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FOTOGRAFIA GRANDEANGULAR

GRANDE ANGULAR

Produção do fotógrafo Cristiano Prim se situa entre arte, imagem e história

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A MENINA TORTA, NAS APRESENTAÇÕES DE TURMAS CEART/ UDESC, EM 2013

BAILARIANA MARIANA ROMAGNANI

texto NÉRI PEDROSO fotos CRISTIANO PRIM, GIKA MARTINS E NÉRI PEDROSO

Não basta só o talento para obter fotografias capazes de fazer história como documentos visuais que, de tão potentes, mudam paradigmas e atravessam o tempo. Algumas imagens mantêm relevância por séculos. Poucos são os profissionais desse universo que conseguem captar momentos e pontos muito precisos da realidade. Nos resultados alcançados pelo blumenauense Cristiano Prim, que vive e atua em Florianópolis, é possível identificar uma “escritura”, uma marca singular no registro de detalhes quase imperceptíveis do movimento e da cena.

Bastante conhecido no circuito cultural de Santa Catarina, Prim tem uma trajetória de mais de 20 anos quase que exclusivamente voltada à documentação de espetáculos de dança, de teatro e de shows musicais. Por meio do Edital Aldir Blanc Santa Catarina – 2021, na Escola Câmera Criativa, em Florianópolis, no começo de abril, ele ministrou a oficina teórico-prática “Atrás das Lentes Fotografia para Artes Cênicas – Movimento” em que desvendou um pouco do mistério da eficiência. Em encontros presenciais compartilhou conteúdo sobre a fotografia de palco tradicional e de rua, demonstrou como, num átimo, é possível captar desenhos de luz e formas de pessoas em movimento, algumas vezes em grande velocidade, como é o caso dos bailarinos.

Mais do que talento, a produção fotográfica precisa ser entendida como um campo de conhecimento que exige domínio técnico e teórico. O arsenal de imagens deste profissional, além de elevar a fotografia ao estatuto de obra de arte, também aponta à construção documental de uma expressiva parte da história cultural de Santa Catarina. Como poucos, ele sabe que o poder das imagens atravessa questões poéticas, históricas, sociais, tecnológicas e econômicas.

Acurado cronista visual, Prim precisa ser pensado como um artista fotografando artistas. Com essa postura, o artista fotógrafo registra companhias consagradas, como o Grupo Cena 11 Cia. de Dança, trajetórias solo, festivais, shows e mostras. Pela experiência no campo da fotografia cênica, as coreografias, performances e espetáculos ganham composições surpreendentes. Não se trata de um mero registrador de fatos e acontecimentos.

foto GIKA MARTINS

ANDERSON GONÇALVES EM PROJETO SKR, DO GRUPO CENA 11

Linguagem que se constrói no fugidio

Singulares, suas imagens têm o vulto da significação, rompem com a representação pura e simples, instauram outras leituras, trazem o fulgor e a autonomia da criação artística. Mudam valores, o que também desloca a atuação para o campo da ação cultural, ou seja, alguém que contextualiza o que faz nas tessituras do social e do humano. Além de documentar, ensinar, criar autoestimas, a produção de Prim alarga sensibilidades porque oferece uma experiência estética. Seu arquivo, sob o ponto de vista da memória, é um patrimônio que o afirma como uma referência em Santa Catarina, reconhecida em 2020 por meio do prêmio de Reconhecimento por Trajetória Cultural Aldir Blanc/SC.

Defensor da criação de uma linguagem própria, aconselha a fuga do senso estético padronizado, o olhar domesticado. “Tudo cada vez mais segue o formato padrão, cartesiano e militar. Há técnicas que devemos dominar, mas por uma questão de linguagem, porque é ela que estabelece o imediato reconhecimento da autoria de uma imagem, algo fundamental que também está relacionado ao necessário respeito do tempo e do espaço do que é e quem é fotografado. Momento único e mágico, você e o fotografado se reconhecem e se redescobrem. É uma troca.”

A boa imagem se concretiza quando o fotógrafo, o músico, o ator, o bailarino ou qualquer pessoa, esquecem o nome próprio, quando todos estão mergulhados nos acontecimentos e tarefas. “Os bons disparos acontecem quando entramos numa dimensão

BAILARINA ALINE BLASIUS EM PROTOCOLO ELEFANTE, DO GRUPO CENA 11

de paridade de frequências.” Nesse sentido, segundo ele, ajuda a entender um pouco das técnicas dos atores, bailarinos e músicos. “As artes cênicas pedem ensaios e quanto mais preocupações os artistas têm com a qualidade das informações, quanto mais generosidade envolvida, mais fácil se torna o meu trabalho. O dedo dispara com mais leveza.” Assim, com essas concepções, o arquivo e a atuação de Cristiano Prim se expandem num campo sem fronteiras entre arte, imagem e história.

OS GIGANTES DA MONTANHA, GRUPO GALPÃO

Sobre Cristiano Prim

Nasce em Blumenau em 1972. Artista e fotógrafo, licenciado em educação artística pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Especializado em retratar o movimento nas artes cênicas, tem uma trajetória reconhecida por uma produção que aponta questões poéticas evidenciadas na exposição “O Fotógrafo também Dança”, realizada no Floripa Shopping (2017) e na Galeria Municipal de Arte Pedro Paulo Vecchietti (2016), em Florianópolis.

Fotógrafo do teatro Ballhaus Naunynstraße, em Berlim/ Alemanha (2016), integra o Grupo Cena 11 Cia. de Dança, o mais importante grupo de dança contemporânea de Santa Catarina. Além de fotógrafo da companhia, também atuou como cenotécnico (1995-2014) e atualmente faz a sua documentação em foto e vídeo. Atende também as principais escolas de dança de Florianópolis, como Arte.Dança, Cenarium e Garagem da Dança.

Registra os artistas Eduardo Fukushima e Michelle Moura no evento The Sky Is Already Falling – HAU, em Berlim e Düsseldorf, na Alemanha. No Brasil, documentou shows nacionais de Elza Soares, e trabalhou com João Bosco, Ney Matogrosso, Ivete Sangalo, Arnaldo Antunes e com o uruguaio Jorge Drexler, entre outros. O Festival Internacional de Música Contemporânea, Fita Floripa, Baila Floripa, Palco Giratório e Floripa TAP estão no seu currículo, além da coordenação fotográfica da Maratona Cultural de Florianópolis em 2011, 2012 e 2013. Desde a sua primeira edição em 2006, é o fotógrafo oficial do Festival Internacional de Dança Contemporânea – Múltipla Dança, o mais importante evento nessa singularidade no Sul do Brasil.

RENATO TURNES NO ESPETÁCULO HOMENS PINK

JÚLIA WEISS NA PEÇA TEATRAL HD HOJE DANÇA, CEART/UDESC

Os bons disparos acontecem quando entramos numa dimensão de paridade de frequências.

GIKA MARTINS foto

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