Juçara da Minha Cor: Reconhecendo e Valorizando o Território

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Gisele Reis Correa Saraiva Tayomara Santos Raquel Noronha

Juçara da minha cor reconhecendo e valorizando o território

São Luís

2020


Copyright © 2020 by EDUFMA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Prof. Dr. Natalino Salgado Filho Reitor Prof. Dr. Marcos Fábio Belo Matos Vice-Reitor EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Prof. Dr. Sanatiel de Jesus Pereira Diretor CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Esnel José Fagundes Profa. Dra. Inez Maria Leite da Silva Prof. Dr. Luciano da Silva Façanha Profa. Dra Andréa Dias Neves Lago Profa. Dra. Francisca das Chagas Silva Lima Bibliotecária Tatiana Cotrim Serra Freire Prof. Me. Cristiano Leonardo de Alan Kardec Capovilla Luz Prof. Dr. Jardel Oliveira Santos Prof. Dr. Ítalo Domingos Santirocchi Revisão Maria Cícera Nogueira Projeto Gráfico Nayana Gatinho da Silva Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Juçara da minha cor: reconhecendo e valorizando o território / Gisele Reis Correa Saraiva, Tayomara Santos, Raquel Noronha. — São Luís: EDUFMA, 2020. 105 f. ISBN: 978-65-86619-18-8 1. Juçara- Semente- Artesanato. 2. Açaí. I. Titulo. CDD 634 CDU 634.613:745 Elaborada por Neli Pereira Lima— CRB-13/600


Pessoas que fazem acontecer... Dedicamos este livro a todos os moradores do bairro do Maracanã, em especial às pessoas que tivemos a oportunidade de conhecer e de estar juntas durante toda a pesquisa: D. Cotinha, nosso primeiro contato. Adriano Algarves, nosso guia, conhecedor exímio do Maracanã e facilitador de contatos durante toda a pesquisa. Magno Coutinho e Rita Moraes pela cordialidade em nos mostrar todo o processamento do fruto da juçara. Conceição Neves, carinhosamente chamada de D. Concita, artesã que nos mostrou o artesanato do Maracanã, através dos seus saberes e fazeres, e nos levou a conhecer todas as outras artesãs. Tatiane Mendes, nossa querida Tati, dedicada artesã, presença forte no Projeto, sempre querendo aprender e nos ensinar sobre as riquezas do Maracanã. Senhor José Felipe, esposo de Tati, que nos permitiu utilizar a sua casa como espaço para realização das etapas do Projeto. Kátia Moraes, Ednalva Veloso (Edinha) e Regina, artesãs que, assim como Tati, decidiram receber este Projeto de braços abertos e formar o grupo Fruta Rara. Sem vocês, esta pesquisa não teria como acontecer. Nossa imensa gratidão.


Sumário 06 08 10 13

Prefácio Apresentação Nos caminhos da pesquisa... Introdução Capítulo 1 Maracanã, das bases históricas aos dias atuais

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Capítulo 2 Juçara: “Joia Rara da Nação”, riqueza do Maracanã

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Capítulo 3 Voa, Maracanã, nas asas do Folclore

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Capítulo 4 Visualizando uma oportunidade

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Capítulo 5 Lapidando a joia rara

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Capítulo 6 Tingimento natural: valorizando a flora local

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Capítulo 7 Da juçara à biojoia, criação e produção

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Capítulo 8 Fruta rara biojoias: a identidade das mulheres do Maracanã

95 101

Capítulo 9 “Tempo certo de se ouvir, Maracanã” Biografias


A juçara se transforma em joia rara nas mãos das mulheres do Maracanã. Tatiane Mendes


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Prefácio Virginia Cavalcanti*

A primeira vez que entrei em contato com o contexto do bairro do Maracanã, em meados do ano 2007, fui conduzida pelas mãos aparentemente frágeis de uma maranhense que se tornaria, em pouco tempo, orientanda de mestrado, das mais queridas e determinadas. Nos anos que se seguiram, Gisele Reis demonstraria seu potencial enquanto pesquisadora e entusiasta da interface entre o design, a cultura e o artesanato. Não foi surpresa, portanto, receber o convite para escrever este Prefácio e muito menos quando Gisele passou a incorporar o corpo docente do curso de Design da Universidade Federal do Maranhão. A alegria foi ainda maior ao constatar que o Projeto de Extensão “Artesanato no Maracanã: utilização da semente de juçara na produção artesanal” foi uma extensão da sua dissertação de Mestrado “Design e Artesanato: um estudo de caso sobre a semente de juçara em São Luís do Maranhão” defendida ainda em 2010.

Como docente da UFMA, sua integração ao Núcleo de Pesquisa em Inovação, Design e Antropologia, coordenado pela professora Raquel Gomes Noronha, foi um caminho natural. Parceira em orientações conjuntas, Raquel é pesquisadora da relação entre design-materiais-artesanato e Design Anthropology, membro do Programa de Pós-Graduação em Design - PPGDesign-UFMA, e pesquisadora a quem respeito e admiro. A articulação com outros pesquisadores e profissionais alinhados ao interesse sobre o território, a identidade local e o design, trouxeram novas e estimadas colaborações; é o caso de Tayomara Santos, com quem divide a organização deste livro. É a materialidade da semente de juçara, no entanto, o que mais impressiona. “JUÇARA DA MINHA COR: Reconhecendo e valorizando o território”, como título traduz a potencialidade dessa semente que instigou o interesse sobre o território e tornou os primeiros passos desta investigação possível. Ainda no projeto germinal, a investigação das potencialidades da utilização da semente de juçara na produção artesanal na comunidade do Maracanã em São Luís do Maranhão, considerava já a sustentabilidade ambiental, social e econômica da região. O Projeto de que trata este livro, dá um passo à frente; avança com a integração e o envolvimento das artesãs

*Virginia Cavalcanti é designer, Professora do Departamento de Design e Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Design da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Foi orientadora de Gisele Reis na dissertação de mestrado “Design e Artesanato: um estudo de caso sobre a semente de juçara em São Luís do Maranhão”, defendida em 2010.


7 do Maracanã, permite a vivência e as experiências que apenas a construção coletiva é capaz de proporcionar. A coletividade, então, talvez seja o ponto de inflexão desse Projeto, com a incorporação de metodologias coprojetuais, como o design participativo, design colaborativo ou codesign; uma abordagem que se sustenta pela troca de saberes, experiências, diferenças. É um caminho que provoca mudanças profundas nos atores envolvidos, capaz de expandir as perspectivas existentes e o olhar sobre sua identidade, território e potencialidades. Sob essa perspectiva, acontecem as reais possibilidades de transformação social, aquelas com potencial mais duradouro e sustentável, que, por si sós contribuem para a reorganização do tecido social. A mediação é nesse percurso o comportamento de interlocução que permite transitar por entre o conhecimento tácito inerente ao fazer artesanal, aos artífices e o conhecimento técnico, explícito, resultante da formação do designer e suas habilidades profissionais. Essa aproximação permite romper paradigmas e hierarquias, ao provocar fluidez nas interações, e o reconhecimento de realidades que se fazem mais próximas e compreensíveis. O deslocamento de seu lugar e a possibilidade de vivenciar outras experiências contribuem para o crescimento individual e coletivo. Esse é o convite que este livro faz. Na organização dos capítulos somos conduzidos a adentrar o território do Maracanã, conhecer o fruto juçara e as potencialidades

de sua semente; passear sobre as tradições do território, para enfim nos inteirarmos do Projeto “Artesanato no Maracanã”. A partir daí um novo ciclo se inicia; aprendemos o processo de beneficiamento da semente, e como deve ser em todo processo de design, segue o desenvolvimento do conceito e das alternativas de projeto e produção, que culmina com a comercialização dos produtos na Festa da Juçara. Vale a pena esta leitura, conhecer a realidade do bairro do Maracanã e de seus moradores, as potencialidades da semente de juçara, e o caminho que as pesquisadoras percorreram ao longo do Projeto. É louvável o empenho e a dedicação despendidos para a valorização do local, do território, das pessoas, da identidade, assim como é necessário estimular a prática de contar essas experiências e contribuir para a construção de conhecimento em design, especialmente quando da sua relação com o campo das humanidades. Neste momento, que reclusos em casa estamos em função da pandemia, e que as distorções e os distanciamentos sociais ficam escancaradamente evidentes, cada vez mais me apercebo da importância de estimular e imergir em projetos capazes de revelar as potencialidades dos territórios brasileiros, sua fauna, flora, talentos e iniciativas que descortinem para a sociedade as imensas riquezas dos inúmeros “bairros do Maracanã” existentes em nosso País.

Boa Leitura!


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Apresentação

Nos caminhos da pesquisa... Este livro relata a prática de um Projeto de Extensão, entre os anos de 2016 e 2017, tendo como base os resultados da minha pesquisa de mestrado realizada, entre os anos 2008 e 20101, no bairro do Maracanã, na cidade de São Luís, capital do estado do Maranhão, com a orientação da professora Doutora Virginia Cavalcanti2. A pesquisa partiu do desejo de analisar as potencialidades de utilização da semente de juçara (açaí) do Maracanã, em produções artesanais, pois percebia que em São Luís era muito comum encontrar peças de ornamentação corporal, como as biojoias, confecções oriundas das sementes, porém todas as sementes utilizadas para este fim eram adquiridas dos estados da região Norte. No entanto, no bairro do Maracanã, local onde se encontra o maior juçaral da Ilha, é extraída, durante todo o ano, a polpa da juçara, principalmente durante o mês de outubro, na

Festa da Juçara. Diante desse fato, surgiu em mim a inquietação sobre o que era feito com as sementes da juçara, após a extração da polpa. Adentrei no campo de pesquisa, e a aproximação com a comunidade só foi possível mediante colaboração e contribuições de pessoas, como Adriano Algarves, Conceição Neves, Magno Pereira e Maria Rita Moraes. Lá constatei que a maior parte das sementes era descartada, não tendo nenhum outro destino a não ser o descarte após o despolpamento. De posse destas informações, foi-me possível, no final da pesquisa, traçar, com nossos interlocutores no campo, recomendações para a utilização dessa semente carregada de valores simbólicos e identitários para a comunidade e também na produção do artesanato local. O resultado dessa pesquisa permitiu-me, após

1. Design e Artesanato: Um estudo de caso sobre a semente de juçara em São Luís do Maranhão. 2. Professora Doutora – Design/ UFPE. Coordenadora do Laboratório O Imaginário.


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alguns anos, especificamente entre 2016 e 2017, já como professora do curso de Design, da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, iniciar o Projeto de extensão “Artesanato no Maracanã: utilização da semente de juçara na produção artesanal”, por meio do Núcleo de Pesquisa em Inovação, Design e Antropologia - NIDA. Congregando-me ao trabalho com professores e alunos deste Núcleo, voltamos ao Maracanã e pudemos também estreitar as relações em parceria com diversas mulheres da comunidade: Conceição Neves (Concita), Tatiane Mendes (Tati), Kátia Silva, Ednalva Veloso (Edinha) e Regina. Dessa forma, construímos coletivamente um percurso de atividades, tais como seminários, palestras, rodas de conversa, oficinas e experimentos, que se concretizaram por meio de etapas vividas durante um ano. Tal percurso construído com as artesãs possibilitou que enxergássemos a semente

de juçara como “fruta rara”, a se transformar em “joia rara” nas mãos das mulheres do Maracanã. E não só a transformação da semente, mas também da vida das pessoas envolvidas nesse Projeto, em especial das mulheres, artesãs da comunidade, que passaram a reconhecer e valorizar a sua localidade, percebendo na semente da juçara um grande potencial econômico, devido à sua fácil aquisição no território e seu inestimável valor identitário. A semente foi lançada, e acreditamos que muitos frutos ainda serão colhidos dessa experiência semeada por muitas mãos, em que artesãs e designers, num processo de coparticipação e cocriação, possibilitam a valorização das manifestações materiais e simbólicas da cultura local, fomentando a prática da sustentabilidade em todas as suas dimensões: ambiental, econômica, social e cultural.

Gisele Reis Correa Saraiva


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Introdução Os produtos locais, conforme Krucken (2009, p.17), “são manifestações culturais fortemente relacionadas com o território e a comunidade que os gerou”. A juçara (Euterpe oleracea Mart), cultivada no bairro do Maracanã, é um produto que apresenta fortemente essas características, reconhecida em todo o território maranhense e famosa por sua grande festa no mês de outubro, a Festa da Juçara. A juçareira, palmeira de onde se extrai a juçara, é uma espécie da qual tudo se aproveita, porém, no Maracanã, o que se destaca é o consumo da polpa, enquanto as sementes são descartadas. Valois (2007) afirma que a semente de juçara representa 83% do fruto, enquanto a parte comestível corresponde apenas a 17%. Portanto, a semente representa mais da metade do que o fruto oferece e, quanto maior seu desperdício, maior a perda de valores reais para a população que trabalha na extração e venda desse fruto, podendo dar uma utilidade a essa semente que gere lucro, assim como à polpa. Especificamente, no Maracanã, milhares

de sementes são jogadas fora todos os dias. Para dar utilidade a essa semente, surgiu o Projeto Artesanato no Maracanã, com o intuito de promover oficinas direcionadas à utilização da semente de juçara em produções artesanais, conduzindo as etapas do processo de beneficiamento da semente e desenvolvendo peças mediante valorização do saber popular; um trabalho construído coletivamente por artesãs e designers, na localidade. Assim, este livro relata todo o percurso desse Projeto, em que nós, designers, fomos ao encontro da comunidade para mediar processos, imaginar e criar cenários de futuro em benefício do território e construir um caminho adaptado à realidade local, em um processo dialógico com as artesãs e outros atores sociais, direta ou indiretamente ligados ao processo, os quais podemos considerar ‘praticantes habilidosos’3 de seus fazeres, copesquisadores e coprodutores, tendo em vista seus conhecimentos tácitos. Para tanto, baseamo-nos em metodologias coprojetuais

3. Nomenclatura atribuída pelo antropólogo britânico Tim Ingold para pessoas que possuem conhecimentos específicos sobre determinados saberes, mas não possuem instrução acadêmica. (INGOLD, 2018, p.31, tradução nossa).


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do design – design participativo, design colaborativo ou codesign –, aludidos por autores, como Spinuzzi (2005), Brandt (2008), Halse (2010; 2013), Binder (2011); Ehn (2017); Noronha (2012, 2018), que promovem a quebra de hierarquias no processo projetual, em que designers e artesãos se encontram tralhando sob o mesmo patamar, alinhando os conhecimentos tácito e acadêmico nas relações com o território, proporcionando, ao final, produtos e processos com vista à sustentabilidade ambiental, econômica, social e cultural local. Nesse sentido, organizamos este livro em nove capítulos. No primeiro capítulo, situamos o leitor acerca do território Maracanã, trazendo algumas características constituintes, como aspectos econômicos, o patrimônio arquitetônico, as leis de proteção ambiental, fauna, flora, toda sua riqueza natural, breve histórico da origem e constituição da comunidade e seus primeiros habitantes, além das transformações ali ocorridas ao longo dos anos. No segundo capítulo, fazemos uma abordagem sobre o fruto juçara, enfatizando qual espécie é identificada no território, a lenda que conta o porquê desse nome dentro do Estado, já que em outros Estados é conhecida como açaí, e a cadeia produtiva da aquisição da polpa dentro do bairro, da colheita do fruto ao despolpamento.

Temos a oportunidade de, no terceiro capítulo, conhecer os aspectos tradicionais do Maracanã por meio do Folclore, representado pela Festa da Juçara e o pelo Bumba meu boi do Maracanã, que identificam o bairro culturalmente dentro do Estado. No quarto capítulo apresentamos o levantamento de dados da pesquisa anterior e as recomendações e etapas traçadas para execução do Projeto “Artesanato no Maracanã”. Demonstramos no quinto capítulo todo o processo de beneficiamento da semente e, no sexto capítulo, descrevemos o processo de tingimento natural dado às sementes, com o uso de corantes e pigmentos, elementos extraídos da flora local. No sétimo capítulo, apresentamos a fase de geração de ideias e o desenvolvimento do conceito, utilizando-se ferramentas de design sob abordagem do design participativo, momento em que as sementes de juçara tornam-se produtos. O oitavo capítulo revela a concepção da identidade visual do grupo de artesãs, apresentando nome, símbolo, slogan e aplicações em produtos. A culminância do Projeto é exposta no nono capítulo, com a exposição e venda das peças na Festa da Juçara, e nossas conclusões sobre o percurso traçado.


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Referências BRANDT, Eva et al. Formating Design Dialogues – Games and Participation. In: BINDER, T; BRANDT, E; GREGORY, J. (guest editors). CoDesign – International Journal of CoCreation in Design and the Arts, v. 4, n. 1, p. 51-64, mar. 2008. BINDER, Thomas et al. Design Things. Cambridge: Mit Press, 2011. 256 p. EHN, Pelle. Learning in participatory design as I found it (1970-2015). In: DISALVO, Betsy et al (Orgs.). Participatory Design for Learning Perspectives from Practice and Research. Abingdon: Routledge, 2017, p. 268. HALSE, J.; BRANDT, E.; CLARK, B.; BINDER, T. (Eds.). Rehearsing the future. Copenhagen: The Danish Design School Press, 2010. 211p. INGOLD, Tim. Anthropology and/as Education. London: Routledge, 2018, p. 106. KRUKEN, Lia. Design e Território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009.126p. NORONHA, Raquel. Do centro ao meio: um novo lugar para o designer. In: Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design – P&D, 10., São Luís, 10 a 13 out. 2012. Anais do 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Luís: Universidade Federal do Maranhão, 2012. NORONHA, Raquel. The collaborative turn: challenges and limits on the construction of the common plan and on autonomía in design. Strategic Design Research Journal, v.11, n. 2, p.125-135, maio-ago., 2018. SPINUZZI, Clay. The Methodology of Participatory Design. Technical Comunication, v. 52, n. 2, maio 2005. VALOIS, Afonso Celso Candeira. O açaí: a nossa juçara. Disponível em <http://www.acm-ma.com.br/ acai.htm>. Acesso em 22 out. 2007.


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Capítulo 1

Maracanã, das bases históricas aos dias atuais


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Capítulo 1

Maracanã, das bases históricas aos dias atuais O bairro do Maracanã está localizado na área centro-sul da capital São Luís, a uma distância de 25 Km do centro da cidade; limita-se ao norte com o Parque do Bacanga, ao sul, com a localidade de Rio Grande, a oeste, com a BR-135 e a leste, com o Distrito Industrial (FUMTUR, 2002). Possui uma área de 1.831 hectares e uma população de 3.089 habitantes com 1.331 casas construídas em alvenaria (MARANHÃO, 2009). O bairro surgiu como um pequeno povoado, no ano de 1875, a partir de cinco famílias descendentes de escravos (cativos) – Pereira, Coutinho, Costa, Algarves e Barbosa – que, por ocasião da Abolição, buscavam um local para morar e assim ocuparam a área. Há comentários entre os moradores mais antigos de que estas famílias compraram as terras por

Gisele Reis Correa Saraiva Nayana Gatinho da Silva

100 mil réis, mas não encontramos escritura que comprove tal fato (ALGARVES, 2009). No que se refere à origem do nome Maracanã, há três versões, que de certa forma contêm afinidades. A primeira versão, e a mais aceita, deve-se à existência de grande ocorrência de uma espécie de arara de nome Maracanã4, que fazia muito barulho com o som que transmitia através do seu canto e que também destruía as roças dos moradores. A outra versão é referente à existência de grande quantidade de uma árvore conhecida como pau de maracanã, cujos frutos serviam de alimento a uma pequena ave verde típica da região. A terceira e última versão refere-se à batucada feita pelos tambores dos negros alforriados, donos da terra, que se assemelhava ao som feito pelo pássaro maracanã (ALGARVES, 2009).

4. Maracanã – Palavra de origem indígena tupi-guarani que significa pássaro verde.


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Até meados de 1940, a comunicação entre o povoado do Maracanã e a cidade de São Luís era difícil, devido ao acesso, possível somente por via marítima, através do braço do mar do Bacanga, com uso de canoas. A primeira via de acesso por terra teve a contribuição do então Governador do Estado, o comandante Magalhães de Almeida, que possuía um sítio na localidade, o qual, para chegar até o seu sítio, fazia o trajeto de carro e dessa forma ia abrindo caminho em meio à vegetação (CUNHA, 1997). Depois de alguns anos, esse povoado foi elevado à categoria de bairro pelo Plano Diretor da Secretaria Municipal de Terras, Habitação e Urbanismo – SEMTURB, formando uma espécie de Distrito, abrigando em seu território as localidades de Maracanã, Alegria Maracanã, Vila Maracanã, Vila Sarney e Vila Esperança. O Maracanã continua com características rurais, porém em processo de modernização, pois abriga nas suas proximidades o Distrito Industrial de São Luís, formado pelas empresas VALE e pelo Consórcio de Alumínio do Maranhão - ALUMAR. O desenvolvimento econômico desse bairro ainda acontece de forma lenta, embora esteja localizado próximo ao Distrito Industrial. O principal elemento da economia é o extrativismo, tendo nos juçarais e buritizais a principal fonte de comercialização. Outra atividade econômica é a extração mineral (barreiras, pedreiras, piçarreiras e jazidas de areia) do tipo manual e mecânica.

Não há clínicas médicas, farmácias e hospitais no bairro, apenas um posto de saúde. Os pontos comerciais restringem-se a gêneros alimentícios e bares. O transporte coletivo oferecido é do tipo convencional. O bairro recebe água tratada por meio da Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão – CAEMA, e o serviço de limpeza urbana ocorre duas vezes por semana. As escolas existentes são de Ensino Fundamental: 01(uma) escola particular, 03 (três) públicas e 01 (uma) comunitária (FUMTUR, 2002). O Maracanã é repleto de belezas naturais com fauna e flora riquíssimas, onde predominam buritizais, juçarais, babaçuais, árvores frutíferas regionais e diversas espécies de aves, mamíferos de pequeno porte, répteis, peixes e anfíbios (FUNTUR, 2002). No entanto, esta beleza passou a ser ameaçada pela ação do homem com a ocupação desordenada, a implantação do Distrito Industrial e por construções residenciais do Projeto Minha Casa Minha Vida (Residencial Amendoeira e Santo Antônio). Movido pela preocupação em proteger e conservar as espécies naturais do Maracanã, principalmente os juçarais, da ação do Distrito Industrial e da ocupação desordenada, o Governo do Estado do Maranhão instituiu, por meio do Decreto nº 12.103, de 1º de dezembro de 1991, a criação da Área de Proteção Ambiental da Região do Maracanã APA, com área de 1.831ha aproximadamente (MARANHÃO, 1991).


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Quando determinada unidade é transformada em uma APA, é permitida a exploração e o aproveitamento dos seus recursos naturais, porém, de acordo com a lei vigente, levando em consideração os critérios de sustentabilidade ambiental, social e econômica. Conforme Oliveira (2003), embora o Maracanã esteja amparado pelas leis vigentes que tratam de uma APA, até o ano de 2002 a região continuava sendo alvo de prejuízos ambientais. A destruição ocorre em cadeia, pois com a contínua derrubada dos juçarais para dar lugar às roças, que geralmente ocorre próximo aos rios, promove a erosão, o assoreamento dos corpos d’água e, consequentemente, o desaparecimento das espécies vegetais e animais. Após a criação da APA, outras iniciativas foram tomadas, com a comunidade, para otimizar o uso sustentável dos recursos naturais ali existentes, contudo representam apenas o início de um processo em busca do desenvolvimento sustentável. Assim, nos anos:

a) 1999, foi criado o “Projeto de Preservação dos Juçarais” originado do Projeto Nacional “Protetores da Vida”, do Ministério do Meio Ambiente; b) 2000, foi criado o “Projeto Maracanã”, uma parceria da comunidade com a Secretaria Municipal de Turismo; c) 2001, o “Programa Turismo Ecológico e Rural” em parceria com a Fundação Municipal de Turismo, implantando trilhas ecológicas e formação de agentes ambientais; d) 2003, a realização do “I Seminário de Sustentabilidade e Compromisso com o Maracanã”, realizado pela Prefeitura de São Luís, no qual discutiram-se temas sobre cidadania, qualidade de vida, lixo, degradação ambiental, geração de trabalho e renda e manejo dos juçarais (FUMTUR, 2002; OLIVEIRA, 2003).


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Para divulgação e preservação das belezas naturais e história do Maracanã, foi criada a Associação Comunitária Maracanã Turismo (ACOMTUR), em parceria com a Secretaria Municipal de Turismo (SETUR), que formou 18 agentes ambientais para trabalhar como guias, durante todo o ano, conduzindo grupos por meio de trilhas para conhecer as belezas e a história do bairro. Mas, atualmente, esta Associação está desativada, assim como algumas trilhas, devido ao desmatamento e à poluição dos córregos que recebem o esgoto dos conjuntos residenciais próximos à localidade.

Em meio a essas trilhas, encontram-se os monumentos históricos que representam parte do patrimônio arquitetônico do bairro: a Capela de Santo Antônio, fundada há mais de 60 anos e tombada pelo Departamento de Patrimônio Histórico Artístico e Paisagístico (DPHAP); a Capela de São Sebastião e o Viva Maracanã, espaço reservado para apresentação de brincadeiras e lazer.

Capela Santo Antônio

Trilha Joca Guimarães

Viva Maracanã


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Referências ALGARVES, Adriano. Relatos sobre o Maracanã. [Entrevista concedida a] Gisele Reis Correa Saraiva. São Luís, 3 set. 2009. CORREA, Gisele Reis. Design e artesanato: um estudo de caso sobre a semente de juçara em São Luís do Maranhão. 2010. 144f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Design, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010. CUNHA, Euzanira de Fátima. Meio Ambiente e Folclore: o caso da comunidade do Maracanã. 1997. f.57. Monografia (Graduação) – Faculdade de Geografia, Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 1997. FUMTUR. Inventário turístico do bairro Maracanã. São Luís: Prefeitura de São Luís. 2002. MARANHÃO. Secretaria do Meio Ambiente e Turismo. Decreto nº 12.103, de 1º de dezembro de 1991. Cria, no Estado do Maranhão, a Área de Proteção Ambiental da Região do Maracanã, com limites que especifica e dá outras providências, Diário Oficial [do] Estado do Maranhão, São Luís. 1991. MARANHÃO. Secretaria de Saúde do Estado do Maranhão. Sistema de localidade. São Luís, 2009. OLIVEIRA, Laura Rosa Costa. Uso, manejo, conservação e importância sócio-econômica da juçara (Euterpe Oleracea mart.; Palmae) na Ilha de São Luís, Maranhão. 2003. f. 83. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Agronomia, Universidade Estadual do Maranhão, São Luís, 2003.


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Capítulo 2

Juçara: “Joia rara da nação”, riqueza do Maracanã


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Capítulo 2

Juçara: “Joia rara da nação” , riqueza do Maracanã 5

Gisele Reis Correa Saraiva Kelly Barros dos Santos Euterpe oleracea Mart é o nome científico de uma espécie de palmeira nativa da região Amazônica, o açaizeiro, que produz o fruto conhecido popularmente em todo o território nacional como açaí. Esta palmeira, dentro do território brasileiro, distribui-se nos estados do Pará, Amapá, Maranhão e Amazonas, predominantemente em áreas úmidas, em vários tipos de solo, desde terra firme a várzeas com inundações periódicas (OLIVEIRA, 2003). Entre esses quatro estados, o Maranhão é o único que dá a esse fruto uma denominação diferente; é conhecido popularmente pelo nome de juçara, mesmo nome da espécie

encontrada na Mata Atlântica. No entanto, entre as duas palmeiras é comum apenas o nome popular, pois a juçareira existente na Mata Atlântica pertence a outra espécie, a Euterpe Edulis Mart, onde se consome apenas o palmito proveniente da palmeira. Portanto, a juçara existente no território maranhense pertence à mesma espécie da que é cultivada no Pará, Amapá e Amazonas, tendo apenas como diferença o nome popular. O maranhense explica essa diferença através do lúdico, já que a cultura maranhense é recheada de diversos causos, contos e lendas.

5. Trecho da música “Voa Maracanã”, do grupo folclórico Companhia Barrica, grupo de artistas formado em 1985, que revigora e evidencia a tradição da dança e brincadeira do Bumba meu boi no Maranhão


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Conta-se que...

Voltando para a realidade...

...“Em uma das milhares de tribos indígenas da Amazônia Viviam Açaí e Juçara Dois irmãos, que acabaram se apaixonando. Desse amor, Juçara engravidou. Quando o chefe da tribo descobriu Amaldiçoou os dois e os expulsou da tribo, Porém separando o casal, Jurando que nunca mais iriam se encontrar.

Dos 217 municípios maranhenses, 60 possuem juçarais em seu território. Dentre esses municípios está a capital, São Luís. No município de São Luís, o bairro onde se encontra o maior juçaral é o Maracanã, porém não tivemos acesso à documentação com registro da extensão da área ocupada, pois as plantações ficam localizadas em propriedades particulares.

Mas antes de partirem, O chefe deu para cada um Um cesto com uma fruta de cor roxa Que garantiria seu alimento. E nessa separação Levaram Juçara para o Maranhão E Açaí para o Pará E aonde chegaram, o fruto que carregavam Serviu de alimento para muitas pessoas E acabou ganhando a denominação dos seus respectivos nomes.” 6

Juçaral, localidade Alegria Maracanã

6. Tive a oportunidade de conhecer essa lenda por meio de um professor de Língua Portuguesa no meu tempo de estudante, especificamente no ano de 1994, num curso pré-vestibular. Achei tão interessante e para mim, até hoje, é a melhor explicação de que tive conhecimento para essa diferença do nome desse fruto. Depois disso, procurei referências que citassem essa lenda, mas não encontrei. Então resolvi transcrever o que escutei.


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O período de safra ocorre entre os meses de agosto e dezembro. Moradores do Maracanã, como o seu Magno Pereira Coutinho, afirmam que em décadas anteriores esse período se estendia até janeiro, mas hoje, com a ocupação populacional feita de forma desordenada e a poluição dos rios e córregos, essa situação se modificou. Cada palmeira produz anualmente entre 06 (seis) e 08 (oito) cachos, dependendo bastante da fertilidade e umidade do solo, bem como da luminosidade. A colheita é feita manualmente por coletores homens, conhecidos popularmente como ‘apanhadores de juçara’, que utilizam como materiais auxiliares: a peia - objeto de forma circular, com diâmetro em torno de 40 cm, confeccionado pelo próprio coletor, feito com a fibra da juçara ou saco de nylon, que auxilia os pés na escalada da palmeira; e a vara, objeto de aproximadamente 5 metros, feito de bambu, com um gancho de metal fixado em uma das extremidades, que auxilia na retirada dos cachos. Confecção da peia com fibra de juçara e auxiliando a escalada na palmeira

Juçara madura e juçara russo

Alguns coletores realizam a coleta no seu próprio sítio, outros são contratados e também há casos em que o coletor invade propriedades particulares e coleta por conta própria. Em conversa com moradores, a prática do furto de cachos de juçara é frequente na comunidade, mas não há como ser controlada, pois, devido à extensão do juçaral, o dono da propriedade não tem como comprovar o furto. No período da colheita, os coletores têm o cuidado de colher realmente os frutos que estão maduros, pois, segundo eles, a juçara não basta estar roxa para ser considerada madura; precisa também ser recoberta com uma camada cinza, o que indica o ponto certo para ser colhida. Essa prática é adquirida com a experiência de cada coletor. Para eles, o melhor horário para colheita da juçara é pela manhã, quando o sol ainda está nascendo, pois dessa forma os raios não incidem sobre o cacho, o que facilita reconhecer se este está maduro ou está ‘russo’- nome dado ao cacho de juçara que ainda não está completamente maduro.


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Para o beneficiamento, os cachos são colocados sobre uma lona de plástico, designada pelos moradores de ‘panca’, onde são debulhados e catados para se obterem os melhores frutos, que depois são acondicionados em latas de 18 litros – medida padrão utilizada no Maracanã. O cacho, depois de debulhado7, é descartado, deixado no local da colheita, ou utilizado como vassoura para varrer os terrenos dos sítios. Juçara sendo colocada na lata de 18 littros

Cachos de juçara sobre a panca sendo debulhados

O processamento da juçara pode ser executado por meio manual e mecânico, sendo a forma mecânica utilizada atualmente pelas pessoas que trabalham com a venda da juçara, uma determinação da Vigilância Sanitária. As pessoas que a processam para consumo próprio preferem o processo manual, pois

acreditam que dessa forma a juçara fica mais gostosa, conforme enfatiza a senhora Maria Rita Gonçalves Moraes8: “Aqui em casa, eu faço juçara só pra gente mesmo e socada no pilão; a que é feita na máquina não fica com o mesmo gosto, fica travando na garganta. Juçara, gostosa mesmo, é feita na mão!”

7. Debulhar: ato de retirar com as mãos a fruta do cacho. 8. Maria Rita Gonçalves Moraes, entrevista concedida no dia 17.09.2009


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Processamento manual do vinho de juçara

Processamento mecânico do vinho de juçara


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Atualmente, a juçara colhida no Maracanã não é mais vendida na forma de fruto para outras localidades; os coletores vendem apenas para os moradores da comunidade que trabalham com o processamento. A juçara vendida no Maracanã é consumida tanto por moradores quanto por pessoas de outros bairros, diariamente, principalmente no horário do almoço. A juçara é um fruto perecível, portanto tem que ser comprado, processado e vendido no mesmo dia, não resistindo após 48 horas. Por isso os processadores compram apenas o que costumam vender diariamente para não ter perdas; só congelam de um dia para outro, por encomenda. Do ‘vinho da juçara’ (modo como a polpa da fruta é conhecida no território maranhense) podem ser produzidos sorvete, mousse, bombons, bolos e cocadas, porém, quem faz o processamento só trabalha com o vinho. Há fregueses da comunidade que compram o vinho e fabricam esses derivados somente por encomenda e durante a Festa da Juçara.

As sementes (os caroços), após o processamento, são utilizadas para o replantio, em pequenas parcelas, ou queimadas, ou jogadas fora, ou enterradas no terreno dos sítios. O senhor Magno Pereira Coutinho9, no seu sítio, cava buracos no terreno, lança as sementes e, depois de cheios, cobre com terra. Esse processo se repete à medida que há o processamento da fruta durante o ano.

“O caminhão de lixo não passa todo dia, então pra não acumular sementes eu cavo o buraco no sítio, quando enche, eu cubro com a terra e cavo outro buraco, e assim é durante o ano todo.”

9. Magno Pereira Coutinho - trabalha com processamento e venda da juçara. Entrevista concedida no dia 10.09.2009.

Magno Pereira Coutinho


26 Sementes de juçara jogadas a céu aberto

Sementes de juçara depositadas em buracos

Uma lata de juçara corresponde a 15 kg e cada quilo contém em média 720 sementes; diante dessa estimativa uma lata de juçara contém 10.800 sementes. O senhor Magno Pereira Coutinho processa por dia 10 (dez) latas de juçara, ou seja, 150 kg, o equivalente a 108.000 sementes, que são desperdiçadas diariamente por apenas uma família. Durante a Festa da Juçara, que ocorre apenas nos finais de semana do mês de outubro, no ano de 2008 (período da pesquisa do mestrado), foram processados mais de 19.000 kg de juçara. De acordo a Presidente da Associação dos Amigos da Festa da Juçara, todas as sementes são jogadas fora e coletadas pela Companhia de Limpeza Urbana. Um cálculo simples informa um desperdício mensal de 14.000.000 de sementes.

“É muita semente jogada fora, o caminhão do lixo vem várias vezes ao dia, até outro dia ainda tinha semente que sobrou da festa, jogada aí. Uma vez o SEBRAE me perguntou: Dona Cotinha o que vocês fazem com a semente? Aí eu disse que nada e ficou por isso mesmo.” Maria de Jesus Marques (Dona Cotinha)10

10. Presidente da Associação dos Amigos da Festa da Juçara, no período de 2009. Entrevista concedida no dia 20.07.2009.


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Diante desse contexto é possível afirmar que o fruto é a principal parte da juçara utilizada no Maracanã, sendo o vinho o principal produto comercializado. A semente, pouco tem utilidade, representa mais o refugo do que uma parte do fruto a ser utilizada.

A juçareira é considerada uma palmeira de grande importância socioeconômica para o Maranhão; por esse motivo, foi tombada no ano de 1990, por determinação da Secretaria de Cultura e do Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico (DPHAP), tendo em vista a necessidade de conservar e proteger o patrimônio ambiental dos juçarais.


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Referências CORREA, Gisele Reis. Design e artesanato: um estudo de caso sobre a semente de juçara em São Luís do Maranhão. 2010. 144f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Design, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010. OLIVEIRA, Laura Rosa Costa. Uso, manejo, conservação e importância sócio-econômica da juçara (Euterpe Oleracea mart.; Palmae) na Ilha de São Luís, Maranhão. 2003. f. 83. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Agronomia, Universidade Estadual do Maranhão, São Luís, 2003.


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CapĂ­tulo 3

Voa, MaracanĂŁ, nas asas do folclore


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Capítulo 3

Voa, Maracanã, nas asas do folclore O Maracanã, conhecido pela valorização dos seus aspectos tradicionais, tem no folclore uma forma de manter viva a cultura e o saber local por meio de manifestações que o identificam culturalmente dentro do estado do Maranhão. Existem pelo menos cinco manifestações folclóricas no Maracanã: o Bumba meu boi, a Festa da Juçara, a Festa de Reis, a Festa do Divino Espírito Santo e a Festa de Santo Antônio. Porém, apenas duas destacam-se no calendário cultural maranhense: a Festa da Juçara e o Bumba meu boi do Maracanã.

A Festa da Juçara A Festa da Juçara ocorreu pela primeira vez no ano de 1970, idealizada e realizada pela agrônoma Rosa Mochel Martins, moradora da comunidade e, na época, Secretária de Educação e Ação Comunitária de São Luís.

Gisele Reis Correa Saraiva Laís do Nascimento Everton

Rosa Mochel, percebendo a potencialidade do Maracanã na produção de juçara, resolveu com alguns moradores realizar a festa. Nos primeiros anos, foi realizada em sítios de moradores, e no ano de 1997 foi criado o Parque da Juçara, local onde até hoje ocorre a festa (ALGARVES, 2009). A Festa da Juçara é realizada tradicionalmente nos finais de semana do mês de outubro, período da safra e mês de maior produção de frutos no Maracanã. Em 2019 foram comemorados 50 anos de sua existência, o que comprova a valorização da tradição no calendário das festividades da cidade de São Luís. Nesse período, o Maracanã recebe pessoas de todos os bairros da capital maranhense que chegam para degustar o vinho da juçara, muito apreciado pela população ludovicense. O vinho da juçara pode ser servido sozinho, mas é bem mais apreciado quando acompanhado de farinha, açúcar, camarão e


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peixe assado.

Barraca de derivados da juçara

O Parque da Juçara, atualmente, é formado por 53 barracas, organizadas em círculo, o que lembra uma aldeia indígena. Inicialmente, as barracas eram de palha, mas, após a reforma feita pelo Governo do Estado em 2003, foram construídas em alvenaria e cobertas com palhas, substituídas depois por telhas de amianto. Alguns moradores não aprovaram

Parque da Juçara durante a Festa da Juçara

as mudanças, alegando que, com a reforma, houve uma descaracterização do local. Nos primeiros anos da Festa não era permitida a venda de outro tipo de bebida que não fosse a juçara, exigência dos idealizadores, mas, a partir de 1997, alguns anos após a morte da Patrona Rosa Mochel, outros tipos de bebidas e alimentos passaram a ser comercializados. No ano 2001, a Prefeitura de São Luís, através da Fundação Municipal de Turismo, promoveu, durante a Festa da Juçara, oficinas de incremento do artesanato local e inovou com a oferta de uma oficina pioneira sobre derivados da juçara - sorvete, cocada, bombom recheado,


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pudim, mousse, bolo, licor e pão, que até então era apresentada apenas na forma do vinho (FUMTUR, 2002) Na Festa, a juçara é a principal atração, mas os visitantes também têm a oportunidade de prestigiar shows com artistas locais, dançar ao ritmo do Bumba meu boi do Maracanã, conhecer as belezas naturais locais, por meio das trilhas ecológicas guiadas pelos agentes ambientais, moradores da própria comunidade, e levar uma lembrança da festa, ao adquirir peças de artesanato.

A Festa da Juçara promove o envolvimento de toda a comunidade, valorizando a mão de obra local, gerando emprego temporário e complementando a renda familiar. Em setembro de 2009, dos dias 23 a 27, o Governo do Estado do Maranhão, como forma de divulgação da Festa, realizou pela primeira vez “O Festival da Juçara” na Lagoa da Jansen11. O Festival contou com a participação da comunidade do Maracanã, por meio da Associação dos Amigos da Festa da Juçara, que montou 16 barracas para venda de juçara e uma para venda de artesanato. Barraca de artesanato no Festival da Juçara

Festival da Juçara

11. Ponto turístico da cidade de São Luís, localizado no bairro do Renascença, próximo ao centro da cidade.


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Segundo os donos das barracas, a aceitação do Festival, por parte da população, superou todas as expectativas, no entanto não houve continuidade do evento nos anos seguintes.

O Bumba meu boi do Maracanã O Bumba meu boi é a manifestação folclórica mais antiga do Maranhão, e acredita-se ter seus primeiros registros nas últimas décadas do século XVIII. O Bumba meu boi do Maracanã é um, dentre os diversos grupos existentes no Estado; surgiu logo nas primeiras décadas do século XX, mas firmou-se somente na década de 70 (RIBEIRO; CASTRO, 1998). Os grupos de Bumba meu boi do Maranhão estão divididos em cinco sotaques (ritmos): matraca, zabumba, orquestra, baixada e costa de mão. O Bumba meu boi do Maracanã pertence ao sotaque de matraca12, que, juntamente com pandeirões13, maracá e tambor onça, dão o ritmo às toadas - nome dado às músicas da brincadeira. As personagens do Bumba meu boi do Maracanã são: o boi (personagem principal da brincadeira), o amo (cantador e que comanda a

brincadeira), caboclos de pena, caboclos de fita, índias e o miolo do boi (pessoa que fica embaixo do boi e o conduz durante toda a apresentação). A partir do ano de 1973, Humberto Barbosa Mendes, o Humberto de Maracanã, como ficou conhecido, se tornou responsável pelo grupo do Bumba meu boi e também assumiu a função de amo. Devido à sua voz marcante e inconfundível, ganhou o título de Guriatã, pássaro de cores azul-metálico e mancha amarela, considerado um dos melhores imitadores da voz de até 16 espécies de aves diferentes. Com o falecimento de Humberto em 2015, a função foi assumida por um dos seus filhos, Ribinha. O Bumba meu boi do Maracanã é denominado “batalhão pesado”, por arrastar uma multidão, que brinca e dança à vontade junto aos personagens do boi, a cada apresentação. O período de maior ênfase dos grupos de Bumba meu boi é o mês de junho, durante as festas juninas. Porém, antes de qualquer apresentação em outra localidade, ocorrem, no bairro do Maracanã, os ensaios e o batizado do boi, e este só retorna no segundo domingo do mês de agosto, para celebração da sua morte.

12. Dois pedaços de madeira que batidos um no outro dão ritmo à brincadeira. 13. Pandeiros grandes, feitos com couro de boi que, para emitir o som adequado, precisam ser aquecidos ao fogo. Para isso, os brincantes do boi fazem fogueiras no local onde se apresentam.


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Caboclo de Fita

Matraca

Bumba-meu-boi de Maracanã

Pandeirões

Maracá

Caboclo de Pena

Miolo do boi

Ribinha, atual amo do boi do Maracanã Índias

Fonte: Instagram e facebook oficiais do Bumba meu boi do Maracanã https://www.instagram.com/ bumbaboidemaracana

Amo – Humberto de Maracanã, o “Guriatã”

https://www.facebook.com/ boidemaracana


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Referências ALGARVES, Adriano. Relatos sobre o Maracanã. [Entrevista concedida a] Gisele Reis Correa Saraiva. São Luís, 3 set. 2009. CORREA, Gisele Reis. Design e artesanato: um estudo de caso sobre a semente de juçara em São Luís do Maranhão. 2010. 144f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Design, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010. FUMTUR. Inventário turístico do bairro Maracanã. São Luís: Prefeitura de São Luís. 2002. RIBEIRO, Alaíde Viégas; CASTRO, Marly Pereira. Resgate histórico das manifestações culturais do bairro Maracanã e sua influência dentro do contexto educacional do bairro. 1998. f.74. Monografia (Graduação) - Faculdade de Geografia, Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 1998.


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CapĂ­tulo 4

Visualizando uma oportunidade


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Capítulo 4

Visualizando uma oportunidade

Gisele Reis Correa Saraiva

Durante a pesquisa realizada no Maracanã entre os anos de 2008 e 2010, constatamos que da juçareira podem-se aproveitar das raízes aos frutos, mas a população desconhecia as diversas possibilidades de utilização na confecção de produtos que podem servir tanto para consumo próprio como para venda, conforme demonstra o quadro a seguir. Utilização das partes da juçareira COMPONENTES

UTILIZAÇÃO

Frutos

Produção do “vinho”, sorvetes, cremes, picolés, licores, mingaus (com tapioca, crueira, arroz, banana, etc.).

Folhas secas

Cobertura de casa/parede e adubos.

Folhas verdes

Fabricação de cestas, tapetes, chapéus, esteiras, adornos caseiros, ração animal e papel.

Caule

Adulto e seco: utilizado como esteio, paredes, assoalhos e flexal em construção rústica, ripas para cerca, lenha para olaria, pontes, cercados de currais, chiqueiros para porcos. Adulto e verde: produção de celulose e como isolante elétrico.

Cacho

Vassoura e adubo orgânico. Decomposto- empregado como adubo.

Caroço

Queimado – produz fumaça que repele mosquito. Seco – empregado no artesanato.

Raízes

Proteção do solo contra erosão, anti-hemorrágico e vermífugo, confecção de vassouras e adubo.

Broto

Palmito e ração animal.


Artesanato com a palha da juçareira

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No Maracanã, além dos frutos, utilizados na produção do vinho e de derivados, também se utilizam, ainda que de forma incipiente, a palha seca, para o artesanato; o cacho, como vassoura, após debulhado; o caule adulto e seco, para confeccionar bancos e como proteção para borda de riachos; e as sementes, que se restringem à pouca produção de adubo e replantio, sendo inutilizadas, na sua maioria, fato constatado nos pontos de processamento e por meio dos dados da Festa da Juçara. A comunidade reconhecia o desperdício das sementes, mas nenhuma ação, até então, tinha sido realizada para resolver o problema. Constatando a potencialidade dessa matéria-prima na localidade, visualizamos a oportunidade de utilizar a semente de juçara na produção artesanal, com vista à sustentabilidade ambiental, social, econômica e cultural. Pautadas em teorias de design, artesanato, cultura material, gestão de design e sustentabilidade, recomendações foram elaboradas para a efetivação do uso da semente de juçara na produção de peças artesanais. O quadro de recomendações foi estruturado em dois grupos: Etapas e Execução. As etapas foram organizadas em: aproximação, articulação, mobilização, interação, capacitação, acordos, parcerias, segmentação de mercado/produtos, criação/produção, divulgação, exposição/venda e expansão. Para cada etapa foram atribuídas as execuções.


39 ETAPAS

EXECUÇÃO

1. Aproximação

Possibilitar aproximação com a comunidade por meio da Associação dos Amigos da Festa da Juçara, de modo a articular e mobilizar toda a comunidade para realização da Festa, e ainda servir como porta de entrada para o contato com a comunidade.

2. Articulação

Aproveitar a influência dos representantes da Associação dos Amigos da Festa da Juçara e convocar as pessoas, ligadas ou não à Associação, para exposição da proposta do artesanato com a semente de juçara, pontuando as oportunidades que a atividade pode oferecer, os riscos a enfrentar e as vantagens que pode proporcionar.

3. Mobilização

Formar um grupo interessado em trabalhar com o artesanato com a semente de juçara.

4. Interação

Promover o relacionamento interpessoal, compartilhando saberes sobre a juçara e o artesanato, reconhecendo lideranças e potencialidades – consolidação do grupo. • Compreender o papel de uma organização coletiva. • Realizar atividade de campo para conhecimento e compreensão de todo o processo produtivo da juçara, do plantio ao descarte das sementes. • Perceber a disponibilidade, abundância e facilidade de aquisição da matéria-prima, por meio dos dados obtidos na pesquisa. • Reconhecer a importância da preservação dos juçarais na vida econômica, social, ambiental e cultural da comunidade; conhecer as leis de proteção dos juçarais, enfocando a importância da preservação para subsistência da comunidade.

5. Capacitação

• Considerar o artesanato como uma oportunidade para uma nova atividade econômica que ajudará na promoção de renda e melhoria na qualidade de vida e como importante estratégia para valorização, preservação e divulgação da cultura local. • Promover encontros com grupos de artesãos de outras localidades: conhecer a história, os desafios, a trajetória de aprendizado, os erros, acertos e os resultados alcançados, para ter conhecimento da realidade a enfrentar. • Conhecer casos de produção de peças artesanais com sementes. • Visitar feiras, exposições de artesanato, de um modo geral, para ampliar o repertório visual. • Realizar oficinas direcionadas às etapas do processo de beneficiamento da semente.

6. Acordos

Firmar acordos entre os artesãos envolvidos no processo, respeitando o seu tempo, determinando horários, definindo papéis, dividindo as responsabilidades, para garantir a execução das atividades – consolidação do compromisso.

7. Parcerias

Buscar apoio de órgãos públicos, privados, instituições, fundações, para divulgação da comunidade, viabilização e realização de capacitações, aquisição de máquinas, ferramentas, recursos financeiros e local próprio para execução das tarefas.

8. Segmentação de Mercado/ Produtos

Segmento de mercado que pode ser contemplado inicialmente: moda, setor que impulsiona o consumo e tem forte apelo de diferenciação. • Moda: adornos/biojoias (pulseiras, brincos, anéis, colares), cintos, bolsas, tiaras.


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No ano de 2016, com um Projeto de Extensão, pela Universidade Federal do Maranhão, começamos a colocar em prática a pesquisa realizada entre os anos 2008/2010, realizando encontros e oficinas, seguindo as recomendações elaboradas. Voltamos ao bairro do Maracanã e retomamos os contatos feitos durante o tempo de Pesquisa. A aproximação anterior com Conceição Neves, pessoa com forte poder de liderança na comunidade, abriu as portas para que adentrássemos no campo e tivéssemos contato com outros moradores e assim reunir um grupo. Depois de muitas idas e vindas ao Maracanã, finalmente conseguimos realizar o primeiro encontro, que contou com a participação de cinco mulheres, as senhoras Conceição Neves, Tatiane Mendes, Helena, Ruth Chagas e Estela Chagas. Nesse encontro explicamos o objetivo do Projeto, mostramos os resultados obtidos com a pesquisa de 2008/2010 e as etapas propostas nas recomendações, enfatizando que seria um projeto a longo prazo, que exigiria: paciência, boa vontade e comprometimento. As mulheres prontamente mostraram-se interessadas e empolgadas com o Projeto, principalmente quando no encontro seguinte foram apresentadas amostras de sementes de juçara já tratadas.

Primeiro encontro

Segundo encontro

Nos encontros seguintes, articulamos como mediar as oficinas direcionadas à utilização da semente de juçara em produções artesanais, conduzindo as etapas do processo de beneficiamento da semente, criando e desenvolvendo peças a partir da valorização do saber popular, finalizando com exposição e venda, em outubro de 2017, durante o período da Festa da Juçara. Dessa forma o trabalho passou a ser conduzido.


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Referências CORREA, Gisele Reis. Design e artesanato: um estudo de caso sobre a semente de juçara em São Luís do Maranhão. 2010. 144f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Design, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010. OLIVEIRA, Laura Rosa Costa. Uso, manejo, conservação e importância sócio-econômica da juçara (Euterpe Oleracea mart.; Palmae) na Ilha de São Luís, Maranhão. 2003. f. 83. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2003.


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CapĂ­tulo 5

Lapidando a Joia Rara


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Capítulo 5

Lapidando a Joia Rara Gisele Reis Correa Saraiva Samara Lobo Sâmela Patrícia Moraes Tayomara Santos

Neste capítulo apresentamos o processo de beneficiamento da semente de juçara, trabalho realizado com as artesãs da comunidade. Todas as etapas aqui apresentadas partiram de um trabalho de construção coletiva, que durante o percurso evoluiu a cada encontro. Como parâmetro metodológico, traçamos 11 (onze) etapas: coleta, lavagem, secagem, lixamento, seleção, furação, imunização, polimento, tingimento, banho de óleo natural e armazenagem, sendo o tingimento etapa tratada em um capítulo à parte.


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1

Coleta A coleta da semente é feita nos pontos de venda de polpa da juçara, dentro do próprio bairro e, ao fazê-la, deve-se ter sempre o cuidado de coletar sementes processadas no dia ou até dois dias anteriores, para que não fiquem expostas por muito tempo, o que pode ocasionar a proliferação de fungos e a exposição ao sol, comprometendo a estrutura da semente, tornando-a frágil e quebradiça. As sementes são coletadas em baldes ou sacos plásticos, com uso de Equipamentos de Proteção Individual – de EPIs, como luvas e sapatos fechados, para evitar o contato direto, pois algumas vezes são descartadas com outros produtos.

2

Lavagem As sementes, após coletadas, são lavadas para que delas sejam retiradas as sobras de resíduos provenientes do despolpamento, depois colocadas em recipientes com furos para facilitar o escoamento da água e dos resíduos.


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3

Secagem O processo de secagem consiste na retirada parcial de água da semente por meio da transferência simultânea de calor do ar para a semente e de água, por meio de fluxo de vapor, da semente para o ar (PESK et al 2012). Para a secagem da semente, adotamos o método de secagem natural que, de acordo com Garcia (2010-), leva à utilização das energias solar e eólica para remover a umidade das sementes, com auxílio de eiras ou lonas. Por ser um método de secagem demorado, é recomendado o uso de telas de plástico ou de arame entrelaçado, formando uma peneira. As sementes são esparramadas em forma ondulada sobre a peneira, a qual é posteriormente erguida a uma altura de 0,5m a 1,0m do solo, possibilitando que o ar passe por cima e por baixo delas, abreviando consideravelmente o tempo de secagem (PESK et al, 2012)

Convém salientar que cuidados especiais devem ser tomados para que as sementes não sofram aquecimento excessivo e que a secagem ocorra do modo mais uniforme possível. São eles: • Secar à sombra. • Atentar para o fato de que as camadas de sementes não devem ultrapassar 5cm de altura. • Revolver as sementes frequentemente, para que todas sejam expostas ao ar. No caso de sementes que são lavadas, essa movimentação é essencial, caso contrário poderá haver um gradiente muito grande de umidade que pode ocasionar rupturas internas. • Encobrir as sementes no período noturno (PESK et al, 2012). Este método, em geral, é pouco suscetível a riscos de danificação mecânica e térmica e também é adequado para reduzida quantidade de sementes (Garcia, 2010-). De posse dessas informações, as sementes de juçara lavadas são colocadas para secar à sombra, em telas de plástico sobre uma armação de metal, ou em peneiras de arame, para que o ar circule de forma uniforme. Durante várias vezes ao dia, as sementes são remexidas para que sequem proporcionalmente. Durante a noite são cobertas, para evitar absorção de umidade. Após dois a três dias, dependendo das condições climáticas, as sementes estão prontas para serem lixadas.


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4

Lixamento A etapa de lixamento é realizada com o auxílio de uma máquina produzida pela equipe executora. Nesta etapa utilizamos as lixas para madeira ou para ferro (as de ferro têm mais tempo de vida útil), com as granulometrias 60, 80 e 100, cada uma utilizada no tempo de 3 a 4 minutos. A lixa 60, por apresentar o maior grão, é responsável pela retirada da camada mais grossa, a casca que envolve a semente, fase que denominamos ‘despelamento’, em que a máquina expele muito resíduo. Após o despelamento, percebemos que a semente é rajada, revestida por uma camada marrom. A lixa 80 retira as sobras dos resíduos deixados após o uso da lixa 60 e passa a lixar a semente, deixando o rajado bem evidente e a cor marrom menos acentuada. Com o uso da lixa 100, o rajado se sobressai e toda a camada marrom é retirada, dando lugar à coloração natural que varia do branco a um tom bege. Consideramos este ponto ideal para a etapa seguinte.

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Seleção Esta etapa é realizada manualmente para retirada de sementes sem condição de uso: sementes quebradas no processo de lixamento, ou então estragadas por ação de microrganismos.


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6

Furação

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Imunização

A furação é feita por unidade de semente, com uso de furadeira de bancada e brocas escolhidas de acordo com o tamanho do furo desejado, mas que não comprometa a qualidade aparente da semente.

Sementes são vulneráveis ao ataque de insetos, fungos e microrganismos. Por esse motivo, quando não são tratadas devidamente, comprometem a qualidade dos produtos artesanais a que são destinadas.

A semente de juçara tem formato quase esférico, com medidas que variam entre 6mm a 10 mm de diâmetro, portanto há necessidade de um alicate para auxiliar a execução do furo. O furo é feito no poro germinativo, para evitar a germinação da semente. O formato da semente e o poro germinativo marcante facilitam a execução do furo, mas ainda estamos buscando uma forma que facilite e otimize esse processo, que é moroso, para que as artesãs possam furar várias sementes de uma vez.

Quando chegamos ao Maracanã, as artesãs realizavam o artesanato de arranjos florais utilizando a palha da juçara na confecção de flores e troncos de árvores, os ‘mondrongos’, como base dos arranjos. Para imunizar esses troncos, aplicavam inseticidas. Quando começamos a realizar o processo de beneficiamento e precisamente na etapa de imunização, foi sugerido o uso desse mesmo material para imunização das sementes. Durante roda de conversa, esclarecemos sobre a toxicidade dessas substâncias e os malefícios que trazem à saúde e para o meio ambiente. Mostramos que poderíamos imunizar as sementes, utilizando produtos menos danosos. Apresentamos então a proposta da Doutora Denise Rezende, agrônoma e professora da Universidade de Brasília, que elaborou o Manual de Instruções para tratamentos de artesanato com procedimentos curativos de insumos e sementes (MATOS et al, 2007). O tratamento consiste em duas técnicas: a primeira, com uso de álcool, e a segunda, com água sanitária. As sementes precisam estar


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8 furadas para que as soluções empregadas entrem nos furos. A solução com álcool é feita com 1 litro de álcool e 1 litro de água, colocados em um recipiente com 1kg de semente, que, depois de remexido com as mãos por alguns instantes, é deixado de molho por 10 minutos. A seguir é retirado e logo após colocado em solução de 100 ml de água sanitária para 2 litros de água, adotando-se o mesmo procedimento realizado com a solução a álcool. Após o processo, as sementes são colocadas em lugar à sombra para secar por dois ou mais dias, dependendo das condições climáticas.

Polimento Para o polimento das sementes, é utilizada a mesma máquina da etapa de lixamento, mas utilizando-se as lixas 600 e 1200, com duração de dois minutos para cada lixa. Esta etapa ocorre depois da imunização, apenas para as sementes que permanecerem com a cor natural; caso as sementes precisem ser tingidas, o polimento só ocorre após a etapa de tingimento.


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Banho com óleo natural

10

A semente, além da imunização com álcool e água sanitária, depois do polimento, recebe uma proteção de óleo natural contra o desenvolvimento de fungos e outros microrganismos. Para as sementes de juçara, usamos o óleo de andiroba (Carapa guianensis), rico em valor medicinal, facilmente encontrado no mercado local e por um preço acessível, na proporção de 1 colher (sopa) de óleo para 1 quilo de semente. Para que o óleo possa aderir às sementes e penetrar nos furos, é necessário mexer a solução por 10 (dez) minutos. Em seguida são colocadas em sacos plásticos simples e condicionadas em saco plástico preto amarrado com o nó para vedar a entrada de ar, deixando-se um espaço entre as sementes e o nó. Dessa forma são guardadas por dois dias para só depois serem utilizadas na confecção das biojoias (MATOS et al, 2007).

Armazenagem Após o banho de óleo natural, as sementes estão prontas para serem utilizadas e devem ser guardadas de modo adequado, para que fiquem protegidas e em condições de uso. Separamos as sementes por cores e as condicionamos em recipientes plásticos com tampa e sachê de sílica gel, para evitar umidade.


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Etapas de beneficiamento da semente de juçara

Coleta

Lavagem

Secagem

Lixamento

Seleção

Furação

Imunização

Tingimento natural

Polimento

Banho de óleo natural

Armazenamento


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Referências MATOS, Eduardo; RODRIGUES, Marcelo Nascimento; VILELA, Denise. DOSSIÊ TÉCNICO: Tratamento Preventivo e Curativo de Sementes para Confecção de Artesanato. Brasília: UNB, 2007. PESKE, S.T.; ROSENTHAL, M.D.; ROTA, G.R.M. Sementes: fundamentos científicos e tecnológicos. 3. ed. Pelotas: Editora rua Pelotas, 2012. 573p. GARCIA, Danton Camacho. Secagem de Sementes. Santa Maria: UFSM, 2010-.


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CapĂ­tulo 6

Tingimento natural: valorizando a flora local


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Capítulo 6

Tingimento natural: valorizando a flora local A semente de juçara, encontrada nos juçarais da comunidade do Maracanã, possui como principal característica uma superfície “rajada”, também conhecida como juçara “cérebro”, e possui coloração natural que varia do branco a um tom bege. Por essa razão, sentimos a necessidade de obter outros tons ao material, para que pudéssemos diversificar, ao confeccionar as peças e oferecer às artesãs uma variedade de cores. No mercado local de São Luís é comum encontrarmos sementes já tingidas, o que contribui para dar uma variada na produção das peças, mas são tingidas com corantes da indústria têxtil ou corantes alimentícios pré-fabricados. Ao optar pelo tingimento com produtos sintéticos, questões como responsabilidades

Tayomara Santos Gisele Reis Correa Saraiva

socioambientais e alternativas ecoeficientes de produção deixam de ser vistas como importantes nesta atividade. Assim, para sementes coletadas e beneficiadas da região do Maracanã, optamos por tratá-las com tingimento natural. A opção pelo tingimento natural surgiu do interesse em trabalhar com materiais biodegradáveis e devido ao Maracanã localizar-se em uma área de Proteção Ambiental – APA – na zona rural de São Luís, com uma vasta vegetação que dispõe de matéria-prima suficiente para esse tipo de aplicação, diminuindo dessa forma o custo na produção das peças e, principalmente, valorizando o produto local, mantendo sua identidade e carregando a sua história.


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Tintas Naturais

Formas de obtenção das tintas naturais

De acordo com Ferreira e Gomes (2005), os corantes naturais são encontrados principalmente nas plantas (folhas, frutos, flores, sementes, líquens14, cascas e raízes). Estes pesquisadores recomendam que seja feita a seleção destas fontes de cor, de maneira consciente, recolhendo apenas uma parte de cada planta de um mesmo local, evitando que ela se esgote e permitindo que outros também possam colhê-la.

Segundo o Grupo Arte Raiz (2003), a tinta natural é obtida por meio da mistura de um corante a um aglutinante. O corante ou pigmento é o que confere cor à tinta, e aglutinante é o que une as partículas fazendo com que a tinta possa aderir à superfície, como óleo, goma, ovo, etc. Ferreira e Gomes (2005) usam o termo mordente para referenciar materiais aglutinantes.

Há uma variedade de plantas que podem ser aproveitadas para se produzir corantes e pigmentos vegetais, no entanto, é importante observar quais são as plantas típicas do espaço geográfico onde estamos atuando, pois cada área ou localidade terá plantas com características próprias, plantas que podem ser empregadas no preparo de corantes. É importante experimentar e testar espécies diferentes, partes diferentes de sua estrutura, como as folhas, a casca de frutas, as raízes ou a madeira (MALCON; HARDINGHAN, 2016).

Costa e Cruz (2015) afirmam que os mordentes são importantes na indústria de tinturaria uma vez que, quando o corante é aplicado diretamente na fibra, nem sempre tem a fixação esperada, portanto, usa-se o mordente para maior fixação. Entretanto, Ferreira e Gomes (2005) ressaltam que a utilização ou não do mordente depende do substrato a ser tingido. Logo, para os testes realizados neste estudo, não houve necessidade de uso de nenhum mordente. Tomando como base os estudos preliminares do grupo paulista Arte Raiz (2003) acerca das formas de obtenção de tintas naturais, pôde-se estruturar a seguinte classificação das técnicas que resultam em pigmentos em estado líquido e em pó.

14. Líquens são plantas pequenas que crescem em rochas. Há muitas cores de líquens e eles são muito bons para se preparar corantes (MALCON; HARDINGHAN, 2016).


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PARA OBTENÇÃO DE PIGMENTO LÍQUIDO TÉCNICA

PROCEDIMENTO

DURAÇÃO

MATERIAL

Cocção

Cozinhar a matéria-prima.

Até que a água adquira sua cor.

Beterraba, erva-mate, café, cascas, etc.

Maceração

Deixar a matéria-prima de molho na água fria.

Em média 12 horas.

Café, erva-mate, feijão preto com aglutinante ou não.

Infusão

Picar os elementos e deixá-los em infusão no álcool.

Até atingirem o seu ponto máximo de cor (minutos, dias, semanas).

Pétalas de diversas flores, folhas, raízes, semente de urucum, lascas de madeira, repolho roxo, beterraba, etc.

Fricção

Friccionar (esfregar) a matériaAté que a superficie adquira -prima diretamente sobre a sua cor. superfície a ser tingida.

Plantas que contêm uma quantidade razoável de água, como flores e folhagens.

Liquidificação

Bater no liquidificador com Até que a água adquira sua água o material para extração cor. do pigmento desejado.

Espinafre, rúcula, salsinha, beterraba, repolho roxo, pétalas de flores, etc. Usar puro ou com aglutinante.

Fonte: Adaptado de Arte Raiz, 2003.


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PARA OBTENÇÃO DE PIGMENTO EM PÓ TÉCNICA

PROCEDIMENTO

DURAÇÃO

MATERIAL

Trituração

Triturar, reduzir o material a Carvão, giz, cascas de ovos, Até atingir a qualidade de pó. pedaços bem pequenos. tijolos, urucum, café, entre outros

Calcinação

Queimar e triturar o material Até atingir a qualidade de pó. Ossos, sementes, madeiras até reduzí-lo a pó.

Decantação

Separar os líquidos imercíveis, ou sólidos em suspensão, por ação da gravidade; os materiais triturados, após peneirados, devem ser colocados para decantar em água.

Escorre-se a água, utiliza-se a “lama” de cima e descarta-se o resíduo de baixo; a Itens acima. “lama” deve ser posta para secar até atingir qualidade de pó fino.

Lixação

Lixar o material até torná-lo um pó fino.

Até que a superficie adquira sua cor.

Imerção

Colocar o material triturado dentro de uma trouxinha de tecido e submergí-lo em movimentos contínuos por várias vezes na água em 5 recipientes.

O material fica depositado no fundo dos recipientes, então, basta escorrer lentamente a água. Após a secagem, o Itens acima. material resultante trata-se de um pó bem fino, pronto para uso.

Fonte: Adaptado de Arte Raiz, 2003.

Madeiras como cedro, pessegueiro, canjerana, louro, casca de mangue, entre outros .


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Tingimento, materiais e processos O tingimento das sementes é realizado após a etapa de imunização e inicia-se com a escolha da matéria-prima colorante. Para as sementes de juçara do Maracanã, utilizamos como materiais: pó de açafrão-da-terra (Cúrcuma Longa), extrato de casca de Aroeira (Myracrodruon urundeuva), extrato de casca de murici-do-mato (Byrsonima crassifólia), sementes de urucum (Bixa Orellana L.) e a polpa de juçara.

O açafrão-da-terra (Cúrcuma Longa) é o corante cultivado em vários países tropicais, inclusive na Índia, China, no Paquistão, Peru e Haiti. O seu rizoma15 é comercializado desidratado, geralmente reduzido a pó fino, sendo muito empregado como condimento, devido ao seu aroma característico (CORANTEC, 2016). Também apresenta substâncias antioxidantes e antimicrobianas que lhe conferem a possibilidade de emprego nas áreas de cosméticos, têxtil, medicinal e de alimentos; apresenta cor amarelo-limão, em meio ácido, e laranja, em meio básico, sendo estável ao aquecimento.

15. Rizoma: Caule da planta (CARTILHA CORANTEC, 2016).

A Aroeira (Myracrodruon urundeuva) é uma árvore que está presente em praticamente todas as regiões brasileiras: no Nordeste do país, desde o Ceará, oeste da Bahia, Minas Gerais e São Paulo, sul de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás até o Paraná, podendo alcançar até 30 m de altura (PORTAL S. FRANCISCO, 2012). Seu interior possui uma coloração que vai de um tom bege-rosado até um tom mais escuro voltado para um castanho-avermelhado. Além do termo Aroeira, também é conhecida como urundeúva, aroeira do sertão, aroeira do campo, aroeira da serra.


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O murici-do-mato (Byrsonima crassifólia) é uma planta presente em toda a América Latina, onde foram identificadas cerca de 130 espécies de muricis. O nome é de origem tupi-guarani e significa “árvore pequena”. (CERRATINGA, 2012). As espécies existentes no Brasil podem ser encontradas em áreas da Floresta Amazônica, estados do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, mais especificamente na Caatinga; seu período de floração é logo após as chuvas.

O urucum (Bixa Orellana L.) contém pigmento carotenoide obtido da semente do urucuzeiro, planta originária das Américas Central e do Sul. Do urucum são fabricados os corantes naturais mais difundidos na indústria de alimentos; aproximadamente 70% de todos os corantes naturais empregados e 50% de todos os ingredientes naturais que exercem essa função são derivados do urucum (CORANTEC, 2016). Os pigmentos do urucum são extraídos da camada externa das sementes.


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Técnica de tingimento usada no experimento Para Ferreira e Gomes (2005), são três as técnicas que possibilitam o tingimento com corantes naturais. A primeira técnica é o tingimento a frio (sem cozimento); a segunda é o tingimento a quente mediante cozimento sem uso de mordente; a terceira técnica funciona a quente com mordentes, ou seja, é necessária a aplicação de um aglutinante para garantir a fixação do produto à superfície. Como técnica utilizamos o tingimento a quente sem uso de mordentes, procedimento mais adequado devido à facilidade que o corante tem de se impregnar na superfície da semente. Com o tingimento a frio, o corante fica superficial e solta com o manuseio. De um modo geral, o processo é realizado misturando-se as sementes com o colorante em estado líquido e levado ao fogo; quando atinge

o ponto de fervura, cronometram-se 10 minutos, tempo suficiente para o corante impregnar na semente. Após esse tempo, a mistura é retirada do fogo, posta para esfriar naturalmente, em seguida as sementes são lavadas, para delas retirar-se o excesso do composto, e colocadas para secar à sombra por dois dias. O quadro a seguir mostra o processo particular de cada matéria-prima utilizada. Após a secagem das sementes tingidas, obtivemos como resultados dos testes de tingimento tons terrosos na superfície das sementes. Ao final da etapa de tingimento, as sementes recebem polimento com lixas de nº 600 e 1200 e passam por mais uma etapa de imunização com aplicação de óleo natural. Após dois dias estão prontas para utilização na confecção das biojoias.


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PROCESSO DE TINGIMENTO NATURAL DE SEMENTES DE JUÇARA Matéria-prima

Rizoma de cúrcuma

Aroreira

Juçara (açaí)

Murici-do-mato

Urucum

Material tintórico

Pó de açafrão-da-terra

Casca

Polpa

Casca/folhas

Sementes

Processo para obtenção da tinta

Cocção

Maceração

Liquidificação

Cocção

Fricção

Técnica de tingimento usada

A quente sem mordente

A quente sem mordente

A quente sem mordente

A quente sem mordente

A quente sem mordente

Qnt. Semente

250 g

250 g

250 g

250 g

250 g

Qnt. Corante

500 ml

500 ml

500 ml

500 ml

500 ml

Diluente

Água

Água

Água

Água

Água

Cor Esperada

Amarelo

Castanho-avermelhado

Roxo

Vermelho

Amarelo-alaranjado

Amarelo-ocre

Castanho-avermelhado

Roxo

Castanho-Escuro

Amarelo-alaranjado

Cor Resultante


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Referências CERRATINGA. Murici. Disponível em: http://www.cerratinga.org.br/murici/. Acesso em: 21 maio 2017. COSTA, Andréa Fernanda de Santana. CRUZ, Aniery Moraes de Lima. Tingimento natural uma alternativa sustentável para a área têxtil. In: Colóquio de Moda – 5ºCongresso Internacional, 11., Recife, 2015. Anais do 11º Colóquio de Moda. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2015. Disponível em: http://www.coloquiomoda.com.br/anais/Coloquio%20de%20Moda%20-%202015/POSTER/ PO-EIXO8-SUSTENTABILIDADE/PO-8-TINGIMENTO-NATURAL.pdf. Acesso em: 20 maio 2017. CORANTEC. Corantes Naturais: Tipos e aplicações. CORANTEC – Corantes Naturais LTDA. São Paulo: 2016. FERREIRA, Eber Lopes; GOMES, Selma (org). Tingimento Vegetal: teoria e prática sobre tingimento com corantes naturais. São Paulo: Comissão Pró-Índio, 2005. p.34. GRUPO ARTE RAIZ. Técnica: tinta natural. Grupo de pesquisa em Artes Plásticas, da Escola Municipal de Música, Artes Plásticas e Cênicas “Maestro Fêgo Camargo” de Taubaté - Vale do Paraíba - SP. 2003. Disponível em: http://arteraiz.vilabol.uol.com.br/tecnica_tintanatural1.htm. Acesso em: 20 maio 2017. MALCOM, Rosie. HARDINGHAN, Martin. Corante caseiro das plantas. TILZ - Espaço Internacional de Aprendizagem da Tearfund. 2016. Disponível em: http://tilz.tearfund.org/pt-pt/resources/publications/footsteps/footsteps_21-30/footsteps_21/homemade_plant_dyes/. Acesso em: 20 maio 2017. NOGUEIRA, Claudia do Rosário Matos. Cores Locais: práticas, saberes e ressignificações dos usos de tingimentos naturais. 2018. 156f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Design, Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2018. PORTAL DO SÃO FRANCISCO. Aroeira. Disponível em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/biologia. Acesso em: 20 maio 2017.


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Capítulo 7

Da juçara à biojoia, criação e produção


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Capítulo 7

Da juçara à biojoia, criação e produção

Samara Lobo Gisele Reis Correa Saraiva Tayomara Santos Nayara Chaves

Finalizado o processo de beneficiamento, as sementes estão prontas para tornarem-se produtos. Neste capítulo, discorreremos sobre todo o processo de criação das biojoias, que conceituamos como peças de ornamentação corporal (adornos), feitas artesanalmente com materiais extraídos da natureza que podem ser agregadas, ou não, a metais preciosos e que estão diretamente associadas a preocupações ecológicas. Nesse sentido, as peças produzidas por meio de trabalho colaborativo e cocriativo, entre designers e artesãs no Maracanã, são consideradas biojoias e foram materializadas com base no conceito de comunidades

criativas16 (MANZINI, 2008), que nos orientou como percurso projetual para o processo criativo. Então, estabelecemos como etapas: 1

Reconhecimento do território por meio de diálogo e escrita

2

Apreciação sobre noções básicas de moda

3

Apreciação de técnicas manuais com fios

4

Criação conceitual da coleção

5

Produção dos adornos corporais ‘biojoias’

16. Comunidades criativas são pessoas que, de forma colaborativa, inventam, aprimoram e gerenciam soluções inovadoras para novos modos de vida (MANZINI, 2008, p.64)


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Reconhecimento do território por meio de diálogo e escrita Esta etapa teve início com uma roda de conversa sobre o bairro, na qual as participantes puderam externar como enxergam o lugar onde vivem. Em seguida, socializando o que tinham escrito, destacamos nos relatos: a valorização do Maracanã se dá muito mais pelas pessoas de outros lugares do que pelas que vivem no bairro; a sua própria relação com o local, de onde tiram seu sustento e da sua família como artesãs, utilizando raízes e palhas dos brejos (terrenos alagados) e da pedreira. Alegaram ainda que a referência do bairro, dentro da cidade, está ligada apenas ao grupo de Bumba meu boi e à Festa da Juçara e que arteãos e pessoas criativas são pouco reconhecidas.

Textos das artesãs

Roda de conversa

Após os relatos por meio da escrita, as participantes grifaram as palavras que, em suas opiniões, mais caracterizam o bairro do Maracanã. Dessa forma, as palavras destacadas foram: bumba meu boi, juçara, buritizais, verde, guriatã Humberto, belezas, riquezas, valorização, comunidade, obras-primas, artesanato, brejos, pedreiras, sustento, família, palhas, sementes, lembrança, gente criativa e oportunidade.


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Para finalizar essa etapa, realizamos uma mostra de imagens do bairro do Maracanã referenciando ícones importantes da localidade, como fauna e a flora, as trilhas ecológicas, a arquitetura, a religiosidade, o lazer, os rios, as manifestações folclóricas e o artesanato. Durante a transição de cada imagem era questionado às participantes que sensações foram provocadas nelas ao reconhecer o território do Maracanã mediante as imagens como forma de reflexão para o diálogo a posteriori. Um dos pontos mais importantes observados nos discursos das participantes foi o descuido para com a natureza do local – o descaso com a conservação dos brejos, ora poluídos, que vem afetando o juçaral –, fonte de renda de diversas pessoas da comunidade, principalmente das artesãs, e o encerramento de duas das três trilhas ecológicas que existiam para conscientizar adultos e crianças da importância da preservação ambiental. Nessa etapa, percebemos que os momentos vividos serviram como um resgate de memória das artesãs, permitindo a estas lembrar-se dos momentos vividos cotidianamente no Maracanã: suas belezas, oportunidades, seus problemas, o que serviu para apurar o olhar no que há ao redor e perceberem a importância de preservar as belezas naturais que fortificam e qualificam o trabalho artesanal da comunidade. No campo do

processo criativo, a elaboração desses escritos e a visualização das imagens apresentadas possibilitaram-lhes tangibilizar a elaboração de ideias para seus produtos.

Apreciação sobre noções básicas de moda Nesta etapa, passamos a dialogar sobre moda, enfatizando o desenvolvimento de coleção e elaboração de cada fase: planejamento inicial, mostrando a importância de montar um cronograma com as atividades norteadoras do processo e seus respectivos prazos; definição do público a quem seria destinado o produto final; pesquisa de tendência; escolha do tema, enfatizando o conceito da coleção elaborada, as cores e materiais a serem utilizados; criação de propostas, desenhos e esboços das ideias; e confecção de produtos referentes à execução dos modelos. Ao fim, foi realizada uma atividade com as artesãs.

Diálogos sobre moda


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Com o auxílio de materiais, como papel, revistas, tesouras e colas, as artesãs reuniram todos os conceitos e explicações dadas em pranchas temáticas. A elaboração da prancha possibilita a organização de ideias para construção do conceito que culmina na elaboração de peças e composição de uma coleção. Os produtos desenvolvidos só possuirão uma base comum identificável pelo consumidor se a prancha for seguida como referência. No final da atividade, a elaboração de cada uma foi socializada.

Elaboração e socialização das pranchas temáticas

Criação conceitual da coleção Reunindo as informações adquiridas nas etapas do mapa mental e da oficina de moda, partimos para o desenvolvimento da coleção. Baseadas nas palavras destacadas no resultado do mapa mental: bumba meu boi, juçara, buritizais, verde, guriatã, Humberto, belezas, riquezas, valorização, comunidade, obras-primas, artesanato, brejos, pedreiras, sustento, família, palhas, sementes, lembrança, gente criativa e oportunidade, em mais uma roda de conversa, foi decidido sobre que mensagens as peças passariam ao consumidor, tendo sido escolhidas as palavras beleza, riqueza, valorização, comunidade, lembrança e oportunidade.


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Em seguida partimos para a escolha do tema e foi unânime a escolha do Bumba meu boi do Maracanã, a principal manifestação folclórica da localidade, apreciada por toda a ilha e conhecida por seu sotaque e tradição marcantes, levando o nome do bairro Maracanã a todo lugar. Para as artesãs, indicar o Bumba meu boi do Maracanã, como primeiro tema de coleção, é utilizar algo conhecido, de renome, referência e orgulho do bairro, tornando-se uma oportunidade de apresentar algo novo à população. Definido o tema, buscamos imagens que retratavam o Bumba meu boi do Maracanã, demonstrando a sua história, os personagens,

a indumentária (vestimenta), os instrumentos, as cores e todo o seu enredo, como abertura para o processo de geração de ideias. Partindo dessas imagens, definimos que as cores vermelho, verde, amarelo e azul, formariam a cartela de cores para confecção das peças, cores estas, características do folguedo. Definidos o tema e as cores de aviamentos para as peças, pudemos chegar à escolha do público consumidor para estes produtos: mulheres jovens e adultas. Os prazos para produção das peças também foram articulados no cronograma de atividades, de maneira que fossem respeitados até a data de exposição e venda na Festa da Juçara 2017.

Materiais definidos


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Apreciação de técnicas manuais com fios

com as artesãs outras possibilidades de nós e fechamentos.

Para facilitar o processo de criação das peças, consideramos necessário obter conhecimento sobre técnicas manuais com fios, como recurso base para a confecção das peças, por ser um material de baixo custo e por proporcionar um bom acabamento. Utilizamos fios de algodão encerado, fios de seda e fitas de seda, todos encontrados no mercado local. As orientações acerca das técnicas de amarração e fechamento das peças por fios nos foram dadas pela designer Taízza Araújo Meireles. De posse dessas orientações, pudemos experimentar

As técnicas utilizadas foram macramê base, macramê espiral, nó franciscano e trança de quatro pernas, que logo começaram a ser executadas pelas artesãs, explorando as tramas dos fios e suas possibilidades nas confecções das biojoias, estimulando a imaginação.

Técnicas com fios

Durante a oficina, cada artesã recebeu uma apostila preparada pela equipe executora, especialmente para o Projeto, com instruções sobre nomenclaturas para os diferentes tamanhos de colares e guia de medidas.


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Produção dos adornos corporais ‘biojoia’ Após o detalhamento de todo o processo, à medida que as peças começavam a ser pensadas, eram prontamente confeccionadas, pois, ao terem a ideia, as artesãs apresentavam dificuldades em representá-las por meio de desenhos, alegando que se tratava de algo difícil para elas. Então, à medida que ideias fluíam, as peças iam ganhando forma, sendo executadas já com as próprias sementes. No entanto, para evitar desperdício e falta de material na execução da peça, os fios utilizados eram medidos e suas dimensões anotadas, como forma de registro para reprodução da mesma peça. Este mesmo procedimento foi adotado com a quantidade de sementes utilizadas em cada peça, dando origem ao registro detalhado da produção. A partir do processo de criação, surgiram peças com caraterísticas próprias do Bumba meu boi do Maracanã, enaltecendo todo o seu repertório e elementos constituintes. Assim, desenvolvemos as seguintes peças:


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Conjunto “Salve meu amo” Referencia o eterno amo (cantador) do Boi do Maracanã: Guriatã Humberto. O colar é formado por fios de cor azul e amarela (cores do pássaro guriatã), com as sementes de juçara dispostas de modo harmonioso fazendo referência ao gibão (peça sobre os ombros) bordado com missangas, usado pelo amo, e as sementes dispostas nos fios do pingente remetem ao maracá, instrumento usado por Humberto nas suas apresentações.


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Conjunto “Matraca” Este colar foi criado para homenagear o instrumento que dá nome ao sotaque do Boi do Maracanã, a matraca. Geralmente os brincantes e o público amarram fios na extremidade do instrumento e o penduram no pescoço, quesito referenciado no colar; as demais peças, pulseira e brinco, seguem a mesma forma da peça.


72

Colar “Guarnicê” Guarnicê é o momento de preparação, em que os brincantes se reúnem em torno da fogueira na qual esquentam os seus tambores e pandeirões para afinação. O colar é confeccionado com fios nas cores vermelha, amarela e marrom, que remetem ao fogo, com sementes de juçara, simbolizando os instrumentos matraca, tambor onça e maracá, e a semente de dendê representando o pandeirão, o maior instrumento e com som mais forte e vibrante.


73

Colar “Toada” No bumba meu boi, a toada se refere à música cantada pelo amo, canção que ecoa na voz do batalhão e de quem o rodeia. O colar toada foi criado para representar essa unificação dos instrumentos com as vozes de quem canta sua letra. As sementes de juçara representam os brincantes, público e instrumentos que participam da apresentação bailando soltos, no ritmo sonoro, representado pelos fios nas cores do folguedo.


74

Colar “Índias” As índias são personagens do bumba meu boi que chamam a atenção do público por sua indumentária, rica de bordados e penas, e sua dança característica, de fácil aprendizagem, levando muitos espectadores a imitá-las. O colar Índias transmite a delicadeza das brincantes e as cores das penas. Foram utilizadas sementes de cores amarela e roxa e fio encerado amarelo e preto com a técnica de nó simples. Como pingente foram utilizados dois grupos de três sementes em cada fio, para simbolizar a dança da índia que o público reproduz: três passos para frente e três passos para trás.


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Colar “Encanto junino” Todo mês de junho a esperada festa do São João começa e com ela o encanto pelos grupos de bumba-boi e outras brincadeiras. O colar Encanto junino nasceu para representar esse sentimento. O folguedo é simbolizado pelo cordão colorido feito com a técnica de trança nas cores amarela, verde e vermelha, demonstrando a união do batalhão e do amor que se tem pela brincadeira. O público é representado pelo cordão de sementes que fica ao redor para contemplar cada movimento e som, que com o passar da apresentação vai se aproximando até se unir aos brincantes na cantoria, tornando a apresentação algo belo e único. Criamos assim três maneiras de uso do colar.


76

Colar “Caboclo de Fita” Este colar homenageia o personagem caboclo de fita, ressaltando sua imagem através do pingente que remete ao chapéu utilizado pelo personagem, representado por metade de uma rodela do coco babaçu e fitilhos de seda nas cores vermelha, verde e amarela, as mesmas cores utilizadas no chapéu do personagem.


77

Colar “Caboclo de Pena” O colar foi criado referenciando o personagem caboclo de pena, conhecido também como caboclo real. A peça foi criada considerando uma estética pensada pelo conjunto de sementes que formam o cordão, lembrando o bailado do personagem e um pingente simbolizando o capacete característico deste caboclo, representado por uma rodela de coco babaçu, entrelaçado com fios encerados nas cores comumente vistas nas indumentárias do personagem.


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Colar “batalhão pesado” Esta peça representa o folguedo como um todo no momento da apresentação, retratado por cordões de fio encerado e fios de seda nas cores características do grupo: azul, amarelo, vermelho e verde, com sementes na cor natural e tingidas com urucum, açafrão e juçara, fixadas nos cordões, retratando todos os brincantes.


79

Conjunto “balança meu boi” O conjunto é formado por colar e pulseira criados para homenagear a figura do boi, personagem principal da brincadeira, o causador dos acontecimentos contados nas apresentações. O colar e a pulseira contêm 3 voltas de sementes que simbolizam o bailar do boi, e flores, que representam a saia do boi de Maracanã, que, para o festejo de 2016, foi adornada com flores de tecido amarelas.


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Referências MANZINI, Ezio. Design para a inovação social e sustentabilidade: Comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E- papers, 2008. p.104.


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CapĂ­tulo 8

Fruta rara biojoias: a identidade

das mulheres do MaracanĂŁ


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Capítulo 8

Fruta rara biojoias: a identidade das mulheres do maracanã Sâmela Patrícia Moraes Gisele Reis Correa Saraiva

Com a coleção pronta, partimos para todo o processo de definição do nome, geração da marca, ilustrações para composição das peças gráficas e até os produtos gráficos, realizados em conjunto com as artesãs. Cada uma das etapas foi minuciosamente pensada para que, durante a execução, as pessoas envolvidas pudessem ser impulsionadas a expressar todo o seu discurso subjetivo e criativo do que pensavam a respeito, não somente do Projeto em si, mas de toda a cadeia que o envolve. Para isso foram realizadas:

1

Orientações sobre a importância da identidade visual

2

Apreciação e análise de similares

3

Definição de nome e conceito

4

Brainstorming e repertório por meio de diálogo e escrita

5

Geração de ideias

6

Resultados

7

Composição e aplicações


83

Importância da identidade visual Uma identidade visual tem a importância de comunicar legitimamente a qualidade e singularidade dos produtos oferecidos. Ela é a primeira comunicação com o público e, por isso, precisa ser bem elaborada para não transmitir uma imagem equivocada. Pensando nisso, vimos a necessidade de demonstrar para as

Apreciação e análise de similares No momento seguinte, foi feita uma análise de similares de marcas de biojoias do mercado, em que designers e artesãs puderam identificar as semelhanças e diferenças entre estes. Percebemos que a maioria apresentava algum elemento orgânico da natureza, como folhas, ramos, sementes e flores. Quanto às cores, observamos que havia bastante presença de verde e em tonalidades variadas. Já as tipografias utilizadas eram, a maioria, orgânica e cursiva.

artesãs a importância de uma identidade visual no reconhecimento delas através das biojoias. Para tanto, dois vídeos-conceito, que mostram a identidade visual atrelada ao conceito de fabricação de joias manuais e biojoias, foram selecionados para que elas compreendessem a importância, a definição de conceito e marca.


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Definição de nome e conceito A inspiração para o nome veio de músicas típicas e popularmente conhecidas, não somente na localidade, mas também em toda a capital, São Luís. A música “Voa Maracanã”, do Boizinho Barrica e “Ilha bela”, do cantor e compositor Carlinhos Veloz, ambas destacam as belezas encontradas na localidade e também se referem à juçara como algo de grande valor e apreciação. Foram destacadas palavras de impacto e significância para que ao final pudesse ser escolhido o nome “fruta rara”, fazendo referência à juçara, intitulada dessa forma em uma das músicas.

ILHA BELA

(Carlinhos Veloz) Que ilha bela que linda tela conheci Todo molejo todo chamego coisa de negro Que mora ali Se é salsa ou rumba balança a bunda meu boi Deus te conserve regado a reggae Oi oi oi oi Que a gente segue regado a reggae Oi oi oi oi Quero juçara que é fruta rara Lambusa a cara e lembra você E a catuaba pela calçada Na madrugada até o amanhecer

Na lua cheia Ponta d’areia Minha sereia dança feliz E brilham sobrados, brilham telhados da minha linda São Luís


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Brainstorming e repertório por meio de diálogo e escrita O brainstorming é um método livre e foi selecionado pensando-se justamente em deixar as artesãs bastante à vontade para se expressarem. Mesmo sendo uma técnica livre, foram elaboradas algumas perguntas que dessem início e direcionamento à atividade. Durante o brainstorming, as artesãs relataram o que sentiam e pensavam a respeito do Projeto, da sua relação com a juçara e com as biojoias.

A técnica do Mapa mental foi utilizada para identificar os anseios e as expectativas das artesãs quanto à marca e a sua relação com as biojoias e, assim, criar uma teia de significados os quais seriam utilizados para dar vida à marca, ou seja, conceitos que a marca carregaria.

PERGUNTAS PARA O BRAINSTORMING 1. Como ser vistas pelas pessoas e clientes? 2. Qual o seu interesse pelas biojoias com semente de juçara? (Ganhar dinheiro? Preservar a cultura? Etc.) 3. Quem são as pessoas para quem vocês querem vender as biojoias? 4. Você gosta do que faz? 5. Com qual parte do processo você mais se identifica? 6. De qual parte você menos gosta? 7. Como você se vê no futuro com relação às biojoias?


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Como resultado dessas duas técnicas, percebemos que as palavras “orgulho, gratidão, dedicação, beleza, mãos, descoberta, momentos, prazer e juçara” puderam se destacar e obter maior frequência dentre as demais palavras. Então, estas foram estabelecidas para nortear o desenvolvimento da marca. Além disso, durante o brainstorming a artesã Tatiane Mendes, em um dos seus discursos, mencionou, “[...] a juçara se transforma em joia rara nas mãos das mulheres do Maracanã”. Esta frase de impacto se tornou o slogan para a frente da marca.

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Logo em seguida pedimos que todas fizessem desenhos da representação da palmeira de juçara, da semente da juçara e do macramê, técnica de trançado mais utilizada na confecção das peças. Palmeiras de juçaras

Geração de ideias Os desenhos gerados no brainstorming foram reunidos, escaneados e passados por um processo de melhoramento de imagem para que pudessem ser manipulados graficamente. Depois, foram separados em três categorias: palmeiras de juçara, sementes e macramê. Sementes tratadas

Macramê

Após melhoramento da qualidade gráfica dos desenhos, estes puderam ser refinados e utilizados como complemento para os materiais gráficos que foram desenvolvidos, transformados em padrões, ou seja, repetição de imagens. Assim, todos os desenhos puderam ser utilizados, demonstrando sentido de união, reforçando a ideia de que todos puderam contribuir para a criação.

As palmeiras, colocadas uma ao lado da outra, geram um juçaral, e as sementes, posicionadas em cima do desenho do macramê, geram a representação das biojoias feitas com semente de juçara.

Padrão dos juçarais

Padrão das biojoias (Macramê + Semente de Juçara)


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Para a marca, foram feitos esboços baseados nas palavras conceituais (orgulho, gratidão, dedicação, beleza, mãos, descoberta, momentos, prazer e juçara) e na frase de impacto da artesã Tatiane.

Geração de ideias para o símbolo da marca

Após a análise das ideias, constatamos que a oitava ideia foi a que melhor traduziu o conceito abordado, porém o símbolo deveria ser de fácil compreensão. Trabalhando em torno dessa ideia, a mão foi redesenhada, remetendo também à aparência de uma folha e assim conseguimos o resultado esperado pelo grupo.


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Resultados A solução gerada foi uma mão que derrama o fruto da juçara, o qual ao cair se transforma em biojoia, remetendo a todo o processo feito na semente do momento em que é coletada até o tratamento final. O desenho simples, em forma de silhueta, remete à mão aberta de uma pessoa e, ao mesmo tempo, lembra uma folha, caracterizando a vasta vegetação do Maracanã. Logo abaixo do desenho da mão, uma linha em volta da parte inferior representa um cordão e um pingente com as sementes tratadas, formando a biojoia. As juçaras e as sementes são representadas por pequenos círculos de tamanhos diferentes, pois a fruta e as sementes também são de tamanhos diferenciados. Foram selecionadas as tipografias Gunny Rewritten e Eager Naturalist para uso na marca, da família tipográfica cursiva, dando a ideia de rusticidade, aproximação à escrita manuscrita, além de serem harmônicas com o símbolo gerado. As cores selecionadas para uso foram: o verde, para representar a vegetação local; o roxo, para representar a cor da polpa da juçara; o marrom e o bege, pois a semente, quando lixada para uso, apresenta uma oscilação de tonalidade entre marrom escuro e bege. Quanto ao nome, sua disposição espacial em relação ao desenho foi contornando-o, para transmitir a ideia de movimento e harmonia em relação ao símbolo.

A Marca leva como conceito a sustentabilidade, preservação e propagação da cultura local, que visa criar biojoias artesanalmente provenientes da matéria-prima encontrada em abundância no Maracanã (a semente da juçara), fazendo o próprio tratamento da semente para fornecer produtos de qualidade a seus clientes.

VERDE

ROXO

MARROM

#7fc121

#767Ce2d

C:51 M:0 Y:96 K:0

C:54 M:100 Y:99 K:34 C:43 M:82 Y:99 K:15 C:26 M:29 Y:60 K:0

R:127 G:193 B:33

R:127 G:193 B:33

Fruta Rara Gunny Rewritten

#f914a14

BEGE

R:145 G:74 B:20

#ceb67a R:206 G: 182 B:122

Biojoias Eager Naturalist


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Antes da utilização e aplicação da marca, foram feitos os seguintes testes de usabilidade para assegurar sua funcionalidade: teste em preto e branco, preto e branco negativo, dimensionamento e área de proteção e contorno para fundos coloridos.

A frase que se tornou o slogan da marca foi usada também na tipografia Eager Naturalist, na cor marrom e de forma centralizada.


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Composição e aplicações As aplicações foram pensadas para serem utilizadas no período de exposição e venda das biojoias. Portanto, de acordo com o ramo de venda, os materiais gráficos utilizados foram: camisa, embalagem, etiqueta e cartão de visita. Pensando em todas estarem identificadas no ponto de venda das biojoias, fizemos a camisa, a qual apresenta corte simples, com gola canoa, na cor branca, para não conflitar visualmente com o uso de colares, já que poderiam ser usados pelas artesãs para divulgação das peças. Na frente, foi utilizada a marca, alocada no lado direito, à altura do busto. Foram utilizadas também as ilustrações complementares: o juçaral, compondo toda a bainha da camisa, e o macramê com a juçara, contornando toda a manga; finalmente, na costa, de forma centralizada, a frase da artesã Tatiane.

Como sugestão de embalagem, pensamos no uso de materiais de baixo custo, para que pudessem ser de fácil reposição e sem comprometer o orçamento das artesãs. Neste caso, o uso do saco de papel kraft foi indicado, justamente pensando no custo-benefício, pois, além de ser de baixo preço, transmite uma imagem rústica que se enquadra perfeitamente no processo que é realizado: o tratamento da semente de juçara.


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As etiquetas foram pensadas também visando ao custo-benefício, tendo sido impressas em frente única, no tamanho 4cm x 7cm, identificando a localidade. Na parte posterior (verso), o preço e as informações sobre a peça colocados à parte, de acordo com cada peça.

Para que as artesãs pudessem receber encomendas e continuar com suas atividades de venda, foi sugerido ainda um cartão de visita, apresentando a marca, o slogan e informações referentes à localidade, ao nome e contato. Também foram sugeridas outras formas de aplicações da marca com o uso dos padrões formados.

Após a elaboração do material gráfico, foi realizada uma roda de conversa com todos os envolvidos, para que a marca e os materiais gerados pudessem ser aprovados e, caso modificados, fossem feitos os devidos ajustes.


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Modificações Com a obtenção de êxito na marca gerada e de todo o material gráfico, apenas a embalagem sofreu modificações. A embalagem não seria mais estampada, o que diminuiria os custos para as artesãs. Assim, o cartão de visita viria junto com a embalagem, e, por meio de um furo na extremidade lateral e com o auxílio de um fio, se faria o fechamento da embalagem. Finalizadas todas as etapas, incluindo as alterações, as peças gráficas seguiram para a produção.

Da concepção ao uso Uso dos materiais gráficos pelas artesãs e no stand de vendas.


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Referências LUPTON, Ellen. Intuição, ação, criação: Graphic Design Thinking. 2ª Ed. São Paulo: G Gili Ltda., 2014.


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Capítulo 9

“Tempo certo de se ouvir, Maracanã”


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Capítulo 9

“Tempo certo de se ouvir, 19 maracanã” Um dos propósitos do Projeto era que, ao final de todo o processo, as artesãs pudessem expor e vender as peças criadas. Para culminância, escolhemos o período da Festa da Juçara, realizada nos quatro finais de semana do mês de outubro de 2017. Para montagem e ornamentação do stand, foram utilizadas partes da própria juçareira e de outras palmeiras locais, como o buriti (Mauritia flexuosa) e anajá (Attalea maripa): folhas, fibras, cachos, frutos e um banner informando todo o processo realizado na semente, desde a coleta à produção das peças. Nesse momento, as artesãs puderam apresentar o artesanato com o novo tipo de

Gisele Reis Correa Saraiva Samara Lobo Sâmela Patrícia Moraes Tayomara Santos

material, já conhecido por todos, mas que, até então, não tivera nenhuma utilidade no Maracanã. Em meio a tantos visitantes, foram recebidos escolas, empresários, políticos, turistas de outros Estados e a imprensa local. A exposição teve grande visibilidade, tanto pelo uso do material e por todo o processo quanto pela escolha do nome da Coleção, na qual todos puderam identificar elementos do Bumba meu boi do Maracanã nas peças. Após a Festa da Juçara, algumas parcerias foram formadas, para exposição e venda das peças, como pousadas localizadas na Avenida Litorânea, situadas na praia do Calhau, ponto turístico de São Luís e, também, em feiras de artesanato local, pelas próprias artesãs.

19. Trecho da música “Voa Maracanã”, do grupo folclórico Companhia Barrica


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Ao iniciarmos o Projeto tínhamos a convicção de que a juçara sempre teve para a população maranhense um significado muito especial, sobretudo por dois motivos: o primeiro se refere ao nome pelo qual é chamada, ou seja, “juçara”, expressão exclusiva do linguajar maranhense, sendo, portanto, sempre juçara, jamais açaí; e, segundo, por tudo que a envolve, como a beleza da sua palmeira e dos seus cachos, o sabor da sua polpa, a maneira de degustá-la, seja com farinha, com camarão, seja com açúcar, e a sua cor, impregnada no dia a dia do maranhense. Diante dessa importância, percebemos, ao executar o Projeto, que a semente da juçara não pode e nem deve ser vista como algo que está à parte do fruto. A oportunidade de trabalhar com a semente levou as artesãs e a equipe executora do Projeto a valorizar o fruto como um todo, mostrando que a importância da juçara não finda com a extração da polpa, mas que recomeça com um outro ciclo, o da semente, que, no caso desta pesquisa, suscitou a confecção de produtos artesanais, em específico, as biojoias. Durante o percurso do Projeto, construímos um conhecimento coletivo, em que artesãs e

designers, num processo de cocriação e também de copesquisa, puderam apresentar alternativas de uso para o objeto estudado, identificando as reais necessidades da comunidade, alinhando-as às dimensões da sustentabilidade. Nesse aspecto, percebemos a importância do design em todas as fases do processo produtivo, executando uma tarefa complexa de mediar produção e consumo, tradição e inovação, qualidades locais e relações globais, assim como afirma Krucken (2009). Como todo o processo foi realizado com as praticantes habilidosas (artesãs), acreditamos que estas têm autonomia para prosseguir e, até mesmo, encontrar outras possibilidades de uso para a semente, além de agregar outros materiais encontrados no entorno da localidade. A construção de todo o processo na elaboração das peças artesanais, com semente de juçara, mostrou às artesãs que a atividade artesanal necessita de direcionamento, com etapas elaboradas e testadas, e que os produtos desenvolvidos precisam carregar os valores e qualidades do contexto local para serem reconhecidos e, dessa forma, gerar renda e fortalecer a atividade.


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Exposição e venda na Festa da Juçara


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Referências KRUCKEN, Lia. Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009. p.126.


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Biografias


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Gisele Reis Correa Saraiva Graduada em Desenho Industrial (UFMA), mestre em Design (PPGDesign-UFPE) e doutoranda em Design (PPGDesign – UNESP). Professora adjunta do Departamento de Desenho e Tecnologia – UFMA. Tem como foco de pesquisa o campo do artesanato com ênfase em sementes ornamentais da Amazônia Maranhense, atuando com comunidades locais.

Kelly Barros dos Santos Graduanda em Design pela Universidade Federal do Maranhão, onde desenvolveu projetos de Design de Produto, Design Gráfico, Design Participativo, Design UX, e o Projeto Artesanato no Maracanã, contribuindo na pesquisa e no desenvolvimento do Projeto. É técnica em Edificações, formada pelo Instituto Federal do Maranhão, onde trabalhou com projetos de Arquitetura, Design de Interiores e Instalações Prediais. Atualmente, além de estudante, trabalha com Diagramação, Design Gráfico, Ilustração, Branding, e Gestão e Marketing na empresa Agayo Taekwondo.

Laís do Nascimento Everton Graduanda em Design pela Universidade Federal do Maranhão onde produziu diversos trabalhos nas áreas de Design Gráfico, Produto e UX. Participa do Projeto Artesanato no Maracanã como voluntária. Atualmente atua como pesquisadora do Núcleo de Prototipagem e Design – Fabrique Design, onde desenvolve trabalhos de pesquisa na área de UX voltado para o campo da saúde, área pela qual demonstrou bastante interesse ao trabalhar na equipe de educação e qualidade de um importante hospital da cidade de São Luís.


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Nayana Gatinho da Silva Graduanda em Design pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), estagiária do Núcleo de Pesquisas em Inovação, Design e Antropologia (NIDA) e integrante do Projeto de Extensão Artesanato no Maracanã. Na academia desenvolveu projetos em vários campos do design, tais como: produto, gráfico, interação, participativo e serviço. Atualmente trabalha como designer gráfico e editorial no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA).

Nayara Chaves Ferreira Perpétuo Designer de Moda formada pela Universidade Ceuma e graduada em Relações Públicas pela Universidade Federal do Maranhão. Mestre em Design pela Universidade Federal do Maranhão. É professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico na área de Produção do Vestuário e Moda do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão IFMA. Representante em São luís do Fashion Revolution.

Raquel Noronha Designer (ESDI, 2001), mestre (PPGCSoc-UFMA) e doutora (PPCIS-UERJ, 2015) em Ciências Sociais. Professora adjunta da Universidade Federal do Maranhão, onde integra o Programa de Pós-Graduação em Design. Líder do Núcleo de Pesquisas em Inovação, Design e Antropologia - NIDA (CNPq), desenvolve pesquisa nas áreas de design participativo, relação design-materiais-artesanato, design anthropology e design e questões de gênero, visando à autonomia e à descolonização do design.


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Samara Lobo Matos Graduada em Design pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Durante o período como participante do Projeto de Extensão “Artesanato no Maracanã” se apaixonou por design de joias. Atualmente trabalha como designer gráfico e como fotógrafa voltada para a fotografia de dança e movimento.

Sâmela Patrícia Moraes Graduada em Design pela Universidade Federal do Maranhão. Trabalha com design gráfico, desenvolvimento de produtos e comunicação. É membro integrante do Conselho Editorial da Secretaria Municipal de São Luís – SEMED, na qual atua como designer editorial e revisora de arte das produções. Participou do Núcleo de Pesquisas em Inovação, Design e Antropologia – NIDA/UFMA, onde trabalhou com pesquisas de desenvolvimento de produtos e design participativo. Possui experiência em projetos voluntários interdisciplinares, levando sempre a propagação do conhecimento em design para mais pessoas, no intuito de somar à transformação de realidades.

Tayomara Santos dos Santos Mestre em Design - PPGDg/UFMA. É pesquisadora do Núcleo de Inovação, Design e Antropologia – NIDA/UFMA; Arte-educadora da ONG, Centro Educacional e Profissionalizante do Coroadinho – CEPEC; Bacharel em Design-UFMA (2018); Bacharel em Administração de empresas pela Faculdade do Maranhão-FACAM (2008), com habilitação em gestão de serviços, processos e pessoas. Atualmente pesquisa materiais, processos e tecnologia a partir da abordagem do Design Anthropology por meio de práticas colaborativas em territórios específicos, considerando as inter-relações entre design, sustentabilidade, identidade, cultura produtiva, território e seus nativos. Como aspirações futuras busca realizar doutorado em design ou em educação.


105 Projeto Artesanato no Maracanã: utilização da semente de juçara na produção artesanal Coordenadora Gisele Reis Correa Saraiva Pesquisadoras Andréa Katiane Costa Raquel Noronha Bolsistas Samara Lobo Sâmela Patrícia Moraes Nayana Gatinho da Silva Kelly dos Santos Voluntárias Tayomara Santos Laís do Nascimento Everton Colaboradora Nayara Chaves Projeto gráfico e diagramação Nayana Gatinho da Silva Capa Kelly Barros dos Santos Revisão Maria Cícera Nogueira


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“JUÇARA DA MINHA COR: Reconhecendo e valorizando o território”, como título traduz a potencialidade dessa semente que instigou o interesse sobre o território e tornou os pri-

Esse é o convite que este livro faz. Na organização dos capítulos somos conduzidos a adentrar o território do Maracanã, conhecer o fruto juçara e as potencialidades de sua se-

meiros passos dessa investigação possível. O Projeto de que trata este livro, dá um passo

mente, passear sobre as tradições do território, para enfim nos inteirarmos do Projeto “Artesa-

à frente; avança com a integração e o envolvimento das artesãs do Maracanã, permite a vivência e as experiências que apenas a construção coletiva é capaz de proporcionar. A coletividade, então, talvez seja o ponto

nato no Maracanã”. A partir daí um novo ciclo se inicia; aprendemos o processo de beneficiamento da semente, e como deve ser em todo processo de design, segue o desenvolvimento do conceito e das alternativas de projeto e

de inflexão deste Projeto, com a incorporação de metodologias coprojetuais, como o design

produção, que culmina com a comercialização dos produtos na Festa da Juçara.

participativo, design colaborativo ou codesign; uma abordagem que se sustenta pela troca de saberes, experiências, diferenças. É um caminho que provoca mudanças profundas nos atores envolvidos, capaz de expandir as perspectivas existentes e o olhar sobre sua identidade, território e potencialidades. Sob essa perspectiva, acontecem as reais possibi-

Vale a pena esta leitura, conhecer a realidade do bairro do Maracanã e de seus moradores, as potencialidades da semente de juçara, e o caminho que as pesquisadoras percorreram ao longo do Projeto. É louvável o empenho e a dedicação despendidos para a valorização do local, do território, das pessoas, da identidade, assim como é necessário estimular a prática de

lidades de transformação social, aquelas com potencial mais duradouro e sustentável, que, por si sós, contribuem para a reorganização do tecido social.

contar essas experiências e contribuir para a construção de conhecimento em design, especialmente quando da sua relação com o campo das humanidades. Virginia Cavalcanti


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