prática dói em cada pai e em cada aluno que depende da educação oferecida pelo estado. Faltam professores – e muitos. No ensino médio, não há professores de Matemática, Física, Química, Biologia e Espanhol. No caso do ensino fundamental, faltam os docentes de Artes, Língua Portuguesa, Matemática e ainda os polivalentes, que atuam nas primeiras séries. Como se constata, é abissal a distância entre a qualidade da educação oferecida pela rede pública e pela rede privada, o que explica, em parte, por que alunos da escola pública não chegam à universidade. E compreende-se também a razão do baixíssimo rendimento do estado no Ideb e no Enem. O que chama a atenção, tanto quanto essa triste constatação, é o fato de o quadro real da Educação ser divulgado somente agora, quase no final do governo. É grave porque somente agora, a cinco meses do fim da atual administração, sabe-se por exemplo, que entre 2003 e 2010 nada menos do que 9.560 professores saíram da sala de aula, a maioria deles – 7.819 – porque se aposentou. Completam o total, os exonerados (612), os falecidos (239) e os readaptados (839). Será que ao longo dos últimos oito anos ninguém na Secretaria da Educação informou ao gabinete que vários professores estariam se aposentando e que, por isso, a vaga precisaria ser reposta? E por que há tantos professores afastados da sala de aula, em outras funções? Nesse caso, são mais de 4.500. Os especialistas em educação consideram que uma das razões que levaram o RN a amargar os péssimos resultados nos índices nacionais de eficiência do setor é exatamente a descontinuidade administrativa. Não há gênio em educação – nem um Paulo Freire, nem um Darcy Ribeiro – capaz de fazer o sistema funcionar após a troca de dez secretários. Um descuido com a educação, cujas conseqüências teriam de ser cobradas – como se verifica agora, bem mais rápido do que se imaginava. Os grandes prejudicados são os estudantes. Os de ensino médio vão se submeter ao concurso vestibular em completa desvantagem Qualquer discurso em defesa da melhoria da educação naufragaria diante de uma realidade dessas. A entrevista do secretário, portanto, explica mas não justifica. Pior: oficializa o caos.

Artigo CARLOS MAGNO ARAÚJO Diretor de Redação ▶ carlosmagno@novojornal.jor.br

Diz que fui por aí O recorte é surreal e remete a Nelson Rodrigues. Na semana em que a violência sexual se repetiu e em que se descobriu uma rede de prostituição infantil com base em Apodi, duas meninas, de 14 e 17 anos, em Natal, resolveram sair de casa, por dois dias, para...curtir. Enquanto os tecnocratas festejam os dez anos de um estatuto que ainda não foi totalmente implantado, enquanto o crack arrasa uma geração inteira, as garotas resolveram dar um “rolé”, uma “banda”, sem avisar ninguém. No estilo diz que fui por aí. Descobertas e conduzidas à delegacia, ficaram chateadas porque os pais acionaram a polícia e avisaram a imprensa. Estavam, disseram elas, na casa de dois outros garotos, um deles maior de idade – 21 anos – se conhecendo melhor, embora uma delas fosse prima de um deles. Pura e simplesmente, elas contaram que só queriam “ficar”. Diante do que se vê na TV todo dia, os pais das adolescentes não tinham dúvida. Imaginavam as filhas mortas. Aos policiais e aos jornalistas, as meninas disseram que saíram de casa porque quiseram e não avisaram à família porque, certamente, seriam repreendidas. Como se fosse adulta, pagadora de impostos e responsável pela feira do mês, uma delas afirmou: “Só queríamos que ela (a mãe) se acostumasse com a idéia (de sair de casa)”. A outra achou que houve exagero por parte dos pais, que ficaram dois dias sem notícias das filhas. Os garotos? Sorridente, um dos colegas confirmou que foram as meninas que os chamaram para fugir. Não houve violência nenhuma. E disse que até queria namorar uma delas. Mas depois do barraco, desistiu. O episódio foi, sim, isolado. Não houve vítimas, no sentido rigorosamente policial do termo, nem sinais evidentes de violência. As moças fugiram de casa, numa travessura extemporânea, e a ela voltaram após a parada breve na delegacia. Para os pais, em vez da dor da perda, o alívio; mas certamente, se pudessem ilustrar, e apagar, o recreio fora de hora e de tempo das meninas com um pensamento rodrigueano encontrariam um lapidar para a ocasião: nem toda mulher gosta de apanhar, só as normais. Há algumas semanas falei aqui da minha avenida, a Gastão Mariz, que fica em Nova Parnamirim. Dizia que considerava minha porque precisava vencê-la todo dia, uma buraqueira danada. Evidente que não por causa das críticas feitas aqui, o governo resolveu recuperar o trecho. Está uma beleza, todinha recapeada. Só achei cara, mas disso não entendo. Para consertar os 3,5 Km o governo pagará R$ 912 mil – quase um milhão.


▶ POLÍTICA ◀

NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

Painel RENATA LO PRETE Da Folha de São Paulo

painel@uol.com.br

Segunda tentativa Praticamente varridos do Legislativo nas eleições de 2006, congressistas que tiveram o nome ligado à máfia dos sanguessugas planejam a volta aos gabinetes de Brasília ou às Assembleias do país. De um total de 86 deputados federais e senadores contra os quais a CPI ou a Procuradoria da República apontaram indícios de envolvimento, mais da metade – 46 são candidatos à Câmara, ao Senado ou às Assembleias. Entre eles estão o ex-deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), acusado de integrar o ‘braço político’ do esquema, e o 2º suplente na chapa ao Senado de Aloysio Nunes Ferreira (PSDBSP), Gilberto Nascimento, que decidiu na sexta abandonar a disputa, após ser procurado pelo Painel da Folha.

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ALÉM DO TÍTULO,

/ URNA / NOVA LEGISLAÇÃO OBRIGA APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO JUNTO COM O CERTIFICADO ELEITORAL NA HORA DO VOTO

A FOTO TIAGO LIMA / NJ

ANNAPAULA FREIRE DO NOVO JORNAL

A PARTIR DE

PROCESSO Nascimento teve o seu caso arquivado pela CPI dos Sanguessugas, por falta de provas, mas o Ministério Público de Mato Grosso - que concentra as investigações - o denunciou por formação de quadrilha e corrupção passiva. Ele diz que se limitou a apresentar uma emenda ao Orçamento e que a Justiça comprovará a lisura de seus atos. Aloysio Nunes afirmou, via assessoria, que tinha ciência apenas do arquivamento do caso na CPI.

FICHA

A lista dos candidatos inclui os dois ex-deputados que renunciaram ao mandato para escapar da cassação, Coriolano Sales (PSDB-BA) e Marcelino Fraga (PMDB-ES). Este, porém, é um dos 14 candidatos barrados agora pelos TREs por causa da Lei da Ficha Limpa.

SENADO

Entre os que concorrem ao Senado ou à suplência, também são réus na Justiça os ex-deputados João Correia (PMDB-AC), Agnaldo Muniz (PSC-RO) e Pastor Amarildo (PSC-TO). No ranking partidário dos 46 candidatos, destaque para PTB (10), PR (9) e nanicos como o PRB (5).

MEMÓRIA

A CPI dos Sanguessugas listou indícios contra 69 deputados. Desses, apenas cinco se reelegeram em 2006. As investigações tomaram corpo com o depoimento da família Vedoin, que revelou a venda superfaturada de ambulâncias a prefeituras, com intermediação de congres-

sistas. Embora a PF e Ministério Público tenham incluído novos nomes no rol de suspeitos, alguns dos listados pela CPI não sofreram processo na Justiça, por falta de provas.

LINGUAGEM 1

O material do PT voltado à juventude, que será distribuído em ato na favela Cidade de Deus (RJ) no próximo sábado, dia 7, cita o Programa Nacional de Combate ao Crack como uma das realizações do governo Lula para os jovens. O programa nacional foi lançado só em maio, após Dilma Rousseff passar a abordar o tema na campanha.

LINGUAGEM 2

Na parte das promessas, Dilma diz que, se eleita, irá ‘inserir a juventude nos preparativos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016’. Mas não detalha como. As outras sete promessas do panfleto são extensões de benefícios criados no governo Lula.

NEW LOOK

Em junho, quando o marqueteiro João Santana lhe apresentou uma sugestão de roupas para uso nas gravações dos programas de TV, Dilma não gostou muito do que viu. Acabou vetando as peças e indicando uma loja de aluguel de roupas de Porto Alegre.

CONTENÇÃO

Coordenador da campanha de José Serra, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) agendou um comício para o candidato em Pernambuco, no sábado. No Estado, há uma debandada em curso de prefeitos e candidatos a deputado.

TIROTEIO Há oito anos o Brasil sabe o que Dilma pensa. Já o Serra mais parece um camaleão: começou a campanha dizendo que não era de oposição e hoje parece um troglodita. DO DEPUTADO CÂNDIDO VACCAREZZA (PT-SP), sobre a afirmação de Serra de que não sabe o que sua adversária pensa porque ela não iria a debates.

CONTRAPONTO O TEMPO VOA Agora candidato ao Senado, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) tentava driblar um plenário da Câmara lotado, em março, para chegar à tribuna: - Presidente, o congestionamento tirou quase um minuto do tempo da minha fala! Quando cheguei à tribuna, ele já estava correndo! - É que aqui as coisas passam rapidamente -, devolveu Michel Temer (PMDB-SP). Ao que Aleluia, 62, resolveu apelar, para gargalhada geral: - É que eu já não tenho tanta mobilidade assim.

uma regulamentação da Lei 12.034 de 2009, passa a ser obrigatória a apresentação, no ato do voto, do título de eleitor acompanhado de um documento de identificação com foto, seja identidade, carteira de motorista, certificado de reservista, carteira de trabalho, ou carteira de classe. Nos pleitos anteriores, o eleitor tinha a opção de exibir em sua zona eleitoral somente um dos documentos citados. Segundo a diretora geral do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte (TRE/RN), Andréia Campos, a medida visa coibir fraudes. “É para proteger o processo eleitoral. Há a certeza de que a urna eletrônica é segura, mas a fraude ocorre na hora da votação”, declarou. Embora a nova regra tenha o intuito de dar maior legitimidade aos candidatos escolhidos no processo eleitoral, o TRE teme o aumento no número de abstenções por parte do eleitorado. Andréia acredita que por se tratar de uma exigência ainda pouco conhecida, muitos eleitores deixem de exercer seus direitos de cidadão nas eleições de 2010. “Não há o costume de levar os dois documentos. Quanto mais a mídia divulgar essa obrigatoriedade, menores os transtornos no

▶ Tribunal Regional Eleitoral teme número de abstenções por causa da mudança momento da votação”, disse. Ela salienta ainda que em onze municípios do estado o eleitor poderá apresentar apenas o título de eleitor. Em Alexandria, João Dias, Pilões, Caraúbas, Macau, Guamaré, Pedro Avelino, São Fernando, Timbaúba dos Batistas, São José de Mipibu e Nísia Floresta a votação será com identificação biométrica. As zonas eleitorais desses municípios totalizam 94,5 mil eleitores. O processo de biometria consiste no cadastro das 10 digitais e

da foto de cada eleitor. O cadastro dos onze municípios do RN foi realizado entre dezembro de 2009 a março desse ano. No Brasil, a identificação biométrica começou a ser implantada nas eleições de 2008. O advogado especialista em direito eleitoral, Erick Pereira, compartilha o pensamento da diretora do TRE. Ele acredita que a apresentação dos dois documentos é uma segurança a mais para o eleitor e que é uma medida atenuante para ocorrência de fraudes. “Estamos começando a mo-

CAMPANHA DE ESCLARECIMENTO NO AR

dernizar o processo eleitoral. É um fato antecedente a utilização do voto biométrico nas eleições de 2012”, previu. A crença do advogado é de que, futuramente, seja necessária a apresentação do título, do documento com foto e da digital em todo o Brasil. Sobre a possível evasão, Erick afirma que o eleitor terá de se acostumar com os novos trâmites. “A eleição é um ato festivo em que é fundamental a participação do eleitor. O fato da nova exigência é secundário diante do voto.” HUMBERTO SALES / NJ

NELSON JR. / ASICS / TSE

A Justiça Eleitoral começou a veicular ontem em todas as emissoras de rádio e televisão, campanha de esclarecimento e conscientização do eleitor que terá como conceito “Você pode escolher o seu destino”. O presidente do TSE, Ricardo Lawandowski, destaca que o eleitor que não tiver o título ou a carteira de identidade deverá providenciar para obter esse documento o mais rapidamente possível, sendo que a reimpressão do título de eleitor poderá ser pedida nos cartórios eleitorais até o dia 23 de setembro. O presidente do TSE também afirma que a campanha vai enfatizar a importância do voto consciente para que o eleitor não venda o seu voto, pesquise os antecedentes dos seus candidatos e se informe acerca das ideias, dos programas e projetos daqueles que concorrem às eleições. “É uma campanha bastante interessante que tem uma linguagem que pode ser facilmente compreendida pelo eleitor médio e, com isso, nós entendemos que o TSE cumpre a sua missão que não é apenas a de organizar as eleições e apurar os votos ou de julgar uma eventual dissídios e controvérsias que possam surgir do processo eleitoral, mas cumpre a sua função que, me parece das mais importantes, que é a de conscientizar o eleitor”, afirma o ministro Ricardo Lewandowski ao destacar ainda que “essa função pedagógica deve ser exercida não só pelos membros do Poder Judiciário, mas por todos aqueles que ocupam cargo público”. Os objetivos principais são

▶ Ricardo Lewandowski conscientizar o eleitor sobre a importância do voto e motiválo a participar do processo eleitoral, destacando que ele é soberano na hora do voto. O filme conceitual compara a urna eletrônica a uma máquina onde o eleitor pode escolher o seu destino. O cidadão é apresentado como agente capacitado para fazer opções inteligentes para a sua vida. O ator Marcius Melhem foi escolhido porque, como humorista, tem facilidade de transmitir as mensagens da Justiça Eleitoral de forma leve, agradável e bem humorada, estabelecendo empatia com o público. A campanha também trata de temas específicos como a proibição da compra de votos e ressaltar a importância de se pesquisar o passado do candidato para fazer boas escolhas. Além disso, haverá peças didáticas para informar o eleitor sobre a data e hora do pleito, documentação necessária, segurança do sistema eletrônico de votação e ordem de votação.

▶ Título eleitoral terá que ser apresentado junto com identificação com foto

VOTO EM TRÂNSITO Na primeira fase, uma peça chamará a atenção para a possibilidade do voto em trânsito, nas capitais do país, para votação a presidente da República. O eleitor que estiver fora do de seu domicílio eleitoral em 03 e 31 de outubro primeiro e segundo turnos) será informado de que tem até 15 de agosto para procurar um cartório eleitoral. A campanha será composta por 26 filmes, divididos em quatro fases, sendo uma no segundo turno, seja ele para a eleição presidencial ou para as eleições para governador. A mesma estrutura está prevista para o rádio. Na primeira fase, que compreende 9 peças para TV, além de dar ênfase à exigência da apresentação de dois documentos e ao voto em trânsito, a campanha vai orientar sobre a compra de votos e a importância de se pesquisar o passado do candidato. Nesta primeira etapa, a cam-

panha ainda vai explicar as funções dos ocupantes de cada cargo em disputa nestas eleições (presidente da República, governador, senador, deputado federal e deputado estadual/distrital). Pesquisa qualitativa encomendada pelo TSE para preparação da campanha mostrou que os eleitores desconhecem o papel dos políticos que serão eleitos em outubro. O material gráfico da campanha é composto de quatro cartazes com orientações sobre os procedimentos da votação, a justificativa eleitoral, a exigência dos dois documentos e o conceitual. Também serão distribuídos 54 milhões de cola – impresso com a ordem da votação e espaços para preenchimento do número dos candidatos. A Justiça Eleitoral incentiva o eleitor a levar a cola preenchida para votar, tendo em vista que estas eleições têm procedimento de votação mais complexo por envolver a escolha de candidatos a seis cargos.


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▶ OPINIÃO ◀

/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010

FRANKLIN JORGE Jornalista

Cascudo e a política ESCREVENDO EM 10

de março de 1950 em sua famosa Acta Diurna, então publicada no Diário de Natal, anotava Luis da Câmara Cascudo que faltava doutrina aos nossos partidos políticos. Decorridos sessenta anos desde essa data o quadro continua inalterado e talvez agravado pela intromissão de novas culturas políticas, como o Partido dos Trabalhadores (PT), que entre outras coisas questionáveis nos legou o Mensalão, o hábito de esconder dólares em cuecas, a arapongagem fora da lei, os dossiês invasivos e a indigesta pizza parlamentar, recheada dos piores elementos e por isso mesmo indigerível, para a maioria dos brasileiros que repudiam a corrupção, mas costumeiramente, por faça do hábito, continuam votando em candidatos notoriamente corruptos. Cascudo, que por muitos anos cultivou o sonho de tornar-se senador da República, escrevia , confirmando a regra: “os estudiosos da política brasileira, e não seus devotos e pregoeiros, lamentam a ausência de doutrina nos partidos nacionais”. Reconhecia assim que o mal é velho e para reforçar suas palavras, citava o Visconde de Albuquerque, protagonista e observador da cena política no Império, que no Brasil “a cousa mais parecida com um Saquarema (conservador) no poder é um Lu-

zia (liberal) em condições idênticas”... Mais didático, impossível. Aí está o PT, que desfruta muito à vontade de todos os vícios que condenava nos governistas quando era oposição. Atendo-se ao momento presente (os anos 50 do século passado), ponderava Cascudo que “agora mesmo ninguém sabe ao certo os elementos essenciais distintivos entre o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN) e apontava para o fato, ainda vigente em nossos dias -, universalmente aceito e reconhecido, distingue apenas os nomes dos chefes “fixados diariamente nos jornais nas escaramuças desinteressantes e frias da sucessão”. Desse personalismo alienante e alienador resultaria atualmente, como encarnação do PT, esse tipo falastrão, borracho e papudinho que preside e a República, o excelentíssimo senhor Luis Inácio Lula da Silva que, de passagem por Natal, no espaço de uma curta meia hora em que foi matar a fome na churrascaria Sal e Brasa, entornou treze lépidas caipirinhas; sem contar os seus asseclas José Dirceu, Genoíno, Renan Calheiros, Romero Jucá, Antonio Palocci, Aluizio Mercadante, Tarso Genro, José Sarney, Fernando Collor de Melo etc, alguns, no entanto, oriundos de outros partidos, como

franklinjorge@novojornal.jor.br

o PMDB, mas petistas na índole e na maneira de operar no campo da política... E, nivelando-os por baixo – acrescentarei -, a incansável luta pelo poder e a mais absoluta e desbragada ausência de credo e programática a dirigir-lhes os passos; credo que, numa democracia forjada no respeito às idéias, devia sobrepor-se às simpatias e ao personalismo tão caro e evidente nas tiranias. Nos embates eleitorais, por exemplo, até os planos de governo são ignorados ou sua discussão se faz de maneira fortuita e superficial, pois há no Brasil como que um consenso tácito em torno da sua desimportância – da desimportância, diga-se, da programática e do credo políticos que num país sério deviam reger todo aquele que disputa um mandato popular. Assim, resumia Cascudo essa deplorável realidade dominante: “Na impossibilidade da adesão pela doutrina programática, (...) decidiam-se pela simpatia dos orientadores nacionais ou estaduais. A frase comum é apenas indicar: - acompanho fulano... Esse fulano é a doutrina... Nada mais”. Comentando então noticiário do The Evening Standard sobre os principais partidos ingleses, observava o mestre norte-riograndense que tanto o partido Conservador como o Trabalhista seguiam à risca suas respectivas doutrinas, produzidas não para ludibriar o eleitorado, mas para facilitar-lhe a escolha de seus representantes. Afirmava Cascudo que o processo de esclarecimento do corpo eleitoral ainda não havia chegado ao Brasil, embora reconhecesse que naqueles anos 50 – em relação aos anos 30, por exemplo - já estávamos irretorquivelmente cem por cento mais esclarecidos, mas essa posição seria quase sempre impulso natural, orgânico, “irresistível no espírito popular, desajudado pela demagogia prometedora do período das propagandas, mas sempre ansioso de elevação e eficiência de sua representação parlamentar”.

DE COMO RECONHECER UM (FALSO) LITERATO Disse Borges que, para desmoralizar um falso escritor faz-se suficiente dar-lhe o titulo de “doutor” e “excelência”. “O poeta dr. Fulano de Tal desencarnou e foi morar noutra dimensão”, eis aqui um bom exemplo dessa arte da injúria com que se divertem os mestres atentos ao uso da linguagem forjada a partir do mau uso das palavras, ou seja, das palavras escolhidas sem rigor ou recolhidas de um vocabulário indigente acomodado ao lugar-comum. Outra forma terrível de achaque seria dizer que um escritor faz sucesso e vende bem... É evidente que um escritor cônscio do que cria pode utilizar-se de um ou outro termo especioso, não para ornar-se como faz o carnavalesco que abusa das lantejoulas e das pedras falsas para embonitar-se e chamar a atenção para os seus meneios e requebros verbais. Geralmente o subliterato usa cinco palavras em vez de uma ou duas para dizer a mesma coisa. Não. Ele o faz porque conhece a língua e certamente deseja obter um certo efeito de estilo ou até por uma idiossincrasia qualquer que se faz desculpável num talento de verdade. Assim, até o lugar-comum revestese de significado quando tratado por quem é do ramo, como João Guimarães Rosa ao transformar o verbo morrer em encantar-se. Mas, por ser quem é, podia Rosa dar-se a semelhante desfrute sem incorrer no ridículo que enfarpela os diluídores acríticos. Outra forma tremenda seria adotar a fórmula que despacho o falecido para “um outro plano” ou, ainda mais grotesco e risível, “plano astral”. Um escritor de verdade diria simplesmente que o fulano morreu, sem esforçar-se para parecer original, pois morrer é um hábito que sabe ter todo mundo. O fragmento acima, colhi-o em um dos meus cadernos de notas. Publico-o na suposição de que pode ser útil, pois a experiência me assegura que os maus escritores são os melhores mestres daqueles que se empenham em escrever bem, ou seja, sem inúteis floreios, sem retórica, sóbria e eficazmente como convém à prolixidade do real.

Franklin Jorge escreve nesta coluna aos domingos

Plural

Cartas do Leitor

FRANÇOIS SILVESTRE Escritor ▶ fs.alencar@uol.com.br

▶ cartas@novojornal.jor.br

A falsa promessa Uma das bobagens litúrgicas mais pomposas do catolicismo é aquela promessa feita no ato do casamento. “Amar até que a morte nos separe”. Já foi dito que a morte não separa ninguém, quem separa é a vida. Porém não é aí que está a falsidade da promessa. Ninguém pode prometer o que não possui. E ninguém tem controle ou posse dos sentimentos. A ninguém foi dada a escolha dos afetos. Nem sua duração ou intensidade. Lembra a origem romana das obrigações contratuais. E o casamento é um contrato. Seja profano ou religioso. A primeira regra contratual ou cláusula de obrigação tem no “pacta sunt servanda” sua sustentação. Isto é, após o contrato você vira servo do que foi pactuado. Cláusula rigorosa que não alcança alterações da realidade, aquelas que não consultam a vontade do pactuante. Ora, ninguém pode se obrigar a cumprir acerto de prestação futura, cuja realidade seja modificada sem a interferência dos contratantes. Isso é comum nas obrigações contratuais das colheitas, por exemplo. Ou que dependam de imperativos naturais, sociais ou econômicos. Foi por isso que nasceu a cláusula circunstancial do “rebus sic stantibus”. Onde o cumprimento do contrato de prestação futura ou sucessiva depende da manutenção das condições postas à época pactuada ou da obrigação estabelecida. Ao trazermos essa assertiva para o campo do casamento, contrato especialíssimo, cai como chapéu em cabeça de bêbado a inevitável comparação. Alguém pode prometer amor eterno? E se prometer, pode cumprir? O amor da manhã nem sempre é o da tarde. Há quem ame até à morte a mesma pessoa? Há. Mas isso está no campo das possibilidades. Não na certeza do contrato. E pode acontecer sem necessidade da promessa. Nem das igrejas. Ou dos cartórios. O maior pilar de sustentação das igrejas cristãs não é a fé, nem a caridade, nem a piedade. O que as sustenta é a culpa. É em torno da culpa e da administração dela que vivem as igrejas católicas e evangélicas. Sem exceção. Umas negociam a salvação da alma. Outras, a melhoria do corpo. Todas a vender lotes no céu. E a bolsa de valores oscilando na esperteza entre as ações e valorizações das prebendas que estabelecem a redução das culpas pela troca de indulgências. Chega à memória a cena de Giovanni Mastai Ferretti, o Pio IX, escondendo sob a sotaina o menino judeu expropriado da família, para ser transformado num padre sem vocação. E em decorrência, num homem infeliz. A culpa produz medo e o medo gera infelicidade. As igrejas e seus próceres sabem disso. E apostam na infelicidade das pessoas para vender abrigo na fé. Agem como os consultores políticos e empresariais, que tomam os relógios dos clientes para lhes informar as horas. Tava falando de quê? De pacto. Ih, acabou o espaço. Té mais. François Silvestre escreve nesta coluna aos domingos

É muita falta de respeito com os usuários que ainda são obrigados a queimar debaixo do sol ou a tomar banho de chuva, por falta de abrigos. Magdala Brandão, Lagoa Seca

Mal pagos

▶ Charge publicada ontem Ivan Cabral, o chargista Quero parabenizar o chagista Ivan Cabral pela magnífica charge, cujo “texto” foi a melhor opinião sobre a marcha. O que é mais admirável numa charge é exatamente isto: dizer tudo sem uma só palavra. Geraldo Batista

Quase toda semana a gente lê criticas aos órgãos culturais. Todos eles parecem ter em comum o vicio de enganar os artistas de todas as formas, como não pagar os prêmios que elas oferecem em meio a muita publicidade, para dar a impressão a todos que estão trabalhando... Agora, o que me impressiona é que estamos em um ano eleitoral não vi ainda nenhum candidato levantando essa bandeira ou apresentando projetos para corrigir essas distorções que nos envergonham. Quando os políticos vão respeitar a cultura? Cláudia Lucena

Fiscalização A Prefeitura de Natal, através do setor competente, precisa fiscalizar os ônibus que circulam pela cidade, colocando fiscais nas paradas de ônibus para obrigar os motoristas a parar para receber os passageiros.Nem todos fazem isto. Quando há dois ou três ônibus numa parada, os que vem atrás passam ao largo, prejudicando assim os usuários que às vezes têm que esperar mais 30 ou 40 minutos pelo proximo ônibus que desejam tomar.

geralmente de péssima qualidade? É inegável que esta queda se deve à sua presença no jornalismo diário e em publicação virtual de prestigio e conceito. O que escreve sobre o professor João da Mata é a pura verdade! Como literato ele não é capaz, como aquela famosa personagem de Molière, de separar a prosa do verso. Duvido que ele tenha lido todos os títulos de Cascudo. Quero dar-lhe os meus parabéns por este artigo que hoje bem cedo li no NOVO JORNAL. Leonardo Bezerra de Castro

Cânone2 É mais uma figura folclórica da cidade, que quer entrar no céu à força, dando pitaco sobre tudo e todos. Nada se pode esperar de quem nem domina a gramática normativa. Milena Sampaio

Cânone potiguar Franklin Jorge: Sua volta ao jornalismo tem contribuído para melhorar o nível cultural da cidade. Este ano caiu significamente o número de lançamentos de livros, já ouvi dizer que pelo temor que esses falsos literatos tem da sua critica independente e lúcida. Quem não se lembra que o ano passado, antes da estréia do NOVO JORNAL, fomos bombardeados por lançamentos semanais,

Hipocrisia Uma verdadeira hipocrisia das autoridades ignorar ou querer reprimir a “marcha da maconha” que tem acontecido noutras cidades. Penso que a discussão tem que se feita em outros termos. Carlos Fontes, Candelária

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NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

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NO RN, VENTO EMBALA GANHOS NO CAMPO

/ENERGIA / ARRENDAMENTO DE TERRAS PARA INSTALAÇAO DE PARQUES EÓLICOS É NOVA FONTE DE RENDA PARA PROPRIETÁRIOS DE TERRAS DO ESTADO CANINDÉ SOARES / ABF

HEVERTON DE FREITAS DO NOVO JORNAL

OS PROPRIETÁRIOS DE

terra no Rio Grande do Norte têm uma chance de ampliar seus ganhos nos próximos anos e nem precisarão fazer um grande esforço. Eles estão vendendo vento. O Rio Grande do Norte lidera mais uma vez o número de projetos cadastrados no leilão para a compra de energia de reserva que será realizado no final de agosto pelo governo federal. Dos 399 empreendimentos inscritos, 133, exatamente um terço, ficam em solo potiguar e juntos somam 3.869 Megawatts de energia, de um total de 10.569 MW ofertados, praticamente o mesmo potencial da usina de Belo Monte, no Pará, fonte de contestação pelos impactos que irá gerar no Alto Xingu. Nem tudo isso irá efetivamente se transformar em realidade, a estimativa da Associação Brasileira de Energia Eólica é que desse total ofertado, dois mil MW sejam comprados no leilão e o Rio Grande do Norte tem tudo para ficar novamente no primeiro lugar na venda de energia produzida com a força dos ventos. No leilão realizado em dezembro do ano passado, foram comercializados 1.808 MW em 71 projetos, dos quais 23 ficam no Rio Grande do Norte e representarão a geração de 657 MW, quando estiverem todos instalados e produzindo. Atualmente há dois deles em construção, os demais estão na fase de licenciamento ou de começo da instalação. Os parques eólicos são instalados em áreas rurais em geral arrendadas porque os bancos não liberam dinheiro para a compra de terra. Como a intenção das usinas é usar o vento para movimentar imensos aero-

geradores elevados a 100 metros de altura, os proprietários podem manter na terra as atividades que já desenvolvem e ainda ganham uma renda pelo arrendamento do terreno com preços que ficam em torno de 1,5% do valor da energia gerada. O empresário Bira Rocha, expresidente da Federação das Indústrias, já fez os cálculos e estima que o proprietário pode receber em média entre R$ 7 mil e R$ 9 mil por MW instalado na propriedade, dependendo da eficiência na produção. Para cada 10 hectares é possível gerar um MW, o que significa dizer que um proprietário que possa destinar 50 hectares para a instalação das torres pode receber até R$ 45 mil pelo arrendamento. Segundo levantamentos que levam em conta a quantidade e constâncias dos ventos, o potencial do Rio Grande do Norte para geração de energia eólica pode chegar a 20 mil MW, o que significa a entrada de uma renda de R$ 140 milhões para os proprietários, levando em conta o valor mais baixo que pode render em média o MW. Essa nova fonte de renda para os proprietários rurais supera em muito os recursos dos royalties de petróleo pagos aos que tem a felicidade de ter um poço jorrando petróleo em sua propriedade. No caso do petróleo, segundo o diretor do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia, Jean Paul Prates, o royalties varia de 0,5% a 1% do que é produzido em cada poço. A diferença é que a produção de petróleo no Rio Grande do Norte tem diminuído nos últimos anos, enquanto a energia gerada pela força dos ventos está começando a se estruturar agora. Há 933 propriedades localizadas entre Guamaré e Apodi de onde se extrai

Aerogeradores são fonte de renda alternativa na agricultura

AUGUSTO RATIS / NJ

Bira Rocha

petróleo e que juntas receberam R$ 34 milhões em 2008, enquanto pelo potencial do Estado os 20 mil MW podem gerar R$ 140 milhões/ano.

ESTADO PRECISA FORMAR MÃO DE OBRA

Jean Paul Prates

o CTGAS-ER formou mais de 26 mil alunos desde a sua criação em 1998 e desde o ano passado passou a ter também um papel estratégico no incremento do uso das fontes renováveis. Um exemplo é a criação do Laboratório de Mapas e Dados de Recursos Energéticos Renováveis, com o objetivo de fornecer ao mercado acesso a um banco de dados com informações sobre po-

Paulo Nobre

Ainda há um longo caminho para o Rio Grande do Norte tornar em realidade o potencial que dispõe. Atualmente existem 107 empreendimentos que

devem estar em funcionamento até 2012 no Estado que juntos tem um potencial de produzir 3,795 MW, num investimento que soma R$ 19 bilhões. A região com maior número de projetos é o Mato Grande onde 60 empreendimentos deverão estar gerando 1,633 MW e podem gerar uma receita que é cinco vezes maior do que a receita obtida com a produção de canade-açúcar existente no Vale do Ceará Mirim. Além do Mato Grande, outras áreas onde estão se instalando parques de geração de energia eólica são o litoral Norte, a região salineira e parte na Serra de Santana, entre Campo Redondo, Lagoa Nova e Bodó. Ou seja, com exceção da região Salineira onde também há incidência de pe-

NOVA FONTE DE EMPREGO

KAMILO MARINHO / NJ

Com o mercado aquecido e a perspectiva de atrair ainda mais investimentos para o setor, a ponto de liderar mais uma vez o número de projetos cadastrados no leilão de compra de energia de reserva, o Rio Grande do Norte tem que cuidar da formação de mão-de-obra para um mercado de trabalho que necessita de pessoas qualificadas nessa área. Embora a geração de energia eólica em si não absorva grande quantidade de mão-de-obra, na fase de instalação dos parques é preciso muita gente para trabalhar na construção civil e depois há uma procura principalmente na área de engenharia elétrica e mecânica. Segundo Jean Paul Prates, um diferencial do Estado na competição com os vizinhos que também estão atraindo novos investimentos é a existência aqui do Centro de Tecnologia do Gás que incluiu no seu nome as Energias Renováveis. Já exercendo um papel decisivo no mercado de gás natural,

WALLACE ARAÚJO / NJ

tenciais dos recursos energéticos: eólico, solar, hídrico, de ondas e geotérmico. Em parceria com o Senai e a UFRN, o Centro criou um curso Lato Sensu de Especialização em Energia Eólica, além de ofertar palestras e mini cursos para capacitar mão de obra especializada. O CTGás mantém um relacionamento com os grandes fabricantes de aerogeradores com a Wobben e a IMPSA, multinacionais que possuem a mais moderna tecnologia disponível no mercado e demandam parcerias em ensaios, calibrações e formação mão de obra, além do processo de desenvolvimento tecnológico. Os estudos na área de energia solar é que ainda estão em um estágio embrionário, embora o diretor de tecnologias do CTGás, Pedro Neto, considere que há excelentes perspectivas a médio prazo. “Vamos viver um processo semelhante ao que vivenciou a energia eólica”.

O Instituto Federal de Educação também deve lançar até outubro o edital para o processo seletivo contendo uma novidade: um curso superior em Energias Renováveis, que, segundo Priscilla Fernandes, da unidade de João Câmara, deve começar a ser ofertado no primeiro semestre de 2011. O ingresso no IFRN se dá através da nota do ENEM. É importante estar atento a formação de mãode-obra porque os Estados vizinhos também estão trabalhando para atrair investimentos na área. No Ceará, foi formada a primeira turma do curso sobre manutenção e operação de parques eólicos. A diretora da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará, Cristiane Perez, estima que serão criados mais de três mil postos de

tróleo, é uma área complementar que está demandando grandes investimentos no interior do Estado. Bira Rocha defende uma posição mais ativa do governo para incentivar a produção de energia solar, outra fonte de energia limpa e cujo potencial de geração está exatamente nas áreas com menor potencial de desenvolvimento econômico no Estado entre o Seridó, o Alto Oeste e a região Central. Essa visão coincide com o que pensa o meteorologista e pesquisador do Instituto de Pesquisas Especiais (Inpe), Paulo Nobre, que em palestra na reunião da SBPC em Natal esta semana mostrou que o semiárido nordestino é a região mais vulnerável às mudanças climáticas, o que pode significar novas oportunidades de negócios a partir de uma mudança na matriz econômica hoje muito dependente de água. “Existem regiões no mundo com características semelhantes de clima e que estão se beneficiando disso, como o deserto do Saara, de onde a Europa pretende importar energia solar”. A produção de energia a partir do sol ainda tem uma participação insignificante na matriz energética brasileira, respondendo por apenas 0,02% do total que é produzido no Brasil, embora seja a forma de produção de eletricidade que mais cresce no mundo. Segundo estudos da Associação das Indústrias Fotovoltaicas Européias, desde 2003 o índice de expansão dessa indústria ultrapassa 50% ao ano, com a proliferação de projetos na China, Índia e Estados Unidos. “O governo deveria incentivar esse mercado comprando energia fotovoltaica e depois, quando tiver condições do mercado se manter sozinho o governo sairia”, defende Bira Rocha.

ENERGIA EÓLICA AVANÇA NO MUNDO trabalho naquele Estado, com os novos projetos de energia eólica. O Ceará tem 106 projetos cadastrados nos dois leilões de eólica, nas modalidades de reserva e fontes alternativas, só perdendo para o Rio Grande do Norte. O governo de Pernambuco se vale do porto de Suape para atrair empresas que fabricam equipamentos e trabalha para se firmar como o maior cluster eólico do país, reunindo ensino técnico e superior voltado para a cadeia do setor, empresas especializadas na implantação de parques eólicos e, nos últimos dois anos, conquistou a instalação de dois fabricantes de equipamentos: as torres da RM Eólica, do grupo espanhol Gonvarri, e a indústria de aerogeradores argentina Impsa.

Um estudo realizado pelas Nações Unidas aponta que 56% de todos os investimentos feitos em energia limpa no ano passado vieram da energia eólica. Só para não fugir a regra, a China foi o país que mais investiu também no setor de energia eólica acrescentando 13,8GW, o que lhe deixa com uma potência instalada total de 25,1GW, atrás apenas dos Estados Unidos que tem 35 GW e da Alemanha com seus 25,7GW. Muito a frente do Brasil que tem apenas 606 MW, portanto com um enorme potencial de crescimento.


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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010

▶ ECONOMIA ◀


Cidades

Editor Moura Neto

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NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

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/ ORLA URBANA / EMPREENDIMENTOS FECHAM, HOTÉIS E RESTAURANTES PERDEM CLIENTES, EMPRESÁRIOS QUEREM INCENTIVOS DO PODER PÚBLICO

CARTÃO POSTAL

DO DESCASO E DA DECADÊNCIA

JALMIR OLIVEIRA DO NOVO JORNAL

ESGOTO A CÉU aberto, falta de estru-

tura e de segurança, poluicão sonora, escassez de investimentos, decadência. Este é o retrato da orla urbana de Natal, situação que afasta moradores da cidade e visitantes de praias como a de Areia Preta, dos Artistas, do Meio e do Forte. Cenário diferente daquele que despontou entre os anos 70 e 90, quando o lugar fervilhava com movimentos culturais e divulgação turística. Hoje, a badalação do passa-

do deu lugar ao abandono do poder público e ao declínio econômico dos empreendimentos que ainda persistem na área. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio Grande do Norte (ABIH), nos últimos 15 anos cerca de 40 empreendimentos – entre hotéis, bares, restaurantes e outros serviços – fecharam as portas em razão da debandada de clientes e fregueses que antes freqüentavam aquele trecho da orla urbana. Em alguns hotéis, a queda na taxa de ocupação chegou a 60% nos últi-

mos dez anos, exigindo medidas urgentes dos empresários. O Hotel Ayambra, por exemplo, passou a ser ocupado, em 70% de suas vagas, por moradores mensalistas. “O calçadão está abandonado. Por lá, os assaltos ocorrem diariamente; enquanto a noite não tem atrativos”, desabafa Gianfranco Ferrari, empresário italiano que há 20 anos gerencia o Hotel Itália, na Praia dos Artistas. Nos sete hotéis ao longo da orla urbana, os preços das diárias são, em média, 30% mais baratas que os concorrentes de Ponta Negra.

A violência nos bairros periféricos à praia, como Rocas e Mãe Luíza, afasta boa parte dos turistas. É o que afirma Josélia Cunha, do Natal Praia Hotel. “As pessoas não podem ir à praia por medo”, conta. Ela explica que 90% dos seus hóspedes são brasileiros, de classe média baixa e, na maior parte, vindos de outras cidades do Nordeste. “Quem tem maior poder aquisitivo prefere Ponta Negra”, atesta. Para sobreviver às baixas estações, ela recorre ao turismo executivo, atraindo empresários e representantes comerciais que vêm a Natal para fazer ne-

gócios ou trabalhos esporádicos. “Setenta por cento da ocupação do hotel, ao longo do ano, destina-se a este público”, explica. De acordo com os empresários que atuam na orla urbana de Natal, vários fatores influenciaram na fuga dos turistas e até dos moradores da cidade: a estrutura precária daquele trecho da praia, com empreendimentos em ruínas, péssimas condições de higiene de alguns estabelecimentos comerciais à beira mar, sem falar nos problemas sociais, como prostituição, assaltos e pobreza generalizada de

90% dos moradores da região. Nem mais o calçadão da praia oferece condições adequadas de passeio para quem deseja caminhar ou correr no passeio público. Entre trechos destruídos – em razão das chuvas e da força do mar – e problemas estruturais (buracos e pedras portuguesas soltas), boa parte está intransitável. Sete pontos de despejo de esgoto mancham as praias, levando para o mar substâncias orgânicas nocivas à saúde.

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▶ CIDADES ◀

/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010

NEY DOUGLAS / NJ

▶ As praias que já foram das mais badaladas da cidade perdem clientela e, consequentemente, comerciantes e empresários faturam menos NEY DOUGLAS / NJ

HUMBERTO SALES / NJ

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio Grande do Norte, Enrico Fermi, de quem partiu a informação sobre a quantidade de estabelecimentos comerciais que encerraram suas atividades nos últimos anos na orla urbana, revela que os empresários do setor turístico solicitam que a prefeitura coloque em prática as obras do Plano Diretor da cidade. “Não se pode exigir do empresariado investimento sem infraestrutura”, alega. Ele

A COPA DO MUNDO SERÁ A ÚLTIMA OPORTUNIDADE PARA REVITALIZAR A REGIÃO. SE NADA ACONTECER, NÃO HAVERÁ MAIS SOLUÇÃO” Enrico Fermi, Presidente da ABIH

acrescenta que enquanto políticas públicas para o desenvolvimento turístico e estrutural não forem executadas, o empresariado não deve investir no local. Concessão de incentivos fiscais, como isenções no ISS e IPTU, está entre as sugestões que a ABIH apresenta ao poder público para revitalizar os empreendimentos que ainda resistem. A entidade acredita que enquanto os gestores estadual e municipal aguardam por projetos federais, como o Prodetur, as praias do centro continuarão no mesmo estado de decadência. “A ponte (Newton Navarro) foi um pequeno passo rumo ao desenvolvimento. Ligou o corredor turístico entre o litoral sul e norte, mas ainda é pouco. Ainda há muito para ser feito. A Copa do Mundo será a última oportunidade para revitalizar a região. Se nada acontecer, não haverá mais solução. Mas enquanto há vida, há esperança”, desabafa Fermi.

▶ Cládio Barros, empresário: “Nossa clientela é de natalenses”

▶ Delzuita Almeida, turista: “Fomos enganados”

NEY DOUGLAS / NJ

▶ Hotel dos Reis Magos: ainda fechado

EMPRESARIADO COBRA PROVIDÊNCIAS D’LUCA / NJ

▶ Paulo Galindo, empresário: “Pedimos melhorias”

O vice-presidente do Sindicato de Bares, Hotéis e Restaurantes do Rio Grande do Norte, Paulo Galindo, também empresário atuante na Praia dos Artistas, onde toca há mais de 25 anos o complexo Chaplin, englobando bar, restaurante e espaço para eventos, afirma que o empresariado cobrou diversas vezes providências para mais investimentos na área. “Em nossa pauta de reivindicações, pedimos melhorias na iluminação, mais faixas de pedestres, controle sobre os vendedores ambulantes, reconstrução da orla, desobstrução das vias e melhorias no saneamento e recolhimento do lixo”, destacou. Outra reivindicação dos empresários é a criação de um programa de incentivos fiscais, além de uma articulação com bancos e instituições financeiras, para atrair novos empreendimentos. “Um grupo espanhol está chegando para implantar um grande restaurante de cozinha in-

ternacional, que será inaugurado na Ponta do Morcego”, conta. Caso não exista uma política de incentivos fiscais para projetos turísticos e um plano de urbanização de toda a área, de acordo com Paulo Galindo, as tentativas de revitalização morrerão na beira da praia. Ainda na Praia dos Artistas, um restaurante sobrevive pela tradição e pela boa comida que serve. Ainda assim, a Peixada da Comadre, com 79 anos de história, perdeu cerca de 30% de seus clientes ao longo da última década, de acordo com Cláudio Barros de Morais, um dos administradores e herdeiros do empreendimento criado pela matriarca Francisca Barros. “Nossa clientela é formada pelos próprios natalenses, não dependemos de turistas para sobreviver. O diferencial é fidelização pela barriga”, conta Cláudio, um dos 12 filhos de Francisca. Ele lembra que o deck cons-

truído pela prefeitura na Ponta do Morcego, um local que deveria ser de contemplação, em pouco tempo, devido ao vandalismo tornouse um local inseguro. “Quem chegava era assaltado”, completa. Em fevereiro de 2009, o deck foi retirado pela Semsur (Secretaria Municipal de Serviços Urbanos), e, até o presente momento, não há previsão de reconstrução. Até os pequenos comerciantes, proprietários dos quiosques da orla, também contabilizam prejuízos com a falta de estrutura do local. O cozinheiro Armando Figueiredo, dono de um quiosque na Praia do Meio, conta que o trabalho acaba por volta das 19h. “Durante a semana, o calçadão fica vazio. A falta de iluminação e de segurança inibe os turistas”, desabafa.

OÁSIS

Fugindo à regra, o Centro de Artesanato da Praia dos Artistas, com a reforma que recebeu

há dois anos, tornou-se ponto de intenso fluxo de turistas. O local conta com 110 lojas de artesanato, empregando 3 mil pessoas que comercializam produtos regionais, moda praia, lembranças da cidade, camisetas, redes, bordados, além de possuir uma praça de alimentação e de serviços. Antes da reforma, o número de visitantes diários beirava 800 pessoas. Hoje, as lojas e a praça de serviços chegam a reunir 2 mil pessoas por dia. Mas nem tudo são flores. Segundo o gerente Tarcísio Lucena, os turistas não encontram outra atração turística para estimular sua permanência nas praias do centro. “As pessoas descem dos ônibus de turismo, compram e vão embora”, expõe. Segundo Edmília Alencar, lojista, atualmente 60% dos turistas são oriundos do Nordeste. “A imensa maioria vem de Recife e Salvador. É raro encontrar estrangeiros por aqui, algo comum há 10 anos”, conta.

TURISTAS SE DIZEM LESADOS Um dos pontos críticos na estrutura da orla está na Praia do Meio, em frente à sede da Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Natal, onde um trecho do passeio com cerca de 20 metros desabou. A mureta de proteção e parte do calçadão foi engolida pelo mar. Quem anda pelo local se arrisca a caminhar pela avenida ou cair na cratera que existe no local. Em frente a um hotel na Praia do Meio, a turista Delzuita Almeida vociferara: “Fomos enganados”. Ela e um grupo de amigos saíram de Pirenópolis, cidade localizada no Norte de Goiás, para um curto período de férias em Natal. Quando se hospedaram encontraram lixo nas calçadas, esgoto à beira mar, telefones públicos quebrados e um transporte público ineficiente. “Vim para um paraíso e cheguei ao inferno. Nós pensávamos em outra coisa e encontramos este horror. Nem os telefones públicos funcionam”, conta a turista. O grupo de amigos, fugindo da poluição na praia, fretou um ônibus – um custo a mais para a viagem de duas semanas – para visitar praias do Litoral Sul. “Fomos para Pirangi e Búzios para poder usufruir do mar e adoramos o passeio, mas não foi o que pagamos. Nós queríamos tomar banho aqui, na Praia do Meio. É um pecado encontrar esta praia assim. Um local tão bonito destruído desta forma”, frisou Delzuita.

NÚMEROS

▶ EMPREENDIMENTOS FECHADOS: 40 ▶ QUEDA NA TAXA DE OCUPAÇÃO NOS HOTÉIS: 60% ▶ QUEDA NO NÚMERO DE CLIENTES EM RESTAURANTES E QUIOSQUES: 30% OCUPAÇÃO NOS HOTÉIS

90% DE BRASILEIROS

COM BAIXO PODER AQUISITIVO

80% DE NORDESTINOS

FONTE: ABIH E EMPRESÁRIOS

SEM ESTRUTURA, NÃO HÁ INVESTIMENTO

NEY DOUGLAS / NJ


▶ CIDADES ◀

NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

FALTA / CIÊNCIA / LUCIANO ARAÚJO, PRESIDENTE DA ACADEMIA BRASILEIRA DE NEUROCIRURGIA, CRITICA A FALTA DE APOIO OFICIAL EM PESQUISAS

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NEURO INVESTIMENTO

FOTOS: HUMBERTO SALES / NJ

RAFAEL DUARTE DO NOVO JORNAL

O PRESIDENTE DA

Academia Brasileira de Neurocirurgia, o potiguar Luciano Araújo, 65, faz coro com as queixas do neurocientista paulista radicado em Natal, Miguel Nicolelis, sobre a falta de empenho do poder público nos investimentos em pesquisas da área. Por conta disso, afirma, o Instituto Internacional de Neurocirurgia de Natal Edmond e Lily Safra (IINNELS), idealizado por Nicolelis em Macaíba, não desenvolve pesquisas de ponta. “Os grandes projetos de Nicolelis, como o de Parkinson, por exemplo, são feitos em centros fora do país, como os EUA. Até porque aqui não há estrutura. O instituto de Natal não está num patamar de desenvolvimento em pesquisas ainda, o que deve ocorrer de forma gradativa. Hoje o que se faz é um belo trabalho nas escolas mantidas pelo INN, onde crianças pobres que não sabiam de nada produzem melhor que alunos de escola particular, além de estudos baseados em teses de mestrado. Podia haver mais empenho por parte do poder público”, critica. Professor de neurocirurgia da UFRN (graduação e pós), chefe do Departamento de Neurocirurgia do Hospital Walfredo Gurgel e coordenador do Departamento de Traumas da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, além de presidir há um ano e quatro meses a Academia Brasileira de Neurocirurgia, Luciano Araújo voltou há duas semanas de uma viagem a Alemanha, onde representou o Brasil com outros dirigentes de entidades da área na solenidade de comemoração pelos dez anos do Instituto Internacional de Neurociência de Hanover, um dos maiores e mais avançados centros do mundo na área de pesquisa do cérebro. E compara o apoio dado na Alemanha ao instituto e ao incentivo do centro natalense. “Na cerimônia, o primeiro-ministro alemão compareceu, perguntou o que o diretor geral do ins-

tituto precisava e garantiu todos os investimentos. Aqui, e de certa forma no Brasil como um todo, não há apoio. E o incentivo do poder público é fundamental para a pesquisa”, frisou. Outro ponto comparado por ele que diferencia os institutos internacionais de Hanover e o de Natal, segundo o neurocirurgião, é a integração institucional. Ele vê um distanciamento do centro natalense e também põe na conta da falta incentivo dos governos o problema. “Você chega ao Instituto de Hanover e vê um laboratório todo equipado, uma integração entre todos os setores. Aqui vejo um distanciamento. Olhe que o Nicolelis se queixa da rua que não foi asfaltada. Faltam condições de trabalho, importação de material de pesquisa. O instituto tem a companhia dos nomes Edmond e Lily Safra porque precisou vir um banco do exterior investir dinheiro no projeto”, reflete.

REVOLUÇÃO

Luciano Araújo lembra que a década entre 1990 e 2000 pontuou uma espécie de revolução na área de pesquisas sobre o cérebro. Nesse período, cientistas do mundo inteiro se debruçaram sobre o estudo do órgão motor do corpo humano e como conseqüências surgiram novas tecnologias, o aparelho de ressonância magnética nuclear e a cirurgia robótica. Ele conta que o Brasil, embora dirija as principais associações de neurocirurgia da América Latina, não acompanhou o momento. “Na chamada ‘década do cérebro’, falei que os cientistas se reuniram de 1990 a 2000. Eu acabei de voltar das comemorações pelos dez anos do Instituto de Hanover, o que significa dizer que ele foi criado exatamente assim que acabaram as reuniões e hoje é um dos mais avançados do mundo. Aqui, o Instituto de Natal tem sete anos e não está nem perto do patamar dos centros de fora porque não há investimento. O que há de mais avançado no país são pesquisas na área de neurooncologia em São Paulo”, compara.

SÓ A EDUCAÇÃO SALVA A CIÊNCIA, DIZ NEUROCIRURGIÃO Para o neurocirurgião potiguar Luciano Araújo, só investimentos na educação podem mudar a realidade das pesquisas no Brasil. Ele critica a formação dos estudantes universitários na escola básica e revela que boa parte dos alunos que se especializam em neurocirurgia pela UFRN tem dificuldades depois que se formam por conta da péssima formação escolar na base. “Os alunos adquirem conhecimentos técnicos na medicina e na especialização de neuro, mas lá na frente quando você precisa também do

conhecimento adquirido na escola base em matemática e física, por exemplo, há dificuldade. Quando é aluno de escola pública é ainda mais grave. No curso em si, os que vêm do ensino público até se destacam pelo empenho, mas quando chega na hora de rever os conhecimentos de trás, da escola, há problemas”, conta. Os chips hoje são uma realidade nas pesquisas mais avançadas da neurocirurgia. Já existem experiências com esses equipamentos inseridos no cérebro que atuam na fala e na visão, por

AQUI E NO BRASIL, COMO UM TODO, NÃO HÁ APOIO. E O PODER PÚBLICO É FUNDAMENTAL PARA A PESQUISA” Luciano Araújo, Presidente da Academia Brasileira de Neurocirurgia

exemplo. Doenças como epilepsia e o mal de Parkinson também vêm sendo estudadas com a ajuda dos chips. No entanto, ainda que o avanço dessa tecnologia atue de forma positiva para encontrar soluções na medicina, nenhum estudo promete gerar mais polêmica que a pesquisa em desenvolvimento no Instituto Internacional de Hanover, na Alemanha, com o chip inserido no cérebro que muda o comportamento humano. O neurocirurgião potiguar Luciano Araújo, que esteve no instituto há duas semanas, ouviu de um pesquisador alemão que um primeiro teste, realizado num paciente homossexual, o ‘transformou’ em hetero. O pro-

blema é que os especialistas detectaram que o homem que recebeu o chip passou a roubar com freqüência. “Ele adquiriu uma espécie de cleptomania. Então os pesquisadores viram que ainda tinham que estudar pois alguma coisa havia dado errado. O que acontece é que, quando se trata de cérebro, para estimular uma área você tem que desestimular outra. E os estudos continuam sendo feitos”, conta. Questionado se a pesquisa não representaria um perigo para o mundo por se tratar de mudança no comportamento humano, ele explicou que todas as pesquisas no instituto alemão são realizadas com o consentimento e assinatura do paciente.

“O BRASIL NÃO ESTÁ EDUCADO PARA LIBERAR A MACONHA” Embora a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia tenha divulgado há quatro semanas uma carta aberta à sociedade defendendo a legalização da maconha, principalmente por conta da importância científica da droga, o neurocirurgião Luciano Araújo é mais comedido quando trata do assunto. Ele afirmou que a Academia Brasileira de Neurocirurgia não tem uma opinião institucional sobre o polêmico tema, embora reconheça o uso positivo para fins científicos. Mas in-

dagado sobre o que acha do assunto, Araújo acredita que ainda não chegou a hora de liberar. Para ele, o país ainda não está educado o suficiente para liberar o consumo da droga. “Na Holanda algumas pessoas me disseram que por vender maconha normalmente, você sabe quem usa, quem vende. A figura do traficante foi eliminada e você tem um controle. O Brasil ainda não está educado para tanto. Você tem que conhecer a população de usuários. E o grande problema que vejo está na quantidade da droga consumida. E isso só pode ser controlado com educação. Vejo essa marcha da maconha mais como uma forma do estudante gritar, desabafar contra o fato de ser taxado de usuário, maconheiro”, reforça.


Espaço Empreendedor 12

Editor Franklin Jorge

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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010

MAGNUS NASCIMENTO / NJ

CONSULTORIA INTELIGENTE EM PETRÓLEO E GÁS / REDEPETRO / EM SETE ANOS DE ATIVIDADES, PROGRAMA ASSESSORA E CAPACITA 110 EMPRESAS NO RN, TORNANDO-AS MAIS COMPETITIVAS

ALEXIS PEIXOTO DO NOVO JORNAL

O SEGMENTO DE petróleo e gás natural é hoje uma das principais molas econômicas da indústria nacional. Com o objetivo de capacitar as pequenas e médias empresas fornecedoras de serviços para atender as altas exigências do setor, o Sistema de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) desenvolveu o projeto Cadeia Produtiva de Petróleo e Gás, em parceria com a Petrobras e em total integração com o Programa de Mobilização Nacional da Indústria de Petróleo e Gás Natural (Prominp), instituído pelo decreto presidencial 4.925, de dezembro de 2003 e coordenado pelo Ministério das Minas e Energias. Sincronizado com as necessidades das empresas de pequeno e médio porte que prestam serviços na área de petróleo e gás natural, o programa do Sebrae oferece cursos de capacitação, consultoria técnica e participações em feiras de negócios e tecnologia no Brasil e no mundo. De acordo com o gestor do programa no Sebrae, Edilton Cavalcanti, a ideia do programa surgiu em 2003 quando a instituição percebeu que, apesar dos altos investimentos na área de petróleo e gás no estado, poucas empresas locais estavam capacitadas para atender as demandas de serviço dos grandes produtoras como a Petrobras e Halliburton. “Para um pequeno empresário é muito custoso investir em capacitação. As empresas perdiam muitas oportunidades de se tornarem fornecedores dos grandes compradores simplesmente porque não estavam qualificadas”, aponta. Pensando em suprir essa deficiência, o Sebrae elaborou um plano de ações, onde seriam verificados os principais pontos exigidos pelas grandes produtoras de petróleo. Pontos essenciais como gestão administrativa e financeira, responsabilidade ambiental, segurança no trabalho e responsabilidade social foram eleitos como os eixos estruturantes do programa. No primeiro ano, o programa contou com a adesão de 15 empresas. Hoje o programa conta um total de 110 participantes em sete anos de atuação,

a maioria delas na região do Oeste potiguar. A grande adesão das empresas potiguares proporcionou, em 2008, a criação da Redepetro RN, pool de empresas fornecedoras de bens e serviços para a cadeia de petróleo e gás. Contando com a adesão de 73 empresas, o foco da rede é a geração de negócios pela articulação qualificada entre a demanda e a oferta das empresas localizadas na região produtora do Estado visando ganho de competitividade das instituições vinculadas a por meio de encontros de negócios; pela ampliação da visibilidade das empresas locais; facilitando a comunicação e interrelacionamento; e fomentando a capacitação, certificação e inovação tecnológica na região. A rede também conta com o apoio de instituições ligadas a indústria e ao desenvolvimento tecnológico, como o Banco do Nordeste (BNB), Federação das Indústrias do RN (Fiern), Petrobras, Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (SEDEC) e IFRN. Além disso, em 2009, o Sebrae também firmou um convênio com a Petrobrás para fomentar as ações do projeto, o que garantiu um investimento conjunto da ordem de R$ 1,3 milhões. Para Edilton Cavalcanti, a criação da Redepetro traz impulso ao mercado, permitindo as empresas elevarem seu nível de qualidade ao trabalharem em modo cooperado. “Uma pequena empresa não tem condições de atender a um grande contrato. Mas se duas ou três se unirem, poderão se juntar e dividir os serviços prestados” destaca. Para o segundo semestre de 2010, a Cadeia Produtiva de Petróleo & Gás do Sebrae já prepara novas ações. Para agosto está programada a realização da Incubadora de Empresas de Petróleo e Gás, no IFRN, rodada de negócios com o objetivo de incubar empreendimentos nascentes e apresentar novos projetos no setor. As empresas participantes da Redepetro também vão participar, em setembro, da edição 2010 da Rio Oil & Gás, maior feira do segmento de petróleo e gás da América Latina, realizada no Rio de Janeiro.

ROTEIRO

▶ Judrian Freitas, diretor da Aprimor Consultoria

REDE DE NEGÓCIOS E QUALIFICAÇÃO

UMA PEQUENA EMPRESA NÃO TEM CONDIÇÕES DE ATENDER A UM GRANDE CONTRATO. MAS SE DUAS OU TRÊS SE UNIREM, PODERÃO SE JUNTAR E DIVIDIR OS SERVIÇOS PRESTADOS” Edilton Cavalcanti Gestor do Sebrae

CEDIDA

A atuação da Redepetro RN vem dando muitos frutos para as empresas do setor produtivo de petróleo e gás. Sediada em Mossoró, a rede funciona em uma gestão constituída por uma Secretaria Executiva e quatro Grupos de Trabalho (Negócios; Capacitação; Financiamento e Infra-Estrutura; e Qualidade, Saúde Ocupacional e Meio Ambiente), apoiados por um Comitê Gestor do qual participam operadores, fornecedores, instituições públicas e acadêmicas. A organização da Redepetro, sempre direcionada para geração de novos negócios e articulação qualificada entre as participantes, é um dos pontos positivos enfatizados por José Nilo, diretor da empresa mossoroense Engepetrol, voltada para os serviços de monitoramento técnico e manutenção de equipamentos diversos para a indústria do petróleo e gás. “A contribuição mais valiosa da Redepetro está na internalização do emprego e da renda e, por conseguinte, no fortalecimento da economia local, já que a função da rede é gerar negócios e atender de forma organizada e coesa aos desafios do mercado demandante”, explica. A Engepetrol foi uma das primeiras empresas a integrar a Cadeia Produtiva de Petróleo e Gás do Sebrae. Por meio das ações do programa, a empresa conquistou as certificações ISO 9001, ISO 14001 e ISO 18001, referentes à gerenciamento de qualidade, segurança e saúde ocupacional e gestão ambiental, respectivamente. “Esse trinômio é imprescindível para dar sustentabilidade ao negócio dentro de um ambiente cada dia mais competitivo”, destaca Nilo. Outra empresa detentora das três certificações ISO e participante da Redepetro RN é a Mafram Montagens e Serviços Ltda., sediada no município de Alto do Rodrigues. Com dez anos de atuação, a empresa hoje é referência em serviços de confecção, montagem e soldagem de estruturas no segmento de petróleo e gás. “É muito bom para o setor poder contar com uma rede, como a Redepetro, e com o apoio de uma instituição como o Sebrae, que proporciona oportunida-

19h30 – 21h40. INSOLAÇÃO – Livre. Cinemark: 14h.

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SALT – 14 anos. Cinemark: 12h10 - 14h30 - 17h20 - 19h40 - 22h00 (LEG). Moviecom: 14h00 – 16h00 – 18h00 – 20h00 – 22h00 (LEG). TOY STORE – Livre. Cinemark: 12h20 - 15h00 (DUB). Moviecom: 14h25 – 16h40 (DUB).

CINEMA ENCONTRO EXPLOSIVO – 14 anos. Cinemark: 11h25- 13h50 - 16h20 - 19h00 - 21h30 (LEG). Moviecom: 14h35 – 16h50 – 19h05 – 21h20 (LEG). ECLIPSE - 14 Anos. Cinemark: 17h30 20h30 (LEG) 21h50 (DUB). Moviecom: 19h00 – 21h30 (DUB).

des de capacitação e orientação para os empresários. Isso puxa todo o segmento e traz muitas oportunidades de crescimento”, destaca Waldemar Ferreira, assessor da diretoria da Mafram. Para atingir o nível de excelência exigido pelos grandes produtores do segmento de petróleo e gás, as pequenas e médias empresas precisam se adequar uma série de normas que as tornarão aptas para suprir a demanda necessária. O problema é que, para quem tem um pequeno negócio, nem sempre é fácil bancar os custos de uma consultoria para obter as certificações ISO necessárias. “A maioria das empresas pequenas não tem capital ou pessoal para investir numa qualificação, muito embora isso seja uma necessidade de primeira grandeza para eles”, aponta o diretor da Aprimor Consultoria, Jodrian Freitas. Foi pensando nessas dificuldades e enxergando a necessidade de oferecer as empresas do segmento de petróleo e gás a chance de obter as qualificações necessárias nas áreas de qualidade, segurança e saúde ocupacional e responsabilidade ambiental, que a Aprimor desenvolveu, em parceria com o Sebrae, uma metodologia diferenciada de consultoria, com foco nas pequenas empresas. Segundo explica Freitas, os programas são organizados em módulos e inclui consultorias nas organizações, treinamentos em grupo, fornecendo material didático como apostilas e CDs de apoio contendo modelos, formulários e controles aplicáveis para os empresários. “Fazemos cursos de orientação em grupo, com turmas de até 10 empresas. Isso contribui para ratear os custos”, destaca Freitas. A excelência no trabalho realizada pela empresa, que também é membro da Redepetro RN, levou, em 2009, à conquista em nível nacional do Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas (MPE Brasil), na categoria Serviços. “O Prêmio MPE foi uma conquista importante, além de um reconhecimento de que as práticas que levamos para outras empresas também tem dado certo conosco”, destaca Freitas.

PREDADORES – 14 anos. Cinemark: 11h20 - 16h30 - 18h55 - 21h20 (LEG). Moviecom: 14h50 – 17h00 – 19h10 – 21h20 (LEG).

SHREK PARA SEMPRE – Livre. Cinemark: 12h30 - 14h45 - 17h10 - 19h25 (DUB). Moviecom: 13h55 - 15h00 – 15h50 - 16h55 – 17h45 - 18h50 – 19h40 - 20h45 – 21h35 (DUB). O BEM AMADO – 12 anos. Cinema- SHREK PARA SEMPRE 3D – Livre. rk: 11h40 - 14h10 - 16h40 - 19h10 - Cinemark: 11h00 - 13h10 - 15h30 21h40. Moviecom: 15h10 – 17h20 – 17h45 - 20h00 - (DUB) 22h15 (LEG).

MÚSICA

A companhia de dança [Sí-la-bAs] apresenta o espetáculo Colméia Imaginária, a partir das 20h, na Casa da Ribeira. Os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). A Casa da Ribeira fica na Rua Frei Miguelinho, 52, Ribeira. Outras informações pelo telefone 3211-7710. A banda Ferro na Boneca e Dedim Gouveia encerram a festa da padroeira de Caicó na Ilha de Sant’Ana. A entrada é gratuita.


Social

Edito Editor Franklin Jorge Frank

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NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

Marcos

Sadepaula

13

O passado não reconhece o seu lugar. Está sempre presente” Mário Quintana

sadepaula@novojornal.jor.br

Gastronomia No final de novembro, a Associação de Gastronomia do RN promoverá o encerramento do de 2010 com o chef internacional Luciano Bossegia que esteve durante 20 anos à frente da cozinha do famoso restaurante paulista Fasano. Sem mencionar o fato de ter sido ele o responsável pela introdução do hoje tão famoso risoto em nosso país. Será um jantar para 100 convidados com os convites vendidos antecipadamente.

Forrozeira

Moda

A cantora natalense Thabata Medeiros, que participou do programa Ídolos, da TV Record, lança na próxima sexta-feira, 06 de agosto, o seu DVD no Espaço 21, com as bandas Rastafeeling, Grafite e participação de Daniel Freire e MC Jack. Thabata já cantou com Cláudia Leite no Carnatal e já integrou os grupos Vaca Atolada, Forró Cubano, Forró do Mesmo Jeito e Garanhões do Forró.

A capital potiguar está prestes a ganhar a primeira revista eletrônica especializada em moda, beleza e bem estar da região Nordeste, a Magazine Beauty. O lançamento do produto, elaborado por uma equipe altamente qualificada e com base em várias pesquisas de mercado será realizado no Okka Coffee e Lounge no próximo dia 18 de agosto, ás 20h, com a presença de 150 convidados entre empresários dos setores de moda e beleza, jornalistas e publicitários.

Na Casa D’LUCA / NJ

Dia de conferir o excelente trabalho do grupo Kizambe e sua Colméia Imaginária, com Dudu Campos e Sami Tarik na Casa da Ribeira às 19h e ingressos a R$ 10,00 (inteira).

ímpico ▶ O atleta paraolcom os Clodoaldo Silva ee amigos André Cirn Jobim Lucíola Silva no

Gastronomia luso-brasileira Festival Gastronômico de Portalegre acontece de 6 a 8 de agosto, numa das mais belas cidades serranas do Rio Grande do Norte. Haverá oficinas gastronômicas de cozinha portuguesa e brasileira, cozinhashow, degustações, bares e restaurantes, além de shows musicais de Dorgival Dantas, Waldonys, Santana, entre outros

CEDIDA D’LUCA / NJ D’LUCA / NJ

arda no Seis em

ria Edu ▶ Brás Filho e Ma Nova iscaria, em Lagoa Ponto Bar e Pet

Tons de roxo próximos do violeta, lilás, rosa lírio, orquídeas e lavanda são as cores escolhidas para a coleção Primavera/Verão 2011 da Folic. Intitulada “Sonhos Urbanos”, sua composição é feita por vestidos longos, saias, bermudas, além de jeans. Parte das peças coloridas já está disponível na loja do Midway e na maison Petrópolis. A cartela de cores conta ainda com o branco, diferentes tons de cinza e off white. As estampas floridas terão vez neste verão e aparecem principalmente nos vestidos longos e nas blusas. Roupas listradas em diferentes tons também aparecerão de uma maneira intensa, além das estampas de onças urbanas em rosa, diferente da característica mais selvagem das roupas de inverno. O lançamento da coleção será em agosto, quando todas as peças estarão expostas.

O poetinha na Sapucaí Que nos perdoem todos os outros, mas não há poeta que mereça mais do que ele. Vinicius de Moraes, o erudito que subiu o morro para cantar o amor, vai ganhar homenagem na Sapucaí. Em 2011, o enredo da escola de samba Império Serrano vai cantar o poetinha. Vinicius se une a grandes personalidades da cultura brasileira: Roberto Carlos é o enredo da Beija-Flor, Caetano vai ganhar homenagem da Paraíso do Tuiuti, Nelson Cavaquinho é o tema da Mangueira... Esquindô-cabeça!!!

el enor, responsáv

o Câmara recebendo ▶ Nilma Arrudahad a Marluce Diniz carinho da cun

Primavera/ Verão 2011

o Vat ▶ O artista plástic teca do zação da Pinaco pela boa organi Estado

D’LUCA / NJ

Prêmio

D’LUCA / NJ

nte da Potigás,

com a

preside ▶ Nelson Freire,aya hoje que aniversaria sua esposa Sor

a e Cristina

ia, Nilm ▶ Telma, Nilze, Lúc e Música na im Gastronomia animando o Job em Petrópolis Praça das Flores

A diretora de marketing do Hapvida Saúde, Simone Varella, foi indicada, pelo segundo ano consecutivo, ao Prêmio Marketing Best. O prêmio tem âmbito nacional e é organizado pela Editora Referência, a Fundação Getúlio Vargas e o MadiaMundoMarketing. A premiação é realizada anualmente e tem como objetivo promover e difundir as empresas que mais se destacam no planejamento e execução das estratégias de Marketing de seus produtos e/ou serviços.

Cirurgia plástica mata! Uma mulher foi levada para o CTI de um hospital. Lá, teve a chamada ‘quase morte’, que é uma situação pré-coma, e neste estado, encontrou com a própria: - Que é isso? Eu morri? - Não, pelos meus cálculos você morrerá daqui a 43 anos, 8 meses, 9 dias e 16 horas. Ao voltar a si, refletindo o quanto tempo ainda tinha de vida, resolveu fazer uma lipospiração, uma plástica de restauração dos seios, correção no nariz, na barriga , tirou as rugas e tudo mais que podia mexer para ficar linda e jovial. Após alguns dias de sua alta, ao atravessar a rua, veio um veículo em alta velocidade e a atropelou, matando-a na hora. Ao encontrar-se de novo com a morte, perguntou irritada: - Puxa, você me disse que eu tinha mais 43 anos de vida. Por que morri depois de toda aquela despesa com cirurgias plásticas? E a morte aproximou-se bem dela com os olhos bem arregalados, olhando-a dos pés a cabeça e diretamente nos olhos, respondeu: - Criatura de Deus! Juro que não te reconheci!!!

Coisas da fama Robert Pattinson, o onipresente galã inglês da saga vampiresca “Crepúsculo”, virou muso inspirador para uma linha de cuecas. A ideia é dos estilistas que trabalham para a loja de departamentos britânica Marks and Spencer. Eles bolaram uma linha de underwears masculinas, batizada de R-Pant, inspirada no ator. A proposta é criar cuecas bem apertadas para serem usadas com as chamadas calças skinny, mas também haverá modelos boxer. Segundo o site “Evilbeetgossip”, a coleção chegará às lojas em setembro. A loja convidou Pattinson para ser garoto-propaganda da linha de cuecas mas ele recusou.

No Praia Hoje é a vez de Alexandre Moreira mostar o seu virtuosismo no cavaquinho e no bandolin às 20h no Praia Shopping Musical. Amanhã Edja Alves canta clássicos do pop nacional no mesmo local e hora

▶ Colaboração de Dominique Sá

de Múcio Varela Albuquerque CEDIDA

Mucio Varela de Albuquerque Neto, advogado há 8 anos, formado pela UnP, foi SubCoordenador do Procon Estadual por 3 anos e meio quando pediu exoneração para se dedicar à um hobby que virou profissão séria, a produção de eventos, fazendo jus ao gene herdado de seu pai, Ângelo “Burrão” Varela, rei da noite natalense na virada dos anos 70 para 80. Há 2 anos está à frente do Maranello Bistrô promovendo festas e colocando Natal em sintonia com o mundo quando o assunto é baladas. A coluna pediu para Múcio enumerar as 10 melhores baladas que ele já foi e o resultado está aí.

1

Reveillon em Serrambi - Porto de Galinhas 2004/2005 - boas lembranças das festas de Macnish Vibes e Nu Life;

2

Cruzeiro da Balada – Recife / Noronha - 2006 - eu e Rapha Correia tocamos e tinha uma turma boa de Natal;

3 4

Skol Beats - SP - fui 3 edições, era um festival muito bom;

5

Fortal - perdi as contas de quantos fui. Lugar de muitas alegrias e histórias pra contar;

6

Reveillon em Maceió - meu Reveillon interminável de 7 dias. Reencontro anual de muitos amigos queridos;

7

Taikô - Jurerê/SC - isso é que é uma “barraca” de praia dia e noite. Encontrei por acaso Andréia Flor e juntamos as turmas;

8

Café de La Musique - Jurerê/SC - nunca vi tanta mulher bonita na vida;

9

Warung - Balneário Camboriú/SC - indescritível a energia desse club, lugar de baladeiro profissional;

10

Skol Sensation - SP - a produção é incrível! Todo mundo tem que ir pelo menos uma vez na vida;

Pipa - Sempre muito bom. Tenho boas lembranças por volta de 1998, quando a praia não era tão badalada.


Cultura 14

Editor Franklin Jorge

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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010

ARGEMIRO LIMA / NJ

SALTO PARA O ALTO / MÍDIA / COM SURGIMENTO DE REVISTAS E SITES, MODA VIRA NICHO DE MERCADO

MODA NA WEB É MAIS HOBBY

▶ Chat Feminino, de Nayara Leandro, registra até 3 mil visitas diárias

CEDIDA

RAYANNE AZEVEDO DO NOVO JORNAL

MENOS ADJETIVOS, MAIS

▶ Samysia e Manuela, do Wishlist

MAGNUS NASCIMENTO / NJ

▶ Gladis Vivane, editora da Salto Agulha

informação. Era isso que a jornalista e consultora de moda Gladis Vivane, 27, tinha em mente quando concebeu a revista Salto Agulha, lançada recentemente. A proposta da publicação, contudo, vai bem além do que o nome permite pressupor. É um esforço de desmistificar o conceito de que moda seria só mais alguma futilidade criada para servir como vitrine de egos inflados. Para Gladis, moda é expressão pessoal. O setor em que ela atua é hoje um novo filão da mídia, principalmente a virtual, com o surgimento de sites e blogues. A revista, totalmente financiada através da Lei Djalma Maranhão, demorou três anos para sair do plano das ideias. O primeiro número, com tiragem de dois mil exemplares, contabiliza 60 páginas com reportagens que fogem à regra do “O-que-usarneste-verão” e conta com um ensaio fotográfico inspirado em movimentos artísticos e pequenas crônicas da autoria de gente do calibre de Tarcísio Gurgel e Michelle Ferret. Uma mistura de literatura, artes plásticas, história e música. “Eu não gostava da produção jornalística de moda daqui. Acho que aqui confundem muito moda com coluna social. Botam que fulana de tal estava ditando moda com roupa tal. Fulana não dita moda, não existe isso. Acho que, por a moda mexer com a vaidade, é muito difícil separar”, comenta. Mas a ideia estigmatizada que algumas pessoas têm da moda também incomoda a jovem jornalista. “Até quem diz que não está nem aí para moda, está. Só não

ROTEIRO

liga para moda quem está nu”. Embora só agora tenha conseguido publicar a Salto Agulha, Gladis afirma que o sonho de ver a publicação impressa no papel é antigo e vem desde a faculdade. “Quando estava para me formar, em 2007, pensei em fazer a revista, mas não deu. Era muito caro, daí optamos pela internet. Fizemos uma revista eletrônica e eu não botei para frente porque tive que trabalhar”. No mesmo ano, ela conta que inscreveu o projeto da revista na Lei Djalma Maranhão, que capta recursos através dos impostos pagos por empresas privadas – 20% do total. O dinheiro vai sendo depositado numa conta e o contemplado não pode mexer nele até ter pelo menos 40% do valor necessário para a execução do projeto. “Eu era patrocinada pel.a Diginet, empresa na qual trabalhava à época. Só que ela acabou sendo adquirida pela Cabo, que não deu continuidade ao financiamento”, explica. O projeto parou por dois anos e foi retomado em 2009, desta vez patrocinado por uma nova empresa, a Faz Propaganda. No ano passado, Gladis começou com o blog Salto Agulha. O endereço, criado durante o período em que esteve na Itália, servia mais como uma ferramenta de comunicação entre os amigos. “Para não ficar mandando email de um em um, criei logo um blog. Só que acabei postando coisas relacionadas a moda”. Os três meses em continente europeu, planejados minuciosamente pela jornalista, foram dedicados à formação profissional. “Fiz curso de fashion design com ênfase em comunicação. Encarei aquilo como um investimento”.

De lá para cá, o blog cresceu e a ligação de Gladis com a moda se estreitou ainda mais. Hoje o Salto Agulha é uma empresa de consultoria de moda e assessoria, e é através dela que a jornalista ganha dinheiro. Na lista de clientes já figuraram nomes de peso como o da senadora e candidata ao governo Rosalba Ciarlini. “Sempre fui procurada por amigos e parentes que pediam minha ajuda na hora de se vestir. Depois percebi que aquilo era um negócio. Na consultoria tenho dois tipos de cliente: aquele que quer algo para uma ocasião especial e aquele que quer aprender a comprar melhor e se vestir bem gastando menos. Pode parecer coisa de gente rica, mas não é. Tenho muitas clientes de classe média que foram promovidas, por exemplo, e querem se vestir melhor”. Gladis conta que, quando começou a ingressar como jornalista no campo da moda, precisou ir abrindo seu espaço por conta própria. “Usei a experiência que tinha pela minha formação para aplicar no segmento. Quando pensava na revista, sabia que seria difícil porque não existe nada parecido na cidade e poucas pessoas entenderiam o conceito e se interessariam de fato em patrocinar”. Gladis tem planos de obter 80% do financiamento para o próximo número através da Lei Djalma Maranhão e os outros 20% com anunciantes. Se der certo, tentará reduzir esse percentual cada vez mais até que a revista – que permanecerá gratuita – seja completamente custeada através de publicidade. “É difícil convencer o empresário a anunciar porque falta visão”.

INSOLAÇÃO – Livre. Cinemark: 14h.

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SALT – 14 anos. Cinemark: 12h10 - 14h30 - 17h20 - 19h40 - 22h00 (LEG). Moviecom: 14h00 – 16h00 – 18h00 – 20h00 – 22h00 (LEG). TOY STORE – Livre. Cinemark: 12h20 - 15h00 (DUB). Moviecom: 14h25 – 16h40 (DUB).

CINEMA ENCONTRO EXPLOSIVO – 14 anos. Cinemark: 11h25- 13h50 - 16h20 - 19h00 - 21h30 (LEG). Moviecom: 14h35 – 16h50 – 19h05 – 21h20 (LEG). ECLIPSE - 14 Anos. Cinemark: 17h30 20h30 (LEG) 21h50 (DUB). Moviecom: 19h00 – 21h30 (DUB).

No rastro do Salto Agulha, outros endereços eletrônicos comandados por blogueiras de Natal começam a pipocar e ganhar notoriedade na rede mundial de computadores. Neles, é possível encontrar tudo: desde o esmalte da estação a alguma indicação de filme ou livro. A maioria, contudo, ainda o faz por hobby, sem pretensões mercadológicas. A própria Gladis sustenta o blog do Salto Agulha mais por diversão e interesse próprio do que por oficío, já que a maior parte dos seus trabalhos é voltado para a assessoria de imprensa. É o caso da administradora Manuela Lobo, 30, e da estudante de jornalismo Samysia Almeida, 21, donas do Wishlist, blog criado em março (www.blogwishlist. com.br). As duas se conheceram no trabalho e descobriram que compartilhavam dois interesses em comum: moda e beleza. “Eu e Manu vivíamos falando sobre esses assuntos. Gostávamos de entrar em blogs e então criamos o Wishlist como se fosse uma forma de compartilhar as informações entre nós. Fizemos twitter do blog e tínhamos atualizações diárias. Hoje mantemos uma média de três por semana”, conta Samysia. Apesar de ser encarado como hobby, Manu e Samys, como são conhecidas na web, já promoveram até sorteios de produtos no site. “Não é nada profissional, foi uma amiga que vende esses artigos e acabou dando um para sortear e promover o negócio dela. O Wishlist é mais um hobby mesmo” Outra blogueira, Nayara Leandro, 24, está à frente do Chat Feminino (www. chat-feminino.com), que agrega uma equipe de mais duas administradoras e outras cinco colaboradoras espalhadas pelo país inteiro. Nary, como é conhecida na

PREDADORES – 14 anos. Cinemark: 11h20 - 16h30 - 18h55 - 21h20 (LEG). Moviecom: 14h50 – 17h00 – 19h10 – 21h20 (LEG).

SHREK PARA SEMPRE – Livre. Cinemark: 12h30 - 14h45 - 17h10 - 19h25 (DUB). Moviecom: 13h55 - 15h00 – 15h50 - 16h55 – 17h45 - 18h50 – 19h40 - 20h45 – 21h35 (DUB).

O BEM AMADO – 12 anos. Cinemark: 11h40 - 14h10 - 16h40 - 19h10 - SHREK PARA SEMPRE 3D – Livre. 21h40. Moviecom: 15h10 – 17h20 – Cinemark: 11h00 - 13h10 - 15h30 17h45 - 20h00 - (DUB) 22h15 (LEG). 19h30 – 21h40.

web, é bacharel em direito e atualmente trabalha em uma agência de web, mas gosta mesmo é de se dedicar às atualizações diárias do sítio eletrônico. “A ideia do Chat Feminino surgiu há dois anos. Eu anunciei via Twitter – à época quase ninguém utilizava a ferramenta – que estava procurando uma equipe para constituir um blog especialmente para mulheres”, explica. O site dá dicas de moda e beleza, além de abordar toda semana algum filme, livro ou seriado. “Adoro acompanhar a moda, mas tenho a consciência de que não dá para usar tudo ao mesmo tempo. A gente tem que aprender a incorporar as tendências ao nosso dia a dia, senão fica parecendo árvore de natal”, ressalta. Hoje o Chat Feminino registra entre 2.500 e 3 mil visitas diárias, mas Nary diz que, embora descole aqui e acolá algum dinheiro, não tem um fluxo regular de caixa com o blog. “Fazemos os chamados editoriais. São peças publicitárias financiadas por algum anunciante. Uma vez fizemos um da Cônsul com a temática ‘Segredos do São João’. Tem gente que nos procura para anunciar. Em outros casos, nós que corremos atrás”. Nary acha que, por enquanto, é difícil conseguir dinheiro trabalhando na internet em Natal. “Aqui esse movimento ainda está começando. Recebo muitos convites de São Paulo para testar produtos e cobrir eventos, mas não tenho como ir, aí mando alguma colaboradora que more por lá mesmo. A maioria dos produtos que testo e coloco no blog é por minha conta. Atribuo o sucesso do blog à repercussão que ele tem fora do estado mesmo, aqui eu ainda não sou muito reconhecida”, explica.

MÚSICA

A companhia de dança [Sí-la-bAs] apresenta o espetáculo Colméia Imaginária, a partir das 20h, na Casa da Ribeira. Os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). A Casa da Ribeira fica na Rua Frei Miguelinho, 52, Ribeira. Outras informações pelo telefone 3211-7710. A banda Ferro na Boneca e Dedim Gouveia encerram a festa da padroeira de Caicó na Ilha de Sant’Ana. A entrada é gratuita.


Esportes

Editor Marcos Bezerra

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NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010 / NOVO JORNAL /

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TRÊS PONTOS PELA LIDERANÇA / SÉRIE C / ABC E ALECRIM SE ENFRENTAM NO FRASQUEIRÃO DE OLHO NA PONTA DO GRUPO B DA TERCEIRONA; COM UM PONTO A MAIS O ALECRIM TENTA DESLANCHAR NA TABELA, JÁ O ABC QUER FAZER VALER O MANDO DE CAMPO E TRANSFORMAR O ESTÁDIO NUM CALDEIRÃO ARGEMIRO LIMA / NJ

AUGUSTO RATIS / NJ

nossa equipe.” O treinador se mostrou confiante que o time apresentará um futebol melhor do que contra o Campinense. “Não fomos bem. Depois do jogo, os jogadores chegaram para mim falando que estavam nervosos, estavam sentindo a pressão, mas expliquei que isso não pode mais acontecer, eles têm que render tudo que podem”, completou.

DIEGO HERVANI BRUNO ARAÚJO DO NOVO JORNAL

UMA PARTIDA QUE vale mais do que

três pontos. ABC e Alecrim se enfrentam hoje, às 17h, no estádio Frasqueirão de olho na liderança do grupo B. Com um ponto de diferença a favor do Verdão – os alvinegros têm três e um jogo a menos –, as duas equipes não podem nem pensar em um empate para não correrem o risco de serem ultrapassados pelo Salgueiro, que com dois pontos, enfrenta o Campinense/PB. Em “casa” os abecedistas esperam assumir a liderança, já os alecrinenses, querem ganhar uma “gordurinha”. O ABC venceu a sua única partida até agora, 3 a 1 no CRB/AL. Já o Alecrim, atual líder da chave após duas partidas, segue invicto após empatar com o Salgueiro/PE, em 2 a 2, na estreia e vencer o Campinense por 1 a 0. Para o treinador alecrinense, Ferdinando Teixeira, ex-comandante no acesso alvinegro em 2007, “será um jogo complicado”. Já o gaúcho e técnico Leandro Campos, que vem com disputando junto com o ABC as primeiras posições nos campeonatos que tem participado, “não existe receita” para a vitória, mas o “ABC vai se impor desde o início”. Com promessa de um dos

▶ Leandro Campos quer que o time se imponha desde o início

▶ Ferdinando Teixeira: hora de acumular gordurinhas

maiores públicos da Série C até agora, o clássico deste domingo deverá ser um dos mais disputados nos últimos anos entre as duas equipes.

lita a situação abecedista. “Além dos jogadores qualificados e a ambição da classificação, o técnico deles conhecem bem nossa equipe”, observou o comandante gaúcho que explicou que para vencer a estratégia tem nome: paciência. “Será um jogo difícil. A calma e o controle de bola serão nossos aliados. Se tivermos que ganhar o jogo aos 48 minutos do segundo tempo, com gol de pênalti, o que vai valer são os três pontos”, garantiu.

FICHA TÉCNICA

ALVINEGRO

Com o volante Ricardo Oliveira e o zagueiro Diego Padilha dependendo de liberação do Departamento Médico para atuarem neste domingo e com a dúvida do técnico entre Felipe Moreira e Éderson, que volta de contusão, a equipe que entrará em campo pelo ABC é uma incógnita. Caso os dois primeiros não possam estar em campo, Ewerton Cezar e Leonardo, respectivamente, serão os substitutos. Apesar dos problemas, os jogadores se revezam num discur-

so de otimismo e união para o difícil confronto de logo mais. O carioca Felipe Moreira, que poderá ter a chance de estrear entre os titulares nesta Série C, afirma que independente do companheiro de João Paulo no ataque, a equipe estará bem servida. No entanto, o jogador alerta para a qualidade do adversário, pelo qual jogou no Estadual. “Tenho muitos amigos lá e sei da qualidade do que vamos enfrentar.” Já Éderson, provável titular no ataque, se diz recuperado da lesão que incomodava a coxa direita e ressalta a importância da partida. “É um jogo que vale a liderança. Não podemos bobear. São três pontos importantes para nosso objetivo que é a classificação.” Para Leandro Campos, o fato de conhecer o Alecrim não faci-

VERDÃO

Ganhar para disparar na ponta, é com esse pensamento que Alecrim vai a campo em busca da segunda vitória seguida na competição. O jogo irá marcar a estreia do volante Nivaldo e, possivelmente, do meia Henrique. Contratado

para substituir o volante e capitão, Carioca, fora do restante da Série C por causa de uma lesão, Nivaldo se mostrou ansioso em enfrentar o ABC. “Estou pronto, o grupo está querendo a vitória. É a nossa chance de disparar na liderança da chave”, destacou. Já para Henrique, que vive a expectativa de ser aproveitado na equipe titular, o time tem a responsabilidade de fazer uma boa apresentação. “Temos que saber atacar e defender, não podemos dar espaços.” Único jogador de ligação do time, Cipó voltará a campo depois de ser desfalque na última partida. Retorno que foi motivo de comemoração para Ferdinando Teixeira. “Ele é um jogador que se encaixa muito bem no time, um excelente reforço para a

ABC Welligton; Lisa, Tiago Garça, Leonardo (D.Padilha) e Renatinho; Basílio, Ewerton Cezar (Ricardo Oliveira), Claudemir e Cascata; João Paulo e Éderson. Técnico: Leandro Campos.

ALECRIM Jair; Angelo, Fabiano, Márcio Blot e Nego; Hércules, Nivaldo, Marcelinho e Cipó; Helinho e Somália. Técnico: Ferdinando Teixeira. Estádio: Frasqueirão. Horário: 17h (de Brasília) Arbitro: Paulo Jorge Brandão


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▶ ESPORTES ◀

/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 1º DE AGOSTO DE 2010

BERNARDINHO,

SILVIO ÁVILA / CBV

O ALQUIMISTA

/ VÔLEI / AUTOR DO LIVRO “TRANSFORMANDO SUOR EM OURO” TÉCNICO DO BRASIL CONVERSOU COM O NOVO JORNAL SOBRE A CARREIRA E OS PLANOS, QUE INCLUEM AINDA MUITAS CONQUISTAS BRUNO ARAÚJO DO NOVO JORNAL

CONHECIDO PELO DIMINUTIVO

em seu nome e as conquistas superlativas no voleibol, Bernardo Rocha de Rezende ou Bernardinho, pouco se parece com aquela figura tensa e cheia de gestos vista à beira das quadras. A semelhança talvez se resuma a determinação da sua fala e o foco nos objetivos que traça. Menos de uma semana depois de vencer a Rússia por 3 sets a 1 e conquistar seu oitavo título da Liga Mundial pela Seleção Brasileira – nono do Brasil –, o treinador esteve em Natal na quinta-fei-

ra passada quando visitou parceiros e ações do núcleo potiguar do Instituto Compartilhar, do qual é diretor-presidente, e participou do lançamento de uma revista sobre qualidade de vida. Apesar da agenda lotada e do assédio dos fãs no último evento do dia, antes de partir para as curtas férias que terá até voltar às quadras para começar os preparativos para a disputa do Mundial, na Itália, em busca do tri-campeonato da competição, ele conversou com o NOVO JORNAL. Antes de ser dono de tantas marcas históricas como treinador, Bernardinho começou a trilhar seu caminho de vitórias como jo-

gador. Na carreira de pouco mais de sete anos, defendeu várias equipes do Rio de Janeiro; foi convocado para a seleção brasileira com a qual começaria a viver uma longa história. Lá, foi tri-campeão Sulamericano, além de conquistar o Mundialito e o Pan-Americano. Em seu tempo como jogador viveu um dos momentos, segundo ele, mais marcantes no esporte. “Em 82, no Rio de Janeiro, eu era reserva na seleção. Entrei e nós viramos a partida que estava quase perdida. Estávamos perdendo por 9 a 0 no segundo set e no final conseguimos reverter a partida”, lembrou. Vale salientar que na época, apenas 15 pontos eram AUGUSTO RATIS / NJ

▶ Bernardinho no evento da UNP, em Natal, ao lado da reitora Sâmela Gomes

FILHO E DESAFETO Mas a história vitoriosa de Bernardinho não tem sido um “mar de rosas” eterno. O gênio forte acabou encontrando um rival dentro do próprio grupo: o levantador Ricardinho. Às vésperas do Pan-Americano-2007, do qual o Brasil foi campeão, o jogador foi cortado por problemas de relacionamento com o treinador. Segundo o próprio levantador, a causa de sua dispensa teria sido um atrito ocorrido na Finlândia, em um dos últimos jogos do Brasil na fase de classificação da Liga Mundial. Bernardinho sinalizou a possibilidade de retorno, mas sem oferecer garantias da con-

dição de titular e o jogador teria dito que se não fosse para ser do time principal preferia o “sofá de casa”. Questionado sobre o assunto, o treinador preferiu não polemizar. “Eu não converso com o Ricardo através da imprensa. Se tiver que falar, vamos falar entre nós. Ele sabe que existe toda essa situação a ser reconstruída com o grupo também. Então tenho que pensar no que é melhor para o grupo, não numa questão pontual”, analisou. Coincidentemente, a saída de Ricardinho redundou na convocação do filho do treinador, Bruno Rezende, fato que apimentou a polêmica sobre o corte do habilidoso levanta-

CONQUISTAS NÃO ACOMODAM O TREINADOR MULTI-CAMPEÃO

dor. Sem pestanejar, Bernardinho explicou que em momento algum teve receio em convocar o atleta por ser seu filho, mas revelou ter se preocupado na época com a pressão que o jovem sofreria. “Eu tive receio por ele, não por mim, porque certamente as pessoas iam querer atingi-lo para me atingir, então isso como pai te preocupa”, confessou Bernardinho, que garantiu que a convocação do filho para a seleção foi por méritos próprios. “Nos últimos quatro anos, ele foi quatro vezes campeão da Superliga, foi melhor levantador. Não tem nada a ver comigo, não está na seleção por favorecimento da minha parte”, explicou.

necessários para vencer um set e ainda havia a necessidade de ter a posse do saque (vantagem), ao contrário de agora, quando é preciso marcar 25 pontos diretos. Mas o tempo das grandes conquistas começaria de maneira humilde, surpreendente inclusive para o então assistente técnico que garante ter aprendido bastante com todos os mestres, mas principalmente com Bebeto de Freitas, que o “iniciou”, nas Olimpíadas de Seul. “Tento aplicar as lições que recebi, tentando melhorar. As derrotas vão acontecer, as críticas vão aparecer, assim como elogios. O importante é seguir buscan-

▶ Em quadra o calmo Bernardinho se transforma do aquilo que você acredita, acho que isso é um pouco do segredo”, ensina o treinador que é autor de três livros, sendo o último “Trans-

SUCESSO NA QUADRA Dois anos depois de treinar a equipe feminina do Peruggia, onde ficou até 1992, e a equipe masculina do Modena, no ano seguinte, ambos na Itália, foi no retorno ao Brasil, em 1994, que Bernardinho assumiu o comando da seleção feminina brasileira adulta. Ali começava sua trajetória de sucesso no comando técnico do vôlei brasileiro. O carioca lembra que até então, o vôlei feminino não havia conquistado nenhum título expressivo, apesar da prata nas Olimpíadas de Los Angeles em 1984. “Estava engatinhando em relação ao Top Mundial. Chegamos à medalhas olímpicas a ganhar o pan-americano, grand prix – correspondente a Liga Mundial do masculino”, observou Bernardinho, que destacou a evolução e a constância em pódios como responsáveis pelas grandes campanhas que as meninas do Brasil têm conquistado.

“Crescemos muito e trouxemos novas atletas, o que favoreceu a medalha de Ouro Olímpica que aconteceu agora (Pequim-2008), em função de toda uma inspiração que a geração de Fernanda Venturini, Ana Moser, Marcia Fú trouxe para as jovens de hoje”, relembrou citando as campeãs Fabiana e Thaysa, ambas da nova geração do vôlei brasileiro. Mas o avanço alcançado junto às meninas do Brasil não se aproxima em nada do que conseguiu à frente do vôlei masculino, categoria a qual assumiu em 2001. Em pouco mais de 10 anos, Bernardo Rezende fez história e comandou a uma das gerações mais vitoriosas do esporte mundial. Foram oito títulos da Liga Mundial, dois Mundiais e duas Copas do Mundo, ouro Olímpico em 2004, além de outros títulos continentais e medalhas para todos os gostos. Apenas em 2008, é que a seleção deixou a desejar – se é que

formando Suor em Ouro”, no qual conta um pouco da sua trajetória, além de expor algumas estratégias voltadas para o alto rendimento. pode dizer isso – por não ter conquistado seu título mais importante. “A medalha de prata nas Olimpíadas (Pequim-2008) foi tida como uma decepção por algumas pessoas, mas para nós foi uma conquista importante. Manter um pódio olímpico é uma coisa significativa, principalmente no momento de renovação”, avalia. E o momento de renovação, vivido dois anos atrás, prossegue este ano. Ao contrário do final “trágico” da China, o processo de renovação começou este ano com a “mão direita” a partir do título da Liga. Sobre esse processo contínuo que vem vivendo a seleção, o treinador falou da importância de trazer os jogadores cedo para os centros de excelência do vôlei, para que ganhem maturidade com o passar do tempo. “Eu, por exemplo, trouxe jogadores que há quatro ou cinco anos que estavam trabalhando na órbita da seleção e aos poucos fui lançando. O Lukão, por exemplo, foi lançado como titular, após quatro anos de trabalho” AUGUSTO RATIS / NJ

O IMPORTANTE É SEGUIR BUSCANDO AQUILO QUE VOCÊ ACREDITA, ACHO QUE ISSO É UM POUCO DO SEGREDO” Bernardinho Técnico do Brasil

BATE-BOLA COM BERNARDINHO AUGUSTO RATIS / NJ

Depois de tantos anos na modalidade, Bernardinho revela que a paixão pelo esporte está longe do fim e que garante que enquanto ela existir, deverá estar na quadra. O voleibol, segundo ele, é uma das prioridades de sua vida “depois da família”, como ele faz questão de ressaltar. Mas quando fala no esporte, Bernardo explica que não apenas na seleção, mas como projeto social, alto rendimento e a equipe Unilever Rio de Janeiro, da qual é treinador. “Tudo isso para mim é importante junto com minha família. São os dois pilares sobre o qual eu conduzo minha vida.” No entanto, revela que com o passar dos anos, a família começa a pedir mais pela sua presença e o que o coração começa a pensar em ceder aos apelos. “A família começa a pensar nisso e a fazer pressão para que eu possa pensar mais e ficar mais tempo com eles. Enquanto houver paixão, enquanto houver intensidade, pretendo continuar a buscar tudo que vier pela frente”, garantiu.

CONFIRA OS TÍTULOS

Como jogador

▶ Sulamericano (1981,

1983, 1985) ▶ Mundialito (1982) ▶ Pan-Americano (1983)

Na seleção feminina

▶ Grand Prix (1994 e 1996) ▶ Sulamericano (1998, 1999) ▶ Panamericano (1999)

Na seleção masculina

▶ Liga Mundial de Voleibol (2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2009 e 2010) ▶ Mundial (2002 e 2006) ▶ Copa do Mundo (2003 e 2007) ▶ Ouro Olímpico (2004) ▶ Pan-Americano (2007) ▶ Sulamericano (2001 e 2003)

NJ: QUAL A AVALIAÇÃO QUE VOCÊ FAZ DO POTENCIAL DO VÔLEI NA REGIÃO NORDESTE? BERNARDINHO - Tem muita gen-

te do Nordeste que conquistou destaque. A Virna que saiu daqui de Natal. O Carlão que é do Norte, do Acre, e que depois jogou em Fortaleza. Há muitas coisas acontecendo também no âmbito Norte-Nordeste, mas acho que a vocação se deslocou para o vôlei de praia. Juliana, que hoje é “campeoníssima”, foi formada pelas mãos da treinadora Suzete Cabral, ou seja, ela hoje é campeã mundial junto com Larissa. Temos muitos jogadores do vôlei de praia porque o Nordeste tem uma vocação efetiva para a modalidade em função da sua costa, do seu clima. VOCÊ, INCLUSIVE, TEM UMA ATLETA DE NATAL NA EQUIPE DO UNILEVER RIO DE JANEIRO...

Temos a Amanda Francisco,

ASSISTINDO AOS JOGOS DA SELEÇÃO, A GENTE PERCEBE UM BERNARDINHO INQUIETO, QUE GRITA, PULA, XINGA. O BERNARDINHO DA QUADRA É O MESMO DE FORA DELA?

Dentro da quadra é o nível de exigência, pressão. Fora eu sou um cara tranquilo, sereno tentando relaxar. A quadra é meu ambiente de trabalho, de pressão e busca por resultados. HÁ ALGO QUE VOCÊ AINDA NÃO CONSEGUIU FAZER NO VOLEIBOL?

▶ O repórter Bruno Araújo converca com Bernardinho: atencioso

Muita coisa! Tem sempre um novo objetivo. Ganhamos dois mundiais, falta o tri, então tem sempre uma coisa nova. VÊ UM SUCESSOR NAS QUADRAS?

ponteira da equipe. Foi formada pelos professores Breno e Suzete [Cabral] aqui no Volleyclub. Ela começou, veio crescendo no RN e levamos para o Rio de Janeiro para atuar na equipe da Unilever, nós ganha-

mos seis títulos ela ganhou dois ou três conosco. É uma atleta excepcional. Séria, determinada, correta nas suas ações, menina que foi campeã mundial juvenil pela seleção e tem uma formação espetacular.

Em relação ao futuro, tem muitos sucessores, não cabe a mim decidir e não penso ainda em parar, mas certamente tem muitos treinadores em condição de assumir e fazer melhor do que eu fiz


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