Livro infantil "O Príncipe D. Luís e o mistério do mapa roubado"

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A princesa quis saber: — E ouves bem? — Oiço os cascavéis a léguas de distância. Sei sempre para onde foi a ave... — E será que és capaz de falar com elas, como faz o falcoeiro do pai, e fazia o pai dele, antes dele? D. Luís confirmou com vinte acenos da cabeça: — Sou, Isabel, prometo-te que sou, e paciente também. Passo horas na falcoaria, e aqui em Salvaterra de Magos mais ainda. Sigo o mestre falcoeiro e vejo tudo o que faz (é preciso falar baixo, para que não se enervem, sabias?). E quando está a treinar uma ave nova, leva-me com ele para o campo. Põe-lhe o caparão para que não se assuste, no bornal a tiracolo tem sempre viandas, e escolhe sempre um morro mais alto para o ver voar. Eu penso sempre que o falcão não vai regressar, um ponto no céu a perder de vista, mas volta; ou quando apanha uma presa e pousa no chão, vamos lá a correr, e ele entrega-a ao falcoeiro. E, depois, o mestre dá-lhe a recompensa. É assim que aprendem, é assim que fazem. Isabel sorriu-lhe: — Então se o teu braço já está forte, e a tua mão grande, se ouves bem, e ainda por cima sabes falar com as aves, e és paciente, talvez — e disse talvez! — o teu presente de anos seja um falcão! — Vou ensiná-lo a caçar —, cantarolou de novo o infante, desta vez saltando da cama, os olhos a brilharem tanto, tanto, que pareciam mesmo os de uma ave de rapina, capazes de ver a léguas e léguas de distância. — E um dia vou ter um gerifalte, os falcões com que só os reis podem caçar —, rematou. O rosto de D. Isabel ficou sério: — Luís, uma coisa de cada vez. 7


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