+museu boletim n.º 13 | maio/outubro 2010

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Câmara Municipal de Palmela

boletim do Museu Municipal de Palmela

Editorial

nº 13 • Maio/Outubro 2010

A temática “Museus para a Harmonia Social” foi a escolhida, pelo ICOM, para comemorar em 2010 o Dia Internacional dos Museus. Acreditamos que diversas acções do Museu de Palmela, espelhadas neste boletim, contribuem para uma prática museológica que tem subjacente, em permanência, conceitos e valores geradores de Harmonia Social. Trabalhar com a comunidade e com organismos e investigadores, de várias áreas, que podem devolver às pessoas que vivem no nosso concelho, e que o visitam, marcas da(s) Memória(s) e da História locais para que o Futuro - em construção - seja mais profícuo, mais seguro, são formas de desenvolver o respeito pelo Outro, pelas diferenças, pela criatividade, pelo pluralismo. Damos destaque, no presente +museu , a uma das grandes obras realizadas no plano cultural nos anos 2009-10: a reabertura do Cine-Teatro São João, após uma intervenção que dotou o equipamento de maior segurança, conforto e qualidade para todos quantos dele usufruem. Inaugurado em 1952, é um marco na história cultural da vila e do concelho, e tem também grande prestígio patrimonial. Classificado como Imóvel de Interesse Municipal, este edifício tem merecido a atenção de investigadores, caso do estudo, que aqui se publica, dedicado aos estuques do imóvel. Integrado na rede de equipamentos do concelho de Palmela, o Cine-Teatro é pólo de encontro e vivência cultural quotidiana; um espaço aberto ao desenvolvimento e fruição cultural para o Concelho de Palmela, e hoje tem também patente uma exposição de longa duração - Cine-Teatro São João: Arte e Memória -, na qual se revivem momentos e pessoas determinantes para o sucesso desta casa. No ano em que o investimento financeiro no Centro Histórico da vila de Palmela produz já visíveis efeitos, fruto da aprovação da candidatura ao QREN com o projecto de Recuperação e Dinamização do Centro Histórico de Palmela, neste +museu destaca-se também um trabalho de um jovem investigador que dedicou algum do seu tempo à paisagem urbana dos finais da Idade Média, dando-nos um retrato do que a vila seria nesses tempos; este trabalho enquadra-se na lógica de investigação do projecto que subjaz à exposição Património(s) - Centro Histórico de Palmela, patente no Castelo até início de Setembro. Nos bastidores do trabalho em curso, quer por parte do Museu Municipal, quer pelo Serviço de Arqueologia, prestamos neste número contas acerca de dois projectos. Um destina-se a definir com maior precisão, e com informação recolhida junto da Comunidade, um projecto museológico para a vila e freguesia de Pinhal Novo, através da aplicação de um Inquérito à população – com recurso a uma metodologia interdisciplinar –, que contou com o apoio do movimento associativo, ao qual agradecemos a disponibilidade. Outro, diz respeito à realização de trabalhos de prospecção geofísica no Monumento Nacional Grutas Artificiais de Quinta do Anjo, o qual se insere numa estratégia global de elaboração do Plano de Pormenor dos Bacelos. Acerca da investigação realizada, no âmbito do projecto Arquivo de Fontes Orais, damos destaque neste boletim a uma tradição considerada a mais antiga festa do concelho de Palmela: a Festa em homenagem a Nossa Senhora da Conceição da Escudeira; ficam neste boletim publicadas dois registos: um sagrado e um profano. Propostas de leitura e de participação em iniciativas quer relacionadas com Ordens Militares, quer com a História do concelho de Palmela, são também aqui apresentadas. Deixamos-lhe um convite: conheça o nosso Património, usufruindo de uma diversificada oferta cultural ! A Presidente da Câmara

Ana Teresa Vicente

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em destaque... Cine-Teatro S. João, concretização de um sonho No dia 12 de Abril de 1948 deu entrada no Conse-

Apesar de várias contrariedades, em 1952 encon-

lho Técnico da Inspecção-Geral dos Espectáculos

trava-se concluída a primeira fase de construção

o projecto definitivo para a construção do Cine-

do “Cine-Esplanada São João”, tendo sido solici-

-Teatro São João, da autoria do arquitecto Willy

tadas as vistorias de modo a que a inauguração

Braun e do engenheiro Pedro Cavalleri Martinho.

pudesse ter lugar no dia 19 de Julho desse ano,

António Ventura foi o encarregado da obra, os es-

sem a Esplanada.

tuques ficaram a cargo de Manuel Marques Dias e

Destaca-se o facto de, não obstante a Esplana-

a decoração de Malheiro Martins.

da nunca ter sido construída, ser um sonho nunca

A memória descritiva (1949) sublinha a existência

abandonado pois, em 1963, foi apresentado e no-

de um conjunto edificado vedado que abrange um

vamente aprovado um novo projecto para “cinema

Cinema e uma Esplanada ao ar livre, esta última

ao ar livre”. Entre estas datas, Humberto da Silva

localizada de modo a ficar abrigada dos ventos.

Cardoso demonstrou também a intenção de dotar o equipamento com uma piscina e com um ringue de patinagem.

O equipamento cinematográfico O Cine-Teatro estava equipado uma das cabines de projecção mais completas do país, que incluía maquinaria moderna de projecção luminosa e sonora da marca Zeiss-Ikon, composta por duas ERNEMANN 10 com Ecrã STABLEFORD e Objectivas ANAMORPHOT ZEISS. A escolha do equipamento resultou de um processo rigoroso, tendo Humberto Cardoso viajado até à Alemanha para observar, em primeira mão, a sua O palco do edifício não se destinava a exibições

qualidade. Já em Portugal, o equipamento foi ad-

teatrais, pois estas apenas teriam lugar no palco

quirido à casa Soler.

da Esplanada, concebido especialmente para o efeito. Com lotação para 1010 lugares, o Balcão teria dois camarotes abertos reservados aos representantes das Autoridades. O projecto previa 8 camarins com luz e ventilação directas e outros quatro ventilados por clarabóia. A esplanada, parte determinante deste projecto inicial, previa mais 1050 lugares.

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Inauguração a 26 de Julho de 1952 A inauguração do Cine-Teatro S. João, prevista e noticiada para ocorrer no dia 16 de Julho de 1952 com a projecção do filme português A Garça e a Serpente (1951), foi adiada para o dia 26 do mesmo mês e contou com a projecção do filme As aventuras de D. Juan (EUA, 1948) e, no dia seguinte, com a exibição da revista alemã Que pernas Ela Tem.

A instalação do equipamento, ainda no período prévio à inauguração, ficou a cargo dos técnicos da marca com a supervisão e apoio de Manuel Pereira. Manuel Pereira, electricista de profissão, assumiu desde logo o cargo de projeccionista principal, função que mantém até aos dias de hoje. Ao longo destes anos, coube-lhe a importante

“Palmela tem chamado nesta última quinzena,

tarefa de gerir a sala das máquinas, projectar e

centenas de setubalenses, que àquela simpática

supervisionar a montagem dos filmes, função exe-

Vila são atraídos pelo “Cine-Teatro São João”,

cutada pelos bobinadores tais como Acácio Mon-

a moderna casa de espectáculos

teiro ou Alberto Paciência; Alberto iniciou funções

que honra o nosso Distrito.”

em 1961, e também aqui se manteve até aos dias

Artigo publicado em 1952

de hoje.

A programação da sala de espectáculos era diversificada e constante. Para além das sessões de cinema às Quartas-feiras, Sábados e Domingos, o teatro, os programas de variedades e os espectáculos musicais ocupavam a vida cultural e social da população da vila e arredores. Rui Cardoso, gestor da casa de espectáculos, deslocava-se a Lisboa, nomeadamente ao Parque Mayer, onde ia assistir aos espectáculos mais importantes da época. Seleccionava os que considerava de melhor qualidade e contratava-os para integrarem a programação do Cine-Teatro. O maior êxito de bilheteira foi o filme Sansão e Dalila, tendo vindo trinta autocarros com público de Setúbal, para as várias sessões que se realizaram Manuel Pereira e Acácio Monteiro, década 60 do século XX

consecutivamente durante duas semanas.

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Anúncio de imprensa de 1952 do filme Ladrão de Bicicletas

Cine-Teatro S. João, 4 de Janeiro de 1963. Da direita para a esquerda: Sérgio Camolas (Acordeão), n/i; José Luís Camolas (Bateria); Lourenço Camolas (Saxofone); n/i. O primeiro grupo a ser formado, na década de 60, chamava-se “5 CÊS”. Pouco tempo depois, com alguns dos elementos do grupo anterior, surgiram “Os Cinco da Banda Real” que deram lugar, no início da década de 70 ao grupo “Adágio”.

Cabia também às sociedades da vila um papel activo na programação deste Cine-Teatro. A Sociedade Filarmónica Humanitária e a Sociedade Filarmónica Palmelense Os Loureiros competiam entre si pelo melhor espectáculo que, de acordo com a memória do público da época, primavam pela qualidade e exuberância. Os Reveillons eram também imponentes acontecimentos, e os bailes traziam alegria e calor aos foyers, em ocasiões especiais.

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Da esquerda para a direita: Sérgio Camolas; José Luis Camolas; Osvaldo Chula; Lourenço Camolas; Pedro Silva

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a partir de 1963 as Festas das Vindimas trouxeram

Cine-Teatro S. João com gestão municipal

à sala do Cine-Teatro um acontecimento anual me-

Em Outubro de 1964, após o falecimento de

morável: a eleição da Rainha das Vindimas.

Humberto Cardoso, a exploração do Cine-Teatro

Não se trata apenas de um concurso de beleza,

foi atribuída ao Cine-Variedades Setubalense. Ao

mas de colocar em cena a capacidade artística da

longo dessa década, verificou-se um declínio na

população local num espectáculo que ainda hoje

actividade – talvez associado ao aparecimento da

mantém o seu toque de magia.

Radiotelevisão Portuguesa, em 1956 –, acentu-

Não obstante a espectacularidade da programação,

ado após a revolução de Abril. O decréscimo de público afectou o Cine-Teatro S. João, tal como outros equipamentos análogos pelo país; em 1981 encerrou. A Câmara Municipal acreditou nas potencialidades do Cine-Teatro enquanto pólo aglutinador da programação cultural do concelho e tentou evitar o uso do imóvel para fins diferentes daquele para o qual foi criado. Em 1989, o edifício foi comprado pelo município com o objectivo de lhe devolver o seu papel de centro cultural ao serviço da população de Palmela e de reforçar a diversidade da oferta cultural, preservando a memória colectiva da comunidade. Após pequenas obras, em Outubro de 1991, reabriu ao público com um programa diversificado de iniciativas: cinema, teatro, revista, variedades, dança, exposições, encontros, congressos.

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As comemorações dos 50 anos desta casa foram um marco na actividade cultural do município em de 2002; o Cine-Teatro foi classificado em 2005 como Imóvel de Interesse Municipal.

Recolocação da esfera da torre após a recuperação

Comemorações dos 50 anos do Cine-Teatro S. João (2002) Fotografia de Paulo Alexandre

No ano 2009 o edifício esteve encerrado para obras: segurança, conforto e qualidade foram preocupações na intervenção. Queremos que o São João preste um serviço público de qualidade e promova a democraticidade no acesso à cultura, o respeito pela diversidade estética, a criatividade, a inovação e o conhecimento. Esse é o caminho que estamos a trilhar. Com o contributo e participação de todos, em especial dos artistas e criadores culturais, o Cine-Teatro São João continuará a ser um equipamento cultural qualificado, polivalente, dinâmico e vivo. Teresa Sampaio Técnica Superior de Antropologia Museu Municipal de Palmela

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Os estuques na decoração de interiores do Cine-Teatro S. João O estudo e apreciação das artes decorativas sempre constituiu um aspecto de menor atenção, não somente por parte do observador, como dos próprios historiadores da arte que, por muito tempo, desconsideraram estas formas artísticas, encarando-as como um parente pobre das artes. Procurando desmistificar essa opinião, assistimos actualmente a uma feliz inversão nesta tendência, sendo que, paulatinamente, um grupo rigoroso de especialistas começou a dedicar novos estudos a esta temática. A técnica do estuque, tão presente na decoração dos interiores portugueses foi, igualmente, vítima desse esquecimento, verificando-se hoje esforços para o seu reconhecimento como forma válida de arte per si e de suma importância no discurso decorativo de diversos dos mais notáveis monumen-

Manuel Marques Dias

tos e edifícios nacionais. É neste contexto que debruçamos o nosso olhar

Com dezanove anos Manuel Marques Dias deixou

sobre um dos monumentos concelhios de maior

a sua terra de origem, rumando para sul ao encon-

destaque e reconhecimento: o cine-teatro S. João.

tro do irmão mais velho, Domingos Marques Dias que, então, se havia fixado na região de Setúbal,

Inaugurado na década de cinquenta, segundo a

como empresário no ramo da construção civil: es-

visão de Humberto Cardoso e arquitectado por

ta uma diáspora comummente verificada no Por-

Willy Braun, erguia-se assim a maior sala de es-

tugal das décadas de quarenta e cinquenta.

pectáculos do concelho, elaborada à semelhança

Neste distrito veio a tornar-se estucador a título

dos grandes edifícios que se conheciam nos pólos

individual, iniciando o seu ofício em obras parti-

de Lisboa e Porto.

culares, alternando as suas composições entre o

A decoração de interiores ficou a cargo de diver-

carácter utilitário e decorativo.

sos artistas e artesãos dedicados às diferentes ex-

Residente no concelho de Palmela, após o seu

pressões plásticas, como a marcenaria, as artes

matrimónio com Noémia Antunes (daí natural e re-

de fogo e o estuque.

sidente), surgiu o convite que viria a determinar o

Esta última, empreendida por Manuel Marques

seu percurso profissional; em 1952 iniciará o pro-

Dias e pela sua equipa, consistiu na obra mais

grama da decoração dos interiores dos tectos e

ambiciosa das suas carreiras, como estucadores

restantes áreas parietais do cine-teatro S. João,

contemporâneos a operar na periferia.

obra essa que, ainda hoje, apesar do restauro e recente remodelação, mantém viva a herança não

Manuel Marques Dias nasceu a 27 de Junho de

somente de um artista, mas de um estilo e discur-

1923 na vila de Santa Cruz do Bispo, concelho de

so vincado na arte portuguesa.

Matosinhos. Originário de famílias pouco abasta-

Manuel Marques Dias veio a falecer, precoce-

das, cedo encarou o trabalho como uma necessi-

mente, no início da década de oitenta, vítima de

dade. Terá sido nas suas primeiras incursões labo-

queimaduras graves na sequência de um incêndio

rais, ainda criança, que terá iniciado a sua apren-

numa das suas propriedades, nas quais se dedi-

dizagem na técnica do estuque, trabalhando com

cava, nesse período, à exploração agro-pecuária,

os oficinais portuenses, reconhecidos na tradição

terminando assim o seu percurso, mas permane-

da arte da aplicação desta matéria.

cendo a obra que lhe faz memória.

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8 Decorações cine-teatro S. João Paradigma do gosto modernista - reflectido numa arquitectura de linhas simples e depuradas - chegavam agora à periferia as tendências artísticas dos grandes pólos culturais portugueses. Marcadamente num estilo Art Deco, a decoração em estuque inscreve-se por todo o interior do edifício, verificando principal enfoque na ornamentação do tecto da grande sala de espectáculos. Apresentando uma malha reticulada, constituída por Apesar de uma obra tardia na sua concepção, é finas molduras ondulantes, quebradas em curva e evidente a recorrência a modelos anteriores – recontra-curva, este tecto dispõe assim um jogo de- flexo da mobilidade e transmissão condicionada-

corativo de medalhões estrelados em estuque, que das formas artísticas dos grandes centros para as contém o sistema de iluminação deste espaço. periferias.

A decoração de interiores do cine-teatro S. João é indubitavelmente um dos legados mais significativos desta forma e estilo artístico na região sul do país, sendo comparável a muitas das grandes Também as paredes apresentam este revestimen- obras que ainda hoje encontramos nos principais to, sendo ritmicamente trabalhadas em efeitos de pólos portugueses. caneluras, inspirado nas formas Deco: depuradas, Assim lançamos o repto, de uma vez mais, ver, reestilizadas, geometrizantes, num diálogo de tons ver, admirar e agora entender, com maior rigor, as branco e rosa.

características artísticas deste edifício/monumenPorém este design não se limitou apenas à sala to, que desde o seu nascimento expressa uma linprincipal. Observamos o efeito ilusório de pilastras guagem particular e de encantamento, não apenas decoradas com triglifos nas paredes dos corredo- para quem o vive hoje, mas para todas gerações res, assim como a ornamentação destes tectos por futuras que o procurarão entender como uma refeum grupo de medalhões de dois motivos decora- rência artística concelhia, distrital, nacional até, no tivos: a) circunferências concêntricas, b) folhagens panorama da arte contemporânea portuguesa. estilizadas tipo godrões. Junto à bilheteira verificamos ainda um efeito notável no tocante ao design

Ana Patrícia Dias Historiadora de Arte Investigadora

das sancas; estas apresentam um esquema de molduras em ângulo recto, finalizadas com frisos denticulados Revisitando assim esta linguagem decorativa, compreendemos um gosto específico na gramática or- Referências bibliográficas namental de todo o espaço. Apesar desta constituir uma obra dos inícios dos anos cinquenta, as linhas Art Deco dominam a composição, num discurso inspirado no espírito da década de trinta e nos anos de ouro do cinema, apogeu da expressão deste estilo decorativo.

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Catavento - Agenda de acontecimentos do Concelho de Palmela, nº 27. Câmara Municipal de Palmela, 2002 PEREIRA, Paulo (dir.) - História da arte portuguesa. Vol III, Lisboa: Círculo de Leitores, 1995 SILVA, Jorge Henrique Pais; CALADO, Margarida - Dicionário dos Termos de Arte e Arquitectura. Lisboa: Editorial Presença, 2004

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Património Local

Resultados dos trabalhos de prospecção geofísica nas grutas artificiais da Quinta do Anjo, Palmela As Grutas Artificiais de Quinta do Anjo foram identificadas no fim do século XIX, durante o período de laboração de uma pedreira para extracção de calcário, acção que provocou a destruição parcial da necrópole. Em 1866, Carlos Ribeiro inicia o reconhecimento científico da região da Arrábida com a que se supunha ser

Vista geral dos trabalhos

a primeira exploração arqueológica das “Furnas de Palmela”.

existente na época sobre as di- Tavares da Silva e Joaquina Soa-

Depois da intervenção de Carlos ferentes escavações, reunindo res, revelando dados importantes Ribeiro seguiu-se, em 1878, uma todos os materiais depositados para o conhecimento do povoasegunda campanha desenvolvida no Museu Nacional de Arqueolo- mento antigo da região e sobrepor A. Mendes e Agostinho Silva, gia e nos Serviços Geológicos de tudo, porque oferecem alguns que descreve a arquitectura do Portugal, publicando-os na mo- elementos importantes para a monumento e de cada gruta, as nografia “Les Grottes Artificielles compreensão deste monumencondições da jazida, o principal de Casal do Pardo (Palmela) et la to funerário. Em 2003, Joaquina espólio encontrado e revela in- Culture du Vase Campaniforme”, Soares publica um estudo moformações importantes sobre a permitindo pela primeira vez um nográfico de antigas colecções, realização de intervenções ante- registo criterioso do espólio re- como por exemplo, o espólio reriores nos hipogeus 1 e 2, mos- colhido. Também V. Leisner, com cuperado por Marques da Costa trando que Carlos Ribeiro não foi base num pacote de materiais, (Soares, 2003). o pioneiro nas intervenções e que oferecidos ao Museu Nacional As Grutas Artificiais de Quinta os hipogeus 3 e 4, já estavam de Arqueologia (supõe-se que se do Anjo são o único espaço de parcialmente destruídos devido trate de uma doação do Duque morte sistematicamente estudaà exploração da pedreira. Numa de Palmela), colocou a hipótese do no concelho de Palmela. Esta fase mais tardia da investigação das primeiras explorações terem necrópole é composta por quana região, António Marques da sido realizadas por Nery Delgado tro grutas artificiais escavadas Costa retoma as escavações dos e Pereira da Costa.

no calcário brando da Arrábida e

referidos hipogeus (ou Grutas Ar- A colecção de Manuel Heleno, foi construída durante o Neolítico tificiais), publicando os resultados depositada no Museu Nacional Final, continuando a ser utilizada das suas intervenções na jazida de Arqueologia, foi reunida e pu- como espaço de morte até ao entre 1903-1910, n’O Archeologo blicada em 1977, por M. Horta Bronze Inicial. As grutas aprePortuguês.

Pereira e T. Bubner, desta colec- sentam topo aplanado, câmara

Desde então, a necrópole tem ção destacamos a taça campa- sub-circular dotada de abóbada sido estudada por diversos inves- niforme “tipo Palmela” decorada com clarabóia superior central, tigadores nacionais e estrangei- com cervídeos.

antecâmara de planta ovalada

ros, destacando-se os trabalhos A entrada na década de 70 traz e corredor estreito com sentido desenvolvidos por Vera Leisner, uma nova dinâmica à investiga- descendente para a entrada da Georges Zbyszewski e Octávio ção deste monumento milenar, câmara. da Veiga Ferreira, em 1961, que através de uma nova geração Desde 2001, que a Câmara Mucompilam toda a informação de arqueólogos, como Carlos nicipal de Palmela está a con-

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10 ceber um programa global de ram-se áreas prioritárias onde se Apesar dos hipogeus serem sisintervenção para valorizar este executaram trabalhos de pros- tematicamente estudados, o facimponente monumento. Numa 1ª pecção magnética e posterior- to de terem sido escavados, no fase, adquiriu os terrenos onde mente perfis de geo-radar.

final do séc. XIX e inícios do séc.

estão instalados os sepulcros,

XX, com uma metodologia cien-

perspectivando-se futuramente,

tífica pouco rigorosa, condicio-

a instalação, em local próximo,

nou largamente o conhecimento

de um centro de interpretação

que actualmente, possuímos do

da jazida arqueológica e da área

monumento. Trata-se de um mo-

envolvente, permitindo a garantia

numento de natureza funerária,

da plena compreensão e fruição

com características muito pecu-

pública deste monumento nacio-

liares e com uma larga diacronia

nal, classificado em 1934.

de ocupação, desde o Neolítico

No âmbito da elaboração do Pla-

Final (final do 4º milénio a.C.) até

no de Pormenor dos Bacelos e

ao Bronze Antigo (inícios do 2º

do projecto de Salvaguarda e Va-

milénio a.C.), factores estes que

lorização do Monumento Nacio-

suscitam inúmeras questões que

nal “Grutas Artificiais de Quinta

podem finalmente ser solucio-

do Anjo”, concluiu-se que seria

nadas, à luz das técnicas e mé-

necessário proceder-se à reali-

todos científicos actuais, com a

zação de prospecções geofísicas

continuação da investigação e o

a desenvolver na área do monu-

estudo multidisciplinar do monu-

mento e nas áreas adjacentes,

mento.

com o intuito de perceber qual o potencial arqueológico de toda a envolvente, da presença de mais

Pormenor dos trabalhos com Geo-radar.

grutas e se seria possível identificar outro tipo de vestígios de Os resultados obtidos indiciam ocupação antrópica relacionáveis a possibilidade de existência com o monumento funerário.

de vestígios antrópicos na área

Os trabalhos iniciaram-se com analisada, que poderão correso reconhecimento da área a in- ponder a pelo menos duas novas tervencionar e a respectiva de- ocorrências de natureza artificial limitação. Após estes trabalhos desconhecidas, que apresentam preparatórios procedeu-se à re- uma estruturação similar às exiscolha de vários tipos de objectos tentes no local. no interior da área delimitada que poderiam causar interferências ou dificultar a leitura do sinal (metais, vidro, cerâmica de construção, lixos vários). A prospecção geofísica começou com a utilização de métodos combinados electromagnéticos em toda a área alvo de estudo, para posterior processamento de dados de maneira a delimitar áreas com potencialidade arqueológica. Após este processo selecciona-

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Planta Arqueo-geofísica

Bibliografia . COSTA, A. I. Marques da (1902-1910) – Estações pré-históricas dos arredores de Setúbal. Grutas Sepulchrais da Quinta do Anjo. O Archeólogo Português, VII-XV. . FERREIRA, O. da V. (1966) – La Culture du Vase Campaniforme au Portugal. Memória, 12, N.S., Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal . LEISNER, V. (1965) – Die Megalithgräber der Iberishn Halbinsel. Der Westen. Berlim: Walter de Gruyter & CO. . LEISNER, V.; ZBYSZEWSKI, G.; FERREIRA, O. da V. (1961) – Les Grottes Artificielles de Casal do Pardo (Palmela) et la Culture du Vase Campaniforme. Memória, 8, N.S., Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal. . SANTOS, M. (2005) – “A necrópole de hipogeus da Quinta do Anjo: breve resenha historiográfica”, + museu, Boletim do Museu Municipal de Palmela, n.º 4, Palmela: Câmara Municipal de Palmela, pp. 10-12. . SANTOS, M. (2008) – Grutas Artificiais de Quinta do Anjo. Roteiro da exposição: Palmela Arqueológica. Espaços, Vivências, Poderes. Palmela: Câmara Municipal de Palmela, pp. 27-29. . SOARES, J. (2003) – Os Hipogeus préhistóricos da Quinta do Anjo (Palmela) e as economias do simbólico. Setúbal: Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. Miguel Serra Arqueólogo, Palimpsesto – Estudo e Preservação do Património Cultural Lda. Michelle Teixeira Santos Arqueóloga, Câmara Municipal de Palmela Oscar López Jiménez Arqueólogo, GIPSIA, SL

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em investigação... Aspectos da Paisagem Urbana de Palmela nos Finais da Idade Média * A Palmela urbana dos finais da Idade Média encontrava-se fortemente marcada pelo vínculo à Ordem de Santiago que aí tinha a sua sede. Este poder, para além de se impor ao nível da administração, economia e mesmo a uma escala social sobre o espaço da comenda, exerceu também o seu estatuto de senhorio para demarcar o espaço físico da mesma, seja ele rural ou, como é o caso do que aqui nos ocupamos, urbano. Referimo-nos a espaços de sociabilidade por exPlanta da Vila de Palmela, 1806. Arquivo Histórico Militar

celência como são os adros das

paroquiais, ou mesmo as adegas car-se para a periferia do Castelo, val, seria pautada pelo mester da e lagares, locais de romaria obri- na sua vertente Oeste, mercê do ourivesaria, com as suas oficinas gatória para a transformação da progressivo abandono da zona e respectivas casas de habitação matéria-prima agrícola, ou, por alta da vila.

sobranceiras.

outro lado, o próprio convento Descendo o cerro do castelo, Quanto à Corredoura (rua Herdos freires onde algumas das para Norte, chegamos ao antigo menegildo Capelo), destinar-seobrigações dos subordinados da Bairro do Arrabalde. Este espa- ia a fazer deslocar os mercadores Ordem teriam que ser vencidas.

ço, demarcado pelos Paços do e as suas montadas e cargas por

Erguendo-se do alto de um mor- Concelho por um lado, pela Igre- uma via marginal ao núcleo urbaro, Palmela tinha um domínio ja e adro de S. Pedro por outro, no, com percurso pelo lado Este visual sobre toda a zona inter- abrindo para as ruas do Ouro, da vila, desembocando no seu estuarina delimitada pelos rios Corredoura e Direita, afirmava-se extremo Nor-Nordeste. Por fim, a Tejo e Sado. De acordo com a como o centro vital da localida- Rua Direita (rua Contra Almirante cronologia em estudo, era no seu de, local comercial e político por Jaime Afreixo), zona comercial Castelo, aí situado, que se en- excelência e onde o religioso to- por excelência, era a via por onde contravam o Convento e a Igreja cava de perto o profano.

a maioria dos visitantes e vizinhos

de Santiago, bem como a primei- Seguindo-se pelos sobreditos ar- de Palmela se deslocaria. ra paroquial da vila, a Igreja de ruamentos, na rua do Ouro tinha Palmela, pela sua localização geoSanta Maria; na zona fronteira a a Ordem a grande maioria dos gráfica, afirma-se como zona de esta localizar-se-ia um cemitério, seus prédios urbanos. Estas áre- interface comercial em toda a localização comum em face de as, como nos indica a toponímia região inter-estuarina do Tejo e uma igreja. A cartografia antiga e por comparação com outras Sado. Esta vertente encontra-se mostra-nos que tendeu a deslo- localidades do Portugal Medie- plasmada nos seus três Rossios: * Este artigo tem por base o texto da Visitação e Tombo de propriedades da Ordem de Santiago de 1510 relativo a esta vila; AN/TT, OS/CP, cod. 151, mfs. 727-727A

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12 um a Norte de S. Pedro, junto à à adega e lagares, os da Ordem protagonismo político para a vila Rua do Ouro, confrontando com localizavam-se na encosta Norte estuarina de Setúbal, manteve o a estalagem e com o Reguengo do Castelo (actual Arrábida Klub seu forte vínculo agrícola e codos Fetais, com ligação à es- Kastelo), junto ao antigo Arrabal- mercial, permanecendo um local trada para a Landeira, Rio Frio, de, destinando-se à transforma- de passagem quase obrigatório Montemor e Évora; um segundo ção e armazenamento da azeito- na ligação entre a capital, Lisboa, a Nor-Nordeste do Castelo (actu- na e da uva. Encontramos uma e o hinterland sul do Reino. al Mata do Castelo), próximo do outra adega, do almoxarife da local onde desembocava a estra- Ordem, situada na Rua Direita. da para Setúbal e Alcácer, e com Assim, a cartografia permite-nos ligação à Corredoura; e, por fim, reconstituir um pouco da vivência um terceiro no limite Norte da vila, medieval de Palmela. Um espajunto ao chafariz (Largo Marquês ço fortemente demarcado pelos de Pombal), na desembocadura imóveis da Ordem, sejam eles o das estradas para a Moita e Coi- casario comum ou o edificado rena, Alcochete e Lisboa.

ligioso e militar, espaços de ven-

Importa frisar que outras estrutu- cimento de foros, de assinatura ras e espaços marcariam forte- de contratos, de apregoamento mente o vínculo urbano de Pal- de propriedades e de notícias, de mela, nomeadamente os de cariz pagamento dos dízimos, de cura religioso e assistencial, os ligados das almas, locais de romaria, de a actividades transformadoras procissão e de festa, numa as-

Vista de Palmela em gravura publicada na revista Occidente, 1902

e os residenciais. Falamos das sunção do religioso e do profano, ermidas, do hospital, da adega imóveis estes que demarcavam, e lagares, da estalagem e do ca- claramente, as zonas de elite da sario comum. No espaço urbano Palmela Baixo-Medieval. Todos encontramos duas ermidas, de estes aspectos da vila permitemSanta Ana (actual Casa do Ben- -nos vislumbrar uma localidade Bibliografia fica), junto à Corredoura, próxima de forte pujança comercial, num

ao Rossio na zona baixa da vila, boliço diário de mercadores, de - FERNANDES, Isabel C. F. – e a de S. Sebastião (destruída), vendedeiras e regateiras, numa O Castelo de Palmela. Do confrontada com arruamentos de animação ainda mais potenciada islâmico ao cristão, Palmela: difícil identificação cartográfica, a pelo som dos animais que cor- Câmara Municipal de Palmela, Rua da Metade e a Rua das Bar- reriam livres pela vila ou que a 2004 rocas, também esta próxima ao atravessavam pela mão dos seus mencionado chafariz. O Hospital donos; uma mescla de cheiros e - SERRÃO, Vítor, MECO, José do Espírito Santo (junto à actual de cores provindos dos produtos – Palmela Histórico-Artística. Igreja da Misericórdia), encontra- hortícolas, dos lixos urbanos, al- Um inventário do património va-se em pleno coração da vila, guns deles emanados dos mon- artístico concelhio, Palmela: perto dos Paços do Concelho e turos, bem como os reflexos do Câmara Municipal de Palmela, de S. Pedro. Quanto ao casario, verde e do cromático dos frutos 2008 os poucos dados mostram-no dos quintais e hortas que ocupaalteado, com um sobrado ou vam os espaços vazios de edifimeio sobrado, desconhecendo- cado. -se divisões internas das habi- A Palmela dos finais da Idade Métações e oficinas. Relativamente dia, mesmo perdendo algum do

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João Tiago dos Santos Costa Investigador/Bolseiro CEH - Universidade Nova de Lisboa

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nos bastidores... Núcleo Museológico de Pinhal Novo: resultados de um Inquérito Prévio O Comité Consultivo do Con- da comunidade, percorrendo o de investigação desta natureza, selho Internacional dos Museus caminho que passamos a parti- e que integra o Gabinete de Es(ICOM) propõe todos os anos lhar.

tudos e Qualidade. No âmbito do

um tema, para que os Museus o Em 2008, definimos que a primeira projecto de pesquisa esse apoio possam celebrar, na valorização fase de elaboração do Programa foi corporizado na concepção do da sua função e responsabilida- se consubstanciasse na aplica- questionário a aplicar para recode social. Este ano, o tema pro- ção de um inquérito prévio à po- lha de informação, na definição posto é “Museus para a Harmo- pulação da freguesia, no sentido da amostra a inquirir, na consnia Social”. A Harmonia, conceito de apreender as necessidades, trução da base de dados para importante para a Humanidade, vontades, interesses e expectati- carregamento

da

informação

consiste, no essencial, no diálo- vas relativamente à criação deste recolhida e na posterior análise go, na tolerância, na coabitação espaço. Considerámos que esta estatística. e no desenvolvimento, baseados metodologia de inquérito possino pluralismo, na diferença, na bilitaria o contacto com outras A partir da população residencompetência e na criatividade, formas de abordagem da reali- te em Pinhal Novo, delimitou-se cuja base é entender-se, mas dade cultural e, simultaneamente, uma amostra de 377 questionádistinguir-se, encontrar-se mas permitiria fazer o diagnóstico das rios com um nível de confiança2 conservar a diferença.1

necessidades culturais e patrimo- de 95% e uma margem de erro niais da população. A aplicação de 5% e procedeu-se à sua es-

Este lema não é novo para o Mu- deste instrumento foi encarada tratificação por quotas, com baseu Municipal de Palmela, cujo como um novo espaço partici- se no escalão etário e no tipo de esforço de actuação em confor- pativo/consultivo, esperando-se lugar (lugar com características midade com as exigências da que, através deste, a comunida- urbanas e lugar com característisociedade, se cumpre mediante de fosse estimulada a reflectir e cas rurais), sendo que atribuímos o estabelecimento de parcerias a questionar, como formas de ao lugar de Pinhal Novo a caraccom outros serviços da Câmara apropriação e de proximidade ao terística urbana e aos restantes Municipal, como o Observató- Museu.

lugares a característica rural. No

rio Económico e Social. Juntos, Para o desenvolvimento deste entanto, considerando que a fidesenvolvemos diferentes pro- trabalho, foi estabelecida uma nalidade do projecto seria a ausjectos, tais como a Definição do parceria entre serviços da au- cultação dos munícipes de Pinhal Programa Museológico, para o tarquia: a Divisão de Património Novo relativamente à criação do qual se encontra em estudo a Cultural e o Observatório Econó- futuro Museu Municipal, e não a criação de um núcleo museológi- mico e Social, unidade funcional produção de um estudo com rico em Pinhal Novo. Por esta ra- a quem cumpre apoiar metodo- gor científico, considerou-se que zão, quisemos conhecer o sentir logicamente acções / projectos o valor da amostra seria meraPara mais informações sobre o Dia Internacional dos Museus, 2010 - “ Museus para a Harmonia Social”, consultar o site oficial do Conselho Internacional dos Museus (ICOM):http://icom.museum/doc/imd2010 links.html 1

Significa que se podem generalizar, com uma probabilidade de 95%, os resultados desta amostra para o universo em questão, ou seja, a população residente na freguesia de Pinhal Novo. 2

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14 mente indicativo, podendo o número efectivo de

Gráfico 2. Património(s) a representar no futuro

questionários aplicados vir a ser um pouco menor

Museu (%)

sem prejuízo dos objectivos do estudo. Uma primeira experiência no terreno revelou pouca receptividade dos munícipes em colaborar neste trabalho. Delineou-se então uma nova estratégia que consistiu na distribuição do inquérito pelo movimento associativo da freguesia, tendo sido contemplado um momento informal com cada um dos

cípio. Foi aplicado durante 4 meses (finais de Março a final de Julho) e recolhidos 257 exemplares. Neste estudo, e sobre a importância da criação de um Museu em Pinhal Novo, 93% dos inquiridos afirmaram concordar (215) e apenas 1% (3 pessoas) revelou discordar totalmente. Gráfico 1. Grau de concordância face à criação do Museu Municipal de Pinhal Novo (%)

Arte Contemporânea

Práticas Performativas

Mobilidade

Ambiental

Imaterial

on-line, durante um mês na página digital do Muni-

Associativismo Local

Municipal das Festas Populares de Pinhal Novo e,

História Urbana

esteve também disponível no pavilhão da Câmara

Arqueológico

-os para a importância do mesmo. O questionário

Caramelo

quadrar os objectivos do processo, sensibilizando-

Ferroviário

dirigentes associativos, de modo a explicar e en-

Finalmente, é de destacar que os inquiridos se mostraram expectantes relativamente à constituição deste espaço cultural, considerando-o como um factor de desenvolvimento local e um instrumento de valorização e de promoção da localidade para o exterior.3 Para além deste estudo, o Gabinete de Estudos e Qualidade apoia também a Divisão de Património Cultural na gestão da seguinte informação: - Avaliação das acções promovidas pelo Serviço Educativo do Museu – anual; - Avaliação do “Encontro sobre Ordens Militares” do GEsOS – 4 em 4 anos; - Avaliação do Curso de Formação sobre Ordens Militares do GEsOS – anual; - Estudo dos Públicos do Castelo realizado em 2009.

No que diz respeito aos Patrimónios que deveriam estar representados neste futuro espaço museológico, 80,2% dos inquiridos assinalou Património Ferroviário, seguido do Património Caramelo,

Este trabalho conjunto permite-nos ouvir, conhecer, questionar, adequar e melhorar, tornando a nossa acção mais integrada e consistente. Aproxima-nos da Comunidade que servimos, ou seja, de si!

66,1%. Com um distanciamento de cerca de 30% estão os restantes temas apresentados por ordem decrescente de importância: Arqueológico, Imaterial, História Urbana, Ambiental, Mobilidade da População, Associativismo Local, Práticas Performativas, Arte Contemporânea.

Cristina Prata Técnica Superior de História (CMP-DPC) Sónia Ramos Técnica Superior de Sociologia (CMP-GEQ) Teresa Sampaio Técnica Superior de Antropologia (CMP-DPC)

Para maior desenvolvimento sobre este tema consultar: Teresa Sampaio, A Apropriação do apelativo Caramelo na Construção Identitária do Pinhal Novo, Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Antropologia: Património e Identidades, Lisboa: Instituto Superior do Trabalho e da Empresa, 2009. 3

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património concelhio em Documentos Danças e Cantares da Festa da Escudeira Situada na vertente norte da Serra de S. Luís – Vale dos Barris, Palmela –, a Capela da Escudeira, edificada em meados do século XVIII, está integrada na herdade rural – propriedade privada – do mesmo nome e evoca Nossa Senhora da Conceição. A lápide sepulcral de Francisco Fernandes Coelho, fronteira à entrada da capela, de fachada barroca, informa-nos que esta foi por esse Padre fundada. É comum dizer-se que a Festa da Escudeira, romaria anual em honra de Nossa Senhora da Conceição da Escudeira, que durante 4 dias anima o mês de Agosto (ocorre no fim-de-semana mais próximo de 15 de Agosto), é a mais antiga do concelho de Palmela; da herdade pode contemplar-se uma bela paisagem. A musicóloga e pedagoga Maria Adelaide Rosado Pinto (1913-1997) identificou e publicou cantigas ao desafio e danças de roda recolhidas na Festa da Escudeira. Deixamos aqui uma pauta musical “Dança da Região” e versos de uma loa dedicada à Senhora da Escudeira, entoados enquanto se entregavam as ofertas na capela.

Loa dedicada à Senhora da Escudeira Ó Senhora da Escudeira Remedei este meu mal Espalha-me sol pela eira Manda chuva pr’ó nabal. Sabe ó Virgem, no entanto, Juro aqui, e não estou só, Que pr’ó ano cá te pranto Dois quilos de pão de ló.

PINTO, Maria Adelaide Rosado – Toadas, Cantares e Danças de Setúbal e sua Região. Factos e Tradições, Setúbal: Junta Distrital de Setúbal, 1971

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a não esquecer...

Exposição Patrimónios – Centro Histórico da Vila de Palmela até 5 de ro mb Sete

e Conversas de Poial 2010 Patente na Igreja de Santiago do Castelo de Pal-

Conversa de Poial, tendo como cenário a própria

mela, desde Novembro de 2009, a exposição Pa-

exposição.

trimónios: Centro Histórico da Vila de Palmela, até

A 24 de Setembro, pelas 21h00 no Cine-Teatro S.

meados de Maio teve 14 760 visitantes, em grande

João terá lugar a conversa “Memórias do Cine-

parte população local que traz amigos e familiares

-Teatro S. João”.

para conhecer, um pouco mais, sobre a vila e so-

Outra, sobre a importância do Vinho e das Adegas,

bre as suas histórias de vida.

terá data divulgada proximamente.

Para a concepção da exposição, o Museu Municipal contou com a importante colaboração dos morado-

Esperamos contar com a vossa participação!

res do Centro Histórico, que partilharam memórias, informação, peças, fotografias, nas Conversas de Poial, ao longo de 2009. Estas conversas, realizadas em locais distintos do Centro Histórico - aos quais agradecemos terem-nos recebido, como o Café Timóteo (Serafim), Grupo Ausentes do Alentejo, Casa Gama - Associação FIAR - foram subordinadas a diferente temas: Sociabilidade; Habitabilidade, Arquitectura e Arqueologia. Por desejo dos participantes e da Câmara Municipal, em 2010 deu-se continuidade ao ciclo: a 9 de Janeiro decorreu na Igreja de Santiago a primeira

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Conversas de Poial, 9.1.2010, Igreja de Santiago

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ConferĂŞncias sobre Ordens Militares, em Palmela e Lisboa

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sites a consultar acerca do Património Cinematográfico Europeu Cinemateca Nacional – Museu do Cinema http://www.cinemateca.pt/entrada.asp

Association des Cinémathèques Européennes http://www.acefilm.de/9.html

Musée Lumière http://www.institut-lumiere.org/

London Film Museum http://www.londonfilmmuseum.com

Cada número, um jogo... Tocar e cantar Pifarinho-Pifarol Uma das cantigas recolhidas* na Festa da Escudeira era esta: com a música e a letra é possível, no próximo Agosto, retomar a tradição! Pela serra anda um rebanho Chamas por ele ao sol-pôr Quem me dera ser ovelha Do teu rebanho pastor. Pifarinho Pifarol Cantas como O rouxinol. Quando passo à tua beira Cantas para disfarçar A cantar finges não ver Que vou ali a passar. Pifarinho Pifarol Cantas como O rouxinol.

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* PINTO, Maria Adelaide Rosado – Toadas, Cantares e Danças de Setúbal e sua Região. Factos e Tradições, Setúbal: Junta Distrital de Setúbal, 1971

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edições em destaque Fundos documentais especializados para consulta pública em Palmela GEsOS

Museu Municipal FERNANDES,

AAVV

Isabel Cristina

(Pref. de

F. (Coord.)

Vasco

– Ordens

d’Avillez)

Militares e

- A vinha e

Religiosidade.

o vinho em

Homenagem

Portugal,

ao Professor

Lisboa:

José Mattoso –

Syngenta/

Palmela: Câmara

Verbo, 2006

Municipal/ Gabinete de Estudos sobre a Ordem de Santiago, 2010 AAVV (Direcção de Nicole Bériou et Philippe Josserand) Dictionnaire européen des ordres militaires au moyen âge: prier et

CAMPOS, Maria Leonor e PRATA, Cristina

combattre,

- Tabernas em Palmela: um copo de 3…

France:

memórias. Catálogo da exposição, Palmela:

Librairie

Câmara Municipal/ Rota dos Vinhos da Península

Arthéme

de Setúbal, 2009

Fayard, 2009 AAVV - Le patrimoine ATAÍDE, Marta Vaz Pereira Schneeberger de -

et au-delà. Strasbourg:

Convento e Hospital de Nossa Senhora da Luz

Editions du Conseil

em Carnide: estudo histórico – arquitectónico:

de l’ Europe, 2009

contribuição para a defesa e valorização do património edificado da Ordem de Cristo. Dissertação de Mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico da Universidade de Évora. (Orientador: Jorge Custódio), Évora: Universidade de Évora, 2010

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ÍNDICE 1

Editorial

2 7

Em destaque… Cine-Teatro S. João, concretização de um sonho Os estuques na decoração de interiores do Cine-Teatro S. João

9

Património Local… Resultados dos trabalhos de prospecção geofísica nas grutas artificiais da Quinta do Anjo, Palmela

11

Em investigação… Aspectos da Paisagem Urbana de Palmela nos Finais da Idade Média

13

Nos Bastidores… Núcleo Museológico de Pinhal Novo: resultados de um Inquérito Prévio

15

Património Concelhio em documentos… Danças e Cantares da Festa da Escudeira

16

A não esquecer… 2º Ciclo de Conversas de Poial e Conferências sobre Ordens Militares

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Sites a consultar… acerca de Património Cinematográfico Europeu Cada número, um jogo… Tocar Pifarinho-Pifarol

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Edições em destaque… no GEsOS e no Museu Municipal - fundos documentais especializados para consulta pública em Palmela

Contactos: Divisão de Património Cultural - Museu Municipal Departamento de Cultura e Desporto da Câmara Municipal de Palmela Largo do Município 2951-505 PALMELA Tel.: 212 336 640 Fax: 212 336 641 E-mail: patrimonio.cultural@cm-palmela.pt

Ficha Técnica

Edição: Câmara Municipal de Palmela Coordenação Editorial: Chefia da Divisão de Património Cultural/Museu Municipal Colaboram neste número: Ana Patrícia Dias, Cristina Prata, João Tiago dos Santos Costa, Maria Teresa Rosendo, Michelle Santos, Miguel Serra, Oscar López Jiménez, Sónia Ramos, Teresa Sampaio Design: PCB, Comunicação Visual Fotografia: Adelino Chapa, Museu Municipal, Paulo Alexandre, Paulo Nobre Impressão: Tipografia Belgráfica Código de Edição: 394/10 - 3 000 exemplares ISBN: 927-8497-27-X Depósito Legal:196394/03 Faz parte integrante deste número uma separata com a reedição actualizada de um texto, esgotado, publicado pela Câmara Municipal de Palmela com o título Guia infanto-juvenil do Castelo de Palmela (edição original de 2003; tiragem 3000 exemplares)

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