Marco Zero 17

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MARCO ZERO Curitiba, dezembro de 2011

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MARCO ZERO

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano III • Número17 • Curitiba, dezembro de 2011

Um paranaense que faz sucesso no Brasil Divulgação

Consumismo pode ser doença

Claudia Bilobran

O ator e comediante Marco Zenni já gravou mais de 80 comerciais e no cinema fez parte do elenco de longasmetragens paranaenses como “Estômago”, “Corpos Celestes” e “Mistéryus”. Em entrevista ao Marco Zero, ele fala de sua carreira e da falta de incentivo à cultura. (p. 8)

Saudosismo e bons negócios

Ezequiel Schukes

Apesar da facilidade em buscar músicas na rede para baixar, o mercado do vinil ainda continua aquecido. Um exemplo pode ser encontrado em uma loja no centro de Curitiba, onde é possível encontrar raridades. (p. 9)

Cresce o número de pessoas que consomem de forma compulsiva, especialmente entre as mulheres (p. 6 e 7)


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EDITORIAL

RESENHA

Ao leitor

Eternos estagiários

Esta edição do jornal Marco Zero trata da situação dos bicicletários abandonados de Curitiba e da dificuldade que os ciclistas enfrentam para transitar e estacionar suas bicicletas pelo centro da cidade. Traz ao leitor uma matéria sobre força de vontade, disciplina e amor próprio que são os pontos-chave para uma dieta saudável e com resultado garantido. Aborda o consumismo feminino, as compras compulsivas das mulheres para estarem na moda e as dificuldades financeiras que elas enfrentam para satisfazerem seus desejos de consumo. Apresenta um entrevista com o humorista paranaense Marco Zeni, que vem se destacando no humor brasileiro, já teve participações em mais de 80 comerciais e fez parte do elenco do longa-metragem “Estômago”, do diretor Marcos Jorge. Mostra ainda uma matéria sobre o mercado do vinil e, na seção “Trilhas do Tempo”, fala da revitalização da Rua 24 Horas e sobre o novo calçadão que será construído na Avenida Cândido de Abreu, parte das obras para receber a Copa do Mundo no Brasil. Para finalizar, apresenta um ensaio fotográfico que participou de concurso da Aliança Francesa, em homenageou o fotógrafo húngaro Brassaï. Boa leitura!

Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter) * Melhor jornal-laboratório do Paraná em 2010: primeiro lugar no Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná Coordenador do curso de Jornalismo: Tomás Barreiros Professores responsáveis: Roberto Nicolato Tomás Barreiros Diagramação: André Halmata (7º período) Facinter: Rua do Rosário, 147 CEP 80010-110 • Curitiba-PR E-mail: assessoriajr@grupouninter.com.br Telefones: 2102-7953 e 2102-7954.

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Boca no trombone! Divulgação

De que atrações turísticas do centro de Curitiba você mais gosta?

vida das travestis que se prostituem. Como sempre, mostra vários lados da história: a travesti que primeiro foi O programa Profissão Repórter, acusada de cafetina e, depois, mosque combina reportagens com uma trou seu cafofo; a odisseia de uma tentativa de “reality show” de estagiá- mãe paraense em busca do seu filho, rios de jornalismo, passou ele próprio que volta para casa, mas continua se pelo longo caminho de ser estagiário: prostituindo e, finalmente, foge novadepois de dois anos aparecendo como mente para São Paulo. Essa nova fuga para São Paulo é seção do programa Fantástico, acabou o estágio e foi contratado, com mostrada junto aos créditos do programa. O final do programa é sempre horário fixo. Já os repórteres parecem não ter abrupto. Por vezes, esses trechos de passado pelo crivo do professor Bar- matéria mostrados às pressas acabam cellos, já que, depois de anos de re- tendo uma conotação moralista. Além da história da prostituição, portagens árduas, fazendo entrevistas em beiras de estradas, de rios e de ci- houve o caso do programa sobre reabilitação, que dades, ainda são retratados como “Os repórteres parecem não ter narrou a história da recuperação principiantes que passado pelo crivo do professor de uma garota virequerem a orienBarcellos, já que, depois de anos ciada em crack. O tação – e eventuais broncas – do de reportagens árduas, ainda são trecho final narra supervisor. tratados como principiantes” uma recaída que ela teve. Essa Mas essa tencena, a última do tativa de fazer com que os personagens sejam os repórte- programa, pode ser entendida como res é desnecessária e serve apenas uma mensagem de que a reabilitação para justificar a continuidade do nome é algo difícil, mas também pode ser indo programa. Os repórteres parecem terpretada como afirmação de que a querer mostrar serviço e terminam em reabilitação é algo inútil. É necessário situações agora atípicas de repórteres pensar que a edição também acarreta da Globo, mas que já vimos décadas conotações que podem não ser deseatrás, quando o Globo Repórter fazia jadas, então, é necessário cuidado. No geral, podemos continuar penreportagens de verdade e não se limisando que estamos assistindo a jornatava a entrevistar nutricionistas. Às vezes, a temática do programa listas iniciantes, mas estamos assispassa por assuntos mais sensaciona- tindo jornalismo de qualidade, ainda listas e, mais do que o Globo Repór- que com alguns problemas, mas que ter, lembra o Comando da Madruga- fazem coisas que jornalistas com mais da de Goulart de Andrade. Exemplo experiência já cansaram de fazer. Sodisso é o programa que retratou a brou para os estagiários. Matias Peruyera

O Paço da Liberdade é o ponto turístico mais bonito do centro de Curitiba. Acho linda a construção da antiga prefeitura de Curitiba. Depois da reforma, ficou muito charmoso. Rosa Maria da Silva, 60 anos, cozinheira O Largo da Ordem. Aos domingos, tem a feira de artesanato e a descontração dos bares que funcionam diariamente. Fabio Medeiros, 28 anos, editor de vídeo O Largo da Ordem, pelo clima descontraído, para curtir um happy hour com os amigos. Os bares são muito legais. A rua XV de Novembro é o centro da arte. Ali reúnemse os artistas de rua, pintores, repentistas. Na época de Natal, fica ainda mais charmosa com todas aquelas luzes e brilho. Gabriel Eloi de Marchi, 20 anos, estudante Eu gosto muito da rua XV de Novembro e do Largo da Ordem. O Largo da Ordem tem um visual retrô, um ar nostálgico que me agrada muito. E a Rua XV de Novembro já tem um ar mais clássico, mais bonito, de que eu também gosto. Daniele Alves Pinheiro Lourenço, 23 anos, estudante


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Curitiba, dezembro de 2011 MOBILIDADE

Construções com pouca utilidade

Boa parte dos bicicletários de Curitiba está abandonada. Com isso, as pessoas que trabalham e estudam no centro vêm encontrando dificuldades para estacionar suas bicicletas com segurança Claudiane dos Santos

O

s curitibanos que se concentram no centro e optam por ir de bicicleta para o trabalho ou para realizar algum serviço acabam tendo que improvisar o estacionamento para seus veículos em postes, placas de trânsito e cercas, entre outros locais. Logo, surge o questionamento: onde estão os bicicletários que deveriam estar à disposição dos ciclistas no centro da capital? Sempre que tem algo para fazer no centro da cidade, a agente administrativa Patrícia Conceição Mencacci, de 44 anos, diz que gostaria de poder ir de bicicleta, mas sabe da dificuldade que existe em ter que dividir a rua com os carros, além da preocupação de achar um local seguro para estacioná-la. “A procura por estacionamentos de bicicletas que tragam confiança sobre o lugar em que o ciclista deixa seu veículo é grande, tanto por parte de trabalhadores como por pessoas que usam as bikes para o lazer”, relata Fernando Eduardo Paulinho, 20 anos, atendente da loja e ajudante no bicicletário localizado no Passeio Público. Para quem costuma usar constantemente o serviço de estacionamento, são cobrados cinco reais por hora, com direito a manutenção em caso de necessidade. Hoje, a maioria das empresas tem um espaço reservado para os funcionários guardarem suas bikes. Paulinho dá a dica de que seria bom haver um serviço 24 horas, porque muitas vezes acontece de estragar a bicicleta, o que fica difícil para a pessoa ir embora. “O espaço é pequeno e não tem possibilidade de atender um grande número de pessoas. Por isso, é interessante que exista mais desses locais espalhados pela cidade”, salienta Em toda a região de Curitiba, existem seis bicicletários que permanecem sem uso. Estão localizados no Parque São Lourenço, no Jardim Botânico, no Centro Cívico, nas ruas da cidadania do Pinheirinho e do Carmo, na Avenida Arthur Bernardes e no bairro Santa Quitéria.

A Prefeitura os construiu em 2002 com o intuito de motivar a população a usar a bicicleta como meio de transporte e promover a mobilidade pública, ambiental e de saúde pública. Atualmente, eles estão abandonados. Ou seja, não existe cuidado nem segurança. Segundo a professora Hellen Bozza, de 51 anos, é uma pena os bicicletários estarem fechados e sem uso, porque mesmo vazios eles chamam a atenção de ladrões. “Imagine só se estivessem sendo ocupados? A segurança do local é péssima. Os ladrões roubam até os ferros e os bicicletários só serve para propaganda”, diz a professora. As únicas coisas que estão “estacionadas” nos bicicletários são o lixo e a ferrugem, indícios de abandono e descaso que os transformaram em depósito de sujeira. Como é algo inapropriado, as pessoas acabam percebendo que foi uma tentativa frustrada e que os órgãos responsáveis não vêem um projeto importante na ajuda de um trânsito melhor.

Insegurança

Patrícia Mencacci começou usar a bike para ir ao trabalho há cerca de um ano e durante esse tempo já teve uma bicicleta roubada. “Reforcei a segurança e hoje uso trava de moto”, afirma. Ela diz também que é muito complicado andar de bicicleta por não haver ciclovias. “O motorista não respeita o ciclista, e corro risco todos os dias. No trânsito, preciso ter a atenção redobrada”, lamenta. A chefe do gabinete do Ippuc, Mara Lúcia Guimarães, informa que os bicicletários foram construídos com caráter experimental, para posterior avaliação e definição de outros espaços. “O Plano Diretor Cicloviário prevê a implantação de paraciclos em diversos pontos da cidade, incluindo terminais de transporte. O planejamento pretende, também, ampliar a rede cicloviária e vias de forma a aludir todos os bairros e atender à demanda dos trabalhadores”, justifica. Em 2007, o Ippuc desenvolveu uma pesquisa do perfil do ciclista

Claudiane dos Santos

Abandono, descaso e depósito de sujeira nos bicicletários

em Curitiba e Região Metropolitana, cujo resultado apontou que 87% dos usuários de bicicletas são trabalhadores e fazem uso das bikes nos deslocamentos dentro da capital e nos municípios vizinhos. “Um novo modelo de paraciclos está sendo instituído com base nas necessidades dos ciclistas, e examinado pela Câmara Técnica de Mobilidade, da qual participam representantes dos ciclistas. O pa-

raciclo é um mobiliário urbano que serve como estacionamento em locais onde haja demanda desse tipo de modal. Tudo faz parte do Plano Diretor Cicloviário”, finaliza a chefe do Gabinete. Foram abertas pela Urbs três licitações para a contratação de permissionários, até o momento sem interessados. Os bicicletários são equipamentos terceirizados com controle público e que geraram custo para os usuários.

Projeto pode melhorar mobilidade “Existem em torno de 80 bicicletas que a Prefeitura poderia pôr à disposição da guarde municipal e infelizmente estão paradas. Por que não aproveitarmos esses veículos para levar segurança à população e promover um incentivo a todas as pessoas a optarem por esse meio de transporte?”, questiona o guarda municipal Josué Juliano de Oliveira, de 39 anos. O projeto piloto Jardim Botânico-Centro – A Ciclo Patrulha Comunitária inicialmente contaria com 27 guardas que trabalhariam em duplas. “A finalidade desse projeto está na Copa do Mundo. Seria importante se a prefeitura ou o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) o visse como uma forma de trazer beneficio à capital. O trânsito já está

complicado, e, por isso, é necessário ir pensando em 2014 com um bom planejamento, tanto antes como depois da Copa, pois possibilitará uma maior mobilidade na cidade,” completa Oliveira. O projeto precisa contar com a participação de empresas privadas. Haverrá ainda um espaço reservado para as pessoas que desejam sair de bicicleta. Como se trata de um projeto piloto, inicialmente, as vagas de estacionamento serão limitadas. “A Prefeitura não atendeu o projeto que duas vezes foi apresentado na Câmara dos Vereadores”, conclui o guarda municipal. Agora, o idealizador do projeto vai fazer algumas alterações no plano para que se torne mais viável e novamente tentar fazer com que a ideia seja vista com bons olhos.


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PERFIL

“Muito Prazer. Eu sou um

Força de vontade, disciplina e amor próprio são os pontos-chave para uma dieta saudável e c Claudia Bilobran

Claudia Bilobran “Se eu posso, todos podem”. Essas são as palavras de Silvana Batista quando fala sobre sua odisseia em busca de autoestima, saúde e perda de peso. Silvana, de 35 anos, gerente de uma conceituada agência de turismo de Curitiba, sofreu muito preconceito e passou por situações desagradáveis ao chegar aos 135 quilos. Cansou de chamar a emergência para atendê-la em seu local de trabalho e deixou de frequentar bares, cinemas e teatros por não “caber na cadeira”. Em um ano e meio, ela mudou esse perfil, de “obesa reclusa” para “baladeira de plantão”. Em entrevista ao jornal Marco Zero, Silvana conta como conseguiu eliminar 40 quilos sem tomar qualquer tipo de anorexígeno, apenas com muita força de vontade, disciplina e exercícios físicos diários. Você sempre foi obesa? Sempre fui gordinha. Já fui mais magra, mas tomando remédio. Na verdade, ainda sou e ,se eu parar de Sivana Batista: hoje com 40 quilos a menos e 100% de amor próprio e saúde e muito feliz por suas conquistas. fazer tudo o que estou fazendo, volto mudar. Chegava em casa e comia e emagrece, mas quando para engorda tomando porque o organismo sente a ser o que era há um ano e meio. depois chorava e ficava me sentindo tudo de novo. Fiz a dieta da proteína e falta da bendita, é uma droga, literalmuito infeliz, incapaz de fazer algo emagreci bastante, fiquei bem magra, mente falando. Desde que idade? Desde a adolescência. Quan- para mudar a minha vida, e com isso mas acabei ficando com um problema do criança, eu não era gordinha; so- engordava ainda mais. sério nos rins. A gente não consegue Como estava a sua saúde com tanmente após os 13 anos eu engordei. manter essas dietas loucas, não tem tas oscilações de peso e dietas? Chegou a pensar em fazer redução como passar a vida toda comendo so- Devido ao excesso de peso, tido estômago? E na escola? Como era? mente proteínas, ou somente verdu- nha problemas de hipertensão e semSim, mas tenho uma prima ras, ou apenas tomando liquido. Isso pre fui muito ansiosa. Juntou ansiedade Até os 13 anos, não tive pro- blemas, mas quando fui para o segun- que fez e passou muito mal, teve é humanamente impossível. com obesidade, mais stress de trabalho, do grau (atual ensino médio) é que problemas no pósas frustrações de dietas doidas e minha “Tomei todas as boletas comecei a passar por situações chatas operatório, daí acabei Você tomou muitas baixa autoestima. O resultado não poficando com medo e possíveis para emagrecer. “boletas”? e a sentir preconceito. deria ser diferente: o pessoal da emerdesisti da ideia. Na E emagrecia horrores, mas Sim, tomei to- gência sempre era chamado para me Por que situações constrangedoras verdade, sempre fui emagrecia e ficava com das as boletas possí- “visitar” durante o horário de trabalho, contra esse tipo de você passou? um aspecto de doente” veis para emagrecer. até que um dia a minha pressão arte Até os 18 anos, não ligava procedimento. Seria E emagrecia horro- rial não baixava com os medicamentos muito para o fato de ser gordinha, a última opção caso res, mas emagrecia convencionais e tive que ir para um mas depois as coisas começaram a minha decisão de emagrecer não des- e ficava com um aspecto de doente. hospital, de ambulância e tudo. Foi nesficar estranhas. Na rua, já fui chama- se certo. Mas aos poucos estou con- A pele ficava feia, meus cabelos fica- se momento que percebi que teria que da de baleia; já quebrei cadeira ao me seguindo o que quero e com muita vam sem brilho, vivia mal humorada. mudar muitas coisas em minha vida. sentar; em shows, me insultavam para saúde e disposição. A boleta é o pior de todos os métodos Meus exames clínicos e laboratoriais eu sair da frente, já entalei na roleta do para perder peso, porque depois que estavam com bons resultados. O médiE as dietas malucas? ônibus... Era muito triste. você para de tomar, engorda o dobro co diagnosticou que meu problema era Fiz todas. Dieta da USP, die- do que tinha emagrecido. Isso quan- de fundo emocional, e eu sabia que era Como você reagia a tantos insultos? ta da Lua, dieta do presunto, o que do não vicia, e se acontece você para por conta da obesidade. Passei por um Eu comia em vez de tentar aparecia de novo eu fazia. A gente até de emagrecer, mas precisa continuar psiquiatra; durante algum tempo, tomei


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ma nova mulher”

com resultado garantido, afirma a gerente de turismo Silvana Batista plício, porque as poltronas são muito pessoa mais importante do mundo sou pequenas, o espaço entre elas é minús- eu. Como diz a música: “Eu me amo e culo. Para se ter noção do meu cons- não posso mais viver sem mim”... trangimento: o cinto de segurança não fechava, eu apenas fingia que o fazia. Qual a maior dificuldade que você Nos aviões, existe um extensor para encontrou durante os 18 meses de aumentar o tamanho do cinto, mas reeducação de vida? Eu costumo brincar dizenVocê tem algum tipo de acompa- eu me recusava a pedir porque seria do que esse processo de reeducação humilhante demais admitir na frente nhamento profissional? Eu participo do Vigilantes do de todas aquelas pessoas o quanto eu é como se fosse um emprego novo: Peso. Foi por intermédio de minha estava gorda. Parei de ir ao cinema e tem um prazo de três meses. Passar irmã que conheci o grupo comecei a ao teatro porque simplesmente eu não por esse período de experiência para se frequentar as reuniões. Eles têm um cabia nas poltronas. Foram dez anos acostumar à nova vida é muito difícil, plano alimentar que permite que a da minha vida que passei me privando mas depois vai embora. Uma das coigente faça algum exagero alimentar, de pequenos prazeres. Odiava ser fo- sas que mais me marcou foi o quando mas sem sacrificar o emagrecimento. tografada .Quando via uma câmera, já comecei a frequentar academia. Fazer Tem uma quantidade “x” de calorias me escondia. Praia e piscina eram algo dez minutos de esteira era muito difícil, não tinha fôlego e suava em bicas, que eu posso ingerir durante um dia raro. Foi um período terrível. qualquer exercício que fazia transpirar todo e eu só vou emagrecer se não ultrapassar esse valor calórico. E ain- Além da saúde e da autoestima, horrores. Eu sempre tive um pouco de da conto com um auxílio de vários aconteceu algo mais a fez querer preconceito com pessoas mais gordas exatamente por isto: suam demais e profissionais. Além do pessoal do emagrecer? Sim. Me apaixonei perdidamen- dão a impressão de pouca higiene, enVP, tenho a ajuda de uma nutricionis- ta, e um personal trainer; aliás, sem ele, te por um amigo de longa data. Nos tão, eu me odiava por isso, morria de eu não teria coragem nem de entrar víamos muito, as poucas vezes que eu vergonha de transpirar tanto. Tive que na academia para treinar. Tenho esse saía de casa era com ele, sempre almo- lutar contra isso, eu tinha nojo de mim acompanhamento três vezes por sema- çávamos juntos, éramos inseparáveis. mesma e imaginava que todas as pessona. É um investimento caro, mas para a Mas para ele eu era apenas uma que- as que estavam à minha volta também. minha saúde vale a pena cada centavo rida amiga e nada “Essa história de começar Procurei ajuda de um psiquiatra para pago. Eu sempre odiei academias, só mais. Eu sabia dos dieta na segunda feira é rouaprender a lidar de pensar em entrar em uma me dava seus relacionamenarrepios. Eu pensava que as pessoas tos; afinal, eu era a bada. Cada um tem o seu dia com isso. Depois iriam me olhar e dizer: “Para ela, isso pessoa com quem de “cair a ficha” e perceber de muita conversa e medicamentos, não tem mais jeito, olha só o tamanho ele confidenciava que precisa mudar” percebi que tudo dela”. Achava que as pessoas iriam me tudo o que aconteera coisa da minha olhar com nojo, com raiva, mas era tudo cia em sua vida. Ele coisa da minha cabeça. Quem procura saía com várias mulheres, magras, altas, cabeça. Eu achava que o universo estava uma academia está atrás de saúde. Cla- bonitas. Então, decidi que iria emagre- contra mim, que tudo o que eu fazia era ro que sempre tem aqueles que vão só cer para conquistá-lo. Já existia uma errado, que ninguém me amava e compara manter uma bela silhueta e fazer grande sintonia entre nós, só faltava ele preendia. Tudo coisa da minha cabeça. desfile de moda esporte, mas a maioria me enxergar como uma mulher linda, sensual e magra. Comecei a emagrecer, Como foi o início da transformação? é preocupada com a saúde. O Forrest Gump, um dia, do e a nossa amizade continuava a mes- O que você deixou de fazer quando ma, ele não dava indícios de que um nada, começou a correr... Eu comecei dia iria me olhar com paixão, até que a andar. Depois da visita ao hospital, estava com muito peso? Deixei de ir ao casamento de caiu minha ficha. Para alguém gostar aquela paixão... eu desmbestei a andar. uma das minhas melhores amigas, e de mim, primeiro eu teria que me amar Uma noite, depois do trabalho, eu fui me culpo muito por isso, mas não ti- muito, e foi o que fiz. Deixei de pensar caminhar, andei da minha casa até a nha roupa que me servisse, tudo o que somente naquele rapaz e aprendi a me praça Oswaldo Cruz, foi uma hora e eu provava ficava horrível. Não existe amar. O foco passou a ser eu, Silvana. meia de caminhada. E assim foi duroupa de festa para obesos, nem para Descobri que tudo o que estava fazen- rante três meses. Eu só não saía para vender, nem para alugar. Aliás, eu des- do seria única e exclusivamente por caminhar se estivesse chovendo muicobri que em Curitiba não há loja que mim. Quanto ao rapaz, continuamos to, e nesse tempo eliminei dez quilos! venda roupas legais para gordinhas, eu os melhores amigos de sempre, e agra- Foi a partir daí que resolvi contratar tinha que ir para São Paulo para com- deço por ele ter ficado ao meu lado nas um personal e comecei a frequentar prar roupas. Viajar de avião era um su- horas em que mais precisei. Mas hoje a academia três vezes por semana. No medicamentos para ansiedade e comecei a fazer caminhadas diárias de uma hora e meia, mais ou menos, e a mudar minha alimentação. Deu certo. Depois de três meses, eu já tinha emagrecido dez quilos e isso me animou muito.

início, entrava na academia e não falava com ninguém, morria de vergonha. Hoje, converso com todos, me sinto segura para ir sozinha e até dou conselhos Digo que o remédio que tomei foi “vergonha na cara”. E quando bate aquela vontade de comer coisas gostosas, o que faz? Para mim, guloseimas são como uma droga, então, eu não compro. Não tenho bolachas, chocolate, Miojo, essas coisinhas rápidas e gostosas de comer quando a gente tem fome, mas tem preguiça de cozinhar. Minha irmã mais nova vem morar comigo, e já avisei que ela vai ter que entrar no meu ritmo: nada de “besteirinhas”. Recentemente, fui a um casamento muito bacana que tinha comidas maravilhosas, e só comi os grelhados e a salada. Quando vieram os doces, só comi a cereja. Resisti bravamente. Mas tem horas que não dá para aguentar. Se saio um pouco do regime, compenso nos exercícios aeróbicos na academia. Qual a melhor coisa de estar magra? Receber elogios três vezes por dia, de pessoas diferentes, entrar naquela roupa maravilhosa, viajar de avião e sobrar bastante cinto de segurança, me sentir feliz e confiante. Encontrar parentes que não via há muito tempo e ouvir: “Como você emagreceu! Está linda!” Vou sentir falta dos elogios depois que todos se acostumarem com a nova Silvana magra. Perceber que todo meu esforço está valendo a pena e todos percebem como estou feliz. O que você diria para quem já tentaram todas as dietas possíveis e não conseguiu um bom resultado? Essa história de começar dieta na segunda-feira é roubada, qualquer dia é dia. Cada um tem o seu dia de “cair a ficha” e perceber que precisa mudar. Eu quero “evangelizar” todos os gordinhos que encontro, mostrar que, como eu consegui, qualquer um pode. Basta ter força de vontade, disciplina e determinação e acreditar que vai dar certo, sem precisar usar remédios que tiram fome ou cirurgias que mutilam, e acreditar muito em si mesmo.


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Oneomania, a doença d

ESPECIAL

Para as pessoas que consomem sem necessidade, o mundo ideal poderia ser feito de vitrines e ca Patricia Rueda Regiane Silva

C

resce a cada dia o número de mulheres que consomem sem motivo algum; garotas que compram compulsivamente apenas pelo prazer do consumo. Elas gastam em busca de acabar com o stress cotidiano. Com isso, acabam acumulando dívidas desnecessárias no orçamento do mês. Os consumistas compulsivos são pessoas que não conseguem controlar seus impulsos diante de uma vitrine e utilizam seus cartões de créditos como armas contra si mesmos. Esse comportamento é mais comum entre as mulheres. Segundo uma pesquisa do Ibope Mídia, 21% das brasileiras vão às compras para se sentirem mais calmas e felizes. Foram ouvidas 3.400 pessoas em 11 regiões metropolitanas do Brasil e concluiu-se que a população gasta, em média, 15% da renda familiar com compras pessoais. No caso das mulheres, as compras costumam ser de roupas e acessórios. A universitária Cristiane Takaya, de 22 anos, faz compras a cada duas semanas. Ela compra roupas em geral, sem nenhuma preferência por marcas, mas consome acima do normal. “Considero-me uma pessoa consumista, pois compro coisas das quais não preciso, por ser tendência e estar na moda e não por necessidade”. Ela diz ter consciência de que é consumista e por isso tenta manter o controle. Porém, a vaidade termina superando a consciência, e ela acaba consumindo algo desnecessário. “Às vezes, me sinto triste e tento suprir com compras”, conta. Cristiane também cita que já se endividou por comprar demais. A jornalista Juliana Guerra diz que todo mês compra alguma coisa e, quando isso não é possível, convence alguém a lhe dar um presente. “Não penso muito em manter dinheiro até receber o próximo salário. Com dinheiro na mão, eu gasto”, relata. Seus maiores gastos são com maquiagem, roupas e restaurantes. “Roupas nem

Cristiane Takaya: “Sou uma pessoa consumista, pois compro coisas das quais não preciso, por ser tendência e estar na moda e não por necessidade”

tanto, compro menos, mais quando cartão de crédito. O meio eletrônico precisa mesmo. Já maquiagem, que eu leva 26% do dinheiro gasto pelas connem uso muito, eu compro sempre”, sumidoras com prestações mensais, afirma. mais do que com empréstimos, cujo Ela diz que comprar é quase gasto é de 22%, e financiamento de terapia. E sair de casa com uma roupa automóveis, 19%. nova, se sentindo bo O cartão traz Não penso muito em nita, é a melhor coisa certa comodidade, no para elevar sua autoesentanto, também aumanter dinheiro até tima. Também comenmentou a inadimplênreceber o próximo ta que já se endividou salário. Com dinheiro cia entre as mulheres, no cartão de crédito que chegam a 55% das na mão, eu gasto” por comprar demais. pessoas cadastradas “Logo que entrei na no Serviço de Protefaculdade, fiz cartões de todas as lo- ção ao Crédito (SPC). Um dos atratijas que aceitavam ‘universitário’ como vos trazidos pelos cartões de crédito é profissão. Foi bem difícil conseguir o sistema de pontos, que dá direito a pagar tudo”. benefícios como, por exemplo, passa Segundo pesquisa da Quórum gens aéreas. Por isso, várias mulheres Brasil, mulheres das classes B e C uti- optam por esse meio de pagamento. lizam cerca de 18% do seu orçamen- Para a jornalista Fabiana Lima, to com o pagamento das faturas de o cartão de crédito traz mais facilida-

des na hora da compra, pois com ele é possível fazer compras on-line em sites de descontos. Ela também o utiliza por oferecer prazos, mesmo sabendo que isso pode comprometer seu futuro financeiro. Fabiana compra principalmente para sua filha Isis, de quatro anos. Apesar de se considerar consumista, gosta muito de liquidações, pois dessa forma consegue fazer o dinheiro render mais. “Não sou de ficar gastando em coisas caras No geral, consumo normalmente, a não ser que realmente seja uma boa promoção, daí eu compro e gasto mesmo”, comenta. Ela faz compras a cada dois meses aproximadamente, a não ser quando surge uma boa oportunidade de adquirir algo bom e barato. Uma dica que Fabiana deixa é ir às lojas em trocas de estação e procurar sites de


do consumo ESPECIAL

artões de crédito

desconto, como, por exemplo, o Privalia, onde, segundo ela, sempre há coisas boas e baratas. “Procuro buscar bom preços e qualidade no produto”. A dentista Ana Ganske diz que, como toda mulher, sempre gostou de comprar, porém, hoje adquire roupas em lugares que considera ligados na moda atual. Ela gosta muito de saber das tendências e prefere levar poucas peças, mas que combinem com o que já tem. Ana diz ter gasto, nos últimos seis meses, cerca de R$ 10 mil reais em roupas e R$ 1.500 reais em sapatos e maquiagem. A compulsão por comprar é chamada de oneomania. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 1% da humanidade sofre dessa doença. No Brasil, pesquisas da Uni-

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versidade de São Paulo (USP) mostraram que os oneomaníacos chegam a 3% da população. Quem mais tende a manifestar a compulsão são as mulheres, os jovens e, recentemente, os internautas. Um aspecto comum aos oneomaníacos é o impulso desenfreado em ter determinado item, independentemente de sua utilidade ou necessidade real. Para quem sofre com a doença, é essencial ter organização financeira. Saber o quanto ganha e o quanto se pode gastar é importante para os oneomaníacos que queiram sair das dívidas. A recomendação é que passem a anotar os custos e fazer planilhas de gastos, para não voltarem mais a ter um orçamento negativo.

Juliana Guerra: “Não penso muito em manter dinheiro até receber o próximo salário”

Os melhores amigos

Rodrigo Custodio Se na década de 50 Marilyn Monroe cantava que os diamantes eram os melhores amigos de uma mulher, a premissa parece não se adequar às mulheres atuais. Ao que indicam personagens de livros, filmes e seriados, os sapatos é que tomaram o posto dos diamantes. Sem dúvida, isso é verdade para as mulheres reais, que precisam da praticidade e elegância de um bom par de sapatos ou sandálias para encararem um dia de trabalho, uma festa ou uma balada. No dia 24/11, aconteceu a inauguração da loja My Shoes, no Shopping Curitiba. A grife conta com mais de 300 franquias no Brasil e prima pela qualidade e excelente acabamento dos sapatos, sandálias, sapatilhas, bolsas e clutchs, tudo em sintonia com as tendências atuais, que vão desde o python colorido até as estampas degradê. Os peep toes ganharam versões atualizadas e sofisticadas em dourado e prata, além das tradicionais cores vermelho e preto, e a coleção de

inspiração tropical desenhada pelo estilista Amir Slama, da Rosa Chá. As sapatilhas em diferentes materiais, como couro e camurça, vêm em várias cores e ornamentos, como pedrarias e laços. Para mulheres que não abrem mão da sofisticação na hora do trabalho, a My Shoes conta com sapatos de saltos mais grossos e médios, nas cores camelo e preto, mais fáceis de combinar. Para abranger todos os gostos, os acessórios da My Shoes são divididos em quatro linhas: casual, work, fashion e festa. A dona da franquia curitibana da My Shoes, Grazielle de Vilar, conta orgulhosa que a elegância e a fácil composição do look proporcionada pelos sapatos são uma das causas da obsessão da mulher contemporânea por eles. Apesar da dificuldade de andar pelas calçadas de Curitiba, ela acredita que há uma variedade de sapatos que oferecem conforto ao caminhar, sem deixar de lado a beleza do acessório.


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ENTREVISTA

Paranaense que faz sucesso no Brasil

O humorista e ator Marco Zenni já gravou mais de 80 comerciais e participou de filmes como “Estômago” Guilherme Barchik

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incentivo auxiliam muito a produção no Brasil. Mas ao mesmo tempo criam uma facilidade para pessoas que não necessitam. Concordo com a lei de incentivo no sentido de levar cultura para a comunidade que não tem condições de comprar um ingresso. Sou contra utilizar meios de incentivo à cultura para espetáculos de grandes nomes que com certeza vão ter bilheteria. Às vezes, deixa-se de auxiliar via leis de incentivo quem precisa, que é a maior parte da população, que não tem condições de pagar. Em vez disso, acabam financiando espetáculos de medalhões que, além de serem pagos por empresas privadas, têm uma bilheteria de cem por cento. Quer dizer, só enriquecem mais ainda algumas pessoas e deixam de privilegiar a arte de quem não tem acesso.

jornal Marco Zero conversou com o humorista Marco Zenni. Na entrevista, ele comenta a Lei de Incentivo à Cultura, fala sobre a atual fase do teatro paranaense e conta como foi trabalhar no dia do enterro de sua filha. Marco Zenni, além de comediante, é ator, radialista, improvisador e diretor e também um dos criadores do Santa Comédia. O humorista já gravou mais de 80 comerciais. No cinema, fez parte do elenco de longas-metragens paranaenses: “Estômago”, do diretor Marcos Jorge, “Corpos Celestes”, de Marco Jorge e Fernando Severo, e “Mistéryus” do diretor Beto Carminatti. Zenni também foi um dos comandantes do programa de rádio “Boa da Pan”, da emissora Jovem Falta no Paraná “garimpar” a arte, Pan Curitiba. procurar e promover manifestações populares? O que pode ser classificado como Em qualquer lugar, santo de cultura? casa é difícil de fazer milagre. Os Cultura pra mim é qualquer meios de comunicação dão ênfase manifestação artística de grupo, muito mais ao que vem de fora, até qualquer forma de arte que demons- mesmo sem qualidade, do que ao que tre ao povo uma maneira de visuali- vem daqui. Curitiba, por exemplo, zar o mundo. tem a Lei de Incentivo Municipal e o Fundo Municipal de Cultura, que O que significa cultura popular auxiliam de alguma maneira as manipara você? festações artísticas. Mas falta à mídia A gente não pode esquecer acreditar e divulgar seus trabalhos, que o teatro nasceu e, aos artistas dada manifestação do “Os meios de comunicação qui, acreditarem que povo, da conversa, seus trabalhos são dão ênfase muito mais da história na préao que vem de fora, até produtos, que precihistória, quando os mesmo sem qualidade, do sam fazer bilheteria. caçadores contavam É preciso sobreviver que ao que vem daqui” suas lendas. A cultunão só através do ra popular é muito mecanismo da lei, forte no Brasil e demonstra muito o mas também fazer com que as pesnosso caráter, nossa maneira de ver o soas vão ao teatro, consumam e pamundo e também o lado religioso. guem pelo trabalho do artista. Em geral, como você avalia o mecanismo estatal de incentivo à cultura? A gente vive em um país em desenvolvimento, então, não tem muita verba para cultura. O povo não é acostumado a consumir cultura como um produto, e as leis de

Como valorizar o teatro daqui? Acho que a mídia tem que começar a ver com bons olhos. O Festival de Curitiba aconteceu, e os grandes críticos do Brasil elogiaram a produção dos espetáculos de teatro de Curitiba, das companhias independentes, companhias de processo,

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Zenni: “Sou contra a lei de incentivo à cultura a grandes espetáculos que com certeza vão ter bilheteria”

de repertório. Falta realmente a mídia fiz uma das maiores apresentações olhar para o que é daqui. Vamos ser da minha vida de humorista. No um pouco mais “gaúchos”, né?! final, disse para a platéia que eu tinha enterrado minha filha naquele Qual a importância do Festival de dia. Muitas pessoas pensaram que Curitiba? era piada de humor negro. Eu disse: O festival é importante, mas- “Hoje, minha filha foi enterrada, e sifica a cultura, mais pessoas se to- vocês foram os melhores pêsames cam que em Curitiba existe teatro. que eu poderia receber, a risada de Mas isso acontece porque o festival vocês, a alegria de vocês, a boa enervem com uma mídia maior, vem gia que vocês me deram.” O humor com um guia, e há uma atenção es- tem uma força, uma alegria que a pecial da mídia. Mas, infelizmente, gente não pode diminuir. após o festival, as pessoas esquecem que acontecem espetáculos no tea- Onde o público pode encontrar tro paranaense. você? Pelo twitter, que é @marco Qual a sensação ao ver que as pes- zenni, pelo facebook (Marco Zenni) e soas estão rindo do seu trabalho? no meu site: www.marcozenni.com.br. Indescritível, é uma loucura. Não tem energia maior do que Deixe um recado final a risada, a gargalhada. Penso que as Stand-up comedy não é uma pessoas desmerecem a arte de fazer moda passageira. Isso se demonstra rir. Tem arte que é para refletir, tem no interesse das pessoas em relação arte que é para divertir, e tem arte ao gênero. Stand-up é teatro, é criação. de fazer rir. A gente não pode ter Valorizem a cultura curitibana, valopreconceitos com a arte, e infeliz- rizem o que é daqui. É chato você mente muitos colegas o têm na clas- ver que o artista curitibano tem que se artística. Gosto de lembrar de um sair daqui e ir para o eixo Rio-São momento da minha vida, quando a Paulo para que os curitibanos recominha filha faleceu. No mesmo dia nheçam o trabalho dele. A gente tem em que a enterrei, eu tinha um es- uma qualidade que faz inveja a outros petáculo. Minha mulher chorando, estados. Olhem a cultura paranaense minha família muito chateada, e eu com mais carinho. O que é daqui é muito mal. Fui para o espetáculo e bom, muito bom.


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MARCO ZERO

CULTURA

Saudosismo e bons negócios

Loja no centro de Curitiba comercializa preciosidades em vinil que atraem colecionadores Ezequiel Schukes Quister

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uem tem um pouco mais de 30 anos ainda se lembra da época em que os discos de vinil enchiam as prateleiras das lojas pelo Brasil. Hoje, não se pode dizer que são os CDs que ocupam esses espaços, pois mesmo essas mídias já estão ficando obsoletas diante da possibilidade quase infinita de downloads de arquivos musicais na internet. A facilidade em buscar na rede as obras tornou a música ainda mais difundida e mais comercial, se assim se pode defini-la. A cada minuto, são baixados milhões de bits em músicas e clipes, a maioria de forma ilegal. Esse contexto facilitou a entrada de muito material novo e a descoberta de muitos talentos. Mas ainda há pessoas que se mantêm à margem da modernidade e se abastecem do velho disco de vinil. Quem são elas? Se você apostou nas pessoas mais velhas, acertou em parte. Recentemente, a cantora Pitty lançou um disco cuja tiragem incluía a opção em vinil. Para aqueles mais atentos ao trabalho da cantora, restou a dúvida: por que a opção em vinil? Com certeza, não foi somente o preço baixo o principal elemento a definir essa opção da cantora. O mercado do vinil ainda continua aquecido. No Brasil, recentemente, uma das poucas empresas que ainda faziam a prensa de disco em vinil, a Polysom, no Rio de Janeiro, encerrou suas atividades. Em seguida, a empresa Deckdisk assumiu o controle acionário da Polysom, manteve o nome e atualmente quase não dá conta da demanda. Os reflexos desse resgate do vinil podem ser vistos no centro de Curitiba, onde fica a Vinyl Club, que, como o nome indica, tem um dos mais variados e principalmente raros acervos de

vinil da cidade. Seu proprietário, Marco Antonio M. da Cunha, de 42 anos, há mais 15 anos no ramo, argumenta que o principal motivo para a compra de um vinil é a qualidade do som. Segundo ele, um vinil tem mais qualidade porque em sua gravação não foram utilizados vários tipos de filtros, o que contribui para a perda de qualidade. O professor e produtor musical Otacílio Vaz endossa os argumentos de Cunha: “É verdade, o vinil tem um som melhor porque não passa pela compressão das frequências pela qual o CD passa. Isso fica mais perceptível nas baixas frequências”, explica”. Outro fator que, conforme Cunha, atrai os consumidores, é a singularidade das obras que ele possui em sua loja. Dos vários títulos divididos entre MPB e Rock and Roll, destacam-se alguns discos que são verdadeiras pérolas, como um de Raul Seixas e outro de Pedro Santos. Cada um desses discos teve tiragem limitada a apenas mil cópias. Isso os torna singulares e objeto de apreço dos colecionadores. É claro que o valor comercial também é digno de colecionador: cada um sai por R$ 1.500,00. Segundo Marco Cunha, seu público é bem eclético e de idade variada. Ainda predominam aqueles com mais de 30 anos, que buscam reviver a época em que o vinil era comum. A maioria desse público é bem segmentada e faz parte de um círculo de pessoas que tem gostos afins, como é o caso de Luiz Antonio (de 56 anos), que há mais de dez anos conhece e compra discos na Vinyl Club. A relação entre eles já passa do comercial, pois se tornaram amigos. Luiz tem apreço pela música brasileira e, como muitos, compra de três a quatro discos por mês. Ele confirma a tendência desse tipo de comércio: a especialização e o atendimento exclusivo. Em geral, as pessoas que compram na loja

Alguns discos que são verdadeiras pérolas, com o de Raul Seixas, com tiragem de apenas mil cópias

Ezequiel Schukes

A loja Vinyl Club tem um dos mais variados e raros acervos de discos de vinil de Curitiba

de Marco Cunha são colecionadores ou aficionados por coisas raras. “Às vezes, o Marco me liga e diz: ‘Olha, chegou uma coisa nova que eu acho que você vai gostar’ ”, comenta Luiz. Não é estranho que Marco ligue para seu cliente quando algo novo está disponível para venda, pois nesse tipo de comércio o tratamento individualizado e uma relação mais intimista com o cliente são característicos. Cunha mantém um canal de vendas pela internet, em seu blog (lojavinylclub.blogspot.com), no qual, entretanto, só deixa disponíveis as informações sobre os discos mais raros. Ele também é fundador e organizador de

uma feira de discos raros que acontece anualmente em Curitiba. Para 2012, a previsão é de que a feira aconteça em janeiro, no Memorial de Curitiba. Ainda não há data certa para o evento, porém, aqueles que tiverem interesse podem consultar o blog indicado a partir do início do ano que vem. DISCOS RAROS

• Raul Seixas, Let me sing my rock’n’roll , R$ 1.500,00 • Pedro Santos, Krishnanda, R$ 1.500,00 • Lula Côrtes e Zé Ramalho, Paebirú, R$ 1.000,00 • Brazilian Octopus, R$ 800,00 • Geração Bendita, R$ 650,00 • Baobás, R$ 500,00 Ezequiel Schukes

Marco Antonio da Cunha: humor na loja e destaque para a qualidade do som do disco de vinil


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Curitiba, dezembro de 2011

Curitiba ganhará novo calçadão para pedestres

TRILHAS DO TEMPO

Rua 24 Horas: um marco para a cidade de Curitiba

Divulgação

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Beatriz Szymanski Situada na cidade de Curitiba, a Rua 24 Horas é conhecida por ser a primeira rua comercial coberta no Brasil. Ela faz ligação entre as ruas Visconde de Nácar e Visconde do Rio Branco. Quando inaugurada, em 1992, tornou-se um marco na história, não só de Curitiba, como também do Brasil. Construída em estrutura metálica tubular coberta, composta por 32 arcos com dois grandes relógios, o lugar, com funcionamento interrupto, atraía turistas e era ponto de encontros e local de entretenimento. Após ser fechada, em 2007, a Rua 24 Horas serviu de espaço apenas para circulação de pedestres e também como abrigo para alguns moradores de rua, além de facilitar o tráfico de drogas que ali se estabeleceu. Um novo projeto de revitalização foi elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc) e pela Secretaria Municipal de Obras Públicas (Smop), com fiscalização de responsabilidade da Urbs, com a intenção de tornar a Rua 24 Horas novamente um ponto de referência para o cenário turístico em Curitiba. A reforma iniciou-se em junho de 2010 e foi finalizada em novembro de 2011. Para o embelezamento da Rua, foram mantidas as características arquitetônicas originais. O local também será ponto de chegada e saída da Linha Turismo. Foram instaladas lojas como revistaria, chocolateria, livraria, autoatendimento bancário, farmácia, cy-

bercafé, agência de turismo, agência dos Correios, confeitaria, artesanato, relojoaria, perfumaria e cosméticos, chaveiro 24 horas, central de turismo e espaço cultural. Para o proprietário de um restaurante vizinho da Rua 24 Horas, “a revitalização trouxe benefícios, primeiro por deixar de ser lugar de vândalos e baderneiros que acabavam atrapalhando a aproximação de clientes no restaurante”. Outro benefício apontado por ele é que, com a reabertura da Rua 24 Horas, cresceu o movimento no restaurante por se tornar um espaço de maior tráfego, principalmente por visitantes e turistas na cidade. Segundo o Engenheiro da Smop Luiz Bozza, responsável pela obra, foram instaladas nove lojas, vidro moderno que dá melhor conforto térmico, estacionamento, piso novo e novas canalizações elétricas e câmeras de segurança. Além disso, os dois grandes relógios, um em cada entrada, foram restaurados, mantendo-se o modelo original. Eles marcarão horas em 24 intervalos, em lugar de 12, sendo iluminados e comandados por uma central eletrônica a quartzo. A Rua 24 Horas sempre foi atração em Curitiba, na condição de ponto turístico, atraindo grande número de visitantes e movimentando o comércio local. Para a estudante Taís Michele Berttolo, a Rua 24 Horas sempre foi lugar de encontro dos curitibanos e também cartão postal para visitantes. “Com este estilo e arquitetura, já vi muito turista tirar foto e elogiar o cenário da Rua”, conta.

Curitiba”, argumenta. Se, por um lado, a mobili A pouco mais de dois anos dade dos pedestres melhora, por para a Copa do Mundo de futebol outro, o trânsito será um desafio que ocorrerá no Brasil, em 2014, para os motoristas. É no que aposCuritiba, uma das cidades-sede, co- ta a analista de desenvolvimento meça sua preparação. Dessa vez, Thais Loezer. “Se com quatro fainada relacionado aos estádios de fu- xas, às vezes, o transito naquela tebol, mas à mobilidade urbana. A região já é estressante, imagina se prefeitura municipal da capital para- diminuir”, reclama a jovem. naense retomará o caminho para os No entanto, entre elogios projetos que consagraram a cidade e descrenças, de acordo com o curitibana na década de 1990. antropólogo e professor Rapha O novo calçadão que será el Hardy, todas as mudanças que implantado ao longo da Avenida envolvem o espaço urbano e um Candido de Abreu, alto valor de inno Centro Cívico, vestimento, em O novo calçadão terá a terá a extensão de qualquer cidade, extensão de quase um quase um quilôme- quilômetro e se estenderá p r i n c i p a l m e n t e tro e se estenderá nas capitais e às da Praça Dezenove de da Praça Dezenovésperas de um Dezembro até a Praça ve de Dezembro evento imporaté a Praça Nossa Nossa Senhora de Salete tante prestes a Senhora de Salete. acontecer, podem De acordo com a adminis- gerar inúmeras dúvidas quanto à tradora Francyelle Aranha, a cons- conveniência de se a realizar ou trução dessa via trará, de uma vez não alguma alteração. só, benefícios para alguns e male- Segundo o antropólogo, fícios para outros. “Acho que vai nesse caso, há há muitos prós e ser bom para os pedestres, mas contras. “O mesmo tipo de disvai dificultar a vida dos motoris- cussão ocorre com o metrô, a Litas”, afirma. nha Verde etc. A consciência do Francyelle argumenta ain- uso do espaço que se quer dar é da que, para um evento do porte que poderá dizer se esse investide uma Copa do Mundo, qualquer mento é acertado ou não. O que investimento vale a pena. “É um não pode é a obra, quando finaliinvestimento bom porque não vai zada, prejudicar a mobilidade que ser utilizado somente na Copa e existe hoje, por pior que ela seja”, vai facilitar para os pedestres de conclui. Hamilton Zambiancki


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Curitiba, dezembro de 2011

CRÔNICA

TÁ NA WEB

Espírito de Natal

Claudia Bilobran

Filosofando com Alexandre Nero Divulgação

Clarissa Brandolff Gindri Dizem que final de ano é uma época em que as pessoas ficam emotivas. Supostamente, o espírito de Natal traz o sentimento de união e alegria, fazendo com que estranhos se cumprimentem na rua, colegas de trabalho sintam-se mais inclinados a gentilezas, familiares reatem laços antes cortados, crianças cantarolem pelas ruas... ou não. Em Curitiba, pelo menos, isso definitivamente não acontece. Os adoráveis curitibanos continuam ignorando solenemente seus companheiros de elevador, lançando olhares fulminantes a todos aqueles que ousarem cruzar seu caminho na calçada e resmungando aparentemente sem motivo enquanto cumprem seus compromissos diários, ansiosos pela chegada das férias. O fim de um ano significa, na verdade, o pico de estresse e irritação com tudo aquilo que vem dando errado durante os últimos 12 meses. A viagem de janeiro que não aconteceu porque aquele tio teve uma crise de pressão alta; o início das aulas dos filhos, que logo na primeira semana já arrumaram confusão com os coleguinhas; a fúria interminável da mulher com o marido que esqueceu o aniversário de casamento; o sócio que não pagou as con-

tas; o amigo que virou inimigo depois de uma discussão sobre futebol; aquele desconhecido que pisou no seu pé já machucado pelo martelo que o mestre de obras da reforma interminável da sua casa havia derrubado no dia anterior; a fila gigantesca para comprar os malditos enfeites de Natal mais bonitos que os do vizinho; enfim, tantos motivos para querer estrangular a primeira pessoa que ousa dizer bom dia às sete da manhã de um dia chuvoso e frio em pleno dezembro. Há, no entanto, um pacto silencioso que, no fundo, nos faz tolerar um pouco mais as grosserias do próximo nesta época do ano. Compreendemos a situação do outro, pois também estamos passando por ela. Obviamente, isso não nos impede de responder suas palavras com o dobro de grosseria, mas, pelo menos, evita complicações maiores, fazendo com que seguremos a vontade de utilizar nossos conhecimentos de luta livre para resolver a situação. A essas alturas, todos buscam apenas sobreviver aos últimos dias de rotina trágica, focando todas as energias na palavra mágica que faz qualquer indivíduo, curitibano ou não, querer soltar fogos de artifício: férias! Isso, é claro, se aquele tio não tiver uma crise de pressão alta...

Curitiba mostra que é repleta de grandes talentos, tanto na música como no teatro e na televisão. Da caital paranaense saíram grandes nomes para a telinha, como Ary Fontoura, Luis Mello e Letícia Sabatella. Atualmente, um nome que vem se destacando é o de Alexandre Nero Vieira, cantor, compositor, músico, arranjador, sonoplasta, diretor musical e ator. Ele ficou famoso por suas atuações no teatro, principalmente no espetáculo “Os Leões”, e após ter feito o papel do verdureiro Vanderlei, na novela “A Favorita”, da TV Globo. Hoje, além de dar vida ao personagem Baltazar, na novela “Fina Estampa”, que vai ao ar às 21h na Rede Globo, Alexandre Nero está lançando seu novo trabalho musical, o CD Vendo Amor. No dia 24 de novembro, ele apresentou o clipe da música Filosofando. O clipe tem uma bela fotografia, e a voz de Nero é muito agradável. O clipe merece ser visto e compartilhado. www.youtube.com/watch?v=IygFKSkb860 Site oficial: www.alexandrenero.com.br

Para quem gosta de fotografia Divulgação

Para os que gostam da arte de fotografar, este vídeo é muito interessante. Dewitt Jones é um dos melhores fotógrafos profissionais da América. Ele combina as histórias de seus 20 anos na National Geographic com suas fotografias extraordinárias para ensinar a criatividade e divulgar sua visão do “celebrar o que é certo com o mundo”. Jones tem uma clientela que conta com empresas como Nike, Walt Disney e Ritz Carlton Hotels, entre outras. Este é o resultado de fazer um trabalho sério e muito bem feito e principalmente gostar do que faz. http://www.youtube.com/watch?v=Seghv-nrDDU


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Curitiba, dezembro de 2011

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Luzes distantes e devires Fotos e texto: Juliana Moraes*

Um concurso de fotografias promovido pela Aliança Francesa homenageou o fotógrafo húngaro Brassaï. O célebre Brassaï, que adotou a cidade de Paris como sua, trafegou também pelos universos da pintura, da escultura, do cinema e das letras. Seu trabalho habita o espaço urbano insólito e desconhecido e revela seu gosto pelo diferente e pelo proibido. O concurso contou com mais de 4 mil inscrições de fotógrafos do Brasil e da França, dos quais 30 foram finalistas. O concurso premiou um fotógrafo da França e outro do Brasil e também distribuiu prêmios de menção honrosa e um prêmio popular. O ensaio “Luzes distantes e devires” apresenta uma leitura imagética que se constrói a partir da própria noção de fotografia, o “escrever com luz”, e da perspectiva do distante enquanto momento passado, assim como o antônimo do próximo, conectando o projeto atual à obra de Brassaï. [*Juliana Moraes, aluna do curso de Comunicação Social da Facinter, esteve entre os finalistas do concurso, terminando em 7º lugar]


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