A Palavra que nos é Rota

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Agostinho degustaram a essência mística de uma barca cujo fado o é na própria língua portuguesa.

Momento Quinto “O sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão.” [Frase de Antônio Conselheiro, 1891]

As ´iluminuras´ político-existencialistas do Séc. 19 exibem um Brasil de na[rra]ção própria, apesar da Língua portuguesa. Em trova do ´bandarra´ podemos ler “Vejo, mas não sei se vejo, O certo he, que me cheira...”, numa alusão ao eterno tom provocador da cultura oral que é a alma de muitos povos; um ´diz-se que´ oculto, mas que pelo cheiro se identifica. Implantado o Império brasileiro pela Casa bragantina o ato não é pacífico e ao norte se levantam políticos e religiosos republicanos, e é ao norte e já na República brasileira que surge um sebastianismo de monárquico cheiro: nos atos do ´monge´ Antônio Conselheiro a comunidade de Canudos transforma-se em reduto místico para uma batalha perdida; e, logo, a sul, nas sempre confusas ´modernidades´ impostas de cima para baixo, o monge italiano João d´Agostini chefia rebeldes urbanos no que se diz ser a Guerra do Contestado: é guerra de conflitos gerados pela falta de pagamento de indenização de terras ocupadas para a ferrovia, mas ganha o espaço ´divino´ com a presença do monge italiano... Entretanto, outros dois ´monges´ surgem continuando a obra do primeiro, mas na história fica o João, o ´santo monge João´ como bandeira do movimento messiânico em meio ao oportunismo temporal que tais políticas promovem. Todas as ações messiânicas vêm de um esoterismo apocalíptico conhecido em todas as eras históricas, mas variando de ´palco´ religioso conforme o povo que o tange – ou, “de quem tomei / minha teima”, como canta o ´bandarra´. É a utopia de um reino de felicidade, mas que a humanidade se nega a enxergar em si mesma. E, na ´ilha de brasil´ do quinhentos, os portugueses escutaram e perceberam essa utopia messiânica no Piabiyu do povo guarani, a rota de uma oralidade mística muito bem aproveita pelos jesuítas para a catequização sertão adentro. Ou seja: até nas civilizações perdidas nas matas atlânticas o messianismo [e o sebastianismo] é um imagético estar. São Paulo / Br., Buenos Aires / Arg., 2017

Anotações Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro [Brasil, 1830-1897] – chefe de uma comunidade mística em Canudos, na Bahia. António Vieira [Portugal e Brasil, 1608-1697] – padre jesuíta, filósofo e escritor. Fernando António Nogueira Pessoa [Portugal, 1888-1935] – poeta, escritor, publicitário, astrólogo, crítico literário, empresário, tradutor, correspondente comercial, filósofo e comentarista político. George Agostinho Baptista da Silva [Portugal, 1906-1994] – filósofo, poeta e ensaísta; fundador do conceito “universidade pública e federal” no Brasil. Gonçalo Annes Bandarra [Portugal, 1500-1556] – sapateiro e profeta.


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