Marco Zero 19

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jornal-laboratório do curso de jornalismo da Facinter

A rua como arte

– ano iv – Número 19 – curitiba, maio de 2012

Foto: Natanael Chimendes

Na contramão do preconceito, a arte do grafite se insere cada vez mais no cenário curitibano (p. 14) Foto: Leonardo Akira

Foto: Gustavo Saulle

Sentimentos da arte

As aventuras, os sentimentos e a vida de George Sada, um homem que se entregou à arte (p. 4)

Uma história pouco contada

Entre as novas construções, a capital paranaense ainda preserva a arquitetura original da histórica estação ferroviária (p. 6) Foto: Claudia Bilobran

Em busca dos túneis secretos Jesuítas, piratas e lendas povoam o imaginário popular em torno dos subterrâneos de Curitiba (p. 6 e 8)


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Número 19 – Maio de 2012

opinião Ao Leitor Neste mês de maio, o jornal Marco Zero discute os mistérios subterrâneos que rondam os túneis curitibanos, uma matéria especial sobre lendas, arqueologia e muita história. Há também: uma entrevista com o ator, professor e artista George Sada, revelando sua paixão pelo mundo da arte, um depoimento emocionante de uma sobrevivente do naufrágio do navio Bateau Mouche e um pouco da história do Museu Ferroviário. Conheça o novo cenário curitibano que está sendo preenchido com grafite, transformando as ruas da capital em incríveis exposições e uma resenha sobre o livro “A Sombra do Vento”, de Carlos Luiz Záfon. Arte, história, suspense, emoção e cidadania se mesclam nesta segunda edição do ano. Ótima leitura!

Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter) Coordenador do Curso de Jornalismo: Tomás Barreiros Professores responsáveis: Roberto Nicolato e Tomás Barreiros O jornal Marco Zero foi premiado como melhor jornal-laboratório do Paraná no 16º Prêmio Sangue Novo, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. Edição • Emanoela Merlin • Ian Perussolo • Keity Marques • Luana Mendes • Paula Vilas Boas Diagramação • Aryadne Ronqui • Clarissa Brandolff Gindri • Janile da Silva Ramos • Mahara Paola de Souza • Natanael Lucas Chimendes • Tatiane Varela Barca Projeto gráfico: Matias Peruyera Facinter Rua do Rosário, 147 CEP 80010-110 – Curitiba-PR E-mail tomas.b@grupouninter.com.br Telefones 2102-7953 e 2102-7954.

A luta contra o tempo Depois de 80 anos, as mulheres têm direito ao voto e o governo do país

Keity Marques

O que você acha da liberação de bebidas alcoólicas nos estádios? Foto: Shutterstock

“Acho irracional liberar bebidas alcoólicas nos estádios, pois acredito que vai gerar graves problemas, contando que a segurança brasileira é muito precária. Além de prejudicar quem bebe, prejudica também quem vai nos estádios com a família, crianças e mesmo quem está ali somente para prestigiar os jogos.” David de Souza, 24 anos, estudante

Keity Marques

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ão restam dúvidas que as mulheres vêm conquistando dia após dia um espaço mais significativo na sociedade brasileira. Apesar desses avanços, ainda falta muito para atingir a tão sonhada igualdade entre homens e mulheres. Discriminadas durante décadas, elas sofreram com a passagem de uma época que nem sequer lhe dava o direito ao voto. No Brasil, o voto, por exemplo, foi concedido às mulheres em 1932. No entanto, apenas podiam votar as mulheres casadas e, mesmo assim, com a autorização de seus maridos. Solteiras e viúvas só tinham acesso ao privilégio caso comprovassem renda própria. Em 1934, por ocasião da aprovação da Constituição Federal, foram eliminadas as restrições. No entanto, o voto feminino tornou-se obrigatório apenas para as que ocupassem cargos públicos. Somente na alteração do documento, em 1946, a obrigatoriedade do voto feminino foi instituída para valer, evidentemente depois de muitas lutas para que isso fosse possível, somando apenas 66 anos de obrigatoriedade do voto feminino no Brasil. Pouco tempo, mas o suficiente para levantar uma bandeira a favor da representação feminina na democracia do país. Hoje temos uma mulher no topo da hierarquia no Brasil: Dilma Rousseff. A governante tem grandes desafios pela frente: enfrentar a tradição de um país que até então só teve governantes do sexo masculino, o preconceito e o machismo e conquistar avanços pelos quais as brasileiras vêm lutando ao longo das últimas décadas. É inegável que, se a participação feminina aumentasse de forma significativa no Parlamento, muitas mudanças ocorreriam nos

processos de decisão das políticas públicas e sociais em benefício da igualdade de gêneros. Contudo, segundo o IBGE, o Brasil possui aproximadamente 4 milhões de mulheres a mais do que homens. Número expressivo que, se fosse refletido na igualdade de cadeiras dentro do Congresso Nacional, significaria acelerar o lento processo de equiparação dos gêneros, tendo em vista a dificuldade de afastar os valores tradicionais incorporados na coletividade nacional, imposta somente pelas decisões tomadas por homens. A discussão não está na substituição de homens por mulheres, de maneira alguma, pois estaríamos propondo uma inversão de discriminação. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), no Brasil, a baixa proporção de mulheres ocupando cadeiras no Congresso Nacional foi motivo de cobrança dos peritos que fazem parte do Comitê das Nações Unidas para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (Cedaw). No Brasil, hoje, as mulheres já atuam em postos-chave da administração federal, começando pela

presidente e pelo número histórico de dez ministras que fazem parte de seu governo. Apesar disso, a atual bancada feminina na Câmara Federal representa apenas 8,77% do total da Casa, com 45 deputadas. No Senado, de um total de 81 lugares, apenas 12 são ocupados pelo sexo feminino. Vale criticar o sistema de cotas da legislação eleitoral brasileira de 1997, que exigiu uma porcentagem de 30% de mulheres nas candidaturas dos partidos. É desleal a concorrência contra 70% dos homens, e ainda há muitas pessoas que perguntam o porquê de as mulheres não se candidatarem. A cota não estimula a participação das mulheres na política brasileira e traz uma possibilidade remota de acesso. Um exemplo da lentidão das conquistas femininas é o projeto de lei 371/11, que visa equiparar o salário das mulheres ao dos homens que exercem a mesma função, prevendo ainda uma multa de até cinco vezes a diferença salarial para a empresa que não cumprir a lei. O projeto, que seria sancionado no mês de março deste ano, voltou ao plenário, a pedido de um homem.

“Por ser um evento muito grande, eu não concordo, trará mais violência e ocasionará muitos estragos. Sou contra!” Juliana Francine de Paula, 23 anos, secretária

“Não concordo. A violência já é grande quando não têm liberação de bebidas, com a liberação o número de problemas irá aumentar com toda certeza. Totalmente contra.” Gívani Rover, 27 anos, recepcionista


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cidadania

Que faixa é essa? A luta pelo espaço entre ciclistas e motoristas em Curitiba

Foto: David D’Visant

David D’Visant

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o Brasil, o uso da bicicleta vem ganhando espaço, com implantações de ciclofaixas, mas ainda não é o suficiente, pois os trajetos são curtos, e motoristas e ciclistas disputam o mesmo asfalto, o que muitas vezes resulta em acidentes com mortes. Em Curitiba, a faixa vermelha pintada no asfalto ainda é desconhecida por pelo menos 35% dos curitibanos. Em pesquisa feita com o público, muitos não conheciam ou não souberam responder sobre a finalidade dela, outros acharam que seria apenas mais uma faixa de lazer igual a da ciclovia. Mas o que muitos ainda desconhecem é que uma das principais finalidades da faixa é a conscientização do motorista em relação ao ciclista, a ponto de substituir o automóvel pela bicicleta não só como lazer mas como um sistema mais econômico e menos poluente na capital paranaense. Para o cicloativista Danilo Herek, o papel da bicicleta na sociedade tem uma importância enorme, mas ela ainda é tratada com desdém principalmente pelo poder público, que insiste em manter o foco no lazer e não no transporte. Uma coisa é certa: não é o caso de esperar que seja apenas uma moda passageira, porque ela veio para ficar, por uma simples razão: a necessidade urgente de uma mobilidade mais sustentável. A bicicleta tem o papel de interferir diretamente na qualidade de vida das pessoas e da cidade. Segundo Herek, a bicicleta não polui, não faz barulho, custa muito pouco e traz excelentes benefícios para a saúde do ciclista e, o principal, torna a cidade mais humana”. De carro, as pessoas vão de um ponto a outro dentro de um casulo, isoladas do mundo, e de bicicleta o trajeto oferece várias possibilidades e facilidades. Na opinão de Herek, nada mudou após a implantação da ciclofaixa. “A ciclofaixa da Marechal Deodoro é simplesmente ridícula e não cumpre nenhum papel a não ser o de propaganda eleitoral.

Motoristas e ciclistas: uma luta diária por espaço e conscientização Foto: David D’Visant

Herek: a bicicleta não polui, não faz barulho, custa muito pouco e traz excelentes benefícios para a saúde Existe uma câmara técnica no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) que discute esses assuntos e tem a participação dos ciclistas, mas essa ciclofaixa foi feita da noite para o dia, sem critério, sem consultar ninguém, e não cumpre o papel de educar, como foi dito pela Prefeitura”. Ele afirma ainda que criar um circuito de lazer no meio de prédios no centro da cidade é uma piada de mau gosto. Na sua opinião, a ciclofaixa da Marechal Floriano está atrasada e também estava sendo feita errada. Tiveram que paralisar a obra e alargar a ciclofaixa, que tinha apenas 70 cm de largura (a mesma largura

de uma bicicleta padrão). “Quando estiver pronta nos dois sentidos e os ligeirinhos pararem de invadir a ciclofaixa, aí poderemos dizer o que mudou”, salienta. Para Herek, o trânsito também não melhorou e não vai melhorar enquanto não houver uma mudança cultural E isso, de acordo com ele, cabe ao Estado, incentivando o uso do transporte coletivo, oferecendo um serviço de qualidade, criando infraestrutura para transporte alternativo não motorizado e, o que é mais difícil, utilizando o “trafic calminig”, que é a criação de uma série de restrições aos veículos particulares. Esse processo já é realidade há anos, principalmente na

Europa, e deu muito certo. “Ando de bicicleta desde sempre e me locomovo com ela diariamente. Costumo dizer que quando vou de carro vou rosnando e quando vou de bicicleta vou assoviando. Essa foi a mudança que a bicicleta me causou, uma melhora significativa no meu humor. Curitibanos sempre gostaram de copiar os europeus, porq ue parar agora?”, conclama. Em relação ao trânsito, pode-se dizer que está acontecendo uma mudança lenta e contínua, mas se restringe aos veículos particulares, pois os motoristas profissionais de ônibus e táxis se sentem donos das ruas e vêem a bicicleta como um estorvo. “O desrespeito é criminoso a ponto de jogar o carro para cima dos ciclistas. A melhor maneira de mudar isso é conscientizar o motorista de que em cima de uma bicicleta vai uma pessoa que poderia muito bem ser seu familiar”, destaca o cicloativista. “É essa a pergunta que devemos nos fazer quando dirigimos um veículo motorizado: se fosse meu filho na bicicleta, eu passaria tão perto quanto passo dos outros ciclistas?” Para ele, é uma simples questão de respeito à vida, já que o confronto entre carros e bicicletas é covarde, desigual e ilegal. O artigo 58 do CTB deixa claro: bicicletas têm preferência sobre os veículos motorizados. Os motoristas deveriam conhecer melhor a lei antes de “tirar finas” dos ciclistas. “Isso é humanizar a cida-

de, e é isso que a bicicleta faz”. O Ippuc informa que há um projeto para aumentar os quilômetros da ciclofaixa, que passará a ter 15 km entre idas e voltas. Para esse trajeto, que irá do centro de Curitiba ao Parque Barigüi, é necessário ter mais agentes de trânsito e mão de obra da prefeitura. O intuito da ciclofaixa, segundo o Ippuc, é a conscientização em relação ao ciclista, mas para isso o Instituto conta com uma grande campanha, ainda sem previsão para ir a público. As opiniões se dividem entre os motoristas. Para a professora Cristina Correia, a implantação da ciclofaixa é uma forma de conscientizar o ser humano quanto a qualidade de vida e de bem-estar. Ela não acha a bicicleta um estorvo. Outro motorista, que não quis revelar sua identidade, ao contrário, reclama que “a bicicleta é sim um atrapalho no trânsito, dificulta as passagens de carros e deixa tudo mais lento”.

Fontes: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc): (41) 3250-1464 Urbs: ( 41) 3320-3000 www.urbs.curitiba.pr.gov.br Cicloativismo: www.cicloativismo.com


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perfil

A vida e a arte de George Sada História, sentimentos e opiniões de um homem que vive para a arte Foto: Gustavo Saulle

Clarissa Brandolff

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ilho de pai seresteiro e mãe que sonhava em ser atriz de rádio, a arte esteve presente na vida de George Sada desde o começo. Sempre muito bem humorado, o ator, professor, autor, sonoplasta, figurinista, maquiador de espetáculo, cenógrafo, diretor de teatro e psicólogo é o fundador da Cena Hum Academia de Artes Cênicas e peça fundamental no desenvolvimento do teatro na cidade de Curitiba. Em conversa com o Jornal Marco Zero, Sada falou sobre sua trajetória artística, deu dicas para futuros atores e discorreu sobre a realidade do teatro na cidade. Quando você decidiu que gostaria de seguir a carreira no teatro? É uma história longa, mas vamos lá! Desde pequeno, havia na minha família muita influência da arte. Meu pai era engenheiro civil e seresteiro. Ele tocava violão em casa, nas festas e reuniões familiares. Minha mãe dizia para mim que tinha tentado ser atriz de rádio, mas não conseguiu. Depois tentou ser bailarina, mas meu avô não deixou. Essa questão do artístico sempre foi muito incentivada dentro de casa. Volta e meia, frequentávamos ballet e teatro, apesar de que, por se tratar de uma época de ditadura militar, o teatro era algo um pouco mais preocupante ou temeroso de se falar, porque se dizia que era um ambiente onde a marginalidade acontecia. Quando prestei vestibular, meus pais me deram completa abertura sobre o que eu queria fazer da minha vida, mas eu decidi fazer Psicologia. Me formei em Psicologia, mas no ano seguinte resolvi entrar no curso de Artes Cênicas da PUC, e lá minha carreira começou. Aí eu mergulhei e me apaixonei pelo teatro! Larguei meu consultório de Psicologia para fazer teatro. Foi uma trajetória em que o teatro chegou até mim. Qual a lembrança mais antiga que você tem sobre sua vida no teatro? Com quatro anos de idade, subi

no palco para cantar “Eu vou pra Maracangalha” em uma apresentação da pré-escola! Depois disso, teve uma coisa que não sei se dá para chamar de teatro, talvez fossem jogos teatrais, mas é uma lembrança muito boa que tenho da minha infância, quando ia para Camboriú. Nos éramos em quatro irmãos ate então, e uma coisa que fazíamos era nos reunirmos em uma noite, e a coitada da nossa família tinha que assistir o show que criávamos. Teve uma vez que fizemos o Tarzan e enchemos a sala de árvores. E eu fazia a Chita! E a família tinha que aplaudir no final. Todo semestre, fazíamos isso. Um irmão escrevia o texto, outro escolhia as roupas, eu geralmente era o coadjuvante, porque era o menor dos quatro. Acho que foram essas coisas que incentivaram minha vida no teatro. Qual é a sua maior realização profissional? Ah, eu acho que é a Cena Hum! A Cena Hum foi uma coisa que surgiu em Curitiba em 1995. Não existiam escolas de teatro ainda na cidade, apenas espaços teatrais. Muitas crianças não tinham onde fazer teatro, e a Cena Hum foi a primeira escola mesmo. Às vezes, as pessoas me dizem que isso aconteceu porque sou perseverante, mas na verdade sou mesmo é teimoso, porque foi isso que fez a Cena Hum nascer e permanecer até hoje. Você esteve na Suíça ministrando cursos de interpretação no Ballet Maurice Béjart em 2010 e 2011. Como foi essa experiência? Eu achei engraçado, porque quando recebi o convite pensei: “Ih, erraram de e-mail!” Pensei que não era pra mim, que era para outra pessoa, mas era pra mim mesmo! Foi uma experiência muito doida, porque chegou o convite para eu dar um curso de teatro para aproximadamente 40 bailarinos de diversos países. Foi uma situação única para mim, porque de alguma forma eu coloquei lá na Europa um pouco do que a gente faz aqui e trouxe para cá uma experiência nova para o processo de formação do ator. Hoje não consigo mais pensar na questão de ser ator ou ser bailarino ou ser cantor. São todos

simplesmente artistas. E eu trouxe isso para cá, essa ideia de formar artistas como um todo. Além disso, ter ido para lá resultou em uma quebra total da minha autoimagem. Até então, eu achava que eu era aqui de Curitiba apenas e hoje noto que é possível você falar sobre arte e teatro em todo o mundo. Fui dar o curso sem nem falar francês direito. No final, já estava falando com um japonês, ele em japonês e eu respondendo em português, e a gente se entendia pelo olhar. Uma experiência inusitada, muito legal. Na sua opinião, o que o Brasil poderia aprender com outros países a respeito da valorização da arte? Eu fui jantar com o diretor do ballet e ele disse que existem dois locais no mundo em que a arte pode ser salva: o Brasil e a China. Fiquei surpreso com isso. Acho que o que a gente pode aprender com eles é o respeito à história. A compreensão e valorização da história da arte faz com que você entenda esse processo e perceba que a vida é efêmera e somos apenas poeira perto de tudo o que já aconteceu e continua acontecendo. Em compensação, eles podem aprender conosco sobre emoção e sentimento. Nós somos muito emocionais e afetivos, e disso eu sentia muita falta lá!

Sempre digo que a gente não pode viver sem a arte. Quando a gente não tem a arte dentro de nós, a gente morre. O que você sente antes da estreia de uma peça sua? Cada estreia é como um filho, é diferente. É uma mistura de senso de responsabilidade e exposição, porque, quando você estreia um espetáculo, está se expondo, expondo seu conhecimento, seu senso estético, sua forma de pensar a

George Sada: abandono da profissão de psicólogo para dedicação completa ao teatro vida. E está expondo as pessoas que estão a sua volta e seguem seu direcionamento. Isso é muita responsabilidade, mas ao mesmo tempo é recompensador, é uma etapa cumprida. Como é fazer teatro em Curitiba? O ponto forte é que o ator curitibano tem mais disciplina que em outros lugares. Além disso, acho que a gente não faz teatro apenas por pura produção comercial. Outra coisa é que hoje tem mais gente frequentando o teatro, e isso é muito bacana, porque você forma um público com senso crítico mais apurado. Sobre os pontos negativos, como já dizia Paulo Leminski, há o terrível antropofagismo curitibano. Às vezes, você luta em uma selva de pedra. Infelizmente, não existe, acredito eu, um compartilhamento das ações. Existe uma concorrência, e quando alguém começa a se proje-

tar mais, ao invés de os outros se agregarem e darem continuidade a isso, parece que há um prazer em tentar derrubá-lo. Então, a luta fica muito exaustiva, não só no mercado de trabalho, mas dentro da própria classe artística, e isso é um absurdo. Qual é seu conselho para quem deseja seguir carreira no teatro? Vá. Faça. Meu maior conselho é: se apaixone pelo teatro. Se apaixone pela arte. Sempre digo que a gente não pode viver sem a arte. Quando a gente não tem a arte dentro de nós, a gente morre. Tenha a certeza de que com a arte você vai viver em crise, mas é a crise que o coloca em movimento. Se você tivesse que descrever a palavra “teatro” em uma frase, qual seria? A vida que eu escolhi.


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A vida à prova d’água

Sobrevivente do Bateau Mouche conta sua história Foto: Kellen Ribeiro

Kellen Ribeiro

O naufrágio do Bateau Mouche

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aria de Fátima Almeida Gomes, de 50 anos, foi uma sobrevivente do Bateau Mouche, navio que estava a caminho de Copacabana e afundou no dia 31 de dezembro de 1988, nas proximidades do morro do Pão de Açúcar, na entrada da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, faltando aproximadamente 15 minutos para o reveillón. Fátima nasceu em Salvador (BA), mas estava morando com seu marido em Madri, na Espanha, quando decidiu passar o ano novo no seu país de origem com alguns amigos que disseram que aquela noite seria maravilhosa e inesquecível. Inesquecível realmente foi. O embarque foi no pier do restaurante Sol e Mar, zona Sul do Rio, e Maria de Fátima lembra exatamente tudo o que aconteceu naquela noite. “Os corpos estavam com a barriga muito estufada, pois as pessoas tinham comido e bebido muito, e a maioria ainda bebeu litros e litros da água salgada; parece que foi um pesadelo. Foi como nascer de novo”, relata. Ela diz não guardar nenhum objeto como lembrança, que tudo foi parar no fundo do mar, e que quem a salvou foi Deus, mas quem a tirou da água foi um pescador, seu Jorge, e dois garotos, a quem, em reportagem ao Fantástico, da Rede Globo, em 2009, voltou para agradecer por sua vida. Vinte anos depois da tragédia, o sonho de Fátima ainda era encontrá-los, mas não tinha nenhum tipo de contato que pudesse ajudá-la. Então, o “Fantástico” a levou até o Rio de janeiro, próximo ao local onde a embarcação afundou. Ela pode então agradecer pessoalmente o pescador e os dois garotos. Maria de Fátima mora hoje no bairro Vista Alegre, em Curitiba, com as filhas Cindy Okino e Meysi Okino. Ela é esteticista e, apesar de não guardar nenhum objeto como lembrança, em momento algum mostrou-se resistente ao falar dos fatos que lhe sucederam com o naufrágio do Bateau Mouche. Ela recebeu a equipe do

“Fui a última a entrar naquele navio”, declara Maria de Fátima.

Marco Zero na sala de sua casa, onde contou a sua história. “Naquela noite que era para ser de alegria, eu era a última da lista e fui a última a entrar naquele navio. Estava com um vestido azul, única pessoa vestida com essa cor no meio dos 142 tripulantes. Percebi na entrada que ele estava superlotado, e desde que saimos não consegui “relaxar’’, pois sempre tive muito respeito pelo mar, já que meu pai me ensinou isso desde criança, pois era pescador’’. Ela disse ainda que naquela noite ventava muito. “Isso era também motivo de preocupação, pois perto da meia-noite ouvi o barulho de louças caindo devido à agitação do mar, que balançava muito o navio. Eu estava no banheiro quando vi a água entrando e não pude acreditar que aquilo realmente poderia acontecer. Subi

Foi um pesadelo. Foi como nascer de novo correndo as escadas e vi tudo bagunçado. Era inacreditável o que estava acontecendo”. Depois disso, ainda relatou: “O barco virou, e a água estava muito fria. Lembro das pessoas que seguravam em mim e dos gritos pavorosos de outras morrendo. Naquele momento, um filme da minha vida passou em questão de segundos em minha cabeça”. Apesar da história triste, Fátima conta que todos os dias 31, principalmente em dezembro, tem uma lembrança triste, mas ao mesmo tempo muita gratidão por estar viva.

No réveillon de 1988-1989, o Bateau Mouche naufragou, causando a morte de 55 pessoas entre as 142 que estavam a bordo. O barco era de propriedade de uma empresa que tinha nove sócios. O Rio de Janeiro promovia sua festa oficial de réveillon na praia de Copacabana, com fogos de artifício clareando a noite, mas alheio à tragédia que acontecia muito próximo dali. O barco já havia contornado o Pão de Açúcar, seguindo para Copacabana, quando seus ocupantes foram surpreendidos por ondas enormes. Logo após, balançando muito, o barco adernou para a direita. Era o caos. O mar, cada vez mais agitado, fazia entrar água pelas vigias, inundando o convés inferior. O Bateau Mouche prosseguiu assim mesmo. Às 23h45, com a casa de máquinas cheia de água, os motores pararam. Foi nesse horário que todas as pessoas se dirigiam à proa do navio para ver o show de fogos, o que contribuiu para o naufrágio. Descontrolado, o barco se inclinou para a direita e emborcou, espalhando seus passageiros no mar. Pessoas em outros barcos que estavam nas imediações, ouvindo os gritos, foram ajudar, jogando bóias e coletes salva-vidas, iluminando a área e recolhendo pessoas. Durante vários dias, trabalhou-se no resgate de corpos. A notícia abalou a cidade. Criou-se um clamor público, com a mídia induzindo a opinião pública contra os proprietários do barco. O resultado da perícia do barco apresentou uma série erros: superlotação, porque a capacidade máxima seria de 80 passageiros; o convés superior tinha peso excessivo, por causa de camada de cimento e aço, duas caixas d’água e outras peças móveis; a bomba de esgoto funcionavam mal; as vigias estavam mal vedadas. Em 18 de julho e 28 e 29 de dezembro de 1988, dois dias antes do naufrágio, o barco fora vistoriado pela Capitania dos Portos - durante todo esse tempo, as falhas descritas já existiam, sem que a Capitania fizesse qualquer advertência. Divulgação

Detalhe do barco Bateau Mouche: o resgate dos corpos durou vários dias


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trilhas do tempo

Uma história que é pouco lembrada

Você já tinha visto esta placa antes?

Saiba mais sobre o Museu Ferroviário de Curitiba

Fotos: Tamyres de Oliveira

Tamyres Barbosa de Oliveira

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Museu Ferroviário de Curitiba foi inaugurado em 1982, anexo ao Shopping Estação. Seu acervo contém mais de 600 peças, como relógios, telefones e telégrafos que eram utilizados na estação e objetos do interior dos trens, como bagageiros, fechaduras e luminárias da época. O espaço ainda possui uma locomotiva a vapor em exposição, evidenciando um retrato da vida naquele século, além de uma coleção histórica formada por recortes de jornais e livros sobre as ferrovias. Em 1997, com a concessão do espaço ocupado pela antiga(Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), foi inaugurado um shopping em Curitiba, com o nome de Estação Plaza Show (em referência à antiga Estação Ferroviária de Curitiba). Trata-se de um espaço que buscou preservar o patrimônio da capital do Paraná, guardando raízes de uma Curitiba de grandes realizações que não devem ser esquecidas pelas gerações futuras. Daí a importância da conservação do Museu Ferroviário de Curitiba, dentro do então novo local de entretenimento e lazer. Será que os frequentadores do local sabem o motivo do nome escolhido: “Shopping Estação”? A estudante Ana Ferreira, de 24 anos, diz que não sabia da existência da antiga Estação Ferroviária e achou que o nome vinha da aparência do shopping center. Já Eunice Borges, de 87 anos, lembra como funcionava a Estação Ferroviária: “Era uma época muito boa. Aqui era um ponto inicial para se chegar em Curitba e um ponto final para aqueles que queriam ir embora. Eu passava a maioria dos

Talvez você passe em frente a ela todos os dias, mas não tenha reparado nela. Esta placa se encontra no Museu Ferroviário de Curitiba, localizado no Shopping Estação. Várias pessoas passam pelo shopping, porém muitos não sabem que ali era uma estação ferroviária, um local de chegada e de partida da Curitiba de antigamente. Horário de funcionamento: Terça a sábado: 10h às 18h Domingo: 11h às 19h Segunda: não abre A antiga estação ferroviária de Curitiba abriga o Museu Ferroviário

Aqui era um ponto inicial para se chegar em Curitba e um ponto final para aqueles que queriam ir embora meus dias observando a movimentação”, diz. Outra frequentadora, Fernanda Abreu, de 47 anos, lembrou que ali era uma antiga Estação Ferroviária e declarou que gostaria muito de trabalhar no museu, pois seu avô trabalhou na antiga estação ferroviária e ela tem uma boa lembrança do local. Parentes dela sempre visitam o museu. O local é bastante visitado por turistas, estudantes e público em geral, que vão lá para apreciar a beleza da cultura preservada no museu e relembrar o passado da cidade.

O Museu Ferroviário fica dentro do Shopping Estação, local de uma antiga estação ferroviária


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trilhas do tempo

Deadline e o Relógio do Sol Os curitibanos sabem onde fica o Relógio do Sol na Praça Tiradentes? Sabem que ele existe? E afinal, que horas são? Foto: Claudia Bilobran

Diego Gianni

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eadline. É o fim da linha. É o prazo final. Os empresários usam muito essa palavrinha. Os jornalistas também. Falando neles, imagine que você é um jornalista e precisa escrever uma matéria sobre um tal de “relógio de sol”. Permita-me ser mais específico: você é jornalista, precisa fazer uma matéria sobre o tal do relógio de sol, mora em Curitiba (cidade das quatro estações em um dia), e seu deadline está se aproximando. Sinceramente, eu preferia ter ido fazer uma matéria sobre incidência de cáries em cães hidrófobos. Seria mais fácil as coisas darem certo. Em primeiro lugar, eu nunca tinha sequer ouvido falar que na praça Tiradentes havia o bendito de um relógio de sol. Eu nem ao menos sabia o que era um relógio de sol (e olha que sou neto de relojoeiro!). A única coisa que eu sabia é que o tal relógio fica entre a loja Xiquita e a Pernambucanas. Esse era todo o meu conhecimento sobre o relógio de sol. Brilhante. Cheguei na praça Tiraden-

tes, me aproximei da Xiquita e fiquei olhando pra cima, como quem tenta avistar um Ovni. Não vi nenhum relógio. Na calçada, tampouco (sim, porque imaginei se o relógio não poderia ser uma daquelas rosa dos ventos, sabe?). Perguntei então para um senhor que ali passava: - O senhor sabe onde fica o relógio de sol? - Você quer saber que horas são? – me perguntou. - Não, não, o re-ló-gio de sol. Quero tirar uma foto dele e... - São meio dia e vinte. Agradeci o doido e resolvi fuçar por conta própria. Entre a Xiquita e a Pernambucanas, entre a Xiquita e a Pern... Ah, ali estava. O que a preguiça não faz, não é? Alguns passinhos para o lado, e avistei o relógio. E devo dizer que foi simpatia à primeira vista. O relógio está localizado um pouco à esquerda da loja Xiquita, acima e no meio de três janelas de um pequeno prédio histórico de Curitiba. A fachada é branca (ou, melhor dizendo, já foi branca). No blog “circulando por Curitiba”, há uma informação sobre o prédio: Farmácia Stellfeld, a primeira de Curitiba, aberta em 1857 por Augusto Stellfeld, situava-se na Santa Casa de Misericórdia.

Em 1866, o estabelecimento foi transferido para a Praça Tiradentes, na quadra em frente à catedral. A primeira coisa que tentei fazer, evidentemente, foi tentar ver as horas no relógio de sol. Não tive sucesso. Na parte de cima do relógio, pode-se ler a data (1857), único número ali que ficou claro para mim. De resto, uma confusão só: o 12 lá embaixo, o 1 à esquerda, o 6 na ponta superior esquerda, o 7 na outra ponta, e eu lá embaixo, com cara de bobo. Para mim, pareceu mais fácil montar o cubo mágico de Rubik do que decifrar as horas no relógio de sol. Senti-me um completo ignorante, mas tentei atribuir essa sensação à falta de ponteiros no relógio. Os ponteiros, presumi, devem ser as sombras projetadas pelo sol

ao incidir diretamente sobre o relógio. O céu nublado, apesar do calor tórrido, não ajudou. Preferia um tempo mais aberto, mas, enfim, é o deadline, é o deadline... Para concluir minha missão, escolhi aleatoriamente algumas pessoas por ali para saber o que elas pensavam sobre o relógio de sol (implicando que elas soubessem da existência dele). Eliseu Gaiser é taxista e costuma rondar a praça Tiradentes todos os dias. Ele sabia perfeitamente que havia um relógio de sol ali na praça, mas não exatamente onde. Apontei o relógio para ele, e ele ficou olhando, curioso... - Mas que horas são? – perguntou. - Pois é. – respondi, frustrado. – Também não sei. - Peraí. – disse ele e tirou o ce-

lular do bolso. – Meio dia e trinta cinco. - Ah, muito obrigado. É por isso que dizem que em Curitiba você tem que se esforçar para ser esquisito. Já Carlos Alvez, gari (e aqui vou parafraseá-lo), comentou que sim, sabe do relógio de sol, mas não consegue entender o troço. Tive vontade de abraçá-lo e dizer: “Eu também não, Carlos, eu também não!” Luana Aragão, estudante da oitava série, me disse que o pai já havia lhe mostrado o relógio quando ela ainda era criança. Na opinião dela, o relógio é mais interessante do que útil. Concordei. É um patrimônio histórico. Um elo com o passado, muito antes da era dos celulares e relógios digitais. Um relógio (aparentemente) pouco conhecido pelos curitibanos. Você passa por ele despercebido, seu olhar está focado em outras coisas: o itinerário dos ônibus, as pessoas, o som da catedral, as pessoas, as promoções da Xiquita, as pessoas. Você passa pelo relógio solar e não se dá conta de que ele está ali e do quanto ele faz parte desta cidade. Em suma, ele é como o Dalton Trevisan. Só que um pouco menos confuso.


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especial Fotos: Key Imaguire

Os mistérios em do chão curitib

Construções subterrâneas guardam um pedaç da história ainda não resgatada de Curitiba

Foto: Allyson Do

Déborah de Franco Abrahão

Allyson Dolenga

T

Fotos tiradas por Key Imaguire, na década de 1960, revelam a estrutura do misterioso túnel

úneis secretos, tesouros escondidos, piratas. Poderia se tratar de um roteiro de cinema holywoodiano, mas esses elementos fazem parte da cultura e da história de Curitiba. Lendas sobre os subterrâneos da cidade não faltam no folclore local. Mas em 1962 um jovem provou que nem tudo era fantasia quando fotografou um túnel existente no bairro Vista Alegre das Mercês, próximo de onde fica hoje o bosque Gutierrez.Porém, somente no início deste ano as fotos foram divulgadas. Key Imaguire, o primeiro a documentar a existência de um túnel subterrâneo em Curitiba, é hoje arquiteto, mestre e doutor em história. Imaguire foi levado ao túnel por amigos que já sabiam de sua existência, uma vez que este era conhecido pelas crianças do bairro que faziam do terreno vazio um lugar para brincar. No local onde ficava a entrada da construção subterrânea, encontrava-se apenas uma estrutura já desmanchada do que teria sido uma casa de madeira. Quem não soubesse do conteúdo do subsolo dificilmente teria a atenção atraída para o local. A entrada do túnel ficava quase no mesmo nível do solo. Passando por ela, chegava-se a uma sala onde havia um alçapão. Afastando-lhe a tampa de ferro, podia-se descer pelo que era propriamente o túnel. Como o espaço era pequeno, Key Imaguire e seus amigos tiveram que percorrê-lo de joelhos e de costas, assim como o lance de escadas que vinha logo

após. A passagem levava a outro cômodo de teto abobadado, onde se podia ficar em pé tranquilamente. No local, havia vestígios do que teria sido um fogão à lenha com prateleiras de tijolos, ligado a uma chaminé que se projetava acima do solo, indicando que aquela não era somente uma passagem subterrânea, mas um local de permanência. O que intriga o arquiteto, no entanto, é o fato de haver além dessa última câmara um corredor que parece ter sido interrompido abruptamente, por uma parede mais nova que as outras. Para ele, a estrutura feita de tijolos maciços e ferro de antigos trilhos de trem é obra de alguém que entendia bem os processos de construção e sabia o que estava fazendo, pois as técnicas utilizadas na obra não eram simples, descartando assim a possibilidade de um trabalho amador. Quando as fotografias foram tiradas, já se podiam perceber vestígios de escavação no local, que segundo Imaguire, não são frutos da degeneração do tempo e sim da ação humana. Talvez de caçadores de tesouros, em busca do ouro dos jesuítas. O terreno onde fica o bosque Gutierrez já era também conhecido pela lenda do pirata Zulmiro, um inglês que teria escondido ali, em um complexo de túneis, os frutos de suas pilhagens. “Provou-se por meio dessas fotografias que existiu de fato um túnel no bairro Mercês em Curitiba, porém, as perguntas que continuam sem respostas a respeito da descoberta são por

Os túneis existiram, a minha crença nisso vai até esse ponto

Palco de cenas históricas, o clube Concórdia abriga um túnel


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Fotos: Key Imaguire

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quem e por que motivo esses túneis foram feitos.” Key Imaguire diz que na História costuma-se dizer que sem documento não há história. “Eu tenho um documento que são as fotografias que fiz de algo que eu vi. Sei que os túneis realmente existiram, e a minha crença nisso vai até esse ponto. Mas o que eram esses túneis, quem fez e por que é apenas suposição mesmo”, afirma.

jesuítas, leprosos

e piratas

Muitas teorias surgiram acerca dos túneis encontrados, além da lenda do pirata Zulmiro, que os teria feito para esconder um tesouro. Há ainda quem acredite que a construção é obra de padres jesuítas. Imaguire, no entanto, não considera essas hipóteses possíveis pelo simples fato de não haver nada que comprove a presença do primeiro em Curitiba. Quanto à ordem religiosa, apesar de muito poderosos no mundo inteiro, os jesuítas tinham poder mais político, e sua riqueza era baseada em posses de terras,fazendas e outras propriedades, não em ouro e prata. Em determinado momento da história, o poder desses religiosos começou a ser também motivo de uma série de inimizades. Todo o movimento de rejeição contra a Igreja Católica no século XVI era projetado com grande força na imagem dos jesuítas. A ordem foi banida do Brasil em 1629. A teoria de Key Imaguire é que os túneis tenham sido feitos por doentes que sofriam de hanseníase. Ele baseia seu pensamento em evidências e documentos que comprovam a existência de um leprosário na região. “A minha suposição é de que se tratava de um esconderijo de leprosos. Embora, que eu saiba, isso nunca tenha existido no Brasil,

Existiu de fato um túnel no bairro Mercês em Curitiba, porém as perguntas continuam sem respostas principalmente em Curitiba, houve a prática de persegui-los, pois eles eram expulsos das cidades a pedradas. As pessoas não queriam esses doentes, pois a doença era considerada altamente contagiosa, e existia uma incidência bastante grande aqui na região. Por aí eu encontro uma teoria possível”, sugere o arquiteto e historiador.

da cidade invadindo e depredando as propriedades pertencentes a alemãs, italianos e japoneses. O Clube Concórdia foi um desses lugares. Zélia aponta a janela do ceiro andar, que fica de frente para a entrada do clube, e conta: “Um piano foi jogado dali, partidas de futebol foram disputadas dentro dos salões de baile. Foi um verdadeiro quebra-quebra, e é possível que o túnel do Concórdia tenha sido construído como rota de fuga para os imigrantes que se sentiam ameaçados nesse período.” Apesar de existir realmente, no porão do Clube Concórdia, a entrada do que parece ser um túnel, ela está gradeada e ninguém nunca se atreveu a percorrê-la. Portanto, se há ali uma passagem e até onde ela chega, é ainda um mistério. Segundo o presidente do Concórdia, Fredi Humphreys, essa passagem nunca foi explorada: “Há muito tempo temos conhecimento dessa entrada. A sede do clube foi construída em 1912, e essa passagem pode ser até mais antiga. Ela segue por uns dois metros, mas ninguém nunca a percorreu, e não sabemos se ela é interrompida mais adiante. O túnel está localizado na frente do clube, embaixo do bar, e parece seguir em direção à Igreja do Rosário. Uns dizem que vai terminar na Sociedade Garibalde, outros dizem que não. Foto: Allyson Dolenga

o clube

Concórdia No Clube Concórdia, localizado no centro histórico de Curitiba, próximo ao Largo da Ordem, também foi encontrada uma construção subterrânea. A jornalista e apresentadora do programa “Nossa história” da Rádio Educativa AM, Zélia Sell, esteve com a equipe de reportagem do Marco Zero no Clube e mostrou no chão da sala onde fica o buffet a marca do alçapão que seria uma das entradas de um túnel. Ela conta que, na época da Segunda Guerra Mundial, os imigrantes alemães, considerados “inimigos do eixo”, sofreram perseguições por parte do governo de Getúlio Vargas. Com o torpedeamento de navios brasileiros pelos alemães, a situação se agravou, e a própria população se ergueu contra os imigrantes.Em 1942, a “Gazeta do Povo” noticiou que cerca de 10 mil pessoas se reuniram na praça Osório e saíram pelas ruas

Zélia Sell, apresentadora do programa “Nossa História”

Nunca a instituição recebeu qualquer proposta da Prefeitura ou do Patrimônio Histórico para que a construção fosse estudada. Diante dessa possibilidade, Humphreys declara: “Como presidente do clube, tenho no momento outras prioridades. Se recebêssemos uma proposta de estudo dessa construção, teríamos que avaliá-la. Se essa passagem estivesse localizada mais na parte de fora, seria mais simples, mas onde está afetaria muito a estrutura do clube.

explorando as, possibilidades Entre as histórias que ao longo dos anos vêm se formando no imaginário dos curitibanos, está a existência de túneis em vários lugares da cidade. Há quem diga que túneis ligam o Colégio Estadual do Paraná ao Shopping Muller, a Igreja da Ordem ao Convento do Rosário, e haveria outros ainda na Catedral da Praça Tiradentes, na Sociedade Garibaldi e no Colégio Marista. Porém, essas histórias por enquanto não passam de lendas urbanas, visto que nada foi encontrado. A arqueóloga Claudia Inês Parellada considera possível que túneis tenham realmente existido no centro da cidade: “Era preciso haver um sistema de escoamento sanitário, e para isso deveriam existir galerias subterrâneas”. Segundo ele, os túneis podem estar relacionados a essas galerias iniciais que tiveram vários usos ao longo do tempo. “Em Curitiba, houve alguns conflitos como a Revolução Federalista, por exemplo, e essas galerias podem ter sido usadas como esconderijo ou passagem. Isso não seria difícil, principalmente nas áreas mais altas”. Quanto à realização de um estudo mais aprofundado em busca dos túneis de Curitiba, o diretor do Museu Paranaense, Renato Carneiro Júnior, declara: “E se for? O que interessa? Quando fica no território da lenda, não tem sentido desperdiçar tempo e dinheiro com isso”. Imaginação, lendas, construções misteriosas, rotas de fuga formam esse pedaço de um passado da cidade de Curitiba que, ao longo dos anos, vai se perdendo no tempo. Indícios de túneis em Curitiba existem. O túnel fotografado por Key Imaguire e a construção inexplorada do Clube Concórdia são fragmentos dessa história que, ao que parece, por algum tempo ainda não será totalmente contada aos curitibanos.

Uma parede aparentemente mais nova bloqueia a saída do túnel


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especial Foto: Divulgação

Lendas subterrâneas

O Indiana Jones curitibano

É comum surgirem com o tempo histórias acerca de um acontecimento cujos dados são contraditórios. No caso dos túneis que existem em Curitiba, não é diferente. Por não haver uma versão oficial de sua história, são inúmeros os “causos” sobre os subterrâneos. Mesmo não comprovada sua veracidade, as lendas são curtas, intrigantes e surreais. Confira algumas:

Algumas paixões surgem de repente, com outras, já nascemos. O que fez despertar em Marcos Juliano o interesse em desbravar os túneis de Curitiba foi um livro que leu na infância. Mal sabia que anos mais tarde estaria entre os personagens característicos da capital paranaense. Já são mais de cinco anos explorando e contando a história dos túneis da cidade. Nomeado pela imprensa paranaense como “Indiana Jones curitibano”, ele concedeu entrevista sobre seu trabalho de exploração dos túneis curitibanos.

O pirata Zulmiro De ascendência britânica, seu nome era Sulmmers, mas era conhecido como pirata Zulmiro. Não se sabe o motivo de sua chegada ao Brasil, mas aqui conquistou terras, entre elas no bosque Gutierrez, nas Mercês. Viu nos túneis já construídos do bosque uma forma de esconder sua riqueza. Essa é uma das lendas mais famosas em torno dos subterrâneos. Já houve tentativas de abrir tais passagens para buscar os tesouros, mas nada foi encontrado.

A freira e o padre no subterrâneo No interior do Paraná, uma garota chamada Gertrude fica desconsolada quando seu namorado, Paulo, é enviado pela mãe a um seminário em Curitiba. Ela decide vir para a capital e se tornar freira para ficar próxima de seu amado. Quando o casal se reencontra tempo depois, logo começam a se ver às escondidas em um túnel descoberto por ele, que ligava a igreja da Ordem ao Convento do Rosário. Gertrude engravida, e o romance é descoberto. Havia uma freira chamada Agda que conhecia o romance e invejava o amor do casal. Certo dia, com o pretexto de evitar o escândalo, explodiu o túnel onde Paulo e Gertrude estavam, matando os dois. Porém, em sonho, Agda, uma semana depois, viu Gertrude e, no dia seguinte, ao visitar o túnel, percebeu que ele estava intacto e lá se encontrava o espírito de Gertrude, que lhe disse: “Ficarei aqui por muitos e muitos anos”. Tempos depois, Agda enlouqueceu. Terminou seus dias no Hospital Nossa Senhora da Luz.

Passagens secretas Algumas das passagens subterrâneas teriam o objetivo de facilitar reuniões secretas de alguns grupos religiosos. Mais uma lenda não comprovada.

Túneis de concórdia Esta lenda é parcialmente comprovada: existem de fato dois túneis no clube Concórdia, no Centro de Curitiba. Eles poderiam ter servido rota de fuga, durante a Segunda Guerra Mundial (19391945). Além disso, seriam uma ligação até o bairro Mercês.

A freira das galerias subterrâneas Marcelo era um garotinho, quando certo dia ele encontrou uma espécie de passagem secreta nas proximidades do Shopping Muller. Ao entrar, ficou admirado com sua extensão. Ele estava embarcando numa aventura. Porém, ao tentar sair daquele subsolo, não encontrava mais a saída. O medo tomou conta dele, até uma mulher chegar próximo - era uma freira: “Calma, menino”, disse ela. “Quero volta para casa”, chorava o menino. A freira lhe disse: “Meu nome é Gertrude, siga-me e lhe mostrarei a saída...” Ao avistar a claridade, o menino agradeceu e viu a mulher se afastar para dentro do túnel: “Por que você não sai também?” “Eu não pertenço a esse mundo, apenas ajudo as crianças que se perdem, como você. Eu estava grávida no dia que morri neste lugar...” disse Gertrude. A lenda diz que o espírito da freira sempre salva crianças perdidas nas galerias.

Quando surgiu o interesse em conhecer os túneis? Há quanto tempo você se embarca nessa aventura? Fui lobinho, escoteiro e sênior e desde pequeno sempre gostei de explorar. O que me despertou a curiosidade para esses túneis foi um livro do século 18, do explorador inglês Harold T. Wilkins, que mencionava uma grande rede de túneis subterrâneos cortando a América do Sul inteira. Falava muito por cima de um ramal dessas ramificações que passava pelo estado do Paraná em direção ao Litoral e descia para Santa Catarina. Inclusive falava sobre uma das entradas serem em Ponta Grossa, passando por Curityba (na grafia antiga) e descendo para Joinville (SC). Isso foi o gatilho que me levou a fazer uma grande pesquisa por Curitiba inteira atrás de notícias sobre a existência de túneis subterrâneos, mesmo porque eu sabia da lenda urbana de que existiam túneis no centro da cidade e em outros lugares antigos. Faz cinco anos que me dedico a essas pesquisas arqueológicas, e descobri coisas extraordinárias sobre o assunto. O mistério que cerca os túneis é o que o motiva? Sim, a possibilidade de existir um complexo de túneis subterrâneos em Curitiba é, em si, um grande tesouro turístico para a cidade e uma aventura que merece ser vivida e trazida à tona, para que todos os curitibanos conheçam um pouco mais da sua história. Existe algum túnel sobre o qual você descobriu alguma informação inédita? O complexo subterrâneo das Mercês é um achado arqueológico formidável! Ninguém fazia uma idéia mais concreta de quem construiu aqueles túneis. Nas minhas pesquisas, encontrei indícios de que os jesuítas construíram esse complexo subterrâneo, uma espécie de caixa-forte na cidade de Curitiba. Na sua visão de “caçador de informações”, por que a história oficial dos túneis se perdeu com o tempo?

Marcos Juliano: “Sinto que a cada dia fico mais perto de resolver esse mistério”

Como é uma história muito antiga, e são muitos pontos para serem amarrados, as pessoas que conheciam algum trecho foram morrendo, e o segredo foi se perdendo também. Eu mesmo fico impressionado com o que eu imaginava saber quando comecei a pesquisar e com o que eu sei hoje. O túnel que existe no Clube Concórdia, que é de uma época que podemos situar entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, é um exemplo desse passado que se apaga. Para fazer uma apresentação da Casa Cor (evento anual de arquitetura e design), eles fecharam a passagem de acesso ao túnel, tive de pedir autorização para poder abrir novamente. Caso eu não fizesse isso, o passado estaria se apagando. Sua pesquisa é praticamente feita de maneira independente. Você já tentou pedir algum tipo de patrocínio para ampliar suas explorações? No ano que vem, pretendo apresentar um projeto para a Câmara de Vereadores, para iniciar uma escavação no Bosque Gutierrez, em uma das entradas desses túneis jesuítas que hoje está obstruída. O potencial turístico que existe na exploração racional dessa estrutura de subsolo é de nível internacional. Você se considera, assim como o personagem do filme, um aventureiro ou um explorador? Sim, me considero um cientista e explorador, e meu sonho é poder realizar escavações arqueológicas e descobertas no mundo inteiro, viver essas grandes aventuras.


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esporte Atletas de fim de semana

CABE NO BOLSO Willian Gomes

Moradores do Centro aproveitam tempo livre aos fins de semana para praticar esportes Fotos: Willian Gomes

Esportes gratuitos na Praça Osvaldo Cruz

Leonardo Pollis

O

s amantes do esporte que, por falta de tempo, não podem desfrutar tanto o quanto querem de seus momentos de lazer nos dias úteis aproveitam as horas vagas aos fins de semana para colocar em dia tudo aquilo que não fazem durante a semana. Nas praças e parques espalhados pelo centro Curitiba, nota-se facilmente um grande número de atletas. O objetivo da grande maioria é manter um bom preparo físico e eliminar o sedentarismo, o que, com a correria do dia a dia, torna-se às vezes muito difícil. Em uma das principais praças públicas do centro de Curitiba, a Oswaldo Cruz, localizada em frente ao Shopping Curitiba, alguns atletas relatam os problemas da rotina de compromissos que encurtam cada vez mais o tempo de lazer. O analista de sistemas Leandro Miranda de Araújo, de 31 anos, morador do bairro Portão, sempre costuma se reunir com seus amigos aos finais de semana para jogar basquete em uma das quadras disponíveis. Segundo o esportista, a praça, que foi reformada há pouco tempo, principalmente a quadra coberta, reconstruída há menos de dois anos, está em situação precária quanto à manutenção. O atleta diz que os próprios usuários cuidam do local e mostra um remendo feito pelos usuários na quadra para tapar um grande buraco que havia surgido, sem contar as goteiras que caem da cobertura e deixam o piso escorregadio e perigoso para quem utiliza a quadra. A segurança na praça foi apontada como boa, pois a presença da Guarda Municipal é rotineira no local. Os guardas contam ainda com um posto do 12° Batalhão da Polícia Militar. Segundo a empresária Albanir Gaier Fracaro, de 49 anos, e seu esposo Luiz Carlos, de 50 anos, administrador, que residem no centro da cidade e frequentam as praças há oito anos, há muitos pontos da Oswaldo Cruz que estão descuidados. O casal possui uma loja na Rua 24 de

Time se reúne aos finais de semana e deixa de lado a diferença de idade em prol da mesma paixão, o basquete

A Praça Osvaldo Cruz, localizada na região central de Curitiba, oferece diversas opções para a prática gratuita de esportes no local, entre elas, natação, futsal e voleibol. Por ser muito procurada, há algumas regras a serem seguidas, como a frequência para as atividades. Dentro da praça, há uma academia ao ar livre, com os mesmos equipamentos de ginástica encontrados nos bairros de Curitiba. Para participar da natação, é preciso ligar agendando as aulas, que são três por semana, sempre gratuitas. Segundo a administração da praça, cerca de 500 pessoas praticam esportes diariamente no local. A segurança é feita pela Guarda Municipal. Infraestrutura: quadra poliesportiva, ginásio coberto, pista de atletismo, piscina, pista de caminhada, sala de ginástica, sala de ginástica artística, sala de musculação. Atividades: ginástica e musculação para a terceira idade, alongamento, ginástica e musculação para adultos, natação, pilates, futsal, basquete, voleibol, ginástica rítmica para crianças e adolescentes.

Albanir e Luiz Carlos Fracaro, moradores, comerciantes e esportistas do Centro da cidade, frequentam a praça Maio. Eles moram bem perto da praça e convivem com essa rotina diariamente, costumam sair juntos e praticar exercícios físicos e uma caminhada. Luiz, sempre que possível, aproveita para jogar futebol com os amigos. Com a implantação da nova ciclovia, que funciona um domingo ao mês, o casal passou a ter agora mais uma opção de lazer no centro, mas tiveram opiniões distintas quanto à novidade. Ela acredita que a ciclovia é um bom começo para quem anda de bicicleta poder ganhar espaço no trânsito. Já ele acha que o projeto foi mal elaborado e que deveria ser criada uma ciclovia para que aqueles que utilizam esse meio de transporte diariamente possam se locomover. Segundo o administrador, uma ciclovia que funciona uma vez ao mês não tem muita utilidade, sem falar que a faixa foi feita do lado errado e em mão única. Um grupo de seis mulheres que formam um time de basquete e sempre se reúne aos finais de semana para jogar na praça Oswaldo

Cruz comenta que a falta de manutenção da praça afeta principalmente o sistema de iluminação. Quando anoitece, fica muito escuro, pois metade da iluminação do local não funciona como deveria, reclamam as atletas. Apesar das críticas quanto à manutenção da praça, a estudante de Relações Públicas Cíntia Ribas, de 30 anos, participante do grupo, acredita que Curitiba está aprendendo a aproveitar melhor suas áreas verdes, e esse é o caminho certo para que os parques e praças sejam valorizados. A mais nova da turma é a estudante Gabriele Goulart, de 20 anos. A mais velha é a gerente empresarial Andréia Cavallire, de 40 anos.

A falta de manutenção da Praça afeta principalmente o sistema de iluminação

Endereço: Rua Brigadeiro Franco Bairro: Centro - Curitiba-PR Telefone: 3321-2708 Fax: 3321-2723 Informações: de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h.

Prática de atividades físicas apenas nos fins de semana tem riscos Leonardo Pollis

Segundo o fisioterapeuta de empresas Welington Borges, de 24 anos, a prática de exercícios, mesmo que só aos fins de semana é muito bem-vinda, pois ajuda a evitar o sedentarismo precoce. Mas ele alerta quanto à importância de se alongar todos os dias, pois isso não requer tanto tempo e faz uma grande diferença para o corpo. Claro que se alongar de maneira incorreta não adianta, aliás, é pior, pois pode ocasionar sérias lesões, diz o fisioterapeuta. Segundo ele, as pessoas que só se exercitam aos finais de semana também correm um grande risco de sofrer algum tipo de problema cardíaco se não estiveram aptas à prática esportiva. Para evitar que isso ocorra, Welington recomenda que o atleta procure um profissional da saúde e faça exame ao menos uma vez ao mês. Ele defende a importância da ginástica laboral nas empresas e garante que as empresas que beneficiam seus funcionários com essa atividade ganham em produção.


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cultura

Onde a arte é bem-vinda A casa de espetáculo José Maria Santos recebe vários festivais durante o ano Marcela Panek

P

or ser vinculado ao Centro Cultural Teatro Guaíra (CCTG), o Teatro José Maria Santos está aberto a todos os tipos de espetáculos do estado do Paraná. As peças dos festivais apresentados atingem todas as idades e tipos de gostos. Entre os festivais que abriga, destaca-se o Festival de Curitiba, maior da área no Brasil. A casa recebe a programação do Fringe – mostra paralela do evento. A demanda é grande, e, para conseguir dar conta de todos os espetáculos, a maratona de ensaios, montagens e desmontagens é intensa. “As peças apresentadas aqui são ótimas e nos tiram do mundo real”, elogia a estudante Aline Campos. Em quesitos técnicos, o teatro possui uma infraestrutura muito boa, explica o diretor Gilberto Tuyuty, pois é equipado com tudo o que é necessário para dar conforto aos espectadores e artistas que vêm fazer seu trabalho. “Mesmo sendo um monumento tombado, não tem a atenção que deveria ter. As autoridades públicas também não dão o crédito e o apoio necessário às artes cênicas, que deveriam ser ensinadas e motivadas desde a mais tenra idade”, reclama o diretor do teatro, que afirma também que os brasileiros não dão o valor devido à sua cultura. O José Maria Santos acolhe todos os tipos de artes cênicas, desde artes circenses a musicais. Filho mais novo do Guaíra, é administrado pelo CCTG desde março de 1998 e abriu suas portas ao público em 27 de junho do mesmo ano. O teatro dispõe de uma plateia de 177 lugares. O imóvel pertence ao governo do estado do Paraná, sendo tombado pelo patrimônio histórico paranaense. Nesses mais de 14 anos de trabalho ininterrupto, recebeu mais de 210 mil espectadores,

“Nós podemos fazer isso”, já diziam elas na década de 1940 Os papéis profissionais entre homens e mulheres têm se invertido, mas a mudança ainda é lenta Rafael Giuvanusi

O diretor Gilberto Tuyuty é também um espectador assíduo do teatro acolhendo por volta de 1.300 produções, em sua maioria paranaenses. Vale também destacar que acolhe produções de grande parte do Brasil e da América do Sul, bem como norte-americanas e europeias. Conforme o diretor, o teatro vem alcançando ocupação ordenada com apresentações artítico-culturais, objetivando a difusão do teatro na comunidade paranaense em suas formas animadas, cênicas, música, dança e circo, além de fomentar a formação de plateia e dar oportunidade de ampliação do mercado de trabalho aos profissionais na área de produção.

NA WEB

Veja também resenha “O escritor de Praga” na revista Entreverbos www.entreverbos.com.br

E

ram meados de 1941, os Estados Unidos estavam em guerra, os homens foram para o campo de batalha, e a economia do país ia de mal a pior. Sem mão-de-obra para movimentar a produção de suas indústrias e usinas, o governo americano se viu obrigado a ceder à força feminina e, por meio do movimento We can do it (Nós podemos fazer isso), encorajou as donas de casa e seus maridos a reconstruírem a economia de forma igualitária, expondo o potencial produtivo da mulher em plena década de 1940. Portanto, acordar cedo, fazer café, preparar as crianças para a escola e chamar o marido para trabalhar tornaram-se funções secundárias. Ou seja, foi-se, ou pelo menos está em fase de ir, o tempo em que a mulher ficava somente com as tarefas consideradas mais fáceis, mais leves, justificando o estigma de sexo frágil, vindo desde épocas muito mais machistas. Com a ascensão da nova classe C, o crescimento do mercado de trabalho tornou-se visível. No país, de acordo com o Ministério

do Trabalho e Emprego (MTE), o percentual de mulheres empregadas passou de 40,5% em 2003 para 45,3% em 2011. Sim, ainda minoria entre os trabalhadores brasileiros, mesmo sendo o gênero em maior quantidade. Portanto, o aumento do número de mulheres que ocupam cargos culturalmente masculinos passa a ser uma consequência desse crescimento. Segundo dados do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (Insper), o número de mulheres em cargos de advocacia, economia e medicina cresceu cerca de 18%, enquanto nas engenharias, somente 5%. Porém, esses dados remetem às profissões que exigem formação superior. Números sobre a mão-de-obra feminina em profissões geralmente braçais ou estereotipadas ainda não são conclusivos, mas, mesmo assim, elas estão lá. A realidade de três dessas mulheres é apresentada aqui. A primeira é Lucimeri Guimarães, de 40 anos, que trabalha como balconista em uma loja de materiais de construção em Bocaiúva do Sul, na Região Metropolitana. Lucimeri já foi motorista de caminhão e condutora de ônibus coletivo e realizou diversos serviços em uma serraria. A balconista conta que

Nos últimos 24 dias das minhas férias, ganhei quase mais que o valor do meu salário desde pequena se interessava pelo volante e que “botar as mangas de fora” é o que a faz se sentir bem. “Minha mãe às vezes se questiona se alguém me deu óleo diesel para beber”, conta, aos risos. Seu primeiro emprego foi de secretária, até que seu irmão abriu uma loja do mesmo segmento em que trabalha agora e precisou de alguém para fazer as entregas. Ela foi então para o volante. “Eu sempre gostei de dirigir. Meu irmão precisava de alguém, então, fui. Sempre gostei do serviço bruto e não de ficar parada,” conta Lucimeri. Ao ser questionada quanto ao preconceito e às dificuldades encontradas em sua trajetória profissional, Lucimeri conta que a maioria das pessoas admirava a sua coragem em assumir uma carreta, porém, quando surgiu a oportunidade de trabalhar como motorista de ônibus, sofria com o descaso


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Divulgação

Cartaz de J. Howard Miller, contratado para ilustrar a campanha norte americana “We can do it!”, que buscava aliar a força feminina à economia estadunidense

do chefe imediato, que oferecia regalias aos homens e a deixava em segundo plano. “Sempre ele precisava de mim e eu me dispunha a ajudar, mas, se eu precisasse dele, podia esperar um não”, lamenta. Além da paixão, outro ponto que levou a balconista a trabalhar em funções tradicionalmente masculinas foi o salário. Segundo pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), o Amazonas é o único estado brasileiro em que as mulheres têm salários superiores aos dos homens. “Com certeza, eu ganhava mais do que nos trabalhos geralmente femininos”, lembra Lucimeri, que ainda pensa em voltar para o caminhão e viajar longas distâncias. Construção e serviços de segurança Outro caso que denota a nova

realidade é a abertura de um curso de construção civil para mulheres oferecido pela prefeitura de São Carlos, no interior de São Paulo. O curso profissionalizante, que teria 150 vagas, conta com 277 alunas inscritas, além de 140 que estão em uma fila de espera. Além desse curso, elas também poderão optar por mais duas modalidades entre pintura de paredes, assentamento de ti-

A profissão não é do homem, é de quem está disposto a desempenhála da melhor maneira possível jolos, aplicação de pisos e azulejos, hidráulica e carpintaria. O módulo oferecido pelas secretarias de Cidadania e Assistência Social e Trabalho, Emprego e Renda surgiu devido à falta de mão-de-obra para suprir a demanda do mercado imobiliário. No Brasil, estima-se que 170 mil mulheres trabalhem em construção civil. Porém, eis uma história um pouco diferente. Maria Regina Moleiro, de 31 anos, de Araucária, também na Região Metropolitana, tem em sua carteira de trabalho o cargo de governanta e, diferente de Lucimeri, exerce sua função diariamente, mas, quando tem tempo, ajuda o ex-sogro na construção civil. “Há nove anos faço isso, utilizo meu tempo livre para ajudá-lo e complementar minha renda. Só nos últimos 24 dias das minhas férias, ganhei mais que o valor do meu salário”, conta Regina. Mãe de uma menina de nove anos, que também já a ajuda em suas empreitadas, a governanta conta que as pessoas se admiram ao vê-la junto com sua ex-sogra, que serviu como

exemplo, atuando em tal função. “Elas veem e gostam, pois trabalho em uma coisa totalmente diferente da que já faço”, conta com orgulho. Enfim, outra mulher a fazer jus ao sologa “We can do it” é Ana Paula, de 30 anos, aqui identificada com um nome fictício exatamente pela função que desempenha. Ana é vigilante patrimonial, e ela e mais duas colegas dividem o posto de trabalho com 102 homens. Inicialmente, tinha curiosidade pela profissão, resolveu fazer o curso para ingressar e, sem dificuldades, conseguiu o primeiro emprego, ao qual se apegou. “Eu fiquei curiosa para saber e depois que conheci me apaixonei, não pretendo mudar mais de profissão. Aqui, eu ganho muito mais do que se trabalhasse de costureira ou recepcionista”, comenta. Por falar em paixão, Ana, que é solteira, relata que, quando encontra alguém para se relacionar, há certo estranhamento ao dizer sua profissão. “No começo, rola um pouco de ciúmes, pois o universo ainda é muito masculino, apesar de exigir mais atenção e reação do que a força propriamente dita”, ressalta. Lucimeri, Regina e Ana são as faces do novo mercado de trabalho no mundo globalizado, onde a competência profissional começa a ficar acima de qualquer estigma enraizado na cultura. Agora sem a boleia do caminhão, mas com a força necessária de um truck, Lucimeri encerra. “A profissão não é do homem, é de quem está disposto a desempenhá-la da melhor maneira possível”.

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MARCO ZERO

Número 19 – Maio de 2012

cultura

As ruas como uma grande tela

CRÔNICA

Coletivo mesmo!

Na contramão do preconceito, a arte do grafite se insere cada vez mais nas ruas e na aceitação das pessoas em Curitiba Fotos: Leonardo Akira

Leonardo Akira

O

espaço urbano do centro de Curitiba sempre foi grande palco de manifestação política e social e, de uns tempos para cá, também está se fortalecendo como local de expressões, artísticas ou não, através das pichações e dos grafites. As palavras pichação e grafite já remetem a termos pejorativos, e muitos fazem um pré-julgamento de seus sprays, pincéis e tintas. A pichação é o ato de escrever e rabiscar em muros, monumentos, asfalto das ruas, ou seja, qualquer lugar onde possa ser notada. Pode ser uma forma de protesto contra o sistema público, ou utilizada como insulto e demarcação de território entre grupos. Mas não deixa de ser poluição visual, considerada crime. O grafite, diferente da pichação, se preocupa com a estética, com o belo, em passar uma mensagem social, cultural, ecológica. O grafite chegou ao Brasil por volta de 1970, vindo dos Estados Unidos, e com o toque brasileiro essa arte é considerada uma das melhores do mundo. Por apreciar o movimento grafite, o irmão de Eliana Bueno, responsável pelo estacionamento Serro Azul, há 16 anos deu autorização para que fosse feito um dos primeiros grafites na região central de Curitiba. Ela não deixou o gosto do irmão de lado e manteve a tradição de atualizar os trabalhos no muro do estacionamento. A preferência do irmão por esse tipo de arte passou para ela, que diz sempre ter gostado da mensagem, da manifestação social e da preocupação com a estética do grafite, além de evitar as pichações muito comuns no centro curitibano. O artista gráfico Silvio Rodolfo, juntamente com Marciel Conrado e Tri (Neiton Nunes), esteve em cartaz com a exposição “Diário Coloquial” no Espaço de Arte Urbana,

Painel no centro da cidade contra a construção da usina de Belo Monte no Rio Xingu, no estado do Pará

Lígia dos Santos

H

oje cedo, como de costume, saí de casa antes das sete da manhã para trabalhar e tentar pegar o ônibus que me levaria até o terminal. Lá pegaria mais um e assim por diante. Mas, também como de costume, estava eu no ponto de ônibus (que acaba ficando pequeno com tanta gente que lá junto comigo) quando o primeiro “coletivo” apareceu e, claro, passou direto, pois estava lotado. Quando tenho a sorte de entrar em um deles, fico na porta sem ter muita opção de como me segurar naquele confortável veículo que eu e milhares de pessoas temos que pagar para usar. Ou seja, imaginem só se o transporte fosse gratuito, como seria? Tanto para quem vai trabalhar como para quem vai estudar ou para qualquer outro compromisso, a viagem acaba se tornando cansativa e estressante. Antes mesmo de começar o seu dia de trabalho, você já está cansado e irritado. E ainda tem que aguentar piadinhas no ônibus, do tipo: “Quer espaço, quer conforto? Vai de táxi” ou “com licença, moça”. Dá vontade de responder: “Licença para onde, minha senhora?

Não consigo nem me mexer!” Um segundo ônibus surgiu e passou direto novamente. Acreditem ou não, isso se repetiu mais ou menos cinco vezes, e é assim diariamente. Resultado: cheguei atrasada no serviço, de novo. Mas tudo bem, o importante é que no domingo o valor da passagem é R$ 1,00. Assim, dá para passear o dia todo de ônibus, pois, além de ser mais barato, não estão lotados e você pode escolher o banco que quiser para se sentar. Se perder um ônibus, não tem problema, pois logo aparece outro, e seu domingo passeando em Curitiba será animado, relaxante e confortável, certo? Errado. Se durante a semana já é difícil, no domingo então é necessária muita, mas muita paciência para sair de casa e se arriscar a pegar o transporte coletivo na nossa cidade. Tudo bem, a passagem realmente é mais barata, mas quanto ao conforto e à quantidade de ônibus na linha, é vergonhoso. Se você não sabe o horário exato em que eles passam, o jeito é esperar, esperar e esperar. Enfim, já é tarde e amanhã preciso acordar cedo para trabalhar. Como vou de ônibus, acho que vou sair de casa um pouco mais cedo, vai que eu tenho a sorte de pegar um ônibus vazio. Ou então acabo tendo o azar de perder o primeiro, o segundo, o terceiro...

Pichação polui centro comercial de Curitiba na galeria Julio Moreira, no Largo da Ordem. Segundo ele, a exposição teve como objetivo mostrar o cotidiano de uma forma diferente, de uma maneira que leva à reflexão. Para ele, uma oportunidade de revelar seus trabalhos, conhecer mais pessoas no ramo da arte e divulgar sua arte. “Para a sociedade, foi muito interessante ter visitado a exposição para conhecer mais o grafite e a cultura que por meio dele se irradia. Uma maneira ainda de desmistificar um pouco o grafite com a pichação, pois ainda somos visto com maus olhos”, ressalta. Geralmente, o grafite é pré-autorizado pelo dono do muro em que a arte vai ser pintada, ao contrário da pichação, que geralmente é feita no calar da noite e no Brasil é considerada vandalismo e crime am-

biental, passível de detenção, multa ou serviços comunitários. Segundo a Prefeitura de Curitiba, as denúncias contra pichações aumentaram 650% nos últimos nove anos e podem ser feitas para o telefone 153.

O grafite, diferente da pichação, se preocupa com a estética, com o belo, em passar uma mensagem social, cultural, ecológica

Exposição de grafites de Silvio Rodolfo, Marciel Contado e Tri (Neiton Nunes) na Galeria Julio Moreira, no Largo da Ordem


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cultura

Um belo livro sobre livros TÁ NA WEB

Foto:Divulgação

A Sombra do Vento se tornou um marco e uma homenagem aos livros

Natanael Chimendes

Foto: Divulgação

Aryadne Ronqui

A

O que é legal para você?

das de alguma forma nesse mar de histórias. E para completar todo o suspense, alguém está buscando e destruindo todos os exemplares dos títulos de Carax, sem nenhuma explicação aparente. Livros que, apesar de todos os leitores se apaixonarem profundamente, são pouco vendidos, sem receberem o valor que merecem. Aos poucos, as peças de cada história se encaixam, e, ao chegar o grande final, quando tudo é esclarecido, o leitor esquece até de respirar para poder ler a incrível história de Julian Carax e suas obras. O desfecho do livro por si só é tão magnífico quanto o próprio livro. Zafón nos mostra que um escritor não precisa ser renomado para produzir uma obra de qualidade, e que muitas obras não são reconhecidas como deveriam. Um livro cujo personagem de destaque são os próprios livros é o paraíso para qualquer pessoa apaixonada por esse indescritível prazer que é a leitura. “Cada livro que você lê tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece.” A Sombra do Vento.

A rede social Pinterest foi criada em março de 2010 nos Estados Unidos e em dois anos se tornou a terceira mais acessada do país, ultrapassando o número de acessos do LinkedIn, Tagged e Google+, ficando atrás apenas do Facebook e do Twitter. Mas qual o segredo desse sucesso repentino? No início, o Pinterest se destacou por redirecionar usuários para roupas de loja on-line. O sucesso indica o gosto dos usuários por criar murais sobre tudo de que mais gostam: comida, bichos fofos, destinos turísticos, arte, coletando imagens da web para pendurar (pin) em suas paredes virtuais e segmentadas por assunto. http://pinterest.com/ Foto: Divulgação

Sombra do vento, escrito pelo espanhol Carlos Luiz Zafón, é um exemplo de uma obra literária fantástica e merecidamente reconhecida, ultrapassando a marca de 6,5 milhões de exemplares vendidos e traduzido para mais de 30 línguas, A Sombra do Vento consagrou Zafón como uma das maiores revelações dos últimos tempos. Marcado pelo final da Segunda Guerra Mundial, o livro começa em 1945, em Barcelona. Daniel Sempre, personagem principal da trama, está para completar 11 anos e já não se lembra do rosto da mãe, falecida quando ele era pequeno. Seu pai, ao ver o filho triste, dá um presente inesquecível a Daniel: leva-o ao Cemitério dos Livros Esquecidos. Como é a primeira visita de Daniel a essa biblioteca secreta, ele tem o direito de escolher um livro, que irá ler e garantir que sua história nunca morrerá como tantas outras. O último exemplar de A Sombra do Vento, de um escritor desconhecido chamado Julian Carax, é descoberto por ele, e naquela mesma noite ele praticamente o devora, apaixonado pela escrita desse homem misterioso. Daniel cresce, os personagens e a narrativa crescem com ele. Ainda em busca de informações sobre Julian Carax, ele se vê cercado de histórias que se conectam, pessoas essenciais na vida de Julian que aparecem para contar, aos poucos, a vida do escritor e que se tornam essenciais para Daniel também. Entre elas, Fumero, vilão à altura dessa surpreendente história; Fermin, personagem que aos poucos se torna indispensável; Nuria, peça fundamental e que guarda o maior segredo de todos; e Bea, que se torna a grande paixão de Daniel. Quanto mais fundo Daniel entra na vida de Julian, mais fascinante e perigosa ela fica, tanto para ele quanto para as pessoas envolvi-

“Obrigado, mãe!” A agência de publicidade Protect & Gamble revelou sua maior campanha global para divulgar o patrocínio da empresa nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Estrelando filmes sobre diversas línguas, em diversos países, o contexto geral dos vídeos roda em cima do agradecimento ao esforço que todas as mães fazem para incentivarem seus filhos a alcançarem o sucesso. A campanha acompanha belas cenas e trilhas para emocionar o espectador e assina com o slogan “Obrigado, mãe”. A direção é do cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu. http://youtube/RoQ1iYREvgI


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ENSAIO FOTOGRÁFICO

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Contraste urbano O “laranja” que se irradia no centro de Curitiba Renato Cruz (texto e fotos)

E

ngraçada e irônica a vida. O manto da invisibilidade pública não permite que os vejamos. No entanto, seu serviço prestado a nós é essencial. Eles estão em todas as ruas, embora poucas vezes os percebamos ou notemos o efeito do seu trabalho. O “laranja” se irradia no centro curitibano. Ser gari ou ser artista, eis o lance! Quando o lixo toma conta do que foi naturalmente limpo, é melhor tolhê-lo com a vassoura para que se torne limpo novamente.

NA WEB

Veja também ensaio fotográfico “Monumentos e suas representações” na revista Entreverbos. www.entreverbos.com.br

A essas personagens, às quais seguramente poderíamos dar o título de heróis, damos mísera importância. Como não exercitamos o direito de pensar, de criticar, temos a tendência de aplaudir nossos aliciadores, ou seja, os artistas, e julgar que eles, com suas mentes diminutas, são exemplos a serem seguidos. Quiçá um dia não daremos o devido valor para essas pessoas cujo trabalho digno merecia reverências. Enquanto isso, nos aborrecemos com a sujeira das nossas ruas, mas não queremos levantar um dedo para removê-la. E quem está lá? O gari, cujo trabalho árduo é seu sustento, e em troca não pede mais do que pode ter, sem perder o sorriso do rosto e o brilho do olhar.


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