A Palavra que nos é Rota

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Em sua saga, Paranapiacaba placidamente assentada no estertor da transição do planalto para desfiladeiro íngreme, sedimenta seu papel testemunhal na história lusosilvícola-colonial-migratória. O café por ela escoa. Barão de Mauá, um eminente homem de negócios, amoldado pelo tino britânico, regozijava-se do feito hercúleo logrado a êxito. Banhara aquelas terras os suores afros, a remoer seu banzo, ora em sucessão pelas lágrimas das saudades europeias que só a boa língua lusitana permite exprimir. Da itálica península acorriam pálidas faces, cálidas esperanças, válidas conjecturas pela fortuna do Mundo Novo. Por ali alçavam os comboios de sonhos, de mãos calejadas, de línguas diversas e argumentos convergentes.

Ao fim ao cabo, o mesmo objetivo, trilhado ao ritmo sincopado do bater das rodas de ferro pelo Planalto Paulista, bandeira das treze listas, que fora empunhada por destemidos braços, pelas entradas que incursionavam sertão a dentro, sobrepujando as Tordesilhas imaginárias. Agora eram outras as monções, seriam diferentes catequeses, aguardavam singulares lavouras do fruto doce que Palheta trouxera em seu bojo de sargento-mor, dando à pretérita Terra Brasilis o tesouro maior de então. Lavrando o eito, virando a terra, sangrando as mãos... lá se vão os sonhos e vêm os incontestes. E pela linha férrea de Paranapiacaba a riqueza escoa ao Porto de Santos, ligando o noviço ao ancestral, moldando a língua aos novos termos, em locuções tresloucadas como “locobreque”. E assim se perpetua a contemporânea vila laboral dos ingleses ferroviários, onde o baixo e o alto em pacífica convivência se complementam. Onde o Tempo está finamente confinado, na redoma de alva cerração, qual pandora do Bem.


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