Have a Break- Have a Rural Break - O potencial turístico da Branda de Val de Poldros

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HAVE A BREAK, HAVE A RURAL BREAK O potencial turĂ­stico da Branda de Santo AntĂłnio Val de Poldros Nelson Ferreira Gomes Azevedo investigador independente


HAVE A BREAK, HAVE A RURAL BREAK O potencial turístico da Branda de Santo António Val de Poldros

Nelson Ferreira Gomes Azevedo investigador independente Resumo Após algumas tentativas dos sucessivos executivos camarários do concelho de Monção em preservar a essência da Branda de Santo António, nomeadamente através de um Plano de Pormenor, englobando o Rio Mouro (2003) - que preconizava uma abordagem integrada face à criação de estruturas que acolhessem turistas- a preservação e salvaguarda da memória dos brandeiros e dos seus rudes mas honestos modos de vida estão ameaçados. No decurso dos últimos anos assistiu-se à reconstrução de cardenhas feita de modo ad hoc, resultando numa profusão de materiais, tipologias e volumetrias que pouco ou nada têm que ver com as toscas construções de dois andares e em falsa cúpula. Em face das condições já existentes no terreno (cardenhas já recuperadas, casas de traça arquitectónica moderna e muitas das cardenhas quase destruídas por completo) e do que se possa vir a desenhar para o espaço impar no concelho, propõe-se um plano de intervenção integrada por forma a conciliar os interesses dos privados já instalados e o interesse público de recuperação de uma memória colectiva. Serão assim feitas propostas de discussão pública para o repensar da estratégia dos poderes públicos, como forma de garantir que o espírito das construções bem como da envolvência seja mantido, observando modelos de reconstrução adoptados em locais do noroeste da Península Ibérica (Galiza, Léon, Astúrias) e o exemplo da branda da Aveleira no concelho de Melgaço, quase contígua à Branda de Santo António.

Palavras-chave: branda, plano de pormenor, cardenhas, reconstrução, turismo, ecoturismo, responsabilidade, público, privado, Península Ibérica, Branda da Aveleira.


Introdução Capítulo I. Brandas como exemplo de Arquitectura Popular na Península Ibérica Capítulo II. O fenómeno turístico como motor de revitalização e recuperação do tecido rural Capítulo III. A Branda de Santo António e o seu actual contexto Capítulo IV. O Potencial turístico da Branda de Santo António – Análise SWOT Capítulo V. Implicações a curto e a médio prazo

Introdução Após algumas tentativas dos sucessivos executivos camarários do concelho de Monção em preservar a essência da Branda de Santo António, nomeadamente através de um Plano de Pormenor englobando o Rio Mouro (2003) - que preconizava uma abordagem integrada face à criação de estruturas que acolhessem turistas- a preservação e salvaguarda da memória dos brandeiros e dos seus rudes mas honestos modos de vida estão ameaçados. No decurso dos últimos anos assistiu-se à reconstrução de cardenhas feita de modo ad hoc, resultando numa profusão de materiais, tipologias e volumetrias que pouco ou nada têm que ver com as toscas construções de dois andares e em falsa cúpula.

Foto 1: Cardenha em falsa cúpula, de dois andares

Foto 2: Construção recente (fotos do autor, Jan.2016)

Hoje em dia sobrevivem talvez mais de uma trintena de exemplares de cardenhas, talvez mais, uma vez que a vegetação cobriu grande parte das propriedades, trilhos e caminhos outrora calcorreados por brandeiros de várias idades, num movimento sazonal que muito tinha de comunitário. Apesar de ser difícil ao autor afirmar quantos exemplares destas cardenhas ou cardenhos (que o Dicionário Electrónico Houaiss identifica como regionalismo e diz que se trata de «casebre pobre; cardanha, cardanho», significando casa térrea e humilde), o certo é que estas convivem hoje em dia e em especial desde a última década com construções modernas, que apesar de terem tentado respeitar a envolvência patrimonial, acabam por introduzir um elemento disruptivo no conjunto da Branda. Assim, o deteriorar dos exemplares restantes não tem sido


travado por nenhuma entidade nem pelos seus proprietários, provavelmente por desconhecimento do altíssimo valor arquitectónico, cultural, simbólico, e que no entender do autor deste trabalho, estão inseridos num conjunto com um alto potencial de valorização turística sustentável. A Branda de Santo António é constituída por talvez uma trintena de cardenhas cuja datação é, a esta data, difícil de fazer com exactidão. As investigações que foram feitas ao longo das últimas décadas parecem apontar Val de Poldros como sendo ocupado permanentemente desde o século XII, através dos esforços de povoamento das terras altas levadas a cabo pelo Mosteiro de Fiães, em Melgaço, a quem pertenceriam estas terras. Domingues (1996), citando um texto apresentado no Jornal “Terra de Val de Vez, em 1961” do Padre Bernardo Feitor, pároco da freguesia de Riba de Mouro durante várias décadas alude precisamente a documentos pertencentes ao mosteiro em que se mostra que aquele espaço hoje conhecido como Branda tinha sido inicialmente um lugar de permanência de agricultores a quem teria sido concedido o direito de habitar estas terras e fazer delas o seu sustento- o que no caso se alargava à criação de gado cavalar e bovino. Esta datação está em linha com datações semelhantes de locais de montanha no noroeste de Espanha, tal como referem García Martinez (1993) e Sanpedro Fernández (1993), sendo que na Galiza este fenómeno poderia inclusivamente recuar até ao século X na zona da Ribeira Sacra e Ribeiro. Ainda que seja necessário proceder a averiguações mais exaustivas que vão para além do âmbito deste trabalho, ficaremos desde já com duas noções: a de que a Branda de Santo António apresenta uma antiguidade absolutamente inequívoca da qual resulta a sua importância histórica e cultural para a compreensão do contexto geoantropológico do Alto Minho; por outro lado, a relativa simultaneidade no aparecimento destas construções populares no Alto Minho e no noroeste do território espanhol configura uma base de comparação para aferir dos movimentos de preservação das construções e do que isso poderá significar em termos de valorização em termos culturais bem como turísticos.


Capítulo I. Brandas como exemplo de Arquitectura Popular na Península Ibérica A Arquitectura Popular, ou como foi já designada de “Arquitectura sem arquitectos”, repete modelos de construção surgidos em ecossistemas concretos e por isso, usa os materiais disponíveis no local bem como as ferramentas e técnicas de construção mais rudimentares possíveis. (Peñarroya: 1992). Partindo de um princípio básico da arquitectura que é o de considerar os elementos (decoração, iluminação, orifícios, etc) e os planos (vertical com as paredes e horizontal, com o chão e o telhado, é precisamente neste último que radica um dos interesses principais da construções primárias presentes um pouco por toda a Península Ibérica. Estas conhecem variações ao nível do formato, espessura das paredes mas é essencialmente ao nível da cobertura e dos materiais usados na construção que se notam as maiores divergências. Peñarroya (1992) identifica as zonas em Espanha onde se concentram exemplos de construções populares feitas de pedra e palha (casas e cabanas), canas e barro (barracas), pedra e colmo (pallozas), pedra, troncos de madeira ou só troncos de madeira (chozos ou cardenhas ou abrigos), todas elas com funções residenciais temporárias. (Ver figuras 1 e 2)

Figuras 1 e 2: Distribuição geográfica e Tipologias de construções com cobertura vegetal (Penarroya, 1992:80-81)

O autor identifica outras construções típicas da Galiza são os espigueiros (horreos) e outras estruturas com essencialmente funções agrícolas, que incluíam o armazenamento de cerealíferos. O chozos (ou chouzos) (Figuras 3 e 4) estão essencialmente ligados à transumância estival da criação de gado, e contrariamente ao que é referido por Peñarrroya na figura 1, estas construções não estão circunscritas somente às zonas assinaladas (Extremadura, Levante Andaluzia e Castilha), mas também existem em número abundante nas serranias do Suído (na fronteira entre as províncias galegas de Pontevedra e Ourense e na Cordilheira Cantábrica.

Figuras 3 e 4: Desenhos de chozos – Esquema da estrutura e corte longitudinal


Propõe-se de seguida, um resumo da distribuição de alguns tipos de construções mais ou menos rudimentares no noroeste da Península Ibérica, tendo por elemento comum a transumância de populações serranas com o propósito de servir de abrigo mais ou menos prolongado aos criadores de gado bovino. Sendo a pastorícia uma das principais fontes de rendimento das populações serranas, era normal que os pastores passassem largas temporadas longe das aldeias, e nas terras altas construíssem estruturas feitas com os materiais existentes (maioritariamente granito) para se protegerem da neve, tempestades e chuvas. E este fenómeno é, no entender de García Martínez (1993: 887) elucidativo do modo como as sociedades do noroeste da Península Ibérica passaram do nomadismo ao sedentarismo, tendo sido precisamente a transumância estival para a criação de gado um estado intermédio nesta transição. Por uma questão de clarificação de terminologia, convém referir que, consoante a zona onde se encontram as construções em pedra e sem recurso a qualquer tipo de argamassa, esta conhece diversos nomes, tal como refere González Blanco (1993:91-126). Por isso mesmo, será adoptada a terminologia deste autor, ao mesmo tempo que serão introduzidos pormenores relativos às construções que se podem encontrar nas diversas províncias espanholas, que a seguir se discriminam. Este autor inventaria assim um catálogo de construções toscas, nas quais o uso de materiais autóctones e a forma circular das construções bem como a falsa cúpula são os elementos dominantes: nas Astúrias recebem o nome de chozas, na zona da Rioja / Navarra são conhecidas como cozas ou cabañas, bombos em La Mancha, pajeros nas Ilhas Baleares entre muitas outras designações que percorrem tantas outras comunidades autónomas de Espanha. Em relação a Portugal, González Blanco designa a zona do Gerês como contendo construções com o nome de fornos, pocilgas, chafurdas e corthelos (sic). Distribuição das construções toscas (Noroeste peninsular) 1. Serra do Suído – Ourense/Pontevedra (Galiza) Constituíam-se como pequenas comunidades de pastores que se organizavam para edificação de fontes ou lareiras e geralmente eram construídos nos lugares mais protegidos da montanha, aproveitando as ladeiras das vertentes viradas a sul para se protegerem do vento norte. Peñarroya (1993) assume 4 tipos diferentes deste tipo de construção, que assumia a existência de diferentes tipos de materiais mais abundantes e, com eles, diferentes técnicas de construção eram empregues, tal como se vê nas figuras 3 e 4 (acima), em que se adivinha a utilização de pedra em toda a estrutura, mas onde dois arcos reforçam o tecto, tal como se pode verificar na fotos 3 e 4, exemplo do interior de um chozo em San Justo, na zona do limite entre as províncias de Pontevedra e Ourense. Estas construções dispunham de forno interior e tinham uma área entre os 16 e os 20 m2.

Fotos 3 e 4: Vista interior e exterior de chozo em San Justo, Serra do Suído, Avión (Ourense)


2 Serra de Ancares (Léon e Lugo) Nas imediações da Cordilheira Cantábrica situa-se a serra de Ancares, que une as províncias de León e Lugo. Nas serranias desta Reserva da Biosfera desde 2006 verifica-se um fenómeno semelhante ao verificado no Alto Minho, precisamente a perda de população, e com isso, o abandono das estruturas outrora ocupadas pelas populações flutuantes que se ocupavam da criação de gado bovino. Nos Ancares, as pallozas são um conjunto indissociável de pessoas, animais, alimentos e coisas se fundem. De planta circular, elíptica ou oval, mantêm na sua cobertura de colmo uma das marcas distintivas das restantes (Mapa 1 Astúrias e Foto 5 – Pallozas em Balboa) 3. Brañas da Serra de Somiedo (Astúrias) Este tipo de refúgio assumia um carácter comunal pelo facto de estes refúgios poderem ser utilizados por vários pastores, que, recordese, também participavam na sua construção e manutenção ao longo dos anos. Mas a comunalismo conhece no noroeste do território espanhol uma outra realidade, as denominadas brañas, estas sim muito mais parecidas com as brandas existentes no noroeste de Portugal, nomeadamente na Serra da Peneda. Segundo Penarroya (1992), as brañas são lugares de pasto de verão, construídos nas terras altas de zonas das províncias de Lugo, Astúrias e León, em altitudes a rondar os 1000 metros. Selecionamos a Braña de la Pornacal (Foto 6 à esquerda), na Serra de Somiedo (Astúrias) por serem as que melhor estado de conservação apresentam hoje em dia. São construções de planta rectangular, usualmente implantadas em lugares mais abrigados dos ventos da montanha, cujos telhados feitos de giesteiras (Cytisus oromediterraneus) teriam que ser substituídos a cada 15 anos. Uma das águas estava destinado para habitação do seu dono e na parte inferior pernoitava o gado, havendo ainda um pequeno espaço contíguo às habitações que tinham a função de quinteiro, isto é, um espaço intermédio cercado por muros para colocar o gado antes de o levar para o pasto. Funcionam como um prolongamento das aldeias e encerram em si uma curiosidade geoantropológica: estão associados a um grupo étnico típico das Astúrias, os denominados vaqueros de alzada, que são criadores de gado que se ainda se deslocam em família para as zonas altas das montanhas, e fazem os movimentos pendulares de subida e descida da montanha ao ritmo da natureza: de Maio a Setembro aproveitam os pastos fartos para criar o gado, a sua principal fonte de rendimento, vivendo o resto do ano nos xaldos, i.e., denominação que remonta à Idade Média para as aldeias agrícolas nos sopés das montanhas.


Estas brandas - que em determinados lugares destas regiões montanhosas assumem o nome de casas vividoras - são os exemplos melhor conservados, uma vez que ainda mantêm a sua função original, algo que já se perdeu noutros locais espalhados pelo noroeste do território espanhol ao longo da Cordilheira Cantábrica: Degaña (Astúrias), Riano e Buron (em Léon) e Lugo (Serras do Courel e Ancares). À semelhança dos vaqueros de alzada, os povos que nesta zona praticavam a transumância já desde o século XI foram alvo de diferentes tipos de discriminação, pois eram olhados com desdém por parte das populações fixas às quais regressavam para passar o inverno, devido ao facto de por exemplo não serem obrigados a pagar impostos e terem por isso um estatuto de alguma protecção, em contraste com essas populações fixas como aquelas que se formaram em Vega de Pas, San Pedro del Romeral y San Roque de Riomiera. São os denominados territórios de La Pasieguería (Vales dos Rios Miera, Pas e Pisueña) e ainda que nem todos os povos criadores de gado estejam territorialmente ligados a esta zona, Foto 7 – Cabañas pasiegas(Cantábria)

ficaram conhecidos como Pasiegos. A construção das cabañas pasiegas (foto 7) é um outro exemplo de arquitectura popular mista, na qual a utilização da pedra é total, quer para paredes, quer para os telhados. 4. Portugal Do lado de cá da fronteira, e em especial no noroeste, a arquitectura popular conhece algumas variantes, quer nos materiais empregues na construção, quer no tipo de ocupação que tiveram, e com isso, o número de construções que surgem nas serranias pode variar entre um simples forno e atingir um núcleo. Segundo Oliveira, Galhano e Pereira (1994: 175-182), a situação das construções toscas nas serras do noroeste português (Gerês, Amarela, Peneda e Soajo) conhece cambiantes importantes, mas para o nosso propósito deverão interessar-nos as construções em falsa cúpula, que se estendem um pouco por todas estas terras altas, em especial as brandas, no conjunto que faziam com as inverneiras enquanto alojamento temporário de pastores ou agricultores consoante o tipo de gado que criavam e o tempo de ocupação dessas construções. As construções em falsa cúpula têm expoente máximo no Alto Minho nos abrigos pastoris, que assumem um carácter cultural muito próprio, tal era a organização económica da região até à entrada para o último quarto do século XX. A economia tradicional assentava em duas premissas indissociáveis: a agricultura e o pastoreio. Nas aldeias, que se localizavam no sopé das montanhas, cultivava-se essencialmente o milho, o vinho, as batatas e algum centeio. Para as terras altas, levava-se o gado (essencialmente vacas) quando todo o espaço disponível nas aldeias estivesse ocupado. O regresso à aldeia coincidia com o fim do verão, num processo que Oliveira, Galhano e Pereira (1994) intitulam de “«alpagem» alpina” em alusão ao fenómeno existente na região dos Alpes. Este processo, perfeitamente ritualizado de comunidade para comunidade das serranias referidas acima, estava sintonizado com as estações do ano e o calendário litúrgico: se nuns casos como em Vilar de Veiga (Gerês) a partida se fazia no dia 15 de Maio, num regime de vezeira (regime pastoril de rotatividade de levar o gado todo da aldeia para as pastagens ou currais), noutros verifica-se que o calendário litúrgico marca o início e fim da transumância: em Santo António Val de Podros (localizada franja da Peneda) o início é marcado para o dia Santo António (12 de Junho), regressavam à aldeia no último fim-de-semana de Julho


(Nossa Srª das Necessidades) e voltavam à branda no terceiro fim-de-semana de Setembro (Santo António pequeno) e regressavam à inverneira quando o frio chegasse às terras altas. As construções eram de diversos tipos, tal como aludido acima: se alguns casos como no Soajo e na Peneda, os abrigos construídos são pequenas estruturas toscas para os vigias e para o gado (cortelhos), em S. Bento do Cando (a branda da aldeia da Gavieira) encontra-se uma verdadeira duplicação da inverneira, com as construções subsequentes a não seguirem já um modelo de construção tão primitivo. De seguida inclui-se um resumo das características de construção das estruturas primitivas que se encontram nas Serras do Gerês, Serra Amarela e do Soajo e Peneda, conforme sugerido por Oliveira, Galhano e Pereira (1994: 179-182) Serra

Gerês

Amarela

Soajo e Peneda

nº de fornos

1

1

+10

planta

irregular; circular ou quadrada

redonda

Detalhe

tamanho médio

material de construção

diâmetro 2,55 mt

diâmetro 4,50 mt

altura 2,65 mt

altura 2,40 mt

granito

granito

paredes (espessura) entrada (porta)

só de gado

2 pisos

rectangular de cantos arredondados

circular ou rectangular

variável

granito e xisto

entre 60 cm e 1 mt altura 80 cm

altura 80 cm

largura 70 cm

largura 60 cm

pedaço de madeira

pedaço de madeira

altura e largura variáveis

madeira

Tabela 1: Resumo das características das construções primitivas nas serras do Gerês, Amarela, Peneda e Soajo

Em Sistelo, no concelho dos Arcos de Valdevez, também é possível encontrar outros edifícios em falsa cúpula, de forma quadrangular, que têm a função de cortes de gado bovino, nos quais se recolhe o estrume para os campos. O que fica claro é que, em todas estas construções, apresentam seis elementos comuns de inegável valor etnográfico, revelador do carácter de quem as construiu: 1. Primitivismo – são estruturas que respondem a necessidades básicas de quem as utilizava (alojamento de pessoas e animais/ armazenamento de bens temporário)

(Foto 8 - Branda do Alhal, Sistelo, Arcos de Valdevez)


2. Funcionalidade – domina o prático sobre o teórico, uma vez que são adequadas ao modo como iriam ser utilizadas (por exemplo, as construções de dois pisos com o andar de baixo a ser usado pelos animais para fornecer aquecimento ao piso superior) 3. Mimetismo – a tradição de construir passa de geração em geração 4- Naturalismo – o uso dos materiais naturais disponíveis na zona onde são construídas 5- Ecologia - o uso dos pastos de forma cíclica permitia um equilíbrio com o meio circundante, quer nas aldeias de origem, quer nas terras altas 6- Solidez – A robustez das construções que resiste às características meteorológicas agrestes do ambiente onde estão inseridos. Alguns autores (González Blanco, 1993), Sanpedro Fernández (1993) e García Martinez (1993) conseguem identificar fases na edificação de alguns tipos de construções populares ligadas à transumância devida à criação de gado: García Martínez (1993) identifica três diferentes fases marcantes, sendo a primeira coincidente com a influência dos mosteiros e de algumas casas nobres no fenómeno da ocupação dos territórios em redor dos mesmos (século XI a século XV); esta é uma fase onde as construções assumiriam um carácter mais uniforme e mais primitivo; posteriormente, com a luta pelo território (que se verificou até a meados do século XVIII), o mesmo autor identifica a zona de Somiedo como característica desta fase, verificando-se a existência de construções de dois pisos, sendo o de baixo destinado ao gado e o de cima ao criador de gado. Posteriormente (a partir de meados do século XVIII), as construções assumiram uma faceta multifuncional, servindo de casas que, em alguns casos, albergavam a família inteira, que se deslocava para as zonas altas, tal como acontece nas brandas de Castro Laboreiro (Geraldes, 1996) Como se pode ver por este resumo das características das construções de base popular um pouco por todo o noroeste da Península Ibérica, a memória do que foi um regime económico e social das gentes que se fixaram no sopé das montanhas está em perigo, pois apesar de se poderem observar alguns exemplares de todos elas, um conjunto de factores contribuiu para que estejam, em grande parte, votadas ao abandono. A partir da década de 1960, assistiu-se a um abandono progressivo da criação de gado por força da falta de mão-de-obra (forçada pela emigração massiva dos dois lados da fronteira), bem como por outros factores específicos de cada um dos dois países como foram a florestação dos baldios verificada no lado português ou a rápida modernização da agricultura em verificada em Espanha a partir de finais da década de 1960. Uma questão se colocou a vários sectores das sociedades portuguesa e espanhola: o que fazer com os lugares entretanto abandonados? Sanpedro Fernández (1993: 881-882) refere mesmo que o puco que é feito para manter o património material é desconexo, e os inventários que são feitos não chegam a ser publicados, pelo que nem as próprias autoridades sabem elas próprias o que existe e poderia ser recuperado. Como se verá de seguida, a recuperação de algumas destas construções surgiu num impulso que teve tanto de regresso às origens identitárias, como de projecção de futuro, uma vez que o boom


turístico verificado em Espanha e em Portugal em diferentes momentos acabaram por forçar um alargamento da oferta turística, que passou do “Sol e mar” para o turismo de natureza e as rotas culturais e patrimoniais, ainda que com diferentes expressões e timings em Espanha e Portugal. Espanha recebia cerca de 35 milhões de turistas estrangeiros em 1995 e hoje recebe mais de 65 milhões, Portugal passou de 4,5 para mais de 10 milhões de turistas1.

Capítulo II. O fenómeno turístico como motor de revitalização e recuperação do tecido rural Como se viu no capítulo anterior, o abandono massivo da ruralidade nas sociedades portuguesa e espanhola deixou a descoberto um volume muito significativo de estruturas arquitectónicas de cariz popular, nomeadamente os abrigos de montanha – ligados à criação de gado- mas também as demais construções da cariz popular em muitas das aldeias entretanto desertas. Como aludido anteriormente, o fenómeno de crescimento exponencial do fenómeno turístico em Espanha e Portugal, num primeiro momento baseados no produto “Sol e praia” . De 1959 a 1973, o crescimento do número de visitantes foi exponencial: de um número de cerca de 4 milhões para 34 milhões em 1973, ano em que estancou o crescimento verificado até então pela crise mundial de 1973. (Sánchez Sánchez, 2001). Se num primeiro impulso deste crescimento espectacular de Espanha como um dos principais destinos europeus de férias – o que viria também a contribuir para legitimar o regime ditatorial do General Franco, o que se assistiu com a implantação de um regime político democrático quer em Espanha quer em Portugal no decorrer da década de 1970 e 1ª metade da década de 1980 foi precisamente a diversificação dos perfis de turistas e que obtiveram por parte do alojamento resposta positiva; assim, se a massificação das áreas litorais trouxe inegáveis benefícios para a balança de pagamentos de Espanha (Sánchez Sánchez, 2001), a verdade é que contribui igualmente para a procura de produtos turísticos que oferecessem maior contacto com natureza, um regresso às origens rurais. Cánoves et. al. (2005) identifica o ano de 1994 como o ano em que tem início o crescimento do alojamento relacionado com turismo rural, passando de 1074 para 6534 em 2003 (Cánoves et. al. 2005:44, citando dados de 2004 do Instituto Nacional de Estatística de Espanha). O crescimento do alojamento disponível em Portugal alargou-se através da recuperação de edifícios de valor cultural e histórico, grande parte de base rural (i.e., genericamente associado a Turismo em Espaço Rural (TER), que compreende as categorias de Casas de Campo, AgroTurismo e Hotéis Rurais), bem como o Turismo de Habitação “empreendimentos instalados em imóveis antigos particulares que, pelo seu valor arquitetónico, histórico ou artístico, sejam representativos de uma determinada época, nomeadamente palácios e solares, podendo localizar -se em espaços rurais ou urbanos” (Regime Jurídico dos Empreendimentos Turísticos, de acordo com o Decreto-Lei nº 39/2008, de 7 de Março). Se em 1984 existiam 103 unidades de TER em espaço nacional, este número cresceu até aos 936 em 2003 (Silva, 2006, citando dados da


Direcção-Geral do Turismo de 2001 a 2004), atingindo o pico em 2009 com 1191, situando-se actualmente nos 832 estabelecimentos (Turismo de Portugal, 2013). De acordo com Silva (2006), um impulso decisivo para este alargamento da base na oferta de alojamento turístico de base rural veio dos fundos públicos, que o autor estima terem sido na ordem dos 100 milhões de euros, sem esquecer que a outra metade veio de investimentos privados. O instrumento usado na consecução destas políticas integradas de desenvolvimento do tecido rural por via turística foi o Programa LEADER - Ligações Entre Ações de Desenvolvimento da Economia Rural - (versões I, II e LEADER+), que vigoraram entre entre 1991 e 2006. Se o aumento da oferta se situou por volta dos 12% anuais entre 1984 e 2002, a procura também aumentou em proporção semelhante (ca. 15% anuais) (Silva, 2006). No entanto, e após o pico verificado em 2011 (com quase 1 milhão de dormidas), verificou-se uma redução drástica para as 635 mil em 2013 (Turismo de Portugal, 2013). A recuperação de estruturas arquitectónicas inseridas no contexto rural conheceu em Portugal contornos interessantes, tendo em conta o volume de recuperações executadas e os montantes investidos, que entre públicos e privados, ultrapassaram os 200 milhões de euros em pouco mais de 15 anos. Mas impõe-se a questão seguinte: o que significa recuperar exemplos de arquitectura popular com fins turísticos na Península Ibérica? Será algo feito com o intuito de preservar a herança dos arquitectos anónimos e das suas vivências simples e modestas ou é algo mais direccionado para a recuperação privada das estruturas? Ou nenhum destes se verifica porque não existe verdadeiramente uma valorização do património arqueológico de cariz popular? Como se verificará de seguida, as administrações locais/regionais deram respostas diferentes a esta questão e os propósitos iniciais nem sempre foram alcançados. Se existem alguns casos de administrações locais que perceberam já o valor intrínseco desta recuperação da memória, como é o caso do Parque Natural de Somiedo no sul das Astúrias (onde foram recuperados 7 núcleos de branãs pela Consejeria de Cultura del Principado de las Astúrias), a verdade é que vários autores confessam a sua preocupação pelo estado de conservação destas estruturas, que foram, em muitos casos, votadas ao abandono: García Martínez (1993) em relação à situação do Parque Natural de Somiedo, nas Astúrias, Sanpedro Fernández (1993) em relação à Galiza, Fernández Fernández (2012) relativamente aos Ancares (Lugo- Galiza). Esta última autora é particularmente crítica relativamente aos investimentos realizados nas zonas da Serra dos Ancares, que apesar de avolumados e incidindo na preservação ambiental (criação do Parque Natural e inclusão deste na Rede Natura 2000), recuperação de infraestruturas como musealização de algumas pallozas e de outras com intuitos turísticos, a verdade é que não foi possível vencer o despovoamento verificado nesta área, apesar de estas estruturas terem sido e ainda serem cartazes de promoção turística de um modo de vida rural, de certa forma romantizada. Na zona em que nos situamos (Alto Minho), a ligação ao património arquitectónico de cariz popular é algo tímido: se contarmos com o apoio dado pela Câmara de Melgaço à concretização da Branda da Aveleira enquanto conjunto turístico (depois da recuperação levada a cabo através


do Projecto LEADER II 2) e o esforço levado cabo pela autarquia dos Arcos de Valdevez na limpeza da Branda da Gêmea, Sistelo (para posterior estudo de projecto de intervenção 3), as brandas no Alto Minho têm tido um papel pouco ou nada relevante na promoção turística deste território. Refira-se, no entanto, que a Comunidade Intermunicipal do Minho-Lima (CIM Alto Minho), num estudo encomendado a consultores externos, intitulado “Desafio Alto Minho 2020: Plano de Desenvolvimento - Relatório Final” (2013), assume pela primeira vez as brandas do Alto Minho

Figura 5: Dos recursos endógenos aos produtos emblemáticos do Alto Minho, Mateus & Associados (2013:31)

como produto turístico na área do “Artesanato e património cultural”, de par em par com as filigranas, os lenços de namorados ou as quintas tradicionais, as casas apalaçadas ou os espigueiros. A conclusão parece ser a de que, se é emblemático e tem o poder de representatividade da cultura local, então pode ser transformado em produto turístico. No entanto, passar do recurso ao produto é um processo complexo, contínuo e que deverá exigir um trabalho estrutural e de marketing consideráveis: A transformação do conjunto de recursos em produtos turísticos é um processo complexo e dinâmico, que envolve estratégias de marketing territorial que estruturem um produto alicerçado na marca distintiva do território (verde) e com uma imagem emblemática. Para isso, exige-se a complementaridade de iniciativas empresariais ditadas pela valorização dos elementos patrimoniais relevantes e orientadas para uma procura segmentada – momentos de turismo, lazer, desporto, gastronomia, contacto com a natureza e cultura (Mateus & Associados, 2013: 31)

Gostaria de introduzir neste momento um novo elemento para reflexão e que se prende com a influência do turismo na recuperação quer de estruturas mais populares, quer as mais elaboradas; a partir da década de 1990 de ambos os lados da fronteira tem-se assistido a um crescente interesse na recuperação de exemplos de arquitectura que constituem a identidade de uma comunidade, mas que não se restringem à arquitectura popular: os pazos (casas senhoriais em espaço rural na Galiza) e Solares e Casas Apalaçadas em Portugal. O antropólogo Rodriguez Campo (2006) refere-se aos movimentos associados à recuperação de estruturas e de tradições


por via do turismo como um fenómeno positivo para a cultura galega em geral. Refere este autor o fenómeno de “cultural reflexivity” na Galiza, despoletado pela procura turística de teor naturalista e espiritual, em especial ligados ao pedestrianismo e ao Caminho de Santiago. De acordo com este autor, ter-se-ão os próprios habitantes locais recordado do valor intrínseco do seu património natural em zonas que identifica com as Serras dos Ancares, Gerês e os Picos da Europa. Em 2005 contam-se na Galiza 504 reconstruções com fins eminentemente turísticos deste tipo de construções nobre e, no norte de Portugal tal aconteceu em solares e casas apalaçadas, primeiramente com a criação da marca Solares de Portugal em 1993 através da TURIHAB- Associação do Turismo de Habitação, criada em 1983. Esta conta hoje com Conta hoje em dia com 125 associados4, entre exemplos de Solares e Casas de Campo (marca criada em 2009). O fenómeno turístico como motor de revitalização e recuperação do tecido rural encontra em Espanha um terreno muito fértil, mercê do abandono massivo que se verificou a partir da década de 1970. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística espanhol, os Censos efectuados em 2011 mostraram na Galiza mais de 1400 pueblos abandonados, 827 com apenas um habitante para um total de mais de 3000 aldeias no território espanhol. Para Rodríguez Campos (2006), as casas rurais condensam uma visão do mundo rural, e a sua evocação - por via da recuperação realizada- assume um carácter sagrado, pois emite uma mensagem de vitalidade da vida rural, ao mesmo tempo que devolve vida às comunidades rurais5. Em Portugal, o antropólogo Luís Silva (2006, 2007), reconhecendo que a dimensão económica do TER tem sido em parte falhada (poucos empregos directos e indirectos criados, incapacidade de fixar populações em zonas rurais, fraca dinamização cultural e social obtida), a verdade é que a recuperação simbólica do conceito de “campo” contribui de modo indelével para “o suporte da identidade nacional” (Silva, 2006:295). O tema das aldeias abandonadas tem sido fértil como exemplo de recuperações melhor ou pior sucedidas, umas por mão das diversas administrações locais, regionais ou nacionais, outra por via do investimento privado, com recurso ou não a fundos comunitários5. De seguida será feita referência a alguns exemplos de intervenções que ilustram a revitalização destes locais abandonados, seguindo diversos modelos de investimento e destino final da sua utilização:

A. Aldeia rural Couso-Galán (Ourense) – Investimento privado6 . Empreendimento turístico destinado a alojamento em espaço rural (com 20 quartos) e eventos de várias tipologias. Resulta de investimento privado que recuperou uma aldeia abandonada há mais de 15 anos. Comprada a aldeia no ano 2000 e aberto o empreendimento em 2008, a recuperação teve em conta o espírito original da aldeia, o


empreendimento apresenta dois selos de qualidade atribuídos por entidades locais (Limia VerdeCalidade Turística) e internacionais (Native – Charming Hotels and Accessible Tourism). Está aberto de Março a Outubro e atrai visitantes que procuram contacto com naturez

B. A Painza, agroturismo no Caminho Francês de Santiago- Investimento Privado7 Recuperação de um Pazo e um conjunto de 8 casas pertencentes aos antigos caseiros desta propriedade rural do século XVIII deram origem a um importante empreendimento turístico vocacionado para grupos de turistas que façam o Caminho de Santiago, mas que também possam usar o local como base para explorarem muitos outros atractivos na região (o mais antigo eucalipto da Europa, os passeios de buxo mais longos da Galiza, etc). O espaço dispõe de um conjunto de facilidades que atrai visitantes de vários tipos, uma vez que dispõe de museu etnográfico, ginásio, campo de futebol, zona para crianças e salão de eventos. C. A Míllara (Pantón, Lugo, zona delimitada da Ribeira Sacra) - Recuperação de aldeia e cultivo de vinho e olival – Investimento privado8 Um exemplo de recuperação de uma aldeia com cerca de uma vintena de casas por parte de um empresário da Corunha que começou em 1999 e durou cerca de 10 anos a concluir. Simultaneamente, adquiriu cerca de 20 hectares de terra, nas quais se dedica ao cultivo de vinho e de azeitona.

A

aldeia

havia

sido

abandonada há cerca de 50 anos, e foi recuperada na sua essência arquitectónica, tendo as casas restauradas sido vendidas para segunda habitação. Apesar de se realizar em espaço rural e aldeia ter uma adega onde se produz um afamado vinho da Ribeira Sacra, o conceito não se aplica aqui, pois não há oferta de vivências de qualquer tipo aos donos das casas.


D. Chozos de la Sierra del Suído (Avión, Santiago de Compostela) – Investimento público (Formação Profissional)9 No ano de 1999, a Alcaldia de Avión decidiu recuperar sete chozos através de um programa de formação profissional para desempregados, conseguindo assim dinamizar estes abrigos de montanha com o propósito de servirem de estruturas visitáveis aos praticantes de caminhada. Hoje em dia, estas estruturas continuam a servir o seu propósito de refúgio de montanha, uma vez que também são usados como pontos de encontro e passagem de praticantes de desportos de natureza activa.

E. Aldeia de Salgueiro (Muiños, Ourense) – Compra da aldeia pela Xunta de Galícia – Fundos Europeus10 Situada em pleno Parque Natural do Baixo Lima, aquela que foi anunciada como a primeira eco-adeia da Galiza acabou por não sair do papel, apesar de ter sido adquirida pela Xunta da Galicia em 2007 e se terem investido cerca de três milhões de euros num projecto que previa a recuperação de 47 casas e da capela, construção de um albergue, um auditório e centros de interpretação, numa tentativa

de, e nas Foto 9 : Aldeia de Salgueiro (Muiños, Ourense)

palavras do Presidente do Governo da Galiza de então, Emílio Pérez Tourinho, citado pelo jornal La Voz de Galícia “conxugar nun mesmo proxecto desenvolvemento sostible e dinamización económica para vencer o desafío de que é posible facer as cousas de maneira sostible e, ó mesmo tempo, xerar riqueza e emprego”2. Hoje em dia, a aldeia continua abandonada, (ver Foto 9), apesar de existirem acessos melhorados desde a estrada principal, sendo o seu acesso autorizado apenas pelo sede do Parque Natural do Xurés, situado em Lobios. É um ponto de passagem de rotas de pedestrianismo e alvo de trabalhos de recuperação levados a cabo em campos de férias organizados pela Xunta de Galicia.


F. Pallozas de Campo del Agua, Bierzo, Léon (Serra dos Ancares)Investimento público Declarado Bem de Interesse Cultural pela Junta de Castilla y León, (categoria de Conjunto Entográfico), esta aldeia abandonada foi recuperada com dinheiros públicos e foi considerado o conjunto monumental melhor conservado da Europa. Porém, em 1989, parte das 22 pallozas arderam num incêndio e hoje restam duas apenas desse conjunto (foto 10: Palloza recuperada em Campo del Agua)

Hoje em dia, e após estas pallozas terem sido usadas como atractivo de promoção turística dos Ancares, a falta de apoios públicos dificulta a recuperação dos exemplos de pallozas que ainda subsistem, nesta aldeia que está semi-abandonada.

G. Pallozas en Balboa – Serra dos Ancares (El Bierzo, Castilla-Leó) (restaurante) – Investimento privado11 Balboa fica situada na comarca de El Bierzo, província de León, na Comunidade de Castilla-León. Uma antiga construção tradicional, uma palloza, deu lugar a um acolhedor restaurante que tem como mais-valia a sua arquitectura completamente original tendo em conta a sua utilização actual. É usado pelo Ayuntamiento local como um dos seus principais atractivos e que consegue, por isso mesmo, captar diferentes tipos de turistas.


G. Parque Natural de Somiedo – Astúrias – Investimento Público seguido de privado Talvez o mais impressionante conjunto de exemplares de arquitectura popular no noroeste do território

(Foto 11 : Recuperação de casa típica de Somiedo)

(Foto 12) Construção primitiva de Branda de Sousas

espanhol se situe no Parque Natural de Somiedo, registando-se cerca de 370 “cabañas de teito” (cabanas feitas com tecto em material vegetal, geralmente centeio) repartidas por 40 “brañas”, sendo as melhor conservadas as de Pornacal e Mumian. Nas zonas mais altas existem outro tipo de construções de pedra ainda mais mais primitivas denominadas “corros”, simples estrutura circular de com falsa cúpula, destacando-se as zonas de Sousas e la Mesa como as melhores conservadas. Este Parque abarca 29.000 hectares e faz da vida rural e dos valores naturais os seus principais atractivos para turistas amantes de natureza. Dispõe de um Eco-Museu e de 4 casas reconstruídas (foto 11) dedicados à explicação do modo de vida rural e ligados à transumância para criação de gado que é a razão de ser destas estruturas arquitectónicas. H. Aldeias do Xisto – Zona Centro, Portugal – Investimento Público e Privado12. Talvez o melhor exemplo de recuperação de arquitectura de base popular venha das Aldeias de Xisto, um conceito que explora de modo sustentável a ligação ao território do centro de Portugal. A Rede das Aldeias do Xisto integra 27 aldeias de 16 concelhos no território que se situa entre Castelo Branco e Coimbra. É um território essencialmente constituído por montanhas de xisto, circundado e atravessado por

uma

boa

rede

rodoviária. O conceito foi implementado a partir do ano 2000 pela Comissão de

Coordenação

e

Desenvolvimento Regional do

Centro

(CCDRC)

e

resulta de uma visão holística do território, i.e., os seus objectivos passam por permitir a recuperação da identidade de um território, ao mesmo tempo que se executa numa lógica de interdependência entre as regiões que a constituem.


Assim, para além da recuperação física das casas que constituem as 27 aldeias, assistiu-se à alocação de verbas públicas também na criação de eventos turísticos e infraestruturas, acompanhado de um bem-sucedido caso de marketing territorial. É hoje uma referência em matéria de turismo de interior e turismo de natureza, eminentemente rural, sem esquecer outras formas de fazer turismo, como sejam o turismo cultural, turismo de aventura e turismo gastronómico. Por certo contribuem para tornar a Região Centro a região com um dos melhores desempenho a nível nacional e capaz de atrair turistas portugueses, ainda que continuem a estar num território de baixa densidade populacional, o que faz alguma diferença na atracção de públicos diversos, nomeadamente pela existência ou não de oferta de qualidade nas actividades afins como restauração, turismo activo, exposições, etc. I. Branda da Aveleira – Gave, Melgaço – Investimento Público e Privado13 A realização de um colóquio em 1996 na vizinha Branda da Aveleira veio a configurar-se como o início de um processo que iria levar à recuperação de 12 casas e a sua classificação como TER (Turismo em Espaço Rural) através de

programas

de

financiamento

europeu

(Leader II) e investimento privado. A Branda da Aveleira

apresenta-se

como

atractivo

de

diferentes nichos do mercado turístico de natureza, estando inserida nas Aldeias de Portugal, iniciativa da Associação do Turismo de Aldeia (ATA) e razão pela qual a Branda da Aveleira é inserida em diversos percursos turísticos (percursos pedonais, excursões turísticas). Em 2015 os serviços de apoio ao visitante/ turista foram alargados para incluir um serviço de restauração. Da Branda original pouco ou nada resta e a recuperação feita não conseguiu ser um elemento diferenciador, tanto mais que apagou a memória das cardenhas e dos brandeiros. Assim, como vimos, os modelos de intervenção para recuperação das estruturas arquitectónicas de cariz popular (ou mesmo de teor nobre como no caso dos pazos na Galiza e das casas apalaçadas do norte de Portugal) conhece resultados bem distintos, oscilando entre investimentos públicos sobredimensionados e investimentos privados de sucesso mas sem serem capazes de preservar a essência dos lugares originais. Como se verá no capítulo seguinte, o estreito caminho que se desenha para a preservação da Branda de Santo António conhece com a realização deste encontro uma janela de oportunidade que talvez não se repita.


Capítulo III. A Branda de Santo António e o seu actual contexto Por proximidade física, histórica e cultural, a Branda da Aveleira pode ser considerada irmã gémea da Branda de Santo António Val de Poldros. Para além do passado comum, em 1996 teve lugar um encontro de especialistas a propósito da celebração do Dia do Brandeiro e que culminou na Declaração Patrimonial de Santo António Val de Poldros e Aveleira. Lima (2001) dá-nos conta deste compromisso das instituições envolvidas nas jornadas (Instituto Católico de Viana do Castelo, Centro de Estudos Regionais, Câmara de Melgaço e Monção, Juntas de Freguesia da Gave, Riba de Mouro e Tangil e Pároco de Tangil) nos seguintes termos: As instituições referidas perspectivam para a continuidade da vida cultural destas Brandas, o respeito pela fauna, pela avifauna, pela flora, pelas vivências, pelas emoções e pelas obras realizadas pelos antepassados, onde a hospitalidade, a reciprocidade e a adaptação, eram uma constante, como podemos verificar pelos testemunhos da paisagem cultural. (Lima, 2001:88)

Hoje, e volvidos 20 anos desse momento seminal que parecia unir os destinos de ambas as brandas, aludido no capítulo anterior, a Branda de Santo António não desfruta de nenhum regime especial de protecção nem tampouco de plano de urbanismo dedicado. Em consequência, no decurso dos últimos anos assistiu-se à reconstrução de cardenhas feita de modo ad hoc, resultando numa profusão de materiais, tipologias e volumetrias que pouco ou nada têm que ver com as toscas construções de dois andares e em falsa cúpula. É certo que a recuperação das cardenhas para fins turísticos se tornaria desadequado às necessidades de conforto que o turismo hoje em dia pede. No entanto, e como se verá nos capítulos seguintes deste trabalho, será possível conciliar a necessidade imperiosa e urgente das construções e do conjunto geoantropológico da branda com um eventual usufruto turístico de modo sustentável e respeitador das condições naturais de toda a zona envolvente. No contexto local do concelho de Monção, as tentativas de abordar o património da Branda de Santo António Val de Poldros e conferir-lhe um estatuto de protecção não têm passado de processos de boas intenções. Cronologicamente podem ser apontadas três datas importantes para confirmar o alcance desta afirmação: - em primeiro lugar, as jornadas ocorridas em 1996 na Branda Da Aveleira (Gave-Melgaço), contígua à Branda de Santo António e das quais resultaria anos mais tarde uma publicação dirigida coordenada por José Rodrigues Lima (2001). Desses encontros resultou um compromisso dos representantes políticos de ambos os concelhos em envidar esforços para se conseguir um estatuto de paisagem protegida, bem como a criação de um ecomuseu e da criação de condições para a fruição turística do espaço. Do compromisso firmado, apenas do lado de Melgaço se deram passos importantes na recuperação com fins turísticos da Branda da Aveleira, ainda que se tenha perdido a essência da Branda;


- mais tarde em 2003, é encomendado um estudo em que se aborda o espaço de Santo António de forma sistemática e integrada numa lógica em que o Rio Mouro seria intervencionado em sete áreas diferentes como a seguir precisaremos. Deste plano, elaborado pela empresa HGN (2003) não se conhecem resultados práticos da aplicação deste documento14. - em 2009 entra em vigor o actual Plano Diretor Municipal (PDM), que preconiza a existência de Unidades Operativas de Planeamento e Gestão (UOPG), reservando a Santo António Val de Poldros uma atenção especial, uma vez que preconizam a figura de Salvaguarda, o que obriga à realização de um Plano de Pormenor, tal como descrito nos artigos 116º a 122º do PDM. No referido documento normativo, é possível ver que a Branda de Santo António está incluída na Reserva Ecológica Nacional numa zona classificada como apresentando “Risco de erosão”15. Centremos a nossa atenção no Plano de Pormenor do Rio Mouro (2003), o estudo integrado já referido neste trabalho. Parecia conter a virtude de pensar um sistema como um todo – o Rio Mouro- e nas implicações que tal posicionamento poderia ter na requalificação ambiental e turística no concelho de Monção. O plano dividia o Rio Mouro em três troços (Plano Montante, Plano Médio e Plano Intermédio/Jusante), estando a freguesia de Riba de Mouro incluída no primeiro das três secções, juntamente com as freguesias de Tangil e Merufe. Os consultores faziam sete tipos diferentes de propostas de intervenção, integrando de uma forma sustentável o aproveitamento para uso turístico e de fruição pelas populações locais: Apesar de ser um plano ambicioso por considerar a bacia hidrográfica do rio o elemento a ter em conta, tratava-se de uma abordagem sistémica e integrada, e por isso, positiva.

Quadro síntese das propostas de intervenção no Rio Mouro, HPN (2003: 2)

Neste último tipo de proposta estava precisamente englobado o trabalho de recuperação das Brandas de Santo António nos seguintes moldes: “levantamento dos edifícios devolutos e/ ou degradados, identificação dos potenciais interessados, levantamento das infraestruturas e equipamentos existentes e preparação de candidatura para recuperação de edifícios para Turismo de Aldeia e outras estruturas funcionais complementares, incluindo planos de salvaguarda” (HPN 2003: 6).


Azevedo (2014a) em análise aos factores de diferenciação do concelho de Monção, referia-se ao plano para a Branda de Santo António (em articulação com o Plano de Ordenamento do Rio Mouro) como ambicioso mas não faraónico, apresentando a vantagem de dinamizar todo o conjunto em que a Branda se inseria de modo integrado. O plano nunca veio a ser concretizado nem foi possível averiguar os montantes exactos das intervenções preconizadas nem tampouco o horizonte temporal da aplicação destas medidas. Não sendo um estudo muito pormenorizado, apresentava a vantagem de colocar em evidência a necessidade de olhar para a Branda de Santo António de forma sistemática, contextualizando-a num todo significativo, o Rio Mouro. Não sendo um plano erróneo, não atribuía significado especial a todo o seu contexto geoantropológico que se descreveu nas secções anteriores deste trabalho. De igual forma ficava de parte um diálogo com os proprietários actuais dos terrenos e das cardenhas tendo em vista a dinamização turística do local, ainda que esta fosse feita seguindo regras rigorosas de utilização. Esta interligação com a comunidade local parece-nos fundamental no equacionar de uma proposta de dinamização turística deste local, uma vez que se proporá um modelo em que se valorizará o património material e imaterial da zona envolvente da Branda de Santo António. Havia assim o compromisso de, para além da preservação da memória, a materialização de algumas estruturas de suporte a esta preservação como a criação de um Eco-Museu, o aproveitamento das brandas “para turismo serrano e cultural, mas moderado” (Lima, 2001:88). Mas o compromisso que mais ressalta nesta declaração é a de estas duas brandas deveriam ser classificadas como paisagem protegida, com as consequentes medidas de preservação dos recursos vegetais, também prevista nesta declaração de intenções. A declaração de Paisagem Protegida é uma responsabilidade do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e esta entende-se como “uma área que contenha paisagens resultantes da interação harmoniosa do ser humano e da natureza, e que evidenciem grande valor estético, ecológico ou cultural. A classificação de uma Paisagem Protegida visa a proteção dos valores naturais e culturais existentes, realçando a identidade local, e a adoção de medidas compatíveis com os objetivos da sua classificação”16 O processo de classificação nunca teve início em nenhum dos municípios abrangidos pelas brandas, tendo o procedimento para tal mecanismo de protecção ser compatível com o plano de ordenamento de território previsto para as áreas em questão. As Unidades Operativas de Planeamento e Gestão (UOPG) previstas no Plano Director Municipal de Monção de 2009 em vigor reservam a Santo António Val de Poldros uma atenção especial, uma vez que preconizam a figura de Salvaguarda, o que obriga à realização de um Plano de Pormenor, tal como descrito nos artigos 116º a 122º do referido documento orientador. No entanto, e tendo em conta algumas alterações significativas que ocorreram nos últimos anos, nomeadamente com a construção dos Parques Eólicos de Santo António e Alto do Corisco nas imediações, uma parte significativa da paisagem encontra-se hoje em dia comprometida, sendo o valor da branda essencialmente comunitário e cultural, ainda que se mantenham elementos importantes na biodiversidade da área, tal como atestado pelo próprio estudo de impacto


ambiental da empresa Empreendimentos Eólicos do vale do Minho, reconhecendo a existência de mais de 100 espécies de aves (entre as quais 60 residentes nidificantes e 29 Estivais nidificantes), cerca de 50 espécies de mamíferos, 11 espécies

de anfíbios e 15 espécies de répteis. Para

além desta diversidade faunística (que incluía espécies raras e outras em perigo de extinção), o estudo, da responsabilidade dos consultores PROCESL17, datado de 2004, referia também a proximidade do Parque Natural da Peneda-Gerês e a riqueza da floresta autóctone como maisvalias ambientais da área envolvente.

Figura 5: Mapa com a implantação dos parques eólicos e da Branda de Sto. António

Tendo em conta a crescente construção verificada quer na zona envolvente da Branda de Santo António quer na Branda da Aveleira, com o consequente aumento de acesso humano, importa equacionar a necessidade de se aferir que impactos teve este aumento no equilíbrio nas relações biológicas volvidos 12 anos do estudo a que se refere este trabalho.

Capítulo IV. O Potencial turístico da Branda de Santo António – Análise SWOT Chegados a este ponto, após a contextualização geoetnográfica da Branda de Santo António, surge uma questão que se impõe tendo em conta um dos objectivos deste colóquio: “a discussão de medidas de salvaguarda, estratégias de intervenção e soluções de natureza social, económica e arquitectónica que permitam a reintegração deste património na vida das comunidades.” (texto da organização do colóquio). Uma questão impõe-se desde logo: a salvaguarda da Branda será conseguida através da forte limitação de novas edificações dentro e fora do perímetro da mesma, preservando-se

o que

ainda

existe

ou,

por

outro

lado,

continuará a

assistir-se

a

construções/reconstruções desregradas com os evidentes prejuízos patrimoniais e ambientais que se adivinham? Se a questão é colocada nestes termos, a resposta parece evidente: preservação. Afigura-se, todavia, que se encare a questão sob vários pontos de vista,


nomeadamente a aferição do real número de cardenhas ainda existentes e seu estado de conservação, bem como o que possa vir a passar na sequência deste colóquio, uma vez que se criaram expectativas na comunidade relativamente ao resultado do mesmo, esperando-se que haja resoluções práticas para além dos resultados académicos que se possam verificar. O interesse do texto do autor, é assim, o de suscitar o debate sobre as reais potencialidades de exploração turística, sempre que se tenha em conta dois vectores: a preservação do património e o equilíbrio sustentável da área em que a branda se insere, em comunhão com as comunidades locais. Como vimos pelos exemplos referidos neste trabalho relativamente à dinamização turística de estruturas abandonadas na vizinha Galiza e noutras províncias do noroeste espanhol, sempre que a intervenção se faz com firmes propósitos de preservação e tem em conta critérios de sustentabilidade ambiental, então parecem estar reunidas as condições para que haja a salvaguarda da memória. A proposta que a seguir se fará de intervenção na Branda de Santo António é a que dá título a este trabalho: “Have a Break, Have a rural break”. Será de seguida incluída uma análise SWOT (Strengths, Weakenesses, Opportunities, Threats) e que parte de um conceito alargado de sustentabilidade que inclui os seguintes domínios: social (redução das diferenças sociais), cultural (integração do turista nas vivências locais e aceitação do fenómeno turístico pelos habitantes locais), ecológico (utilização dos recursos naturais sem impactos negativos), económico (que permita a viabilidade económica), espacial (que o uso do território não exceda a capacidade de carga do mesmo) e político (conciliação da sustentabilidade do projecto com as diversas representações administrativas). A Lei de Bases das Políticas Públicas de Turismo (LBPPT) estabelece ela própria os princípios gerais das políticas públicas de turismo (artigos 3.º a 6.º), a saber: Sustentabilidade – Traduz-se na adoção de políticas que fomentem: • A fruição e a utilização dos recursos ambientais com respeito pelos processos ecológicos, contribuindo para a conservação da natureza e da biodiversidade; • O respeito pela autenticidade sociocultural das comunidades locais, visando a conservação e a promoção das suas tradições e valores; • A viabilidade económica das empresas como base da criação de emprego, de melhores equipamentos e de oportunidades de empreendedorismo para as comunidades locais

As brandas conhecem distribuição irregular nos concelhos do Alto Minho, assim como é variável o tipo de construção, estado de conservação e atenção dedicada pelos vários municípios enquanto atributo do território com potencial turístico. Entre brandas de gado, de cultivo e mistas contam-se mais de 50, em estado de conservação e acesso muito diverso. Nos Arcos de Valdevez o aproveitamento turístico das Brandas é feito de modo directo (através da promoção de Trilhos que passam pelas brandas, promoção essa feita por empresas privadas de animação turística e também pelo Município, uma vez que apresenta o programa de caminhadas intitulado “12 Trilhos 12 Experiências”, convidando os participantes a “acompanharem o gado até às brandas”18. Existe igualmente o Parque de Campismo da Branda da Travanca, gerido pela Associação Ardal


(Associação Regional de Desenvolvimento do Alto Lima), pelo que se integra na estratégia de gestão da Porta do Mezio (Parque Nacional da Peneda-Gerês). No caso de Melgaço, a situação conhece cambiantes diferentes, e como aludido anteriormente, o apoio de fundos públicos aplicados na melhoria dos acessos para e dentro da Branda da Aveleira, contribuiu para colocar esta estrutura turística no mapa dos produtos de turismo de natureza. Entendendo-se o turismo como uma responsabilidade partilhada entre os poderes públicos e as entidades privadas (empresas e particulares), o que se propõe de seguida é um plano de acção integrada para a promoção turística da Branda de Santo António Val de Poldros. FORÇAS  Posição geográfica – Alta Montanha (+ 1000 mt), proximidade da Branda da Aveleira;  Proximidade do Parque Nacional Peneda-Gerês (ca. 20 km);  Cenários meteorológicos diversificados (neve);  Boas acessibilidades (desde Monção e Melgaço);  Potencial de story-telling, essencial para a dinamização turística de um local;  Existência de um número significativo de cardenhas em estado recuperável;  Existência de unidade de restauração na própria branda;  Presença de centro religioso (Santuário de Santo António) evocativo de memórias do local;  Envolvente paisagística fantástica;  Existência de alguma actividade económica evocativa da memória passada (criação de gado bovino e cavalar, transumância de gado caprino);  Existência de infraestrutura dedicada eventos hípicos (corridas de cavalos no circuito de corridas);  Existência de uma riquíssima biodiversidade (mais de 100 espécies de aves, cerca de 50 espécies de mamíferos, muitos destes raros no Norte/ Noroeste de Portugal  Existência de um património imaterial riquíssimo, que vai desde a gastronomia e conhecimento das ervas aromáticas e medicinais, passando pelas crenças

FRAQUEZAS

 Forte descaracterização paisagística provocada por construções/ recuperações feias de modo ad hoc;  Inexistência de estratégia integrada de gestão do território de forma sustentável e em respeito pelos valores ambientais;  Dificuldades de articulação entre os vários agentes da administração local e regional;  Inexistência de um plano integrado de promoção turística do território;  Inexistência de estudos de impacte ambiental por via da criação de estruturas de acesso à zona (estradas municipais e caminhos dentro das brandas)  Inexistência de empresas de actividades turísticas no concelho;  Presença de torres eólicas que descaracterizam o local e a paisagem

Oportunidades

Ameaças

 Sustentabilidade Cultural- Possibilidade de reparação exemplar de um património único no NO de Portugal;  Integração da Branda no contexto de outras estruturas evocativas de memória cultural popular (Mamoas, fojo do lobo, pesqueiras, espigueiros)  Sustentabilidade Ecológica - Invocação de carácter de excepcionalidade do local para invocação de estatuto especial de protecção (Sítio de Interesse Comunitário / Paisagem Protegida);  Dinamização de iniciativas que permitam o consumo de produtos produzidos localmente como a Slow Food  Sustentabilidade Política -Candidatura a fundos comunitários no âmbito do Portugal 2020 para favorecer a intervenção futura;  Aposta da CIM (Comunidade Intermunicipal) de Minho e Lima no Turismo de Natureza e Turismo Histórico Cultural;  Promoção conjunta da vivência dos brandeiros, gerando sinergias com a Branda da Aveleira

 Perda irreparável da memória geoantropológica  Excesso de presença humana ameaçadora da vida animal na zona envolvente (jipes, moto 4, outra presença humana), motivada igualmente pela melhoria de acessos verificada aquando da construção do Parque Eólico de Santo António  Adopção de modelos de salvaguarda arquitectónica não estão previstos.  Perda irreparável da vida faunística e florística causada por presença humana prejudicial;  PDM actual não prevê nenhum regime especial de edificações na Branda e imediações, o que comporta riscos de conflitualidade junto dos actuais proprietários;  Um eventual aumento da presença humana por via de uma dinamização turística feita sem critério.  Localização da Branda junto a uma estrada pública


(Município de Melgaço)  Sustentabilidade Ecológica/ Económica Promoção integrada de atractivos turísticos relacionados com actividades de natureza (observação de aves, trilhos, visitas guiadas)  Sustentabilidade Social e Cultural -Criação de infraestruturas que permitam a musealização do local (Eco-Museu ao ar livre) e integração com outras estruturas evocativas do contexto das brandas (Centro de Interpretação em Riba de Mouro + Museu de Arte Popular na Vila de Monção)  Sustentabilidade cultural, social e económica Dinamização de actividades turísticas que permitam a integração do turista nas vivências da população (guias turísticos locais) (Análise às forças, fraquezas, oportunidades e ameaças da Branda de Santo António em termos de valorização turística – formulação do autor)

Capítulo V. Implicações a curto e a médio prazo Decorrente da análise incluída no capítulo anterior, sugere-se de seguida a implementação de um conjunto de medidas no curto prazo, ao mesmo tempo que se propõe um conjunto de acções que visam a consolidação de Santo António Val de Poldros enquanto marca distintiva de Monção. A longo prazo, defendemos a adopção de uma figura de gestão de território, a do Parque Patrimonial, como a mais adequada para a preservação da memória da paisagem cultural e utilização plena das suas potencialidades, tal como detalharemos mais adiante. A diferenciação que se pretende na oferta turística resultante da adopção de uma medida de salvaguarda como é a do Parque Patrimonial visa essencialmente três objectivos: 1. Conferir uma vertente de sustentabilidade tal como descrito acima na análise SWOT, nas seis vertentes identificadas; 2. Interligar o potencial reconhecido nas diversas facetas do património material e imaterial que a Branda de Santo António suscita e transformá-lo em produto turístico; 3. Criar sinergias relativamente aos investimentos já existentes neste território, nomeadamente na própria branda bem como na Branda da Aveleira, que dispõe já de oferta consolidada de Turismo em Espaço Rural. Pelo exposto, sugere-se que, após a realização do colóquio onde este trabalho foi apresentado, que sejam tomadas um conjunto de iniciativas, lideradas pela autarquia de Monção, por forma a despoletar os adequados

mecanismos de administração do território bem

como de

desenvolvimento estratégico do conselho. Algumas iniciativas deverão ter lugar a curto prazo (até seis meses), outras medidas deverão ser preconizadas para aplicação no médio e longo prazo (até 18 meses e depois com a construção de um destino turístico consolidado (4-5 anos). A curto prazo sugere-se a adopção das seguintes acções (até 6 meses):


- criação de uma comissão de trabalho constituída por especialistas em ambiente, património, ordenamento do território, história, turismo, ecologia com vista ao debate de uma estratégia comum de salvaguarda da Branda, que no nosso entender, poderá passar pela figura de preservação territorial de Parque Patrimonial; - contacto dos proprietários das cardenhas com vista à concertação de esforços para adopção de medidas de preservação imediata das cardenhas (proceder a trabalhos de limpeza das propriedades, verificação das condições de preservação, inventariação complete do património); - adopção de um calendário para proceder à limpeza dos caminhos na Branda (esfera pública); - suspensão de emissão de novas licenças de construção; Acções a médio prazo (até 18 meses): O potencial da paisagem humanizada e natural da Branda de Santo António reside no conceito de paisagem cultural. Coincidimos com a visão preconizada por Carl Sauer (1925), um dos geógrafos mais influentes do século XX, através da qual a paisagem é precisamente uma construção humana, pelo que, para compreensão da cultura de um determinado local deverá analisar-se a acção que o homem teve na paisagem. Santo António e a sua branda, com a reconhecida acção transformadora por via da criação de gado, é um exemplo perfeito de como a paisagem foi moldada por um modo de vida, outrora vibrante e fundamental na vivência das populações de um conjunto de populações que se constituíram em diversos lugares de Riba de Mouro, Tangil e Merufe. Ainda que de per si uma intervenção na Branda se justificaria pela necessidade de preservação da memória colectiva, no nosso entender a criação de um Parque Patrimonial da Branda de Val de Poldros poderá ser a pedra de toque para a criação de uma estratégia de promoção do território de montanha dos concelhos de Monção e Melgaço. Vários autores referem-se às vantagens da adopção desta figura de gestão do território: Cuesta Aguilar et. al. (2013) aponta o seu carácter de interface entre o visitante e os habitantes locais, ao mesmo tempo que realça a possibilidade de os territórios poderem receber influências que o valorizem paulatinamente; Martins (2011:) preconiza que os parques patrimoniais almejam “interpretar, comunicar e em última instância, participar, através de diversos pólos e convocando os locais, (d)as transformações da paisagem cultural.” Mais adiante o mesmo autor sintetiza de forma clara as vantagens da criação de um parque patrimonial “Veículo institucional, unificador de vontades e políticas e instrumento de projecto e gestão de paisagens culturais, o parque patrimonial revela todo o seu potencial agregador de recursos e promotor de um turismo assente nos pilares da sustentabilidade.” (2011: 129)

A figura de Parque Patrimonial tem sido encarada como um instrumento que simultaneamente reflecte o respeito pela intervenção humana na paisagem e promove o turismo porque se baseia em valores de sustentabilidade, tal como aludimos na análise SWOT referida no início do capítulo anterior. Ainda que em Portugal as experiências com os Parques Patrimoniais assumem graus diferentes de maturidade e sucesso como referiremos de seguida, a aposta nesta figura


apresenta-se como uma oportunidade de preservação mas também de revitalização sócioeconómica desta área. O interesse neste instrumento de gestão dos bens territoriais surge nos primeiros anos da década de 1970, quer na Europa, quer nos Estados Unidos, com a recuperação da cidade da indústria do algodão de New Lanark (Reino Unido) e nos Estados Unidos América, com a criação do Parque Nacional do Carvão, ambos em 1972. Martins e Costa (2009) defendem que o conceito de Parque Patrimonial possa estender-se por vários pólos, espalhados pelos próprio cenário histórico. Estamos em crer, que em respeito pelo memória da arquitectura popular do Alto Minho, a evocação das Brandas possa ser feito num conjunto de estruturas museológicas que podem eles próprios assumir uma vertente turística de base experiencialista, nomeadamente com a criação de um museu regional de arquitectura popular em Monção, na sede do concelho. Os parques patrimoniais configuram “iniciativas heterogéneas que colocam o património cultural no centro das políticas de ordenamento do território e de desenvolvimento económico, procurando a reinvenção de territórios e a participação das comunidades locais no processo de planeamento” (Alonso, 2014:217). No nosso entender, os parques patrimoniais têm um significado relevante para vida das comunidades locais: - permitem revitalizar paisagens culturais, - colocam os recursos territoriais como eixo do projecto; - criam espaços museológicos sem paredes, ainda que se vá sugerir a criação de estruturas de apoio a actividade acomplementares - promovem actividades de educativas e culturais baseadas na experiência dos habitantes, quer na transmissão dos saberes, quer na valorização económica desses mesmos saberes. - podem proporcionar uma experiência turística integrada para segmentos bem definidos do mercado (touring cultural e paisagístico, turismo de natureza activo (pedestrianismo, BTT), turismo de base experiencial e criativo) Em Portugal existem assim três experiências com graus diferentes de sucesso ou desenvolvimento: o Parque Mineiro da Cova dos Mouros (Vaqueiros, em Alcoutim, no Algarve)19, que surgiu de uma velha mina de cobre e ouro. De acordo com o site, o parque consiste num “percurso de 1000 m a céu aberto onde se encontram reconstituições pré-históricas, habitações e utensílios primitivos, incluíndo representações de figuras humanas. O visitante fica com a sensação de estar numa viagem a épocas remotas, desde o Calcolítico (2 500 a.c.). Poderá ainda adquirir minerais, artesanato regional e tomar um refresco.” O parque funciona de Março a Outubro, encontrando-se fechado temporariamente para renovação de algumas estruturas.


(site do Parque Patrimonial Cova dos Mouros)

Outros dois parques patrimoniais são conhecidos em Portugal: o Parque Patrimonial do Mondego20 (PPM) e o Linx Park (Lince Parque)21, este último da responsabilidade das Câmaras Municipais do Sabugal e Penamacor. Com graus diferentes de evolução, o PPM aparenta ter entrado numa estagnação, pois não se conhecem notícias sobre o mesmo desde 2008. Apresentava-se como um projecto de valorização do Rio Mondego, que talvez pela sua dimensão, volume de investimentos necessários e a coincidência com a crise mundial que se iniciou em 2008 tenha perdido o fôlego de que necessitava. Apesar de ter sido considerado um projecto inovador

(Site do Parque Patrimonial do Mondego)

e ter sido distinguido em concursos nacionais e internacionais de ideias de turismo, o processo não prosseguiu como desejado. Vemos neste projecto semelhanças no estudo sugerido para dinamização do Rio Mouro, tal como apresentado anteriormente neste trabalho. Por último gostaríamos de referir que existe um outro projecto que se está a candidatar a verbas do Portugal 2020 e engloba dois municípios portugueses, Sabugal e de Penamacor que têm a intenção de criar o primeiro parque europeu de turismo sustentável transfronteiriço do património ‒ o Linx Park (Lince Parque). O projecto visa proteger e valorizar o património natural, paisagístico e cultural, pretendendo transformar o território em produto turístico desportivo e experiencial. A criação de um projecto de dinamização turística consolidado baseia-se em três pilares fundamentais: A. Criação de infraestruturas museológicas integradas: - no local, com um Eco-Museu ao ar livre; através do uso de leitores de paisagem adequados, seria possível permitir a visita a uma parte da branda sem invadir a privacidade dos locais - na freguesia de Riba de Mouro, com a recuperação de um núcleo de estruturas visitáveis ligadas à arquitectura popular (moinhos de água) e ao património popular (ervas aromáticas, mezinhas, gastronomia, enologia). - na sede do Concelho de Monção, com a criação do Museu Regional de Arquitectura Popular, eventualmente na dependência do futuro Museu Municipal de Monção; tal permitiria a interligação de vários tipos de expressões de arquitectura popular como são os moinhos, as pesqueiras e os fojos do lobo, e que existem em número considerável no Parque Nacional


Peneda-Gerês, 18 segundo Alvarez et.al. (2000:75), aos espigueiros, abundantes na região, entre outros exemplos de arquitectura popular. B. Criação de uma estrutura de apoio ao Edutenimento (vertente turística educativa e de entretenimento) - propõe-se a recuperação da antiga casa da floresta de Santo António (foto

)

(Foto 13: Panorâmica da Casa da Floresta de Sto. António- proposta para centro de edutenimento)

de como espaço que possa servir de base de apoio a actividades turísticas dinamizadas com associações e empresas locais que, mediante protocolo, se comprometam a dinamizar caminhadas, observação de aves, oficinas de diversos tipos, etc). Este espaço serviria um propósito eminentemente pedagógico com as escolas do concelho de Monção e dos concelhos limítrofes e outros, podendo oferecer uma diversidade de actividades de educação ambiental e patrimonial tais como visitas guiadas por guias locais e especializados, prestando-se igualmente ao voluntariado jovem em espaço rural em diversas áreas de actuação, desde a biologia à etnografia, passando pela geografia e pela geologia. C. Dinamização de actividades turísticas de teor experiencialista Tendo em conta a riqueza e diversidade cultural ligadas aos ofícios tradicionais (tecelagem, moagem, padaria, criação de gado bovino, cavalar e ovino, produção de vinho e mel, seria possível

inserir

o

Parque

Patrimonial da Branda de Val de Poldros na rede internacional de Turismo Criativo (Creative Tourism), à semelhança da experiência que existe já no Município de Loulé (Loulé Criativo22) e na Aldeia de Cerdeira, inserido no contexto das Aldeias do Xisto, na Serra da Lousã (Cerdeira

Village).

(Site do Projecto Loulé Criativo) As vantagens de proporcionar experiências aos turistas, que se aproximam da essência do lugar que visitam é a base do Turismo Criativo, tal como preconizado por Greg Richards e Raymond


Crispin (2000) no trabalho seminal desta nova faceta do turismo, algo que o autor deste texto também defende (Azevedo, 2014b).

A. Vertente Museológica 1. Eco-Museu na Branda 2. Recuperação de moinhos (Riba de Mouro) 3. Criação de Museu Regional de Arquitectura Popular (Monção)

Parque Patrimonial Branda de Val de Poldros

B. Vertente Edutenimento Criação de estrutura para dinamização de actividades pedagógicas e turísticas (observação de aves, oficinas, caminhadas, etc)

C. Vertente Turística 1. Inserção do Parque na rede de Turismo Criativo (oferta de experiências turísticas ligadas à criação de gado (bovino e cavalar), cultivo agrícola, tecelagem, apicultura, enologia) 2. Criação de alojamentos TER

Diagrama 1: Perspectiva Integrada do Parque Patrimonial da Branda de Val de Poldros

Com a existência de uma infraestrutura de apoio à vertente Edutenimento referida na secção B acima, e em contacto com as explorações locais existentes (vacaria), seria possível oferecer um produto estruturado e integrado na experiência de alojamento quer das casas já existentes na Branda da Aveleira, quer em casa que venham a optar por eventualmente se tornarem alojamento local, eventualmente inseridos na tipologia de empreendimentos de Turismo no Espaço Rural (TER) ou outra que se adeque ao perfil dos mesmos. Será a aplicação de um lema que, a nosso ver, poderá significar a criação de uma experiência completa : EAT-DRINK- PLAY-STAY, segundo a qual a oferta de experiências ligadas à enogastronomia em que existe uma forte componente de entretenimento na primeira pessoa traduz-se numa vontade de ficar no destino.


Vertente Museológica

Eco-Museu na Branda

Recuperação estuturas

Museu Regional de

Arq. Popular (moinhos)

Arq. Popular

(Riba de Mouro)

(parte do Museu Municipal)

Figura 6 : Propostas para a vertente Museológica do Parque Patrimonial da Branda de Sto António.

Ilustração do lema EAT-DRINK- PLAY- STAY


Notas Finais Como pudemos apreciar, a criação de um destino turístico a partir de um potencial do território, as brandas, implica um trabalho concertado de vários sectores interessados na preservação e dinamização das mesmas, tendo sempre em consideração a sustentabilidade nas suas múltiplas facetas. Pudemos verificar de que modo o património resultante da arquitectura popular foi criado, inicialmente ligado à própria ideia de crescimento da nação (com a fixação de populações nas franjas das montanhas do noroeste peninsular através da acção dos mosteiros a partir do século XI), até ao fenómeno de êxodo rural que provocou o seu abandono a partir da década de 1960. Concomitantemente, este abandono da ruralidade provocou na sociedade portuguesa e espanhola determinados fenómenos de “cultural reflexivity” por via do turismo, i.e., a necessidade de diversificar produtos e alojamentos turísticos para um número crescente de turistas que chegavam à Península Ibérica provocou um movimento de revalorização da ruralidade e dos valores ligados ao campo,o que acabou por alimentar o próprio fenómeno turístico, com o advento de produtos e modalidades turísticas, indo ao encontro das necessidades de turistas cada vez mais interessados em fugir à globalização e aos produtos massificados. Por outro lado, pudemos aferir o modo como tem sido possível valorizar algumas estruturas abandonadas, desde os pueblos e pallozas de Espanha aos Solares e Aldeias do Xisto portugueses, percebendo os limites da intervenção dos poderes públicos nesta preservação e dinamização, como vimos no caso de o Salgueiro, um projecto que teve custos altos mas nunca se chegou a efectivar. Assim, a preservação das brandas das Serras do Alto Minho está perante o desafio de lutar contra o esquecimento. No nosso entender, a oportunidade oferecida pelo quadro de financiamento Portugal 2020 poderá bem ser a única: num território de baixa densidade e onde rareiam as ofertas turísticas integradas no tecido social e cultural que as enformam, a proposta feita pelo autor deste trabalho visa a sustentabilidade da Branda de Santo António de Val de Poldros, numa lógica de sinergias quer com os concelhos vizinhos- Melgaço e Arcos de Valdevezquer com os habitantes locais, verdadeiros detentores de um património secular que podem transmitir a quem os visite. O lema EAT-DRINK-PLAY-STAY sintetiza o que se pretende com a proposta de criação do Parque Patrimonial da Branda de Val de Poldros, o de aliar a vertente da diversão e com o permanecer no destino, com o qual podemos interagir e aprender, numa lógica de respeito pela paisagem cultural. Espera-se, por tanto, que a partir deste encontro de visões sobre arquitectura e etnografia, se possa desenhar um plano integrado e sustentável da Branda de Santo António de Val de Poldros.


Notas 1. Dados Organização Mundial de Turismo e http://datos.bancomundial.org/indicador/ST.INT.ARVL/countries/1W?display=default OMT e Banco Mundial 2. Veja-se a reportagem sobre a inauguração de um restaurante bem como duas explorações agropecuárias, em Abril de 2015, totalizando um investimento de cerca de um milhão de euros, com recurso a fundos europeus. (http://www.altominho.tv/?page=video&videoid=3ELSTqWY7Cw) 3. Veja-se a notícia completa dando conta do estudo levadoa cabo por uma equipa multidisciplinar, chefiada pelo arquitecto Fernando Cerqueira Barros, que tem pugnado pela defesa do património cultural associado à arquitectura popular (http://www.cmav.pt/noticia.php?id=1926 4. Dados da TURIHAB, através do site www.turihab.pt/PT/quem_somos.html acedido em Fevereiro de 2016 5. Nos anos mais recentes, tem-se assistido a um reavivar do interesse imobiliário em torno das aldeias abandonadas em Espanha, por via de cidadãos ingleses, alemães, suíços, chineses ou americanos, que querem explorar conceitos de turismo inovadores, recuperando aldeias, mosteiros ou mesmo faróis, um pouco por toda a geografia espanhola. Veja-se as reportagens da RTVE http://www.rtve.es/television/20151006/fuera-comun/1232960.shtml e http://www.rtve.es/alacarta/videos/telediario/repoblar-aldeas-abandonadas-nuevo-reto-cientificos/3155272/ 6- informação obtida em http://www.cousogalan.com/index.php/en e http://www.cousogalan.com/index.php/en/the-village/history 7- Informação disponível em http://www.apainza.com/la-casa-grande/ 8- Para obter mais informações sobre o processo de recuperação desta aldeia, consulte-se a cobertura jornalística, disponível em http://www.elboletin.com/contraportada/124257/ribeira-sacra-heroismoleyenda.html e http://www.elcorreogallego.es/galicia/ecg/millara-un-paraiso-del-relax-en-la-ribeira-sacra/idEdicion-2010-0718/idNoticia-570343/ 9. Informação disponibilizada pelo site oficial do Concello de Avión em (http://www.concelloavion.org/senderismo/htm/rutachozos.html) 10. Veja-se o modo efusivo como foi apresentada a ideia de tornar o Salgueiro como a primeira Eco-aldeia da Galiza por parte dos principais responsáveis políticos de então na Galiza. http://www.lavozdegalicia.es/hemeroteca/2007/07/04/5956866.shtml e http://www.galiciamaxica.eu/foto/ourense/muinos/salgueiro/salgueiro1.html 11. Ver o site do Ayuntamiento de Balboa ( 12. Para informações mais pormenorizadas, consultar o site oficial: www.aldeiasdoxisto.pt 13. O site agregador da oferta de alojamento pode ser encontrado em http://www.brandadaaveleira.com/ 14. O documento está disponível para consulta no site da Câmara Municipal de Monção em

http://goo.gl/MZiien 15. É possível pesquisar os documentos relativos à Reserva Ecológica Nacional em http://norteonline.ccdrn.pt/GTerritorial/index.php 16. Informação disponibilizada pelo Instituto de Conservação da Natureza ICNF (2015 – página consultada em Dezembro de 2015 http://www.icnf.pt/portal/ap/nac/pais-proteg ). 17. Para consultar o documento, veja-se o endereço http://siaia.apambiente.pt/AIADOC/AIA1348/RNT1348.pdf para obter o documento em formato PDF. 18- A notícia em http://www.cmav.pt/noticia.php?id=2555 19 – Site do projecto consultado em Março de 2016 (http://minacovamouros.sitepac.pt/) 20 – Site do projecto consultado em Março de 2016 (http://parquepatrimonialmondego.com/)


21- Veja-se a cobertura noticiosa do anúncio em http://goo.gl/XApHsq (notícia do Jornal Beira.pt, de 10/3/2014) e http://goo.gl/my80In (notícia RTP de 26/2/ 2014) 22 – Para melhor compreensão do âmbito das experiências proporcionadas pela iniciativa, veja-se o endereço http://www.loulecriativo.pt/sobre. A mesma está inserida na rede de Turismo Criativo /Creative Tourism).

Índice de Fotos 1 e 2 - Dezembro de 2015 do autor 3 e 4 - Fonte: http://www.galiciamaxica.eu/foto/ourense/avion/chozossuido/chozossuido4.html, acedidos em Dezembro 2015) 5 – Fonte: http://www.ayuntamientodebalboa.org/historia.php (acedido em Janeiro de 2016) 6- Fonte: http://www.asturnatura.com/turismo/brana-de-la-pornacal/1246.html (acedido em Dezembro 2015) 7- Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Caba%C3%B1a_pasiega_III.JPG (acedido em Janeiro 2016) 8- Fonte: http://vagabundeando.blogs.sapo.pt/2009/01/12/ (acedido em Janeiro de 2016) 9- Fonte: http://www.galiciamaxica.eu/foto/ourense/muinos/salgueiro/salgueiro1.html (acedido em Dexembro de 2015) 10 – Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Campo_del_Agua_06_by-dpc.jpg) (foto de David Perez) (acedido em Dezembro de 2015) 11- Fonte: http://www.somiedo.es/ecomuseo-de-somiedo (acedido em Janeiro de 2016) 12- Fonte: http://www.parquenaturalsomiedo.es/index.php/id/20 (acedido em Janeiro de 2016) 13 - Foto do autor

Índice de Imagens 1 e 2 Fotos do autor 3 e 4 Penarroya (1992:80-81) 5 e 6 http://www.concelloavion.org/htm/es/tur_04.htm, acedido em Dezembro 2015) 7- Fonte: https://vera49.files.wordpress.com/2009/03/plano-ancares.gif 8 – Fonte: http://www.ayuntamientodebalboa.org/historia.php (acedido em Janeiro de 2016) 8- Fonte: http://vagabundeando.blogs.sapo.pt/2009/01/12/ (acedido em Janeiro de 2016) 9- Oliveira et al.(1994)

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