Noize #57 - Setembro de 2012

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• COLABORADORES 1. Ariel Martini_ Ainda insiste em fazer fotos de shows. flickr.com/arielmartini 2. Fernando Schlaepfer _ Designer por formação, ilustrador por aptidão, DJ por diversão e fotógrafo por paixão. 3. Lalai e Ola_ Lalai trabalha com mídias sociais, mas sua paixão é música. É DJ e produz a festa CREW. O Ola trocou a Suécia pelo Brasil, o design pela música e fotografia. 4. Renata Simões_ Renata Simões, 34, é jornalista. Já produziu documentários, apresentou os programas Vídeo Show e Urbano, colabora com revistas e sites e ainda tem um programa diário no rádio em São Paulo, onde mora. 5. Nicolas Gambin_ Jornalista freela. Aprecia tocar The Meters com amigos nas horas vagas. 6. Daniel Sanes_ Jornalista por formação, lunático por opção e roqueiro de nascimento. Um dos editores de música do site www.nonada.com.br. 7. Marcos Xi_ Jornalista, chefe de redação, editor do RockinPress. 8. Fernando Halal_ Jornalista malemolente, fotógrafo de técnica zero e cinéfilo dodói. Não morre sem ver um show do Neil Young. www.flickr.com/fernandohalal 9. Dani Arrais_ Jornalista, nasceu em Recife, mora em São Paulo há quase cinco anos. Começou o donttouchmymoleskine.com há quatro anos e de repente viu que falava de amor quase o tempo todo. 10. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema. Edita o freakiumemeio.wordpress.com 11. Crib Tanaka_ é carioca-sansei, jornalista e trabalha com marketing. Acredita cada vez mais no ditado que diz “temos dois ouvidos, dois olhos e uma boca para vermos e ouvirmos duas vezes mais do que falamos.” 12. Rafael Kent_ Onipresente. www.rafaelkent.com 13. Fernando Schlaepfer_ Ex-Seagullsfly, ex-Café e ex-Globo. Atual C.E.O. e fotógrafo do I Hate Flash. Além de designer / ilustrador / D.J. / produtor / ciclista / luchador / porrachegadebarra. www.ihateflash.net/schlaepfer 14. Rodrigo Esper_ Tem como trabalho ser fotógrafo no I Hate Flash, e como hobby, falar duas vezes antes de pensar, ser a pessoa mais empolgada do mundo e a mais exagerada do universo. www.ihateflash.net/esper 15.Alysson Alapont_ Um ativista glorificando a estética dos submundos.

TIRAGEM: 30.000 exemplares CIRCULAÇÃO NACIONAL

• FOTO DE CAPA_ RAFAEL KENT

Os anúncios e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista. Revista NOIZE - Alguns Diretos Reservados.

• EXPEDIENTE #57 // ANO 6 // SETEMBRO ‘12_


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REVISTA NOIZE. TUMBLR. COM 3

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_foto: ALYSSON ALAPONT

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NOME_ Isabelle Nalu O QUE FAZ_ É a Nalu Pelo Mundo UM DISCO_ Thalma de Freitas, da atriz e cantora Thalma de Freitas “Música é a nossa alegria. Seria perfeito se desse pra viver com música ligada o tempo todo. E ‘Tranquilo’, da Thalma de Freitas, que está no nosso filme, é uma canção que diria tudo pra gente. ‘Levo a vida tranquila / Não tenho medo do mundo / Não vou me preocupar...”


“Rock ‘n’ roll é pai do meu filho mais velho.” Luciana Gimenez _ Lucas, você sabe, é filho de Mick Jagger, o líder dos Rolling Stones


//015

“Ele frequenta o alcoólatras anônimos diariamente de verdade. É alcoolatra recuperado, “Todo dia é dia de test drive lá “Alguém aí faz ideia do que sig- como o personagem.” Fernando em casa.” ivete sangalo_ao revelar nifica o hashtag #CrioloeEmi- Meirelles_ao falar do papel de Anthony Hopkins em seu novo filme, 360 cida” CRIOLO_em seu perfil no Twitter que quer ser mãe novamente “Não preciso seduzir a torcida do Flamengo inteira. Encantar alguns já me satisfaz.” MARISA MONTE_sobre a relação com fãs e desafetos

“Gente que me compara ao que eu era 30 anos atrás. Torço para que amadureçam bem.” LEO JAIME_em seu perfil no twitter

“Se não fosse famosa, eu ia dar muito.” XUXA

“Eu era um gordo maluco que “Depois de tanto tempo voltei a escutar nego me chamando de só cheirava. Hoje curto trocar gay por aí. Quero deixar claro que nao sou preconceituoso, mas fralda e assistir seis mil ve- vão à merda!” JUNIOR LIMA,MÚSICO_ quanto tentou dar um basta às insinuações de zes com meus filhos ao filme que é homossexual Branca de Neve.” JOÃO GORDO_ líder do Ratos de Porão e apresen- “Será que vai chegar uma hora em que não vou poder sair à rua tador de TV sem ficar emocionada? Acho tudo muito lindo e choro” Mallu Magalhães

“Tem gente que jura que era uma boca, mas foi um cu mesmo. Eu ainda tenho as fotos “Não tive nenhum tipo de in- “Música de sucesso sempre originais.” Chico Andrade, fotó- timidade com nenhuma das foi música pra fazer filhiduas. Como é que eu vou nho. Por que Michel Teló é grafo_ ao revelar a verdade por trás da saber?”José Wilker, ator_ quando sucesso? Música pra fazer polêmica capa de Todos Os Olhos , clássico filhinho.”Carlos Eduardo Miranda, questionado se Juliana Paes é mais gostosa de Tom Zé lançado em 1973 que Sonia Braga como Gabriela, persona-

“Transo como qualquer menina de 25 anos” Titi, apresentadora da MTV_ao falar sobre sua vida sexual, ela diz que não é “a louca do anal giratório, nem uma santa: sou normal”

produtor musical

gem de Jorge Amado

“Não escuto nada dessas porcarias que fiz. Minha Lua em Virgem só vê os defeitos e, como não posso voltar atrás para mudar nada, prefiro não escutar mesmo.” RITA LEE


“Mas isso aqui ôô tem um pouquinho de Brasil iaiá”, cantarola Caetano pelos iPods, iPads e vitrolinhas da redação enquanto a gente fala, ouve, escreve Brasil com s, sim senhor. E eis então a nossa anual e comemorativa edição especial Brasil. Que começa com um passeio onde muito começou: no Rio de Janeiro, com os novos cariocas. Depois, a trilha do vinil brazuca, meu bem, mais a estreia de Crib Tanaka, nova colunista de moda, bandas que você não conhece mas deveria, as luzes de Renata Simões e gente fina, elegante e sincera apontando com orgulho o disco brasileiro que fez diferença no que nós, tão descuidadamente, chamamos de vida. Bota a sandália de prata e vem. Cris Lisbôa


Foto: AndrĂŠ Chaves


_Por Daniela Arrais donttouchmymoleskine.com

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UMA música brasileira para cantar no chuveiro_ “As de Dorival Caymmi. Acho que pelo fato de as músicas dele terem poucas frases, são fáceis de decorar.” Felipe Souza, do Mombojó “Adoro cantar ‘As Forças da Natureza’, da Clara Nunes, no chuveiro pensando que eu tô debaixo de uma cachoeira exorcizando!” Mariana Aydar “‘Odara’, de Caetano Veloso. Gosto de rodopiar enquanto a água cai.” Juliana R. “‘Felicidade’, de Lupicínio Rodrigues. Eu sempre me emociono e choro, então prefiro cantá-la no chuveiro pra ninguém me ver chorar.” Pélico “‘Sintonia’, de Moraes Moreira. Canto com gosto, lembrando da infância, talvez dos banhos de chuveiro que vinham depois de um bom banho de mar, só para tirar o sal e dar aquela desacelerada no corpo, que depois só queria rede e cochilo.” Lulina

10 anos_ Foi a idade com que Caetano Veloso fez sua primeira gravação. Um trabalho caseiro com “Feitiço da Vila”, de Vadico e Noel Rosa.

2.438_ Foi o número de candidatas ao posto de nova loira do Tchan. O concurso durou quase dois meses e elegeu Sheila Mello.

8 mil reais_ Foi o salário oferecido a Gilberto Gil para assumir o cargo de Ministro da Cultura do governo de Lula. Ele aceitou com a condição de seguir fazendo shows.



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Quatro anos se passaram desde que o Macaco Bong estreou com Artista Igual Pedreiro. Durante esse período, o trio cuiabano conquistou a crítica, o público, tocou em 25 dos 27 estados brasileiros e até mesmo fora do país. Tudo para ter a certeza de que com o aguardado segundo álbum o caminho é esse. This is Rolê. Vocês soltaram o novo disco pra download gratuito. A música tem que ser de graça, mesmo? É uma discussão sem fim na indústria fonográfica... As pessoas pagam por tanta coisa que não deveriam hoje em dia, pagar para ouvir uma música da banda que elas gostam seria demais, não?! Temos um modelo, que é o fadado. O outro está aí e em construção. Como nós. Apoiamos aquilo que podemos mudar também – na grande indústria não há essa possibilidade. Temos parceiros que lançaram esse disco conosco, e todo mundo ganha dessa forma. A música chega para o público, o selo vende o disco, a banda toca e a roda funciona. Tem sido assim e tem funcionado muito bem. Muita gente considera o This is Rolê um dos álbuns mais aguardados do ano. A expectativa pesa? Nós também estávamos ansiosos. É bom o frescor do novo. É o passo rumo a construção de uma carreira. Faz parte.

(CC BY-SA) Fora do Eixo

CINCO perguntas e umA CACHAÇA MINEIRA COM MACACO BONG

Mas nunca pensamos muito nisso, senão iríamos ficar loucos. E talvez o disco nem estaria aí, por mero capricho. Não podemos ficar presos a isso. Poderia nos matar. Vocês estão baseados em Belo Horizonte, dizem que já andam “degustando umas cachaças mineiras”. O “jeitinho mineiro de ser” tem influenciado a música do Macaco Bong? Olha, está influenciando, sim. Estamos conhecendo muitos artistas locais e trocando muito com eles. Já fizemos algumas coisas com o Daniel Nunes, do Constantina, com os Dibigode... E o grande Túlio Mourão participou de duas músicas do disco, “Seu João” e “Dedo de Zombie”.

This is Rolê é trilha sonora pra que momento? Estrada, momentos que necessitam de energia, e para momentos íntimos. (risos) E se o Macaco Bong fosse fazer um show especial com um vocalista convidado, pra uma noite apenas. Quem seria esse frontman? Freddie Mercury. Pelo simples fato de ser o Freddie Mercury.



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Reprodução

FILME | O Deus da Carnificina

TWITTER |

_O meio novo do Polanski (só vejo depois que sai em VHS) bota os pais de duas crianças que brigaram na escola pra conversar. O filme todo se passa aí nessa discussão, que vai virando treta e perdendo a razão generalizadamente. Impossível não vibrar e despertar em si aquele instinto assassino de espectar uma verdadeira luta de boxe da paternidade, onde os personagens comprovam aquela história que “nunca sairemos do colegial” e vão aos poucos perdendo toda polidez da vida adulta e despencando pirambeira emocional abaixo ad infinitum rumo à infantilidade.

@francofilipe: Tá, já vi a internet. Que mais de legal tá rolando por aí?

@fazamor: Estria, a tatuagem de Deus.

@biboldo: Acordei enxergando tudo em HD.

@OficialGretchen: ai q sono

Reprodução

Reprodução

BLOG | Recordar é viver! _Pensando em blogs que eu realmente frequento, eu não poderia deixar de ser sincero e dizer que eu só acesso aquele que me dá algo em troca. Isto é, pirataria! Os caras desse blog fazem um dos trampos mais dignos que eu já vi: ripam e remasterizam vinis, muitos deles obscuros e raros, por não terem sido lançados em CD, perpetuando a memória desses trabalhos. O acervo com diversos nomes esquecidos da música brasileira já é bem extenso e continua a crescer. asaudadenaotemidade.blogspot.com.br


Convidado do mês I Rafael Castro, músico É apadrinhado pelo João Erbetta, amigo do Pélico, recebeu elogios pessoais de Arthur Nestrovski, tem videoclipes na emissora jovem, toca com Deus e o mundo, participa de coletâneas internacionais e sofre cronicamente de síndrome do pânico,TOC, acne, insônia e amor.

REMIX | Versões Místicas do INRI Cristo Divulgação

_Como eu não me ligo muito nesse negócio de remix e o último que eu lembro deve ser o Seven Nation Army com beat, falo de uma recordação muito curiosa que rolou uns anos atrás e merece ser lembrada. Entre versões de “Eye Of The Tiger” e “Umbrella”, Asusana e Alíbera atingem o auge do absurdo e do fanatismo, divertindo a gente com as histórias mais pitorescas do Cristo re-ressucitado.

UM ARTISTA PARA CONHECER | Sam Brown Reprodução

Reprodução

UMA DESCOBERTA | Zé Rodrix

_Foi por esses dias, comprei numa prateleira empoeirada em um posto de beira de estrada o I Acto, primeiro solo do Zé, numa missão de perder o preconceito desse cara que, pra mim, tinha destruído o espírito do Joelho de Porco dez anos depois no Saqueando a Cidade. A remissão foi total. O cara é rock nervoso, tem melodias incríveis, linhas de órgão matadoras e na primeira faixa, “Casca de Caracol”, vira meu melhor amigo na confissão “eu tinha medo de gente que eu não conhecia e também tinha medo de gente que morava lá na vizinhança”.

_ O Sam Brown (Pseudônimo do Adam Culbert) com seu Exploding Dog tá na ativa desde o ano 2000. O que ele faz é receber e-mails dos visitantes do site com uma frase curta aleatória e ilustrar essa frase, criando uma espécie de série com uma autocontinuidade, embora partindo sempre do inesperado. Desenhos toscos feitos no estilo paintbrush e melancolia na medida certa com seus personagens carismáticos e sinceros. explodingdog.com

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_Por Lalai e Ola Persson

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MAS DEVERIa_

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Uh La La! Que Curitiba é uma das capitais do rock, ninguém discorda, e de lá sempre saem boas safras de bandas, como os Sabonetes, Copacabana Club e Bonde do Rolê, que também tem surpreendido com suas novas sonoridades tropicais.

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Mas foi Uh La La, que já tem algum tempinho de estrada, que chamou nossa atenção caindo na nossa caixa de som somente agora, graças à indicação do Dani Peixoto. Fazem rock’nroll com referências dos anos 1960, com boas pitadas de new wave e punk, com letras bem humoradas e em português. A banda é formada por Andreza Michel, Babi Age, Isabela Matoso, Eliza Matta e Ivan Roccon, que produzem com guitarra, bateria, baixo acompanhados de dois sintetizadores. Lançaram em 2011 o álbum Volume Dez, e ouvi-lo traz a certeza da diversão, como aliás sugere o próprio nome da banda. Caso esteja procurando rock’nroll divertido, corre lá e baixa o álbum, que está disponível para download gratuito. www.bandauhlala.com.br

Jardim das Horas Já causaram barulho com o hit “Teen Years” há alguns anos e voltam à tona com o EP Masochist, lançado pelo selo Hot Creations, muito mais maduro e com produções primorosas, numa linha house de alta qualidade e menos electro-clash adolescente. Quando a última faixa do EP acaba, deixa aquela vontade de “tem mais?”. http://bit.ly/QACFCg

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Digitaria

Canções em português embaladas pelo vocal de Laya Lopes. A banda é de Fortaleza, começou em 2003, nesse período arrematou diversos prêmios e faz um som cheio de brasilidade. Enquanto não sai o novo álbum, ouça o Quarto das Cinzas. http://www.ojardimdashoras.com.br



_ Por Renata Simões renatasimoes.com

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Pedro Bala está a meu lado. O Professor, Sem-Pernas, o Gato, todos aqui. Dora ainda nao chegou mas é questão de algumas páginas. Estou relendo Capitães da Areia, livro amado de Jorge, fazendo mil conexões entre ele, nosso mundo, Zé Pequeno e Cidade de Deus. O mundo ingênuo da época da sua publicação, quando senhoras abriam as portas de suas casas para menores coxos, não existe mais. Ou existe? Não foi isso que fez Dagmar Garroux pra criar a Casa do Zezinho em São Paulo? Mas voltemos a Jorge Amado, que em 2012 faria 100 anos e que é tão Brasil quanto suas estórias da Bahia. País contraditório o nosso, que chegou a queimar Capitães da Areia em praça por ideias subversivas. Depois de queimados, os capitães renasceram e foram traduzidos para o mundo. A gente não aprecia o que é nosso e precisa do gringo pra traduzir e dar valor, vai entender. A gente não sabe se tem orgulho ou vergonha da nossa nação. Ou se tem os dois. Sentada num hotel nas terras altas escocesas, um local lindo e vasto, verde e marrom. Sem gente. Pouco sol. Cada vez mais os gringos te pedem pra explicar o Brasil. O que nós somos, qual o elã. Na falta de uma resposta apropriada, já que prefiro elocubrar sobre a definir algo, coloco música. Atualmente é Céu, com seu Caravana Sereia Bloom, e Erasmo Carlos, com seu Carlos,Erasmo de 1971. Os discos e seus intérpretes-autores conversam lindamente.

Enviado de um orelhão



_Por Crib Tanaka www.circulador.wordpress.com

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Reprodução

Maira Acayaba

Tomás Bello

A moda recicla, reaviva, liga, não liga. Mas, está a dispor, permitindo viagens para amanhãs imaginárias, ao mesmo tempo que propõe visita a baús cheios de herança-de-vestir. As referências voam, pausam, andam ao lado, passam à frente. Puxe do armário o que melhor combina com a mensagem que deseja passar e ... diga por aí quem você é e o que deseja. Pode ser uma coisa diferente a cada dia? Sim. E pode ser tudo ao mesmo tempo? Também.

Nem ligo

Eu vim de lá

Agridoce

Acordei, botei uma roupa e fui por aí. Nessa estação, o despojamento aparece em peças soltas do corpo, estampas étnicas e trabalhos manuais, como tricô e crochê. O ar pode ser brejeiro ou pode ter pegada urbana. A saia de tricô com rasteira dá uma volta no dia ensolarado no parque. Já o vestido combinado a botas e jaqueta jeans vai para o show de rock. Na real, não há regras – a não ser parecer 100% natural. Quem entra na vibe? Céu, Roberta Sá.

Se quer parecer que veio de outra época, aposte no chapéu, esse acessório incrível que cada vez mais tem aparecido nos looks abaixo por aqui, abaixo da linha do Equador. No verão, os modelos em palha e panamá dominaram praia e asfalto.Agora, os de feltro e lã estão aí para aquecer os dias mais frios. Os meninos podem optar por modelos com abas menores. Já elas podem usar o floppy, o preferido de Brigitte Bardot. O chapéu confere um ar interessante ao visual. Instiga, tem alma vintage.Vira fantasia possível, por ser prático e fácil de usar. Quem usa? Tatá Aeroplano e Thiago Pethit. Cada um com seu mistério.

Um ar teatral, pero no mucho. Uma pitada agridoce, inteligente.Você olha para ela e pensa: “De onde ela veio? O que ela faz?” A mistura de peças de diferentes estilos, um mix de texturas diferentes e acessórios e cores alegres: não há como não pausar e olhar. Fica difícil definir exatamente o estilo, mas a gente conta quem usa e você logo vai entender: Fernanda Takai, Tulipa Ruiz.



www.avalanchetropical.com twitter.com/avalanchebr

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Balanço maneiro

O jornalista e DJ Ronaldo Evangelista esteve em Belém para cobrir o evento Terruá Pará e aproveitou para se embrenhar no comércio local de vinis antigos. Desse garimpo surgiu a mixtape “Ver-O-Peso”, em que ele mostra o fino da música paraense. goo.gl/StVXj

Treme!

A nova do paraense Jaloo é um cover com levada tecnobrega para “Oblivion”, da hypada musa canadense Grimes. Se você fuçar no soundcloud do cara, ainda vai achar remixes de sons da Bjork, Gaby Amarantos, Beyoncé e Lucas Santtana. goo.gl/StVXj

Braindance rural

O mineiro Zé Rolê, mais conhecido como Psilosamples está com um ano e tanto: foi atração no Sónar São Paulo e Barcelona, fez tour na Europa e lançou o ótimo disco Mental Surf. Agora ele libera mais quatro sons da pesada em seu Soundcloud. goo.gl/gsIq5

Segura os meninos

Nossos feras do Drunk Disco tão que tão. Primeiro, enfiaram um pancadão no som novo da Banda Gentileza (youtu.be/po0EaPIl9Co). Na sequência, botaram na roda a mixtape Rihanna na Banana, cheia de batidão, suor e malícia. snd.sc/Pnb2Go

Raio, estrela e luar

Bagamix é uma das caras do carioca Bruno Queiroz, que também atende por La Bombacion. Aqui, ele faz remixes marotos de sons como “Deixa Acontecer”, do Grupo Revelação. O projeto retorna agora mexendo em “Fogo e Paixão”, do Wando. snd.sc/MY4jYl

Tá pintando

O Holger começa a dar pistas do que vai ser seu segundo álbum, que deve se chamar Ilhabela e tem convidados como João Parahyba e Li Saumet (Bomba Estereo). Recentemente, eles liberaram um teaser com um trecho da faixa título. youtu.be/XeeDPmYJevk



032\\

1.

Elvis Presley

2.

Talking Heads

“Eu ouço Elvis a vida inteira”, Ricardo Koctus.

“O David Byrne e o Jerry Harrison influenciaram pra caralho no jeito de tocar guitarra”, John Ulhoa. 3.

Duran Duran

“O universo mais pop do Pato Fu é representado pela Fernanda, e ela adora eles.”

4.

Elvis Costello

“Uma grande referência como compositor.”

1. O baixista é tão fanático por Elvis, que encabeça o projeto The Presley’s Band, em que interpreta clássicos do Rei do Rock. 3. Nos 80’s, não havia quem não gostasse de Duran Duran: a banda emplacou 14 singles no Top 10 da UK Chart e 21 na Billboard Hot 100. Os ingleses somam 100 milhões de álbuns vendidos e, por conta da elegância e da colaboração com designers renomados, ganharam o apelido de “the prettiest boys in rock”.


O Pato Fu já foi considerado pela revista Time um dos dez melhores grupos de fora dos EUA, ao lado de Radiohead e U2. Ao fazer música com instrumentos de brinquedo, os mineiros conquistaram o Grammy Latino de melhor álbum para crianças.

5.

B52’s

//033

Divulgação

Pato Fu

6.

Suzanne Vega

“No quesito festa.”

“É outra artista que a Fernanda gosta muito.”

7.

Devo

“Eu gosto muito dos artistas que têm um universo único, um jeito próprio de ser. E eles sempre buscaram isso”, John Ulhoa.

8.

Everything But The Girl

“É um casal muito legal. Nosso lado pop também passa por aí.”

4. Costello já foi chamado de “enciclopédia do pop” pela imprensa britânica, faturou um Grammy, está no Rock and Roll Hall of Fame e na lista dos 100 Maiores Artistas de Todos os Tempos feita pela Rolling Stone EUA. 6. São dela os hits fofos “Luka” e “Tom’s Diner”, tá lembrado? Aliás, a segunda foi inspirada no Tom’s Restaurant, bar nova-iorquino que você já viu milhares de vezes em cena no seriado Seinfeld – na TV, ele virou Monk’s.




036\\

PAULO MIKLOS, MÚSICO Jards Macalé, de 1972. Porque se me perguntarem pela potência de loucura de um trio como o The Jimi Hendrix Experience na música brasileira, eu diria sem piscar, nós temos! Jards Macalé no violão, Lanny Gordin no violão solo e no baixo e Tutty Moreno na bateria.


//037

china, mÚSICO O disco brasileiro que mudou minha vida foi o Da Lama Ao Caos, de Chico Science e Nação Zumbi. Há muito tempo os pernambucanos não tinham alguém super celebrado na música brasileira. Até tinha o Alceu Valença, mas era uma coisa distante, era um cara de outra geração. Daí aconteceu o movimento Manguebit e a minha geração encontrou um grande artista para se identificar, e, mais que isso, imagina... Você ouvir o disco de um cara que mora no bairro ao lado do seu, que tem o sotaque igual ao seu, e que ainda é reconhecido e prestigiado no mundo todo? E um disco todo diferente, sem pratos e com a bateria desmembrada em tambores de maracatu. As letras refletiam o que víamos em Recife, e todos se identificaram com a mensagem que as letras passavam. Depois do Da Lama ao Caos, todo pernambucano fez a sua própria revolução. E é por causa desse disco que eu sou músico hoje.


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Kátia Lessa, jornalista Quando era criança, fazia longas viagens de carro com os meus pais pelo Brasil. Os discos de Caetano, Gal e Chico Buarque eram os favoritos e não saiam do som, mas Acabou Chorare, dos Novos Baianos, foi o primeiro álbum que parecia mais meu do que deles. E me fez começar a procurar música sozinha.

Thalma de Freitas, atriz e cantora Amoroso, do João Gilberto. Eu já amava de Elis a Racionais e Ella e Michael Jackson. Um belo dia, meu pai, sempre papai, me fez ouvir o arranjo de “Besame Mucho” que o Claus Orgeman tinha feito pra acompanhar a voz e o violão sublimes do João. E eu fiquei chorando e repetindo a faixa durante muitos dias e meses e anos, pensando na colaboração entre arranjadores e músicos e como a música fica sofisticada quando feita com extremo esmero. Ainda choro às vezes, quando ouço.

Cao Hamburguer, cineasta

Banda Uó

Acabou Chorare, dos Novos Baianos, de 1972. Poesia, samba, chorinho e guitarras elétricas. Paz e Amor, Flower Power brasileiríssimo de alto nível.

Os Tribalistas. Esse trabalho de três ótimos artistas é música pra toda família. Influenciou pela maneira original e sincera de trabalhar com música, criando um estilo despretensioso e leve.

Didi Effe, apresentador da MTV Nós Vamos Invadir Sua Praia, do Ultraje a Rigor. Quando esse disco foi lançado, eu tinha uns três anos de idade, mas também tinha uns primos adolescentes, e de muito bom gosto, que ouviram ad infinitum esse LP durante anos. Depois, quando completei doze anos, eu estava certo de que a adolescência tinha chegado pra mim e eu precisava começar a me comportar como tal. O primeiro passo foi começar a ouvir discos de adultos e a minha primeira referência, me espelhando nos primos, foi o Nós Vamos Invandir Sua Praia. Pra mim, até hoje o disco soa impecável. Numa época em que o berço do rock nacional era o Rio de Janeiro, vem uma banda de São Paulo com ironia e fino trato invadindo a praia de todo mundo e mostrando o atalho pra quem queria chegar lá.


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Ronaldo Fraga, estilista Caetanos, Chicos e Renatos Russos que me perdoem, mas o primeiro disco que me marcou foi a trilha sonora do Sítio do Picapau Amarelo, de 1977, em que quase todas as composições eram assinadas por ninguém menos que Dorival Caymmi. E a capa era linda!

Gaía Passareli, apresentadora da MTV Dizer que “mudou minha vida” é exagero, mas eu fiquei obcecada pelo As Quatro Estações, da Legião Urbana, quando saiu. Eu tinha 13 anos, então era aquela coisa de achar que minha vida estava escrita nas letras do Renato Russo. Passei anos negando o gosto depois, mas hoje olho pra trás e vejo um belo disco. Mais lírico e bem acabado que os anteriores, menos piegas do que o que veio depois.

Chuck Hipolitho, músico O Cabeça Dinossauro, dos Titãs. Na minha opinião, é o melhor disco de rock nacional de todos os tempos. O meu Nevermind no Brasil. Lembro de ouvir repetidamente quando ainda era praticamente criança. Lembro de ouvir alto pra caralho no fone de ouvido, no toca-discos de uma tia, e ficar impressionado com tudo – a bateria, as vozes, a interpretação, o som... Puta que pariu. Um clássico indispensável que, se fosse lançado hoje, ainda seria como uma bomba atômica na música brasileira.

Mariana Martins, artista plástica É difícil definir um único disco que mudou minha vida, mas posso dizer que o disco brasileiro que mais me marcou foi o primeiro dos Mutantes.Talvez por ter sido o primeiro disco de música brasileira que meu pai, Ademir Martins, trouxe exclusivamente para mim. Era final de 1968, eu estava na terceira série e tinha uma professora que me odiava e perseguia. O disco chegou bem quando acabou o ano letivo e a sensação de alívio, encher um copo de Fanta laranja, deitar no delicioso tapete de pele de carneiro do meu quarto e ouvir os Mutantes... Ah, eu era gente de novo! A vida tinha sentido.


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CARLOS EDUARDO MIRANDA, PRODUTOR MUSICAL O disco do Gil, de 1969, com uns manuscritos na capa. Me fez entender a MPB, desde criança, como algo cheio de rock e ousadia, criando em mim critérios que me levaram a ter especial apreço por Jorge Mautner, Tom Zé, Walter Franco, Mutantes e Novos Baianos durante essa fase de formação tão importante, entre os 6 e os 12 anos. Fruto disso pode ser ouvido em várias produções minhas.


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SPETO, GRAFITEIRO Infelizmente, não foi um disco brasileiro. Mas foi a partir de um álbum brasileiro que eu mudei meu estilo. Conhece a banda Oingo Boingo? Eu era super fã deles, e quando vi a capa do disco Dead Man’s Party tive um insight. A capa era uma festa de “Dia de los Muertos”, com as caveiras típicas do artesanato mexicano. Era década de 1980, eu andava de skate e fazia graffiti nas ruas. Por viver em uma época punk e skate, nem preciso dizer o quanto gostava de caveiras, então imediatamente comecei a pesquisar o artesanato e o movimento muralista mexicano. Estudei também o cordel. Estava repleto de influências. Foi nessa época que recebi uma proposta pra fazer a capa do disco de uma banda até então pouco conhecida: o Raimundos. Era o primeiro disco deles e o produtor musical era meu amigo Miranda, que foi editor da Revista Bizz, a qual eu ilustrava. Oportunidade melhor não havia. Peguei um esboço que o Digão fez de uma caveira e desenhei o logo da banda, encarte do disco e cenário para os shows. Com o tempo fiz diversas capas, live-painting em shows de várias bandas da minha geração que misturavam influências brasileiras no estilo – Planet Hemp, Nação Zumbi, O Rappa. Foram mais de 300 telas que pintei durante os shows.


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A PRIMEIRA FÁBRICA DE VINIS DO BRASIL Foi em 1950 que a Sinter transformou-se na primeira gravadora a prensar e distribuir comercialmente um disco de vinil em terras tupiniquins.

Em 1913, a Odeon já havia fundado a primeira fábrica de discos do país. Só que eles não eram feitos de vinil, e sim de plástico baquelite ou goma-laca (resina secretada por insetos da Ásia). Comportavam apenas três minutos de música.

O PRIMEIRO VINIL É Carnaval. E não apenas no título. Lançado em 1951 pela Sinter, o primeiro LP de vinil a estampar as prateleiras do Brasil trazia marchinhas e sambas. Conveniente.

O PRIMEIRO ROCK Dois discos de 1957 disputam o título de primeiro rock totalmente composto, gravado e lançado no Brasil: "Rock and Roll em Copacabana" e "Brasil Rock". Ninguém menos que Cauby Peixoto gravou o primeiro, enquanto a veterana pianista Carolina Cardoso assinava “Brasil Rock”. Ambos foram lançados em maio daquele ano.

Outro marco histórico do rock nacional é o 78 RPM com as músicas “Forgive Me/Handsome Boy”, lançado em 1958 pelos irmãos Tony e Celly Campello. A bolacha abriu, definitivamente, as portas de entrada do rock em discos, programas de rádio e televisão.


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A BOSSA NOVA Em 1959, João Gilberto estreia em vinil. Chega de Saudade foi lançado em LP e mantido em catálogo por 31 anos consecutivos. A faixa-título, composta pela dupla Tom Jobim e Vinícius de Moraes, não só lançou a carreira do baiano como catapultou um movimento que agitava o Rio de Janeiro: a bossa nova.

DE ONDE VEM O SOM

O PRIMEIRO SAMBA Leva a assinatura de Ernesto Joaquim Maria dos Santos (o Donga) e Mauro de Almeida. Ou assim dizem os registros da Biblioteca Nacional. “Pelo Telefone” foi registrado em 27 de novembro de 1916 e lançado em disco – de plástico – pela Odeon no mês seguinte.

O VINIL Material plástico, normalmente feito de cloreto de polivinila ou PVC.

MEDALHA DE BRONZE Atrás de EUA e França, o Brasil foi o terceiro país do mundo a produzir discos de vinil.

É que o vinil possui microssulcos em forma espiralada. Além de conduzir a agulha do toca-discos da borda externa até o centro no sentido horário, eles fazem a agulha vibrar. A vibração é transformada em sinal elétrico, que é então amplificado e transformado em som. Ou seja, música.

A CASA DO VINIL BRASILEIRO Atualmente, a Polysom é a única fábrica de vinis não só do Brasil, mas da América Latina. Depois de fechar as portas em 1999, foi reaberta em 2007 com capacidade para produzir 28 mil LPs e 14 mil compactos por mês. Durante muito tempo, ela se manteve em pé com a alta demanda de vinis por parte das igrejas evangélicas. Os primeiros lançamentos da nova era da Polysom foram quatro. Todos da própria Deckdisc, gravadora dona da fábrica: Cinema, da Cachorro Grande, Onde Brilhem os Olhos Seus, de Fernanda Takai, Fome de Tudo, da Nação Zumbi e Chiaroscuro, da baiana Pitty.


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AS PRIMEIRAS CAPAS Na era das coletâneas, as capas eram desenhos ou ilustrações, nunca retrato dos artistas. Como apenas 10% delas eram creditadas, a maior parte dessa memória gráfica se perdeu.

OS 10 POLEGADAS Eram de 10 polegadas os primeiros LPs brasileiros. Tinham 25cm de diâmetro e espaço para oito faixas, quatro de cada lado. Mas não traziam gravações inéditas: eram todos coletâneas. Até 1954, quando saíram de mercado, estima-se que tenham sido lançados mil títulos.

JÁ EM 59 As capas começam a ser retratos dos artistas ou intérpretes.

DIREITA E ESQUERDA Em 1957, a gravadora CBD lança o primeiro disco estereofônico do Brasil. Ou seja, foi a partir dali que a música ganhou a caixa de som direita e esquerda de forma distinta. Com o comediante Oscarito cantando marchinhas de carnaval.

TOM JOBIM E BILLY BLANCO Em 1954, Tom e Billy gravaram a “Sinfonia do Rio de Janeiro”. Com 12 minutos – ininterruptos – de duração, foi a primeira canção a ocupar um lado inteiro de um vinil.

PELOS DIREITOS DO VINIL Foi fundada em 1958 a ABPD – Associação Brasileira dos Produtores de Discos. A ideia aqui era aproximar os interesses das gravadoras com os de autores, intérpretes, músicos, produtores e editores musicais. Além de combater a pirataria musical, claro.


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O MAIS CARO

O CAMPEÃO DE VENDAS É, claro, o Rei o maior vendedor de discos da indústria fonográfica brasileira. Durante a década de 1970, os LPs de Roberto Carlos chegavam à casa dos 2 milhões de unidades.

Lançado em 1975 por Lula Côrtes e Zé Ramalho, Paêbirú é tido como o vinil de maior valor comercial no país. Um dos primeiros discos não declarados da psicodelia brasileira, pode valer 4 mil reais. Se da edição original e bem conservado, lógico. Logo atrás de Paêbirú está o Rei. Louco por Você, o primeiro LP de Robertão, é o segundo disco mais valorizado no Brasil. O que chega a ser curioso, já que não teve sucesso comercial quando lançado, em 1959, e acabou renegado por Roberto. Hoje, tem gente comprando por R$ 3.000.

AS CAPAS MARCANTES • Em 1959, Cesar fez uma capa inovadora para o violonista Bola Sete. É considerada a primeira capa interativa da música brasileira – trazia uma bola preta impressa e mais seis bolinhas coloridas como as de sinuca soltas dentro do plástico que a envolvia. • Até onde se sabe, foi João Gilberto o primeiro artista a reclamar de uma capa sua, em 1960. Descontente com a ousada capa solarizada que Villela criou para O Amor, o Sorriso e a Flor, o cantor e compositor baiano telefonou para o designer às 11 da noite. Só desligou duas horas depois, após explicar a diferença entre “tristeza” e “tristezinha”, em um monólogo surreal que, até hoje, Villela confessa não ter compreendido.

• Índia, de Gal Costa, teve sua capa censurada no Brasil: muito explícita para ficar nas prateleiras. A solução foi manter a capa, porém vender o disco dentro de um plástico azul. • A capa de Secos e Molhados foi tão emblemática que, segundo Ney Matogrosso, deu origem ao Kiss. “Eles que copiaram a gente!”, diz em 1973. “A banda já era um estrondo no Brasil e fomos ao México. O sucesso foi tanto que a Billboard publicou uma foto nossa de página inteira e dois empresários americanos quiserem me levar para os EUA. Recusei a oferta, não queria acabar como Carmen Miranda. Disseram que minha imagem era boa, mas que o som tinha que ser mais pesado. Viemos embora. Uns seis meses depois começou o Kiss, com uma maquiagem como a nossa e um som mais pesado.”


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OS GRANDES CAPISTAS Egeu Elaus - Fez capas para nomes como Paul McCartney, João Gilberto, Pixinguinha e Legião Urbana. Também ficou conhecido pela capa de Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão, álbum de Marisa Monte. Elias Andreato – É responsável pela famosas capas de Palhaço, de Adoniran Barbosa, Rosa do Povo, de Martinho da Vila e Ópera do Malandro, de Chico Buarque e João Nogueira. Cesar Vilella – Foi capista do lendário Elenco, selo que reuniu artistas como Vinicius de Moraes e Nara Leão. Como na época não havia televisão ou outras mídias para promover os discos, Vilella apostava na estética minimalista, que atraía os clientes por sua excentricidade simples. Como a capa de Ooooooh! Norma, onde a atriz Norma Benguell aparece seminua em um fundo preto.

OS TIPOS DE VINIL LP É o Long Play, o famoso "12 polegadas". Com 31 cm de diâmetro, o disco é tocado a 33 1/3 rotações por minuto e tem espaço para cerca de 20 minutos de música por lado. É sinônimo de álbuns completos. Embora possa ser produzido em 140, 160 ou 180 gramas, a gramatura não influi na qualidade: a profundidade e a largura dos sulcos são sempre as mesmas. EP Também conhecido como Extended Play ou “7 polegadas”. Tem 17,5cm de diâmetro e é normalmente tocado a 45 RPM. Com capacidade de 8 minutos por lado, o EP normalmente significa um mini álbum, ou cerca de quatro faixas.

Compacto simples Ou single, ou 7 polegadas. É aquele disquinho com apenas 17 cm de diâmetro, tocado geralmente a 45 RPM (no Brasil, a 33 1/3 RPM). Sua capacidade ronda os 4 minutos por lado, então artistas e gravadoras transformaram o single no formato da “música de trabalho” – que, em alguns casos, vem acompanhada de uma faixa bônus.


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RELANÇAMENTOS PRECIOSOS DE 2012 Jards Macalé - Jards Macalé Originalmente ançado em 1972, o álbum traz cancões assinadas por Jards Macalé em parceria com Capinam, Torquato Neto e Waly Salomão – com quem assina seu maior sucesso, “Vapor Barato”, imortalizado na voz de Gal Costa. Discografia do Los Hermanos É uma caixa deluxe com toda a discografia da banda carioca em discos de vinil de alta qualidade, além do álbum Ao Vivo Na Fundição. O próprio Los Hermanos cuidou da supervisão do projeto que inclui o primeiro álbum, homônimo, e o último, 4, em discos simples, enquanto os outros estão em dois LPs.

Jorge Ben - Samba Esquema Novo e Negro É Lindo Samba Esquema Novo é o primeiro disco da carreira de Jorge Ben, traz pérolas como “Chove Chuva”, “Por Causa de Você Menina” e “Balança a Pema”. Negro É Lindo conta com parcerias do músico com Toquinho e arranjos de Arthur Verocai. Planet Hemp x 2 Usuário e Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára. A estreia e o segundo álbum de Marcelo D2 e cia. Rock, rap, funk, hardcore e psicodelia. “Legalize Já” e “Queimando Tudo”. O que marcou os 90’s está de volta em vinil de 180 gramas e com as artes originais.

VINIL vs CD vs MP3 Em condições ideais, os tons graves são de 20 a 30% mais graves no vinil. Josh Bizar, da loja virtual de LPs MusicDirect diz que “as pessoas ainda querem se conectar com o artista, e o lado gráfico e lúdico do vinil faz isso de uma maneira que arquivos deletáveis nunca farão”. Dono da Deckdisc e Polysom, João Augusto concorda. E vai além. “O vinil é fundamentalmente uma experiência tátil, visual e auditiva. Colocá-lo no toca discos, observar magníficas artes estampadas em 31cmx31cm, ler o encarte e a contracapa e ainda ouvir um som que tem vantagens cientificamente comprovadas sobre qualquer som digital, tudo isso faz com que o vinil seja encarado com fetiche, um objeto de desejo”, defende.

Agora que você já percorreu o caminho do vinil em terras tupiniquins, entre em nosso site e conheça os melhores discos da música brasileira http://bit.ly/discosbrasil57. Descubra também onde encontrar raridades e bagatelas nas principais cidades do país http://bit.ly/redutosvinil57.


__ENTREVISTA E TEXTO MARCOS XI E CRISTIANE LISBÔA 048\\


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O Rio de Janeiro é uma cidade curvilínea. Deve ser por isso que por lá, a música sempre passeou sem tropeçar, nos quadris de Carmem Miranda, no assovio do velhinho a caminho das areias de Ipanema, no cantarolar da moça na van Gávea-Rocinha e nos shows improvisados pós-praia. Aconteceu no Rio a era de ouro das rádios e os grandes festivais de música que lotaram estádios e foram responsáveis por descobrir de Chico Buarque a Caetano Veloso. Em terras cariocas, os cabos das primeiras emissoras do país foram ligados e a marcha contra a guitarra aconteceu. Começaram na Cidade Maravilhosa os três maiores movimentos musicais brasileiros exportados para o mundo: o samba, a bossa nova e o funk. Foi no Rio que a música ganhou som. E é exatamen-

te nele que uma nova geração vem honrando essa herança sonora. Passando longe ou rindo na cara de falta de público, Los Hermanos, noite fraca e outras lendas urbanas, a nova música carioca está passando por um processo de transição e renovação. Surgimento de casas de show, novas mídias independentes, músicos articulados uns com os outros. Porque é assim que se descobre como é, como se faz e para onde vai. Isso significa que neste instante, em algum canto da cidade, pode estar nascendo a nova banda favorita do país. Pra saber se isso é verdade, pra mostrar os dois lados, pra fazer perguntas e te ofertar um novo ruído, a Noize tem um mapa.


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“Opções têm. O que falta é o publico parar de querer o obvio.” Daniel Correa, do Tenho Mais Discos Que Amigos e do Ovo de Fantasma.

Letuce, Cícero, Do Amor, Qinho, Ava Rocha, Abayomy, Tereza, Mahmundi, Dorgas, Posada, o Clã e outros nomes que mal caberiam aqui. A música feita no Rio de Janeiro há tempos não tinha tantos representantes dispostos a furar o cerco e fazer música dentro da cidade e também, de preferência, além mar. Mas será que isso pode ser chamado de “cena”? “Hoje, em 2012, precisamos mesmo ter uma cena? Eu acho que não. Até porque não temos um ‘estilo’ que force uma cena. Cada um que faça o seu, mas sem achar que precisa ser o único.” Daniel Correa, dos sites Tenho Mais Discos Que Amigos e Ovo de Fantasma. “Há uma nova cena carioca em estado embrionário, se formando e aos poucos querendo amadurecer. Após um período de marasmo, alguns artistas e bandas estão conseguindo ficar em evidência e estão se articulando melhor. O problema é que não são muitos, e todos vem mais ou menos do mesmo lugar, que é o ovo de codorna chamado Zona Sul do Rio de Janeiro. Por isso digo que a cena é embrionária: ela ainda é miniatura e roda em volta do próprio umbigo (sempre os mesmos, inclusive eu, se apresentando

nos mesmos lugares e sendo falados repetidas vezes pelos mesmos veículos). Ainda não somos suficientes para se dizer que está acontecendo uma cena forte e concreta, gerando conteúdo pomposo que realmente signifique o momento em que estamos vivendo. Ao menos temos um início, uma cabeça saindo no meio das pernas.” Comenta Botika

O público do Rio é curioso, mas ainda é lento ao caminhar por entre grupos e tentar pegar um pouco de cada influencia. “Existem poucos espaços de tamanho pequeno e médio porte e muitas vezes é público circunstancial, que sai de noite pra beber. Mas isso está mudando. Às vezes até existe uma mescla de eventos que de uma forma inteligente aproveitam essa característica.” Gabriel Bubu, Do Amor, Los Hermanos. “Opções têm. O que falta é o publico parar de querer o obvio.” Daniel Correa, do Tenho Mais Discos Que Amigos e do Ovo de Fantasma. “Para uma banda nova, por exemplo, levar público para


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“Ao menos temos um início, uma cabeça saindo no meio das pernas.” Botika

seus shows, deve, muito provavelmente, investir em atrativos além da própria apresentação (DJS, promoções de bebida, etc). Ainda estamos buscando ganhar esse público que seja curioso única e exclusivamente para assistir o artista independentemente de quaisquer outras coisas. O público existe, mas digamos que aqui ele seja mais ‘tímido’.” André Ferreira, produtor da banda Tipo Uísque.

Com uma boa organização e tempo dá para ser servo da massa e agitar os bailes funk tirando cerca de 500 reais por noite. Ou mesmo investir em um trio de forró por uns 300 reais. As bandas de rock da cidade geralmente não têm algum lucro real além de mulheres e cerveja. Pelo menos a noite carioca tem suas opções para seis dias na semana. Já a produção das bandas e eventos conseguem se virar bem e já há um mercado sólido de técnicos de som, assessores e produtores de eventos, provando o crescimento da música atualmente. “Dá, sim. Dá pra viver de festa! Não dá pra viver de música.” Castello Branco, ex-R.Sigma e solo.

“Claro que sim, a escolha só depende das suas ambições na vida. Quando uma pessoa vive o sacerdócio artítisco, a providência divina e a caridade humana sustentam as necessidades materiais, enquanto a própria arte provém a alegria de viver encantado. Agora, se a pessoa prefere ganhar dinheiro nesta vida, no mundo de hoje, é melhor aprender ao menos três ofícios diferentes. É minha dica.” Thalma de Freitas, cantora e uma das vocalistas da Orquestra Imperial.

Marcelo Camelo não lota mais o Circo Voador e o show solo do Amarante na mesma casa estava vazio. O compositor carioca atual quer um som que sua mãe possa cantar e mostrar para a vizinha. Acredito que a sua mãe e nem sua vizinha cantam Los Hermanos enquanto lavam o banheiro, não? “Outro dia, na esquina da minha rua, uma senhora escolhia músicas numa jukebox velha e engordurada. Eu estava com pressa, mas não podia perder a escolha dela. Rá. Era amado batista. A zona sul que consome mais bossa-samba-rock-mpb é minoria. Seria um sonho que minha música chegasse numa rádio popular e as


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“Existem poucos espaços de tamanho pequeno e médio porte e muitas vezes é público circunstancial, que sai de noite pra beber.“ Gabriel Bubu domésticas todas curtissem, mas acho difícil. Não fazemos música pensando nisso, em quem vai consumir, como, mas realmente comparando ao Amado Batista e afins, não somos parecidos. Mas queria acreditar na coragem e no estímulo das mídias com as bandas independentes. Utopia? Provavelmente.“ Letícia, do duo Letuce. “Tem gente querendo ser coisa muito pior, por incrível que apareça.” Pedro, técnico de som e curador da grade da Audio Rebel, se referindo-se às bandas que querem ser Los Hermanos.

e cada vez mais empenhado em conseguir espaço. As casas (coloco entre elas A Comuna e a Audio Rebel) tem sido boas parceiras, mas pra algumas falta ainda a visão de apostar mais, falta perder um pouco daquele ranço podre da indústria cultural de Rentabilidade versus Qualidade.” Gustavo Benjão. “As casas de show jogam um papel fundamental nessa realidade que estamos falando. E elas podem ser boas ou más. Existe ainda uma relação perversa entre casas de shows e artistas que muitas vezes pode mais atrapalhar do que ajudar, seja na formação de público como nas oportunidades reais que se oferecem a artistas em ascensão e com grande potencial.Vemos muitas vezes conceitos antiquados e ligados à grande industria se reproduzirem de forma passiva no nosso cotidiano, mas todo mundo acha que está mudando alguma coisa. Critérios de curadoria, avaliação do público e divisão de bilheteria, além de qualidade técnica e divulgação, por exemplo, devem ser reavaliadas.Agora, sim, elas cumprem um papel importante. Que fique claro que essa critica não se dirige às casas do Rio de Janeiro. Em São Paulo é igual. No Brasil é assim. Agora, eu comecei na extinta Cinematheque e acabei de tocar num lugar incrivel em São Paulo, chamado Casa de Francisca. E também existem outros espaços no Rio, como a Audio Rebel e a Comuna, incríveis, onde você vê realmente uma relação mais desprovida de interesses comerciais o que é propício para que arte brote com firmeza. “Ava Rocha, cantora

Oi Futuro, Circo Voador, Studio RJ e o Teatro Rival são alguns exemplos claros do crescimento da música na cidade. Palcos prestigiados abrindo voluntariamente espaço para a nova música carioca.

Com a ascensão da música carioca, os meios de comunicação acabaram se multiplicando-se também. Mais blogs têm representantes e até sede na cidade, ao mesmo tempo que o jornal O Globo dá o mesmo destaque para bandas novas e grandes artistas, colocando a nova música carioca para circular nos maiores meios de comunicação atuais.

“Há uma inquietação da juventude artística carioca, que vem recuperando a força e se organizando estruturalmente pra movimentar a cultura e a arte para além do circuito tradicional.Vejo um espírito de ‘faça você mesmo’ bem latente

RockinPress / rockinpress.com.br Fita Bruta / fitabruta.com.br Rock in Beats / rocknbeats.com.br Tenho Mais Discos Que Amigos / tenhomaisdiscosqueamigos.com.


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Dizem que o que faltava para existir uma verdadeira cena na música carioca era a união dos grupos em pról da música. Essas barreiras têm sido quebradas com ações integradas entre os artistas, principalmente as coordenadas pelo Cícero – líder da nova geração musical e síntese da mistura sonora da música do Rio de Janeiro. Reuniões frenquentes para conversas e troca de acordes mostra a preocupação desta geração de se manter unida e participativa. “A quantidade cada vez maior de saraus de compositores (Porto Aberto, Criar, Dejavú, entre tantos outros) e projetos como o Som na Sala (http://www.youtube.com/somnasala) mostram que os músicos estão caminhando na direção da união. Não pelo estilo, pois não há uma unidade clara musical, mas unidos pela música inédita como um todo e pela necessidade de se criar novos espaços e um novo público para essa música.”Vinícius Castro, cantor e compositor.

Ponte Plural | A organização da cena independente carioca ganhou uma nova história após a chegada da Ponte Plural.A produtora trabalha diretamente na abertura de espaço em casas de médio porte e na administração de grandes eventos gratuitos, dando destaque à música independente do país, principalmente a carioca, reeducando o público com novidades musicais.A Ponte também organiza palestras e produz oficinas de gerenciamento de bandas e cena cultural regional. www.ponteplural.com.br Queremos | A já conhecida “vaquinha” de bandas internacionais transformou a forma de trazer eventos de médio porte não só para o Rio, como em diversos estados do país que já utilizam do formato. O interessante é que a preferencia de abertura dos eventos é sempre de algum artista carioca em ascensão, facilitando o contato do público com o novo e o internacional. www.queremos.com.br

“Agora, se a pessoa prefere ganhar dinheiro nesta vida, no mundo de hoje, é melhor aprender ao menos tres ofícios diferentes. É minha dica.“ Thalma de Freitas

Roqueadores | Apesar da concentração de eventos no Centro e Zona Sul da cidade, a festa Roqueadores serve exatamente para ser a resistência da música carioca. Localizado no saudoso bairro de Realengo (Aquele abraço!), o evento traz para o subúrbio carioca a noite que a Zona Sul cobra caro para fazer. facebook.com/roqueadores Quint Avant | De olho no crescimento da cena experimental no país, o Quint Avant acabou virando referência no quesito no país. O evento, realizado todas as quintas na Audio Rebel, desenha uma cena musical que há pouco tempo atrás era inexistente e desconhecida para a maioria dos cariocas, sendo atualmente o estilo mais emergente no estado. facebook.com/quintavant


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Cícero tinha companhia. Lins depois do nome, a mãe no quarto ao lado e uma banda chamada Alice+1. Mas foi solitária a sua estreia.Acabou a banda, mudou de casa e cortou o Lins.Tudo para se concentrar em Canções de Apartamento, um álbum com dez pérolas sobre o ordinário desta vida – amor, saudade, encontro, ruptura – que foi composto e gravado em casa, lançado de forma independente e disponibilizado de graça+2. Não que Cícero goste de ser só ou só ser.Tem sempre alguém. Se você prestar bem atenção, é capaz de ouvir Marcelo Camelo, Drummond, Geraldo Azevedo, Leminski, Sérgio Sampaio, Nietzsche ou Paulinho Moska nas poesias que ele entorna pelo chão. Se chegar mais perto, vai ver que ele ouve o público durante o show. E se parar para ouvir vai entender porque neste momento é ele o “menino do Rio”. Quando você começou a fazer música? Eu comecei a tocar violão na minha adolescência, quando tinha uns 13, 14 anos.Aí no segundo grau eu montei uma banda chamada Alice. Com essa banda eu gravei dois discos independentes. Era uma banda underground aqui do Rio, a gente saiu pouco daqui, chegou a tocar em Belo Horizonte, São Paulo, mas era uma coisa bem pequena. Foi entre 2003

e 2007. Foi com essa banda que eu comecei a entender o que era estúdio, o que era show, o que era noite... Eu vi o que era mercado, o que era cena. Nessa época tinha uma porrada de banda aqui no Rio de Janeiro que estava na mesma fase, com o mesmo tamanho que a gente, começando também. Quando acabou a banda, foi no mesmo momento em que acabou minha faculdade de Direito.Acabou a faculdade, acabou a banda. Eu fiquei meio sem chão. Foi nesse período que eu fui pra Nova Iorque, pra dar uma oxigenada na cabeça, dar uma reavaliada nos meus valores, ver se eu queria ser advogado ou se eu queria ser músico, sacou? E quando eu fui pra lá, eu vi que tinha muito mais músico que advogado. Eu conheci muita gente que tocava, que fazia acontecer do jeito que dava – tocava na rua, tocava em bar, tocava onde dava. Coisa que em Santa Cruz, de onde eu venho, não tinha. Então, lá meio que rolou um incentivo ao sonho. Eu voltei já mandando bala, me mudei pra Botafogo, gravei um disco e comecei a correr atrás. Porque, na verdade, a coisa aconteceu na internet de forma super natural, mas foi um trampo, né, cara? Gravar um disco em casa, tudo que envolve isso, é complicado. Fazer música no Brasil não é tão fácil... E eram vários pepinos pra resolver. Porque eu tava morando sozinho, então tinha que pagar o aluguel, fazer a comida, lavar a roupa, pagar a luz...Tinha aquela coisa da solidão de morar sozinho, e gravar um disco sem banda, sem referência do que tu vai fazer.Vai fazer o quê, sabe? Foi uma fase de correr atrás pra cacete pra agora poder tá mostrando o resultado. Quem são as suas maiores referências musicais? Kurt Cobain,Tom Jobim e Caetano.Todos eles foram fases bem específicas da minha vida. Eu tive momentos em que eu ouvi Nirvana pra caramba, no começo da minha adolescência, 13 ou 14 anos. Depois entrei numa onda de MPB, bossa nova, então ouvia muito João Gilberto e Tom Jobim.Aí entrei numa fase tropicalista que era a mistura dessas duas coisas, rock com MPB, aí comecei a ouvir Caetano, Novos Baianos, Mutantes e essa galera. E essa mistura acho que deu o que eu tô fazendo agora. E essa geração da qual você faz parte, que grava e


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produz tudo em casa, por conta própria. É a música ganhando mais liberdade, mas será que não se perde o controle de qualidade? Cara, durante algum tempo, o processo artístico emparelhou com o processo industrial. Na época das grandes indústrias de disco, você tinha aquela coisa industrial mesmo, da música estar acessível em qualquer veículo, em qualquer aparelho de som, pra qualquer tipo de pessoa. Isso dava um nível de qualidade de produto, não necessariamente qualidade artística. O cara que vai pintar um quadro, pinta o quadro no atelier da casa dele, sacou? O cara que vai escrever um livro escreve o livro na máquina de escrever ou no computador da casa dele.Acho que a música não deve se diferenciar de todo o processo de criação que é assim, um relato do teu dia a dia dentro da órbita do teu dia a dia. Essa coisa de você tirar a atmosfera artística e levar pra dentro de um estúdio, aquele ambiente asséptico, quase sempre impessoal, era pra você conseguir um resultado mais asséptico e impessoal. Que é geralmente o olhar do produtor, o olhar da gravadora, o olhar industrial. Eu acho que quando você pega e devolve o resultado final pro ambiente de criação do cara, você pode perder alguns padrões técnicos, que são os que a indústria pede, mas você ganha em verdade artística. É como o cara ir lá e pintar um quadro com alguém olhando e dizendo,“não, agora bota mais amarelo.“Bota mais vermelho.” Talvez fique um troço muito mais bonito pra todo mundo ver, mas fique muito menos o cara. Então esse negócio de descentralizar a gravação, de cada um gravar na sua casa e assumir as imperfeições, essas imperfeições elas incomodam pouca gente, na verdade.A gente ouve música dos anos 1950, dos anos 1960, e não tá nem aí se a parada é mono, se a parada tá com compressão ruim ou se o bumbo tá aparecendo muito, sabe? Ultimamente tem muita gente querendo te ouvir. Isso te surpreende? Cara, é muito doido. Essa parada de internet é muito doida, porque ela tem esse tempo que é muito rápido. Então eu tava lá, tocando, fazendo as minhas festinhas aqui no Rio, DJ e tal, aí de repente você toca num lugar e tem mil pessoas cantando a parada.Você fica meio,“porra, que doido!”. Isso eu ainda não formalizei, ainda não tenho uma resposta formada pra dar. É uma carga muito grande, sabe? Ter uma

porrada de gente te olhando, uma porrada de gente se emocionando com uma parada que você fez... É muito doido. Onde você pretende chegar com tudo isso? Desde o começo o meu foco é conseguir chegar no máximo que eu pudesse chegar sem mudar meus valores básicos. Eu queria muito chegar a todos os lugares do país que tem gente querendo me ouvir, sabe? Eu não quero muito me empurrar guela abaixo da galera, não. Eu fico um pouco assustado com essas coisas de grande mídia, não assustado de “não quero”, porque se vier, maneiro. Mas aquele princípio do guela abaixo, de tocar na rádio o tempo inteiro, de massificar, e você tá chegando onde você não chegaria por afinidade, tá chegando por imposição midiática. Isso me incomoda. Porque aí vocie acaba saturando você mesmo, e saturando todo um canal mais limpo com o público verdadeiro que você poderia construir se você fosse mais bola baixa. Eu tenho muita vontade de chegar devagarzinho, no sapatinho, em todos os lugares onde tem gente querendo me ouvir. Se são 50 pessoas, maneiro. Se são mil pessoas, maneiro.Tá ali porque se identificou com o que eu fiz, sacou? Essa coisa mais low profile me agrada muito, porque você não precisa deixar de viver o mundo real pra viver tua carreira, você pode viver o mundo real e viver tua carreira. O mundo real, ele é mais interessante que a carreira.A carreira, na verdade, é a tua vida que algum jornalista deu um nome diferente. O sucesso não é necessariamente sinônimo de fama. É, pô. Se você consegue pagar seu aluguel, comer fora e jogar conversa fora com pessoas legais que você conhece pelo caminho, é sucesso. É êxito. O resto eu acho que é um pouco de vaidade. De que adianta você fazer um show em Porto Alegre e chegar sem conseguir falar com ninguém, escoltado, sem poder trocar uma ideia depois do show, tomar uma, falar besteira? Se você não puder viver, você não teve esses momentos, sacou?Você tá de bobo da corte pra galera se divertir. E isso não faz muito sentido na minha cabeça. É uma ego trip brega.

[+1] Encerrada em 2008 depois de dois álbuns, “Anteluz” (2005) e “Ruído” (2007) [+2] Nas primeiras 3 semanas, 50 mil downloads foram registrados.




_TEXTO TOMÁS BELLO

_FOTOS DIVULGAÇão

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ANTES TARDE DO QUE NUNCA


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Oito anos de silêncio em um universo onde o disco de hoje acorda velho amanhã e a sua ban-

da preferida de ontem já não faz mais sentido na semana que vem é como não mais existir aos

ouvidos da música. Mas Eles São Assim. E Assim Por Diante. A começar pelo título, um disco em que a Bidê ou Balde mostra o que não pode ser mas é; a banda monta, edita, compõe, desmonta, descompõe e remonta tudo de novo dentro do estúdio. Sim, é uma coleção de canções gravadas

em partes, para assim redescobrí-las e por elas ser surpreendido. Com a colaboração de músicos, eternos parceiros e mamãe aspirante a cantora. Frank Jorge, Pedro Porto (ex-Ultramen) e Borghettinho. Em busca de surpresa e renovação.


A Bidê tem o novo e quarto álbum como a peça principal de uma série que começou com o EP

Adeus, Segunda-Feira Triste, lançado em 2011. Vê no horizonte inspirado pelo escritor Kurt Vonnegut Jr. e o músico Jim O’Rourke mais um EP com “faixas que não tivemos tempo de concluir e outras brincadeiras”, além de um registro ao vivo do período da gravações.


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“O elemento central, que une e unirá tudo isso, são as referências à obra do Kurt Vonnegut Jr., presentes no EP e no disco. Quando pensamos nisso não tínhamos nos dado conta, mas o Jim O’Rourke fez algo parecido com os álbuns Insignificance, Eureka e Bad Timing e, mais tarde, com The Visitor. Todos tinham referências à obra do cineasta Nicholas Röeg. Kurt Vonnegut, no entanto, nos atraiu por ter em sua prória obra um elemento que faz com que seus livros dialoguem entre si, no personagem do escritor genial e fracassado Kilgore Trout e suas histórias. Quando nos apaixonamos por isso, ficamos atiçados em fazer algo semelhante em nossas gravações, brincando com riffs e melodias que voltem a aparecer em momentos diferentes, e escancaramos a referência citando o autor, a obra, o personagem e partes das coisas que o personagem escreve e fala nos livros. Sem parecermos difíceis ou como uma banda progressiva, apesar de termos comentado, brincando durante uma audição, que esse é ‘o nosso disco progressivo’.” Carlinhos Carneiro, vocalista


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Copo Americano_

Bolsa PP_

Guaraná Jesus_

Você pode não saber, mas o tradicional copo de cerveja que chamamos de americano é produto genuíno brasileiro. É do tamanho da sua sede e dá um ar vintage pra cozinha.

Um grife de bolsas e acessórios que trabalha com o couro excedente da indústria calçadista brasileira. Peças feitas a mão, com edição limitada, politicamente corretas e lindas.

Das blasfêmias que podemos cometer na vida: gelo, guaraná Jesus e um pouco de vodka. Produto made in Maranhão e uma ressaca inesquecível.

Preço: R$ 3,00 Onde encontrar: Qualquer supermercado

Preço: a partir de R$ 100,00 Onde encontrar: ppacessorios.com.br

Preço: R$ 4,00 Onde encontrar: on.fb.me/P07MnF

Mulher sem pecado_

CANGOTE_

Camiseta Doces Bárbaros_

O anjo pornográfico Nelson Rodrigues teve seu centenário de nascimento comemorado no último mês. Muito você leu sobre ele, mas nada dele? Comece pelo começo: eis a primeira peça do escritor.

Lenços, echarpes e golas. Feitos a um a um, artesanalmente em um ateliê com cara de vó por moças de bom tom e riso frouxo. E com tecido made in Brasil, claro. Pra enrolar uma boniteza, uma cor no cangote e sair por ai.

Gil, Caetano, Gal e Bethânia. A velha guarda da MPB também em camiseta pra você vestir, curtir e ficar odara.

Preço: R$ 17,90 Onde encontrar: bit.ly/saraiva57on

Preço: a partir de R$ 20 Onde encontrar: facebook.com/cangote.me

Preço: R$ 49,00 Onde encontrar: bit.ly/chicorei57


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Olha que beleza, Silvio. Produtos que você não precisa ter mas vai querer mesmo assim. Aeeeeeee.

Segredos de Camarim_

Uma linha de produtos chamada “Camarim” feita especialmente para quem vive de palco, de brilho e luz. Não dá alergia, tem ingredientes naturais e brasileiríssimos na fórmula e sabe aquela cantora que você adora? Usa. Preço: a partir de R$ 34,00 Onde encontrar: http://bit.ly/feitobrasil57

Box Chico Buarque_ Vinte e dois discos de Chico Buarque lindos na sua estante. E isso pode ficar melhor. De Todas as Maneiras é um box lançado pela Universal Music que conta com os 21 primeiros discos da carreira do artistas – no período entre 1966 e 1986. E mais: um disco triplo intitulado Umas e Outras, que inclui nada menos que uma gravação inédita de “Jorge Maravilha” e outras (bem)maravilhas. Preço: R$ 397,00 Onde encontrar: http://bit.ly/saraivachico57


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Quem quer dinheirooo? Quem quer camisetaaa?

DENTRO DA MOCHILA

camiseta COM história

_RODRIGO GORKY, produtor/DJ/MC do Bonde do Rolê

_PEDRO METZ, vocalista da banda gaúcha Pública.

1. Computador: “Não dá pra viajar sem ele hoje em dia. Tenho que trabalhar onde eu posso a qualquer hora”. 2. Casaco: “No meu caso, nesse fim de semana viajo pra Natal, Recife e Curitiba. Não dá pra deixar só bermuda e chinelo”. 3. Livro: “Não dá pra ficar só no trabalho, e esse livro que estou lendo sobre a história da MTV é incrível!”. 4. Tampão de ouvido e tapa olho: “Melhor kit pra dormir no avião”. 5. Adesivos do Bonde: “Pra sempre ter um agrado pros fãs que vem conversar com a gente”. 6. Adaptador de tomada: “Nunca se sabe o hotel que vai ficar. É sempre bom se precaver”.

“Em 1997 eu matava todos os dias a aula de Engenharia na UFRGS pra jogar bola no Parcão. Nem queria ser músico, queria ser jogador e passava os dias em volta do futebol. Jogávamos num areião, que chamavamos de arena. A coisa era séria! Nessa época, eu já era fanático pelo Oasis. Um dia pintou um norueguês com esta camiseta. O cara ia jogar de chuteira de campo Adidas, baita figura! Fizemos amizade e propus trocar a camiseta dele por uma minha da seleção. Óbvio que ele aceitou. Ela tá toda arrebentada, mas é minha camiseta favorita de banda”.


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MARCA: ECKO

ONDE ENCONTRAR: ECKO.com.br




Banda Uó

Motel

Deckdisc

Duas notícias, moçada, uma boa e uma ruim. A boa é que o axé virou coisa do passado. A ruim é que a criançada que decorava as coreografias do É o Tchan cresceu. Estava eu pensando nisso quando entra o e-mail do editor com a pauta do mês, pedindo resenha do disco... da Banda Uó. E agora? Como ouvir algumas vezes e ainda fazer um texto sensato sobre algo “o qual mal vivi ou evitava viver”? Recuperado do susto e despido de qualquer tipo de resistência ou preconceito, pego o álbum em mãos. Preferi filosofar um pouco mais. Ora, vivemos uma época em que a vergonha alheia já não existe: todo mundo quer ser Lady Gaga, assistir à novela das oito virou algo cool e gigantes do pop regravam Kaoma. Assim, era uma questão de tempo até bombar algo como o tecnobrega hipster. Nesta novíssima vertente, os representantes máximos são Gaby Amarantos e o trio de Goiás. Motel, disco de estreia deles, é um caldeirão pop dos mais alucinados. Tem letras pegajosas? Tem. Humor e ritmo fácil? Confere. Samples de hits gringos? Também. Pouco sutis, os versos abordam desde jegues e rockstars até pregas e regos suados (!). Não dá pra negar que os “uós” vão fundo na brincadeira e parecem realmente acreditar no que fazem. O disco é bem produzido e até os grandes festivais já começam a correr atrás da banda. Se não vale nem 1,99, aí é você quem decide. Fernando Halal

“Era uma questão de tempo até bombar algo como o tecnobrega hipster.”

Para ouvir o álbum na íntegra: Leia o QR Code ao lado com a câmera do seu smartphone.

LEGENDAS Pra quem gosta de: Gaby Amarantos, Luiz Caldas e AraKetu

Ouça no talo É, legal

Dá um caldo Seu ouvido não merece

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Tom Zé Tropicália Lixo Lógico Independente/Natura Musical Aos desavisados, o nome do disco pode parecer um ultraje. Mas quem conhece minimamente Tom Zé sabe que, por trás do título, vem uma leitura (ir)reverente da música brasileira. Assim foi quando ele resolveu estudar o samba, o pagode e a bossa. Agora, o baiano decidiu se aprofundar nas raízes do gênero que o consagrou. Tropicália Lixo Lógico é um trabalho complexo, inventivo e nada óbvio, como todos os outros do compositor. A presença de nomes como Rodrigo Amarante, Pélico, Mallu Magalhães e Emicida é um convite aos mais jovens a ouvirem o álbum, mas não ofusca em momento algum a atração principal. O disco tem o mérito de não seguir fórmula alguma – como é inerente a Tom Zé – e, ainda assim, ser de fácil audição. Um feito considerável para um músico tão vanguardista.

Pra quem gosta de: Caetano Veloso, Gilberto Gil e Mutantes

Em “Tropicalea Jacta Est”, ele diz: “Saímos da idade média nacional/ Diretamente para a era do pré-sal”. Apenas uma pequena mostra da genialidade do mestre, que, às vésperas de completar 76 anos, segue tão relevante quanto no início da Tropicália. Daniel Sanes

BNegão & Os Seletores de Frequência Swing Lo Magellan Lab 344 Foi quase uma década desde a estreia solo de BNegão, Enxugando Gelo, de 2003. Até explodir sua panela de pressão sonora em Sintoniza Lá, álbum produzido por Pedro Garcia (ex-Planet Hemp). Não que o tempo tenha feito grandes mudanças químicas – a cozinha segue nos ritmos de antes, e as letras mantêm rimas de acidez irônica –, mas deu um cozimento ao ponto. “O Mundo” e “Alteração” abrem o set numa ginga samba rock, com presença de metais – convidativos a um remelexo “do bom” – que tomam conta do dub “Reação”. “Proceder/Caminhar” e a jazzy “Vamo!” se cadenciam no suingue black setentista. Pulsante, “Essa É Pra Tocar No Baile” brinca com “Essa É Pra Tocar No Rádio”, clássico de Gilberto Gil. Pra quem gosta de: Banda Black Rio, Black Alien e Curumin

“Subconsciente”, hardcore e distorcida, faz dobradinha instrumental com o funk “Na Tranquila”, sublinhando a atenção de BNegão ao peso e ao groove que Os Seletores somam a seu som. A reta final é acelerada: como se o repeat fosse ato já consumado. Um cíclico “segue a festa”.

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Bonde Do Rolê

Thiago Pethit

Indie-lambada? Eis que o Bonde se desapega do funk carioca e mescla ritmos tropicais (caribenhos, tecnobregas, raggas) a eletros e ao hip-hop. O humor deixa o morro e se desterritorializa, dando lugar a rimas fáceis, agora em inglês escrachado. Uma natural adaptação a novos tempos, assim desviando de uma possível obsolescência musical. Nícolas Gambin

A evolução que muitos artistas buscam (e não encontram) na transição para o segundo disco é clara neste álbum de Thiago Pethit. Com a produção marcante de Kassin, o paulistano aposta menos no esquema voz e violão, explorando novas sonoridades em seu estilo vintage. O resultado é promissor, como dá pra notar no single “Pass de Deux”. Daniel Sanes

Tropical/Bacanal Deckdisc

Pra quem gosta de: CSS, Gang do Eletro e Banda Uó

Estrela Decadente Independente

Pra quem gosta de: Marcelo Jeneci, Tiê e Vanguart

Tatá Aeroplano

Fernandinho Beat Box

Tatá embarca de vez no espectro lo-fi, de paisagens meio bucólicas e folk, meio urbanas, paulistas. Num passeio de climas e timbragens que vagam entre a psicodelia sessentista e a Jovem Guarda, com guitarras reverbeadas e muitos órgãos, o que sustenta sua poesia confessional, romântica, autorreferente, nonsense, existencial e forasteira. Nícolas Gambin

Saca aquele cara que há anos acompanha o D2, manda beats e sons que ainda hoje você não acredita que possam ser feitos com a boca? Ele é Fernandinho Beat Box, e está com álbum de estreia solo na praça. Meio soul, meio samba, tão bossa quanto hip hop, com tracks como “Bons Tempos” e “Minha Mademoiselle” poderia muito bem estar embalando FMs por aí. TB

Tatá Aeroplano Independente

Pra quem gosta de: Ronnie Von, Júpiter Maçã e Pélico

Pra quem gosta de: Sergio Mendes, Nara Leão e Marcos Valle

Caminho Estreito Label A

Pra quem gosta de: Xis, Criolo e Marcelo D2

Fernanda Takai e Andy Summers

Nina Becker e Marcelo Callado

Fundamental Deckdisc

Gambito Budapeste YB/Bolacha

Fernanda é gracinha total, tem uma voz que é um quindim; Summers é um notório apaixonado pela musicalidade dos trópicos. A tônica do álbum é a bossa nova. As 11 faixas inéditas são guiadas pela guitarra elegante e sempre econômica do ex-The Police. Não é a reinvenção da roda, mas dá pra ouvir com gosto num provador de lojas de roupas, pensando nas contas a pagar. Fernando Halal

Música de apartamento, de casal, apaixonada. Não confunda com o que muito se ouve por aí, quando qualquer um tem sua plaquinha de som, a internet e perde mais tempo divulgando do que produzindo o próprio material. Aqui, há o rústico, o inusitado, o artesanal. Mas talhado pelo escalão da coprodução de Carlos Eduardo Miranda. Nícolas Gambin

Pra quem gosta de: Do Amor, 3 na Massa e A Banda Mais Bonita da Cidade


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Cícero

Canções de Apartamento Deckdisc

Pra quem gosta de: Los Hermanos, Pélico e Marcelo Jeneci

Da infindável safra de artistas influenciados por Los Hermanos, Cícero Lins, sem dúvida, é um dos que merecem bem mais do que uma atenta audição. Ex-integrante da banda Alice, o compositor carioca conseguiu condensar em 35 minutos dez faixas suaves, tocantes e melancólicas. Quem ainda não ouviu “Tempo de Pipa” (e se emocionou com o romântico clipe)? Daniel Sanes

DISCOTECA BÁSICA Elza Soares Por Daniel Sanes

Se Acaso Você Chegasse I Uma vida repleta de tragédias não impediu Elza de seguir o seu sonho. Em 1960, ela estreou em disco com nome emprestado de uma música de Lupicínio Rodrigues. Uma negra na MPB era mais que uma ousadia. Era uma afronta.

A Bossa Negra I Lançado em 1961 e de nome emblemático, o segundo disco de Elza Soares traz sua inconfundível voz rouca em uma perfeita mistura de samba, jazz e MPB. Um dos destaques do álbum é “Boato”, que viria a se tornar um dos principais sucessos da cantora carioca.

Vários

A Tribute to Caetano Veloso Universal Music

Pra quem gosta de: Marcelo Camelo, Tropicália e Caetano Veloso (!)

É sempre complicado avaliar um disco tributo. O bacana é preservar as canções com nuances sutis de personalidade ou dar a elas vida nova? Aqui, o setentão Caetano vê as duas coisas acontecerem por conta de gente tão distinta como Beck, Marcelo Camelo e Magic Numbers. A maioria deles caprichou, o que deve ter deixado o baiano feliz com o presente de aniversário. TB

Ultraje a Rigor/ Raimundos Ultraje a Rigor vs. Raimundos Deckdisc A ideia era boa: juntar dois grupos que marcaram gerações do rock nacional para uma “batalha de bandas”. Mas o produto final tem seus altos e baixos. Enquanto os Raimundos imprimem velocidade ao repertório de Roger e cia., o Pra quem gosta de: Ultraje dá uma boa amaciada no Camisa de Vênus, peso dos brasilienses. Diversão das Autoramas e Velhas Virgens boas, mas o fator “nostalgia” pode te deixar meio deprimido. Fernando Halal

Do Cóccix até o Pescoço I Após um bom período no ostracismo, a viúva de Garrincha viu a carreira renascer em 2002. Recheado de participações especiais, incluindo Chico Buarque, este disco ganhou até uma indicação ao Grammy.

E NEM TÃO BÁSICA Cláudia Jesus Cristo Por Leonardo Bomfim Quando as coisas começam com um hino gospel do quilate de “Jesus Cristo” e terminam com a contracultura à carioca de “Com Mais de 30”, nada pode dar errado. De fato, o terceiro disco de Cláudia, lançado em 1971, está repleto de grandes momentos – em facetas das mais variadas. Cada música corre seu próprio risco: se na balada soul “Frente Fria” há certo apelo melodramático, em “Amigo” a sobriedade dá o tom. E o baile segue, abençoado por gente como Dom Salvador e Antonio Carlos & Jocafi. Época em que a música popular reivindicava o direito de ser inventiva.




Reprodução

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_TEXTO CRISTIANE LISBÔA

VOU RIFAR MEU CORAÇão _Eu vou rifar meu coração / Vou fazer leilão / Vou vendê-lo a alguém / Não vou deixar o coitadinho / Viver sempre sem carinho / Ficar sempre sem ninguém. Confessa: você conhece essa música de Lindomar Castilho e, enquanto lê este texto, já começou a cantarolar. Foi partindo dessa premissa que a diretora Ana Rieper filmou Vou rifar meu coração um documentário sobre a música brega, aquela que fala sobre as mazelas cotidianas e humanas, demasiadamente humanas. O longa tem depoimentos anônimos e cantores clássicos do gênero, como Agnaldo Timóteo, Wando, Amado Batista, Odair José, Nelson Ned e outros que não temem ou se envergonham do rótulo. Além deles, anônimos de várias partes do Brasil contam histórias de amor, desamor, separação, reencontro, paixão louca, briga, reconciliação e outros melindres em que a única canção possível era a que falasse sem intermediários com o coração. Deixa o preconceito em casa, vai pro cinema e saia de lá cantarolando. Por favor.


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1. Os verbos auxiliares do coração. | Livro do húngaro Péter Esterházy publicado pela editora Cosac Naify. O romance sobre a morte de uma mãe entremeia delírio, luta, perda e esperanças dolorosas. O projeto gráfico é assinado pelo autor com “caixas” que emolduram o texto, como em anúncios fúnebres de jornal. A “orelha” é assinada pelo diretor de teatro Felipe Hirsch e cada página exige, espanta, muda a sua forma de olhar em volta.

3. Museu da vodka | Se o Brasil tem um museu do futebol, nada mais justo que a Rússia ter o museu da vodka. Mais de 50 mil garrafas em exposição, sendo que algumas foram produzidas há mais de dois séculos. Durante a visita, é possível provar mais de 10 tipos diferentes da bebida, mas nenhuma vem de destilarias ilegais, costume que mata centenas de russos anualmente. Ah, eles também prometem que você sairá sóbrio da visita. Será?

5. Riot grrrl | Durante muito tempo, a mulher que quisesse fazer música tinha que se contentar em ser vocalista, dançarina ou groupie. Até que algumas moças empunharam guitarras, criaram zines, fundaram o movimento Riot grrrl (ou riot girl) para dizer que “se os homens fazem, eu também posso”. Patti Smith, Le Tigre, Hole, Bikini Kill e Bratmobile são ícones do movimento. E o girl power chegou até Pussy Riot, e as Spice Girls.

2. “Se você for de Paris a Budapeste pensará que está em Moscou, mas se for de Moscou a Budapeste pensará que está em Paris.” Este é o dito popular mais famoso dos guias de verão da Europa. Por quê? Você vai ter que ir até Budapeste – a cidade com a mais alta taxa de fertilidade de hipopótomos, onde é possível comer mais de 350 tipos de batata e fazer um tour comunista – para descobrir.

4. Pussy Riot | Um grupo de punk rock russo que faz música, protesto e performances políticas. Em março deste ano, elas fizeram um pequeno show dentro de uma Catedral em Moscou. Foram presas acusadas de vandalismo, ganharam apoio do mundo inteiro – de Madonna ao Embaixador Francês, passando por Paul Macartney – e uma sentença de três anos de prisão.

6. Baudelaire | O poeta francês favorito de Patti Smith. Em 1857, foi acusado de ultrajar a moral pública com o livro As flores do mal. Sua obra influenciou a poesia moderna do século XX e falava de sonhos, loucuras, amores que se foram, a beleza da tristeza e outras dores.


_FOSSO É o lugar que fica em frente ao palco. diretamente dali, os shows DE AGOSTO Fotografias são imagens acontecidas em segundos perdidos que passaram a ser reais quando fixaram na retina, no filme, no papel. Todas contam muito mais do que mostram. No caso de fotos de shows, elas vêm diretamente do fosso, um vão livre em frente ao palco reservado para que alguns poucos escolhidos possam congelar o ídolo. Estão em volume máximo e às vezes, valem uma canção. TATÁ AEROPLANO / SESC VILA MARIANA / SÃO PAULO “Tatá de tantas bandas lançou seu belo disco solo de baladas paulistas e paulistanas. E a incrível luz de Paulinho Fluxus inundou o teatro do Sesc Vila Mariana de cores, texturas e reflexos. Depoimento e foto: ARIEL MARTINI



MUGO / VACA AMARELA / GOIÂNIA

“O Mugo sempre foi responsável por apresentações destruidoras no Vaca Amarela. Em pleno 2012, pós-EP e turnê gringa de sucesso, eles não poderiam estar em melhor forma. Como boa banda independente de Goiânia, os caras se apresentaram lá na primeira edição do festival e, dez anos depois, ver que o público continua crescente, fiel e praticamente devoto à banda na hora do show foi de emocionar qualquer um. Uma noite simbólica. Blood and soul, como eles costumam dizer. Depoimento e foto: HICK DUARTE


DJ ZEGON / Estúdio Emme / SÃO PAULO

“Cada vez que eu fotografo o Zegon, ele está tocando uma linha melhor que a anterior. DJ veterano, porém sempre se atualizando e nunca deixando a pista parada.” Depoimento e foto:VICTOR NOMOTO


TAME IMPALA / CINE JÓIA / SÃO PAULO

“Uma aula de rock, psicodelia e anos 60.” Depoimento e foto: RAFA ROCHA



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Comentários, críticas, declarações de amor e a sua opinião sobre música, mundo e outras coisas menores.

TWITTER _Mudança no cabelo da Cat Power A nova loira é a CHAN, tá linda deixa ela entrar facebook.com/photo. php?fbid… @revistanoize NR: Mas ainda falta o rebolado.

_“Qual a melhor música de Definitely Maybe?” Álbum do Oasis, que completou 18 anos. stereodubs @revistanoize vou falar.... tá difícil até saber qual... aquele álbum foi clássico do início ao fim. NR: Acabou de chegar a maioridade e já tem essa importância.

_Lazaro_Fanfa Altamente pegável ainda RT @revistanoize Paula Toller hoje faz 50 anos... NR: Mulheres tipo vinho, sabe?

facebook _mariabercovitch Sotaque fofo do Magic Numbers RT @revistanoize: Caetano Veloso faz 70 terça e o Magic Numbers toca “You Don´t Know Me”. NR: O sotaque londrino tem o seu valor na música.

_blindershine qndo for, avisa!! RT @ revistanoize Entrevista de quinta | “Gostaria de dividir uma noite [no palco] com o James Blake”, diz @Lucas_Santtana NR: Se sair, esse show a gente não perde.

_ Freddie Mercury apareceu em holograma no encerramento das Olimpíadas de Londres 2012. Mônica Cardoso Manique O morto levantou mais o público do que muitos vivos... Ele é o cara! (Ultraje a Rigor) ao comentário Bruno Mazzeo de que a banda estava vivendo um “fim de carreira dramático”. NR: Pena que o morto em si não levantou.

_Katy Perry pagando bundinha no parque aquático. Amanda Torres _também, fica usando uma calcinha q mais parece um saco de supermercado, né? rsrsr! mas tá linda! ela pode mostrar à vontade, rs! NR: Já diziam as letras de pagode: tudo que é bonito é pra se mostrar.

_Revolta contra a participação do Brasil nas Olimpíadas de Londres 2012 Renan Machado Guerra _Cadê Bethânia, cadê Rita Lee? NR: A gente também saiu com vários cadês.

_Quando o Slash declarou ter pego sua mãe na cama com David Bowie. Mauro Paz _Ainda bem que não foi o inverso: a mãe encontrar ele e o Axel na cama. NR: Nunca duvide

_Sucesso da campanha Traga Criolo, do Traga seu show. Manuella Stangherlin Graff _woohoo! podia rolar um “conheça Criolo” agora :DD NR: Já pode começar a campanha, Manu.




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