Revista do Desportivo Maputo "RACA ALVI-NEGRA"

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Um por todos todos por um

Maio 2019, Avenida Zedequias Manganhela, Nยบ 174, fundado no dia 31 de Maio de 1921

ECLร TICO E GANHADOR


RAÇA ALVI-NEGRA

ÁGUIA ECLÉCTICA

O

Grupo Desportivo Maputo, uma das mais antigas e famosas colectividades moçambicanas, foi fundado no dia 31 de Maio de 1921. O clube é uma pessoa colectiva de direito privado, de natureza associativa para fins de carácter desportivo, recreativo e cultural, e está localizado na Avenida Zedequias Manganhela, Nº 174, Distrito Municipal Ka Mpufumu, na Cidade de Maputo, matriculada na Conservatória do Registo de Entidades Legais de Maputo sob o NUIT 100077698, titular do NUIT 700060365. É um clube ecléctico e com um percurso brilhante, ainda que tenha passado por várias transformações estruturais. Na história do Desportivo está a sua afiliação ao Sport Lisboa e Benfica, de Lisboa.

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Editorial

SUPERAR BARREIRAS!

É

um clube de alma rija e sempre movido pela força do bem. Busca a auto-superação para suprir obstáculos. Os seus sócios e dirigentes concentram esforços em bem de soluções visando devolver reputação ao clube perante a sociedade. É preciso tirar o histórico clube da penúria, dando-lhe outro alento através de acções práticas que se destinam à operacionalização de vários sectores de actividades. Sem se esquecer do passado negro, a nova direcção, encabeçada pelo professor Inácio Bernardo, está activa e a trabalhar no terreno, de forma incansável, com o objectivo de restaurar a colectividade, tentando lançar iniciativas e projectos inovadores. Vários contactos têm sido estabelecidos junto de diferentes instituições e parceiros. O momento económico do país não é favorável e comprime muitas vezes o so-

nho dos “alvi-negros”. Os patrocínios não caem, mas nada é desencorajador. A casa está paulatinamente a ser arrumada. Todo “alvi-negro” de gema acredita na ressurreição da agremiação, porque a força do querer está sempre presente no ninho “alvi-negro”. Os sócios não se deixam vencer pela desgraça que lhes atingiu. Todavia, o apoio dos parceiros continua a ser a fórmula exacta para a prossecução desse desidrato. Na hora de celebrar os 98 anos de existência, urge arregaçar as mangas, renovando esperanças para a reconstrução de um Desportivo mais solidário de aço. O Grupo Desportivo Maputo é um clube fundado a 21 de Março de 1921, que adoptou, na era, o nome de Grupo Desportivo de Lourenço Marques. Volvidos 55 anos e com a conquista da independência nacional, modificou o seu nome e concebeu um novo, este que dura até ao presente

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Gervásio de Jesus

FICHA TÉCNICA

(Jornalista e Psicólogo Educacional)

IDOLO EI: Directora Executiva Ondina Pereira ondinadejesuspereira@gmail.com | Editor Gervásio de Jesus gervasiodejesus@yahoo.com.br | Redacção Gervásio de Jesus e Júlio Saul | Colaboradores Samuel Sambo e João Chicote | Fotografia Salvador Sigaúque | Arte & Desenho Gráfico | Paginação Cláudio Nhacutone | Revisão Linguística Leonel Abranches | Web master Paulino Maineque | Marketing Maria Dlamini e Samuel Sambo | Distribuição e Expansão Ídolo | Registo N.º 010/GABINFO-DEC-2011 | Tiragem 1000 Exemplares / Impressão Minerva Print | Endereço Av. Vladimir Lenine nº 530 – R/C | Contactos +258 84 574 504 1; +258 84 55 27 437 | Email: idolorevista@ gmail.com/revistaidolo@idolo.co.mz _ www.idolo.co.mz / MAPUTO - MOÇAMBIQUE Maio 2019


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Fernando Lage

Mario Coluna

Lurdes Mutola

Nuno Narcy

Mariza Gregório

Candido Coelho

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Carolina Araújo

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Amade Mogne

Ilda Mbeve


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Da esquerda para direita: Amade Chababe, Calton Banze e Aly Hassan

Dominguez

5 Mexer

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Tico - Tico

Dário Monteiro

LABORATÓRIO DO “NINHO”

o “laboratório alvinegro” saíram fabulosos desportistas cujo percurso, em alguns deles, se confunde com a história do futebol moçambicano, nomeadamente: Miguel dos Santos, Cremildo, Calton Banze, Amade

Chababe Amade, Tico-Tico, Dário Monteiro, Tomás Inguane, Mexer e Dominguez. No basquetebol, os irmãos Mognes, deram dimensão real do trabalho profissional, Deise Santos, Zita Santos, Ana Paula Reis, Ilda Mbeve, enquanto no hóquei em patins

sobressaiu a legião Pimentel. No atletismo, Cândido Coelho, Stélio Craveirinha, Lurdes Mutola, Jaime, Argentina da Glória, foram os expoentes máximos. Na natação, realce para Carolina Araújo, Elsa Ferreira, Tânia Anacleto, Botelho de Melo e Mariza Gregório

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GÉNESE DO CLUBE

pesar das diferentes metamorfoses por que passou, por razões históricas, o seu passado glorioso no campo do desporto manteve-se incólume, um mar-

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co conquistado pelo eclectismo do clube, pela dedicação dos seus atletas e pela mística sempre exercida pela sua massa associativa, sendo esta a base fundamental de todas as suas realizações.

O Grupo Desportivo Maputo nasce da manifesta vontade de um colectivo de pessoas que vivia intensamente na era colonial o fenómeno do desporto e nada melhor do que juntar sinergias para a movimentação


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de acções concertadas. Sentados a uma mesa do antigo quiosque Sideris, os senhores Martinho Carvalho Durão, José Maria Rodrigues, Américo Costa, Alfredo Fragoso, professor Cabanelas, tomaram a dianteira na arquitectação do projecto desportivo. Naquele encontro, realizado num sábado do princípio de Março de 1921, fora apresentada uma lista de sócios que dariam corpo a iniciativa. Assim viria a nascer um Clube que, na ideia em embrião teve o nome de Clube Desportivo Lourenço Marques. Nesse mesmo dia foram escolhidas as cores do clube, por sugestão de Américo Costa: preta e branca. Estas cores perduram até hoje na vida do Desportivo. As reuniões preliminares realizavam-se à mesa dos cafés até que um dia, o senhor Camões, uma figura típica e incontornável da antiga cidade de Lourenço Marques, disponibilizou a sua casa pintada excentricamente de vermelho, aos sócios do grupo em formação. Presos pela necessidade de substituição do termo inglês Club, um dos sócios – o professor Sá Couto -, decidiu pesquisar no vocabulário da língua portuguesa. Desta forma surgiu definitivamente o nome do Grupo Desportivo Lourenço Marques (GDLM). O Grupo Desportivo Lourenço Marques abriu as portas aos portugueses de todas as raças ou credos. Desde a sua existência, o clube manteve intacto e puro, o fraterno sentimento de

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camaradagem e união entre atletas pertencentes a todas as raças. E uns e outros, quer europeus, luso-africanos, africanos, quer asiáticos, ajudaram a erguer a obra de que hoje todos se orgulham. E o Pluribus Unum (Todos por um - Um por todos) é o emblema predominante, uma sigla maçónica e seria a do GDLM, a mesma do Sport Lisboa e Benfica (SLB).

Apesar de reunir muitos benfiquistas em Portugal, os dirigentes do Desportivo (1959/60), recusaram-se a ser filiais do SLB - Benfica. Era o embrião do nacionalismo branco moçambicano. Com apoio da CMLM (Câmara Municipal de Lourenço Marques), os dissidentes do GDLM, com fervor patriótico lusitano, fundaram o Benfica, na Costa do Sol Maio 2019


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RAÇA ALVI-NEGRA Unidos nas lutas e nos trabalhos, nas canseiras e nos sacrifícios, dominados por uma vontade inquebrantável os dirigentes foram fazendo passar a mensagem de símbolo de fraternidade aos sócios de geração em geração, produzindo o espírito da “Raça Alvi-negra”. Mas que um clube nasceu uma grande família, por vezes com passageiros amuos

SALA BANHADA DE TROFÉUS

Fotos: Salvador Sigaúque

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Na sede do clube há uma sala repleta de troféus e recordações que atestam um passado glorioso, que resultou dos acalentados sonhos, da grande envergadura moral, dedicação extrema, vontade e abnegação das suas gentes, entre dirigentes, Maio 2019

atletas, técnicos, médicos, massagistas, roupeiros, jardineiros, sócios e parceiros. É uma sala banhada de provas inequívocas de um trabalho honesto e promovido por gente defensora de uma causa


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MODALIDADES E TALENTOS

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roféus conquistados pelas modalidades praticadas no clube, nomeadamente futebol, basquetebol, hóquei em patins, atletismo, andebol, futebol de salão, natação e ténis de mesa, em diferentes escalões. Estes desportos produziram grandes atletas cobiça-

dos por outros emblemas. Foram gerações e gerações de atletas de estirpe, dos mais valorosos que Moçambique produziu e que coloriam a sala com memoráveis troféus. A exemplo de Sérgio Albasini, Hamide, Fernando Lage, Jorge Nicolau, Mário Wilson, Rui Bastos, Mário Coluna, Negão Pedrigão

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MUDANÇA DE NOME E NOVAS CONQUISTAS

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ntretanto, um ano depois da proclamação da Independência Nacional em 1975, o clube mudou de nome e emblema, passando a designarse Grupo Desportivo Maputo. Apesar da nova realidade vi-

gente no país, o Grupo Desportivo Maputo manteve a sua forte tradição de formar talentos em várias modalidades, com particular destaque no futebol, tendo conquistado logo um bi-campeonato nacional em 1977,1978. Nos

anos 80, os “alvi-negros” viriam a arrebatar mais dois títulos nacionais em 1983 e 1988 e uma Taça de Moçambique em 1983, culminando com a sua chegada nas meias-finais da Taça das Taças Africana em 1990

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INTEGRAÇÃO NO ESTADO

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Fotos: Salvador Sigaúque e Arquivo

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s decisões de ordem política trouxeram outra realidade ao clube que passou a estar integrado no Ministério das Obras Públicas e Habitação. O processo conheceu avanços e recuos, produzindo incertezas em relação ao futuro da colectividade em termos de estabilidade económica, financeira e estrutural. Esta situação conduziu também ao afastamento dos chamados sócios “carolas” que investiam os seus parcos recursos para a manutenção das actividades no clube. O problema agravou-se com a desintegração definitiva do clube das mãos do Estado, por falta de clareza em relação a sua vinculação à Construtora CETA, numa altura em que a situação económica do país se deteriorava. As diferentes direcções eleitas pelo clube foram procurando soluções locais para devolve -lo ao seu estágio normal de funcionamento. O processo não tem sido fácil até aos dias de hoje, porque os recursos financeiros escasseiam na praça e esta realidade tem implicação directa na actividade e nos resultados desportivos do clube


Fotos: Salvador Sigaúque

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PATRIMÓNIO INVEJÁVEL … MAS SUBAPROVEITADO

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Clube dispõe de um património desportivo invejável sendo de destacar uma piscina, três campos anexos para futebol de

onze, a nível de escalões de formação, dois campos para à prática de modalidades de salão, um pavilhão gimnodesportivo (Lurdes Mutola), com capacidade para duas

FUTEBOL E HÓQUEI NA VANGUARDA

mil e quinhentas pessoas, e um Stand da Rifa Desportiva. A preocupação dos dirigentes é a de encontrar parceiros estratégicos para a rentabilização das instalações

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Desportivo Maputo é um clube ganhador, por isso as suas vitrinas estão recheadas de troféus. Foram de facto várias conquistas em várias modalidades desde basquetebol, natação, ténis de mesa, atletismo, hóquei em patins e até ao futebol. O futebol foi sempre o desporto baluarte no clube, tendo o registo de oito (8), títulos do Campeonato Nacional, e no hóquei em patins assinale-se onze (11) títulos nacionais consecutivos no período de 19942004 Maio 2019

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REPUTAÇÃO INTERNACIONAL

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um clube que aposta seriamente na formação de atletas e com resultados visíveis. Internacionalmente goza de uma boa reputação pelos excelentes desempenhos nas provas em que competiu. Assinale-se que, nos últimos oito anos, o Grupo Desportivo Maputo foi a colectividade desportiva que mais títulos internacionais trouxe ao país, sendo dois campeonatos africanos

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ganhos pela equipa sénior feminina de basquetebol, o terceiro lugar nos africanos de básquete sénior feminino e hóquei em patins, e a participação no campeonato mundial de clubes, em hóquei em patins. Actualmente movimenta as modalidades de futebol (onze), natação, basquetebol, atletismo e hóquei em patins. A sua massa associativa é estimada em dois mil (2000), e possui uma boa fasquia de adeptos


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Futebol (8) Campeonatos Nacionais: (2) era colonial: 1957, 1964 (6) pós-colonial: 1977, 1978, 1983, 1988, 1995, 2006 (12) Campeonato Distrital de Lourenço Marques: 1925, 1926, 1927, 1929, 1937, 1944, 1945, 1946, 1952, 1956, 1957, 1959 (2) Taça de Moçambique: 1983, 2006 (2) Taça de Honra de Maputo: 2007, 2008 Desempenho em competições africanas Liga dos Campeões CAF : 1 aparição 2006-07: Últimos 32 - Perdidos contra o Mamelodi Sundowns (3–1 no agregado) Taça dos Vencedores da Taça CAF : 1 aparição 1989–90: Meias-finais - Perdidos contra os Leões da BCC (7–3 no total)

Hóquei em Patins (03) Campeonato de Portugal: 1969, 1971, 1973 (15) Campeonato de Moçambique: 1978, 1987, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2006, 2010

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O MESTRE DE BÁSQUETE FEMININO

NAZIR SALÉ 14

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azir Salé é um treinador de top e que inscreveu seu nome com letras douradas na história do Grupo Desportivo Maputo. Mais conhecido por Nelito, o jovem técnico foi desafiado a reconstruir o basquetebol feminino “alvi-negro” e fê-lo com todo arreganho. Fez uso da sua competência profissional e capacidade técnica para elevar o reconhecimento nacional e internacional do potencial basquetebolístico do Grupo Desportivo Maputo. De 2002 a 2010, Nelito conduziu a equipa sénior a conquista de quatro títulos nacionais e da cidade, dois títulos africanos, um de vice-campeão de África e mais um terceiro lugar também a nível continental. Ele é o melhor técnico da história do basquetebol moçambicano

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Fotos: Salvador Sigaúque

DESPORTIVO É MEU CLUBE DE ELEIÇÃO -confissão de José Luís Cabaço, sócio mais antigo do Clube

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ntrou no Desportivo em meados de 1950, com apenas 14 anos de idade. A sua principal paixão foi o basquetebol, apesar de ter tido breve passagem pelo futebol, onde jogou apenas na categoria de juniores como guarda-redes. “A minha paixão foi pelo basquetebol. Militei no futebol 11 por causa de um desafio em que havia sido lançado para mim e eu aceitei. Foi por isso que tive esta passagem por lá”, disse, recordando que depois de ter terminado a sua carreira como basquetebolista, no Desportivo Maputo, rumou para Portugal onde jogou pela Académica de Coimbra. Quando regressou ao seu país de origem (Moçambique), tornou-se treinador da modalidade no mesmo Clube.

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Desportivo é um grande clube Cabaço, que é sócio desde cedo, vínculo que herdou de seu pai, recorda a grandiosidade do Clube, dos grandes atletas, vitórias, glórias e euforia dos adeptos alvi-negros que afluíam em massa a cada jogo. “Lembro-me, por exemplo no futebol, de jogadores como Eu-

sébio, que não chegou a jogar no Desportivo devido à sua estatura física na altura, mas, posteriormente, foi brilhar noutro clube”, disse. O nosso interlocutor apontou ainda atletas de peso como são os casos de Matateu, João de Brito, Albasine e tantos outros que fizeram do Desportivo um Clube temido e respeitado a nível nacional.


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Cabaço lembra com emoção outras modalidades além do desporto-rei (futebol 11) que eram referência no Clube preto -e-branco, que naquela época arrastava adeptos de todos os cantos de Maputo, os casos de natação, o hóquei em patins, ténis de mesa, de campo e o basquetebol

O Desportivo socializou-me Numa altura em que havia segregação racial, onde a distância entre brancos, negros, mestiços era abismal, o Desportivo tinha a particularidade de agregar todas as raças e conviver com as diferenças. “Eu vivia num mundo fechado, só meu, mas quando comecei a frequentar os recintos do Desportivo, encontrei gente de diferentes raças a partilharem

os mesmos espaços sem quaisquer problema”, frisou, para depois apontar que foi naquele momento que começou a fazer amigos, a aprender muitas outras coisas, a dar valor a vida e respeito para com os outros. O nosso entrevistado recordou que havia um certo racismo dentro do Clube, mas entre colegas de equipa este preconceito não se manifestava. “Todos lutavam por um único objectivo, garantir vitórias. A convivência entre os atletas era de igual para igual, sem qualquer distinção”, disse.

Nunca tivemos apoio De acordo com Cabaço, o Clube Desportivo Maputo, desde a sua fundação nunca teve apoio financeiro que suportasse na totalidade as suas despesas,

o que tinha era a contribuição de alguns sócios. “Os únicos apoios que tínhamos eram de uma empresa que estava ligada a área da construção civil diferentemente de muitos outros clubes que se filiaram a empresas estatais. Depois disso, o clube passou por maus bocados e penso que esta dificuldade estende-se até ao momento actual”, disse. Este problema de falta de fundos, de acordo com Cabaço, não se fazia sentir naquele período porque não havia salários para os atletas. Jogava-se por amor a camisola, diferentemente de hoje, onde o desporto é profissão e o jogador um trabalhador que precisa de salário para se manter. “Acredito que, neste momento, o Clube não tem recursos suficientes para sustentar estes profissionais”, concluiu Maio 2019

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DESPORTIVO É A MINHA FAMÍLIA

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-diz Carolina Araújo antiga, nadadora

arolina Araújo começou na natação pelo Desportivo Maputo aos 11 anos de idade e esteve ligada a colectividade até aos 18 anos, como praticante. Durante este período, ganhou todas as provas, bateu todos os recordes e nunca perdeu um campeonato nacional. Tem orgulho de ter trabalhado no departamento de natação, onde seus dois filhos faziam parte. A cumplicidade e comprometimento por parte de todos envolvidos fizeram com que a nossa interlocutora se

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sentisse em família. “O Desportivo é minha família, embora não esteja no activo, carrego as cores do Clube sempre no meu coração”, disse. O seu sonho, como amante e antiga nadadora, é de ver o Desportivo a voltar a desenvolver a modalidade de natação, interrompida há vários anos por causa de problemas financeiros da época. Até porque para efectivar este sonho, Carolina Araújo, já entrou em contacto com a actual direcção, na pessoa do presidente do Clube, Inácio Bernardo e tudo aponta para resposta favorável.

Caso tenha uma resposta satisfatória, a antiga nadadora promete pôr a modalidade no top das atenções e a ganhar em todas as competições nacionais.

FORMADA nO Desportivo

“O Desportivo formou-me praticamente. Como já disse, entrei neste Clube aos 11 anos de idade, vindo do Ferroviário de Maputo”, afirmou, explicando, que teve o privilégio de ter participado nos Jogos Olímpicos de Seul, Coreia, em 1980, graças à formação que teve no Clube Desportivo


Texto: Júlio Saul

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DESPORTIVO É MOÇAMBIQUE

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-afirma Manuel Braga-antigo jogador de basquetebol

anuel Morais Pereira Braga, uma personalidade incontornável no Grupo Desportivo Maputo e um dos sócios mais antigos, revelou à nossa reportagem sobre a importância do Clube na socialização de diferentes raças numa altura em que em Moçambique se vivia a discriminação racial e outros tipos de preconceitos que distanciava os seres humanos naquele período. “O Grupo Desportivo Maputo sempre identificou-se como Clube da terra. Aquele que foi fundado pelos moçambicanos naturais”, disse, argumentando que as cores preto & branco são prova da coesão entre as raças, entre a cidade e o subúrbio de Lourenço Marques.

Esta identidade, segundo Braga, viria a confirmar-se quando o Benfica de Portugal pretendia mudar as cores para o vermelho e tornar o Desportivo como a sua filial. “Esta filiação foi recusada pela direcção do Desportivo, porque queria manter a sua identidade”, disse, explicando que os que não estiveram de acordo com decisão dos dirigentes saíram para fundar o Benfica de Lourenço M a rques,

hoje Costa de Sol.

Dias bons virão Quando questionamos sobre o actual momento nebuloso por que o Clube atravessa, no que diz respeito à falta de financiamento ou patrocínio para o normal funcionamento da sua máquina, Braga mostrou-se optimista e depositou a sua confiança à nova liderança. “O Desportivo vai sair dessa. Acredito que a nova direcção, liderada pelo professor Inácio Bernardo, fará de tudo para tirar o Clube da actual crise”, disse, acrescentando que o Desportivo tem pessoas capazes que irão, de certo modo, trazer soluções viáveis e pôr fim à crise que se vive

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Fotos: Salvador Sigaúque/Arquivo

ESTAMOS ARRUMAR A CASA

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- garante Inácio Bernardo, presidente do Desportivo Maputo

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nácio Bernardo, presidente do Grupo Desportivo Maputo desde 2017, disse que o novo elenco “alvinegro” herdou uma crise de anos, mas, segundo suas palavras, está a envidar esforços para contornar o cenário, não obstante à falta de patrocinadores. “O que temos vindo a fazer, desde que assumimos a direcção do Desportivo em 2017, é tentar organizar a contabilidade que não está nada saudável. Queremos em conjunto encontrar alternativas que nos permitam caminhar”, disse, acrescentando que, neste momento, o Clube usa os escassos recursos produzidos internamente para custear às despesas, incluindo o pagamento de salários aos atletas e a equipa técnica. Queremos formar jogadores de qualidade

Segundo Inácio Bernardo, é ambição de qualquer Clube ter uma escola que forme atletas para coloMaio 2019


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Maputo e Fundo de Promoção Desportiva (FPD), por exemplo, tem conseguido espaço para realizar treinos ou competições. “Um campo de futebol é necessário para qualquer Clube desenvolver às habilidades dos seus atletas”, disse para depois acrescentar que é uma das prioridades do seu elenco adquirir um campo próprio

cá-los à disposição no mercado e não só, mas também para servir a própria casa. “O nosso desafio é praticamente este, nomeadamente formar jogadores que sejam competitivos e capazes de entrar no mercado desportivo”, pronunciou, sustentando que o Clube está a fazer de tudo para registar bom desempenho no seu regresso a maior prova do desporto nacional, o Moçambola. Mas para que os objectivos sejam alcançados, o presidente Inácio Bernardo, chama a consciência de todos que estão por detrás do Clube, incluindo os adeptos fiéis a unirem forças para uma única causa, o desenvolvimento do Desportivo em todos os aspectos.

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Sem campo próprio

Uma das grandes preocupações de momento para o presidente do Desportivo é à falta de campo próprio para à prática do futebol de 11, mas graças a parceria com outros Clubes e entidades, como o Ferroviário Maio 2019


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Apesar das dificuldades

CONTINUAMOS AMBICIOSOS Inácio Bernardo, presidente do Grupo Desportivo Maputo (GDM), sente-se satisfeito com a presença do Desportivo na maior prova do futebol moçambicano, o Moçambola época 2019.

Foto: Salvador Sigaúque

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ste feito resulta do esforço de todos, que estiveram envolvidos durante a fase de qualificação da segunda divisão zona sul, pese embora os imensos problemas financeiros. O metical continua longe dos cofres do Desportivo, mas, mes-

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mo assim, o presidente garantiu que tudo está assegurado para que os atletas no Moçambola, tenham os seus honorários em dia e, de tal maneira, lutem para o título de campeão nacional. “Com muito sacrifício conseguimos assegurar o pagamento dos salários”, disse, argumen-

tando que o ano passado foi muito complicado para o Clube que dirige, tanto que se viu obrigado a sacrificar alguns trabalhadores, jogadores e treinadores com vista a manter os níveis salariais. Porém, há necessidade de se mudar o paradigma de gestão e tirar o Desportivo do


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23 sufoco que está a atravessar. “Estamos a lutar para mudar o cenário e garantir que a vida dos jogadores melhore. Com isso, estamos a trabalhar com alguns parceiros e os sócios do Clube para que continuem a dar o seu apoio e juntos encontrarmos uma saída”, referiu.

uma grande marca entre alguns parceiros do Clube, que está assegurar o funcionamento normal da modalidade. “Deixa-me

dizer que a natação no Desportivo era muito forte e pretendemos voltar ainda mais fortes e invencíveis”, concluiu

A natação está de volta

Depois de muitos anos de paralisação, a modalidade de natação voltou em princípio de Janeiro de 2019 a fazer parte do panorama desportivo nacional, em geral, e do GDM, em particular. Segundo Inácio Bernardo, há Maio 2019


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TEMOS A MELHOR ESCOLA DE HÓQUEI -diz Bruno Pimentel, director de departamento de Patinagem

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runo Pimentel, director de departamento do Hóquei em Patins no GDM e ícone da modalidade no país, considerou o Desportivo como o único Clube moçambicano com a maior e melhor escola de Hóquei sobre rodas desde sempre, particularmente no escalão de formação. Esta hegemonia, de acordo com o nosso interlocutor, devese aos esforços que têm sido empreendidos a nível do GDM no que diz respeito ao investimento que tem sido feito para a compra de vários equipamentos desportivos para a modalidade. “O Desportivo continua a ser o maior e cada vez melhor na modalidade de hóquei em patins, devido à entrega de todos os elementos da equipa”, disse, argumentando que a aposta, neste momento, é potenciar cada vez mais o sector da formação para que no futuro possa responder a demanda da colectividade e não só, mas de todo o país ou da própria selecção nacional. Orgulho-me pelo trabalho que faço

Apesar da crise que o GDM está a atravessar, Bruno PimenMaio 2019

tel mostrou-se confiante e disposto para ajudar naquilo que puder para o bem do clube e da modalidade que representa e sente-se orgulhoso em transmitir o seu legado a outras gerações. Para familiarizar os for-

mandos nesta prática, têm organizado competições a nível interno, designado “Hóquei Como Anima”. Nestas provas, o Desportivo tem superado todas às expectativas e coloca-se em 1º lugar em quase todas as partidas. Porém, o director do departamento d e pa-


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tinagem do GDM afiançou-nos que este trabalho deve merecer apoio de todos, não só do Desportivo, mas dos sócios e amantes da modalidade, porque só assim é que o futuro será brioso. “Ninguém caminha sozinho por mais que seja um génio, sempre precisamos de mão de alguém para caminhar firme e confiante”, frisou

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NOSSA META É A CONQUISTA DO TÍTULO -Artur Semedo, treinador dos alvi-negros

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rtur Semedo aceitou o desafio de recolocar o Desportivo Maputo no topo do futebol nacional. Convidado pela actual direcção do clube, para dirigir a equipa principal, Semedo esmerou-se e foi alvo de uma sublime recepção, com dezenas de sócios e adeptos a transmitir-lhe carinho

e simpatia. Ao tomar da palavra, o técnico assumiu o compromisso de colocar a equipa no lugar que merece. Pela terceira vez a frente do Desportivo, Semedo prometeu dedicar energias e conhecimentos para reerguer o histórico do Maio 2019

futebol nacional. “Estou no melhor clube, onde sempre quis estar”, disse, sustentando que conhece o Desportivo como se fosse a sua própria casa. O seu maior desafio é trabalhar para construir um Desportivo que se predispõe a lutar pelo

título de campeão nacional. “Qualquer equipa luta para ser campeão e nós não fugimos a regra. O nosso foco no Moçambola 2019 é conquistar o título de campeão” referiu. Semedo enalteceu, no entanto, a magnífica recepção e o carinho dos adeptos “alvi-negros” e assumiu o compromisso de trabalhar com eles, a verdadeira força motriz que move a equipa, e pediu a fidelidade dos mesmos em todos os momentos. “Contem com o meu apoio, minha dedicação para levar a emoção aos adeptos e amantes de futebol”, garantiu


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URGE IMPLANTAR NOVOS MODELOS DE FORMAÇÃO

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-Amade Mogne, antigo atleta do Desportivo

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made Mogne foi um desportista por excelência. Iniciou a sua carreira desportiva em 1971, quatro anos antes da Independência Nacional ainda em tenra idade. Para além de basquetebol, a sua maior paixão, teve o privilégio de praticar também a modalidade de futebol onze, na escola de jogadores do Desportivo. O seu talento permitiu-lhe praticar duas modalidades em

simultâneo e em clubes diferentes na categoria de juvenis. Hoje, lembra com satisfação os tempos idos. “E depois de alguns anos de interregno, fui representar o outro clube, neste caso concreto, o Ferroviário de Maputo, a nível da modalidade de basquetebol e o futebol continuei no Desportivo”, disse. Segundo lembra Mogne, em 1978 deixou de praticar o futebol e regressou ao seu clube de

coração para se dedicar apenas ao basquetebol, depois de quatro anos ao serviço do Clube Ferroviário de Maputo, nesta modalidade. O seu longo percurso e experiência acumulada permitiramlhe dar contributo valioso na Maio 2019


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pos, o que lhe habilitou a ganhar vários troféus particulares. Deve-se apostar na formação O Desportivo, segundo o nosso entrevistado, já foi um verdadeiro “celeiro” de talentos, mas hoje é um deserto comparativamente ao passado. “No nosso tempo havia formação e os treinadores estavam qualificados para transmitir conhecimentos aos escalões de iniciados”, disse, acrescentando que para melhorar o segredo é potenciar os escalões de iniciação. Mogne defende a reformulação dos modelos de formação para que no futuro não tenham que recorrer a outros clubes para alimentar as equipas principais. “De princípio, acho que deveriam escolher entre os antigos atletas para formar e aproveitar o máximo deles para potenciar os escalões de formação”, concluiu

Fotos: Arquivo

28 elevação do basquetebol praticado no Desportivo a outros patamares tanto mais que formou muitos atletas de renome, alguns dos quais a militaram nas selecções nacionais. “Muitas estrelas que brilham nas selecções nacionais passaram por mim”, lembrou, explicando que de 1982/84 treinou as equipas de iniciados, de juvenis e, em 1990, formou os escalões de juniores. Do melhor ao jogador mais popular

No seu tempo, Amade Mogne foi considerado o melhor e um dos jogadores mais popular de Moçambique devido a sua pujança, dedicação e conquistas. “Fui considerado o melhor atleta e o mais popular. Ganhei dois campeonatos em juvenis, fui campeão nacional de juniores e seis campeonatos em seniores”, referiu, recordando que teve o privilégio de ser considerado o melhor marcador de todos os temMaio 2019


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SOU DESPORTIVO EM PESSOA -afirma Mariza Gregório, antiga nadadora alvi-negra

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asceu em Setembro de 1976, na cidade de Maputo. Com apenas oito anos de idade, começou a despertar dentro de si o “bichinho” de nadadora graças à sua localização, próximo ao Clube Desportivo, onde contemplava a beleza da piscina e dos nadadores que ali mergulhavam. O seu atrevimento, ainda em tenra idade, permitiu-lhe que fosse descoberta por uma treinadora daquela época que a tinha visto a mergulhar de forma tímida na piscina do Desportivo, dai em diante, não parou mais. Hoje é licenciada em Educação Física e Desportos, lecciona numa prestigiada instituição de ensino privado a nível da capital moçambicana, Maputo Internacional Schoool, onde divide o espaço com várias pessoas ligadas a área de desportos. Estamos a falar de Mariza Gregório, que considera o Grupo Desportivo Maputo como sua casa e os seus colegas como sua família.

“Não tenho palavras para descrever o Desportivo sobretudo as pessoas com as quais convivi durante o período em que militei o Clube. Só posso afirmar que sou Desportivo em pessoa”, lembrou com emoção para depois acrescentar que foi graças ao Clube que chegou aos patamares em que se encontra hoje. “Se não fosse pelo Desportivo, as pessoas que me treinaram e deram apoio, talvez eu não seria o que sou hoje, professora de educação física”, disse. Orgulhosa pelos seus feitos enquanto atleta daquele Clube e por fazer parte da família do Desportivo, Mariza almeja ver a modalidade de natação de volta. Até porque vontade não lhe falta, mas espera atitude por parte da direcção. “Vontade não me falta em apoiar o Clube que me viu crescer, mas os que estão à frente do Clube devem-nos aproximar como antigos atletas para juntos traçarmos planos tendentes a devolver a modalidade" disse.

Meu pai não me queria no Desportivo

Pela paixão que nutria pelo Clube, a nossa interlocutora confessou que teve até a ousadia de enfrentar o seu pai que era um ferrenho do Ferroviário de Maputo. “Meu pai não queria saber da minha militância pelo Desportivo, por isso a nossa relação em casa era de rivalidade. Quis dizer, rivalidade apenas no desporto”, referiu, acrescentando que, apesar disso, nunca pensou em abandonar o seu Clube de coração, muito pelo contrário ganhava mais forças para continuar. “Eu tinha amigos lá e dávamonos muito bem, por isso não havia motivos para abandonar, mesmo se me aliciassem com as melhores condições”, referiu

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Texto: Mustafa Leonardo

A FORÇA DO DESPORTIVO ESTÁ NOS ADEPTOS

- considera Feizal Sidat, empresário e sócio do clube

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esportivo Maputo foi desde sempre seu clube de eleição. É membro número 239 e faz parte da família alvinegra, desde a década 80 até os dias que correm. Falámos de Feizal Sidat, figura incontornável no panorama desportivo nacional, mas que cabe bem num clube com dimensão como o Desportivo.

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O número de adeptos não para de crescer, porque é transmitido de geração em geração

No desporto há derrotas e vitórias não só em campo, mas também na liderança dos clubes, por isso Feizal entende que os momentos maus da gestão do clube serviram de lições para moldar dias melhores. Nesta linha de pensamento, encontra muitos motivos para elogiar a actual direcção mercê da transparência com que tem trabalhado. Segundo Feizal, o indicador plausível para classificar a força do clube reside na massa adepta. O que se confirma, atendendo ao argumento

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de que “mesmo com tantas dificuldades os adeptos do Desportivo não arredaram o pé”. Aliás, sobre adeptos o Desportivo é dos melhores posicionados no panorama nacional e, segundo Sidat, o amor pelo grupo é transmitido de geração em geração. “O número de adeptos não para de crescer. Para aumentar estes números, pensamos em introduzir o cartão de sócio juvenil, sem custos, para angariar simpatizantes e adeptos mais jovens”, explicou. Estar preparados para Moçambola

Para Feizal Sidat, o regresso do clube ao Moçambola é uma grande responsabilidade. Assim, insta para uma maior criatividade e qualidade para sua permanência. Para o efeito, manifestou a sua disponibilidade

em incrementar sua participação para o investimento na formação dos atletas. “Temos que estar preparados, porque ascender ao Moçambola depois descer não é saudável. Ao estarmos no Moçambola os patrocinadores também vão-se aproximar. Espero que isto continue e prevaleça. Vamos inves-

tir no nosso clube e na formação para não voltarmos à divisão de honra”, explicou. Feizal Sidat é, para além de sócio, um dos conselheiros do actual presidente do clube e sente-se honrado por esta posição. “Isto me engrandece e faz-me cada vez mais parte da família alvi-negra”, concluiu

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TÍNHAMOS UMA SUPER ESCOLA DE JOGADORES -Abdul Hamide, antigo atleta dos alvi-negros

Fotos: Arquivo

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Foi um jogador destacado da sua época, graças a escola de jogadores do Desportivo, fundada pelo italiano

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sua pujança e liderança no futebol, como capitão, fizerem dele um homem reconhecido pelas chefias da área e até hoje é

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Marcos Romeu. Já passou por vários escalões enquanto atleta do Clube. Foi capitão e líder da equipa principal.

declarado pelos seus antigos colegas do Desportivo como o eterno capitão devido ao seu protagonismo enquanto usava à braçadeira alvi-negra. Pelo seu mérito na arena des-

portiva nacional, passou pela Federação Moçambicana de Futebol (FMF), desempenhando às funções de vice-presidente, das selecções nacionais no mandato do antigo Presidente


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começamos a treinar frequentemente com autorização dos nossos pais”, referiu. Foi nesta escola, de acordo com o nosso interlocutor, que os jogadores da sua época aprenderam o verdadeiro ABC do futebol, que formou verdadeiros homens da bola de que o Clube Desportivo Maputo se orgulhava. “Aquela foi a primeira escola da espécie a nível do país e eu fiz parte dos que ingressaram quando ela foi criada”, referiu. No entanto, devido ao seu talento e dedicação, com apenas 16 anos de idade, Hamide foi convocado para fazer parte da equipa principal até ao fim da sua precoce carreira desportiva, em 1980, devido a uma série de políticas, na altura que obrigava todos os atletas que estivessem a trabalhar, para se dedicarem apenas ao desporto. “Eu recusei-me a interromper

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Fotos: Arquivo

Feizal Sidat, cargo que lhe permitiu trabalhar ao lado do ex-seleccionador da Selecção Nacional, os “Mambas”, o holandês Mart Noij. Já foi chamado por várias vezes para fazer parte do elenco directivo do Desportivo, mas, por vontade própria, não aceitou nenhum cargo de chefia, preferindo, do lado da bancada, ver in-loco os atletas. Hoje, o que lhe resta são às memórias dos tempos de glória. Segue abaixo os seus traços.

1962, foi para a primeira escola de jogadores que Moçambique tinha naquela época. Embora não tivesse idade para frequentar o escalão de juniores, aceitou o convite formulado pelo italiano Marcos Romeu, fundador e instrutor da mesma. A primeira turma de jogadores que ingressou naquela escola do Desportivo foi encontrada na Missão Suíça, no Bairro de Chamanculo. “Regularmente, sem que ninguém desconfiasse, ele (Marcos Romeu), ia para lá apreciar os pequenos atletas que irrompiam pelo recinto da Missão”, disse, explicando que num certo dia, o Romeu ficou comovido com a qualidade dos meninos e decidiu convida-los para fazerem parte da sua escola. “Nós não sabíamos o que era isso, mas, como tínhamos uma certa afeição pelo Desportivo, aceitamos o convite e depois

Entrada no Desportivo Maputo

Chegou ao Desportivo com 14 anos de idade. Por volta de Maio 2019


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o meu emprego como banqueiro, por isso não continuei a jogar para o Desportivo desde aquele período, pese embora ainda tivesse idade para continuar a praticar o futebol 11. Mas depois continuei na modalidade de futebol de salão (futsal), onde, posteriormente fui treinador do mesmo clube”, lembrou Partilhei espaço com jogadores de renome

Embora fosse muito novo da equipa principal, Hamide contou-nos ter partilhado vários recintos desportivos espalhados por este Moçambique, com jogadores de renome como, por Maio 2019

exemplo, João Albasine, Edgar, Arménio e, posteriormente, João de Brito e Salazar. Qualidade dos jogadores

“Na escola de jogadores do Desportivo, a qualidade era apetecível. Como o próprio nome diz, tratava-se de uma escola de formação no verdadeiro sentido da palavra”, disse, argumentando que aprenderam tudo o que era ABC de futebol, o que, na sua opinião, não acontece nos tempos actuais. Hamide lembrou que cada jogador sabia dominar as técnicas de futebol. Tinha a noção básica

de sua posição em campo e sabia onde devia avançar dentro da sua linha de actuação. Sem fazer qualquer comparação em relação a qualidade dos jogadores da sua época e da actual, o nosso entrevistado lembrou que em termos de qualidade estavam uns “furos” acima relativamente ao que aconteceu à posterior, altura em que a verdadeira escola deixou de existir. O antigo campeonato

Antigamente o campeonato era por zonas, respectivamente norte, centro e sul, o que não acontece actualmente. Neste


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tribuiu negativamente para a sua triste derrota. “O Textáfrica estava à espera quase uma semana e nós perdemos esta final porque estávamos fatigados. Acabamos perdendo para a equipa adversária por causa do cansaço e levantaram a taça de primeiro campeão nacional”, referiu, lamentando que como capitão foi doloroso ver o Textáfrica a erguer o troféu de campeão nas suas barbas, porém nos dois anos consecutivos, 1977 e 1978 veio o alívio e o privilégio de ser o primeiro capitão da história do Clube a levantar uma taça de campeão nacional. As cores do Desportivo

campeonato, apurava-se um representante em cada zona que, posteriormente, disputava a fase final na cidade de Maputo. A triste derrota do Desportivo

“Participamos em três finais de campeonatos consecutivos e perdemos um para o Textáfrica de Chimoio, em 1976, depois de uma maratona que tivemos ao longo da semana nas eliminató-

rias da zona sul”, contou, salientando que esta derrota se deveu ao cansaço dos atletas que, na sexta-feira anterior, antes do jogo que havia sido agendado para Domingo seguinte com os fabris de Chimoio, defrontaram a equipa da Académica de Maputo, inserido nas qualificações da zona sul. Praticamente, de acordo com o nosso interlocutor, a turma do Desportivo teve um dia de descanso, o que con-

Abdul Hamide explica que a história das cores, preto e branco, começou com a fundação do próprio Clube. As cores indicavam uma estreita ligação entre a parte baixa da cidade, que era composta pela elite branca e a dos subúrbios, na sua maioria negros, mestiços e outras raças não brancas. Entretanto, segundo disse o antigo capitão, o Desportivo foi o único a nível de clubes que respeitava as diferenças. “O Desportivo foi aquele Clube que, embora estivesse inserido no contexto em que a cor da pele dividia as classes, não aceitou à distinção racial e esta foi uma prova que o branco e negro ou qualquer outra raça poderiam conviver juntos sem qualquer distinção”, concluiu Maio 2019

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DESPORTIVO ME ORGULHA -Nuno Narcy, antigo atleta "alvi-negro"

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edicou a sua vida a causa do Desportivo, tanto que hoje se sente orgulhoso por ter feito parte de uma geração de ouro que tanto fez para

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a elevação do Desportivo na categoria de um dos melhores Clubes de Moçambique. Enquanto atleta, viveu vários momentos de euforia e como desportista fez delirar de felici-

dade muitos adeptos e apoiantes do Desportivo um pouco por todo o país. Já viu o seu Clube a erguer vários troféus nas modalidades de futebol de 11, atletismo, natação e hóquei


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minha própria história de vida. Identifico-me com este Clube desde adolescente”, disse, sustentando que, se tivesse a oportunidade de voltar ao passado, escolheria praticar desporto no seu Clube de coração, o Desportivo. Ainda para Nuno, que não quis se alongar tanto na conversa, o Grupo Desportivo Maputo (GDM), deve continuar a ser aquele Clube que representa a moçambicanidade, o orgulho da terra. “O Desportivo deve continuar a ser como sempre foi desde a sua fundação. Deve representar a moçambicanidade”, disse, apelando para a união de todos no sentido de devolver a grandeza do Desportivo

Fotos: Arquivo

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em patins. Hoje, sente-se lisonjeado por ter sido parte do Grupo Desportivo Maputo e entende que cumpriu a sua missão no desporto. Falámos de Nuno Narcy, antigo atleta “alvi-negro” que, com muita emoção, lembra e partilha connosco às suas memórias. “Quando falo do Desportivo é como se estivesse a contar a Maio 2019


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PISCINA MODERNIZADA

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direcção do Desportivo Maputo, encabeçada por Inácio Bernardo, está a mostrar acções práticas para devolver à boa imagem ao clube perante a sociedade. As obras de remodelação e modernização da piscina são exemplo vivo dessa nova realidade. A infra-estrutura apresenta um novo rosto, mais alegre e apetecível. Dos então 33 metros de comprimento, a piscina foi comprimida para 25, sendo que a profundidade foi também reduzida dos 7,5 para dois metros, contando neste momento com 9 a 10 pistas. O projecto de remodelação contemplou outras áreas, nomeadamente colocação de bancadas, melhoria dos balneários, construção de sala de refeições, restaurante, sala de dança desportiva e ampliação do centro social. O local está diferente e com isso fica a ganhar a família alvi-negra, que não se cansa de lutar pela recuperação de um passado que já foi brilhante. Os espaços adjacentes ao clube continuarão a ser explorados convenientemente para atrair uma maior presença dos sócios e simpatizantes. Com a piscina funcional, o clube vai reatar a prática de natação que havia sido interrompida de há alguns anos a está parte devido às condições da infra-estrutura

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MEMBROS DA DIRECÇÃO

Inácio Bernardo, Presidente

Correia Mendes, Vice-Presidente

Danilo Correia, Vice-Presidente

Adelino Xerinda, Vice-Presidente

39 Sozinho Lorenço Maumane, Vogal

Issuf Mahomed, Gestor do Parque Desportivo

Mario Agostinho Ofice, Secretário Geral

Lídia Pedro Machatine, Vogal

Celso Sitoe, Vogal

Selemane Ussene (Manito), Tesoureiro

Aniceto Letela, Tesoureiro adjunto

Pedro Sitoe, Departamento de futebol

Orlando Nuvunga, Departamento de futebol

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