As expedições em Portugal continental
Hermenegildo Capelo naturalista Tendo recebido formação na Escola Naval, Hermenegildo Capelo não pode ser intitulado de cientista na verdadeira aceção do termo. Contudo, o seu espírito de observação, a forma metódica de registar os dados coligidos e a recolha de amostras zoológicas, de botânica, de minerais, rochas e fósseis que, desde cedo, praticou e remeteu para estudo, fez com que fosse reconhecido por todos como verdadeiro naturalista. Prova disso, foi a sua eleição como sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa e como vogal da extinta Academia de Ciências de Portugal.
Em agosto de 1881, Hermenegildo Capelo, juntamente com Sousa Martins, foi comissionado pela Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL) para presidir a Comissão Administrativa da primeira expedição nacional à Serra da Estrela. Esta expedição é considerada, até aos dias de hoje, a maior e única na concentração multidisciplinar de cientistas, especialistas, médicos, pessoal de apoio e meios no nosso país, que envolveu cerca de 100 participantes. Hermenegildo assumiu também os trabalhos na sua área de estudo, a meteorologia.
As coleções trazidas das expedições em África Das amostras zoológicas e botânicas recolhidas e enviadas para o então Museu Nacional de Lisboa, resta a coleção botânica de ambas as expedições em África (1877-1880 e 1884-1885) que se encontra, atualmente, no Herbário LISU. As coleções zoológicas perderam-se no incêndio de 1978.
Em setembro do ano seguinte, acompanhado por Leonardo Torres, realizou uma exploração à Serra do Gerês. Reunindo vários estudos já realizados anteriormente, Torres e Capelo optaram por se dedicar, no terreno, ao estudo da meteorologia e das águas potáveis, que ainda não tinha sido feito.
Manihot utilissima Pohl - Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Universidade de Lisboa, MUHNAC-LISU60172 *
Na imprensa da época lê-se:
As observações meteorológicas foram algo a que se dedicou particularmente, quer por incumbência, quer por opção, nas duas expedições em África e nas expedições em Portugal continental , em que esteve envolvido. É também indiscutível o seu contributo, juntamente com Roberto Ivens, para o conhecimento africano.
Organização da Expedição à Serra da Estrela, por secções de trabalho (fonte: CISE)
Quanto se sabe, Hermenegildo Capelo foi, desta forma, pioneiro no estudo da meteorologia na Serra do Gerês. Como era seu hábito, recolheu igualmente espécimes de botânica. Torres referiu que Capelo «colhia os seus dados meterologicos com aquelle cuidado, consciência e perícia que lhe são familiares.» Hermenegildo Capelo, d. desc., Museu de Marinha - Depósito de José Manuel Brito Capelo de Morais
Bauhinia thonningii Schumach. - Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Universidade de Lisboa, MUHNAC-LISU173936 *
Amostras zoológicas - Primeira remessa dos exploradores Capelo e Ivens, 1 de abril e 7 de agosto de 1878 (REM 483) Arquivo Histórico dos Museus da Universidade de Lisboa, Fundo Museu Nacional de História Natural*
Em sua homenagem, Arruda Furtado (1854-1887) atribuiu o seu nome a duas das novas espécies de conchas trazidas de África, pelos exploradores - Helicarion capelloi e Achatina capelloi - e o mesmo fez Paul Choffat (1849-1919), mais tarde, a uma espécie de fóssil cretácico - Nerenea capelloi.
Caesalpinia pulcherrima (L.) Sw. - Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Universidade de Lisboa, MUHNAC-LISU173973 *
«Membro de uma família de naturalistas de vocação, Hermenegildo Capello empregou todas as suas viagens em coligir exemplares zoologicos e enriqueceu notavelmente o Museu de Lisboa. Muitas vezes, a bordo, os seus camaradas se riam das collecções de que elle enchia o camarote e os logares disponíveis do navio. Mas elle, impassível, sob os epigrammas e as impaciencias, prosseguia consciencioso na sua tarefa benemérita.» Alberto de Cervaes, in Occidente n.º 54, 1880 p. 43
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