Revista Noize #40 - Dezembro de 2010

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Qualquer coisa Arquivo Pessoal

MOZINE FALA SOBRE... __ÓSSE|Em 2007 o

Mukeka di Rato fez uma divertida tour pelo Japão. Foram 10 shows estilo sonho de criança sendo realizado. Obviamente eu como roqueiro fanfarrão profissional, fiquei uma semaninha a mais por lá. Dentre as diversas atividades típicas de um turista idiota qualquer, estavam incluídas as orgias gastronômicas, que me renderam algumas caganeiras. Num dos meus últimos dias em Tokyo, fomos a um bairro bastante tradicional: Konenji. Um amigo me conduzia pelos labirintos de ruas com letrinhas de

Jaspion e me enchia de informações relevantes e históricas que eu esqueceria em segundos. Ao chegar em um dos bares, senti um mau estar entre os japas e fomos logo saindo. Diz meu amigo que naquele bar era proibido sentar “pessoas de cabelo amarelo” ou punks. E esse cara estava com o cabelo lindíssimo dessa cor. Por um segundo duvidei se era realmente o cabelo amarelo dele ou a minha “brazileirisse” estampada na cara. Apesar de até então não ter sentido nenhuma forma de preconceito (muito pelo contrário), fui informado que isso existe em alguns bares. Porém, optei por acreditar que era o cabelo punk oxigenado o problema. Encontrando um outro Izakaya – nome desse tradicional tipo de boteco no Japão – sentamos para uma nova ceia misteriosa. Eu parecia uma criança de 5 anos: tudo que dava na minha mão eu colocava na boca e comia, e hoje não seria diferente. No meio de sakês e cervejas boas chegou um pratinho com um sashimi diferente. Bem vermelhinho, forte, encorpado. Fui logo degustando e perguntando o que era. Recebi

um “ósse” como resposta. Porra! Pode crer... Ósse, seja lá o que for isso. Mas aquele peixe fortíssimo tinha um gosto diferente. Tão diferente que não parecia peixe. Então resolvi insistir, pedindo que ele me falasse em inglês o que seria Ósse.Yuki Takahashi me responde: Hm! Ósse is engrish. Porra, como assim? Mas eu não sei o que é isso em inglês. Ele me explicou melhor, no estágio dois da comunicação Brasil x Japão: mímica. Bateu as duas mãos na mesa de madeira e repetiu o som que isso gerava com a boca: - Pocotó, pocotó, pocotó... Sim, eu estava comendo carne de cavalo crua. Com alho. Como já havia comido duas peças, então comi logo mais umas cinco, pra não fazer desfeita.


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