O Hóquei em Valongo - Resumo Histórico 1953-1980 (Parte I)

Page 1


João Castro Neves

João Castro Neves

[Loureiro]

[Loureiro]

O Hóquei em Valongo

Resumo histórico

1953-1980

O Hóquei em Valongo

Resumo Histórico 1953-1980

Ficha Técnica

Título: O Hóquei em Valongo - Resumo histórico 1953 - 1980

Autor: João Castro Neves

Capa - design: Inês Vieira da Silva

Edição: Câmara Municipal de Valongo

Primeira Edição: Novembro 2023

Tiragem: 500 ex.

Produção e Impressão: Tipografia Lessa - www.tipografialessa.pt

ISBN: 978-989-54573-9-7

Depósito Legal: 523979/23

ÍNDICE GERAL

Índice Geral .....................................................5

O sonho é o início de qualquer conquista! ..........9

Ontem, como hoje... a construir o amanhã ....... 11

00. Preâmbulo...............................................17

Agradecimentos ............................................. 23

01. O Hóquei em Patins no Mundo ................25

“Cronologia Histórica do Hóquei em Patins” da AEIST 27

02. O Hóquei em Patins em Portugal ............34

A construção de rinques ..................................35

Inicia-se a corrida para a glória… em 1947! .......36

A década de 1950 ........................................... 41

A década de 1960 ........................................... 43

A década de 1970 ............................................44

A década de 1980 ...........................................46

A década de 1990 ........................................... 51

03. Aparecimento do Hóquei em Patins em Valongo 61

O começo ...................................................... 61

O encontro dos “fundadores” ..........................64

Os rinques de patinagem ................................65

O primeiro rinque do hóquei ............................65

A “Separadora”............................................... 70

O segundo recinto do hóquei em Valongo ........ 70

O terceiro rinque de hóquei e patinagem:

O rinque da Praça – a “eira” ............................. 75

O contrato de construção do rinque da Praça .. 76

A cedência do rinque à ADV............................. 78

O hóquei e as famílias. As famílias do hóquei em Valongo 83

A gestão do rinque da Praça ............................85

O balneário ....................................................85

A vedação do rinque .......................................86

O quarto rinque de hóquei – o Pavilhão

Gimnodesportivo ............................................ 87

O começo da Associação Desportiva de Valongo ................... 92

A inscrição para o Campeonato....................... 92

O primeiro equipamento ................................. 93

A sede da ADV ................................................ 94

O recheio da sede ..........................................96

A data da fundação do clube .......................... 97

As comemorações dos 25 Anos

– Bodas de Prata da ADV ...............................105

A vida interna – Os episódios desportivos ........108

Os primeiros 5 anos de jogos .........................108

Os anos 60 ...................................................

04. As Biografias ..........................................171

João Lino Azevedo Alves do Vale ....................171

Álvaro de Sousa Reis Figueira .......................... 173

Américo Carneiro Moreira ............................... 174

António Aguiar ............................................. 176

António Emílio Magalhães ............................. 179

António Figueiredo ........................................ 179

António Cândido Abreu de Sousa Aguiar ........180

António Oliveira Alves.....................................181

António Pereira Gomes ...................................182

Armando Freitas Camões ...............................182

Armindo Leal da Fonseca 183

Camilo Moreira Camilo..................................185

Cândido Marques Santos Cruz 187

Carlos Freitas Camões ...................................188

Carlos Köehler Reis Figueira ........................... 189

Domingos Manuel Castro Gonçalves da Cruz ..190

Eduardo António de Sousa Reis Figueira...........191

Eduardo Joaquim Reis Figueira ........................192

Eugénio Martins da Silva ............................... 193

Fernando Queirós .......................................... 193

Francisco Azevedo Moreira Bártolo 195

Francisco Pires ..............................................196

Francisco Trindade Soares 197

Horácio Neves ...............................................197

Dr. João Alves do Vale 198

João Amaro de Castro Neves .........................199

João Castro Gonçalves da Cruz ..................... 200

João Lino da Silva ......................................... 201

João Queirós ................................................ 201

Joaquim Augusto Castro Paupério ................. 203

Joaquim Gonçalves da Cruz .......................... 204

Joaquim Manuel Mendes Leal ........................ 205

Joaquim Moreira Duarte Navio ...................... 206

José Alves Costa 207

José Augusto Gonçalves Marques .................. 207

José Avelino Abreu Aguiar .............................. 208

José de Oliveira Alves .................................... 209

José Jorge Viterbo Fernandes das Neves .........210

José Moreira Camilo .......................................212

José Joaquim Alves Nora ................................213

Lino Serafim Leal Pinto Gomes.......................214

Luís Miranda ..................................................215

Manuel João Marques Santos Pires .................216

Renato Chaves ..............................................217

Rogério Alves ................................................218

Vítor Francisco Sousa Dias .............................218

05. Resumo dos jogos de Hóquei em Patins da ADV .......................221

Nota sobre ortografia:

Escrevo de acordo com a ortografia tradicional, não sigo o (Des) Acordo Ortográfico de 1990. No entanto, respeitarei a ortografia dos jornais e dos textos que me forem entregues, nomeadamente as biografias.

O sonho é o início de qualquer

conquista!

O município de Valongo tem muitas marcas identitárias que o distinguem, mas o hóquei em patins é sem dúvida dos maiores embaixadores do nome e da alma desta comunidade.

O entusiasmo em volta desta modalidade é tal, que, em Valongo, as conversas de café resvalam para o hóquei e os dias de jogo são vividos com intensidade ao redor do pavilhão.

“Orgulho, Raça e Tradição” é o que se lê na bancada central. O apego dos valonguenses ao hóquei em patins é feito disso mesmo. É um clube popular, de recursos modestos, mas que possui um historial digno de apreço, com um relevante trabalho em favor da causa desportiva.

Desde o velho rinque até ao presente, o agora pavilhão, com todos os requisitos exigidos por quem joga e por quem vê, a Câmara Municipal de Valongo constitui-se, desde 1964, sócia benemérita do clube, apoiando a modalidade da comunidade valonguense.

O passado foi glorioso. Os nomes lendários do clube, ícones dos patins e do stick, que nasceram em Valongo, ajudaram a catapultar-se para os patamares mais altos do hóquei nacional e internacional. O presente continua o caminho.

A saga do hóquei em patins de Valongo, há quase 70 anos, protagoniza o nosso território como baluarte da modalidade, e nos transporta à dimensão de “capital do hóquei”, de que justamente gozamos.

Considerado um desporto de interesse municipal, o município torna agora acessível a sua história, em livro, como reconhecimento explícito do muito que esta modalidade tem contribuído para o desenvolvimento do desporto em Portugal e em Valongo em particular.

Quando convidei o Dr. João Loureiro de Castro Neves para escrever o livro, e aceitou, fiquei muito honrado. E sempre que pude fui acompanhando o evoluir do trabalho, todas as dificuldades que foi encontrando, e foram muitas, mas também os preciosos aliados que permitiram alcançar “o cume”, destacando aqui o inestimável e sábio contributo do João Carlos Paupério.

O autor retribui-nos agradavelmente com a sua obra, amizade, admiração e valor que lhe reconheço. É sem dúvida, este, um empenhado e profícuo trabalho de pesquisa e de investigação que traduz a sua pertinácia e seriedade.

Esta publicação é o ponto de chegada como chamada de atenção para o seu percurso histórico. Os depoimentos e os registos documentais tornam-se seguramente fontes privilegiadas e básicas para perceber as vicissitudes da sua implantação, ascensão e transformação em caso nacional. Abrir o livro corresponde perceber os momentos de glória que encantam.

O desporto também é isto, um importante elemento de relações exteriores, pelo que, esta edição só foi possível com o precioso contributo da família ADV e da comunidade local. A Associação Desportiva de Valongo é para os valonguenses mais do que uma mera coletividade desportiva, é acima de tudo uma paixão, uma fervorosa paixão, e para muitos até, um modo de vida.

Desejo, pois, que a história aqui relatada seja um estímulo a todos que um dia ficarão nas referências da ADV.

Agradeço, reconheço e homenageio todos os hoquistas, dirigentes e massa associativa que tiveram e têm um papel fundamental na vida do clube.

Manuel Ribeiro

da Câmara Municipal de Valongo

Ontem, como hoje... a construir o amanhã

Um Clube que não honra o passado, não tem presente e jamais terá futuro.

Os primeiros 25 anos da história do Valongo (A.D.V.), escritos por quem vivenciou os primeiros passos deste grande Clube, são o testemunho vivo de quem pequeno se fez grande.

Muitas alegrias, alguns desencantos, muito sacrifício e, como diz o povo, muita carolice. Os grandes obreiros (já poucos sobrevivem) fizeram das “tripas coração” e, contra tudo e contra todos, consolidaram um Clube, uma Vila (hoje cidade) um Concelho, de quem se fala hoje aquém e além-mar.

Não foi, não é, e provavelmente nunca será fácil governar esta tão grande Nau, com tão parcos recursos. Mas nada é impossível para este “grande querer“ das gentes de Valongo.

Campeões Distritais, Campeões Nacionais, Vice-Campeões Europeus, Campeões Continentais, Campeão Intercontinental, escolas de patinagem de excelência, jovens que já tanto conquistaram e mais ainda, continuam a acreditar que muito mais haverá para conquistar.

Esta Direcção mais não fez do que dar continuidade ao trabalho, então delineado.

O futuro, assim queiram os vindouros, será sempre o que os Sócios, simpatizantes, apoiantes e parceiros quiserem, mas o Orgulho, a Raça e a Tradição isso jamais morrerá, enquanto as sementes continuarem a ser lançadas, neste tão fértil terreno.

Um abraço amigo

José Dias Presidente da A. D. Valongo

À memória inapagável do meu filho João Carlos Castro Neves, que ainda apreciou a minha resumida História dos Primeiros Anos do Hóquei em Patins em Valongo, de 2013, e já não conseguiu ver este livro escrito, como desejava. E eu com ele.

Dedico este livro:

- Ao meu Amigo João Lino Azevedo Alves do Vale, inspirador e verdadeira “alma mater” do projecto e da realização da Associação Desportiva de Valongo.

- A todos aqueles, mulheres e homens, que de algum modo, com maior ou menor dádiva, ajudaram a construir a Associação Desportiva de Valongo.

A poet’s hope: to be, like some valley cheese, local, but prized elsewhere

W. H. Auden 1929-1931

(“Um desejo do poeta: ser, / como certos queijos campesinos, / local, mas apreciado em toda a parte”)

00 Preâmbulo

“Ainda que nos seculos por vir algum d’esses cataclysmos que subvertem as nações e fazem desaparecer os povos risque do mappa de Portugal esta encantadora terra, este livro ficará sempre como um monumento vivo a atestar aos vindouros o que ella fôra no passado. E assim como os toscos hieroglyphos do Egypto perpetuam a civilização de gerações que se finaram, a ‘Villa de Vallongo’, apesar de mal escripta, não deixará esquecer as belezas nem as graças que o céo azul d’esta villa abundantemente encerra.”

P.e Joaquim Alves Lopes Reis (1904): “A Villa de Valongo, Suas Tradições e História, Descripção, Costumes e Monumentos”

“O objectivo deste estudo é o de contribuir para o conhecimento dos homens e das mulheres mais ignoradas e anónimas do território, mas que desde os tempos mais remotos, independentemente de quem os dominou, escravizou e libertou, desbravaram a floresta, plantaram carvalhos e castanheiros, abriram valas, cercaram campos, organizaram a propriedade rural, sulcaram caminhos, construíram casas, aidos, celeiros e palheiros, desenharam um certo perfil quotidianamente vivido e sofrido, matizado por diversos factores de natureza psicológica, que paulatinamente moldariam uma certa identidade, forjada pela tenacidade e persistência laboral, familiar e social, envolvida pela dimensão religiosa, fio condutor e moral…”

Joel Silva Ferreira Mata (2017): “Contributos para a História Económica e Social do Concelho de Valongo entre 1258-1835”

Dizem os historiadores portugueses que, em Portugal, nós lidamos mal com a memória. Ou porque esquecemos com facilidade o que é de facto importante; ou porque destruímos com o maior dos à-vontades os monumentos – de pedra, de papel ou semelhantes – que ajudam a perpetuá-la; ou porque não fazemos nenhum esforço para construir a arquitectura, mais ou menos efémera, que ela também é.

Um bom exemplo disto – se exemplos são precisos –é o que se tem passado em Valongo com a história do hóquei em patins. Em termos muito gerais, Valongo é externamente conhecido, e reconhecido, pela regueifa, pela lousa e… pelo hóquei. E, no entanto, se muito se tem escrito e divulgado sobre a história do pão de Valongo, com inúmeras publicações, com a meritória identificação das padarias antigamente existentes e com a instituição

da bela e notável Oficina do Pão e da Regueifa; se a lousa se expandiu um pouco por todo o mundo e a sua publicidade está feita e as poucas empresas parecem estabilizadas, é sabido que ainda ninguém se abalançou a fazer a pequena história deste caso de sucesso que é o hóquei em Valongo, tirando a louvável, mas isolada, iniciativa camarária de sobre ele fazer uma exposição, em 2013. Porque, não obstante esta e outras iniciativas semelhantes (em 2022, a Câmara produziu um filme-documentário em suporte digital sobre o hóquei em Valongo) e a publicidade dos jogos e dos jogadores, aquando das competições, a verdade é que o conhecimento da real história do clube, por parte dos valonguenses e dos próprios atletas dele, é efémera ou inexistente. Quando um dia perguntei a um jovem praticante se ele sabia como o seu clube tinha nascido, ele respondeu que lhe parecia ter sido no rinque da Praça... O que, sendo uma forma de verdade, é apenas uma pequeníssima parte dela.

Consciente destas questões, sempre senti que o silêncio era uma injustiça para com tanta gente que tem dado o seu melhor a este desporto tão bem visto na minha terra e, é claro, não me foi indiferente o facto de estar a contribuir, por omissão, para a degradação da memória local. Por isso, não resisti, quando a ocasião se proporcionou, a sugerir ao Presidente da Câmara, Dr. José Manuel Ribeiro, que pelo menos aproveitasse os materiais inventariados e expostos em 2013, no Museu e Arquivo Histórico Municipal, para fazer uma publicação que os tornasse mais acessíveis ao grande público e ajudasse a honrar a memória do hóquei. Essa ocasião surgiu no encontro de homenagem aos antigos jogadores, organizada em 12.05.2018, no Pavilhão Municipal, pela Aida Duque, simpática e querida filha de um dos clássicos guarda-redes do clube, o Vítor Francisco.

Passado algum tempo, o Presidente da Câmara acedeu à ideia e decidiu que a edilidade iria fazer tal publicação, o que aqui relevo como facto muito positivo. Depois, numa daquelas jogadas (chamemos-lhe assim, sem qualquer desprimor) em que os políticos são hábeis, entalou-me contra a parede e “obrigou-me” a aceitar escrever o texto da futura publicação…

Devo dizer que nunca me tinha passado pela cabeça ser o autor de um livro sobre o hóquei de Valongo, sobretudo porque, sendo eu um dos antigos jogadores e um dos fundadores do clube, não gostaria que isso pudesse ser interpretado como a tentativa de me pôr em bicos de pés para ser visto mais ao longe. No entanto, pensando bem, concluí que esse facto não tinha importância nenhuma: fui jogador nos anos cinquenta do século passado e, por razões da orientação da minha vida, com a saída de Valongo para Lisboa, só joguei durante quatro épocas, as quatro primeiras, de modo que o meu contributo foi mínimo relativamente a outros, como o Armindo, o Carlos Camões, o Eugénio, o Francisco Bártolo, o Américo ou o Nora, que jogaram e deram o seu contributo durante anos seguidos. Esses sim, bem como muitos outros, têm história para mostrar e que se veja; eu quase não tenho nenhuma.

Por tudo isso, achei que não iria ferir princípios éticos intocáveis nem haveria qualquer inconveniente em aceitar o “convite/imposição” do Presidente da Câmara para escrever o livro. Só espero que ele não contenha erros clamorosos ou omissões indesculpáveis – que serão sempre da minha inteira responsabilidade – e possa contribuir para o melhor conhecimento do que se passou e se passa nesse “pequeno mundo” que é, que sempre foi, a vivência da comunidade de jogadores, dirigentes, apoiantes, aficionados e apaixonados que desde o

início da vida do clube constituiu um universo venerável e venerado. E também desejo que tal conhecimento ajude a divulgar, a firmar e a confirmar os valores desportivos da “mens sana in corpore sano”, da solidariedade e da sã camaradagem.

Deve ser claro que não almejo, com a mesma unção e com a sua fé religiosa, o destino tendencialmente grandioso que o Padre Joaquim Lopes Reis antevia para o seu livro, que continua a ser a única e valiosa monografia de história genérica de Valongo. Mas tenho de confessar que não deixo de ser tocado por esse pequenino ponto que, assumo, temos em comum e que é o desejo de contribuir, por pouco que seja, para a “memória” da minha terra natal.

Aqueles que leram o bem documentado estudo do Professor Joel Ferreira Mata percebem que, com o presente escrito, eu não pretendo, ao citá-lo em epígrafe, comparar-me em mérito e em utilidade histórica com as suas bem fundamentadas conclusões. Porém, sem jactância e sem falsa modéstia, entendo que o objectivo deste livro é igualmente, ainda que de forma sectorial e limitada, “o de contribuir para o conhecimento dos homens e das mulheres mais ignoradas e anónimas do território”, que são, para mim, todos aqueles que, ao longo destes anos, se têm dado de alma e coração à causa do hóquei em patins em Valongo, e que “desbravaram a floresta” da incompreensão, do comodismo, do desalento e do “deixa andar”, para construírem um clube e engrandecerem uma modalidade e uma terra de um modo que me parece, sempre me pareceu, dadas as circunstâncias de tempo, de lugar e de escassez económica, quase miraculoso.

Já pertence à sabedoria das nações a ideia de que, ao elaborar uma obra – qualquer obra: um livro de história, um romance, uma dissertação

académica, um muro de tijolos, a escavação de um poço de água ou de um sítio arqueológico – há sempre uma diferença, pequena ou grande, isso é irrelevante no meu caso, entre a obra projectada e o resultado produzido, que depende, segundo o que é normal, da capacidade de realização do autor e das circunstâncias que o rodearam.

A capacidade de realização do autor, neste caso, será avaliada depois da obra feita. Quanto às circunstâncias, umas previsíveis, outras inteiramente surpreendentes, foram em geral bastante adversas.

Em 09.08.2019, fiz um ponto da situação da escrita do livro à Sr.ª Dr.ª Catarina Magalhães, Chefe da Divisão de Cultura e Turismo, respondendo a um pedido seu, e disse, em resumo, o seguinte:

“O projecto de livro que tenho na cabeça é este: uma história da existência do hóquei em patins em Valongo, desde a sua criação até aos tempos mais próximos, se não o ano de 2019, pelo menos os anos mais recentes. Esta história deverá ser preenchida com os seguintes factos:

a) – história das pessoas iniciais, que deram vida ao clube;

b) – história dos corpos gerentes, ao longo dos anos, com referência especial àqueles que se distinguiram pelo bom trabalho, pela dedicação e pela constância;

c) – história dos jogos, com os pormenores possíveis, privilegiando, mais do que os resultados ou as classificações obtidas (que são obviamente importantes e devem constar da história) as pessoas que tomaram parte nesses jogos, com nomes e desempenhos;

d) – pequenas biografias, as que for possível obter, de todos os jogadores que fizeram o clube;

e) – pequenas histórias da história do clube, com as recordações de dirigentes e jogadores.”

Logo nessa altura, sublinhei as dificuldades que tinha encontrado, desde a falta de documentação antiga do clube, que aparentemente se perdeu, até às complicadas deambulações entre arquivos e bibliotecas, procurando jornais e notícias, acabando no embaraço de escrever biografias em que os directamente interessados não colaboram, ou porque já cá não estão, ou porque, estando, se desmotivam em fazê-las ou em sequer fornecerem informações para o efeito…

Bom, aquilo que nenhum de nós sabia ou previra era o que estava para chegar, a pandemia. Não vou agora falar dos efeitos gerais dela, que todos conhecem, mas devo dizer que ela afectou muito a escrita do livro, num primeiro momento, porque impediu que eu continuasse a investigação da história dos jogos, realizada nas bibliotecas e arquivos, e, num segundo tempo, e esse foi o efeito mais deletério, porque me desmotivou de forma que nem eu julgaria que fosse possível, tirando-me o ânimo e a vontade de fazer fosse o que fosse.

A isso acresceu um acontecimento familiar grave, que é inútil explicar.

Ultrapassados, na medida do possível, esses constrangimentos (que não pretendem ser justificação de coisa nenhuma, mas apenas relato de factos) e tendo prosseguido na feitura da obra, chegou ela ao estado em que agora se apresenta e que dista bastante daquele projecto inicial.

Obtive uma história dos jogos quase completa, dentro da meta temporal de 1955 – 1980, que determinei, porque entretanto percebi ser a razoável, por questões de tempo de investigação,

mas sobretudo pela quantidade de texto já alcançado com o inventário dos jogos e das notícias e entrevistas, que daria um volume com demasiadas páginas, se mantivesse o propósito de ir até os anos mais próximos de nós. Quando digo “quase completa”, refiro-me às faltas de relatos que os jornais omitiram ou eu não alcancei obter e que, não sendo muitas, são algumas.

Não consegui, longe disso, escrever ou que me escrevessem as biografias que pretendia e que, talvez irrealisticamente, incluíam todos aqueles – jogadores, dirigentes, apoiantes de qualquer espécie – que ajudaram, dos modos mais diversos, a fazer a A.D.V. Neste aspecto, as dificuldades ultrapassaram de longe tudo o que eu poderia ter previsto. Seria preciso, para conseguir um resultado melhorado, ainda mais tempo do que aquele que gastei na escrita do livro. Nenhuma história é perfeita, mas esta ficou mais incompleta do que pretendi e me agradaria.

Só muito depois de começar a pesquisar e a escrever este livro e de ter imaginado o possível guião dele, tomei conhecimento do discurso que o meu Amigo João Lino Vale pronunciou na sessão solene do dia 9 de Março de 1980, quando a associação festejou as suas Bodas de Prata, numa altura em que eu vivia longe de Valongo. O discurso, escrito pela sua mão em folhas brancas de tamanho A4, por isso uma recordação preciosa, (que aqui ficará publicado, em anexo), de repente revelou-me, como eu de resto em parte já sabia, que tínhamos mais coisas em comum do que a nossa amizade, constante desde a escola primária (não a do professor Orlando, mas a do saudoso professor Isidro Matos) já teria porventura conseguido descobrir. Logo de entrada, ele afirma que fora convidado a falar sobre a história daqueles 25 anos (como conhecedor privilegiado que era dela), mas que iria fazer

uma “traiçãozinha” aos que o tinham convidado, discorrendo, não sobre a história oficial, que “está mais que feita, é do conhecimento geral”, mas antes sobre outras “histórias”. Ouçámo-lo:

“Mais interessante que essa história, penso que serão as “histórias” do clube, das pessoas que por cá passaram, isto é, a história vivida que não está nem pode estar nos arquivos; a história, afinal, que forja a “alma” de uma colectividade, que cria a tradição e que determina a individualidade dessa colectividade, aquela que permite em qualquer altura dizer-se que “o clube não tem culpa dos actos das pessoas que o servem…” O que é uma verdade muito verdadeira.”

Neste livro, que não pôde deixar de contar uma parte possível da história oficial (os jogos, as vitórias, as derrotas, os comentários, as entrevistas) eu sempre pretendi falar em especial das pessoas que fizeram o clube, qualquer que fosse a sua condição. Tenho uma consciência muito nítida de que só consegui uma pequena porção desse desiderato (as biografias, altamente deficientes, eram uma parte desse intento) e de que mesmo a parte conseguida peca por demasiado breve.

Resta-me a consolação de, após tantos anos de vida do clube, e ao fim já de tanto tempo que ele nos deixou, eu ter prosseguido, quase por instinto, mas seguramente por convicção, a ser fiel à memória e aos valores do meu querido Amigo João Lino, que neste ponto coincidiam com os meus.

Em 2019, Portugal ganhou o Campeonato do Mundo, em Barcelona. Em 1960, 59 anos antes, a Selecção Nacional tinha ganho o Campeonato do Mundo também em Barcelona, mas com um picante especial: era a primeira vez que tal acontecia, ganhar em Espanha! Foi uma vitória notável, com 3 golos marcados por três hoquistas moçambicanos invulgares – Fernando Adrião, Amadeu Bouçós e Francisco Velasco – segundo uma estratégia delineada pelo então treinador e internacional extraordinário António Raio, que desorientou os espanhóis, nossos eternos adversários na final. O acontecimento foi amplamente noticiado, tanto em Portugal como em Espanha, e muito aclamado entre nós.

Em 2019, aquando da referida conquista do Mundial, dois desses jogadores de 1960, ainda vivos, Bouçós e Velasco, queixaram-se amargamente ao Jornal Record de que, apesar do feito extraordinário dessa época, agora ninguém o recordou, como se houvera sido um “fait divers”, sem grande importância. “Portugal esqueceu-se de nós”, disseram eles, magoados com razão.

Este livro também quer ser uma barreira possível contra o esquecimento.

O meu desejo final é que ele consiga ser estimulante de novas curiosidades que se aventurem na descoberta de tantos anos ainda por inquirir e na análise e aprofundamento daquelas facetas ou pormenores a que não consegui chegar.

Valongo,10 de Outubro de 2023

João Castro Neves

Agradecimentos

Qualquer obra como esta só pode ser efectuada com a ajuda das pessoas que conseguem dar algum contributo e estão dispostas a fazê-lo. Essa ajuda varia, sendo certo que, nalguns casos, vai além do que seria razoável esperar, pela quantidade e pelo empenho.

Começo por dizer que me apraz registar e louvar o programa que este Presidente e esta Câmara Municipal houveram por bem iniciar e prosseguir de levantamento e divulgação dos bens e valores culturais do concelho, em que este livro naturalmente se inclui.

Agradeço à minha filha Elsa Margarida Castro Neves, pelo trabalho de revisão de todo o texto e pelas judiciosas sugestões de alteração.

Agradeço à minha sobrinha Inês Vieira da Silva a bela capa deste livro que imaginou e me ofereceu.

Quero agradecer ao João Carlos Paupério, pelo seu apoio constante, em todo este processo, pelo fornecimento de informação fotográfica e escrita de toda a ordem, pelo apoio no desbravamento de jornais e revistas e pelo relato e transmissão da sua experiência de 30 anos como associado e dirigente do clube e de quase outros tantos como apaixonado pelo hóquei em patins. Além do mais, a sua boa disposição contagiante ajudou várias vezes a aliviar o peso desta tarefa.

Agradeço à Dr.ª Manuela Ribeiro, do Arquivo Municipal, que, com a sua emblemática simpatia e cordialidade, forneceu todos os apoios e informações que lhe solicitei e tomou mesmo a iniciativa

de dar algumas que entendeu serem úteis, colocando assim o Arquivo Municipal também ao serviço de uma obra que é sobre e para uma entidade de Valongo. E não esqueço a sua sempre tentada sugestão de melhoria da organização e programação da obra.

Agradeço ao Américo Moreira, não só o facto de ter sido uma das glórias da ADV, reconhecida por todos os que têm olhos de ver, mas também a sua ajuda no fornecimento de todos os dados que lhe pedi, entre informações e fotografias, bem como no apoio à obtenção de muitas das biografias conseguidas cujos dados recolheu e, em muitos casos, escreveu, e que, de outro modo, teriam ficado no tinteiro.

Agradeço à Dr.ª Isabel Oliveira, do Arquivo Municipal, que, com a sua transcrição meticulosa das actas das reuniões de Câmara e das actas da Assembleia-Geral da ADV, me forneceu elementos informativos muito importantes para o desenrolar da história a escrever.

Agradeço ao Arquivo Municipal de Oliveira de Azeméis, na pessoa do seu Responsável Técnico, António Jorge Soares Almeida, que, logo em 2019, não só me facultou o acesso ao Arquivo, como teve a gentileza de me oferecer dois livros esgotados, Mundial de Ouro, de Altino Pires, e Um Culto e Uma Cultura de Campeões, de Luís Gouveia, que muito úteis se mostraram.

Agradeço à Sr.ª D.ª Cândida Rocha (Canelas) pelas informações que teve a amabilidade de me fornecer e permitiram localizar definitivamente o

local em que estava implantada a “Separadora”.

Agradeço à Maria Elisa Sousa e à Paula Adelaide o trabalho e a paciência de descobrirem e obterem a localização e as informações relativas à “Separadora”.

Agradeço à Carla Pimenta, à Cláudia Santos e à Rosa Fernanda Ramos o seu dedicado apoio logístico diário, que permitiu que eu consagrasse todo o tempo disponível à escrita do livro.

Agradeço a todos os antigos e novos jogadores que, de algum modo, mais directo ou mais indirecto, auxiliaram a escrever esta história da Associação Desportiva de Valongo.

Agradeço a todas as pessoas que por qualquer meio contribuíram para facilitar ou ajudar a escrever este livro.

Bem hajam!

01 O Hóquei em Patins no Mundo

“Le mot n’est que par le contexte et n’est rien par lui-même”

Rosetti (1947): Le Mot. Esquisse d’une théorie générale

“A história única cria estereótipos e o problema com os estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a única história. (…) A consequência da história única é esta: ela rouba a dignidade das pessoas. Torna difícil o reconhecimento da nossa humanidade em comum. Enfatiza como somos diferentes e não como somos parecidos.”

Chimamanda Ngozi Adichie (2009): O Perigo de Uma História Única

“... a vida desportiva, e não só, é um encadeamento de histórias, e de histórias dentro de outras histórias, em que tudo tem a ver com tudo. Não podemos falar de Hóquei em Patins isoladamente, pois ele não é senão uma das inúmeras actividades a que o homem se dedica.”

Francisco Velasco, “Carrossel”, Reflexões

1. A começar, devemos começar pelo princípio. E isto não é, ao contrário do que parece, uma repetição, ou uma citação do Senhor de La Palisse, mas sim o esclarecimento de que a história que pretendo contar não pode cingir-se à revelação da prática desta modalidade em Valongo, mas antes perceber como e porque ela surgiu, que factores específicos ditaram o aparecimento de um clube de hóquei em patins em Valongo (de resto, como noutras localidades do país), o que nos leva a ter necessidade de saber algo sobre o seu contexto.

Quer dizer, precisamos de saber um pouco da história do desporto em Portugal e no Mundo e, multo em particular, da história do hóquei em patins.

Socorrer-me-ei sobretudo de quatro grandes livros sobre o hóquei em patins em Portugal: “O Hóquei em Patins em Portugal”, de Silvestre Lacerda (1991); “História do Hóquei em Patins em Portugal”, de Luís Gouveia (2002); “Hóquei em Patins, Um Culto e Uma Cultura de Campeões”, de Luís Gouveia (2003); e “História do Hóquei

em Patins”, 4 volumes, de Fernando Castro (2014-2017)

Como essa história se inicia primeiro no resto do Mundo e só depois em Portugal, é por aí que começarei, apresentando alguns apontamentos simplificados.

2. Um desses apontamentos – e aqui a palavra não tem nenhuma conotação negativa – é o da Associação de Patinagem de Lisboa (https://www. aplisboa.pt/hoquei-patins/em-destaque/breve-resumo.html) (consultado em 20180905) que diz o seguinte:

“As origens do hóquei são muito antigas. Foi encontrado um baixo-relevo egípcio, que mostra um grupo de crianças batendo uma bola com um bastão muito grosso.

Em Atenas também foi encontrado um baixo-relevo da civilização clássica grega, que representa vários jogadores em posição de jogar uma bola e empunhando aléus (setiques)”

A Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%B3quei_em_patins, consultada em 20181130) diz exactamente o mesmo, mas eu prefiro que tenham mantido a palavra inglesa para aléus: ‘sticks’. Nestas coisas, o uso da língua conta muito, conta quase tudo: hoje em dia, ninguém diz aléu, toda a gente diz ‘stick’ ou stique, como alguns também escrevem.

O ‘site’ da APL (assim como a Wikipédia) acrescenta:

“Em França, no fim da Idade Média, o jogo era conhecido por Crosse e por vezes chamavam-lhe Hoquet, que, possivelmente, deu origem em inglês a Hockey. Outros autores defendem que o Hóquei (de rodas e de gelo) constitui uma derivante do jogo Bandy, cujo termo em Inglês

designa cajado e que era praticado pelos Índios Americanos.”

Depois, referem o aparecimento da patinagem, fundamento do futuro hóquei em patins:

“E se o Hóquei remonta à Antiguidade Pré-Clássica, a patinagem (deslizar em rodas) tem o seu aparecimento, segundo a existência de diversas gravuras, no início do século XII.

A divulgação do primeiro patim de rodas é atribuída ao belga Joseph Merlin, mas foi a partir do jogo elástico do americano James Plympton (1850) que se deu a grande expansão da patinagem.

Em Inglaterra começou a ser praticada em 1877, mas de uma forma competitiva e organizada, só em 1905.”

De seguida, entram na história dos inícios do hóquei patinado:

”Em 1949 passou a chamar-se Roller Hockhey”.

3. Porém, muito antes de 1949, já houvera mais história. Um outro apontamento, da responsabilidade da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST), de Lisboa, publicado no seu ‘site’ com o título “Cronologia Histórica do Hóquei em Patins” (http://hpaeist.tripod.com/, consultado em 20181120 e 20230508) embora se inicie apenas em 1710, é provavelmente o mais completo e também aquele que fornece, de um modo apesar de tudo sucinto, a informação essencial e mais importante sobre a história do Hóquei em Patins.

Por uma questão de respeito pelo(s) seu(s) autor(es) (não identificados), vou republicar aqui o texto integral, com algumas observações ou acrescentos.

“Cronologia

Histórica do Hóquei em Patins” da AEIST

- 1710, data em que os estudiosos dizem ter descoberto, em algumas crónicas, que o inventor do Patim foi um inglês de nome Garcin.

- 1750 ou 1760 (meados do século XVIII), o belga Joseph Merlin inventa o Primeiro Patim de Rodas em Linha, sem possivelmente imaginar, que ao possibilitar a patinagem sobre rodas, viria a dar origem ao HÓQUEI EM PATINS.

- 1819, em França (Paris), aparecem os primeiros patins equipados apenas com uma roda, que, embora de diâmetro menor, era do tipo «bicicleta».

1825, surgem os primeiros patins de rodas (com 3 rodas) na Áustria (Viena).

- 1840, na Alemanha, aparecem vestígios dos primeiros patins e o primeiro rinque aparece em 1876.

- 1857, são construídas, em Inglaterra, as duas primeiras pistas públicas de patinagem (Covent Garden e Strand)

- 1863, o americano James Plympton cria o “Jogo Elástico”, conjunto composto pela ponte, eixo, rodas, almofada de borracha e parafuso de regulação do aperto; conjunto que era colocado no trem dos rodados.

Muitas e lentas haviam sido as tentativas, os trabalhos e o interesse em melhorar o patim de Merlin, que apenas permitia a patinagem em frente e a execução de uma pequena e larga curva. Com a invenção do “Jogo Elástico”, as possibilidades, o desenvolvimento, o interesse e a beleza dada à patinagem foram indescritíveis.

- 1865, a partir desta data, nos Estados Unidos e dois anos mais tarde em Inglaterra, deu-se uma grande expansão da Patinagem sobre Rodas, a ponto de ser conhecida pela “rinkomania”. As pistas próprias para a prática da modalidade apareciam aos poucos por todo o lado, tendo atingido nos EUA, no início do século XX, o impressionante número de 10.000.

- 1866, é construído na América o primeiro Rinque de Patinagem.

- 1877, surgem em Itália (Milão) os primeiros patins de rodas e, em 1881, por ocasião da Exposição de Milão, é construída a primeira pista (que era de madeira).

- 1880, a Richardson Skate Company introduz as esferas nos cubos das rodas, o que permite aos patins velocidades nunca antes pensadas.

- 1890, aparecem no mercado alemão, os patins “Matador”, de estrutura muito robusta, e que vieram a ter durante muitos anos enorme aceitação em Portugal, como posteriormente os “Polar Rex”, e actualmente “Skate”.

- 1909/1910, o Hóquei em Patins, como modalidade desportiva, aparece nesta altura e tem a sua origem em Inglaterra, no Condado de Kent, tendo-se depois difundido para a Alemanha, Suíça, França, Itália, Bélgica, Portugal e Espanha e, de seguida para outros Países Europeus. Só posteriormente a sua prática se alargou a outros continentes.

- 1924, em Abril, foi fundada em Montreux (Suíça) a Federação Internacional de Patinagem em Rodas, sendo o seu primeiro Presidente o suíço Fred Renkewitz, e com ela aparece o primeiro regulamento da modalidade que, com alterações, ainda é a base dos actuais Regulamentos.

- 1926, é organizado o 1º Campeonato da Europa de Hóquei em Patins. em Herne-Bay (Inglaterra), e nela tomam parte:

Inglaterra

Bélgica

França

Alemanha

Itália

Suíça

- 1928, embora o hóquei em Patins tenha feito a sua aparição em Espanha em 1915, só em 1928, com a fundação da Associação Catalã, se começou a praticar com as regras actuais.

- 1930, as regras sofrem diversas alterações, entre as quais se destacam:

- O aparecimento de tabelas

- O número de jogadores, que passa de seis para oito

- A cronometragem do tempo útil de jogo

- O aumento das dimensões das balizas

- 1936 e 1939, realizam-se os primeiro e segundo Campeonato Mundial de Hóquei em Patins, em simultâneo com os Campeonatos de Europa, sendo sempre campeã a Inglaterra.

Com o conflito mundial (Guerra de 1939/45) as competições de Hóquei em Patins, a nível internacional, foram interrompidas.

- 1946, reatadas as competições internacionais com o Torneio de Montreux, as mesmas têm conhecido um grande incremento até aos nossos dias.

- 1948, a Holanda começa a aparecer nas competições internacionais, onde atinge certa notoriedade.

- 1949, aparece pela primeira vez a táctica do “Quadrado”.

- 1956, os Campeonatos da Europa, que se realizavam em simultâneo com os Campeonatos Mundiais, face à aderência e o número de participantes, passaram a realizar-se de dois em dois anos.

- 1966, começa a disputar-se a Taça dos Clubes Campeões Europeus.”

4. É necessário fazer uma observação a dois comentários do texto anterior, referentes aos anos de 1924 e 1928, em que se diz, no primeiro, que o regulamento que então aparece ainda é a base dos actuais regulamentos, e, no segundo, que só a partir de 1928 é que se começou a praticar, em Espanha, as regras actuais. Estes dois comentários encontram-se desactualizados, sobretudo a partir de 2017, em que se registaram alterações substanciais às regras do jogo, que foram materializadas no Regulamento das Regras do Jogo, editado conjuntamente pela ‘Fédération Internationale Roller Sports’ (FIRS) (Comité Técnico de Hóquei em Patins, sediado na Maison du Sport International // Av. De Rhodanie, 54 - 1007 Lausanne – SUÍÇA, HQ telefone: +41 21 601 1877 e e-mail: rinkhockey@ rollersports.org) e pelas Federações de Hóquei nacionais, e que, em Portugal, entrou em vigor no dia 1 de Agosto de 2017 (ver artigo 35º do novo Regulamento).

5. Este brevíssimo resumo da evolução histórica do hóquei em patins no mundo deve ser complementado por algumas outras achegas.

Não é possível dizer melhor nem com maior interesse do que fazem os autores que vou citar. Diz Luís Gouveia, quanto aos primeiros tempos do hóquei em patins:

“Ainda que as primeiras fotos sobre um jogo de hóquei em patins, expostas no Museu da Patinagem, em Nova Iorque, sejam genuinamente datadas de 1878 e 1883, seria no Lava Rink de Grove Lane, em Denmark Hill, South London, no ano de 1885, que iria ter lugar o primeiro jogo em Inglaterra, narrado na altura como um desporto” em que se bate com um estique numa bola, calçando uns patins”.

Acrescente-se que a bola era de ténis, os sticks poderiam ser simples bengalas ou guarda-chuvas, naturalmente “descascados”, e o jogo se chamava “rink-polo”, numa clara analogia com o típico pólo britânico, onde o cavalo substitui... os patins! Só mais tarde os aléus seriam os do hóquei em campo transformados, ou seja, raspada a parte curva até a pá ficar completamente plana dos dois lados.” Gouveia, 2002, p. 10.

E acrescenta, após um breve excurso:

“Como quer que seja, a “rinkmania” pegou decisivamente na Grã-Bretanha e deu um forte contributo para o desenvolvimento da modalidade, sendo certo que em 1910 existiam no país nada menos de 72 clubes e em 1914 estavam construídos 910 rinques, alguns privados e outros pertencentes a colectividades.” Gouveia, 2002, p. 10.

6. Segue-se a pequena, mas interessante história dos patins, com a abordagem de Silvestre Lacerda:

“José María Sastre (Barcelona, 1952), refere “algumas crónicas antigas, que explicam que o inventor do patim foi um tal Garcin, de nacionalidade inglesa, remontando o seu emprego inicial ao ano de 1710.”

(…)

“Esta versão não é coincidente com a de Raul Cartaxo Abrantes, o qual indica que a invenção de “patins equipados com rodas em linha, sem esferas e desprovidos de jogo elástico, que apenas permitiam a

patinagem para a frente”, é atribuída ao belga Marlin, em 1750.

A estreia da invenção foi realizada em Londres, num baile de máscaras, mas revelou-se um desastre: o patinador desequilibrou-se e embateu num espelho, o que lhe custou 500 libras e, para além disso, saiu da sala seriamente ferido” . Lacerda, 1991, p. 11.

Luís Gouveia dá-nos uma outra perspectiva:

“Conforme nasce o jogo e o palco da disputa, evoluem também os primeiros pares de patins e os fabricantes não tardam a registar as suas patentes. A mais antiga pertenceu ao francês Jean Garcin, com registo em Paris, no ano de 1815 (patins Cingar); em 1825 e 1849, novos registos foram efectuados pelo inglês Robert Tyre e pelo francês Le Grand. Por alturas de 1910, um ano de enorme referência na história do hóquei inglês e mundial, destacavam-se os patins Brampton, Elite Skate, Ariel Skate, Express Skate, The Angloan, The Record Modele, Peerless, Birmalium e, jóia da coroa, o Dekter, a 35 xelins o par, uma fortuna para a época!

Nas rodas, estavam na moda as Runesi e as Webb.” Gouveia, 2002, p. 11.

Nos anos 60, o problema das rodas, que já eram maioritariamente de madeira, colocava-se sobretudo quanto ao facto de os rinques ainda serem quase todos descobertos e essas rodas funcionarem mal quando chovia.

Um dos jornalistas (e aliás também hoquista e

treinador de hóquei) do Comércio do Porto, que assina várias reportagens e comentários transcritos no capítulo Resumo dos Jogos, Manuel Correia de Brito, escreveu isto sobre as rodas dos patins:

“Só agora nos foi possível experimentar o novo tipo de rodas de fibra negra, prensadas. O oquei principiou a ser jogado com rodas de alumínio, mas há muitos anos que as rodas de madeira substituíram, com êxito, aquelas, por melhor aderência ao solo, maior facilidade de manobra, travagem e arranque mais rápido e mais eficiente. Todavia, em dias de chuva, as rodas de alumínio tinham novamente de substituir as de madeira, pois estas com os rinques molhados, eram perigosamente escorregadias.

O novo tipo de rodas de fibra negra, prensadas, porém, substitui, perfeitamente, os dois tipos de rodas.

Quer chova ou não, as rodas de fibra aguentam-se admiràvelmente no piso. Assim, o grande problema, que existia quando chovia, com os transtornos e demoras de mudanças de rodas de madeira para rodas de alumínio, pois a roda de fibra mantém-se nos patins e os patinadores aguentam-se sem a menor dificuldade.

Além disso, as rodas de fibra são de grande duração, o que não sucedia com as outras, além do ser possível travar e arrancar, com mais rapidez e menos espaço de manobra.

A nota mais saliente é que o novo tipo de rodas é de invenção e fabrico nacional”

M. C. de B., O Comércio do Porto, 02.03.1963, p. 6

7. Luís Gouveia acrescenta, logo depois, no seu texto, uma nota de grande interesse, contrastando com a falta habitual dele quanto a este assunto:

“Data ainda de 1910 uma das primeiras fotos do hóquei em patins feminino no Reino Unido. Num país de fortes tradições democráticas, não seria objecto de críticas aquilo que em Portugal se disse, nos primeiros anos da década de 90, acerca do hóquei feminino, ou seja que “masculinizava” as raparigas e as deformava fisicamente, argumento utilizado por pais pouco abertos de espírito e por namorados ciumentos.” Gouveia, 2002, p. 11.

A pose, normal para a época, lembra tudo menos uma equipa feminina de hóquei em patins; no caso a do Bury Trafalgar (foto de 1910). Gouveia, 2002, p. 12.

8. Entretanto, vale a pena seguir o pequeno resumo histórico que Luís Gouveia apresenta:

“Finalmente, em 21 de Abril de 1921, no Casino de Montreux, Suíça, é fundada a Federação Internacional de Patinagem em Rodas (FIPR), mais tarde designada por FIRS, sendo o seu primeiro presidente o suíço Fred Rankowitz, e cujos estatutos foram aprovados em 1 de Abril de 1925.” Gouveia, 2002, p. 12.

(…)

“Herne Bay, na Inglaterra, catedral do hóquei em patins, a par de Montreux, seria o palco do primeiro Campeonato da Europa, em 1926, com a participação de seis equipas. Os ingleses, pioneiros da modalidade, não deixaram os créditos

por mãos alheias e venceram a edição inaugural, iniciando um ciclo consecutivo de doze triunfos, incluindo os primeiros Campeonatos do Mundo, em 1936 e 1939, até ao início da Segunda Guerra Mundial. Estava lançada a modalidade que viria a ser, contra a opinião actual de algumas pessoas, a mais querida dos portugueses, a seguir ao futebol.” Gouveia, 2002, p. 13.

(...)

“1915 foi o ano do nascimento do hóquei em patins no país vizinho e Barcelona (que outro local poderia ser?) a cidade onde um grupo de aficionados do hóquei em

campo - e aplicando quase as mesmas regras - experimentou o jogo pela primeira vez, utilizando balizas bastante grandes e uma bola quase igual à do desporto irmão.

Em 1928 foi fundada a Federação Catalã de Hóquei, sendo seu primeiro presidente o senhor Pironti, um italiano que trouxe do seu país os regulamentos da federação de Itália, já criada.” Gouveia, 2002, p. 14.

(...)

“… em 1947, precisamente no Mundial de Lisboa, que Portugal venceu, a Espanha fez a sua entrada na alta roda internacional, estreando-se com um magnífico 3° lugar, só possível devido à utilização de uma atitude em pista que, pelos anos adiante e até aos nossos dias (em certas situações), tem sido uma mais-valia dos nossos vizinhos: a fúria espanhola!

E o que é isto? Segundo a Enciclopédia de los Deportes, publicada em Madrid, em 1959, a fúria espanhola pode definir-se como um sistema de jogo totalmente ofensivo, avassalador, não deixando ao adversário muito tempo para respirar... ou pensar!

Certo é que hoje todo o hóquei espanhol está alicerçado numa tremenda disciplina táctica – o que trataremos noutro capítulo, dedicado à evolução dos sistemas –mas, em casos pontuais, a Espanha tem conquistado brilhantes vitórias sempre que é, no fundo, igual a si própria.”

Gouveia, 2002, p. 15.

(...)

“Ainda que a primeira referência oficial se situe apenas em 1928, sabe-se que no início do século principiou a patinar-se na Argentina, presumindo-se que só entre 1916 e 1918 se tenha jogado hóquei em patins em pistas privadas.” Gouveia, 2002, p. 16.

(...)

“No início do século, a patinagem sobre rodas conheceu em França um enorme desenvolvimento. Praticava-se em numerosas salas de Paris, tendo a Federação dos Patinadores em Rodas (com este nome precisamente) nascido em 1910. O sucesso foi imediato. Rapidamente surgiram, como na Inglaterra, pistas reservadas para patinadores e um público entusiasta fazia a felicidade dos promotores! Todavia, estes cedo perceberam que só o acto de patinar não dava satisfação à clientela. Surge, assim, a variante da patinagem artística e também as corridas, com a abertura dos hipódromos de Clichy e de Vel d’Hiv.” Gouveia, 2002, p. 20.

(...)

“Pouco se conhece do início do hóquei em patins em Itália, até mesmo nas estruturas oficiais desportivas do próprio país. Sabe-se, contudo, que Milão e toda a região Norte foram os locais de nascimento da modalidade, até porque as primeiras pistas surgiram naquela cidade. E sabe-se também que até ao primeiro campeonato nacional Série A, em 1922, a prática competitiva era quase nula, como de resto em todos os países, com excepção da Inglaterra.

Em Viareggio, outro dos centros por excelência do hóquei em patins, onde chegaram a jogar alguns portugueses - Cristiano Pereira e Carlos Dantas -,já existia, em 1901, uma pista coberta para patinagem, sendo a mais famosa a La Fiorentina, instalada num local que dispunha de um restaurante e onde se podia desfrutar de um pouco de lazer, surgindo, aliás, a patinagem nessa região como uma actividade lúdica.

Falava-se pouco de hóquei, mas de repente, em 1922, surge o primeiro campeonato, e com ele o nome do vencedor original, o Pola, que bateu os outros três competidores.

Até ao Europeu de 1926, em Herne Bay, onde a Itália fez a sua estreia, os restantes títulos nacionais foram divididos entre o Sempione Milano e a Triestina, até que, finalmente, em 1930, o domínio passou a pertencer ao Novara – clube histórico do hóquei transalpino e onde Vítor Hugo brilhou a grande altura – que viria a dividir até à Segunda Guerra Mundial, as vitórias com o Impiego Trieste.” Gouveia, 2002, p. 22-23.

02 O Hóquei em Patins em Portugal

9. Em Portugal, o aparecimento dos patins e do hóquei foi mais tardio de que noutros países da Europa, que atrás vimos (França, Bélgica, Alemanha, Suíça, Holanda, Inglaterra) e nos Estados Unidos, mas ainda assim foi mais antigo do que habitualmente se julga.

Sobre a questão, diz Silvestre Lacerda;

“No caso de Portugal, a notícia mais remota do uso de patins é referenciada por Paulo Soromenho (Lisboa, 1963), que relata: “Foi também a Senhora D. Maria Pia que, em Mafra, apresentou os primeiros patins de rodas que se conheceram”. O mesmo autor, citando as Memórias do Professor Thomaz de Mello Breyner, 4º Conde de Mafra, I, p. 96, transcreve:

“Outra ida da Família Real a Mafra. Dessa vez foram também os príncipes e durou a visita 3 dias. Levaram muitos jogos de arcos e flechas, patins de rodas, que eu vi pela primeira vez (teria sido por 1873)”. Continuando a citar a mesma fonte, podemos ler, na página 298: “Na Livraria (de Mafra) passavam-se também bons bocados fazendo habilidades com patins de rodas, do último modelo trazido de Paris por Madame Daupiás, iguais aos que tinham os príncipes e os rapazes Pinto Basto. Uma vez juntámo-nos todos ali por ser um lugar ideal para a patinagem. Podia-se dar a volta a todo o Palácio sempre patinando”. Lacerda, 1991, p. 14.

Luís Gouveia sublinha aqui um aspecto que outros igualmente notaram e com que pretenderam carimbar negativamente a modalidade:

“Curioso o facto de a patinagem, e por acréscimo o hóquei em patins, antes de ser popular ter sido aristocrata! E a prova está na Sala de Troféus da FPP, onde uns patins de madeira utilizados pelo rei D. Carlos I constituem, porventura, a mais fabulosa jóia do espólio federativo, pelo seu elevado valor histórico.” Gouveia, 2002, p. 26.

E continua a historiar:

“Sabe-se que, em 1908, se patinava no Colégio Militar, na escola Académica e ainda numa garagem da Rua Alexandre Herculano pertencente à Sociedade Portuguesa de Autores, local de encontro do “sangue azul” português.”

(…)

“Na evolução já definitivamente estabelecida, a data de 5 de Agosto de 1912 parece ser, historicamente, a referência mais credível para ser confirmada como a primeira tentativa para jogar hóquei.

Local: rinque do Recreios Desportivos da Amadora, onde se defrontaram os locais e o Clube de Desportos de Benfica, que venceu por 2-0.

(…)

Em 1914 é construído um rinque de patinagem no Campo da Constituição, no Porto, seguindo-se, em 1917, a vez do Palácio de Cristal ceder as suas instalações à alta burguesia portuense, já que o povo continuava a habitar a Constituição com os sócios do histórico FC Porto a pagarem cinco tostões por mês, para patinarem às terças e sextas-feiras!”

Gouveia, 2002, p. 28.

A construção de rinques

10. É claro que a prática do hóquei em patins implica, e, a partir de certo momento, impõe a construção do espaço adequado ao treino e ao jogo, o rink, primeiro, à inglesa, marcando a origem do jogo, depois rinque, à portuguesa, distinto do ringue, destinado ao boxe. E a sua evolução também é muito interessante:

“Portugal viu o primeiro rinque ser construído em Moçambique, no Teatro Varietá, da cidade de Lourenço Marques, pelo ano de 1904, sob a influência do cidadão italiano G. Buccelato, que, desta forma, ficou intimamente relacionado com a introdução da modalidade.

Aí daria os seus primeiros passos Germano Magalhães, que se estreou aos quatro anos de idade, na tarde de 5 de Fevereiro de 1905, vindo depois a revelar-se, na década de 20, já em Lisboa, um dos melhores hoquistas portugueses da época. Tomou parte na 1ª selecção que disputou o Campeonato da Europa em 1930.” Lacerda, 1991, p. 14.

“O movimento de construção de rinques, com o objectivo da prática desportiva, inicia-se em Lisboa com a iniciativa dos Recreios Desportivos da Amadora que inaugura, em Abril de 1912, o seu próprio rink, seguindo-se os de Desportos de Benfica, da Escola de Educação Física, do Ginásio Clube Português, do Lisboa Ginásio Clube, da Liga Pró-Amadora, etc. No Porto e a expensas de particulares, mas com objectivos de servir o Futebol Clube do Porto, é construído em 1914, no campo da Constituição, um rinque para a prática da patinagem. Os sócios pagavam 5 tostões por mês, com direito a patinarem às terças e sextas-feiras. Posteriormente, em 1917 e no Palácio de Cristal, surge um novo rinque e a expansão da modalidade torna-se uma realidade, apesar de circunscrita à pequena e à média burguesias. As sessões de patinagem são momentos de lazer e, ao mesmo tempo, mais um ponto de encontro, devidamente controlado, de franjas significativas da sociedade portuense, pertencentes às referidas camadas populacionais.

No Porto, as sessões de patinagem realizavam-se aos domingos, no campo do Futebol Clube do Porto e, segundo notícias da época: “participavam vários cavalheiros, que se faziam acompanhar de diversas senhoras”. Lacerda, 1991, p. 16.

“A imagem mais antiga que possuímos de um jogo de hóquei em patins em Portugal é de 1912 e reproduz um aspecto do “Certamen de Patinagem, na Amadora”. Está inserta no jornal Os Sports Ilustrados, do dia 24 de Agosto de 1912, no qual se relata a inauguração do rinque dos Recreios Desportivos da Amadora.” Lacerda, 1991, p. 18.

Inicia-se a corrida para a glória… em 1947!

11. “Na evolução já definitivamente estabelecida, a data de 5 de Agosto de 1912 parece ser, historicamente, a referência mais credível para ser confirmada como a primeira tentativa para jogar hóquei. Local: rinque do Recreios Desportivos da Amadora, onde se defrontaram os locais e o Clube de Desportos de Benfica, que venceu por 2-0.” Gouveia, 2002, p. 28.

“Em 1915, dá-se o passo definitivo para a fixação do hóquei em patins no nosso país: uma exibição de duas equipas do Clube de Desportos de Benfica, no hoje velhinho, mas renovado rinque da Avenida Gomes Pereira, em Lisboa, onde, décadas depois, passaram, entre outros, nomes famosos como o de um jovem alentejano de S. Manços, António José Parreira do Livramento.

Nessa partida, o campo não tinha tabelas e os jogadores utilizavam calças

compridas; as regras eram as do hóquei em gelo e foram traduzidas por Rogério Futsher, praticante e futuro primeiro presidente da Federação Portuguesa de Hóquei, que iria ser fundada em 1924.” Gouveia, 2002, p. 28.

“Em 1917 é organizado o primeiro torneio de hóquei em patins em que participaram os seguintes clubes: SL Benfica, Recreios Desportivos da Amadora, Ginásio Clube Português, Escola de Educação Física, Portugal Foot-Bal1 Clube e Carcavelos Hóquei Clube. (…)

... nasce, em .1921, o histórico Hóquei Clube de Portugal que viria a ser o vencedor dos quatro primeiros campeonatos da Liga Portuguesa de Hóquei, criada igualmente em 1921, ano da promulgação da versão francesa das regras do hóquei em patins (…)

“Ano rico, o de 1921, mostrou ao lisboeta o primeiro grupo de mulheres a jogar hóquei em patins, num festival organizado pelo SL Benfica; pelos nomes das ilustres jogadoras pode verificar-se que o hóquei continuava a ser um jogo preferencialmente praticado pela média/alta burguesia: Ana Benard Guedes, Elisa Plantier Costa, Maria Plantier, Violante Salgado e Emília Almeida são as seguidoras oficiais de Sua Alteza Real D. Maria Pia e antepassadas das actuais tri-campeãs da Europa!” Gouveia, 2002, p. 29.

“1924 foi o ano da transformação decisiva das estruturas do hóquei: a então Liga Portuguesa de Hóquei, fundada em 1922,

cedeu o lugar à Federação Portuguesa de Hóquei, que englobava as duas vertentes - o hóquei em campo e o hóquei em patins - situação que se manteve até 1933; nesse ano, precisamente em 3 de Outubro, foi finalmente criada a Federação Portuguesa de Patinagem, sob a presidência de Gaudêncio Costa.” Gouveia, 2002, p. 31.

“Convém referir que até 1938 as competições nacionais não tinham tido lugar por inexistência de equipas oficiais fora da área da capital; assim, a supremacia nos campeonatos de Lisboa coube primeiro ao Hóquei Clube de Portugal (1921 a 1925), ao Benfica (1925 a 1935) e ao Clube Futebol Benfica (1936 e 1937).

No Porto, a criação da Associação aconteceu em 1938, tendo o Estrela e Vigorosa Sport vencido a primeira prova.

Finalmente, 1939 marcou o início dos campeonatos Nacionais, sendo o Sporting Clube de Portugal o primeiro clube a inscrever o seu nome como vencedor.”

(…)

“O início, neste ano, da Segunda Guerra Mundial, que viria a desenrolar-se até 1945, fez parar todos os jogos oficiais internacionais; esta interrupção causou enormes estragos a nível desportivo, sendo mais evidente o caso da Inglaterra, até então dominadora dos Europeus e Mundiais e que praticamente viu terminada a senda das vitórias.

(…)

Portugal, por seu turno, e a Espanha, também, não participaram no conflito, pelo que puderam prosseguir com as suas actividades.

(…)

No nosso país, o Futebol Benfica, primeiro, e o Paço d’Arcos, depois, dominaram a década de 40. Na equipa da linha brilhavam então dois magníficos executantes, Jesus Correia e seu primo Correia dos Santos, cuja maneira de jogar iria provocar uma revolução total na atitude dos jogadores na pista, no seu posicionamento, enfim, na postura bem “à portuguesa”. Criatividade, improvisação, velocidade de execução, entravam pela primeira vez no dicionário técnico do hóquei em patins. “ Gouveia, p. 34-35.

“Já se disse que a modalidade não parou no nosso país; o período de paz existente, a contrastar com o belicismo em quase toda a Europa, foi aproveitado para melhorar as performances individuais dos atletas, desenvolver o gosto pela modalidade e confirmar nomes que no final dos anos 30 haviam chamado a atenção dos amantes do hóquei em patins, nomeadamente os irmãos Sidónio e Olivério Serpa, a que se juntaram mais tarde os primos Correia e Cipriano Santos. (…)

O primeiro teste foi com a Suíça (neutra no conflito mundial), em 1945, com jogos entre as duas selecções e entre as equipas de Lisboa e de Montreux. Um ano depois, o 2.° lugar na Taça das Nações de Montreux seria de bom augúrio para o ano tão desejado: 1947 e a realização do 3.° Campeonato do Mundo, em Lisboa, no então moderno Pavilhão dos Desportos.” Gouveia, 2002, p. 38, 40.

No livro “História do Hóquei em Patins – Portugal (1912-1939)”, de Fernando Castro, na página 46, são inventariados 43 clubes que praticaram o hóquei naquele período. Desses 43, 21 eram de Lisboa e arredores (3 da Amadora, 1 de Paço de Arcos e 1 de Carcavelos), 7 eram de Coimbra, 2 eram de Faro, 1 era de Aveiro, 1 era da Figueira da Foz, 1 era de Oliveira de Azeméis e 10 eram do Porto e sua área (1 de Gaia e 4 de Espinho).

De algum modo, esta realidade ajuda a perceber porque houve desde muito cedo, na área de Lisboa, um hóquei de grande pujança e depois de grande qualidade (sendo que a primeira condiciona e permite a segunda), enquanto essa realidade demorou muito mais tempo a instalar-se na área do Porto e depois no Norte.

Por outro lado, faz-nos compreender como já havia, por essa altura, um grande entusiasmo pelo hóquei patinado no país. No entanto, foi o grande acontecimento de 1947 que projectou esse entusiamo para os lugares mais recônditos e a nós, em Valongo, definitivamente nos galvanizou.

Finalmente 1947 e a almejada glória!

12. “Poucas semanas antes do campeonato, e como que a dar o mote, Portugal conquistaria a sua primeira vitória internacional: precisamente a Taça das Nações de Montreux, onde a nossa selecção compareceu defendendo a camisola da Associação de Patinagem de Lisboa. Mas o objectivo era o mês de Maio, e com ele a tão almejada medalha de ouro que viria a ser colocada no peito dos novos campeões do Mundo. Um a um, os adversários foram sendo batidos: 7-2 à Bélgica, 2-1 à Espanha, 7-1 à França, 5-2 à Suíça, 3-2 à Itália e, finalmente, 3-0 à Inglaterra, que assim passava o “testemunho” aos futuros dominadores da modalidade.” Gouveia, 2002, p. 40.

(…)

Os Campeões do Mundo de 1947!

“Por se tratar do primeiro Mundial conquistado, este campeonato viria a ficar na história como o início da mais bela aventura desportiva do país. (Sublinhado meu, J.C.N.) E quando, cinquenta anos mais tarde, em Agosto de 1997, a efeméride foi assinalada com pompa e circunstância pela Direcção da Federação Portuguesa de Patinagem, presidida por Carlos Sena, obtiveram-se testemunhos – que é oportuno recordar – de algumas figuras que viveram aquele momento, como José Castel-Branco, que durante mais de vinte anos presidiu ao Comité Internacional de Rink Hoquei, a mais alta posição na hierarquia mundial da modalidade:

“Fui, talvez, dos poucos privilegiados que tiveram oportunidade de assistir ao vivo a algumas partidas dessa primeira grande façanha do hóquei em patins português. Por razões de ordem familiar, assisti ao campeonato no camarote da Câmara Municipal de Lisboa e, do alto do meu metro e meio, quando não conseguia meter a cabeça para espreitar, pelo menos ouvia os aplausos dos milhares de portugueses que vitoriavam a equipa nacional.

São episódios que ficam gravados na nossa memória e que, esperamos, nunca possam vir a ser varridos. Não direi que – à altura com 11 anos de idade – fossem os episódios vibrantes ali vividos que marcariam toda uma vida que dediquei ao hóquei em patins, mas lá que os Serpas e os Correias pesaram alguma coisa, lá isso pesaram.” Gouveia, 2002, p. 40, 44, 45.

“Jesus Correia, que jogou simultaneamente hóquei em patins e futebol, no Paço d’ Arcos e no Sporting, e nas respectivas selecções nacionais, afirma, com a lucidez que lhe é peculiar: “Durante a minha carreira desportiva, ligado ao hóquei e ao futebol, conquistei doze títulos nacionais, europeus e mundiais, mas devo confessar que o de 1947, que seria o primeiro de uma série de sete, foi o que mais prazer me proporcionou. Penso que, com este triunfo, ajudámos ao lançamento do hóquei em patins em Portugal:’ E Correia dos Santos que, com a sua mágica forma de jogar, ficou na memória de quem viveu os feitos da sua geração, afirmou: “A conquista do primeiro título mundial era o máximo que um desportista poderia ambicionar. O título de 1947, para além de ter sido importante para o hóquei em patins português, foi-o também para Portugal. São momentos da carreira de um desportista que estão sempre presentes na memória. “ Gouveia, 2002, p. 46.

(…)

“Finalmente, o Prof. Dr. Sidónio Serpa, sobrinho de Olivério e filho de Sidónio, que não assistiu aos jogos, mas com o seu olhar clínico de doutorado em Psicologia do Desporto, lança uma observação sobre a época e reforça as questões da importância desta primeira vitória:

“O desporto era então aqui, como sempre será em qualquer lado, espelho da realidade social e cultural do país. Pequenino, sem sucesso, completado. Viviam-se os habituais fracassos desportivos, justificados por um qualquer raquitismo

congénito, ou pelo fado do irremediável infortúnio que limitava as vitórias à sua componente moral com que se pretendia enganar a frustração.

É neste contexto que, numa contracorrente quase inacreditável e para total espanto da Nação, surge uma equipa de hóquei em patins que, perante o público de Lisboa, num pavilhão especialmente recuperado para o evento no Parque Eduardo VII, jogo após jogo, dia após dia, com classe e autoridade, vai vencendo as selecções de países que Portugal se havia habituado a ver como superiores nas performances atléticas.

Finalmente, aqueles jovens, sem timidez e de forma afirmativa, permitiam com os seus feitos que se vivesse orgulho nacional e se cantasse com energia A Portuguesa, sentida como o Hino que une quem o canta às memórias dos feitos de excelência que, em áreas várias e planos diversos, vão fazendo a História.”

Gouveia, 2002, p. 46-47, 49-50

“Desporto popular, bem cedo o hóquei despertou o apetite dos políticos no sentido de usarem o gosto do povo pela modalidade para o fazerem esquecer outros problemas do quotidiano. Em 1916, em plena Guerra Mundial, foi inaugurada a nova sede do SL Benfica. Apesar do ambiente provocado pela nossa participação no conflito, e “certamente com o intuito de amortecer o impacto dos seus resultados mais negativos junto das classes médias” (Silvestre Lacerda), o governo autorizava a realização das “Festas de Junho”, organizadas pelo

Benfica, constando do programa várias actividades desportivas e culturais e... um inevitável jogo de hóquei em patins.” (…)

“Em O Desporto e As Estruturas Sociais, o Prof. José Esteves transcreve um elucidativo artigo de fundo publicado em Julho de 1952 num jornal de grande expansão, a propósito do Campeonato do Mundo de hóquei em patins:

“Os incrédulos, os cépticos, os descrentes de todos os países deviam ter vindo observar agora os jogos realizados no magnífico Pavilhão dos Desportos da capital do Norte. Foi tal o entusiasmo pela bela exibição dos nossos jogadores, criou-se um tal ambiente em volta deles, que até as pessoas mais distantes destes prélios acabaram por se interessar pelos resultados. Não foi o Porto, apenas, que viveu horas de ansiedade, no domingo passado, como diziam os relatores da rádio; elas foram experimentadas em todo o país. E não pode levar-se o caso para o exagero nem para a banalidade. Desde que se lhe deu o ar de se poder elevar ou diminuir ali, de algum modo, o prestígio nacional, a grande massa dos portugueses ficou atenta e fez os seus votos pela nova vitória. Aqui está outra nota saudável, e a mais expressiva de todas, a consagrar o desporto. Ele é também uma escola de patriotismo. E na época incerta em que vivemos, o culto da Pátria é tão necessário como o de Deus. Enquanto vibrarmos assim, por vermos triunfantes as cores da nossa bandeira, poderemos confiar no futuro, na conservação do nosso bem-estar e

da herança de civilização e de glórias que nos deixaram. Estaremos defendidos naturalmente do contágio daqueles que não querem pátrias e pretendem tornar o Mundo uma escura massa de inconscientes autómatos.” (…)

É justo que se diga que as gerações adultas em 1947, e as que vieram a seguir, praticamente até hoje, manifestam uma sintomática empatia com a modalidade, vista no local ou pela televisão ou, ainda, ouvida pela rádio; quanto aos jornais, não lhe dedicam o espaço que merece ... a não ser para noticiar alguma “bronca”! (Sublinhado meu, J.C.N.). Gouveia, 2002, p. 51.

“1948, 1949 e 1950 não foram mais do que a confirmação do poderio que acabara de nascer. Um sistema alicerçado na velocidade de dois avançados, senhores de excelente drible, contra equipas quase sempre paradas, defendendo num ípsilon rígido, não conseguiam travar as investi das e os remates certeiros dos primos Jesus Correia e Correia dos Santos, que à sua conta, nestes campeonatos, marcaram nada menos que 109 golos, em elevada percentagem obtidos de contra-ataque (já o contra-ataque estava na moda !)” Gouveia, 2002, p. 53.

A década de 1950

13. “Começou mal! Portugal perderia o Mundial de 51, após quatro vitórias consecutivas desde 1947. O sistema defensivo habitual e o ataque de 3 contra 4 (o quadrado espanhol já funcionou) não resultaram como se esperava e a Espanha estreou-se com uma vitória obtida em casa, precisamente em Barcelona. Era o nascimento de uma luta que ao longo dos anos iria fazer parte desta modalidade, suscitando rivalidades históricas impressionantes. Em 1952, Portugal venceu de novo, mas até se voltar a sagrar campeão em 56, iria passar por um jejum de três anos seguidos sem qualquer vitória, sendo cada vez mais difícil o triunfo fora de casa. Gouveia, 2002, p. 54. (…)

Ao nível de jogadores, haveria a primeira transição: Sidónio e Olivério Serpa cederiam o lugar a Raio e a Edgar, enquanto Cruzeiro, Lisboa e Perdigão começavam a aparecer na equipa.” Gouveia, 2002, p. 54.

“No Mundial do Porto, em 1956, a vitória escassa sobre a Espanha, por 1-0, mas sobretudo o empate a um golo com a Itália, que vencera o campeonato três anos antes, introduziu definitivamente o terceiro país na luta pelo título, valorizando a modalidade, que entretanto “engordava” em termos de praticantes e de clubes. Assim, em 1952, a Associação de Patinagem do Centro tinha seis clubes filiados, a do Minho dez, a do Norte treze,

a do Oeste cinco e, por fim, a de Lisboa vinte e cinco, num total de cinquenta e nove colectividades a praticarem hóquei em patins.”

(…)

Na competição nacional, a década foi dominada, até 1956, pelo Benfica (com o trio Cruzeiro, Lisboa e Perdigão), pelo Paço d’Arcos (ainda com Correia dos Santos e, desde 1955, sem Jesus Correia), e pelo Campo de Ourique, onde o guarda-redes Matos era o esteio da equipa e despontava já aquele que viria a ser por largos anos capitão da selecção nacional: José Vaz Guedes.” Gouveia, 2002, p. 54-56

“No início dos anos 50, levantou-se uma questão político-desportiva, acabando por terminar com mais uma vitória do hóquei em patins. Expliquemos melhor: criou-se um contencioso entre a Direcção-Geral dos Desportos e a Federação, quanto à organização e oficialização do Campeonato Nacional de Juniores. O Governo, sempre atento a manifestações de amizade e de sadio desportivismo entre os jovens, temendo que ideias subversivas crescessem naquelas cabeças pensantes, não estava interessado em que a juventude praticasse desporto federado. Que o hóquei era só para as elites, não cuidando do investimento na formação. Mas as gentes da modalidade insistiram e Portugal passou a ter as suas competições, vindo a participar e a vencer, inclusivamente, o primeiro Campeonato da Europa de Juniores, em 1953. Dessa selecção, escolhida e comandada por Sidónio Serpa, como se previa,

viriam a sair alguns atletas que engrossaram, anos depois, o contingente dos seniores: Pompílio, Rui Faria, Carrelo, Trabazos e, ainda, Vladimiro Brandão, que muitos anos depois viria a desenvolver em Espinho uma excelente escola de praticantes.” Gouveia, 2002, p. 57-60. (…)

“Em 1957, a Espanha sagrou-se campeã da Europa e realizou uma digressão a Moçambique, juntamente com equipas portuguesas. Perdeu por 5-1 com a selecção de Lourenço Marques e a partir desse jogo tudo se virou na selecção portuguesa. É que esses moçambicanos, testados na Taça Latina, constituíam um quarteto fabuloso que viria a integrar a tempo inteiro a equipa das quinas, onde se manteve por largos anos: Alberto Moreira, Fernando Adrião, Francisco Velasco e Amadeu Bouçós que, juntamente com José Vaz Guedes, haveria de entrar, a partir de 1958, pela década de 60, com um conjunto de vitórias, conquistando quatro Mundiais consecutivos e vários Europeus. Neste grupo, onde o conjunto seria talvez a arma mais mortífera, destacava-se um enorme atleta que, pela sua técnica fabulosa, viria a entrar no ranking dos melhores artistas de sempre no hóquei em patins: Fernando Adrião, filho, cujo pai fora guarda-redes das selecções nacionais na década de 30, e cujo filho, Bruno Adrião, já no tempo presente, também passou por várias selecções nacionais. Aqui está um caso típico de três gerações de hoquistas da mesma família.” Gouveia, 2002, p. 60-61.

Ouçamos agora a versão, sempre documentada, de Silvestre Lacerda:

“A Segunda Guerra Mundial veio interromper os contactos internacionais da selecção, mas ficará na memória a recepção no Rossio à equipa que, em 1939, conquistou novamente o 3º lugar no 11º Campeonato do Mundo.

Em jeito de balanço das participações anteriores e na altura em que Portugal conquistava a sua segunda vitória em Campeonatos do Mundo, o internacional António Adão declarava ao jornal O Mundo Desportivo, de 7 de Abril de 1949:

“Nos primeiros tempos as viagens faziam-se em 3ª classe, envoltas em miscelânea de odores a galinhas assadas, com peixe frito, ou sardinhas de conserva,–que causavam náuseas, passando depois pelo cheiro de corpos mal lavados. Nós chegávamos após setenta e duas horas de comboio à Suíça, às 10 horas da manhã, e jogávamos às 3 da tarde. Para descansar as pernas, chegados a Inglaterra, foi do nosso bolso que saíram as librinhas para pagar ao massagista”.

Após a vitória de 1947, as deslocações passaram a fazer-se de avião, com especial empenho do Presidente do Conselho

As recepções passaram a ter honras de acontecimentos oficiais. O Mundo Desportivo, de Abril de 1948, comenta: “Teve apoteose a recepção aos hoquistas. As entidades oficiais associaram-se ao entusiasmo público que vitoriou calorosamente os jogadores, dando invulgar realce ao desfile através das ruas da cidade”.

Este breve, mas elucidativo texto, resume a forma como passaram a ser tratados os vencedores portugueses: depois do triunfo, o sucesso.

A conquista de quatro triunfos sucessivos, 1947/1948/1949/1950, implantou definitivamente a modalidade e empolgou os espectadores.

Se Barcelona 1951 marcou a hora da Espanha, Porto 1952 viu renascer os êxitos portugueses.” Lacerda, 1991, p. 80.

A década de 1960

14. “Na transição da década, o êxito continuou a pender para o lado dos portugueses. E se a capacidade técnica dos laurentinos prevaleceu de uma forma estonteante nos pavilhões onde se exibiram, começava a nascer já o ciclo seguinte de atletas, comandados por um jovem que fez a sua estreia no Europeu de 1961, ainda com idade de júnior, cuja selecção já representara: António Livramento.

Com essa estreia, Livramento iniciaria um ciclo de dezassete anos nas selecções de seniores, continuando a ocupar o primeiro lugar neste ranking, à frente de António Ramalhete, com quinze anos seguidos.

Se na década de 40 os primos Correia e os irmãos Serpa se evidenciaram, se na de 50 Fernando Adrião sobressaiu de um lote equilibradíssimo, é lógico dizer-se que António Livramento dominou a década

de 60, entrando mesmo por quase todos os anos 70. A sua versatilidade e imaginação, as mudanças de direcção e velocidade, a soberba criatividade em todas as suas acções, fazem dele (e de Adrião) modelos quando alguém quer explicar uma jogada, um passe ou um remate feito de forma especial.” Gouveia, 2002, p. 62.

“Mas o hóquei em patins é um desporto colectivo e, sozinho, Livramento não poderia jogar. Os seus companheiros, na década de 60, foram bastantes, mas um núcleo “duro” de altíssima capacidade técnica foi-se mantendo junto durante alguns anos e repare-se só nestes nomes, para não ser exaustivo: Fernando Adrião, Júlio Rendeiro, Alberto Moreira, Amadeu Bouçós, José Vaz Guedes, Francisco Velasco, Leonel Fernandes!”

(…)

“Ao longo deste decénio, Portugal dividiu os títulos mundiais com a Espanha, (...).

No Europeu, a nossa selecção não deu tréguas e conquistou de novo quatro campeonatos consecutivos.” Gouveia, 2002, p. 65.

“No Mundial de 68, onde o quarteto dos melhores se classificou por esta ordem, Portugal, Espanha, Argentina e Itália, Fernando Adrião faria a sua despedida (julgava ele) dos grandes palcos. Contudo, seis anos mais tarde, em 1974, voltaria a pedido do seleccionador nacional, Torcato Ferreira, para, com os mais novos, ajudar em mais um triunfo dos portugueses. (…)

Finalmente, nos juniores, também a Espanha comandou o decénio, com o nosso país a obter apenas três triunfos consecutivos, em 69, 70 e 71.” Gouveia, 2002, p. 69.

A década de 1970

15. “Já dissemos que a década de 70 seria nefasta para os portugueses nos campeonatos do Mundo - apenas uma vitória em 1974 -, mas outros factos merecem destaque numa longa história desportiva, naturalmente com altos e baixos. Um dos aspectos positivos diz respeito ao número de clubes inscritos, que em 1973 era de 99, mais 40 colectividades que na década de 60, fruto da criação de dez associações distritais, algumas reformuladas em relação às cinco anteriores.

A distribuição era a seguinte: AP Lisboa, 21 clubes; AP Porto, 16; AP Angola, 18; AP Santarém,9; AP Aveiro, 11; AP Moçambique, 11; AP Coimbra, 7; AP Braga, 6. As associações de Ponta Delgada e da Madeira não tinham clubes em actividade. De realçar o número elevado de clubes da Associação de Patinagem de Angola, 18, a contrastar com os 11 de Moçambique; tal facto pode ser explicado pelo elitismo da patinagem em Moçambique – apenas brancos a jogar hóquei – ao contrário de Angola, onde a integração social e rácica era mais evidente.” Gouveia, 2002, p. 70. (…)

“Naturalmente que após o 25 de Abril de 1974, o corte no número de clubes foi enorme – menos vinte e nove de África –, mas outras agremiações vieram a formar-se, dado o fomento no desenvolvimento desportivo por parte do Governo, com a total alteração de política de apoios.

Até à Revolução dos Cravos, Portugal perdera em seniores dois Mundiais para a Espanha, em 70 e 72, e ganhara dois Europeus, em 71 e 73, arredando sempre a Itália e a Argentina para lugares terciários. Nessa altura, e em relação aos transalpinos, a cobiça pelos atletas portugueses mais brilhantes começou a manifestar-se, coincidindo com a existência de fortes apoios empresariais naquele país. Livramento ainda resistiu algum tempo, mas seria um dos primeiros a acabar por ceder, duas vezes antes de 1974 e uma depois.” Gouveia, 2002, p. 70-75.

(…)

“E veio o ano de 1974, com o Campeonato do Mundo marcado para Luanda, precisamente para poucas semanas depois do 25 de Abril Suspenso após os acontecimentos políticos registados em Portugal, foi o mesmo transferido para a cidade de Lisboa onde uma notável equipa de trabalho conseguiu, em poucos dias, montar um evento que, hoje em dia, começa a ser preparado com largos meses de antecedência. Mas a improvisação e o sentido de “última hora” peculiar dos portugueses levaram a melhor, tal como a fantasia tecnicista dos artistas da bola e do stíck que, no Pavilhão dos Desportos, viriam a conseguir o único triunfo num Mundial na década de 70.”

Gouveia, 2002, p. 75-79.

(…)

“Cristiano Pereira, do FC Porto, um “produto” das anteriores selecções de juniores e desde 1971 no escalão máximo, seria o melhor marcador da equipa, com 20 golos, seguido de Livramento, com 18, de Jorge Vicente, com 15, e de outro jovem que viria a evidenciar-se na história dos tecnicistas espectaculares do hóquei em patins, de seu nome Vítor Carvalho, mas que todos conheciam por Chana, com 16 golos marcados, 8 dos quais à Suíça.”

Gouveia, 2002, p. 79.

(…)

“Globalmente, e ao invés de outras modalidades que passaram a desenvolver-se mais através do desporto na escola, o hóquei em patins não melhorou a qualidade (a quantidade sim) dos seus praticantes. No entanto, os processos de trabalho começaram a ganhar mais rigor, as cabeças das pessoas começaram a ter maior liberdade de pensar em processos de formação, e estabeleceu-se que o ciclo de vida do praticante teria de começar bem cedo.

Daí até um movimento chamado “Promoção” foi um passo; nascido em 1973, ganhou força e argumentação moral após o 25 de Abril, colocando jovens a patinar e em competições adaptadas entre os 5 e os 12 anos de idade, promovendo ao mesmo tempo cursos para jovens árbitros.

Até 1977 havia movimentado cerca de oitocentos jovens, sendo que na selecção nacional de juniores campeã da Europa, em 1980, nada menos de cinco jogadores tinham “nascido e crescido” na “Promoção”: Alexandre Serra, Oliveiros,

João Rodrigues, Hemâni e Paulo Gomes, respectivamente do Oeiras, Sporting, Oeiras, CA Campo de Ourique e Alenquer. Registe-se, igualmente, que a grande escola da linha do Estoril (ou de Cascais) havia despertado no início da década, sendo mais que justo destacar os nomes de Padre Miguel (Juventude Salesiana), Francisco Gomes Estêvão (Parede e Paço d’Arcos), Ricardo Mendonça (Paço d’Arcos) e Xavier (Cascais), além de muitas outras pessoas que, com um trabalho quase incógnito, ensinaram a patinar, primeiro, e a perceber o hóquei, depois, a muitos milhares de jovens.” Gouveia, 2002, p. 79-80. (…)

“1976-1977 seria o ano da primeira Taça dos Vencedores das Taças, e aí Portugal fez a “dobradinha” através da Associação Desportiva de Oeiras, com uma equipa que incluía, entre outros, Carlos Alves, Francisco Salema, José Rosado, Vítor Rosado, Carvalho, Cristóvão, José Pereira, José Manuel, Piteira, muitos deles já envolvidos nos trabalhos da selecção nacional. Frise-se que a AD Oeiras conquistou de novo o troféu em 1977-1978 e em 19781979, tendo sido o primeiro clube português a ter na sua equipa técnica, a tempo inteiro, um preparador físico, exemplo que seria de imediato seguido por todos os clubes da I.ª Divisão, nas épocas seguintes. Era já o advento do trabalho de grupo, ainda que de início olhado com alguma desconfiança pelo treinador principal; faltará a fixação de uma terceira figura, que já existe nalguns clubes e será fundamental no futuro: o treinador de guarda-redes.” (…)

Nos juniores, cinco campeonatos da Europa vencidos, em nove possíveis, um saldo bastante positivo, a revelação de alguns nomes e um futuro relativamente assegurado veremos a seguir.

A década estava a findar. Em 1978, e após dezassete anos consecutivos na selecção de seniores, António Livramento despede-se da equipa das quinas com um modesto 3.° lugar no Mundial de San Juan, Argentina.” Gouveia, 2002, p. 81.

A década de 1980

16. “Parar para pensar” ou “o signo da encruzilhada”, tema fulcral da entrada difícil dos homens do hóquei em patins na década de 80.

Os desaires dos últimos anos avivaram a lucidez de raciocínio dos dirigentes federativos após verificarem que o “seu” desporto não era feito só de foras-de-série – que aliás começavam a estar em vias de extinção – e que o índice técnico e táctico dos nossos adversários ia subindo gradualmente.

Na revista Patinagem, de Março de 1980, José Castel-Branco, presidente federativo, dizia: “Não mais goleadas, não mais jogos antecipadamente considerados fáceis; cada jogo é uma final, quer se trate de defrontar a Espanha ou a Suíça.”

Por outro lado, era perceptível que “lá fora se preparam as selecções física, técnica e

tacticamente para embates com equipas mais fortes. Nós, na parte física, ficamos a perder, restando-nos a técnica individual, bem melhor que a táctica”. E continuava deste modo: “Durante cerca de trinta anos bastou-nos fazer ‘bem’ para as coisas se resolverem. Hoje, é necessário fazer ‘depressa e bem’, o que infelizmente há pouco quem.”

E terminava desta forma: “Compete aos técnicos portugueses estudar uma busca de soluções baseadas nas características dos hoquistas nacionais; estamos, pois, na encruzilhada ... “ Gouveia, 2002, p. 82.

(…)

“O diagnóstico estava feito, só que a receita nem sempre seria a mais correcta e os erros de percurso iriam acontecer até finalmente Portugal entrar de novo no caminho certo. Para isso foi preciso que os técnicos percebessem que jamais poderiam continuar a apostar apenas e só na técnica e na criatividade dos seus atletas; a preocupação pela vertente táctica tinha de aflorar aos espíritos mais avançados, e a condição física dos atletas teria de ser cuidada por especialistas dessa área (o que viria a acontecer), partindo do pressuposto de que essas pessoas não queriam tomar o lugar do treinador principal, mas tão-somente auxiliá-lo nas suas lacunas.”

Gouveia, 2002, p. 83. (…)

“Por outro lado, o processo seria longo e haveria que ter alguma paciência para não esperar resultados imediatos; era também necessário compreender que os tempos que aí vinham eram de reno-

vação, de ciclos descontínuos, e se hoje se ganhava nas camadas jovens, poderia no mesmo dia ser-se derrotado em competições dos mais velhos. E assim aconteceu: em 1980, como já se viu, Portugal foi campeão europeu de juniores e nesse ano ficou em 3.° lugar no Mundial de seniores, no Chile; em 1981, voltou a perder os Europeus de juniores e seniores, mas venceu o primeiro Campeonato da Europa de juvenis, realizado em Haia, na Holanda. Esta prova, destinada a rapazes de 15/16 anos, viria a ser considerada a primeira abordagem do jovem praticante às vivências do percurso para a alta competição; por estes campeonatos passaria uma boa percentagem de futuros componentes da equipa absoluta, sendo que a necessidade de observação de jogadores com estas idades obrigou a uma reformulação completa das competições nacionais; daria mesmo lugar, após o período da Promoção, à necessidade de serem realizados torneios inter-associações com o objectivo de ser avaliado o trabalho dos treinadores das camadas jovens e, obviamente, serem escolhidos os grupos alargados para os dez da selecção nacional.”

Gouveia, 2002, p. 83-84.

(…)

“Mas nesse ano de 1981, com temperaturas de 14 graus negativos em pleno mês de Dezembro, oito rapazes fizeram o seu teste internacional durante quatro dias e com três jogos por dia, finalizando com uma concludente vitória frente à Espanha; a bandeira nacional a subir, o hino de Portugal e os emigrantes portugueses na Holanda foram para eles um

espectáculo inolvidável, que não era mais que um déjà vu do hóquei em patins português, até ali e desde aquela data até hoje! Os seus nomes e clubes: Paulo Morte, Nuno Martins e Carlos Campão, do Parede; Vítor Silva e Paulo Baptista, do Paço d’ Arcos; João Vaz, do Benfica; Paulo Barroso e João Albuquerque, do Campo de Ourique e Carlos Garção, do Alenquer e Benfica, comandados por José Lisboa. Um marco histórico que aqui se regista.” Gouveia, 2002, p. 84.

O Troféu Juan António Samaranch, que premeia a equipa que mais Campeonatos do Mundo venceu em 25 edições. Apenas Por tugal o possui, e poderá conquistar o segundo ...

“No Nacional da 1.” Divisão e na Taça de Portugal o êxito continuava a morar na Luz, mas no dealbar de 1982 toda a gente apontava baterias para o Mundial de Barcelos, que iria decorrer em Maio, estando a pré-selecção de dezassete elementos a trabalhar sob as ordens de Júlio Rendeiro e António Livramento. O cheiro a vitórias num Mundial perdera-se em 1974 e, em casa, era o “agora ou nunca”. Aliás, em 1980, também em Barcelos, os juniores haviam saído vencedores e a cidade minhota preparava-se para ser catedral do hóquei em patins. E assim foi: depois de uma fase em Lisboa, praticamente um “passeio”, onde pela última vez se misturaram as equipas das 1.ª e 2.ª Divisões mundiais, Portugal passou à 2.ª fase, em Barcelos, no papel de favorito perante um clima de enorme euforia, com o pavilhão a abarrotar de gente todas as noites.

Nos resultados, desequilibrados, da fase de Lisboa, o destaque pela negativa dos 56-1 à Guatemala, com 26 golos de José Virgílio, jogador do Monza, de Itália, e filho de um antigo campeão do Mundo – como o hóquei é familiar... – Virgílio Domingues, do Paço d’Arcos. Depois, bom, depois foi a festa que se esperava. Itália, Holanda e Chile (com dificuldade), Argentina, Brasil, Suíça, Angola, Estados Unidos e, finalmente, a Espanha (5-3) não resistiram, no campeonato mais longo de toda a história, com Portugal a efectuar quinze jogos sem conhecer o sabor da derrota. (…)

Para a história, os heróis do campeonato e os clubes a que pertenciam na altura:

António Ramalhete, João Sobrinho, Vítor Rosado e Chana, do Sporting; Fernando Pereira, José Carlos, Cristiano Pereira e José Leste, do Benfica; José Virgílio, do Monza e Frankelim Pais, da Juventude de Viana; o terceiro guarda-redes foi Domingos Guimarães, do FC Porto.”

(…)

“Depois desta vitória, Portugal só voltaria ao título máximo nove anos depois, na Cidade Invicta. Apenas Frankelim, como jogador, e Cristiano Pereira, como seleccionador, repetiriam em 1991 o êxito de 1982.” Gouveia, 2002, p. 85-86.

(…)

“Em 1981 entrava pela primeira vez na selecção de seniores um jovem de Espinho, jogador do FC Porto, de nome Vítor Hugo, que viria a ser, em nossa opinião, o último malabarista do hóquei português. Mas não estava só: Vítor Bruno, Frankelim, Alves, Carlos Realista, Tó Neves (ainda júnior) e Domingos Guimarães contribuíram como espinha dorsal da equipa durante o poderio azul e branco de oito anos, mesmo descontando as idas para Itália de Vítor Hugo e Vítor Bruno, e de Realista para o Barcelona.” Gouveia, 2002, p. 85-86.

(…)

“A propósito do êxodo de jogadores portugueses para o estrangeiro, refira-se que, em finais de 70, durante a década de 80 e nos primeiros anos da de 90 Portugal “exportou” cerca de cinquenta atletas, sobretudo para Itália que era o eldorado dos jogadores de hóquei em patins.

(…)

Como quer que seja, o hóquei italiano registou um surto de desenvolvimento nas camadas jovens, tendo como consequência um domínio nos Europeus de juniores (seis vitórias) e juvenis (quatro) na década de 80, dois Mundiais de seniores (86 e 88) e um Europeu de seniores, em 1990. Até que ponto os portugueses, jogadores e treinadores, em Itália, contribuíram para essas vitórias não é possível saber-se, mas os próprios transalpinos confirmam ... “Gouveia, 2002, p. 87-89. (…)

E veio 1983 e o Simpósio de Roma, onde Portugal esteve presente através de uma delegação da FPP comandada por José Castel-Branco e por dois treinadores, um a trabalhar em Itália, Francisco Velasco, ex-internacional, e outro ex-jogador da selecção, José Casimiro, na altura a comandar as equipas nacionais de juniores e juvenis, os quais era suposto representarem os técnicos portugueses.

Do Simpósio ficou, como dado negativo, a aprovação da nova linha de antijogo a coincidir com a linha de meio-rinque, não se sabendo bem quem foi o autor da proposta, embora ela seja portuguesa! (…)

O “grupo excursionista”, como lhe chamaram na altura, descartou-se, de algum modo, das propostas aprovadas, mas o hóquei em patins, no dizer dos seus colegas treinadores em Portugal – e que nem sequer foram ouvidos – nunca mais foi o mesmo; passou a jogar-se em 20x20 metros, e o índice atlético passou a pesar no jogo em detrimento do desenvolvimento da técnica individual. Julgava-se

que os países de menor índice técnico e maior capacidade atlética iriam equilibrar o jogo e os resultados, mas os anos seguintes não confirmaram essa suspeita; as nações da vanguarda bem cedo se adaptaram à nova situação – e aqui os preparadores físicos tiveram um papel fundamental – e continuaram no topo da tabela com uma ou outra intromissão da Alemanha, Holanda e, mais recentemente, da França e da Suíça. Todavia, e até final da década, Espanha, Portugal, Argentina e Itália dividiram as vitórias, com o nosso país a conquistar apenas o Europeu de 87, em Oviedo, e a Espanha a vencer em 1989 e a ter de esperar onze anos até ganhar o Europeu de 2000.

(…)

Mas em 1985, no Europeu de juvenis de Palma de Maiorca, nascia outra geração de ouro, alguns neste momento prestes a terminar as carreiras com um currículo valioso. Os seus nomes, todos os conhecem: José Carlos, Paulo Alves, Paulo Almeida, Pedro Alves, Rui Lopes, que se juntaram a Tó Neves, “nascido” no Europeu de 82, em Zandaam, e aos quais se ligaria, no ano seguinte, Vítor Fortunato, também vindo dos juvenis.”

Gouveia, 2002, p. 89-90.

(…)

“Ano de 1985. Juvenis em alta, como se viu, sob o comando de Vítor Pinheiro, juniores, 2.° lugar em Paris, com o técnico José Fernandes à frente, e aí vinham os seniores escolhidos por António Livramento – que treinava o Bassano, de Itália – a caminho da então já considerada Catedral de Barcelos, que queria ver o tri

no Europeu, depois dos juniores em 80 e dos seniores em 82. Só que a pressão sobre os atletas foi tal que a “obrigação” de ganhar influenciou negativamente a equipa.

Depois, na final com a Espanha, foi a falta de vergonha total de um público enraivecido que atirou dezenas de garrafas de água para a pista, acertando naturalmente nos jogadores espanhóis cujo único “crime” foi vencerem a partida e o campeonato.

Ficaram célebres as fotos de Vila Puig a fugir às garrafas para dentro da baliza, com algum teatro à mistura ...” Gouveia, 2002, p. 92.

(…)

“Vivia-se, nos seniores, um tempo de “vacas magras”. Em entrevista à revista Golpe Duplo, Livramento afirmava que o nosso hóquei não estava em crise, os outros países é que haviam evoluído, sobretudo a Itália, sendo certo que o colectivismo passou a fazer muito mais sentido do que, como até então, a aposta no individual.” Gouveia, 2002, p. 93.

(…)

“Não admirou que a Itália vencesse os dois Mundiais seguintes, de 86 e 88, respectivamente em Sertãozinho e na Corunha, mas, em 1987, Portugal foi a Oviedo alcançar o 1.º lugar no Europeu. O grande herói, além do colectivo, foi o capitão da equipa, Vítor Hugo, com excelentes exibições e 25 golos marcados, quase metade do score total da equipa; foi uma vitória brilhante, sem dúvida, mas deu para ver que o poderio de outros tempos estava nitidamente repartido pelos outros

países, além de que os outsíders, que não ganham as provas, passaram a ser influentes no percurso dos favoritos rumo à vitória, pelas dificuldades que cada vez mais colocam. E a Espanha iria sentir isso no Mundial de 91, como veremos ...” Gouveia, 2002, p. 93. (…)

“Os Jogos Mundiais surgiram para compensar os desportos não-olímpicos através de uma manifestação desportiva que reunisse as modalidades sem o estatuto mais desejado; em termos de espectáculo, muitos poderiam oferecer exibições valiosas, apaixonantes mesmo, onde a velocidade, a força e outros atributos seriam um aliciante para o público, ao mesmo tempo que poderia ser o primeiro passo para alcançarem o tão almejado estatuto olímpico. Os Jogos seriam de quatro em quatro anos, tal como os Olímpicos, tendo principiado em 1981, em Los Angeles. Portugal foi o vencedor, para, quatro anos depois, em Londres, se quedar somente na 3ª posição, atrás da Itália e dos Estados Unidos. Em 1989, em Karlsrue, Alemanha, de novo a vitória lusitana, entre seis países como de costume, precisamente os seis primeiros classificados do último Campeonato do Mundo.” Gouveia, 2002, p. 96.

A década de 1990

17. “Sob o signo da esperança, iniciou-se a última década do século XX, em que o desejo de recuperação do título mundial absoluto determinou a consciencialização do objectivo único: quebrar o jejum que durava desde 1982, e continuar o relançamento de novos valores que haviam despontado em 1985, na categoria de juvenis, e que viriam a constituir, durante largos anos, o esqueleto de uma selecção ganhadora.” Gouveia, 2002, p. 97.

(…) “Abre-se aqui um parêntesis para recordar uma situação que tem passado ao lado de muita gente e que respeita, na sua essência, a valores de formação de atletas. É um facto que desde que haja presença de selecções nacionais em qualquer Europeu de qualquer categoria, o objectivo da vitória final acompanha toda a comitiva portuguesa. Contudo, a carga de um triunfo num campeonato de juvenis ou de juniores tem indiscutivelmente menor relevância que um Mundial ou mesmo Europeu de seniores; assim, deve ser um dado adquirido que, durante a sua formação, um atleta não pode “comer” etapas, mas sim evoluir ano a ano, passo a passo, até atingir padrões de qualidade só inerentes a adultos já formados. Por isso mesmo, é vulgar um jovem despertar em juvenil, apagar-se em júnior e renascer em sénior. Foi o que aconteceu com a geração que na década de 90 obteve grandes vitórias para o nosso

país; passando quase despercebida, sem títulos, na categoria que antecede os seniores, surgiu adulta e confirmou a regra.” Gouveia, 2002, p. 97-99.

(…)

“E assim foi realmente. Perante um público que encheu o Pavilhão Rosa Mota, Portugal reconquistou, nove anos depois, o tão ambicionado campeonato e, mais do que isso, alterou radicalmente a sua filosofia de comportamento de grupo, entrando naquilo a que se pode chamar uma nova maneira de estar no desporto de alta competição. Cristiano Pereira rendeu António Livramento no comando técnico, ainda que tenha saído logo após a prova, cedendo de novo a posição a Livramento. Mas os dados estavam lançados e em 1992 iniciou-se uma série completa de quatro títulos Europeus consecutivos (1992, 1994, 1996 e 1998), com a conquista do bi-Mundial, em 1993, em Itália, a confirmar as alterações produzidas na equipa bem como no formato comportamental.” Gouveia, 2002, p. 99-101.

(…)

“No Mundial de 93, em Milão, Portugal esteve na final com a Itália, e houve a necessidade de prolongamento e grandes penalidades para decidir o vencedor. Após jogadores muito experimentados de ambos os países terem falhado, um miúdo, ainda júnior, do FC Porto, de nome Filipe Santos, desinibido como é seu timbre, atirou ... e fez o golo, para Máximo Mariotti falhar logo a seguir. Era o título alcançado, melhor, o bi, que daria a Portugal a hipótese de dividir a década com a Argentina, vencedora em

1995 e em 1999, com a Itália de permeio, em 1997, em Wuppertal, onde o losango transalpino surpreendeu tudo e todos. A Espanha continuava arredada de triunfos em Mundiais, desde 1989.

O grupo de 85 continuava a cumprir a sua obrigação; venceu muito, perdeu pouco, naturalmente que outros se seguirão efectuando mais uma etapa dos ciclos de vida desportiva. Assim, as actuais bases tenham (e parece que têm!) as perspectivas de que este maravilhoso grupo dispôs.”. Gouveia, 2002, p. 101.

(…)

“Nas camadas mais jovens, verificou-se o renascer das vitórias nos Europeus de juniores, que praticamente haviam deixado de surgir desde o início de 80.Três triunfos consecutivos, em 1992, 1993 e 1994, sob o comando de João Meireles, mas depois nova época “de seca”, até que em 2000, de novo no Porto, a alegria e a esperança de um novo grupo de jogadores – outra fornada – que nasceu no seio do êxito de três Europeus de juvenis consecutivos, de 1998 a 2000, sob a batuta de José Pedro Martins.” Gouveia, 2002, p 101-104.

(…)

“Mas o dado mais saliente foi o renascimento do hóquei em patins no feminino, falhada que foi a experiência dos anos 50. Com apenas duas equipas inscritas oficialmente em Portugal, o Vila Boa do Bispo e o Alfena, a FPP arriscou a presença no primeiro Europeu da categoria, na Suíça, e não se deu mal, criando fôlego para o desenvolvimento em quantidade, de onde derivaria mais tarde a qualidade. E assim foi. Ao apalpar do terreno dos primeiros

tempos, com o seleccionador Joel Pinto, veio o 4.° lugar no Mundial do Algarve, em 1994, para em 1996, no Brasil, com Jorge Lopes no comando da equipa, se conseguir a primeira subida ao pódio, no degrau mais baixo, é verdade, mas correspondendo a uma medalha de bronze! Em 1997 e 1999, nos Europeus de S.João da Madeira e de Springe, na Alemanha, foi a consagração com duas vitórias, acontecendo o tri em Molfeta, Itália, em 2001. Faltava agora alcançar o ouro nos Mundiais de 1998 (Buenos Aires) e 2000 (Marl, na Alemanha), mas veio só a prata com a certeza de que, mais ano menos ano, as nossas raparigas ascenderão ao 1.º lugar no confronto mundial.” Gouveia, 2002, p. 104-108

“A nível nacional, no feminino, há que registar a existência de cerca de quarenta equipas, quase todas com uma iniciação específica hoquista, ou seja, sem recurso, como nos primeiros tempos, a jovens oriundas da patinagem artística, onde não tinham lugar por falta de capacidade técnica. Com este desenvolvimento, não admira que, em dez anos, os títulos tenham sido divididos por várias equipas, não havendo uma predominância de nenhum clube, ainda que, a exemplo das equipas masculinas - a inversão total de valores ... - já existam estrangeiras no hóquei feminino, quando ainda não se esgotaram todas as hipóteses de formação. Mas espectáculo é espectáculo e o jogo, hoje, não é como há cinquenta anos.” Gouveia, 2002, p. 108-110

Sandra Silva, Ana Gomes, Carla Neves, Ana Emnio, Carla Alves e Salomé Gonçalves.

“Nas provas nacionais masculinas, o FC

Porto manteve a embalagem dos anos 80, dominou o Campeonato no princípio e no fim da década e, pelo meio, foi vencendo a Taça de Portugal aqui e ali. Confirmou, no fundo, toda a valia de um clube que fez do hóquei em patins uma das principais bandeiras, a seguir ao futebol.

O Benfica, mantendo a espinha dorsal da equipa durante vários anos, tal como o FC Porto, provou que o conhecimento mútuo dos atletas e o colectivismo que daí advém são os principais artífices de um triunfo; não admira que os encarnados tenham ganho cinco Campeonatos em dez anos e outras tantas Taças.

Mas um terceiro protagonista se juntou aos consagrados e passou a figurar no lote

A primeira Medalha de Ouro, no Europeu de 1997, em S. João da Madeira: Raquel Pinto, Ana Carapuça, Sónia Marcelino, Eduarda Fonseca,

dos crónicos candidatos ao título: Óquei Clube de Barcelos – assim mesmo sem h no Óquei! – vencedor de três Campeonatos e duas Taças de Portugal.

Da 2: Divisão, ainda na década de 80, alcandorou-se a um posto cimeiro e respeitado, graças à visão do então seu presidente, Jorge Coutinho, que encetou uma política de contratação de jogadores de gabarito, culminada com a aquisição, nos últimos anos, dos irmãos Bertolucci, entre outros. Aliás, política seguida por muitas outras equipas, como o Benfica, com os irmãos Velázquez, o FC Porto, com Edu Bosh, o Infante de Sagres, com quase metade da jovem selecção espanhola, etc.” Gouveia, 2002, p. 110-111

(…)

“Recordamos ainda outros dados históricos dos anos 90, concretamente a presença do hóquei nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, como modalidade de exibição, do que trataremos noutro capítulo, e os Jogos Mundiais de 1993, em Haia, onde o nosso país voltou a vencer. Para encerrar a década, uma referência que se impõe: as Taças Europeias de Clubes deram bastantes alegrias aos adeptos de muitos clubes portugueses presentes, mas o maior triunfo pertenceu ao Óquei de Barcelos na época de 90-91, em que venceu a Taça dos Campeões Europeus, a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental, feito jamais alcançado por um clube nacional. Nesse mesmo ano, Portugal fez o pleno, com o Sporting a ganhar a Taça das Taças e o Benfica a vencer a Taça CERS.

Também FC Porto (por duas vezes), Barcelos, Oliveirense e Paço d’Arcos

ganhariam a Taça CERS, tendo os minhotos vencido, em 1993, a Taça das Taças.” (…)

“Na História do hóquei em patins não há propriamente um epílogo, antes se encerra um ciclo e recomeça outro. Para que continue o brilhantismo que a modalidade alcançou é necessário que jogadores, treinadores e dirigentes trabalhem cada vez melhor. Pela nossa parte, resta-nos a fundada esperança de que um dia – e já não estará longe – o magnífico espólio da Federação, espelho de tantos e tantos êxitos do nosso hóquei, descanse – e seja enriquecido dia a dia – no futuro Museu António Livramento.” Gouveia, 2002, p . 112-115

18. E não resisto a transcrever mais um pequeno naco de prosa de Silvestre Lacerda, sempre tão atento a todos os aspectos que considera, como eu considero, importantes na história do hóquei em patins:

“Em ambientes citadinos, particularmente em Lisboa e no Porto, e após a enorme onda de difusão e de propaganda ocorridas na sequência da conquista pela equipa portuguesa do 1º lugar no Campeonato Mundial de Hóquei em Patins, em 1947, passou a constituir imagem vulgar a ocupação das ruas e becos por crianças oriundas das designadas classes populares, para entusiásticos jogos de hóquei, em que os “sticks” eram paus recurvados ou mesmo troços de couve-galega e a bola novelos de papel ou trapos envoltos em meias-de-vidro.” (Sublinhado meu, J.C.N.) Lacerda, 1991, p. 10.

Só tenho este comentário: não estávamos sós!…

19. Acrescento aqui apenas mais um pouco do ‘site’ da AEIST, como uma espécie de resumo do que ficou dito até aos anos 80:

“- 1873, em Portugal, teriam aparecido os primeiros patins de rodas que pertenciam à Rainha D. Maria Pia, que em Mafra (são bem conhecidos e famosos os corredores do Convento de Mafra) se exibiu neles e se julga terem sido trazidos de Paris por Madame Daupiás.

Tem imensa curiosidade ver na sala dos troféus da F.P.P., um par de patins em madeira (a rodas), que dizem ter sido utilizados pelo Príncipe Luís Filipe de Bragança, filho de El-Rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia. Estes patins foram encontrados no Palácio Ducal de Vila Viçosa.

- 1904, é construído em Portugal (Lourenço Marques), no Teatro Varietá, o primeiro rinque de Patinagem.

- 1905, os dados cronológicos registam o aparecimento do Hóquei em Patins em Inglaterra, no ano de 1877, muito embora o processamento da sua forma competitiva, devidamente institucionalizada, só se viesse a verificar em 1905.

- 1907, é entregue na Câmara Municipal de Lisboa um requerimento para construção de uma Pista de Patinagem, todavia, parece que, na verdade, não passou da entrega do requerimento, pois sobre tal nada mais se encontrou.

- 1908, inscrevem-se os primeiros hoquistas e o Jornal Sports, de 12 de

Fevereiro, notícia a prática de patinagem na garagem das Galerias da Sociedade Portuguesa de Automóveis. Porém, também ao que consta, já em 1905 se praticava a modalidade em Carcavelos (onde habitavam muitos Ingleses) e no Colégio Militar.

- 1912, aparece em Portugal Continental o primeiro rinque, por iniciativa de Recreios Desportivos da Amadora, e o primeiro jogo, entre o Clube de Desportos de Benfica e aquele Clube da Amadora, e que o C. D. de Benfica venceu por 2-0.

Também neste ano, em Itália (Milão), se começa a praticar o Hóquei em Patins.

- 1916, Cosme Damião, presidente do Benfica, manda vir de França os Regulamentos do novo desporto que era o Hóquei em Patins, e que foram traduzidos pelo grande jornalista, e director do extinto “Mundo Desportivo”, Raúl de Oliveira. É neste ano que duas equipas do Sport Lisboa e Benfica, no rinque da Avenida Gomes Pereira, disputam um encontro segundo as novas regras.

- 1917, é organizado o primeiro torneio de Hóquei em Patins, em que tomam parte os seguintes clubes:

Sport Lisboa e Benfica

Recreios Desportivos da Amadora

Ginásio Clube Português

Escola de Educação Física

Portugal Foot-Ball Club

Carcavelos Hockey Club

Estes torneios têm continuidade nos anos de1918,1919 e 1920.

- 1930, A Selecção Nacional participa pela primeira vez no Campeonato da Europa. A sua representação foi entregue ao Sport

Lisboa e Benfica, e para a história, a equipa era formada por: Fernando Adrião (pai), António Adão, Germano de Magalhães, José Prazeres e Leonel Costa.

- 1947, Portugal conquista pela primeira vez na sua história o título Mundial, em Lisboa.

- 1956, Neste ano, também teve início o Campeonato Europeu de Juniores, tendo como primeiro vencedor a equipa Portuguesa.

- 1977, inicia-se a disputa da Taça dos Vencedores das Taças, que tem como primeiro vencedor a Associação Desportiva de Oeiras.

- 1980, começa a disputar-se o Campeonato Europeu de Juvenis (Portugal é o primeiro vencedor) e a Taça C.E.R.S. (que tem como primeiro vencedor o Grupo Desportivo de Sesimbra).”

20. Algumas das informações anteriores podem ser precisadas ou alargadas. Assim, o primeiro campeonato internacional em que Portugal participou, em 1930, realizou-se, como já foi dito, em Inglaterra, em Herne-Bay, nos subúrbios de Londres, e os jogadores que a constituíram pertenciam todos ao Benfica. O seccionador foi Víctor Lemos e o dirigente era Gaudêncio Costa. (Hóquei, 1956, p. 41).

Da equipa de 1930, fizeram parte os jogadores acima indicados, mais o suplente José Carlos de Sousa (Hóquei, 1956, p. 35). No “Programa Oficial” agora citado, existe um texto intitulado

“Homenagem a quem tanto a ela tem jus” (infelizmente não assinado) que presta uma homenagem sentida, até pela relativa proximidade, a estes verdadeiros ‘desbravadores’ de um terreno novo e cheio de dificuldades, como sempre acontece no início de qualquer descoberta, dizendo:

“Foram eles os homens que «fizeram» o hóquei em patins português no campo internacional. (…) Todos eles têm jus ao galardão máximo: Adrião, sobre ter sido, no seu tempo, o melhor «keeper» do Mundo, vê continuados em seu filho (do mesmo nome e fama) os predicados de um extraordinário praticante; Adão, jornalista probo e sabedor, ao mesmo tempo comentarista da Rádio, tem contribuído firmemente para a expansão do jogo; Prazeres foi o treinador que deu a Portugal o primeiro Campeonato do Mundo – e outros mais…; Magalhães, símbolo da amizade e do desportivismo, é o único desaparecido já das impurezas da vida – mas como sempre quis, com os patins nos pés, no intervalo do encontro de veteranos que inaugurou o rinque de Santarém; e Leonel, presentemente o «responsável» pela Selecção do País após ter sido um dos nossos mais famosos «esquerdinos»; José Carlos foi mais tarde auxiliar do Seleccionador. Honra, pois, a estes Homens – Paladinos da Causa Hoquista.” (Hóquei, 1956, p. 35 e 41).

Em 1939, esta mesma selecção enfrentou, em Lisboa e em jogo amigável, a Itália, com quem empatou (3-3) e, em 1945, também em jogo amigável e de propaganda do novo desporto, a Suíça, que venceu por 6-1.

Também em 1939, iniciou-se o campeonato nacional, cuja final foi disputada entre os campeões de Lisboa – o Sporting – e do Porto – o Infante de Sagres – com vitória do clube lisboeta (Hóquei, 1956, p. 41).

Por esses anos 30, formaram-se equipas de clubes, em que se destacaram o Amadora e o Benfica, “e constitui-se o indispensável organismo coordenador: a Liga Portuguesa de Hóquei. Mais tarde, já com as competições em pleno desenvolvimento, nasceu a actual Federação Portuguesa de Patinagem, sucedânea da Associação de Hóquei e Patinagem de Lisboa, com funções análogas às que hoje desempenha a Associação de Patinagem do Sul e que foi o primeiro organismo regional a ser criado” (Hóquei, 1956, p. 39).

“As mais importantes iniciativas” da Federação Portuguesa de Patinagem, nesses anos 30 a 50 do século 20, ainda segundo os documentos que tenho vindo a seguir, foram as seguintes:

“- organização de três campeonatos do Mundo e da Europa (dois em Lisboa: 1947 e 1949; e quatro no Porto – em 1952, 1956, 1958 e 1963 - Hóquei (1963), p. 69-75); e do - 2º Campeonato da Europa e do Mundo de corridas em patins (Dezembro de 1949 – em Lisboa;

- viagem de propaganda da Equipa Nacional a Lourenço Marques, Lobito e Luanda (Outubro de 1949);

- jogos particulares com a Itália (1939), Suíça (1945), Bélgica e Espanha (1948), de novo com a Bélgica (1951) e com o Brasil (1953) – os três primeiros e os dois últimos em Lisboa, o quarto em Madrid; - torneios internacionais de Lisboa e Porto (1949), com equipas da Bélgica

(Antuérpia), Espanha (Barcelona), Inglaterra (Manchester) e Itália (Trieste) (Hóquei, 1956, p. 43).

- novos torneios internacionais, também em Lisboa,

- o primeiro (1952) de homenagem aos jornalistas Raúl de Oliveira e Jorge Monteiro, o qual foi disputado com as representações da Bélgica (Antuérpia), França (Bordéus) e Itália (Trieste);

- o 2º (1953) com a turmas da Alemanha, França e Itália, tendo Portugal apresentado três selecções (A, B e C); e - o 3º (1956) com a participação da Alemanha, Itália e Suíça;

- organização do 1º e 3º Campeonatos da Europa de Juniores em Lisboa, com o concurso, em 1953, dos grupos da Bélgica, Espanha e França e, em 1956, dos grupos da Bélgica, Alemanha, Espanha, Holanda e França; e a

- comparticipação nas Taças Amizade, séniores (1956 e 57) e juniores (1956), primeiramente em Lisboa, depois em Barcelona.” (Hóquei, 1958, p. 25 e 27).

O documento de 1956 anota ainda, como “grandes êxitos de propaganda” da modalidade, algumas “iniciativas de clubes”, apontando como mais importantes as seguintes (lamentavelmente não as datando; embora, a índole do documento as coloque entre o final dos anos 30 e 1956):

“- as visitas do Académico (Porto) e do Paço de Arcos ao Brasil, verdadeiramente triunfais;

- a magnífica vitória do Campo de Ourique no torneio luso-espanhol de Vigo;

- a ida de uma equipa do Norte, formada

por jogadores do Académico e Infante de Sagres, a Módena, para disputar o Torneio da Primavera, classificando-se em 2º lugar, com o mesmo número de pontos que a Itália; - a comparticipação do Sintra no torneio da Páscoa, em Montreux; e - a visita do Benfica ao Ultramar.”

21. O documento de 1958 acrescenta um (agora) curioso toque colonialista:

“Por outro lado, a visita do SNECI (1955) e da Selecção de Lourenço Marques (em 1957) constituem marcos imperecíveis na estruturação da unidade desportiva imperial.” (o que significa que havia mesmo quem continuasse a sonhar com um império do Minho a Timor) (Hóquei, 1958, p. 27).

22. Sobre dois dos pontos agora referidos – a visita do Benfica ao chamado ultramar e a visita do SNECI à dita metrópole – convém fazer algumas precisões. Para isso, vou socorrer-me do testemunho de Francisco Velasco.

Esse testemunho, aliás notável a vários títulos, está no site da sua autoria, a que chamou “Carrossel”, em homenagem ao tipo de hóquei que o SNECI tornou famoso e que consistia, grosso modo, em rodarem continuamente, trocando a bola entre si, até que a desorientação eventualmente causada no adversário permitisse a “aberta” para o golo. Ele foi jogador daquele que era o grande clube de hóquei da época em Lourenço Marques, o SNECI, abreviatura de “Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e da Indústria”, que foi a nova denominação dada à Associação dos mesmos

empregados, situada na Av. Pinheiro Chagas, em Lourenço Marques. Diz ele:

“...a equipa do Sport Lisboa e Benfica, constituída por Barata e Antunes (GRs), Lopes, Cruzeiro, Lisboa, Perdigão, M. Almeida e Sousa Dias, deslocara-se a Moçambique, em 1953, a convite do Grupo Desportivo de Lourenço Marques, a fim de participar na inauguração do seu segundo recinto de patinagem.” (...)

“As jornadas tiveram início no dia 18 de Junho, prosseguindo no dia 20 e 21, sendo este o dia em que o Benfica derrotou copiosamente o SNECI de que eu era componente.” (...)

“A visita do Benfica, em finais da época de 1952/53, veio seguramente dar um impulso ainda maior à modalidade, com especial efeito na nossa equipa, a qual, na época seguinte, de 1953/54, com o regresso de António Souto, de Amadeu Bouçós e de Alberto Moreira, que andavam perdidos por outros clubes, impôs-se a todas equipas da cidade, incluindo o Clube

Ferroviário, então campeão distrital.

Estavam dados os passos que levariam o SNECI a interromper a época 1954/55, em Abril, de modo a poder deslocar-se a Portugal, numa viagem a todos os títulos memorável.” (...)

“Para podermos fazer uma ideia do esforço e sacrifício exigido durante a digressão do SNECI por terras de Portugal e o modo como fomos solicitados até ao limite, descreverei o programa realizado. É fácil reconhecer que só a capacidade atlética de todos nós pôde suster a avalanche de jogos, intercalados por viagens contí-

nuas no Norte, para cima e para baixo, deste para o Centro, de regresso ao Norte, descida ao Sul, retorno novamente ao Norte, visitas a entidades e a clubes, idas a locais de interesse histórico, fábricas, estaleiros navais, almoços gentilmente oferecidos…” (...)

“ Fizemos os primeiros 9 jogos no Norte em 12 dias, o que representou efectuar 3 jogos em cada 4 dias, tudo vitórias, com o seguinte resultado global: 84 golos marcados pelo SNECI e 16 sofridos.” (...)

“Nesta última fase, com um regresso ao Norte para um empate e nova descida ao Sul para uma vitória, verificou-se um agregado de resultados que mostram 22 golos marcados pelo SNECI e 24 sofridos em 4 jogos. A digressão saldou-se com um total de 106 golos a nosso favor contra 40 marcados pelos adversários.” (...)

“...esta primeira visita duma equipa de hóquei em patins a Portugal saldou-se indiscutivelmente por um enorme sucesso tendo surpreendido e entusiasmado todos que a viram jogar. Para culminar, e possivelmente como forma de incentivo, tanto eu como o António Souto fomos indigitados para acompanhar a Selecção

Nacional que se preparava para disputar o XIº Campeonato do Mundo em Itália, onde fizemos a nossa estreia pela selecção, num jogo realizado em Modena.” (...)

“ Ganhou a Espanha e o 2º lugar foi para a Itália, mas uma figura sobressaiu como um gigante acima dos demais: a de Fernando Cruzeiro, o médio de mais categoria a actuar na Europa.” (...)

“Diário da digressão - Abril de 1955:

Dia 4 – Chegámos ao aeroporto da Portela de Sacavém de manhã, fizemos uma fotografia (...)

Dia 5 – Partimos para o Porto onde fomos recebidos apoteoticamente na Gare de S. Bento, pernoitando e seguindo depois para Braga.

Dia 6 – Em Braga, fomos recebidos pelas autoridades mais destacadas (...) À noite, no Estádio «28 de Maio», na nossa estreia, defrontámos a Selecção do Minho que vencemos por 10-1. (...)

Dia 8 – Chegámos a Viana do Castelo e à tarde visitamos Santa Luzia (...) Á noite, enfrentámos a equipa do Sport Clube Vianense tendo vencido por 9-0

Dia 9 – Deslocámo-nos agora para Guimarães. Visitámos o Castelo onde fizemo-nos fotografar junto à estátua de Afonso Henriques. (...) Defrontámos depois, à noite, um misto Guimarães-Taipa que vencemos por 10-1. (...)

Dia 11 – Viajámos para Aveiro onde se juntaram a nós os três jogadores suplentes que na semana anterior não tinham podido vir connosco por falta de lugar. (...) Seguiu-se uma recepção na sede do Clube dos Galitos cuja equipa, à noite, saiu copiosamente derrotada por nós por 17-0. (...)

Dia 13 – À noite, no recinto do Lima, com a sua capacidade superlotada, vencemos o Estrela Vigorosa por 4-0, jogo a contar para o primeiro Torneio Quadrangular disputado pelo SNECI.

Dia 14 – À noite, derrotámos o Infante de Sagres por 4-1, ganhando o torneio quadrangular e uma das mais valiosas taças conquistadas na Metrópole. (...)

Dia 16 – Chegada a S. João da Madeira. (...) À noite, batemos a equipa do Sanjoanense por 6-3, após uma partida muito renhida.

Dia 17 – Partimos para Coimbra (...) À noite defrontámos a Selecção de Coimbra que vencemos por 9-2.

Dia 18 – Rumámos para Oliveira de Azeméis (...) À noite vencemos a equipa da Escola-Livre local por 12-5 (...)

Dia 26 – De regresso a Lisboa, após uma semana (cujas recordações se esvaíram), jogámos no Pavilhão dos Desportos, contra o Clube Atlético Campo de Ourique, campeões nacionais (...) Neste jogo, ensombrado pela anulação dum golo no último minuto, que nos daria um empate, ainda fizemos uma recuperação nos últimos nove minutos, de 1-6 para 5-6 que foi o resultado final.

Dia 29 – Neste dia, (...) disputámos um jogo memorável, contra o Sport Lisboa e Benfica, o melhor disputado na Metrópole, tendo perdido por 3-6.

Maio de 1955:

Dia 1 – Jogo em Sintra, onde perdemos com o Hockey Club de Sintra 4-6. (...)

Dia 5 – Viajámos para o Norte a fim de defrontar o Clube Académico do Porto, tendo empatado 3-3

Dia 9 – Regressámos ao Sul para o jogo contra a Associação Académica da Amadora que vencemos por 10-6. (...)

Dia 14 – A equipa do SNECI chega a Moçambique.”

(V : SNECI em Portugal 1955)

03 Aparecimento do Hóquei em Patins em Valongo

Daqui – desta terra onde a crise, por grave que seja, não provoca amnésia – vai um recado.”

Correio do Douro, de 30.04.2013

“O progresso da modalidade nunca foi linear, avançou e regrediu repetidas vezes devido à falta de “história” escrita, ou adulteração da mesma, nalguns casos.”

VELASCO: “Carrossel”, Lourenço Marques, em 20110223

O começo

23. É preciso algum esforço da imaginação para se perceber o ambiente que então se vivia, naqueles distantes anos 40-50 do século 20.

Valongo tinha um campo de futebol (que ainda existe) e um clube de futebol: não havia qualquer outro desporto, a não ser os passeios e corridas de bicicleta que faziam os mais afortunados, que podiam ter uma. Havia um cinema, de gratas recordações, já tinha havido teatro, que desaparecera... e mais nada... Percebe-se que a maior parte da juventude se sentisse entediada e frustrada. Os mais velhos colmatavam as lacunas indo procurar no Porto as diversões ou os desportos de que careciam.

Então, paulatinamente, começaram a chegar notícias dos sucessos, quase inacreditáveis, da equipa portuguesa de hóquei em patins em campeonatos internacionais: primeiro em 1947, depois, sem intervalo, em 1948, 1949, 1950, 1951, 1952...

Chegavam-nos, claro, os relatos radiofónicos, muito entusiasmantes, sempre mais velozes que o próprio jogo… Apareciam as notícias nos jornais (que nas alturas dos campeonatos europeus ou mundiais eram e são sempre profusas e diárias…). Com alguma sorte, os mais afortunados acabavam por ver um documentário sobre os jogos nos cinemas do fim de semana.

Custava a crer que aquilo era verdadeiro, que era mesmo verdadeiro. Porque, como diz com grande propriedade um autor citado atrás, todos nós estávamos rendidos à ideia de que éramos fracotes

19540528_Flama_A selecção nacional em Barcelona

19540528_Matos, um dos semi-deuses… Em cima, vários outros

em desporto, sim, havia uns habilidosos, como o Eusébio, mesmo geniais, mas não tinham peso, eram casos isolados… Então, como era possível que tivessem surgido, não se sabia bem de onde, uns sujeitos a jogarem um jogo mal conhecido que batiam, sem dó nem piedade, equipas famosas e imbatíveis, como a Inglaterra, a Suíça, a França, a Bélgica, a Itália, a Espanha?

À primeira sensação de incredulidade, sucedeu uma sensação de espanto: como era possível?!

Também entrou em cena o humor: começou a circular o mito, meio brincalhão, meio sério, de que nós, portugueses, possuíamos um cromossoma, até aí desconhecido, que nos tornava imbatíveis naquela modalidade...

Com o tempo, principiaram a surgir os “heróis”, os jogadores semi-deuses, que reverenciávamos. Imagens como estas (que recuperei do meu sótão) e muitas outras semelhantes, deixavam-nos quase em êxtase…

E foi quando despertámos para a vivência dos já existentes clubes portugueses, no Norte e no Sul, alguns de grande qualidade técnica, como o Infante de Sagres e o Académico, no Porto, e o Benfica, o Paço de Arcos, o Amadora e o Sintra, em Lisboa; mais importante do que tudo, iniciámos o

desfrute ao vivo dos jogos desses clubes, primeiro através dos relatos radiofónicos e da imprensa escrita, mais tarde com a possibilidade de assistir mesmo a alguns desafios. Nesse aspecto, a vinda do SNECI ao Norte, já referida, foi de grande importância.

Podemos entender melhor as características destas circunstâncias, deste contexto, se eu transcrever o relato que, em idêntica situação, faz o já nosso conhecido Francisco Velasco

“Decorria o ano de 1949, tinha eu catorze anos, quando a Selecção Nacional Portuguesa foi a Moçambique inaugurar o então novo rinque do Grupo Desportivo de Lourenço Marques. Dois anos antes, no Pavilhão dos

Acto solene da Inauguração

Desportos, em Lisboa, Portugal tinha conquistado o primeiro Campeonato do Mundo, abrindo caminho a inúmeras vitórias internacionais ao longo das décadas seguintes.

O efeito desse acontecimento foi fulminante e galvanizou várias dezenas de garotos que ouviam os relatos que chegavam pela rádio. Se bem que já praticassem a modalidade, a conquista do título mundial impulsionou-os para uma prática mais intensa, jogando-se entusiasticamente nas ruas, nos clubes, nas escolas e nos liceus.

Todavia, foi a observação directa das actuações dos jogadores da Selecção Nacional que mais impacto teve nas mentes da garotagem que, durante dias, assistiu fascinada a exibições e resultados invulgares. Em termos concretos, foi-lhes revelado até que ponto se podia chegar na prática da modalidade e as sementes lançadas não foram desperdiçadas.

Dez anos depois, meia dúzia desses miúdos, tornavam-se Campeões do Mundo e da Europa e vencedores de Montreux e da Taça Latina, iniciando um novo ciclo na modalidade do Hóquei em Patins Mundial que durou vários anos.”

Velasco, Carrossel

É certo que os rapazes de Valongo não chegaram a ganhar Montreux e a Taça Latina, como eles fizeram – ganharam, com o tempo, outros montreux e outras taças – mas há pontos em comum, a começar na idade e a acabar no entusiasmo que as exibições, vistas, lidas ou ouvidas, suscitavam em nós.

O encontro dos

“fundadores”

24. Por volta de 1951-52, um grupo de amigos juntava-se todas as noites em casa uns dos outros, jogando cartas e discutindo as coisas da vida, como é normal entre amigos, e, entre elas, falava com entusiasmo das vitórias do hóquei nacional. A casa mais frequentada era a casa do Eduardo e do Álvaro Figueira. E o “grupo da sueca” era habitualmente constituído pelo Eduardo, por vezes o Álvaro (que era mais novo), o João Lino Vale, o Joaquim Fontes, o Jorge Braga, o Manuel Lino Resende e eu próprio.

O hóquei estava no auge da popularidade, pelos motivos que fomos vendo, e ninguém era imune ao seu fascínio. Foi então surgindo a ideia de que seria divertido ter um grupo que jogasse hóquei e que, quem sabe, um dia até talvez pudesse disputar um campeonato com outras equipas…

Toda esta rapaziada entusiasta já sabia ou foi aprendendo a andar de patins, com os velhos patins de ferro, nos sítios mais inimagináveis: nos passeios das ruas (apesar do quadriculado deles, que tornavam a circulação uma aventura perigosa…) nos pátios das casas e até na gare da estação do caminho de ferro, ao fundo da vila…

Há relatos interessantes e antigos, que veremos adiante.

O grande entusiasta da ideia do clube foi, como noutros casos e noutros contextos, o João Lino Azevedo Alves do Vale, então com 14, 15 anos, que seria mais tarde o Dr. João Lino Vale, distinto médico em Valongo e no Hospital Militar do Porto. Ele foi não apenas o entusiasta, mas o grande obreiro do clube, fazendo um pouco de tudo,

desde a organização e os estatutos, até ao móvel do primeiro balneário e à mesa de ping-pong da sede… Fomos amigos desde a escola primária e assim nos mantivemos sempre, mas não será essa amizade a impedir-me de exaltar a figura e o trabalho do João Lino em toda a sua extensão, porque é uma questão de inteira justiça. De resto, ele próprio se encarregou de não deixar por mãos alheias a paternidade (ou maternidade…) do clube, ao dizer, entre sério e brincalhão, uma frase que passou a ser citada pelos amigos e conhecidos: “Eu tenho oito filhos: os sete mais novos deu-mos a minha mulher e, graças a Deus, são todos perfeitinhos. Mas o mais velho, esse, pari-o eu. Sou eu a mãe. O seu nome é A. D. V.”

Desse grupo inicial, faziam parte, além do João Lino, também o Eduardo Figueira, o João Loureiro (como eu era conhecido), o Álvaro Figueira, o João Cruz, o José Eduardo Neves, o Adalberto Camões, o António Campos, o Francisco Bártolo, o Francisco Pires, o Joaquim Santos, o Joaquim Fontes, o José (Zézé) Paupério, o Lino Gerardo e alguns outros.

Entretanto, o entusiasmo pelo hóquei foi crescendo, cada um dos iniciais foi contando aos amigos, muitos deles que já andavam de patins e eram facilmente contagiados. Foi assim que cedo se juntaram o Armindo Fonseca, o Carlos Camões, o Eugénio Pires, o Joaquim Navio e outros.

Com todo o ambiente nacional de entusiasmo pelo hóquei e a ideia que, empurrada por ele, começou e germinar nas nossas cabeças, foi um passo para começarmos a procurar, quase desesperados, espaços onde pudéssemos experimentar nem que fosse um arremedo de coisa parecida com aquilo de íamos sabendo…

Os rinques de patinagem

O primeiro rinque do hóquei

25. Aquelas e aqueles de nós que por volta de 1948-53 do século 20 andavam entre os 10 e os 15 anos e tiveram a sorte de ter alguém – os pais, um tio, um avô ou uma avó – que lhes ofereceu um par de patins, daqueles todos metálicos, com rodas de ferro e ganchos ou correias de prender nos sapatos – que eram um brinquedo relativamente barato e muito em voga na época – passaram a fazer parte do grupo dos entusiastas futuros do hóquei em patins. Por essa altura, como vimos, estava a iniciar-se em Portugal o grande ‘boom’ do hóquei em patins, além do mais por causa da retumbante vitória que a selecção nacional alcançara em 1947, no Campeonato do Mundo, em Lisboa.

Quem possui uns patins precisa de um espaço liso, ou relativamente liso, para patinar, isto é, para obter a diversão que a oferta dos patins prometera. Onde é que nós patinávamos, em Valongo? Antes de tudo, nos próprios passeios das ruas da então vila, que eram muito desconfortáveis, porque possuíam aquele quadriculado que então era moda urbanística, destinado a permitir o escorrimento da água das chuvas.

Não resisto a transcrever parte do texto que o meu querido Amigo e primo José Eduardo Castro Neves, hoje Coronel de Cavalaria na reserva, escreveu para a Exposição de 2013, “Um Percurso Sobre Rodas”, realizada no Arquivo Municipal, por iniciativa da Câmara Municipal e com a coordenação da Dr.ª Manuela Ribeiro:

“sobre as brumas da memória... da caixa da saudade... e do... depósito das melhores recordações da nossa juventude: “nunca tinha visto tal coisa e ouvido tal barulho”!... preparava-me no escritório da casa do Padrão... para os meus exames de liceu! o Alexandre Herculano... era exigente... e havia duas terríveis provas a transpor (a escrita e a oral)! eis senão quando... sou chamado à janela... para descobrir e observar o Kim Santos e sua irmã Eduarda... no passeio ao lado... em alegre e “vertiginosa corrida”... em cima dumas máquinas com 4 rodas de metal... amarradas debaixo dos pés! Os passeios...naqueles tempos... tinham árvores… e eram esquadrinhados no cimento! nunca tinha visto uns patins... e... ouvido o barulho que faziam ao passar nos quadradinhos... com miúdos em cima... em velocidade de espantar!” (Mail de 23.03.2013)

O “herói” citado neste texto, o Joaquim Marques dos Santos, meu Amigo antigo, que foi um dos primeiros a patinar em Valongo, com a sua irmã Eduarda, também deu o seu testemunho:

“Os passeios das Ruas do Padrão e Alves Saldanha, principalmente ao longo desta, eram as grandes pistas de velocidade. Inclinados, permitiam desenfreada correria, a qual terminava em abraço aflito à última das Acácias que ao longo dela existiam, como único travão possível. Os que ali desafiavam a vertigem eram os do grupo do cais da Estação, mais a Maria Eduarda Santos, a qual, embora mais nova, não queria deixar os créditos só para rapazes. Terá sido a primeira rapariga a andar de patins em Valongo.” (Mail de 01.03.2013).

Eis 4 desenvoltos patinadores e futuros hoquistas: de pé, o João Cruz e o José Cândido Cruz; de joelhos, o Joaquim Santos e o Manuel Cristóvão. 1948-50. Notável: os stiques de ramo de sobreiro!

Aqui, uns anos depois, vemos de novo o Joaquim Santos, agora guarda-redes de um campeonato de rua, ladeado pelo Leal e pelo Eugénio, ajoelhados, e pelo João Loureiro e o João Cruz, de pé.

Depois, havia os pátios das casas de cada um ou das casas dos amigos. No pátio da casa do João Lino Vale, encontravam-se para patinar, além dele, os amigos Francisco Bártolo, Quim Fontes, Armindo, eu e outros. No pátio da minha casa, que era de placas de ardósia, não muito lisas e com junções bastante irregulares, patinava eu com o meu Amigo Eugénio, que foi, do meu grupo da infância, o único que se aventurou no hóquei, aliás com grande sucesso. O Quim Santos, com a irmã Eduarda e mais alguns amigos, conseguiram obter licença do chefe da Estação de comboios de Valongo, que tinha, como todas, aquela enorme plataforma da gare, de cimento liso, e alegremente se divertiram a patinar no cimento liso:

“A procura de espaços com pavimento “apropriado” era grande, pela nossa parte. Tanto que até a gare da Estação de Caminhos de Ferro de Valongo foi utilizada, talvez antes da década de 50. Então, o chefe da Estação era o Sr. Moreira – o Moreirinha – ligado à família Seara, de Campo. Fora contactado pelo Sr. Marques dos Santos, seu amigo, no sentido de autorizar a prática da patinagem naquele estreito, mas longo espaço. Que sim, mas que, à sua ordem, fossem tirados os patins e os “atletas” se sentassem no chão, até que o comboio passasse. Ordem dada, ordem cumprida. Se não...

Quem eram então os “atletas”? Talvez os

primeiros patinadores que Valongo vira: o Joaquim Eduardo Santos, seu primo Manuel Cristóvão, que vinha de Gaia, nas férias ou sempre que o deixavam. Os irmãos Cruz, Alberto, José Cândido e Manuel, filhos do saudoso Sr. Henrique Cruz. Ainda, fazia parte do grupo o João Gonçalves da Cruz, o único dos cinco da gare que veio a ser federado, filho do Sr. Joaquim Cruz.” (Mail de 01.03.2013).

O Quim Santos era, aliás, um verdadeiro descobridor (descendente dos Grandes de Quinhentos…), porque não se limitou ao magnífico rinque do cais da Estação, conseguiu ainda, como me contou, obter autorização para patinar na Garagem do Varela (assim chamada na época, onde agora está a estação de serviço da PRIO, na Rua Conde Ferreira, frente ao largo ajardinado e ao Restaurante Jardim, no começo da Rua Sousa Paupério, n.º 19), que fora inaugurada pouco antes e cujo piso estava novinho em folha…

Assim fomos andando e aprendendo, sempre com a nostalgia de um espaço adequado. Até que um dia o meu querido e saudoso Amigo Eduardo Figueira se lembrou: “E se fôssemos pedir ao meu Tio Mamede, que tem aquele terraço enorme?!”

Bom, comparado com os nossos pátios mais ou menos exíguos, o terraço era na verdade maior… mas daí a ‘enorme’ ainda ia um passo comprido… O certo é que o Tio Mamede autorizou e passamos a rumar para lá, todos os fins de semana, sempre que a família não tinha outra ocupação para o espaço. Era um terraço familiar, com um pequeno murete a rodeá-lo, inventámos uma baliza, só uma, e ali jogámos, entusiasmadíssimos, não de fato completo, mas de camisa, calças e… gravata!!, até o cansaço nos vencer ou serem horas de voltar

Em baixo, da esquerda para a direita e de trás para a frente: Eduardo Figueira, João Cruz, Álvaro Figueira,– João Lino, João Loureiro, Zé Eduardo

Eduardo,

Em

às nossas casas. Eis as recordações (desfocadas…) que nos ficaram – mas ainda bem que ficaram algumas:

Lamento não saber quem foi o autor das fotos, porque muito gostaria de recordá-lo aqui. Assim como lamento não conseguir identificar o jovem amigo que está entre o Álvaro e o João Lino, o que tentei com vários outros amigos. Poderia ser o irmão do João Cruz, o Domingos, que será mais tarde um óptimo elemento do Valongo, mas ninguém consegue ter a certeza e ele era, ao que julgo, nesta altura, ainda muito pequeno.

O que aqui importa dizer é que, pelas características dos jogos que conseguimos fazer, pelas horas que lá passámos, pelo entusiasmo que nos suscitou, por todo o ambiente de primeira experiência de jogos em mini-equipas, me parece legítimo afirmar que aquele terraço foi verdadeiramente o nosso primeiro rinque de hóquei em patins!

A casa era (e lá continua, com outro dono) na Avenida Primeiro de Maio, no n.º 295. Ainda se vê o terraço, nosso primeiro rinque de jogos e patinagem.

Em cima:
João Lino, Zé Eduardo
baixo: Eduardo,– Álvaro, João Loureiro

A “Separadora”

O segundo recinto do hóquei em Valongo

26. Vale a pena contar a história deste espaço de ‘fábrica-por-estrear’ em que ensaiamos os primeiros passos de hoquistas aprendizes.

E a história começa com a vinda para Valongo de um casal de quem, com o andar do tempo, me tornaria muito próximo e muito amigo, devido às voltas sempre inesperadas que a vida sabe dar.

Esse casal era a Sr.ª D.ª Margarida Sousa Raposo Coutinho Varela Sant’Ana de Miranda e o Sr. José Egas de Azevedo e Silva Sant’Ana de Miranda, que tinha dois filhos, o José Manuel Varela Sant’Ana de Miranda e o Luís Varela Sant’Ana de Miranda. É preciso lembrar que o José e eu tínhamos 13-14 anos, acabámos por nos encontrar num qualquer momento e ficámos amigos. Eram os anos 50 do século XX, mais concretamente, 1951-1952. Depois, o tempo passou, a vida evoluiu e o Luís Miranda acabou por casar com a Eduarda Santos, minha Amiga e irmã do Joaquim Marques dos Santos, meu Amigo e um dos mais iniciais praticantes do hóquei em patins, e do casal nasceram duas filhas: a Ana e a Inês, que são vivas e se recomendam.

Acontece que o Sr. Miranda viera para Valongo com a incumbência de gerir a que iria ser uma fábrica de transformação de estanho e volfrâmio em ferro-tungsténio, precisamente a “Separadora”, que cresceu e se implantou junto da Estrada Nacional 15, do lado direito, no sentido Valongo-Penafiel, naquela que actualmente é a Rua Central de Campo, no local onde agora existe este bloco de apartamentos, com os n.ºs de polícia entre o 1410 e o 1470:

O imóvel é ladeado, à esquerda, pelo prédio em que se vê a loja Leal Móveis e, à direita, por esta vivenda com um estabelecimento de Guida Costa

Estes são os n.ºs de polícia do prédio acima

Ali ao fundo, do lado de lá dos arbustos, por detrás do prédio, passa o Rio Ferreira

Por um acaso feliz, mas sobretudo pela diligência e empenho dos serviços do Arquivo Municipal de Valongo, o pedido de localização que fiz à Dr.ª Manuela Ribeiro resultou na descoberta do processo de licenciamento da obra acima documentada, com os nºs 1410 a 1470, que permitiu conseguir três ‘preciosas’ fotografias da antiga Separadora, uma aérea, obtida provavelmente entre 1947 e 1957, e outras duas, de âmbito terrestre, tiradas quase de certeza em 1995, data do referido processo, e que são estas:

Os armazéns da Separadora estão ao centro e a fita negra que serpenteia à direita é o rio Ferreira

A Separadora, vista do lado de quem vem de Valongo

A Separadora. Os edifícios vistos do lado da Igreja de S. Martinho

Esta unidade fabril era propriedade do Sr. Agostinho José Vaz Monteiro de Azevedo e Silva Bon de Sousa Roxo, que possuía minas de estanho e volfrâmio no Marão, em S. Pedro do Sul, em Arouca, em Cerva, a norte de Mondim de Basto, no couto mineiro de Lagares, na Queiriga, perto de Sátão, a norte de Viseu.

As instalações de Valongo eram destinadas ao tratamento dos materiais extraídos nessas minas e sua transformação em ferro-tungsténio, como acima disse, e o destino, pelo menos o mais óbvio, era a indústria de armamento para a guerra então em curso, a chamada Segunda Grande Guerra, de 1939-1945.

Estas informações foram-me fornecidas em primeira mão pela filha do Sr. Agostinho Roxo, a minha querida Amiga Maria da Conceição Serradas Bon de Sousa Roxo, que infelizmente já nos deixou, mulher do meu Amigo José Manuel Miranda.

As coisas não correram como era esperado, pelas razões que são hoje do domínio público: o final da guerra de 1939-45, que ditou a suspensão oficialmente decretada da exploração; a subida da produção de concentrados de volfrâmio, a partir de 1952, com o início da Guerra da Coreia; o reacender da exploração, em 1953, com a produção de ferro-tungsténio; a pequena descida nos anos seguintes; uma ligeira recuperação em 1956, depois a queda abrupta até 1958, com o encerramento de numerosas minas e a descida da produção para cerca de 1.700 toneladas.

(cfr. “Evolução da Produção de Volfrâmio em Portugal, de 1900 à Actualidade”, https://www. dgeg.gov.pt/media/ygllsqyi/i014794.pdf )

Por essa razão, e eventualmente por outros motivos mais particulares, como quase sempre acontece, a fábrica de Valongo, novinha em folha e pronta

a laborar, nunca chegou a ser utilizada para o fim que ditara a sua construção. Aliás, nunca chegou a ser inaugurada para o que quer que fosse. Anos mais tarde, a fábrica (que era conhecida entre os locais como “a Separadora do Ouro”, destino que nunca teve) foi arrendada à empresa NORMETAL, de construção de máquinas de soldar e, após o 25 de Abril, os trabalhadores expulsaram os proprietários e formaram uma cooperativa, a Cooprima, que durou pouco tempo. Mais tarde, em data que não consegui apurar, mas que deverá ter sido por volta de 1995, a fábrica terá sido vendida e no seu local nasceu o já referido conjunto habitacional.

O sítio da Separadora corresponde ao dístico “IS3 Metalworking Irmãos Sousa, SA”

Fico a dever esta pequena, mas para mim muito importante história da localização da Separadora à Sr.ª D.ª Cândida Rocha (Canelas), moradora em Campo, que foi, com o marido, Engenheiro Rocha, trabalhadora na Normetal e teve a amabilidade de ma fornecer.

A unidade fabril, constituída por dois armazéns grandes e duas pequenas casas de apoio, estava

implantada naquele local havia já uns tempos, com muitas probabilidades terá sido construída depois do início da guerra, numa data que não consegui precisar, porque os arquivos são parcos em notícias sobre construções anteriores a 1951. Mesmo depois dessa data, para encontrar algo será preciso moirejar em arquivos empoeirados e pouco propensos à consulta, de modo que lamento pensar que tão cedo não saberei uma origem que muito gostaria de determinar. Nem sequer consegui perceber de onde veio o nome, bastante sugestivo, de “Separadora”. Estou em crer que foi porventura o próprio Sr. José Miranda a fornecê-lo, talvez de modo indicativo.

O armazém que passámos a utilizar era o mais chegado à estrada nacional e tinha um amplo recinto, como é próprio dos pavilhões cobertos destinados a explorações industriais, e esse recinto era, segundo a concepção construtiva da época, que largamente se mantém, todo cimentado, com uma cobertura muito lisa, como se tivesse sido (dizíamos nós) pensado para nele se jogar hóquei em patins…

E então o meu querido amigo Zé Manuel Miranda, um dia terá dito: “E se fôssemos jogar para a fábrica lá de baixo?” (porque a estrada é a descer para S. Marinho do Campo…). Belíssima ideia, terão dito todos os presentes, logo encantados com aquela perspectiva de um local de que todos sentiam a necessidade e a falta, como de pão para a boca… Os passos seguintes foram pedir autorização ao pai, Sr. Miranda, que a deu com grande liberalidade, porque ninguém iria ser prejudicado, e ala que se faz tarde, a caminho da Separadora. Então, todas as manhãs ou tardes, sempre que podíamos, lá se juntava o grupo do hóquei e se dirigia, nas suas bicicletas, para a fábrica, onde o gozo máximo, mais do que jogar, era o de ter pela

primeira vez um recinto amplo, em que se podia patinar à vontade. Aí aperfeiçoámos a nossa patinagem, aí demos as primeiras sticadas, aí percebemos, a certa altura, que a bola com que andávamos a jogar (que um de nós, já não sei quem, desencantou em qualquer gaveta…) não era de hóquei em patins, mas de hóquei em campo… Creio, se bem me lembro, que nessa altura só alguns de nós tinham um stick a sério, daqueles oficiais. O que tínhamos era mesmo os troços grossos de couve, os sticks de madeira de pinho ou outra, cortados por um marceneiro amigo (que se partiam quase de imediato, já que o veio da madeira não aguenta pancadas… e depois ficávamos a jogar com o coto do stick…), ou outra qualquer invenção mais arrevesada, como os sticks de ramos grossos da árvore que houvesse à mão, salgueiro ou sobreiro, revestidos a chapa colada ou pregada, ou usados sem mais nada… Enfim, tudo servia para matarmos a nossa fome de jogo, o nosso desejo imediato de acção desportiva. Como pode imaginar-se, estes “treinos” eram realizados do modo mais primitivo: não havia tabelas nem balizas, a não ser, quanto a estas, as que improvisávamos com pedras ou pedaços de madeira, e o jogo era naturalmente caótico. Mas nada disso nos demovia ou parava, o importante era ter, pela primeira vez, um local em que os patins deslizavam como sempre imagináramos que seria possível, sem a rugosidade dos pátios e dos quintais ou mesmo das ruas, cujos passeios eram cimentados com as habituais quadrículas. Porque – dado importante – para a maioria de nós (ia a escrever: a totalidade…) era a primeira vez que tínhamos acesso a qualquer coisa já muito parecida com um rinque e que, embora ainda não o sendo, nos deixava perto do êxtase de imaginar como seria…

Ali jogámos até ao cansaço, suámos as estopinhas e divertimo-nos como então entendíamos que precisávamos e há muito tempo esperávamos.

Há tempos, o Francisco Bártolo (o grande guarda-redes do início da equipa, meu querido Amigo, conhecido, muito à moda de Valongo, como “o Chico da Raquel”, sua Mãe, claro) lembrou que, sobretudo no Verão, quem sabia nadar, como ele, não se eximia, no final do treino, a dirigir-se ao Rio Ferreira, que passava (e passa) por detrás da fábrica, a poucos metros (contei 100 passos, quando lá fui verificar…), para se refrescar e tomar o seu banho… Era um pavilhão com todas as comodidades…

A utilização da “Separadora” durou praticamente até à inauguração do rinque da Praça Machado dos Santos, que se realizou, tanto quanto sabemos, por volta de Setembro ou Outubro de 1954, já que o pagamento foi efectuado em 27.10.1954 (Acta. CMV. 27.10.1954).

A fábrica estava isolada naquele local, sem quaisquer construções à sua volta ou em frente, como se vê relativamente bem na fotografia aérea. A perspectiva das fotografias talvez de 1995, cheias de casas e de trânsito e com um muro baixo de vedação, era uma coisa inexistente nos anos de 1953-54, quando começámos a frequentá-la. Saíamos da estrada, com um perfil antigo (creio que era ainda de paralelepípedos), encostávamos as bicicletas à parede da fábrica ou simplesmente as deixávamos no chão, e entrávamos logo pelo portão largo, que algum de nós se apressava a abrir, dispostos a mais uma sessão de saudável febre de jogo…

Esse isolamento – convém que eu o saliente, para que tenhamos uma ideia pelo menos aproximada

da significação daquele espaço para as duas ou três dezenas de rapazes que o utilizaram – constituiu um factor de suplementar atracção, porque induzia, nem que fosse no subconsciente, a sensação do longe e do desconhecido… Não era a demanda do Preste João ou a busca do Santo Graal ou mesmo a descoberta do caminho marítimo para a Índia, mas andava lá perto… Sobretudo por aquilo que lá íamos aprender uns com os outros e cada qual com a sua experimentação e o seu jeito e que constituiu – acreditem! – um desconhecido, um inesperado e maravilhoso mundo novo!!

Tudo isto, observado a esta distância (1953 – 2023, 70 anos!!) nem parece real, parece mais um filme de aventuras de adolescentes engenhosos, que descobriram uma curiosa maneira de fugirem ao tédio e à quietação da sua vila parada e sem nenhuns recursos de diversão… Mas foi real e significou muito mais do que a fuga ao tédio (que também foi), representou a resposta a um enorme, a um desmedido entusiasmo, que então nos avassalava, pela realização de algo que se assemelhasse aos feitos dos nossos heróis!! Esse é um dado a nunca esquecer, se quisermos ter uma visão tão rigorosa quanto possível do que se passou nesse tempo já longínquo. O entusiasmo era tanto e o desejo de jogar tamanho que fazíamos cinco quilómetros para lá (contados da Praça Machado dos Santos) e outros cinco para cá (sempre a subir!...), montados nas nossas bicicletas, sem cansaço que se visse… E o Américo Moreira conta que, ainda miúdo, ia a pé, à Separadora, ver-nos jogar! A pé!!

Aquele pavilhão foi o espaço em que, de algum modo, todos os sonhos começaram a concretizar-se. A nossa ideia de jogar hóquei em patins, ainda sem pensar em competições ou

campeonatos, começou ali. Ali também é que essa ideia foi evoluindo para uma outra, já mais elaborada, de que talvez fosse possível obter – não sabíamos como, mas achávamos possível – um rinque mesmo a sério… Mas onde?

Foi nesse espaço, hoje mítico, quase onírico, que verdadeiramente tudo começou! E por isso, eu, como aqueles de nós desse tempo que ainda estamos vivos, lamento muito o desaparecimento da Separadora, daquele edifício, porque, se existisse ainda, ela seria sem dúvida um lugar de peregrinação para todos os apaixonados do hóquei em patins de Valongo.

O terceiro rinque de hóquei e patinagem:

O rinque da Praça – a “eira”

27. À medida que o tempo passava e o nosso entusiasmo crescia, fomos todos sentindo que precisávamos de um rinque “a sério”. Devo dizer que nenhum de nós, que eu saiba, tinha a exacta noção do que seria um rinque “a sério”. Tínhamos, claro, o conhecimento dos rinques que víamos nos documentários do cinema ou nas fotografias dos jornais, mas saber quais as dimensões, qual o tipo de piso que devia possuir, como eram as tabelas, se eram sempre descobertos ou podiam ser cobertos, se tinham porta de entrada ou se entrava por cima do varão que habitualmente ladeava o piso, qual seria a iluminação mais eficiente para jogar ou treinar à noite, tudo isso desconhecíamos. Aliás, não interessava nada: o que queríamos era um rinque onde pudéssemos jogar o nosso jogo preferido…

Porém, como consegui-lo? Haveria algum benemérito, apaixonado pelo hóquei em patins, que no-lo oferecesse ou que o construísse para divertimento próprio e nos deixava depois gozá-lo um bocadinho, de vez em quando? Não havia…

Acontecia naquela época, como ainda hoje acontece, que quando as hipóteses de obter qualquer investimento de vulto se apresentam claramente remotas, todos começam a olhar, a rondar, a fazer charme à entidade pública mais próxima, que disponha de possibilidades financeiras ou de influência para ajudar a decidir os financiadores…

Para encurtar razões, a única entidade, entre nós, com capacidade para construir um rinque de patinagem, onde se pudesse jogar hóquei em patins, era a Câmara Municipal. Tinha, como se diz, a faca e o queijo na mão: tinha (ou pensávamos que tinha) o dinheiro necessário, possuía terrenos onde poderia situá-lo e não precisava de pedir licença a ninguém, porque era ela que a dava a si própria…

Acontece que um dos maiores obreiros do clube, na altura jogador empenhado e por isso altamente interessado na existência de um rinque de hóquei, era o João Lino Vale, que por mero acaso da vida e do destino calhava ser o filho único do então Presidente da Câmara Municipal de Valongo, Dr. João Alves do Vale… Bom, não há aqui nenhuma insinuação enviesada: é muito claro, para todos nós, desse tempo, que o João Lino sugeriu, primeiro, insistiu, depois, e creio que “chateou” o pai até onde poderia fazê-lo. As relações entre pai e filho, sendo muito cordiais, eram reguladas por regras estrictas de grande respeito e disciplina: o pai não permitia abusos de nenhuma ordem e o João Lino não os praticava. Pude verificar isso em vários momentos, quer em casa deles quer no convívio diário. Isto quer dizer que a insistência do João Lino tinha limites precisos. Por outro lado, não

estou a revelar nenhum segredo familiar: o João

Lino contou, em várias ocasiões, a mim e a outros amigos, que tinha sugerido ao pai que a Câmara construísse um rinque para a população em geral, que pudesse ser utilizado por um clube de hóquei em patins. O argumento para fundamentar esse desejo era o óbvio: Valongo tinha falta de locais de diversão e recreio. O rinque ajudaria a colmatar essa lacuna.

Aconteceu, então, aquilo que tantas vezes acontece na vida. Havendo, como era muito provável, o desejo do pai de agradar ao filho, ele não podia ceder só porque sim, mas teve a inteligência e o mérito de perceber que aquela seria uma obra porventura muito bem vista pela população da então vila, que não possuía, como já disse, diversões que se vissem.

O contrato de construção do rinque da Praça

28. A verdade é que a ideia foi fazendo o seu caminho, a Câmara terá avaliado as hipóteses de localização, fez consultas a empreiteiros para saber disponibilidades e preços de construção, e um dia, em 30 de Agosto de 1954, surge na reunião da Câmara uma “proposta para proceder à construção de um rink de patinagem na Praça Machado dos Santos, nesta vila, solicitando-se orçamentos a três empreiteiros”.

Avaliados os orçamentos, considerados os prós e os contras, como é habitual, a Câmara, em 8 de Setembro de 1954, aprovou a adjudicação da construção do rinque a Júlio Teixeira, de Ermesinde, pela quantia de 32.200$00. O que implicou a aprovação de um segundo orçamento suplementar ao ordinário do corrente ano, na reunião da Câmara,

realizada em 27 de Outubro, data em que igualmente foi paga ao empreiteiro a quantia referida (Actas da CMV de 30.08.1954, 08.09.1954 e 27.10.1954)

Entretanto, em 22 de Outubro de 1954, a Câmara outorgou um contrato de construção do rinque da Praça ao empreiteiro a quem tinha sido adjudicada a obra, Júlio Teixeira, morador na Rua do Carvalhal, em Ermesinde, nos termos da sua proposta aprovada (Cláusula 1ª), pelo preço indicado e com uma nota surpreendente, para a época e mesmo para hoje: o prazo de construção de um mês!

Cláusula 2ª: “O prazo para a execução da obra é de trinta dias com início a contar da data deste contrato.”

Depois, a Cláusula 3ª dispunha:

“As condições de pagamento serão as estabelecidas pelo artigo trinta e quatro das normas aprovadas pela Portaria publicada no Diário do Governo número duzentos e cinquenta e cinco de dois de Novembro de mil novecentos e quarenta.”

Refiro esta cláusula 3º, porque o seu conteúdo, combinado com os dados que antes vimos – a data de adjudicação, 08.09.1954; a data de celebração do contrato, 22.10.1954; e a data do pagamento do preço, 27.10.1954 – induz algumas perplexidades.

Antes de mais, não consegui até agora descobrir o artigo 34º da Portaria sem número, publicada no D. G. n.º 255, de 02.11.1940. A esta distância no tempo, não sendo algo impossível, é tarefa complicada e morosa. No entanto, sei que as regras de pagamento de obras para o Estado e as Autarquias, já em 1940, não diferiam muito das actuais (ver, em Anexos, a cláusula 4ª do contrato de construção do rinque do Pavilhão) e consistiam, basicamente, em que a obra só era paga no final,

1ª página do contrato de construção do rinque da Praça (ver o documento integral nos Anexos)

depois de vistoriada e recebida, com ou sem auto de recepção, por um fiscal próprio ou por uma comissão nomeada para o efeito. E, em muitos casos, o pagamento demorava.

Agora, repare-se nestes pormenores. A Câmara adjudica a obra em 8 e Setembro, só um mês e 14 dias depois faz o contrato, nele estabelece um (escasso) mês para a execução dela, com um prazo de execução que começa a contar em 22 de Outubro, e 5 (cinco!) dias depois efectua o pagamento!

Note-se, não pretendo sugerir que houve algo ilegal ou obscuro; nunca o faço sem provas concretas. O que digo é que estes dados conhecidos suscitam perplexidades, visto que não se consegue perceber o que se passou. Como, segundo a experiência comum da vida, o empreiteiro não terá construído o rinque em 5 dias, quando os trinta dias provavelmente ainda seriam insuficientes, e dado que o costume era o de só pagar a obra no final e depois de recebida oficialmente, sou levado a crer que

o empreiteiro terá iniciado a obra após a adjudicação, aceitando fazer o contrato mais tarde, numa base de confiança, e tê-la-á apresentado pronta antes do final do prazo contratual.

Esta questão poderia ser relativamente percebida se soubéssemos a data da inauguração do rinque, coisa que também desconhecemos. Lamento muito não ter conseguido descobrir acta ou outro documento que me informasse a data do acabamento ou da inauguração do rinque. Aliás, pelo que percebi de indagações junto de amigos e conhecidos, ninguém se lembra de ter havido uma daquelas inaugurações com pompa e circunstância – discursos, música, alguma festa, etc. – que eram costumeiras em tais ocasiões, o que acho estranho.

Esta é uma das poucas fotos do rinque da Praça que até agora consegui, publicada pelo Norte Desportivo,em 1976, numa reportagem aqui inserida, em Resumos do Jogos.

Por tudo o que até agora expus, com os dados disponíveis, tenho de concluir, com expectativa e eventual confirmação futura, que o rinque ficou oficialmente pronto no dia do pagamento, ou seja, 27.10.1954.

A cedência do rinque à ADV

29. Aquilo que pude ficar a saber é que quatro meses depois de efectuado o pagamento da obra, em 27.10.1954, o Dr. Salvador Paupério, que pertenceu aos corpos gerentes logo no início da vida da Associação (embora, pela falta de documentação desta época, já referida, não seja possível dizer qual era o cargo que ocupava em Fevereiro de 1955; creio, porém, que era Presidente da Direcção) apresentou na reunião da Câmara Municipal de 9 de Fevereiro de 1955 um documento, cuja data não é referida, “requerendo a cedência do rink de patinagem existente na Praça Machado dos Santos desta vila, para a prática de hóquei em patins”, assumindo a Associação a responsabilidade “pelo cumprimento das condições em

Outro aspecto do rinque. A foto é das mais primitivas, porque ainda não havia protecção de rede nos topos. Outro indicativo: os guarda-redes defendiam sem máscara…

que possa ser feita a referida cedência, até que o aludido grupo se encontre devidamente legalizado.” (Acta CMV de 09.02.1955).

Ficámos assim a saber, por esta acta, duas coisas: que o rinque já estava construído e que a ADV ainda não fora legalizada.

A Câmara resolveu ceder o rinque

“a título precário e provisório ao requerente pela quantia de 1.000$00, paga em 4 prestações trimestrais de 250$00 cada uma, aguardando-se que o grupo se encontre organizado nos termos da lei, a fim de se efectuar o respectivo contrato e condições. O requerente ficará responsável como diz pelo pagamento da quantia de 1.000$00 e pelos danos ou prejuízos causados no imóvel e que não derivem do seu uso normal.” (Acta CMV de 09.02.1955).

Sabemos que a Associação foi legalizada por despacho de 08.03.1955, publicado no Diário do Governo, 3.ª Série, de 09.03.1955. Não se sabe, nem foram detectados documentos que contivessem alguma explicação, porque é que demorou 2 anos e 4 meses a ser efectuado o contrato de arrendamento do rinque, que só esperava a legalização da Associação.

De facto, em 10.07.1957, foi decidido efectuar o contrato de arrendamento do rinque e em 16.07.1955 o contrato foi outorgado. (Actas CMV dessas datas).

Há um pormenor que é importante relatar, porque de algum modo demonstra que o empreiteiro não fez nenhuma pesquiza, a ver como eram os rinques já existentes noutros clubes (os Carvalhos, Leixões, Espinho, etc.) para perceber por onde entravam os jogadores: o rinque não tinha porta… Por isso,

tínhamos de avançar por cima do varão que o circundava…

Além disso, também não possuía iluminação, que foi instalada algum tempo depois, até porque a maioria dos jogos, senão a totalidade, se realizava à noite.

Em 2017, a Câmara publicou um livro, inserido nas comemorações oficiais dos 180 anos da elevação de Valongo a Concelho que, nas páginas 241-283 contém este texto:

“1839-2016 – Concelho de Valongo – 180 Anos”, sem autor expresso, com colaboração de Manuela Ribeiro, do Arquivo Municipal, in “Valongo, 180 Anos de Memórias”.

Nas páginas 262-263, o texto diz o seguinte:

“08-1954 – Construção do ringue da patinagem na Praça Machado dos Santos, pela quantia de 32 contos. O ringue ocupava a parte norte da praça, sendo vedado por um pequeno muro e uma grade em ferro. Os balneários funcionavam no n.º 45, na envolvente da praça.”

Suponho que terá havido confusão ao escrever esta notícia. Vimos acima que, em 30.08.1954, a Câmara deliberou construir o rinque e solicitar orçamentos a 3 empreiteiros; que em 08.09.1954, a Câmara adjudicou a obra a Júlio Teixeira, por 32.200$00; que em 27.10.1954 pagou (ou mandou pagar) esta importância ao empreiteiro.

Não parece certo que a construção do rink seja apresentada como tendo acontecido em Agosto, quando a Câmara ainda estava a solicitar orçamentos.

Por outro lado, o texto fala de uma vedação “por um pequeno muro e uma grade em ferro”. Creio que é outra confusão, já que não existiu tal vedação.

Coisa que aliás todos nós lamentámos, porque nos obrigou a “inventar” aquela célebre vedação de lona, que tanto trabalho dava a tirar e a pôr, para além de ter custado bom dinheiro… O que havia, à volta de todo o rinque, como parte necessária do conjunto, era um murete de uns 50cm de altura, que constituía as tabelas de vedação, e um varão de limitação da entrada, sustentado por pilares distanciados cerca 2m. Um murete não é um muro e um varão não é uma grade em ferro.

30. O rinque da Praça foi um acontecimento. E foi-o com consequências imediatas e óbvias, para quem nele treinou e jogou e brincou, e com derivações mediatas e sub-reptícias, que só muito mais tarde começaram a ter visibilidade e a ser entendidas.

Nós, os aprendizes de hoquistas, ficámos delirantes com a existência de um campo em que, finalmente, poderíamos dar vazão ao nosso imenso desejo de treino e de jogo. Os jovens, sobretudo os vizinhos da Praça, cedo se deram conta do enorme e agradável espaço que ali tinha nascido, propício à brincadeira, que não era apenas patinar, era também jogar à bola ou à apanhada ou fazendo simplesmente corridas de uma ponta à outra do rinque, a pé ou de bicicleta.

Depois, em certos momentos (que lamentavelmente foram poucos) houve patinagem artística. Para muitas pessoas da terra, que não faziam ideia de que tal arte existia, a exibição de uma patinadora, em mini-mini-saia, fazendo evoluções e erguendo as pernas causou admiração ou espanto ou vergonha…

O Álvaro Figueira guardou (religiosamente…) algumas fotografias da época (que, mesmo desfocadas, são, para os que assistiram, um documento precioso) onde se vê uma patinadora que veio

A patinadora na sua exibição e com as meninas da Praça que lhe fizeram companhia e prometeram aprender a patinar… o que não chegou a acontecer. Os nomes: Helena Cruz, Diva Sameiro, Joaquina Camilo, Sameiro Braga, Luísa Vale e Conceição Braga.

oferecer-nos a sua arte, assim como as meninas da Praça que a acompanharam e mostraram interesse em aprender – o que nunca se verificou. Um dos aspectos da história da ADV que me entristece é nunca se ter dado atenção à formação de equipas femininas, quer de patinagem, quer de hóquei em patins. A vizinha Alfena tem uma equipa de hóquei e já com algum palmarés.

31. Ao fim destes anos todos que passaram, é para mim – e para qualquer pessoa que preste atenção a esta história – bastante claro que o rinque da Praça representou um magnífico investimento público de que Valongo precisava como de pão para a boca; porém, ele foi sobretudo extraordinariamente importante para o desenvolvimento de uma espécie de élan de entusiasmo e de encantamento pelo novo desporto ali surgido e diariamente praticado, que levou centenas de miúdos e graúdos a apaixonarem-se pela prática dele ou, ao menos, pelo seu desfrute, quando começaram as competições, na 2ª divisão regional.

É minha convicção profunda que a verdadeira onda de paixão pelo hóquei patinado em Valongo, que seduziu as centenas de jovens que passaram a praticá-lo e as muitas centenas de espectadores que passaram a segui-lo com devoção teve início ali, no rinque da Praça, foi ali que nasceu o bichinho, de boa índole, que infectou positivamente e por tanto tempo tanta gente que passou a amar o hóquei em patins praticado em Valongo. Claro, houve outros factores: a construção do

Pavilhão Gimnodesportivo ajudou e muito; a criação das escolas e escolinhas foi um acontecimento decisivo para a fixação de um espírito de clube solidário e fazedor, que deu belos frutos; todo o trabalho desenvolvido por directores empenhados e por treinadores com paixão pelo que faziam produziu resultados que, em vários momentos da vida do clube, se fizeram notórios. Porém, no meu entendimento, foi ali que tudo começou, ali, no rinque da Praça!

Mais perto do final da sua utilização, por volta dos anos 1968-1970, quando a maior desenvoltura dos novos jogadores e das novas equipas, mais treinadas e com uma agilidade diferente, maior rapidez e mais conhecimentos, adquiridos no treinamento intensivo e no contacto com equipas mais experientes, forneceu uma visão mais evoluída do jogo e mudou as perspectivas, começou a sentir-se que as dimensões do rinque e as suas condições já não correspondiam às exigências dos novos tempos e então houve alguém que se lembrou de o apelidar, desdenhosamente, de “eira”: “É tão pequeno que parece uma eira!”

O tempo foi correndo, o Pavilhão construído e os treinos e jogos passaram para o novo recinto. Falando anos depois com jogadores e dirigentes dos antigos, ouvi-os referirem-se à “eira”, mas agora já não com desprezo, antes com nostalgia e com saudade, mesmo com ternura. No fundo, e sem grandes elucubrações sobre o assunto, as pessoas com sensibilidade acabaram por perceber, ou ao menos sentir, que ali se criara uma espécie de mística da descoberta e do entusiasmo que tocara em todos e os marcara para o resto da vida.

32. Foi por estar convencido, há bastante tempo, do que acabei de escrever, que descobri, com alguma

surpresa, mas sobretudo com grato contentamento que houve mais pessoas em Valongo que foram tocadas por isso a que chamei uma espécie de mística da descoberta e do entusiasmo.

Como é sabido, entre 29 de Novembro de 2016 e 28 de Novembro de 2017, a Câmara de Valongo realizou comemorações dos 180 anos da elevação de Valongo a Concelho. Entretanto, em Julho de 2017, foi publicado um livro – “Valongo, 180 Anos de Memórias – Coletânea de Escritores do Concelho” – em que foram reunidos textos e poemas de vários autores. Entre esses textos, descobri três notáveis recordações do rinque da Praça. Curiosamente (ou talvez não) essas evocações felizes e, num caso, até comovente, são de mulheres. O que confirma a sua sensibilidade.

A referência que coloco em primeiro lugar é da Professora Helena Esteves Lobo, que faz uma evocação simples, mas muito concreta:

“Eu chegaria poucos anos depois e, nesse Valongo onde cresci, já havia jogos de hóquei no ringue de patinagem, na praça Machado dos Santos. Amarravam-se panos brancos e depois verdes para separar o público pagante do não pagante, e mulheres e homens assistiam entusiasmados ao desporto rei de Valongo; os jogadores equipavam-se e banhavam-se na casa do Quim Borralho.”

Helena Esteves Lobo (2017): A Estória do “Meu Valongo”, in “Valongo, 180 Anos de Memórias”, p. 107.

Depois, descobri o texto de Celeste Grandão, escritora, com uma recordação bem-humorada, até porque termina de uma maneira que agrada aos jogadores e dirigentes mais antigos:

“E o desporto?

Sim! Existem muitas modalidades, mas o hóquei em patins arrasava com tudo. Com a família eu não falhava um jogo. Ainda me lembro, era eu pequena, de ver hóquei num ringue de cimento que existia ao ar livre bem no centro da cidade. Em dias de jogo, o mesmo era rodeado com panos enormes para entrar só quem tivesse bilhete. No final do jogo, os jogadores juntavam-se num café que existia em frente chamado “Bela Cruz”. O hóquei era o desporto rei no concelho, formaram-se grandes jogadores. Lembro-me de uma época em que alguns jogadores de cá foram para o Futebol Clube do Porto e, quando jogava Valongo-Porto, era praticamente um Valongo-Valongo.”

Celeste Grandão (2017): Figuras, Paisagens e Desporto, in “Valongo, 180 Anos de Memórias”, p. 61.

A terceira evocação provem de uma Professora de Filosofia, Margarida de Sousa, é mais demorada, mais detalhada, e agrada-me sobretudo porque a sinto particularmente tocada pela nostalgia do tempo que passou (do rinque que passou) e porque consegue essa coisa difícil e rara de condensar numa frase tudo, ou quase tudo, o que até aqui tentei dizer:

“Ao fazer referência à rua do Sol, não podia deixar de referir a praça Machado dos Santos, onde brinquei tantas vezes. Na praça, havia um ringue de patinagem que fazia as delícias dos miúdos e graúdos. De dia, era parque de brincadeiras onde a rapaziada fazia jogos de futebol, corridas

de bicicletas, jogos de badminton (…). No ringue, os pais depositavam a tranquilidade das suas responsabilidades, os filhos estavam seguros e vigiados pelos idosos que se sentavam nos bancos ripados da praça, à sombra das tílias. (…)

À noite, a praça enchia com os jogos de hóquei, que os valonguenses viviam de uma forma entusiástica e emotiva. Os jogadores saíam do balneário, que ficava na casa do Sr. Cruz, e atravessavam a estrada, rumo ao ringue. Este, em dias de jogos, era rodeado de panos presos em paus espetados ao longo do seu perímetro. A esplanada do café Bela Cruz enchia e os empregados atravessavam a rua principal com bandejas de cervejas e tremoços; sim, o café ficava em frente da esplanada, com a rua a meio… imagine o leitor o trânsito! No final dos jogos, era servido aos jogadores pregos e a dita cerveja. A praça tinha alma, bairrismo e calor humano que nutria os corações dos valonguenses. O ringue desapareceu, em nome do progresso e os jogos mudaram de palco. O pavilhão gimnodesportivo, orgulho do Hóquei de Valongo, é agora o lugar do afamado desporto da terra.”

Na Praça Machado dos Santos. Zona onde estava o rinque

Margarida de Sousa (2017): Valongo –Relatos, in “Valongo, 180 Anos de Memórias”, p. 160-161.

“A praça tinha alma, bairrismo e calor humano”. Era isto, não era?

O hóquei e as famílias. As famílias do hóquei em Valongo

33. Ainda como uma curiosíssima derivação desse quase misterioso fascínio que o Rinque da Praça, a “Eira”, exerceu sobre os jovens de então, quero referir quatro fenómenos conhecidos de todos os amantes do hóquei em Valongo, mas que nunca será demais realçar, até por não representarem uma situação muito comum. Falo de quatro famílias que deram ao hóquei de Valongo vários dos seus atletas e colaboradores.

A mais numerosa delas é a Família Paupério Começa com o Dr. Salvador Paupério, que foi dos primeiros dirigentes, ainda nos anos 50, e depois médico do clube, durante muito tempo. Vem a seguir o Sr. Joaquim Paupério, que foi durante vários anos dirigente associativo, terminando como Presidente da Direcção da ADV. E foram

jogadores alguns dos seus filhos: o António (Tó), o José Augusto (Zé), o Rui Manuel, o António Cândido e o Luís Augusto. Não foi jogador, mas foi seccionista e dirigente durante quase 30 anos, terminando como Presidente da Direcção do clube, o também filho João Carlos Paupério. Além destes, outros elementos ligados à família jogaram hóquei na ADV: o José Dias Paupério e o Joaquim António Paupério Nogueira. Nada menos do que 10 pessoas ligadas à Família Paupério!!

Vem a seguir a Família Pires. Temos a sorte de possuir uma fotografia de todos eles, por virtude da paixão do Américo Moreira pelas coisas do hóquei. Ela aqui está:

Da esquerda para a direita: Delfim, António, Manuel, Francisco e Alberto

Este é um caso típico de uma família em que o entusiasmo dos primeiros elementos dela a fazer parte da “festa colectiva” que o hóquei era foi tão grande que se transmitiu naturalmente aos demais

E aqui, onde agora se lê “Joaninha”, era o Café Bela Cruz, o café do Armindo

membros, de modo que todos eles acabaram por dar o seu valiosíssimo contributo. Apresento-os, do mais velho para o mais novo:

O António Marques Santos Pires (01.10.193104.08.2015) foi durante vários anos membro dos corpos gerentes (vogal da Direcção e elemento da Secção Desportiva).

O Delfim Marques Santos Pires (06.06.193421.01.2021) faz parte decididamente da história do hóquei em Valongo. Foi um sócio influente desde o início do clube (relembrei-o a propósito do terreno para o Pavilhão) e manteve-se como cronometrista durante 25 anos! O João Lino Vale refere-se-lhe no seu discurso das Bodas de Prata, chamando-lhe “o grande Delfim Pires, o eterno catedrático da mesa dos cronometristas, que num sofrimento mudo e sem fim, talvez mais do que o de qualquer outro, viu desfilar na sua frente centenas de vitórias e fracassos”.

O Francisco José Marques Santos Pires (24.02.1938-19.11.2020), que foi meu colega da escola primária e ficou meu amigo, foi guarda-redes dedicado e muito conceituado durante longos anos, depois seccionista, durante outros tantos. Ainda jogamos juntos algumas vezes, apesar da minha passagem breve pelos jogos.

O Alberto Marques Santos Pires (21.04.1942) foi jogador e membro dos corpos gerentes.

Por fim, o Manuel João Marques Santos Pires (02.03.1945), que foi um magnífico avançado da ADV e jogou até aos 35 anos de idade, dando o seu melhor em dedicação e entusiasmo.

A terceira família a merecer referência especial é a Família Alves: o Noé, o Zé, o António e o Rogério. Conheci bem os pais deles, o Sr. Noé e a Dona Candidinha, como era conhecida, visto que éramos vizinhos na Praça Machado dos Santos, a

drogaria deles ficava (e ainda fica) duas portas abaixo da então loja do meu Pai.

Pode ver-se nas biografias deles, que aqui publico, que, tal como eu, eles foram fascinados pela proximidade do rinque da Praça e da festa diária que lá se passava.

O Noé, da minha idade e meu amigo de infância, foi o primeiro a jogar e escolheu ser guarda-redes. E então, os três irmãos que se lhe seguiram – e é esta a especificidade desta família – escolheram ser guarda-redes! Todos, excepto o Noé, que jogou mais brevemente, foram guarda-redes dos jogos oficiais da ADV e todos deram belíssima conta de si.

A quarta família que quero destacar é a Família Camões. O primeiro a jogar, logo nas equipas iniciais, com quem joguei muitos dos jogos em 1956, 1957, 1958 e 1959, foi o Carlos Camões. Era um companheiro bem-disposto, sempre divertido, com um enorme sentido táctico do jogo. Anos mais tarde, jogou o seu irmão mais novo, o Armando Camões, que se distinguiu como um óptimo jogador e um excelente marcador. Quando ainda o Carlos jogava, também deu o seu contributo o primo Adalberto Camões, embora brevemente e de modo mais amadorístico. Algum tempo depois, jogou igualmente o seu irmão Jaime Camões, com garbo e desenvoltura.

Aliás, esta mobilização das famílias pelo hóquei existiu desde os primeiros tempos, ainda que em escala mais modesta. Refiro o João Lino Vale e seu pai, o Dr. João Alves do Vale; o Eduardo e o Álvaro Figueira e seu pai, o Sr. Eduardo Figueira; eu e meu pai, João Amaro Neves; o Joaquim Manuel Leal e o pai, Sr. Leal: todos foram, desde o início, atletas e dirigentes do clube. Além disso, houve dois irmãos Cruz, o João e o Domingos Cruz; dois

irmãos Aguiar, o António Cândido e o José Avelino, além dos já referidos irmãos Figueira.

Este aspecto, a maneira como a paixão pelo hóquei entrou nas famílias e as conquistou, é também um elemento importante para compreender a extraordinária implantação do hóquei em patins em Valongo.

A gestão do rinque da Praça

O balneário

balneário; a segunda, a precisão de tapar o espaço envolvente do ringue, para que fosse possível cobrar as entradas nos jogos oficiais.

Conseguir um balneário numa praça pública, no centro da então vila, não era coisa fácil, porque todos estavam de acordo em que, mesmo que a Câmara, autora da construção do ringue, estivesse disposta a fazê-lo, não ficaria bem ali colocado, em termos estéticos. Além de que iria ocupar muito espaço, obrigaria a cortar ainda mais árvores (do que muitos já não tinham gostado, aquando da construção do rinque); era uma solução que não reunia consenso.

Foi então que o Sr. Joaquim Cruz, que tinha a sua

34. A construção do rinque e a realização nele de jogos, particulares e oficiais, arrastaram, entre muitas outras, pelo menos duas consequências relevantes. A primeira, foi a necessidade de um

casa em frente ao rinque e cujo filho mais velho, o João Cruz, era jogador desde os primeiros tempos (depois, também o mais novo, o Domingos Cruz, jogou e bem), concordou em ceder um dos compartimentos da sua casa, por sorte com porta

Casa do Sr. J. Cruz, com os n.ºs 43, 45, 47. Ainda se vê a estrada.
Porta de entrada do balneário, com n.º 43 ou 45

para a praça, para que nele fosse instalado o tão desejado balneário. Instalado como? Isto é, que obras era preciso fazer para adaptar esse compartimento (que era pequeno, com cerca de 7mX5m, ou seja, 35 m2) à sua nova função?

No meio de grande discussão (em que sobressaía um pormenor importante: a falta de dinheiro para as obras, fossem elas quais fossem…), o João Lino Vale teve uma ideia: fazer um banco duplo, em madeira, com um separador alto, a meio, entre os bancos, de modo a poder ser utilizado simultaneamente por duas equipas. Alguém objectou que um carpinteiro e a madeira também custam dinheiro… O João Lino disse: “Faço eu o banco”.

Bom, caímos num impasse: porque ninguém percebia bem como iria o banco duplo organizar o espaço e, sobretudo, ninguém então conhecia essa “habilidade” do João Lino: carpinteirar, marceneirar…. Faz, não faz? Será capaz? Não será?

As dúvidas só se dissiparam quando, passadas algumas semanas, o João Lino se apresentou com o banco feito e o montou no compartimento da casa do Sr. Cruz…

Foi um “desarrincanço” impressionante, que nos deixou boquiabertos…

Foi com ele e nele que vivemos, tomando banho, com água fria, claro, e bem apertadinhos… enquanto houve jogos na Praça. E era divertido, além do mais: como a porta do “balneário” ficava mesmo em frente do rinque, os jogadores equipavam-se com patins e tudo, atravessavam calmamente os paralelepípedos da estrada, tem-te-não-caias, depois o pedaço de terra circundante do rinque e então era só saltar a vedação (não havia porta, lembram-se?...) e estavam dentro do recinto…

Um pormenor importante, que sublinha bem o espírito de interesse e solidariedade das pessoas para com o hóquei e os seus jogadores: o Sr. Joaquim Cruz, além de nos emprestar o compartimento, sem pagamento de renda, ainda passou a suportar os custos da água e da luz.

Acho que, os desse tempo, nunca agradecemos de modo capaz e suficiente a grande ajuda que o Sr. Cruz nos deu e a simpatia com que o fez. Creio que, muito provavelmente ele se sentiria bastante pago pelo facto de um dos filhos, o João Cruz, ser jogador efectivo e de vir outro a caminho, o Domingos Cruz.

A vedação do rinque

35. O outro grande problema (agora provavelmente não parece, mas foi, foi realmente um grande problema) era o de resolver o tapamento do rinque, durante os jogos oficiais, para que o clube pudesse cobrar as entradas.

A questão que se colocava era semelhante à da ocupação pelo balneário, mas pior, porque a ocupação seria, neste caso, ainda mais invasora e obstrutiva.

Foi então que alguém (era tão bom sabermos quem…) se lembrou de uma lona, uma tela, enfim, um qualquer pano, de tirar e pôr…

Genial!!, dissemos todos! Vamos a isso! Mas ainda havia a questão central: onde arranjar o dinheiro para comprar tantos metros de pano, suficientes para estender à volta de todo o espaço circundante do ringue?

Então, como tantas vezes acontece nestas

circunstâncias, os pais de dois dos jogadores, o Sr. João Amaro, pai do João Loureiro (meu Pai), e o Sr. Manuel da Fonseca (Nobre), pai do Armindo Fonseca (esta é mesmo uma recordação do Armindo, que só tem dúvidas sobre se o Sr. Leal, pai do Joaquim Manuel Leal, que seria mais tarde notável jogador da ADV, também contribuiu) resolveram oferecer o pano para o envolvimento do rinque. Alguém cozeu bainhas, adaptou atilhos, para amarrar às árvores e a um arame que corria no alto, à volta das tílias, e, no dia dos jogos, lá se arranjava voluntários para, pacientemente, desenrolar, atar e fechar o espaço do rinque; e depois, no final do jogo, desatar, enrolar a lona, carregar com ela e guardá-la… Trabalho de Sísifos valonguenses e amantes do hóquei!...

É preciso dizer, para que se perceba e valorize devidamente a questão, que esta foi uma das tarefas mais penosas que muitos de nós, com voluntários, sempre realizaram, enquanto duraram os jogos oficiais na Praça. E eles duraram até à construção do Pavilhão Gimnodesportivo, em 1970, ou seja, 14 anos!! Entretanto, passado algum tempo, o clube acabou por arranjar dois ou três tarefeiros que, a troco de um estipêndio acordado (que não era muito…) se encarregaram de realizar o trabalho.

O rinque, a sua colocação, a maneira como era utilizado, a vedação ‘sui generis’, compreende-se que eram de molde a suscitar nas pessoas e na imprensa diária e desportiva os mais variados comentários, nem sempre simpáticos…

Um desses comentários (descoberto pelo João Carlos Paupério), desta vez agradável, por bem-humorado, é feito por Jorge Nuno Pinto da Costa, no seu livro “Largos Dias Têm Cem Anos”. Ele está a falar do período entre 1962 e 1969, em

que foi seccionista do F. C. do Porto, nomeadamente do hóquei em patins, e então escreve: “É desse tempo que me ocorrem agora alguns episódios inusitados, como quando a nossa equipa principal de hóquei em patins disputava o campeonato regional da primeira divisão e, apesar da boa vontade do técnico e dos jogadores, lutávamos para não descer de escalão. Conseguimos esse objectivo ao empatar em Valongo, que na altura tinha uma equipa estupenda. Foi um feito extraordinário, não apenas pelo valor da turma local, mas sobretudo pelas enormes dificuldades que nós (como todos os outros) sentíamos ao jogar num ringue (sic) que, por mais absurdo que isso hoje possa parecer, estava literalmente colocado no meio da estrada.” (Ob. cit., p. 25).

Não é verdade, mas tem graça….

O quarto rinque de hóquei – o Pavilhão Gimnodesportivo

36. Como acima sugeri, a propósito do rinque da Praça, a partir de certa altura, que é difícil de precisar, tanto o público afecto ao hóquei, como os dirigentes, como sobretudo os jogadores, todos começaram a sentir que aquele espaço já era exíguo para jogar a sério a para receber convidados. Isto aconteceu por vários motivos.

Um dos motivos primeiros e mais pesados foi sem dúvida a necessidade de colocar e retirar a vedação improvisada para realizar os jogos oficiais. Era incómodo, era demorado, era pouco eficiente.

Depois havia a incomodidade dos espectadores dos jogos, que eram já em grande número e que dificilmente conseguiam ver alguma coisa, dado que o recinto não tinha bancadas, era plano a norte, mas desnivelado, a descer, a sul, de modo que só os assistentes que logravam um lugar junto ao varão metálico que rodeava o rinque é que conseguiam ver os jogos com alguma qualidade.

Havia também o mau tempo: por causa dele e da chuva inerente, um bom número de jogos era regularmente interrompido e cancelado e outros não chegavam a realizar-se, com os consequentes adiamentos. Quando a chuva não era tanta que implicasse a interrupção, os jogos faziam-se em condições mais precárias, com a necessidade de trocar as rodas de madeira pelas de alumínio, com tempo de espera; e os assistentes tinham de aguentar, se o jogo realmente lhes interessava, à chuva e ao frio.

A razão porventura mais poderosa para a mudança do recinto dos jogos, sempre referida pelos comentadores mais atentos e conhecedores da dinâmica do hóquei em patins, era o facto de os jogadores de então já possuírem capacidades de velocidade e de adestramento que pediam um recinto de maiores dimensões e um piso de madeira, como aquele que dava melhores garantias de qualidade dos pleitos.

Tudo isto, como se percebe, foi sendo interiorizado gradativamente, mais depressa por uns do que por outros, como sempre acontece, mas a verdade é que se chegou a um ponto, por volta de 1965, em que havia um consenso formado em Valongo, por

todos aqueles – e eram já muitos – que vibravam com o hóquei em patins: era preciso arranjar um pavilhão gimnodesportivo. O que, na maioria das cabeças, queria dizer isto: um rinque decente, dentro de um espaço fechado. Todo o resto viria por acréscimo.

O que aconteceu a seguir à convicção instalada na cabeça dos dirigentes foi que que cada um começou a ter ideias e a procurar soluções, como quase sempre acontece. Até aí, tudo comum e costumeiro.

Porém, havia pelo menos duas dificuldades: a Associação não possuía bens nem dinheiro para uma entrada ou para ajudar à festa e a única entidade vocacionada para a construção do Pavilhão, a Câmara Municipal – de quem, como aconteceu com o rinque da Praça, se esperava tudo… –também ao que parecia não tinha muito. Por outro lado, havia a questão do local, do terreno sobre o qual a construção deveria assentar. Convinha que não fosse longe do centro da então vila, para facilitar o acesso dos locais, em dias de jogos, e deveria pertencer ao domínio público, para que nem a Câmara nem a ADV tivessem de despender mais esse montante na compra do espaço.

Foram tempos de discussão e indecisões. Até que um dia… O Delfim Pires, numa entrevista gravada em vídeo, que circula na net, conta a história com alguma graça: um amigo veio dizer-lhe “Ó Delfim, e se fosse naquele terreno atrás da Capela do Calvário?” “Ah, talvez não seja má ideia. Vamos lá ver”. Foram, com mais amigos (ao que parece, também com o Sr. Joaquim Paupério, que anos depois viria a ser Presidente da Direcção do clube) e andaram todos a medir o terreno a passos, porque já era noite e nenhum deles se lembrou de levar uma fita métrica. Como é costume nestas situações, mediram e voltaram a medir, tiveram

hesitações, pensaram melhor, acho mesmo que voltaram no dia seguinte e repetiram a cena com outros amigos… até que concluíram; “Isto dá. Encontramos o sítio!!” E então o Delfim foi telefonar ao Presidente da Direcção de então, o Sr. José Costa, e disse-lhe: “Temos terreno!” E isto, na entrevista, era dito no tom ufano de quem chegou à Índia!! Pudera! Há quantos anos que tantos estavam à espera!

A partir daqui, pelo que percebo dos vários relatos, as coisas começaram a andar na Câmara, com a boa vontade e o empenho do então Presidente, o Dr. João Alves do Vale, que era também, desde o seu início, o Presidente da Assembleia-Geral da ADV. Assim como teve grande peso no desenvolvimento do processo o interesse e o impulso acrescentados pelo Presidente da Câmara seguinte, o Eng. Armando Magalhães, que já inaugurara a sede, em 1958.

O Arquitecto Fernando Seara fez o projecto da obra, que foi discutido e modificado, para diminuir os custos, e, com dinheiro da Câmara e um subsídio de 700 contos da Direcção-Geral dos Desportos, a obra arrancou. A conclusão não foi tão célere ou tão expedita como todos desejavam, mas mesmo assim, avançou.

Sabemos que, em 13 de Julho de 1970, a Câmara outorgou um contrato de empreitada, conforme o caderno e encargos e programa de concurso aprovados, para a “Construção do Rink de Patinagem – Pavilhão Gimnodesportivo”, à Firma Artur Lopes, Filho e Genro, Limitada, com sede na Rua da Costa, em Ermesinde, pelo valor de 199.171$00, constante da proposta apresentada em concurso público (cláusula 1ª).

O prazo para a construção era de 60 dias contados da data do contrato, “incluindo domingos e

1ª página do contrato.

Ver o documento completo em Anexos

feriados”, e o início da obra deveria efectuar-se dentro de 10 dias após a assinatura do contrato (cláusula 2ª). O prazo de garantia era de 180 dias, contados da data da recepção provisória da obra (cláusula 3ª).

A cláusula 4ª estipulava: “O pagamento da obra será efectuado no fim da mesma, depois de feito o auto definitivo da obra.” (Veja-se o que foi dito acima, a propósito do contrato e construção do rinque da Praça).

Em 20 de Setembro de 1970, numa entrevista publicada no jornal Norte Desportivo, o então Presidente José Costa dizia que:

“a obra já se encontra em marcha, entregue a um empreitiero que deu início à primeira fase de trabalhos – primeira fase que inclui a drenagem de terrenos, construção de esgotos, «rink», tabelas, balneários e vedações.”

(Isto significa que a obra arancou mesmo nos prazos previstos).

E, a seguir, manifestava o tal desejo, que era de todos:

“Se tudo correr como esperamos, devemos poder utilizar o Pavilhão ainda este ano.”

Não foi o que aconteceu. Uma notícia do Correio do Douro reporta a vista do Director-Geral dos Desportos ao Pavilhão, em Outubro de 1971 (19711022_CD) e outra do Comércio do Porto dá-o como pronto e recebido pela vistoria técnica em 25 de Fevereiro de 1972 (19720225_CP), mas ele só veio a ser oficialmente utilizado pela primeira vez, no dia 29 de Fevereiro de 1972, com a realização de dois jogos integrados no Torneio de Abertura nortenho, habitual no início do ano desportivo. Digo “utilizado” e não “inaugurado”, porque, por motivos não explicados, não houve inauguração oficial, embora as notícias digam que “a estreia ficou assinalada como acontecimento de grande relevo.”

Algumas plantas do ante-projecto

O Pavilhão Desportivo de Valongo foi referenciado como tendo custado à volta de 3.000 contos; ter capacidade para 4.000 espectadores, todos com lugares sentados; possuir 10 grandes camarotes, balneários amplos e arejados, magnífica iluminação, piso admiravelmente construído, tabelas óptimas “e, até, bancos para os jogadores, forrados a napa, com acesso aos lugares dos atletas completamente vedado”

A conclusão é de que se trata de um pavilhão “magnífico”, cuja arquitectura, simples mas vistosa, o coloca como um dos melhores do País “e só o pavilhão municipal do Porto o suplanta, não havendo, no País, quanto a nós, pavilhão com linhas mais funcionais.” (RJ, 19720301_CP).

A classificação de “magnífico”, que hoje pode parecer exagerada, é logo explicada pela comparação com os outros pavilhões que o jornalista conhece, nomeadamente o “cogumelo”, o Pavilhão Rosa Mota. Era, tudo o indica, correcta e justa.

Já tenho algumas dúvidas sobre um outro aspecto que a notícia também foca, quando refere a localização e diz que ele está “situado numa área de grande futuro e valor paisagístico”.

No local, o “valor paisagístico” é relativo, para não dizer nulo, num pavilhão que não possui pontos de vista para o exterior, nem está colocado num local especialmente alto, antes semi-enterrado na relativa proeminência do terreno por detrás da capela. Quanto ao “grande futuro” da área, pode dizer-se que teve algum, que não foi mau.

Porém, aquilo a que sou sensível é à ideia, que a notícia não refere, de que o Pavilhão ficou “encurralado” entre a zona alta do seu lado nascente, ladeada pela Avenida Cinco de Outubro, e a

Avenida dos Desportos, do seu lado poente, o lado dos balneários, aquele que não tem bancada. De modo que amanhã, se a actividade do clube – por algum daqueles “milagres” que foram acontecendo ao longo dos anos, mesmo quando toda a gente sabia que não havia condições para eles –aumentar de tal modo que se sinta a necessidade de ampliar a capacidade do Pavilhão, por exemplo construindo uma bancada no lado poente, isso não será possível, porque não existe espaço de expansão da área do Pavilhão.

Quero dizer que houve uma má escolha do local? Não chego aí, porque talvez na altura não houvesse alternativa. Não sei, não possuo neste momento elementos para avaliar a situação da época. Do lado voltado para a Rotunda e para a Rua Afonso Costa, foi colocada a piscina municipal, o que acho bem, porque era a localização porventura ideal. De qualquer modo, tal colocação cerceou a possibilidade de alargamento do recinto desportivo.

O anúncio feito pelo Presidente da Câmara, em 2022, (aquando da apresentação do documentário fílmico mandado realizar pela edilidade, sobre a história e actividades da ADV) de que irá ser construído um novo Pavilhão na zona actualmente ocupada pelo “court” de ténis, é uma boa notícia, embora seja, até agora, apenas isso. De qualquer modo, um novo pavilhão, com todas as eventuais potencialidades actualmente possíveis, não é um alargamento do antigo e, no espaço em questão, nunca poderá ter sequer a dimensão dele.

O que digo, pois, é que, objectivamente, o Pavilhão não tem condições de expandir-se. O que sempre representa uma limitação negativa, que de momento não é importante, mas que pode vir a sê-lo.

O começo da Associação

Desportiva de Valongo

37. Desde pelo menos 1948 que muitos de nós patinávamos e a partir 1950-51 começámos a ambicionar ter um clube de hóquei em patins. No meio das conversas e das discussões sobre como fazê-lo, o João Lino Vale meteu mãos à obra, como era seu costume, e principiou por arranjar e ler o estatuto de outros clubes. Não sei como os conseguiu, porque, ao contrário do que hoje se passa, naquele tempo não era fácil ter acesso a este tipo de documentação. Normalmente, era o amigo do amigo que era filiado no clube tal, ou então era amigo de um sujeito que era filiado nesse clube e que ia tentar obter uma cópia dos estatutos do clube… Era assim que lá se chegava e deve ter sido por essa via, ou outra semelhante, que o João Lino conseguiu os estatutos de dois ou três clubes. E então iniciou ele a redacção dos estatutos destinados à associação.

Entretanto, ele, o Jorge Braga e mais alguns (é ele que o diz) iniciam o recrutamento de sócios. E, em 1954, encontramos o João Lino a preencher fichas de sócios e a colar fotografias nelas; e, mais tarde, a escrever livros de listagens de sócios e de cobrança de quotas.

Também em 1954, pudemos começar a treinar no rinque da Praça e em 1955 foi obtida a legalização da ADV, através do despacho de 08.03.1955, do Subsecretário da Educação Nacional, publicado no Diário do Governo, 3.ª série, n.º 57, de 09.03.1955. Começávamos a ganhar algum traquejo (pelo menos era o que pensávamos, até entrarmos nos primeiros jogos…) pelo que foi decidido que devíamos inscrever-nos na então chamada Associação de Patinagem do Norte, para podermos

disputar os jogos da 2ª Divisão Regional. E aqui começa outra história que merece ser contada.

A inscrição para o Campeonato

38. A certa altura, ainda em 1955, numa dessas noites em casa do Eduardo e do Álvaro Figueira, alguém se lembrou de que se estava já muito em cima do limite do prazo para a inscrição. Foi então que, numa de “aflitos”, muito à portuguesa, no dia seguinte, o Armindo Fonseca e o Eduardo Figueira, no célebre dois cavalos (Citroen) do Eduardo, se deslocaram ao Porto, à Associação de Patinagem do Norte, onde foram informados, por um funcionário compreensivo, mas impassível, de que o prazo para a inscrição e filiação tinha terminado há uns dias…

Grande decepção!! Enorme balde de água gelada!! Como era possível?!!! Conversa puxa conversa, o funcionário pergunta de onde são os cavalheiros, os cavalheiros respondem que são de Valongo e ele diz: “É curioso, os meus dois filhos estão lá a passar uns dias, em casa de um senhor amigo do meu pai”. E então como se chamam os filhos, como se chama o senhor, onde é a casa, eram as perguntas naturais seguintes. Após as repostas, o Eduardo diz, com um brilhozinho nos olhos:

“Ah, esse senhor é o meu Pai e essa é a minha casa e esses dois pelos vistos seus filhos são os meus dois colegas de liceu que estão a passar férias em minha casa!”...

Ah! O insondável mistério de qualquer coisa a que se chama “destino” ou “acaso” ou “sorte” ou “predestinação”!!!...

Bom, faltavam uns documentos, outros não estavam certos, mas não foi nada que não se resolvesse nos dias seguintes!...

E foi assim, entre o desespero inicial e a boa disposição derradeira, entre a compreensão e a reciprocidade de um gesto amigável (e com a promessa de que esta história ficaria para sempre enterrada – e ficou: já lá vão 68 anos!!) que a Associação Desportiva de Valongo fez a sua entrada no mundo do desporto de competição!...

O primeiro equipamento

39. Há uma outra história saborosa, mas cujo sabor só pode ser apreciado por quem alguma vez viveu algo semelhante. É a história do primeiro equipamento. É uma lembrança do Armindo Fonseca.

Os frequentadores habituais do rinque da Praça decidiram fazer uma rifa para obterem dinheiro para a compra do primeiro equipamento. Quando a quantia atingiu o montante necessário, procedeu-se à compra. Por motivos de que ninguém se lembra, o equipamento foi comprado à Casa Senna, que existia desde 1834, na Rua Nova do Almada, em Lisboa.

A encomenda foi despachada, em vários pacotes, por caminho de ferro e foi transportada, desde a estação de combóis de Valongo até à casa do Armindo, pelo Zé Mudo, com a carreta que ele utilizava, como recoveiro habitual deste tipo de frete…

Depois, à noite, os pacotes foram abertos pelo Armindo, pelo Bruno, irmão do Armindo, pelo João Lino e pelo Jorge Braga, com a expectativa e alegria inerentes… Só quem passou por isto percebe que era mesmo alegria!

O campeonato da 2ª Divisão Regional começou, para nós, no dia 2 de Julho de 1956. O primeiro jogo foi com o Vilanovense. É interessante contar uma pequena história sobre este jogo. Durante anos, os amigos e jogadores mais antigos discutiam sobre quem se lembrava do nosso primeiro jogo. Quase todos recordavam que tinha sido com o Vilanovense e dois dos amigos, pelo menos, garantiam que tínhamos ganho por 2-1. E adiantavam a equipa que disputou o jogo, portanto a nossa primeira equipa a entrar em competição: teriam sido o Francisco Bártolo, na baliza, o Loureiro na defesa, o Armindo a médio, o João Lino e o Carlos Camões, como avançados, com o Eduardo e o João Cruz a suplentes.

Afinal, as notícias sobre o jogo (se é que elas estão certas, o que nem sempre acontece…) provaram como a nossa memória é enganadora e falível:

Casa Senna, Rua Nova do Almada, Lisboa

perdemos o jogo por 5-1 e os jogadores foram o Serafim Barros, o João Lino, o Armindo, o Carlos Camões e o Eugénio (1), com o Francisco Bártolo, a sexto!!

A sede da ADV

40. Como quase sempre acontece, em situações semelhantes, o clube foi existindo como podia, e as pessoas reuniam onde era possível, mas cedo se começou a sentir a necessi-

1958 Inauguração da sede da ADV. Ao centro, o Presidente Câmara, Eng. Armando Magalhães

deste arrendamento, mas sabe-se, por uma notícia do Comércio do Porto, que a sede lá instalada foi inaugurada em 24.04.1958, e lá se manteve até ser substituída por outra, no Pavilhão Gimnodesportivo, muito depois de este entrar em funções (cf. Resumo dos Jogos, 19580424_CP).

dade de um espaço, não só para reuniões dos órgãos dirigentes, como também que permitisse o convívio dos sócios.

Foi assim que alguém descobriu que o primeiro andar do n.º 173 da Rua do Padrão – ou seja, ali mesmo ao começo da rua, a 50m do rinque da Praça!! – estava vago e podia ser arrendado.

Não possuímos, infelizmente, pormenores precisos

Conhecemos, porém, alguns outros dados. Em 1 de Março de 1971, a ADV, representada pelo seu Presidente, Sr. José Alves Costa, assinou um contrato de arrendamento do n.º 173 da Rua do Padrão, em Valongo, aparentemente (o contrato não diz a sua qualidade: proprietário, arrendatário, procurador, etc.) com o proprietário do imóvel, Sr. Ruy Guedes

Esta foi a casa da sede antiga, no 1º andar, e esta a porta de entrada, com o n.º 173, Rua do Padrão

Marcelino, residente na Rua do Bonfim, 177, Porto, pelo prazo de 12 meses renováveis, e com a renda anual de 12.000$00, pagáveis em duodécimos de 1.000$00.

Assinaram como fiadores do contrato o Dr. João Lino Vale, o Sr. José Alves Costa, a esposa do primeiro, Dr.ª Maria Natália Ventura Vale e a esposa do segundo, D.ª Ana Arina Ventura do Vale Costa.

O facto de dois directores e as respectivas esposas assinarem um contrato de arrendamento para a ADV como fiadores acho que diz muito sobre o empenhamento e a assunção de riscos que estas pessoas estavam dispostas a correr para suportar um projecto.

Cerca de um ano e meio depois, a Associação enviou ao Sr. Marcelino uma cópia do contrato, informando que o havia registado nas Finanças e que juntava o reconhecimento notarial das assinaturas dos fiadores (Ofício sem número, datado de 23.08.1972).

Em 20.06.1977, o Sr. Marcelino informa a ADV de que a sua filha, Júlia Maria Adelaide Martins Pereira Marcelino Soares Leal, por doação (não diz de quem) se tornara proprietária do andar em que estava instalada a sede da ADV e que ele se constituía seu procurador. Aproveita para informar que, ao abrigo do artigo 1105º do Código Civil e do Decreto n.º 37.021 lhe é permitido exigir a actualização da renda e rever o respectivo contrato. Não perde tempo, e propõe de imediato uma renda mensal de 6.000$00.

Não há, nos papéis a que tive acesso, até agora (foram todos os que encontrei, mas pode ser que apareçam outros) qualquer resposta da Associação. O que há são várias outras cartas do Sr. Marcelino (carta de 12.05.1978, carta de 25.07.1978, carta de 30.08.1978) insistindo na actualização da renda. Finalmente, o processo aparentemente termina com uma carta de 3 de Abril de 1979, do Dr. José Augusto Marques de Carvalho, advogado, com escritório no Porto e morador em Valongo, que convida o Presidente da Direcção da ADV a passar por sua casa ou a procurá-lo no Porto, no Banco Pinto & Sotto Mayor, Departamento de Contencioso, “para assunto relacionado com o arrendamento do andar onde está instalada a sede dessa prestimosa agremiação desportiva”.

Não foram encontrados recibos ou outros documentos que ajudem a explicar o que se passou a seguir, nomeadamente, se a renda foi ou não actualizada. A vantagem, para mim, desta última carta é que ela parecia mostrar que, em 1979, apesar da existência do Pavilhão, a Associação

ainda mantinha a sede na Rua do Padrão. Só que – estas surpresas acontecem quase sempre numa investigação histórica – apareceu um outro ofício, agora da ADV para a senhoria, D.ª Maria Adelaide Marcelino Leal, pedindo o arranjo do telhado, “em virtude de estar a meter água e a cair de podre.” Ora, este ofício é de 9 de Fevereiro de 1988! O que significa que ainda nesta data a sede da ADV continuava no n.º 173 da Rua do Padrão. E, pelo teor do ofício, com propósitos de lá continuar.

O recheio da sede

41. Por força do várias vezes referido desaparecimento de documentação dos primórdios da Associação, não sabemos qual era a configuração da sede, nomeadamente como estava mobilada e qual era a sua utilização habitual. Isto é, sabemos

Troféus na sede antiga. Foto cedida por Américo Moreira

alguma coisa quanto ao facto de, sendo as diversões muito poucas (não havia televisão…), as pessoas que a frequentavam faziam o habitual: jogavam às cartas, tendencialmente a dinheiro… Há conhecimento de queixas, nesse sentido.

Sabe-se, por outro lado, mas sempre por transmissão oral, que houve um incêndio e que com a intervenção sobre ele, a água derramada acabou estragando e destruindo aquilo que o incêndio não conseguiu…

Apareceu, até agora, um único documento que lança alguma luz sobre o recheio da sede: é uma apólice de seguro contratado com a Companhia de Seguros Portugal, ao que parece porque fazê-lo constituía uma obrigação legal para apoiar o arrendamento. Esta apólice tem a data de 29 de Maio de 1958, o que significa que o arrendamento ou é dessa data ou de uma data próxima. É a única prova, que até agora encontrei, de que houve um arrendamento inicial.

Para não ocupar muito espaço e por a parte

restante ser desnecessária, resolvi reproduzir apenas o núcleo central da apólice. Este núcleo da apólice de seguro da sede, na Rua do Padrão, n.º 117 (é uma indicação estranha, visto que o n.º, ao que sei, sempre foi o 173 e nunca houve outra sede), contratada com a Companhia de Seguros Portugal (com sede na Rua Áurea, em Lisboa) é a única descrição que temos da antiga sede, ainda que não seja panorâmica, mas tão só objectual.

Uma curiosidade, entre outras, é que naquela data, isto é, dois anos depois de o clube ter começado a jogar na 2ª Divisão Regional, já havia taças!!

Notável! Igualmente notável é que elas valiam tanto como a mobília e o bilhar livre: 10 contos!

Percebe-se que, como entretenimento, havia uma telefonia, um bilhar livre, um bilhar russo e uma mesa de ping-pong, que, como digo noutro local, foi construída pelo João Lino Vale. Apesar de tudo, não era nada mau, para um clube pequeno, acabado de se formar.

A data da fundação do clube

42. Nos primeiros tempos, quando a sede do clube ainda se encontrava no edifício da Rua do Padrão, 173, no primeiro andar, aconteceram um pequeno incêndio e uma inundação que destruíram vária documentação, como disse. Deste modo, por exemplo, os primeiros livros de actas da Direcção, até 1963, assim como os primeiros livros de actas da Assembleia-Geral, até 1964, desapareceram, ninguém sabe o que é feito deles, pelo que se pensa que poderão ter ficado no incêndio ou na inundação.

Um dos documentos que primeiro se procura, quando se faz ou tenta fazer qualquer espécie de história de uma instituição, é o da escritura ou outro escrito que estabeleceu o pacto social da mesma. No nosso caso, essa escritura ou não existe ou ainda não conseguimos encontrá-la em várias diligências feitas. Falo no plural, porque fui acompanhado e ajudado nessa pesquisa pelo João Carlos Paupério.

Levanto esta questão, porque é uma questão de princípio e também porque tenho visto, em documentos da Associação, nomeadamente nos cartões de sócio, a seguinte menção: “Agremiação Desportiva Fundada em 1955”. Pela documentação que nesta pesquisa fui encontrando, tenho razões para crer que esta menção porventura não corresponde à realidade do que se passou. Isto é, esta data é aquela em que se deu o reconhecimento oficial do clube, de acordo com a lei então vigente (que já veremos) e não representa o tempo em que um conjunto de pessoas se assumiu como agremiação e começou a trabalhar no sentido de lhe dar um conteúdo e uma dinâmica.

Encontrei, felizmente, cerca de 295 fichas de sócios (digo ‘cerca’, porque faltam algumas pelo meio) e umas dezenas de propostas de sócio. As propostas de sócio e as fichas de sócio estão manuscritas pelo real fundador do clube, o Dr. João Lino Vale (cuja letra reconheço), que desde o início tomou sobre si essa tarefa de organizador da gestão do clube e dos respectivos papéis. As fichas de sócios, até ao n.º 64, têm esta data afixada: “1 de Dezembro de 1954”. Depois, na ficha n.º 68, aparece a data de “15 de Fevereiro de 1955”.

Mais impressionantes são as propostas de sócio, que, além da data carimbada (não manuscrita) de 01.12.1954, e do carimbo oficial da Associação, nalguns casos possuem uma data de assinatura

anterior a 01.12.1954, como é o caso da minha, que o meu Pai assinou no dia 13 de Novembro de 1954!

Talvez o mais impressivo destes dados seja aquele que se encontra na parte de baixo de cada proposta de sócio e de cada ficha de sócio e que são as seguintes menções: “Aprovado em sessão de” e “Admitido em sessão de”, seguidas dos espaços habituais para colocação da data. E a data aí colocada é sistematicamente 01.12.1954

Ora, parece de senso comum que não se propõem sócios nem se emitem fichas de sócios, nem se manda fazer um carimbo oficial de uma associação desportiva… antes de ela existir!

Mas não é impossível. Claro que não é impossível e é mesmo possível. É configurável a hipótese de alguém ser tão previdente, tão diligente na angariação de sócios e tão ansioso em pôr uma associação a mexer que promova todas as situações descritas antes de ela oficialmente ter iniciado a sua actuação.

Não acredito que alguém tenha colocado uma data a seguir a “Aprovado em” e a seguir a “Admitido em” sem ter havido aprovação nem admissão. O que aconteceu, parece-me, foi que essa aprovação e admissão existiram, concedidas por uma associação de facto, aguardando a legalização.

Os Estatutos do clube, no seu artigo 5º, dizem que “A admissão de sócios do Grupo A (os praticantes de qualquer modalidade e os amigos do desporto) é da atribuição exclusiva da Direcção” (e a do Grupo B – correspondentes, beneméritos e honorários – pertence à Assembleia-Geral).

Parece-me impensável que alguém tenha sido admitido e aprovado por uma Direcção que, em 01.12.1954, ainda não existia. A Direcção existia de facto, mas ainda não tinha a sua existência reconhecida oficialmente. É a interpretação que faço.

Para complicar toda esta avaliação, há um dado que está provavelmente na base da consideração desde sempre seguida de a ADV ter sido fundada em 1955 e que é o artigo 1º dos citados Estatutos da ADV, que taxativamente afirma:

“Em 9 de Março de 1955 é formada em Valongo a Associação Desportiva de Valongo (A.D.V.), agremiação desportiva cujo objectivo primeiro é a organização de um grupo de óquei em patins, fomentando ao mesmo tempo o desenvolvimento daquele ramo do desporto no concelho de Valongo.”

Porque é que este dado, em vez de esclarecer, complica a análise da questão? Primeiro, porque existe a ideia de que estes Estatutos não são os originais, já que terá havido uma alteração desses nos anos sessenta ou setenta do século passado (houve uma em 1975), o que infirmaria a sua fidedignidade, para este propósito. O primeiro exemplar que me chegou às mãos ostenta a data de 30.11.1974; um segundo e um terceiro não têm data nenhuma. Vamos, porém, supor que estes são os estatutos originais ou que, pelo menos, a menção do artigo 1º não foi mudada. Então, a perplexidade instala-se: como é que uma associação que começa a existir em 09.03.1955 possui sócios admitidos e aprovados por uma Direcção desde 01.12.1954?

Claro que nada disto é dramático, é apenas confuso… Pode sempre supor-se que foram de facto admitidos e aprovados sócios por uma

Direcção provisória, uma

Direcção de facto, eleita entre os sócios de uma

Associação de facto, antes da constituição da Associação legal, os quais, sócios de facto e Direcção de facto, se tornaram efectivos e legais após a constituição oficial da ADV, assim se sanando a irregularidade até aí existente.

Porém, a confusão não acaba por aqui… Após um desagradável incidente em sua casa (que aliás lhe causou graves prejuízos) o

João Carlos Paupério descobriu, entre os papéis antigos, deixados por seu pai, Joaquim Paupério (antigo dirigente da ADV, por largos anos) dois antigos exemplares dos Estatutos do clube (caso para dizer, com triste ironia: há males que vêm por bem…), um dactilografado, sem data, e outro escrito à mão, com uma letra que logo reconheci como sendo do meu Amigo João Lino Vale.

O exemplar dactilografado exibe, no cimo da 1ª página, escrita á mão, a seguinte anotação: “Aprovado por Despacho Decreto 57 – III série 9/3/55”, o que parece significar, suponho eu, que alguém quis registar, para evitar esquecimento, a data e o documento oficial que legalizou os Estatutos da ADV, que seria (continuo a supor) o Despacho n.º 57, de 9/3/1955, publicado na 3ª série do Diário do Governo (o Diário da República da altura) ou então o Decreto n.º 57, publicado na mesma data e local.

Imediatamente por debaixo desta anotação, começa o artigo 1º dos Estatutos, que se inicia, como acima vimos, assim: “Em 9 de Março de 1955, é formada em Valongo a Associação Desportiva de Valongo (A.D.V.), agremiação desportiva cujo objectivo…” etc.

Alguém que conheça minimamente os trâmites das aprovações oficiais, logo detecta aqui uma incongruência ou uma aparente incongruência. Para se perceber o que pretendo explicar, é necessário fazermos uma pequena viagem ao passado. Nos anos cinquenta do século 20, as associações estavam submetidas a uma regulamentação estrita, sobretudo preocupada com a existência das chamadas “associações secretas”, que visava primordialmente dificultar e impedir a vivência e a vigência do Partido Comunista, única agremiação organizada que lutava contra a ditadura do Estado Novo, ainda que houvesse muitos outros e variados opositores. Foi assim que, após a entrada em vigor da Constituição de 1933, a Lei 1901, de 21.Mai.1935, veio estabelecer uma primeira regulamentação genérica do direito de associação, precisamente sob a epígrafe “Associações Secretas”… Posteriormente, o Decreto-Lei n.º 37.447, de 13.JUN.1949, aperfeiçoou e apertou a regulamentação anterior, sempre preocupado com os aspectos do secretismo das associações e a eventual ofensa da ordem pública. Só cinco anos depois, o Decreto-lei 39.660, de 20.MAI.1954, acrescentou à regulamentação normas que começaram a desenhar um perfil já mais realista das ditas “associações civis”. O seu artigo 1º dispunha:

“Artigo 1.º

A todos os cidadãos no gozo dos seus direitos civis e políticos é lícito promover a constituição de associações que não tenham carácter secreto e cujos objec-

tivos não importem ofensa dos direitos de terceiros ou do bem público, nem lesão dos interesses da sociedade ou dos princípios em que assenta a ordem moral, económica e social da Nação.”

E o artigo 2º, que particularmente nos interessa, dizia:

“Artigo 2.º

A constituição das associações e a sua existência jurídica dependem de aprovação dos estatutos pelo governo civil do distrito da sua sede ou, quando o âmbito da respectiva actividade exceder o do distrito, pelo Ministro do Interior.

§ 1.º No caso de um dos fins estatutários ser próprio de associações cuja constituição dependa de aprovação ministerial, compete ao Governo, pelo Ministro respectivo, aprovar os estatutos.

§ 2.º Sempre que se trate de associações sujeitas a lei ou regime especial, observarse-á o que ali estiver estabelecido.”

Este regime só foi alterado, não substancialmente, em 1966, com a entrada em vigor do novo Código Civil que, nos seus artigos 157º a 184º, acabou por regular em definitivo as associações, dispondo o artigo 158º que elas adquirem personalidade jurídica quando constituídas “por escritura pública ou por outro meio legalmente admitido”.

A transcrição destes preceitos legais destina-se a chamar a atenção para duas coisas.

A primeira é que foi sob o regime do Decreto-lei 39.660, de 20.MAI.1954, que se constituiu a ADV. Ora, este diploma não exigia a utilização de escritura pública, como mais tarde fez o Código Civil,

mas apenas, como vimos, a “aprovação dos estatutos pelo governo civil do distrito da sua sede” (artigo 2º, corpo) ou então pelo Governo, através do Ministro respectivo, “no caso de um dos fins estatutários ser próprio de associações cuja constituição dependa de aprovação ministerial” (artigo 2º, parág. 1º).

Portanto, a segunda coisa a relevar é que poderá ou deverá colocar-se a hipótese de nunca ter existido uma escritura de fundação da ADV, mas apenas a aprovação dos Estatutos pelo Governo Civil do Porto da época ou pelo Governo (como de facto sucedeu e já veremos). E essa seria a que foi realizada, precisamente em 09.03.1955, pelo acto publicado no Diário do Governo dessa data. E então, a data de 09.03.1955, constante do artigo 1º dos Estatutos da ADV, é a data da aprovação dos mesmos pelo Governo. A aprovação dos Estatutos era, na época, o equivalente ao actual registo do pacto social no notário, através de escritura pública.

Porém, é aqui que surge a tal incongruência. Teoricamente as coisas deveriam passar-se como se passam hoje, para qualquer autorização: o interessado apresenta o requerimento ou o documento para o efeito exigido, o responsável administrativo com competência para a aprovação exerce o seu poder e assina um despacho concedendo-a, no dia tal, por vezes com o registo das horas. Se a autorização for de certa importância, o despacho poderá mesmo ser incorporado num decreto simples. De qualquer modo, despacho apenas ou também decreto, serão sempre publicados, ou no diário oficial ou da forma legalmente prevista (por exemplo, por edital, nas autarquias locais).

O despacho pode ser proferido no mesmo dia da apresentação do requerimento (portanto, com a mesma data), embora o habitual é que seja

expresso dias, meses depois. É o normal. O que aqui é difícil de perceber é como um exemplar dos Estatutos, apresentado ao Governo da época, para aprovação, já vinha escrito com a data dessa mesma aprovação!!...

Dir-se-á: o exemplar (que está cheio de anotações) foi reescrito após a aprovação, para a incorporar definitivamente. É uma hipótese explicativa. (Mesmo assim, difícil de aceitar, porque qualquer alteração tinha de ser igualmente aprovada, o que significaria um segundo despacho…). Mas então fui consultar o exemplar manuscrito pelo Dr. João Lino Vale (que, de toda a evidência, é a matriz inicial dos Estatutos definitivos, porque foi ele que os escreveu, sei-o por vivência directa) e o meu espanto recrudesceu: ele diz exactamente o mesmo! Isto é, começa exactamente com a citação da data de 9/3/1955!!!

Como não é crível, nem que o João Lino adivinhasse o dia do despacho, nem que o Subsecretário de Estado aceitasse a data proposta pelos Estatutos da ADV, resta um mistério difícil de resolver. O mais provável é que tenha existido uma terceira hipótese que neste momento desconheço e que será talvez de grande simplicidade…

Bom, a hipótese explicativa mais razoável, para a qual estes factos parecem apontar, é a de que, pelo menos o artigo 1º dos Estatutos tenha sido alterado após o despacho de legalização, para incorporar a respectiva data. Porém, mesmo esta hipótese é perturbada pela existência do manuscrito do João Lino Vale, que possui todo o ar de ser o documento inicial, fundador de todos os outros, e em que o artigo 1º não apresenta nenhuma rasura…

Ainda restava um último recurso para a possível resolução deste enigma: o várias vezes citado

Despacho n.º 57! Finalmente, o João Carlos Paupério encontrou o famigerado despacho, nos arcanos do seu multifacetado arquivo… e o resultado foi… nenhum!...

Para começar, existe ao que parece um despacho, mas não está publicado no Diário do Governo de 09.03.1955, o que aparece publicado é a notícia dele:

“MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NACIONAL

Direcção-Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar

Por despacho de S. Ex.ª o Subsecretário de Estado da Educação Nacional de ontem:

Aprovados os estatutos dos seguintes organismos desportivos:

Associação Desportiva de Valongo (…)”

Vê-se também que não existe nenhum decreto, ao contrário do que a citada anotação na 1ª página dos Estatutos fazia supor, e que o n.º 57 é o número do Diário do Governo, 3ª série, daquele dia. E percebe-se que as associações desportivas do tipo da nossa eram consideradas como possuindo um fim estatutário cuja autorização era de competência ministerial e ficava assim abrangida pelo parágrafo 1º daquele artigo 2º do Decreto-lei 39.660, de 20.MAI.1954. Razão porque os Estatutos foram aprovados por um despacho do Subsecretário da Educação Nacional, com certeza por delegação do Ministro, como era e é habitual.

De modo que voltamos à estaca zero, quanto a este enigma. Resta uma última hipótese de resolução que, a esta distância, se me afigura na prática muito difícil, quase impossível de obter: é ir consultar o arquivo do Subsecretário de Estado da Educação Nacional, do dia 08.03.1955, e ver que espécie de Estatutos ou de requerimento da ADV ele atendeu e despachou com um “Aprovado”! Até lá, teremos de viver com o mistério!

O documento mais antigo até agora encontrado que melhor esclarece a ideia de que os sócios fundadores da ADV consideraram que o seu início se deu em 1954 é a Circular n.º 2, sem data, que anuncia aos sócios duas coisas: que o clube se inscreveu no Campeonato da 2ª Divisão da Associação de Patinagem do Porto, pelo que vai começar a praticar oficialmente a modalidade, e que foram eleitos os Corpos Gerentes para 1956. Isto dá a entender que a circular é posterior à data da legalização oficial, 09.03.1955, e anterior ao começo do dito campeonato. Nenhuma destas datas se pode precisar, visto que, como acima disse, as actas da Assembleia-Geral e da Direcção da ADV perderam-se até 1963.

O que é significativo nesta circular vem no

cabeçalho, em que após “Associação Desportiva de Valongo” e a seguir a “Agremiação Desportiva”, está escrito “Fundada em 1954”! Parece óbvio que os fundadores da ADV consideravam que a agremiação existia em 1954. Depois disso, eles ou outros entenderam que o início da Associação deveria ser colocado em 1955, por ser esse o ano da legalização.

Uma outra curiosidade desta circular é que ela coloca a Sede do clube na Praça Machado dos Santos, sem número. Posso assegurar que nunca houve qualquer sede física na Praça, pelo que a sede era, naquele início de vida, meramente virtual e para efeitos práticos, como o recebimento de correspondência… E, a ser na Praça, só podia ser em dois locais: a casa do João Cruz (e do Domingos Cruz) ou a minha, visto sermos os únicos moradores da Praça que naquela data éramos sócios e praticantes.

Além deste documento, existem também cartões de identidade de sócios, com fotografia e número, que afixam a data de fundação como 1954.

Deve notar-se este pormenor curioso. Presumivelmente em 1958 (primeiro registo em livro do número de nome dos sócios e do pagamento das respectivas quotas) o clube tinha 281 sócios registados e 208 efectivos (porque 73 registos estão em falha). Presumivelmente em 1959, tinha 295 sócios registados. Em 1960, 301. Em 1961, 330. Em 1962, 357, mas o n.º 339 era o Fernando Dias de Sousa. Em 1962, 157. Em 1963, estão registados 422 sócios, um boom notável. Em 1964, o n.º sobe para 489. Em 1965, sobre para 603. Em 1966, o n.º é de 410 sócios e é aqui que aparece pela primeira vez o nome do Alberto Osório, com o n.º 339. Em 1967, o n.º de sócios é de 482. Em 1968, sobe de novo para 535. Em 1969, chega aos 700. Em 1970, passa para 737. Em 1971, atinge os 1.144 e o nome do Alberto Osório, desaparece, ficando o n.º em branco. Em 1972, o n.º atinge os 1234, mas há depois,

entrelinhadas, inúmeras correcções a vermelho que situam o n.º final em 837. Não tenho mais livros destes. Não foram encontrados.

Esta estatística é interessante para percebermos a evolução do clube, relacionada com o crescendo de interesse que foi suscitando nos adeptos e nos seguidores e admiradores. Aqui, porém, pretendo chamar a atenção para este facto: entre 1966 e 1970, o cartão do sócio n.º 339, Alberto Osório, ostentou a menção “Fundada em 1954”. Ou seja, 16 anos após o nascimento da ADV, ainda havia quem considerasse 1954 como a data fundadora.

Há mais elementos informativos a considerar.

Num ofício para a Junta de Freguesia de Valongo, datado de 21 de Fevereiro de 1980, o Presidente da ADV, Joaquim Paupério, convida o Presidente da Junta a estar presente no final do torneio quadrangular de hóquei em patins, nos dias 7 e 8 de Março, bem como no almoço de confraternização, no dia 9, eventos que faziam parte das comemorações

que o clube estava a realizar das suas Bodas de Prata. Esse ofício ainda diz que a Associação foi fundada em 1954.

Meses depois, num outro ofício (aquele que encontrei mais próximo do anterior), de 14 de Maio de 1981, o Presidente da Direcção da ADV, Carlos Reis Figueira, comunica à Federação Portuguesa de Patinagem, em Lisboa, que a Direcção da ADV, em reunião extraordinária convocada para apreciação do comportamento da sua equipa de JUNIORES, deliberou castigá-la, “por manifesta falta de disciplina e brio”, pelo que participa a sua desistência da Fase Final do Campeonato Nacional da categoria. Este segundo ofício (que tem, aliás, um perfil gráfico diferente dos anteriores) já ostenta a menção ”Agremiação Desportiva Fundada em 1955”

Pode concluir-se, embora sem grandes certezas, que a data foi alterada por uma das direcções presididas pelo Carlos Reis Figueira, que se sucederam desde 1981 até pelo menos 1983. Não consigo vislumbrar a razão por que o fizeram, a não ser talvez a ideia de colocar a data da legalização dos Estatutos, como vimos. De qualquer modo, este tipo de mudança arrasta sempre consigo a não agradável sensação de estar a rotular os corpos gerentes anteriores, e muitos sócios, durante 25 anos (1954-1980) de distraídos ou inconsiderados ou incompetentes.

Seja qual for a conclusão sobre o assunto, esta análise ajudou-nos a entender que:

- a constituição de facto da ADV – com o seu carimbo oficial, com os seus dirigentes que admitiam e aprovavam os novos sócios, com as fichas destes sócios que até ao n.º 67 têm a data de 01.12.1954 – se deu em 1954, ou mesmo em 1953;

- que a sua legalização, de acordo com a legalidade vigente na época, aconteceu em 09.03.1955, através de um despacho, que não conhecemos, do Subsecretário de Estado da Educação Nacional;

- que os termos em que se deu essa legalização, isto é, sobre que conteúdo de que documento ela versou, é o enigma em aberto;

- que, finalmente, a data da fundação da ADV, que encima os documentos oficias, foi mudada de 1954 para 1955 provavelmente em 1981, não havendo documento que a explique.

As comemorações dos 25 Anos – Bodas de Prata da ADV

43. Em Março de 1980, a ADV comemorou os seus 25 anos de vida, contados precisamente da data de legalização dos Estatutos, 09.03.1955, considerada, a partir de 1980-81, como data de fundação do clube. Já antes discuti essa questão e agora só quero dar conta de que o clube viveu um momento festivo, aliás um momento que se estendeu por todo o mês de Março de 1980, com celebrações e actividades nos dias 1, 2, 7, 8, 9, 16, 22, 23, 29 e 30.

O clube, então presidido por Joaquim Paupério, começou por convidar, no dia 9 de Fevereiro, por

ofício, o Futebol Clube do Porto, o Infante de Sagres, o Benfica e a Oliveirense. Não encontrei resposta do Benfica, mas a verdade é que não compareceu. Os outros três, sim.

Convidou ainda, no dia 20.02, vários outros clubes, para estarem presentes no final do torneio de hóquei que projectava realizar, pedindo-lhes que se fizessem representar por um porta-estandarte.

Os clubes convidados foram: Grupo Desportivo Relógios Invicta, Clube de Hóquei dos Carvalhos, Riba de Ave Hóquei Clube, Sanjoanense, Associação Académica de Espinho, Juventude de Viana, Oliveirense, Infante de Sagres.

Foram também convidadas várias entidades: o Governador Civil do Porto, o Presidente da Câmara Municipal de Valongo, o Presidente da Assembleia Municipal de Valongo, o Presidente da Junta de Freguesia de Valongo, a Direcção da APP, o Presidente do F. C. do Porto, o Presidente da Comissão Distrital de Árbitros, o Delegado da Direcção-Geral dos Desportos no Porto.

Houve jogos de Juniores, entre as equipas do Valongo e do Infante de Sagres (dia 1), de Infantis, com equipas do Valongo e do Invicta de Massarelos (dia 2), de Iniciados, entre as equipas do Valongo e do Massarelos.

Depois, nos dias 7 e 8, realizou-se o Torneio Quadrangular, com as equipas da ADV, do Infante de Sagres, do F. C. do Porto e do Oliveirense, e com patinagem artística nos intervalos dos jogos, com patinadores do F. C. do Porto. Ainda no dia 8, foi realizada uma homenagem aos antigos atletas da ADV.

No dia 9, efectuou-se uma missa pelos sócios falecidos, seguida de romagem ao cemitério. Depois, realizou-se um almoço de confraternização e, pelas 21h30, foi quando teve lugar a sessão solene

O bolo de aniversário. Da esq. p. dir.: Joaquim Paupério, Brigadeiro Aires Martins e Esposa, Dr. João Lino Vale e Esposa, Dr.ª Natália Ventura

de homenagem aos associados com 25 anos de casa e um Porto de Honra.

A tarde do dia 16 foi preenchida com jogos de hóquei entre as escolas da ADV, um jogo de Juvenis Valongo-Porto e um jogo das Velhas Guardas da ADV e de uma selecção de Velhas guardas Portuenses.

Nos dias 22, 23, 29 e 30 teve lugar um Torneio de Ping-Pong, com atletas da ADV e, ainda no dia 30, realizou-se um Torneio de Pesca Inter-Sócios.

44. Foi na sessão solene, do dia 9, que o Dr. João Lino Vale, a pedido, como ele refere, pronunciou o seu discurso de rememoração e recordação da história desses 25 anos de associação, que acabou por se tornar célebre e citado, não só por vir de quem vinha, ou seja, do obreiro maior da ADV, durante esses anos, mas também por ser uma fotografia dos pontos essenciais da vida da associação e ainda, ou sobretudo, pela frase final.

O discurso será publicado em anexo a este texto, na sua forma original, mas não resisto a transcrever algumas passagens.

Ele começa por dizer que não vai fazer a história oficial do clube, que “está mais que feita, é do conhecimento geral e quem não souber que consulte os arquivos do clube que lá encontra tudo.” Reparem como a vida é cheia de ironia: mal ele sabia que, passados mais alguns anos, não se encontraria tudo nos arquivos do clube, porque parte deles desapareceu…

Diz ele então que prefere contar as “histórias” das pessoas que passaram no clube.

“isto é, a história vivida que não está nem pode estar nos arquivos; a história, afinal, que forja a “alma” de uma colectividade, que cria a tradição e que determina a individualidade dessa colectividade”.

Conta, com clara emoção, a história da passagem do clube da 2ª à 1ª Divisão:

“Tarimbamos na 2ª divisão, se não me engano, três ou quatro épocas. Mas quando ficamos em segundo lugar (Ah! Meus amigos!) arrumámos com o Boavista para a 2ª divisão e subimos nós à primeira.

Quem não se lembra? Empatámos por 2-2 no

O Dr. João Lino Vale pronunciando o seu discurso, no dia 9 de Março de 1980

rink do adversário e cá, a oito minutos do fim, perdíamos por 5-1… e a dois minutos do termo da partida ganhávamos por 7-5 (e o Boavista ainda marcou o sexto).

Que alegria! Mas que sofrimento!

A rede de protecção do lado nascente foi vergada quase até ao chão pela assistência galvanizada.

Eu, por mim, bebia “águas” no café do Armindo, enquanto ouvia o barulho. No fim, o Eduardo Figueira vem agarrar-se a mim a chorar como uma criança… Mas não foi só ele que chorou.”

E depois refere, claro, alguns dos seus “heróis” do clube:

“Quantos episódios a recordar durante todos estes anos? Quantas improvisações? Eu sei cá!

— O grande Zé Viterbo, o treinador que, sem saber patinar, conseguiu criar equipas que deram ao clube tantas vitórias em campeonatos.

— O grande Zé Camilo que, para além de valoroso atleta, criou nas escolas, durante anos e anos, plêiades de atletas que deram e darão continuidade ao nosso clube, num trabalho paciente e quase que diria anónimo.

— O grande Delfim Pires, o eterno catedrático da mesa dos cronometristas, que num sofrimento mudo e sem fim, talvez mais do que o de qualquer outro, viu desfilar na sua frente centenas de vitórias e fracassos.

Seria infinita a série.”

Tece, então, uma consideração muito importante: “Desde início, o clube esteve aberto para a prática do óquei em patins pela juventude valonguense: nunca houve segregação de qualquer espécie e

o clube existe porque existem em Valongo jovens que gostam de praticar óquei em patins e existirá enquanto os houver.

A única razão da existência do clube são ELES, sem ter em conta a sua maior ou menor habilidade e, porque se trata de um clube aberto, também nunca se pôs entraves nesta casa ao abandono de qualquer atleta ou à sua ida para outro clube: só quem quiser é que joga na Associação Desportiva de Valongo.

Fala-se muito agora em Democracia, mas nem sempre se vê nos actos que ela seja praticada. Pois tenho para mim, como facto histórico desta colectividade, que nunca houve cá dentro outra praxis que não fosse a da verdadeira, da autêntica democraticidade.”

Fala da “alma” da ADV e conta, quase inevitavelmente, a história do Américo Moreira:

“Num ano não sei qual, o Américo estava desempregado e veio junto da Direcção (a que eu pertencia) pedir se era possível arranjar-lhe um empregozito, que não queria sair do clube, mas que naturalmente teria de sair para outro qualquer clube (havia vários interessados que lhe arranjavam emprego) se até tal data limite nada se arranjasse.

Tentámos as portas todas, eu e o Sr. José Costa, e nada conseguimos. E na data aprazada eu meto o Américo no meu carro, disse-lhe que tinha muita pena de nada termos conseguido, e aconselhei-o a que saísse, visto que o óquei em patins passava e a sobrevivência futura dele tinha que ser assegurada. Ele agradeceu, despedimo-nos e assim ficámos. No dia seguinte, meus amigos, o Américo entrou por esta sede dentro e disse-me: “dê-me uma ficha para assinar”.

E assim ficou, durante toda a época, desempregado e jogador do Valongo.”

É então que termina com a tirada que ficou célebre e que os mais velhos recordam com um sorriso, porque tem graça e é verdadeira (metaforicamente, claro):

“Eu tenho oito filhos: os sete mais novos deu-mos a minha mulher e, graças a Deus, são todos perfeitinhos.

Mas o mais velho, esse, pari-o eu. Sou eu a mãe. O seu nome é A. D. V.: cresceu, tornou-se adulto, não precisa da mãe para nada.

Mas a mãe revê-se, orgulha-se do filho e augura-lhe, naturalmente, a maior grandeza futura.”

Neste texto, está o João Lino quase todo, que eu conheci. Está a sua capacidade de escrever um português escorreito e simples, que vai rareando; está a inteligência de eleger os episódios de facto significativos da vida do clube e de os contar com sabor e graça, mesmo com emoção. E está, dito de forma provocadoramente brilhante, a sua dedicação, o seu imenso afecto àquele grupo que, de verdade, eu assisti, ele pariu.

A vida interna – Os episódios desportivos

Os primeiros 5 anos de jogos

45. A vida prosseguiu, como sempre acontece, e os primeiros tempos não foram fáceis, seja qual for a perspectiva que se tome.

Desportivamente, éramos aprendizes e, se alguma coisa nos caracterizava, era decerto a vontade de aprender muito e depressa. Treinávamos afincadamente, mesmo sem treinador, no início. Aliás, nunca houve, nesse início treinador regular, mas apenas alguns “empréstimos”, de passagem, O Armindo Fonseca, na sua, biografia, fala de cinco treinadores: o Aldo Nogueira e o Agostinho, ambos jogadores do Académico; o Dr. Aragão, dentista, antigo jogador do Vigorosa; o António Figueiredo, jogador do Infante de Sagres, internacional e campeão da Europa; e o José Viterbo, nosso Amigo antigo, desde sempre, sócio exemplar da ADV, que nunca patinou, foi director e treinador excepcional e chegou a ser seleccionador do Norte…

Uma notícia do Comércio do Porto dá nota de que houve um jantar de homenagem ao treinador Nogueira, na noite de 4 de Outubro, num restaurante de Beloi, S. Pedro da Cova, quando, no segundo ano de participação no Campeonato Regional da 2ª Divisão, o Valongo ficou classificado em 2º lugar (Cf. RJ, 19571004_CP).

Tirando o Zé Viterbo, de quem fui amigo e conheci bem, mas a cuja “saga” já não assisti, por não estar por esse tempo em Valongo, devo dizer que me lembro mal dos outros, excepto um, o António Figueiredo. Não só me lembro dele, como lhe ganhei uma certa amizade, decorrente das circunstâncias e da sua personalidade.

As circunstâncias. Por essa altura, a partir de 195051, o João Lino e eu frequentávamos o Colégio de Ermesinde. A febre do hóquei também lá chegou e os responsáveis acabaram por mandar construir um rinque (que ainda lá está) do lado direito da entrada da Igreja de Santa Rita, (mas dentro de muros) e por detrás do campo de futebol. Com o nosso recente entusiasmo, ajudámos a criar e a

treinar duas equipas de hóquei, uma de seniores, outra de juniores, sendo que, com as nossas idades de então, éramos todos juniores… O que isto queria dizer era que se tratava de uma equipa “dos mais velhos” e outra “dos mais novos”. Na inauguração do rinque, a ADV foi jogar ao Colégio, num jogo de festa que foi uma das nossas primeiras saídas. Teve inauguração com a presença do Bispo do Porto (a cuja diocese o colégio, católico e com o primeiro ano do seminário, pertencia) e com direito a notícia no jornal!! (Não consegui detectar o nome do jornal nem a data…).

Na primeira fotografia, vê-se a equipa do colégio, com o seu equipamento preto, da qual o João Lino e eu fazíamos parte, claro. Na segunda foto, estão duas equipas de Juniores: a da camisola às riscas, do Colégio, a do equipamento verde e preto, da ADV. Nesta, reconhecem-se (de pé) o António Campos (camisola branca, guarda-redes), o Quim Manel Leal, o João Ventura; em baixo: o Mário, o Nora e um jovem que não reconheço. Na terceira foto, além da equipa sénior, está também a equipa júnior e estão: um dos padres do colégio, o padre Marinho, ao centro o Bispo do Porto da altura (não recordo o nome) e ao lado esquerdo deste o António Figueiredo. Ele tinha sido convidado pela

Jogo da inauguração. Vê-se o João Lino ao centro e eu à direita, ambos com o equipamento do Colégio, e por detrás o Eduardo Figueira e o Carlos Camões, com o equipamento da ADV.

direcção do colégio para treinar as duas equipas, ao que acedeu, não sei com que contrapartidas (provavelmente com nenhumas, apenas o reconhecimento devido e porventura a amizade com algum dos padres ou até com o bispo, como nesse tempo acontecia tantas vezes).

O que sei é que aproveitámos a boleia e pedimos ao António Figueiredo que nos desse uma “ajudinha”. Ele aceitou prontamente e então passou a vir creio que uma vez por semana a Valongo, dar-nos indicações de táctica e estratégia… Confesso que, a esta distância, me lembro mal dos treinos dirigidos por ele, excepto quanto a um pormenor, para mim naturalmente inesquecível. Numa das primeiras sessões, ele resolveu tentar perceber qual de nós, os aprendizes de hoquista, tinha mais jeito para marcar penalties. (Soubemos mais tarde que ele era o especialista dos penalties no seu clube, o Infante de Sagres). Porque, dizia ele, é preciso explorar o jeito especial de cada um, para treinar ao máximo essa aptidão e tirar dela o desejado proveito. E então lá nos colocou a atirar bolas à baliza, repetidamente, um de cada vez, durante vários minutos. Ao fim de algum tempo, concluiu que os mais “jeitosos” eram o Carlos Camões e eu. Claro, ficámos satisfeitos e seguiu-se que, durante cada treino e fora dele, nós gastávamos todo o tempo que tínhamos a atirar bolas à baliza, da marca de grande penalidade. Como é sabido, a grande penalidade actualmente é marcada em movimento. Naquela altura, era uma sticada de uma bola parada no sinal de penalty indicado no recinto. Por isso, o treino consistia em marcar sucessivos tentos, visando os pontos considerados mais vulneráveis dos guarda-redes, que também ficavam parados na baliza, à distância regulamentar: os cantos por cima dos ombros ou então, menos, os cantos ao lado dos pés. Chegou a sugerir

que fizéssemos aquilo que já tinha visto noutros locais: colocar um cartão grosso ou uma madeira fina a tapar a baliza, com quatro aberturas largas nos quatro cantos (por cima dos ombros e ao lado dos pés) de modo a visualizarmos melhor os locais para onde devíamos atirar a bola. Foi isso que o António Figueiredo nos ensinou e que nós treinámos afincadamente, teimosamente, exaustivamente…

Para mim, os treinos, em que cheguei a adquirir alguma perícia, como acontece quando se insiste com deliberação e afinco, deram como resultado que acabei ficando o responsável pela marcação dos penaltis, com alguns resultados agradáveis. O melhor deles – até pelo estardalhaço a que deu azo – foi no jogo contra o Centro Universitário, em Valongo, em 19570619, que ganhámos por 8-2 e em que marquei 7 golos de penalti e ainda falhei três…

O António Figueiredo era um jovem cordato, simpático, nada convencido nem agressivo (como acontecia tantas vezes com as “estrelas” – e ele era uma estrela, de facto), por isso o contacto com ele foi um momento bom da nossa aprendizagem do hóquei em patins.

Além disso, ele foi protagonista de uma história inesquecível, que eu próprio, como centenas de outras pessoas, vivi na altura, como um daqueles momentos “miraculosos” que o desporto por vezes nos oferece de bandeja…

No Campeonato da Europa que se disputou no Porto, em 1956, Portugal ganhou à Espanha por 1-0 e assim venceu o campeonato. O jogo esteve empatado a zero até ao final e era preciso ganhá-lo para ser campeão. Então, como que num golpe mágico do destino, a um ou dois minutos do fim, a Espanha cometeu uma falta que deu penalti.

Quem foi marcá-lo? O António Figueiredo, que era o especialista dos penaltis! E meteu golo! E assim Portugal se sagrou campeão da Europa de 1956!!

Bom, a história não acaba aqui. O pai do António Figueiredo tinha uma casa comercial no Largo dos Leões, em frente ao edifício da Universidade (a casa ainda lá está, agora com outra ocupação) que possuía grandes montras, vistas diariamente por centenas de pessoas, dada a localização e a muita afluência ao local, como ainda hoje. Então, o stique do António, que marcou o golo vencedor, foi colocado em exposição numa das montras e lá se manteve por muitos meses!! Creio que chegou aos dois anos!! Por várias vezes, quando, ao fim da tarde, regressava do Colégio Almeida Garrett (onde fiz o 6º e 7º anos do liceu), em companhia do Jorge Nuno Pinto da Costa (sim, o actual Presidente do F. C. do Porto) e de um outro colega que nunca o largava, íamos os três olhar o stique e comentar o feito do Figueiredo

O que é irónico, nestas situações, é que todos nós parecemos esquecer a pessoa real por detrás do objecto que ela utilizou para o efeito: como se o stique tivesse marcado sozinho o golo da vitória, e por isso estivesse ali a ser admirado e incensado, em vez do António Figueiredo, com o saber e a experiência que trazia consigo!

39. É preciso dizer que enquanto nós iniciávamos a nossa aventura hoquista com um misto de entusiasmo e de inocência chamemos-lhe táctico-estratégica, isto é, jogando um hóquei de carácter muito individualista, baseado no “jeito” maior ou menor de cada um e tentando tirar daí o máximo rendimento, já outros, noutras paragens, faziam outros cálculos e estudavam o hóquei a

sério – tão a sério que o estudo demorou a chegar ao terreno e, em muitos casos, parece que ainda não chegou.

Francisco Velasco, o celebrado hoquista moçambicano, que foi uma estrela do hóquei em patins, internacional e Campeão Latino, da Europa e de Mundo, e que faleceu em Lisboa, a 8 de Junho de 2020, escreveu isto no seu já citado blogue “Carrossel”:

“Em finais de 1955 fui para a Beira onde joguei durante a época de 1955/56, durante a qual recebemos a visita do Clube Desportivo de Paço de Arcos, Campeão Nacional que em Lourenço Marques tinha vencido todos os encontros em que participara, incluindo a Selecção.

Não quis crer! Os “velhotes”, Jesus Correia e Correia dos Santos, tinham feito gato-sapato dos meus colegas lá de baixo, segundo ouvi da boca deles, mais tarde.

Na Beira, integrado na Selecção desta cidade, como já tinha treinado e jogado com estas figuras de proa da modalidade, fiz uma descrição do seu modo de actuar, resultando uma proposta de solução táctica simples que foi eventualmente aplicada com determinação contra os Campeões Nacionais. O seu tipo de jogo foi caracterizado por mim como:

– Vila Verde: – Guarda-redes muito bom;

– Campos: Defesa estático, muito agressivo; – Virgílio: Médio, agressivo, mas de curta penetração; – Jesus Correia: movimentação livre, poderoso e muito veloz; –Correia dos Santos: malabarista, jogador de área. Perigo nº 1!

Solução: – Marcação cerrada, dentro da área e arredores a Correia dos Santos,

Actuação defensiva e ofensiva

pretendendo evitar que recebesse bolas; –barreira passiva a Jesus Correia, feita por mim, induzindo-o a patinar sobre o seu lado esquerdo, donde raramente seticava de longe; – interceptar passes e contra-atacar rapidamente; – Nos ataques, já uma mera intuição levava-me a aproveitar uma cortina com o meu médio para, em sprint, patinar em círculo em redor dos defesas e passar ao colega que apareceria no lado oposto.

Resultado: – Vencemos por 5 – 3, tendo o Paço de Arcos averbado a sua primeira derrota em toda a digressão e, se não estou em erro, do Campeonato Nacional. Este acontecimento constituiu uma lição relevante, porque foi a primeira vez, pelo menos em que tenha estado presente, que uma decisão consciente, de carácter táctico, foi aplicada no terreno. Foi um marco, pois jamais jogara com qualquer planeamento prévio. Além disso, fiquei convicto que o movimento circular era o futuro.”

Em muitas outras páginas ele repete este tipo de análise e teoriza sobre os aspectos mais relevantes do desporto que adorava. Não pretendo aqui discutir, porque o local não é adequado, se ele tinha ou não razão na defesa do seu amado

“movimento circular”, o “carrossel”, como ficou conhecido e que tornou o SNECI quase imbatível, durante um certo período. Aquilo que desejo relevar é um aspecto que julgo importante: ele teve a inteligência e a capacidade – note-se: em 1955-56, quando nós estávamos a começar, sem termos a mínima ideia deste tipo de raciocínios –de olhar para o futuro e perceber que, no hóquei em patins – como em qualquer outra actividade humana – para progredir é preciso saber e para saber é necessário estudar e discutir os resultados e depois transmiti-los.

Ele passou o resto da sua vida a escrever sobre o hóquei e ainda em 2014, algum tempo antes de morrer, se queixava da quase total falta de programação e de estratégia existentes, não apenas nos clubes, em geral, mas na própria Selecção Nacional.

Os primeiros tempos foram de quase desânimo, por causa das derrotas sucessivas que sofremos, e algumas volumosas.

O primeiro jogo das nossas vidas (foi assim que o sentimos) perdemo-lo por 5-1, com o Vilanovense (cf. RJ, 19560703_CP). O segundo empatámo-lo, o que foi um espanto, para nós! Então já nos batíamos de igual para igual com uma equipa cheia de traquejo (o Centro Universitário)?! O jogo foi em Valongo, na “eira”, e isso contou muito, contou decisivamente. Porém, logo a seguir, sofremos uma derrota pesada do adversário que considerávamos, na altura, mais crítico, o F. C. do Porto. Perdemos por 8-0!! A imprensa salientou a actuação do Armindo Fonseca e do Serafim Barros

Perdemos com o Candal e, a seguir, cometemos uma facécia: fomos ganhar ao Póvoa, na casa

deles, por 5-4!! Ficou-me na memória a violência do público, junto às tabelas. Violência contra nós, os adversários, entenda-se. Creio que isso se passava um pouco por todo o lado, naquele tipo de rinques.

Por esta altura (cf. RJ, 19560719_CP), surge uma notícia que menciona a interdição do rinque do Valongo, sem dizer porquê nem por quanto tempo. Só em 19560726_CP, o jornalista de serviço, sob o título “O Desporto em Valongo”, faz este comentário:

“Causou surpresa no nosso meio a decisão da Associação de Patinagem do Norte em interditar por dois jogos o campo de óquei em patins. O que houve, que praticamente não foi nada, não merecia a punição dada. Até faz desanimar!”

O jornalista não assina, mas creio ser Manuel Correia de Brito, que era profissional no Comércio do Porto e se distinguia de todos os outros, não só por ser praticante e conhecedor do hóquei em patins, mas sobretudo porque dava grande atenção aos jogos e aos pormenores deste desporto, o que transparecia nos seus relatos. A única crítica que, nas notas que acompanham o Resumo dos Jogos, por vezes lhe fiz (e que nada tem a ver com o seu direito de escolha) foi o de ser ‘doentiamente’ apoiante do F. C. do Porto… o que lhe fazia perder objectividade, quando o Porto estava presente.

Não obtive documentação ou notícias que esclarecessem este acontecimento grave, que o jornalista diz que “não foi nada”. Terá sido alguma coisa, mas não consegui saber o quê.

Voltámos a perder por 5-2 com o Vilanovense, no rinque do Candal, por o nosso estar interditado, mas a derrota mais pesada e mais difícil de engolir

foi a que veio a seguir, por se tratar da equipa com que tínhamos empatado da primeira vez, o Centro Universitário, o que nos criara algumas expectativas. Jogámos no campo do Lima e perdemos por 10-2!!! Foi duro! (Cf. RJ, 19560726_CP e JN).

Não temos notícia do jogo com o Candal, mas devemos ter ganho, por causa da classificação final. Temos, porém, informação sobre o jogo com o Póvoa, em Valongo, a quem voltámos a ganhar, por 4-2, numa noite de piso molhado, que dificultou a tarefa de ambos os grupos. Se o piso estivesse seco, diz a notícia do Comércio do Porto, “talvez o resultado tivesse sido ampliado favoravelmente aos locais.”

Quando o campeonato desse ano terminou, com a Vitória do F. C. do Porto, num conjunto de 6 clubes, ficámos classificados em 4º lugar, à frente do Póvoa e de Candal… Nada mau, para quem tinha começado nesse ano, fraquejava no traquejo e tinha principiado a aprender... O nosso ânimo moral desatou a subir…

O ano desportivo seguinte, 1957, começou no princípio de Abril, com o habitual Torneio, que incluía equipas da 1ª e 2ª divisões.

No primeiro jogo, com o Educação Física, da 1ª Divisão, perdemos por 3-1. E, ao contrário do que se esperaria, fomos logo alvo de um elogio do Comércio do Porto (creio que, como sempre, pela pena de M. Correia de Brito), que disse uma coisa óbvia (mas mais ninguém o disse!...) e sobretudo encorajante, para quem está a começar. Escreveu ele:

“O grupo de Valongo é o único concorrente do Torneio Início que merece uma distinção especial, pelo facto de não se intimidar em aparecer junto de clubes da

I Divisão, apesar de só o ano passado ter iniciado a sua actividade.

Sem temor das derrotas, mas compreendendo que estabelecendo contacto com os melhores grupos (é) que se aprende, a equipa de Valongo fez uma boa estreia, perdendo á certo porque a superioridade do adversário foi evidente, mas obtendo um resultado lisonjeiro que, com mais sorte, até poderia ter sido mais nivelado.”

(Cf. RJ, 19570404_CP).

Depois, voltaram as derrotas demolidoras: 9-0, com o Vigorosa (que era, com o Infante de Sagres e o Académico, um dos grupos fortes da 1ª Divisão do Norte); 18-1, com o Infante; de novo 10-2, com o Vigorosa.

Entretanto, começou o Campeonato da 2ª Divisão, agora com 8 clubes, mais dois do que no ano anterior, e, no primeiro jogo, com o Boavista, no rinque deles, perdemos por 4-2. Porém, no segundo jogo, em Valongo, contra o Candal, conseguimos o nosso primeiro resultado volumoso (eufórico!!) de 7-3!

Em Paredes, perdemos por 6-2 e é um jogo de que fiquei com uma péssima recordação. Primeiro, porque, com razão ou sem ela (provavelmente, sem ela), havia uma rivalidade mal-humorada com Paredes, oriunda não sei de que agravos, portanto nunca quereríamos perder em Paredes…; segundo, porque me calhou apontar um penalti, coloquei a bola na marcação devida, no recinto, e a bola começou a rolar sozinha; então, eu voltei e colocar a bola na marca… e ela voltou a deslocar-se…; à terceira vez em que tal aconteceu, o árbitro, em vez de fazer o que lhe competia, que era ajudar-me a parar a bola ou chamar alguém que o fizesse… resolveu apitar para interromper

o penalti e… mandar prosseguir o jogo!!... Fiquei furioso e a partir daí parece que tudo nos correu mal! Detestei o jogo, o ambiente criado e o árbitro!

O jogo seguinte, em Valongo, foi de euforia! Aquele mesmo grupo, o Centro Universitário, que, em 1956, no Lima, nos derrotara por 10-2, veio perder na “eira” por 8-2!! Foi o tal jogo em que, por artes mágicas, ajudadas pelos ensinamentos do António Figueiredo, eu marquei 7 (sete!) golos de penalti, e ainda falhei três! O Eugénio marcou o 8º golo. (Cf. RJ, 19570619_CP).

Ia haver um segundo desafio com o Boavista, em Valongo, no dia 6 de Agosto e, nesse mesmo dia, uma nota a anunciar o jogo comentava que ele podia “ser capital para os valonguenses, que ainda aspiram ao título” e que por isso o tinham de ganhar. Infelizmente, não foi o que aconteceu: perdêmo-lo por 4-2.

De seguida, ganhámos ao Candal e empatámos com o Paredes. Houve, neste jogo, uma tentativa de agressão de um jogador do Paredes que deu origem a um inquérito de que resultou a punição desse jogador com 2 jogos de suspensão (Cf. RJ, 19571009_CP).

Porém, o grande jogo emotivo foi o seguinte, com o Vilanovense, em Valongo, que ganhámos por 7-4. A notícia do Comércio do Porto diz que “a partida foi das mais emotivas e das melhores do campeonato. A luta foi sempre viva e há a destacar a boa exibição da turma local.” E acrescenta: “Se não fosse a pouca sorte de Loureiro, o caso podia (ser) falado.” Já me lembro mal do que se passou, mas creio que o comentário se refere a dois penaltis que falhei… Acontece. Foi um dos jogos em que se mostrou o Eugénio goleador: à conta dele, foram 5 tentos! (Cf. RJ, 19570820_CP).

Vieram depois duas vitórias folgadas: 9-1, contra o

Leixões, em casa deles, e 9-2, contra o Póvoa, em Valongo (RJ, 19570825_CP e 19570830_CP).

Acabámos por ficar em segundo lugar na classificação final, atrás do Boavista, que ganhou o Campeonato brilhantemente, com apenas uma derrota.

O ano de 1958 iniciou-se com a participação na Taça de Honra do Norte, em que o Valongo começou por ganhar por uma margem expressiva – 9-3 – ao Paço de Rei, para a seguir perder, igualmente por uma diferença pesada – 6-1 – com o Boavista. O primeiro jogo em Valongo e o segundo no rinque do Infante (cf. RJ, 19580417_CP e 19580424_CP).

No fim desse mês de Abril, o Valongo deslocou-se ao rinque do Académico, para jogar e perder com os residentes por 8-3. É preciso lembrar que o Académico era uma das mais fortes equipas da 1ª Divisão nortenha, pelo que o resultado de algum modo surpreendeu os comentadores, que acharam que o Valongo tinha oferecido uma resistência notável. Na vinda do Académico a Valongo, a ADV foi de novo derrotada, aí contra uma expectativa legítima (por, como diz a notícia, “ser difícil ganhar em Valongo, onde o grupo local animado pelo seu público já pôs em sérias dificuldades os melhores conjuntos”), porque o Académico exibiu uma equipa praticamente nova, com elementos de grande valor, oriundos dos juniores. O resultado final foi de 14-3.

Nova derrota em Valongo, contra o Boavista, por 6-0. Assim terminou a Taça de Honra, com o Valongo em 3º lugar, atrás do Académico (1º) e do Boavista (2º) e à frente do Paço de Rei (4º). (Cf. RJ, 19580501_CP e 19580509_CP).

Em Julho, teve início o Campeonato Regional da 2ª Divisão, com uma vitória, em Valongo, sobre o Centro Universitário, por 7-1. Infelizmente, a notícia não forneceu a composição das equipas nem o nome dos marcadores. (RJ, 19580704_CP).

Depois, o Valongo foi perder a Matosinhos com o Leixões, por 4-3, embora, pelo teor da notícia, pudesse ter ganho. (RJ, 19580708_CP).

No dia 13, em Valongo, a equipa ganhou ao Espinho por 4-1, num jogo marcado por dureza e excessos, segundo a notícia, e pela expulsão de Armindo (RJ, 19580714_CP)

De seguida, empatou com o Candal por uma bola e ganhou ao Vilanovense por 3-1, num jogo em que, a 5 minutos do fim, estávamos empatados a uma bola. (Cf. RJ, 19580718_CP e 19580722_CP).

No jogo seguinte, o Valongo foi à Póvoa vencer pela expressiva marca de 7-1, que o colocou no 1º lugar da tabela classificativa e ajudou a criar algumas expectativas. (RJ, 19580725_CP).

Porém, no rinque do Lima, foi perder com o Centro Universitário por 4-3, o mesmo Centro que vencera em Julho por 7-1. (RJ, 19580801_CP). E 10 dias depois, perdia com o Espinho por 3-1, em Espinho (RJ, 19580811).

Os embates seguintes foram coroados por 3 vitórias, uma muito expressiva: 4-2 ao Candal (RJ, 19580815_CP); 2-0 ao Vilanovense, na casa deles (RJ, 19580819_CP); e 12-2 ao Póvoa, em Valongo (RJ, 19580822_CP).

O jogo seguinte dá início a uma situação que é um duplo imbróglio: por um lado, não obtive informação sobre o papel do Caldas das Taipas nos dois jogos seguintes; por outro lado, a eliminatória de que falam as notícias revestiu-se de aspectos difíceis de entender e que, objectivamente

prejudicaram a ADV, independentemente de o grupo não estar porventura na sua melhor forma. Uma das notícias diz mesmo que o fraco resultado obtido no primeiro jogo contra o Taipas, 6-5, se deve ao “facto de os seus jogadores raramente treinarem, (o que) tira-lhes aquela vivacidade característica e que os guindou ao segundo lugar do campeonato regional da II Divisão.” (RJ, 19581111_CP).

O Campeonato Regional da 2ª Divisão de 1957, em que o Valongo ficou no 2º lugar (havia a expectativa inicial de que poderia ganhar o campeonato) foi jogado por 7 clubes: Centro, Valongo, Leixões, Espinho, Candal, Vilanovense e Póvoa. Não sei explicar como aparece aqui o Caldas das Taipas, numa eliminatória.

No dia 10 de Novembro, o Valongo ganhou ao Taipas por 6-5, creio que em Valongo, embora a notícia não o diga. Depois, em 13 de Novembro, nas Caldas das Taipas, o clube local ganhou à ADV por 4-3. (RJ, 19581111_CP e 19581114_CP).

Deveria haver a seguir um terceiro jogo para decidir a eliminatória. É aí que surge a grande confusão.

Ao que parece, a Federação tinha criado um Regulamento próprio para o campeonato nacional, cujo artigo 6º, parágrafo 1º mandava “sortear os recintos dos dois clubes que, ao cabo de duas mãos se mantêm empatados e que assim terão de realizar um jogo de desempate”. Posteriormente, a mesma Federação emitiu um comunicado, não se sabe com que intensão, que foi interpretado, ao que parece por árbitros e clubes, como anulando este artigo 6º e estabelecendo novas regras. Pelos vistos, sem razão. O comunicado n.º 17 dizia:

“DESEMPATES – Após o árbitro do encontro da 2ª mão haver efectuado o sorteio do rinque onde o desempate se realizará, o mesmo terá lugar:

a) No dia seguinte, se houver acordo entre os interessados;

b) No sábado imediato, em caso contrário.”

A interpretação feita pelo jornalista do Comércio do Porto foi a de que a diferença entre os dois normativos era que o regulamento mandava escolher entre os rinques dos dois clubes empatados, enquanto o Comunicado permitia a escolha de um terceiro rinque. Creio que, como muitas vezes acontecia, o jornalista obteve esta interpretação de forma e fonte oficiosa, porque ela não decorre deste texto do Comunicado 17. A única coisa que dele deriva é a regulamentação do tempo de efectivação do desempate: a primeira frase remete nitidamente para o texto do artigo 6º do Regulamento e as duas alíneas regulamentam a gestão do tempo de actuação. O que significa que se mantinha em vigor a regra do artigo 6º do Regulamento.

Embora no final do segundo jogo o árbitro tivesse realizado o sorteio, ele foi aceite sob reserva pelos dirigentes do Valongo, que punham em dúvida se era isso que mandava o regulamento. Telefonaram por isso, no dia seguinte, para a APP e esta foi de opinião que o desempate deveria ser realizado em Famalicão. Porquê Famalicão? Provavelmente foi esse o rinque escolhido no sorteio… Seria? Entretanto, o Taipas também falou com a Federação, que sobranceiramente disse que a APP não tinha que marcar jogos e que o jogo devia ser jogado nas Taipas. Este desentendimento deu como resultado que a equipa do Valongo se deslocou para o rinque de Famalicão, onde era suposto ir defrontar o Taipas para o 3º jogo, enquanto o Taipas se apresentou no o seu próprio rinque, onde da Federação lhe teriam dito que se devia realizar o jogo. Como o Valongo não compareceu nas Taipas, porque estava em Famalicão (!), foi-lhe marcada falta

de comparência e uma derrota por 5-0!! (RJ, 19581116_CP).

Sabe-se que o Valongo enviou uma longa exposição-protesto à Federação, mas não há notícia explícita de qual foi a resposta. Deve ter sido positiva, porque a verdade é que se realizou o terceiro jogo (que tinha sido considerado perdido pelo Valongo, por falta de comparência) nas Taipas, no dia 20 de Novembro, e o Valongo perdeu por uma soma surpreendente – 7-1 – o que significa pelo menos um grande desalento, decerto provocado ou ao menos potenciado pelo imbróglio e talvez associado a um mau momento. (RJ, 19581118_ CP, 19581121_CP).

O que resta é um triste panorama de descoordenação entre a Federação e a Associação do Porto e um deficiente entendimento do papel legislativo da Federação, ao produzir um comunicado que deveria

ter sido devidamente explicado aos destinatários, o que, de toda a evidência, não aconteceu.

Ainda em 1958, infelizmente não sabemos o dia nem o mês, deu-se outro acontecimento relevante na história do clube; foi inaugurada a nova sede, no n.º 173 da Rua do Padrão, ali a uns 50 metros do rinque da Praça. Houve uma pequena festa de que só temos fotografias quase estragadas. Mesmo assim, são um testemunho.

Aquilo que me parece mais notório, em 1959, neste 4º ano de actuação da ADV em campeonato, é, por um lado, um certo desequilíbrio do comportamento da equipa de uns jogos para os outros e, por outro lado, a modificação da condição de alguns adversários, que melhoraram o seu desempenho.

O ano principia com uma notícia duplamente boa: que o Armindo Fonseca fora seleccionado para uma equipa que iria jogar a Montreux. Boa para ele e para o clube, claro. (RJ, 19590220_CP).

Começa então a Taça de Honra, com os clubes distribuídos por 3 séries, tendo a ADV ficado na série A, com o Porto, Educação Física, Infante de Sagres e Leixões.

O Valongo – apesar de alguns brilharetes, como impor ao Infante um empate a 3 bolas e depois forçar uma vitória escassa, por 1-0, no seu rinque (19590507_CP e 19590604_CP) – acabou por ser afastado com várias derrotas da “poule” final, que ficou constituída pelos clubes Infante de Sagres, F. C. do Porto, Académico, Vigorosa, Académica de Espinho e Carvalhos, e foi incluído na “poule” dos vencidos.

Nessa condição, ganhou, no Bessa, no dia 15.06, ao Paço de Rei, por 3-2 e ao Leixões, por 2-0. E

1958 De pé: Loureiro, João Lino, Carlos Camões. Em baixo: Eugénio, Navio, Chico Bártolo, Armindo.

no dia 22, passados 7 dias, perdeu com o mesmo Paço de Rei, agora em sua casa, por 8-2!! (RJ, 19590616_CP, 19590620_CP, 19590623_CP).

A sequência foi uma vitória sobre o Boavista, nas Cavadas, por 4-1, e três sucessivas derrotas: no Bessa, com o Leixões, por 4-2; com o Espinho, em Espinho, por 4-1; até com o Candal, em sua casa, por 3-2. (RJ, 19590626_CP, 19590916_CP, 19590919_CP, 19590927_CP).

Em 30.09 e em 09.10, a ADV obteve três vitórias em Valongo: contra o Vilanovense – 3-0; contra o Paço de Rei – 5-4; e contra o Leixões – 6-5 (RJ, 19591001_CP, 19591010_CP, 19591019_CP). A seguir, a ADV perdeu com o Espinho, em casa deles, por 6-1, e com o Candal, em Valongo, por 4-3. (RJ, 19591023_CP, 19591027_CP).

Ganhámos um último jogo, ao Paço de Rei, em casa deles, por 7-1, e o campeonato terminou com o clube classificado no terceiro lugar, atrás do Espinho (1º) e do Leixões (2º).

Em 1960, no último destes 5 anos iniciais, as coisas correram melhor à ADV, porque acabou por conseguir alcançar o 2º lugar da tabela final, tendo rondado durante todo o tempo o primeiro.

O início do Campeonato, no mês de Maio, foi promissor: a equipa fez 6 jogos somando vitórias: 5-1, contra o Vilanovense; 5-4, contra o Educação Física; 5-1, contra o Candal; 15-0, contra o Póvoa; 4-1, contra o Leixões; 6-3, contra o Nun’Álvares. (RJ, 19600504_CP, 19600505_CP, 19600510_CP, 19600512_CP, 19600517_CP, 19600519_CP).

Só veio a perder, de novo com o Paço de Rei, no rinque deles, por 3-1, tendo ganho, de seguida, em Valongo, ao Vilanovense, por 10-2. 1 (RJ, 19600524_CP, 19600616_CP).

O jogo que decidiu o vencedor do campeonato realizou-se no dia 22 de Junho, entre o Educação Física e o Valongo, na Senhora da Hora, e a equipa perdeu por 4-1. Embora o adversário tenha sido superior, segundo a notícia, também o azar afectou o Valongo: Camões meteu um golo na própria baliza. (RJ, 19600623_CP).

Nos jogos restantes, o Valongo ganhou ao Candal por 17-2; ao Póvoa por 4-2, na Póvoa; ao Leixões, por 5-2; ao Nun’Álvares, por 17-0; ao Paço de Rei, por 5-1. (RJ, 19060629_CP, 19600707_CP, 19600714_CP, 19600721_CP, 19600723_CP).

Em boa verdade, o primeiro lugar só veio a decidir-se perto do fim, quando o Ediucação Física venceu o Paço de Rei por 7-3. Se tal não se veriticasse, teria de haver uma finalíssima com o Valongo, visto que tinham terminado o campeonato empatados em pontos. Entretanto, o Educação Física tinha protestado o jogo anterior com o Paço de Rei e foi a autorização de repetir o jogo que lhe permitiu a vitória final. (RJ, 19600726_CP, 19600813_CP, 19600814_CP).

E assim ficámos em segundo lugar, atrás do Educação Física, note-se, com o mesmo número de pontos (29), de vitórias (11) e de derrotas (2), mas com menos golos marcados (73 contra 90) e mais golos sofridos (23 contra 13).

A equipa jogou muito bem, mas o Educação Física apresentou uma fomrção bem estrutrada e com valor. De qualquer modo, o resultado poderia e esteve quase a ser o inverso: esse é um dos cenários muito comuns no hóquei em patins.

Neste ano, começaram a alinhar na equipa novos jogadores: o Adalberto, o Joaquim Manuel Leal, o Álvaro Figueira, que aliás já tinha jogado antes

esporadicamente, o Domingos Cruz, o José Camilo e o Francisco Pires

Os anos 60 1961

Neste ano de 1961, o Torneio de Abertura contou com 13 clubes inscritos, que foram distribuídos por 3 séries, tendo a ADV ficado na terceira, em companhia do Académico, do Salgueiros e do Paredes.

O início não foi auspicioso: o Académico veio ganhar a Valongo por 4-3 e o Valongo foi perder a Paredes por 5-4 e depois no Lima, com o Salgueiros, por 3-2.

No segundo jogo com o Académico, também, no Lima, o Valongo conseguiu impor um empate a duas bolas, o que deve ser entendido como um início de recuperação da forma anterior da equipa. Porque, no segundo jogo com o Paredes, agora em Valongo, a ADV ganhou por 4-3, e no jogo seguinte, com o Salgueiros, conseguiu uma vitória por 6-3 (RJ, 19610308_CP, 19610312_CP, 19610316_CP, 19610407_CP, 19610414_CP, 19610421_CP).

Ficou assim no segundo lugar da tabela da sua série.

Os jogos seguintes foram com os outros “pesos pesados” da 1ª Divisão, o Vigorosa, com que perdeu, nas Cavadas, por 3-2, e o Porto, a quem ganhou, em Valongo, por 3-1.

Foi a primeira vitória sobre o F. C. do Porto, que haveria de repetir-se algumas vezes e que era sempre gostosa, porque o Porto era uma equipa forte e difícil, que nos levava os melhores jogadores, quando podia…

A notícia sobre o jogo refere a saída de Navio para o serviço militar, na Guiné (RJ, 19610909_CP, 19610913_CP).

Nos dois jogos seguintes, o Valongo perdeu para o Académico, no Lima, por 6-2, e para o Infante, em Valongo, por 4-2. Nos jogos que vieram depois, ganhou ao Sanjoanense por 4-1, perdeu com o Espinho por 7-2, ganhou em Valongo ao Educação Física por 2-1 e voltou a perder com o Escola Livre, em Oliveira de Azeméis, por 6-3. O comentador refere que a vitória sobre o Educação Física, embora escassa, foi importante, porque esta equipa está a jogar bem (RJ, 19610916_ CP, 19610920_CP, 19610923_CP, 19610927_CP, 19610930_CP, 19611004_CP).

O Valongo acabou colocado no 5º lugar da tabela final, atrás de 4 dos grandes da época: Infante, Espinho, Académico, Educação Física.

1962

O Torneio de Abertura do ano de 1962, em que o Valongo ficou integrado na série B, começou com uma vitória sobre o Nun’Álvares, nos Carvalhos, por 2-1, e uma derrota, também nos Carvalhos, mas contra a equipa da casa, por 3-1.

O comentador assinala a brecha deixada na equipa com a saída de Navio, “que o ano passado fez uma boa época,” mas acha que ela “tem, no entanto, possibilidades para repetir, pelo menos, a excelente carreira da época passada, no Campeonato Regional.” (RJ, 19620222_CP, 19620301_CP).

Em 8 de Março, a ADV estava a ganhar ao Boavista, em Valongo, por 4-0, quando o jogo foi interrompido pelo árbitro, na 2.ª parte, por causa da chuva forte que se mantinha desde o início.

Os jogadores locais e o público protestaram. (RJ, 19620310_CP).

Mais tarde, no dia 14, a equipa perdeu em Gaia, contra o Vilanovense, por 2-0. De seguida, averbou duas vitórias: contra o Educação Física, por 3-2, e contra o Boavista, por 3-1, jogos em Valongo. Este último jogo, contra o Boavista, foi a repetição daquele que o ábitro interrompeu, por causa da chuva. (RJ, 19620316_CP, 19620322_CP, 19620324_CP).

Com este último jogo terminou a fase de apuramento do Torneio de Abertura, em que o Valongo não ficou apurado.

Entretanto, começou o Campeonato Regional da 1.ª Divisão em que o Valongo, “a registar uma pequena crise, não parece com a mesma disposição da época passada, a que não é estranho o facto de o grupo ainda não ter a preparação necessária”, segundo a notícia do Comércio.

Com o primeiro jogo veio uma derrota pesada, em casa, contra o Vigorosa, por 8-4, seguida de novo desaire, na Constituição, contra o Porto, por 3-2. O comentador diz que houve duas notas antipáticas neste jogo: a primeira foi que o Porto gastou 10 penaltis para marcar um golo (o que significa que desperdiçou 9) e a segunda era que “o jogo foi extremamente quesilento e antipático, pela série de cargas e violências de ambos os grupos no segundo período.” (RJ, 19620526_CP, 19620529_ CP).

Oito dias depois, a 4 de Junho, o Valongo bateu o Académico, em casa, por 4-3, o que foi considerado uma “facécia”, dado que o Académico continuava a ser um dos grandes clubes do Norte. (RJ, 19620605_CP).

A seguir, acontecem uma vitória importante e um derrota-surpresa: o Valongo ganha ao Leixões, por

1962. De pé: Armindo, Albino, Zé Camilo, Carlos Camões. Em baixo: Eugénio, Chico Pires, Mário.

6-4, em Matosinhos, e perde em casa com o Escola Livre, por 4-2. (RJ, 19620609_CP, 19620613_CP).

Aparece, pela primeira vez, uma notícia sobre o grupo de Juniores do Valongo, batido em casa pelo Infante de Sagres, por 1-0. (RJ, 19620613_CP).

A 14 ou 15 de Junho, o Valongo perdeu em Espinho, por 5-3, e voltou a perder em Valongo, onde o Infante de Sagres veio mostrar que continuava a ser uma grande equipa de hóquei em patins e ganhou por 8-3 (19620616_CP, 19620619_CP).

Houve então um empate, por 2-2, na Senhora da Hora, com o Educação Física e surge ums nova notícia sobre os Juniores do Valongo, que foram aos Carvalhos arrecadar uma vitória considerada “robusta” e “uma grande surpresa”, por inesperada: 6-2. Não consigo registar aqui os nomes dos “heróis”, porque o jornal não os fornece. (RJ, 19620623_CP, 19620625_CP).

Há que referir nova derrota em Valongo, onde a Sanjoanense veio ganhar por 4-2, num jogo em que a equipa chegou a ter a vantagem de 2-0 e em que se gerou mal-estar, com reclamações do público, porque o árbitro não dava ordem para parar o cronómetro, quando interrompia o jogo, o que foi frequente (RJ, 19620626_CP).

Nova notícia sobre os Juniores, que venceram, por 4-0, o Vilanovense, em Valongo e assim se posicionaram para a ‘poule’ final, ao lado do Infante, Académico e Vigorosa A.

E agora, sim, já posso fornecer os nomes: Moreira, Augusto (1), Américo, Jaime, Manuelsinho (3), Cruz, Delfim e Piscos. (RJ, 19620702_CP).

Regista-se um último jogo em Valongo, com o Porto e à chuva, que fornece um empate a um golo.

Aparece a jogar, pela primeira vez nos Seniores, o José Nora, alinhando pelo Porto.

No final do Campeonato, o Valongo ficou na modesta posição de penúltimo, num conjunto de 10 equipas. (RJ, 19620714_CP).

1963

No início do ano de 1963, o jornalista e comentador do Comércio do Porto várias vezes citado aqui, Manuel Correia de Brito, faz uma longa apreciação dos clubes que tinham actuado no ano anterior no âmbito do Campeonato Regional da 1.ª Divisão e, quanto à equipa da ADV apenas refere: “o Valongo tem problemas militares de alguns jogadores”.

O ano desportivo hoquista, começou, como de costume, pelo Torneio de Abertura, e o primeiro jogo de que temos notícia é o de uma derrota por 2-1, nos Carvalhos, contra o gupo da casa.

Regista-se, neste jogo, o aparecimento do José Nora na equipa da ADV.

Houve a seguir um empate em casa, por 3-3, com a Sanjoanense, que era na altura um clube em alta.

É também neste momento que aparece, pela primeira vez, na equipa do Valongo, o Américo

Moreira. (RJ, 19630321_CP, 19630326_CP).

Na nona jornada do Torneio, o Valongo venceu em casa a jovem formação Patim, recém-chegada, por 10-0. Sem história. (RJ, 19630404_CP).

Os jogos marcados para dar início à primeira jornada do Campeonato Regional da 1ª Divisão, no dia 24 de Maio, foram adiados, por causa da chuva que cemeçou a cair a partir das 17 e não mais parou. Registo o facto para que se perceba como cada vez mais se fazia sentir, em todos os clubes, em todas as pessoas ligadas ao hóquei em patins, a necessidade de rinques cobertos. Que não eram fáceis de conseguir, por serem muito mais caros que os descobertos.

E foi mesmo um rinque descoberto que por esses dias, em 26 de Maio, teve a sua inauguração em Fânzeres, por entusiasmo e entrega de um grupo de pessoas ligadas ao clube local e amantes do hóquei. O Valongo foi convidado para defrontar o F. C. do Porto no jogo inaugural, amigável, e venceu-o por 5-3. O piso, diz o cronista, estava escorregadio… por causa da chuva… (RJ, 19630527_CP).

A ida a S. João da Madeira teve como resultado mais uma derrota, por 6-2, com a Sanjoanense, que atravessava um período de grande produtividade desportiva. Foram o Nora e o Américo a marcar os nossos únicos dois golos. (RJ, 19630528).

E, entretanto – porque o desporto é feito destas ironias – no mesmo dia e no mesmo rinque, as Reservas do Valongo ganhavam às da Sanjoanense por 3-0… (RJ, 19630528).

Este mesmo grupo das Reservas valonguenses foi ao rinque das Cavadas ganhar ao Vigorosa por 5-1, no dia 3 de Junho. E no dia 7, empatou com o Espinho, em Valongo, por 4-4 (RJ, 19630604_CP, 19630608_CP).

Nesse mesmo dia, 7 de Junho, a equipa sénior empatou com o Espinho, em Valongo, por 5 bolas. (RJ, 19630608_CP).

Uma semana depois, em princípio no dia 14, os Seniores foram à Senhora da Hora ganhar ao Educação Física por 5-1, enquanto a equipa de Reservas empatava, no mesmo dia e mesmo rinque, com as Reservas do Educação Física, por 3-3. (RJ, 19630615_CP).

Houve então um acontecimento significativo e devidamente assinalado pelo comentador habitual: o Valongo empatou em Fânzeres com o Infante, por 5-5, sendo que o Infante esteve quase toda a primeira parte em desvantagem, perdendo por 3-0 e 4.1. Isto quer dizer que o Valongo estava a subir a sua capcidade técnica e a conseguir dar melhor conta de si. A notícia do Comércio do Porto assinala-o: “O grupo de Valongo, a dar agora muito mais rendimento, principia a mostrar-se como equipa para grandes surpresas”.

No mesmo dia e local, as Reservas ganharam às do Infante por 2-1. (RJ, 19630618).

O obstáculo que a equipa não conseguira ainda ultrpassar (chegaria o seu tempo…) chamava-se Académico, que veio a Valongo, no dia 29, ganhar em Seniores, por 8-0, e em Reservas, por 6-1. (RJ, 19630630_CP).

Os jogos seguintes, provavelmente em 1 de Julho, saldaram-se também em derrotas, agora contra equipas que não possuíam o gabarito das do Académico ou do Infante, embora a dos Seniores estivesse em crescimento. E foi assim que perdemos, em Valongo, com o Carvalhos, por 4-2, e com as Reservas do Carvalhos por 5-2. (RJ, 19630702_CP).

A seguir, sucederam-se derrotas várias, que traduziam, não tanto a baixa de forma do Valongo, mas

a subida ou a manutenção de competência dos outros grupos.

Perdemos com o Vigorosa, nas Cavadas, por 4-2; com o Carvalhos, na casa deles, por 3-2; com as Reservas do Carvalhos, por 13-0; com a Sanjoanense, em Valongo, por 6-3; com o Vigorosa, em Valongo, por 5-3; com as Reservas do Vigorosa, no mesmo dia e local, por 3-1; com o Infante, no rinque deles, por 5-1. (RJ, 19630706, 19630709, 19630713, 19630720, 19630730).

Finalmente, o Valongo conseguiu vencer o Vilanovense, a 2 de Agosto, em Valongo, por 5-3, num jogo inserido na penúltima jornada do campeonato. (RJ, 19630803).

A última jornada jogou-se a 5 de Agosto e nela o Académico venceu o Valongo, em Gondomar, no rinque do Fânzeres, por 3-0, e com esta vitória sagrou-se campeão do Campeonato Regional da 1ª Divisão. (RJ, 19630806_CP).

Seguiu-se a disputa da Taça de Portugal – 1963, em substituição dos Campeonatos Nacionais da 1ª e 2ª Divisões, não ralizados, ao contrário do que estava decidido, por falta de verba.

A Taça teve uma composição em duas Zonas, Norte e Sul. A Zona Norte integrava os 10 participantes do Campeonato da 1ª Divisão do Porto, os 6 do Campeonato Distrital de Braga, os 3 do Campeonato Distrital de Coimbra, os 2 primeiros classificados do Campenato Regional da 2ª Divisão do Porto. Será disputda em duas fases: uma primeira de apuramento, eliminatória, e uma segunda em ‘poule’. (RJ, 19630919_CP).

O primeiro jogo do Valongo foi com o Famalicão, em Valongo, que a ADV ganhou por 4-3. O segundo jogo, com o Famalicão, em sua casa, saldou-se num empate a 2 golos. O Valongo passou assim à segunda fase. (RJ, 19630929_CP).

O primeiro e o segundo jogos da segunda fase realizaram-se em Valongo e saldaram-se em vitórias: com o Vilanovense, talvez no dia 6 de Outubro, ganho por 4-3; com a Sanjoanense, talvez em 16 de Ooutubro, ganho por 3-1. (RJ, 19631007_CP, 19631017_CP).

No jogo de desempate, em São João da Madeira, a Sanjoanense, venceu por 5-3, anulando a vantagem das duas bolas que o Valongo trazia da fase anterior. (RJ, 19631020).

Infelizmente não foram registadas mais notícias desta Taça de Portugal. Chegou, porém, uma boa notícia: o regresso de Joaquim Navio às lides do clube, depois da sua prestação do serviço militar na Guiné. (RJ, 19631116_CP).

1964

Na acta da Assembleia-Geral da ADV de 2 de Fevereiro de 1964, o Presidente da Mesa exprimiu votos de congratulação pela volta do atleta Joaquim Navio da província da Guiné e agradeceu-lhe a dedicação que mostrou ter ao clube, ao prontificar-se a defender novamente as suas cores.

O ano de 1964 começou, como era habitual, com o Torneio de Abertura e, no primeiro jogo, com o Candal, na casa deles, o Valongo ganhou por 4-1. (RJ, 19640307).

Depois, houve uma boa surpresa, em São João da Madeira, no dia 9 de Março, quando o Valongo venceu o Porto.A por 3-1. O comentador habitual não deixa dúvidas:

“… a grande surpresa foi a derrota da melhor equipa azul branca que durante a primeira parte se deixou dominar pelo maior entusiasmo dos jogadores do

Valongo. Com 2-0 ao intervalo, o vencedor jogou sempre de molde a justificar o êxito final.” (RJ, 19640310_CP).

A seguir, o Valongo ganhou ao Candal por 4-2, a 20 de Março, e ao Espinho, na casa deste, por 4-3, a 27.

Com esta última vitória, a ADV ganhou a Série A do Torneio de Abertura e tornou-se o único grupo indiscutivelmente apurado para a fase final (RJ, 19640321, 19640328).

Aparece o Rogério Alves a jogar na ADV.

E surge uma notícia da transferência do jogador José Augusto M. Pires, da ADV para o Fânzeres. (RJ, 19640501_CP).

Começa então a fase final do Torneio de Abertura, em que o Valongo defronta, em Valongo, primeiro o Boavista, e ganha por 3-1; e depois, o Centro Universitário, e ganha por 8-1. Aparentemente, os jogadores da ADV jogavam melhor com o piso molhado do que os do Centro, porque, durante a primeira parte, mantiveram um empate a uma bola, mas, na segunda parte, começou a chover e o resultado foi por aí acima…

De qualquer modo, logo aquando do jogo com o Boavista, o comentador habitual previa, com bom olho, que o vencedor do Torneio seria o Carvalhos ou o Valongo, dada a forma como estavam a dar resposta aos adversários.

Neste jogo, é assinalado, pela primeira vez, a jogar pela ADV Seniores, o José Augusto. (RJ, 19640504_CP, 19640505_CP).

O grande jogo, deste dia 8 de Maio, foi este, em que o Valongo ganhou ao Carvalhos, um dos favoritos ao título, por 5-3, em Valongo. O Carvalhos chegou a estar a ganhar por 3-0, já na 2ª parte, e a equia do Valongo, “impulsionada pelo seu público”, diz a notícia, conseguiu chegar ao final com uma vitória

muito forte. “O Valongo isolou-se no comando da poule final do Torneio de Abertura”, é o título da notícia, que, no entanto, adverte, que ainda nada está decidido. (RJ, 19640509_CP).

Aparece depois uma notícia que, como de costume diz o facto, mas não a origem do facto. Sob o título ”Acontecimentos registados em Valongo”, relata a suspensão do Torneio de Abertura e acrescenta que ele devia ter continuado nesse dia 15 de Maio, “mas a jornada ficou suspensa para a direcção da Associação apurar os acontecimentos registados em Valongo.”

Mais tarde, a 19, surge uma outra notícia, que parece ter ligação com esta, mas não o diz e refere, em título, “Os sérios inconvenientes do público estar junto das vedações”, algo que todos os jogadores estavam fartos de saber desde sempre e a que eu próprio faço menção na Nota a 19590425_CP, assim como no comentário a esta notícia de 19640519.

Seja como for, continuámos sem saber quais foram os acontecimentos registados em Valongo que originaram investigação da Direcção da APP, suponho.

A 18 de Maio, a ADV vence o Centro Universitário, no seu campo, por 6-1 e toda a gente se prepara para o jogo Carvalhos-Valongo, nos Carvalhos, que este tinha de ganhar ou então haveria uma “finalíssima”, que teria de realizar-se num pavilhão portuense, neutro. Soube-se que, prevendo esta hipótese muito verosímil, os apoiantes do Carvalhos já tinham contratado 20 autocarros, para os levarem ao pavilhão portuense escolhido, a apoiarem a sua equipa…

Foi tudo por água abaixo, porque, enquanto o Carvalhos ganhava ao Centro, no seu campo, por 6-4, o Valongo, na sua casa, no dia fatídico de 27

de Maio, empatava a 3-3 com o Boavista… Deste modo, o Carvalhos ganhou o Torneio de Abertura, que esteve ao alcance da ADV. A vedade é que todos diziam que os dois grupos se equivaliam. Vale a pena transcrever parte do comentário do jornalista do Comércio do Porto:

“Foi extrarodinariamente dramático o final deste desafio jogado em Valongo. A equipa local, que se pode dizer com toda a autoridade constituiu a grande novidade deste torneio de abertura, pois inclusivamente, na fase preliminar, afastou o grupo do F. C. do Porto da prova, teve um colapso inesperado, na parte final do jogo, depois de terminar a primeira parte a ganhar por 1-0. O Boavista, dando sempre réplica animosa, encontrou um Valongo eufórico e confiante em excesso e nos momentos finais da partida o resultado de 3-3 tirou todas as possibilidades aos locais.” (RJ, 9640528_CP).

Começou, entretanto, a Taça de Portugal, em 1 de Setembro, dia em que o Valongo defrontou o F. C. do Poto, na Constituição, e perdeu por 3-2. (RJ, 19640902_CP).

É anunciado o jogo Valongo-Porto, para o dia 4 de Setembro, mas não aparece nem relato do jogo, nem notícia do resultado. (RJ, 19640904_CP).

Sabe-se apenas, por uma notícia do dia 6, que a Sanjoanense e o Valongo tinham sido eliminados. O comentador habitual escreve:

“Terminou ontem a primeira eliminatória da Taça de Portugal e a lamentável ocorrência que se regista é a eliminação pura e simples de duas boas equipas: Sanjoanense e Valongo, enquanto na prova prosseguem grupos sem o mínimo de requisitos e, o que é mais perigoso, talvez alguma

delas possa eventualmente atingir a final. Enfim, efeitos duma cópia grotesca da regulamentação do tipo futebolista, onde o óquei em patins nada tem a aprender.” (RJ, 19640906_CP).

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2018, refere a ADV como vencedora, em 1963-64, da Série A do Torneio de Abertura.

1965

A acta da Assembleia-Geral da ADV, de 7 de Fevereiro de 1965, regista a entrega, pelo Presidente da Mesa da Assembleia, ao jogador Américo Carneiro Moreira da mefalha que lhe foi concedida pela Associação de Patinagem do Porto, pela sua actuação na Selecção do Norte, em Espanha.

No habituall Torneio de Abertura do ano de 1965, o Valongo foi visitar o Carvalhos, no dia 29 de Março e ganhou o jogo por 4-2. (RJ, 19650330_CP).

De seguida, obteve uma série notável de vitórias: ganhou ao C.D.U.P. por 10-0 e venceu outra vez por 10-0, em Valongo, o Vigoriosa.A; venceu de novo o Carvalhos por 7-4; ganhou ao Centro por 7-1. Depois, contra todas as expectativas, empatou com o Carvalhos, em Valongo, por 3 bolas! (RJ, 19650408_CP, 19650410_CP, 19650427_CP, 19650504_CP, 19650508_CP).

É preciso dizer que este último jogo já diz respeito ao Campeonato Nacional da 1ª Divisão, Zona Norte. Como tantas vezes aconteceu, o jornal não forneceu mais notícias sobre o Torneio de Abertura, que fora interrompido, por causa do começo do Campeonato…

O segundo jogo do Campeonato foi com o Espinho, a 14 de Maio, na cada deste, e saldou-se num empate a 2 bolas. Depois, em Valongo, no dia 17 de Maio, o Espinho perdeu por 16-1, “uma margem robustíssima”, diz a notícia. (RJ, 19650515, 19650518).

Em Braga, no dia 22, o Valongo empatou com o Académico de Braga por 3 bolas.

“Fez-se o sorteio do Campeonato Distrital de Principiantes, que registou somente a inscrição de três clubes: Valongo, Infante de Sagres e Carvalhos. (…)

Perante o manifesto desinteresse pela prova, patenteado pelos clubes do Porto, a Direcção da Associação faz justos e oportunos reparos (…) e resolve: a) adiar, sem dia, o início deste torneio;”

Notícia de 19650608_CP.

Foi retomada, no dia 21 de Junho, a disputa do Torneio Início do Porto e, no jogo em Valongo, contra o Carvalhos, a ADV venceu pela soma clara de 4-1. A notícia sublinha: “Na segunda parte, os jogadores locais, muito bem ambientados e moralizados pelo seu público, foram nitidamente superiores”. (RJ, 19650622_CP).

Continuação do Campeonato Nacional, desta vez na Constituição, no dia 25 de Junho, com o Porto, que acabou num empate a 4 bolas. A notícia diz:

“Na Constituição, numerosa assistência assistiu a um dos jogos mais emocionantes do campeonato. O resultado final está certo, mas o Valongo esteve mais perto do triunfo, que acabou por deixar escapar, com o seu sistema defensido e retenção de bola na rectaguarda, quando tinha duas bolas de vantagem. (…)

O Valongo ficou privado de Pires II quase

todo o jogo, por ter feito uma brecha no rosto.” (RJ, 19650626_CP).

Na mesma data do relato deste jogp, o Comércio do Porto insere uma notícia muito elogiosa para Nora, cujo único senão (da notícia) é vir – mais uma vez!! – relevar que ele e outros jogadores foram atletas “ensinados” pelo F. C. do Porto. De qualquer modo, a notícia possui uma autonomia que merece destaque:

“O Valongo alinhou ontem com nada menos de quatro ex-juniores do F. C. do Porto. Camilo, Pires II, Américo e Nora, com relevo para o último, que voltou a realizar grande exibição. Por mérito próprio e sendo da mesma estirpe de Livramento, pode ser sem favor o companheiro do benfiquista na selecção nacional e, ambos com a mesma idade, 23 anos, podem resolver os grandes problemas atacantes do grupo português.” (RJ, 19650626).

Os Juniores da ADV ganharam ao Fânzeres, em Valongo, por 9-4, no dia 26 de Junho. E no dia 3 de Julho, voltaram a gamhar, agora ao Boavista, no rinque deles, por 13-0. (RJ, 19650627, 19650704).

E os Seniores foram ao Infante cometer uma enorme proeza: ganharam po 1-0. O comentador do Comércio do Porto não deixa de assinalar:

“Registe-se novo êxito da jovem e prometedora equipa do Valongo, que bateu o Infante de Sagres no próprio ambiente do clube vencido.” (RJ, 19650629).

Novo êxito, agora frente ao Académico, a quem o Valongo venceu por 5-2. O Comércio titulava: “Décimo oitavo jogo do Valongo sem perder”. (RJ, 19650703).

A seguir ao êxito com o Académico, nova vitória contra o Porto, no Torneio Início, por 4-2, em

Valongo, acompanhada pelo comnetário do jornalista atento:

“Em Valongo, a equipa local continuou a sua série triunfal, desta vez batendo o F. C. do Porto, num desafio renhido, equilibrado e pleno de emoção.” (RJ, 19650706_CP).

No prosseguimento do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Valongo foi duramente derrotado em São João da Madeira, pela Sanjoanense, por 8-1, no dia 9 de Julho. Diz o comentador habitual que estes “números expressivos dariam a ideia de um domínio absoluto, que não corresponde à verdade.”

E dá uma explicação: “foi notória a dificuldade e os embaraços dos visitantes em manobrar sobre piso de madeira”. (RJ, 19650710_CP).

No dia 11 de Julho, os Juniores perderam com o Porto.B, na Constituição, por 8-2. (RJ, 19650712_ CP).

De novo no Torneio Início, o Valongo perdeu nos Carvalhos, com o Académico, no dia 12, por 7-4. (RJ, 19650713_CP).

Agora no Campeonato, a ADV ganhou ao Vigorosa, em Valongo, no dia 16, por 8-4. (RJ, 19650717).

E de seguida ganhou à Sanjoanense, no dia 19, em Valongo, por 10-0! (10 dias depois de ter sido por ela derrotado por 8-1). A notícia dá de novo uma explicação: “Querendo-nos parecer que, tal como o Valongo tinha estranhado o piso de madeira em S. João da Madeira, assim a Sanjoanense pareceu mostrar-se perturbada ao actuar em piso de cimento, do que originou resultado tão desnivelado.” (RJ, 19650720_CP).

No dia 24, a equipa valonguense ganhou ao Conimbricense, por 8-1. (RJ, 19650725).

Nesta altura do ano, 26 de Julho, as classificações do Valongo eram o 5º lugar no Campeonato

Nacional e o 1º lugar no Torneio Início, seguido do Académino, do Porto e do Infante (RJ, 19650726_ CP).

A 7 de Agosto, os Juniores foram a Fânzeres ganhar por 4-3 (RJ, 19650808_CP).

Em mais um jogo do Torneio Início, a ADV foi aos Carvalhos vencer por 4-1, em 9 de Agosto, num desafio considerado difícil. (RJ, 19650810_CP).

Continuando no Torneio Início, em 16, o Valongo perdeu na Constituição com o Porto por 4-2, mantendo, apesar disso, o 1º lugar na tabela. (RJ, 19650817_CP).

A 20 de Agosto, registou-se um incidente desagradável: o Valongo jogava com o Académico, em casa, naquele que era considerado o jogo mais importante do Torneio, quando, a 16 minutos e 8 segundos da primeira parte, o jogo foi interrompido, porque “o delegado academista, nos cronometristas, mandou entrar os suplentes no recinto e mandou retirar a equipa do Académico, quando esta perdia por 1-3, ao que parece por recear os excessos de entusiasmo do público.” (RJ, 19650821_CP).

Em 23 de Agosto, o Valongo ganhou à Sanjoanense, em casa desta, para o Torneio Início, por 5-3. E, no dia 30, foi vencer o Vigorosa, nas Cavadas, por 6-2, para o mesmo Torneio. Como entretanto o Porto, que estava em segundo lugar, tinha ganho ao Vigorosa por 12-2 e ao Académico por 2-0, passou para o primeiro lugar a ganhou o Torneio, ficando o Valongo em 2º. O comentário do Comércio é, como quase sempre, adequado: “No rinque das Cavadas, o Valongo assegurou o seu triunfo sobre o adversário, mas isso não bastou para a equipa ganhar o torneio, que esteve muito perto de o merecer.” (RJ, 9650824_CP, 19650831_ CP)

Em Juniores, o Valongo ganhou ao Vigorosa por 9-1, em 4 de Setembro. (RJ, 19650905_CP).

Em 9 de Setembro, houve notícia de que a APP tinha interditado o rinque do Valongo por 3 jogos oficiais, ao que tudo indica, mas a notícia não o menciona, na sequência dos incidentes registados aquando do jogo Valongo-Académico, no dia 20 de Agosto. (RJ, 19650909_CP).

Voltando ao Campeonato da 1ª Divisão, o Valongo foi vencido nos Carvalhos, no dia 10 de Setembro, por 5-0, e venceu o Espinho, no dia 17, em Fânzeres, por 6-2. (RJ, 19650911_CP, 19650918_CP).

Talvez a 18, os Juniores foram derrotados em Espinho, por 4-3 e empataram, em Fânzeres, com o Carvalhos, a uma bola, talvez a 23 (RJ, 19650919_CP, 19650924_CP).

Um facto de assinalar, por inusual, foi a publicação, pelo Comércio do Porto, no dia 25 de Setembro, de uma foto, correctamente legendada, da equipa Sénior do Valongo, com a menção de estar a fazer “excelentes exibições na época em curso”. Isto só costumava acontecer com clubes antigos, com créditos firmados, como o Académico e o Infante e, claro, depois o Porto. (RJ, 19650925_CP).

Em mais um jogo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Valongo venceu a Académica de Braga, em Fânzeres, por 12-3. No jogo seguinte, ganhou ao S. Pedro do Sul, também em Fânzeres, por 21-3, num jogo que começou com mais de uma hora de atraso, por descuido do visitante. (RJ, 19650926_ CP, 19651003_CP).

Os Juniores do Porto vieram perder a Valongo por 3-2 e os Principiantes do Valongo ganharam ao Carvalhos por 7-1. Mais tarde, os Juniores do Valongo foram perder ao Carvalhos, por 3-2, e empatar com o Porto, na Constituição, a uma

bola, no dia 21 de Outubro. (RJ, 19651004_CP, 19651004_CP, 19651017_CP, 19651022_CP).

O jogo Valongo-Porto, marcado para Valongo, a 8 de Outubro, foi suspenso aos 5 minutos, por causa da chuva. A grande expectativa quanto a este jogo, para além da sempre existente rivalidade desportiva, era o facto de o Porto ter pedido o reforço dos efectivos da GNR em mais 35 praças, que foram deslocadas de várias localidades, como Santo Tirso e Póvoa do Varzim… (RJ, 19651009_CP).

No Lima, continuando o Campeonato Nacional, a ADV foi ganhar ao Académico por 2-1. Não houve incidentes com o público, como parece ter havido aquando do jogo em Valongo, em 20 de Agosto (19650821), mas aconteceram falhas técnicas, como o corte de luz de uma parte do recinto, que se julgou ser uma qualquer manobra, e um acidente com o guarda-redes titular, Pires, que teve de sair, atingido por uma forte bolada. (RJ, 19651016).

Num jogo considerado decisivo para o 3º lugar da Zona Norte do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Porto veio ganhar a Valongo, por 5-2, no dia 19 de Outubro, em que o Valongo chegou a jogar apenas com 3 elementos, devido a expulsões. (RJ, 19651020_CP).

A 22, o Valongo venceu a Sanjoanense por 3-2, em casa, e depois foi ganhar ao Vigorosa, nas Cavadas, por 6-0, a 29. (RJ, 19651023_CP, 19651030_CP).

Notícia lamentável de castigos aplicados pela APP a três jogdores da ADV, por incidentes no jogo do dia 19.10, em Valongo, com o Porto: 6 jogos de suspensão ao Nora; 10 ao Camilo; regime de suspensão, até conlusão de um inquérito, ao Pires. (RJ, 9651030).

Talvez a 6 de Novembro, mais um jogo interrompido por causa da chuva: Valongo-Conimbricence,

aos 17 minutos, quando o Valongo já ganhava por 4-0.

Vitória em Famalicão, a 13 de Novembro, por 8-2. (RJ, 19651107, 19651114).

Surge depois uma história rocambolesca que documenta bastante o funcionamento das instâncias decisórias do hóquei em patins entre nós.

O actual Campeonato Nacional tinha sido gizado em moldes que implicavam a participação de uma equipa representante do Ultramar e outra das ilhas, na parte final. Foi então decidido que a equipa que deveria representar as províncias ultramarinas, que era o Malhangalene, de Lourenço Marque, por divergências entre o então jogador-treinador Fernando Adrião e os dirigentes do clube, não viria a Lisboa disputar o campeonato. Assim sendo, deliberou a Federação que o 4º calssificado do Norte, o Valongo, e o 4º classificado do Sul, o Oeiras, fariam um jogo para saber qual deles iria ocupar o lugar deixado vago pelo Malhangalene. Só que apareceu um outro clube, o Atlético Clube de Moçâmedes, que se propos ocupar o lugar de Malhangalene, invocando a letra do regulamento, que previa a participação de um clube ultramarino no final do Campeonato. Cancelado o jogo Valongo-Oeiras, vem-se entretanto a saber que o Moçâmedes também não poderia estar presente em Lisboa nas datas previstas no calendário dos jogos, pelo que é reposto o jogo Valongo-Oeiras e os dois clubes, na data aprazada, dirigem-se para Leiria, com os incómodos e as despezas imagináveis, onde o desafio se iria realizar. É então que lá são informados que afinal não precisam de jogar, porque, com a desistência do União da Madeira, tanto o Valongo como o Oeiras ficaram automaticamente apurados… Isto tem um nome: chama-se desorganização e incompetência. E também, como se diz na

minha terra, muita burrice… (RJ, 19651123_CP, 19651124_CP).

O Campeonato continuou e o Valongo foi perder a São João da Madeira, por 3-1, desfalcado como estava do Nora e do Manuel Pires, suspensos. E perdeu de novo com o Porto, por 2-0 (RJ, 19651125, 19651128)

Houve, a seguir, uma série de jogos, no Pavilhão do Infante, maioritariamente perdidos: com o Oeiras, por 7-3; com o Campo de Ourique, por 3-1; com o Benfica, por 4-2; com a CUF, por 2-1; com a Sanjoanense, por 2-1; Ganhou ao Porto por 1-0; voltou a perder com o Infante, na sua casa, por 11-2.

(RJ, 19651205, 19651206, 19651206, 19651207, 19651210, 19651214, 19651216).

Após o apuramento, verificou-se a descida à 2ª Divisão do Conimbricence e do Braga, e a subida do Cucujães e do Candal. O Valongo ficou colocado em 4º lugar, num grupo de 12 clubes, atrás da Sanjoanense, do Infante e do Porto. (RJ, 19651230_CP).

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2019, refere a ADV como vencedora, em 1964-65:

- da Série B da Taça Rádio Desporto

- do Campeonato Distrital de Principiantes

1966

A acta da Assembleia-Geral da ADV de 6 de Fevereiro de 1966 regista vários factos relevantes.

Presidida, como sempre, desde há muito tempo, pelo Dr. João Alves do Vale, a Assembleia aprovou por aclamação as seguintes propostas:

- Um voto de agradecimento ao Presidente da Câmara Municipal de Valongo pelas suas atenções;

- um voto de agradecimento ao Dr. Salvador Paupério, pelos serviços clínicos prestados aos atletas do clube;

- um voto de agradecimento ao dirigente José Jorge Viterbo pela sua colaboração desinteressada e amiga na preparação técnica da equipa de seniores;

- um voto de agradecimento ao atleta José Joaquim Alves Nora pela prepração técnica das equipas de juniores e principiantes;

- um voto de agrdecimento ao Sr. Joaquim Dias de Almeida, pela cedência graciosa das suas instalações para a bilheterira dos jogos que realizamos no rinque;

- um voto de louvor aos esforçados atletas que honraram o clube com as suas actuações, destacando-se os atletas principiantes pela sua brilhante carreira e aprumo desportivo; e fazendo especial referência aos atletas Joaquim Navio, Joaquim Manuel Mendes Leal, José Joaquim Nora e Américo Moreira, que fizeram parte da Selecção do Norte, num jogo disputado com a do Sul, em homenagem ao guarda-redes da Selecção nacional Moreira;

- um voto de louvor ao Sr. José Manuel de Azevedo, na secção de Andebol, que, não sendo da terra, se tem mostrado grande amigo do clube. Foram eleitos os novos corpos gerentes para o ano que começa e, entre eles, destacam-se o Sr. José Alves Costa, Presidente da Direcção, e o Dr. João Lino Vale, Vice-Presidente.

No final, o Presidente cessante da Direcção, Sr. Joaquim Paupério, entregou ao Dr. João Lino Vale

o diploma de sócio honorário, que a Assembleia lhe tinha concedido na sessão anterior de 2 de Fevereiro de 1964.

No ano de 1966, o Torneio de Abertura teve 18 equipas inscritas e o Campeonato Regional de Juniores registou 13 inscrições, divididas umas e outras em duas séries. A ADV ficou na série A, no Torneio, e na Série B, no Campeonato.

O primeiro jogo do Torneio foi com o Fânzeres e a ADV ganhou-o por 14-1. O segundo, com os Carvalhos, em casa deles, resultou num empate a duas bolas, assim como o terceiro se resolveu num empate a 3 bolas, no Bessa, com o Boavista (RJ, 19660416, 19660419, 19660426).

No jogo seguinte, em Valongo, o Académico venceu a ADV por 4-2 e esta foi ganhar ao Candal por 3-2, com dificuldades. (RJ, 19660430, 19660504).

Entretanto, os Juniores perderam com o infante, no rinque deles, por 5-0, a 23 de Abril, e ganharam ao Porto.B, por 2-1, a 27 de Maio. (RJ, 19660424, 19660508).

Os Principiantes perderam com o Infante, em Valongo, a 8 de Maio, por 3-1; a 15 de Maio, ganharam ao Carvalhos, por 3-2; e, a 22, conseguiram um resultado muito forte contra o Educação Física, por 12-1. (RJ, 19660509, 19660516, 19660523).

Tanto o Comércio do Porto como o Jornal de Notícias avançam a informação de que o Armindo Fonseca, um dos jogadores iniciais e fundador da ADV, iria passar a exercer as funções de treinador da equipa Sénior da mesma ADV (RJ, 19660527_ CP, 19660527_JN).

No jogo Fânzeres-Valongo, para o Torneio de Abertura, o Valongo ganhou por 4-0. Depois, em Valongo, venceu o Carvalhos por 4-3, o Espinho, em casa deste, por 7-4, e o Boavista, em Valongo,

por 9-2. (RJ, 9660607, 19660614, 19660618. 19660621).

Em 12 de Julho aparece uma notícia perturbadora: Nora, que já era um atleta com muito bons créditos desportistas, não foi incluído na selecção do norte pelo novo treinador, Laurentino Soares. A notícia advém desses dois factos e não convence ninguém, a menos que se queira ser convencido, como parece ser o caso do jornalista de serviço. Nessa data, faço um longo comentário, em que desmonto a argumentação utilizada. (RJ, 19660712_CP).

Os Juniores venceram o Porto por 5-1, a 23 de Julho, depois, a 30, empataram com o Espinho, a uma bola, em Valongo. (RJ, 19660724, 19660731).

Os Principiantes venceram o Infante de Sagres, no seu rinque, e assim se sagraram bi-campeões da categoria. Eis a constituição da equipa: Queirós I, Koeheler I, Duarte, Camões, Vale, Queirós II, Koeheler II, Nuno, Aguiar e França. (RJ, 19660813_CD).

No Torneio de Abertura, os Seniores foram ao Pavilhão do Académico ganhar à equipa da casa por 4-1; depois, empataram com o Porto por 2 bolas. Com este resultado, o Valongo ficou em terceiro, atrás do Infante, que ganhou o Torneio, e do Porto. (RJ, 19660820).

Começou, entretanto, o Campeonato Regional Portuense e o Valongo, no dia 26 de Agosto, venceu o Boavista pela alargada margem de 18-1, com golos de Leal (2), Américo (3), Nora (7) e Camilo (4). E foi perder a Espinho por 3-2. (RJ, 19660827, 19660830).

A seguir, ganhou à Sajoanense por 7-1 e ao Académico por 4-2 e foi perder com o Vigorosa a casa deste, por 4-3, naquela que foi considerada a grande surpresa da contenda, dada a

cotação actual da equipa da ADV. (RJ, 19660903, 19660910, 19660913).

Em continuação, o Valongo venceu o Cucujães, por 7-3, foi ganhar ao Candal, por 6-0, e perdeu com o Infante, em Valongo, por 5-1. (RJ, 19660917, 19660920, 19660924).

A grande vitória seguinte foi contra o Porto, na Constituição, por 2-1, visto que o Porto, no seu campo, é sempre um adversário difícil. Com este jogo teminou a primeira volta, com o Valongo colocado no quarto lugar. (RJ, 19660927).

A segunda volta, iniciou-se com uma vitória saborosa sobre o Carvalhos, por 7-5, em Valongo, e outra sobre o Boavista, na casa deste, por 5-3, o que fez deslocar o Valongo para o 2º lugar da classificação. (RJ, 19661001, 19661004).

Depois, uma derrota surpreendente, contra a Sajoanense, por 1-0, em São João da Madeira, e uma vitória muito folgada, em Valongo, contra o Vilanovense, por 19-0. (RJ, 19661008, 19661011).

Uma vez mais, o mau tempo impediu o jogo, em Valongo, com o Vigorosa, que foi interrompido quando a equipa da casa já ganhava por 2-0. A seguir, a ADV cometeu outra facécia, ao impor um empate a zeros, ao Infante, no seu pavilhão, quando ele ocupava o primeiro lugar, destacado, com 42 pontos, da classificação. (RJ, 19661015, 19661022).

Depois, houve uma derrota amarga, por 5-2, contra o Porto, em Valongo. O comentador habitual faz este comentário: “Em Valongo, a equipa local cometeu o erro de, com o recinto com água, tentar jogo vistoso, dentro das características normais da equipa, mas impróprias para as condições do piso.” (RJ, 19661025_CP).

A vitória seguinte deveu-se à falta de comparência

do Vigorosa, o que colocou o Valongo no 2º lugar da tabela. Porém, com a vitória do Carvalhos sobre o Vigorosa, acabou por ficar em teceiro, atrás do Infante, que ganhou o Campeonato Regional, e do Carvalhos e à frente do Porto, do Espinho e da Sanjoanense.

O Infante ficou automaticamente apurado para o Campoenato Nacional e os quatro seguintes tiveram de disputar eliminatórias, par saber quem teria direito ao ingresso nele.

O Valongo ganhou ao Famalicence, por 8-3, em Famalicão, e perdeu com o Espinho, no rinque deste, por 5-1. Porém, como tinha ganho a primeira “mão” por 7-1, a diferença de golos fez com que ficasse apurado, juntamente com o Porto.

A notícia desagrdável, quanto ao jogo com o Espinho, foi a de que Camilo foi atingido por uma bolada na face e teve de ser suturado com 9 agrafes. (RJ, ,19661103, 19661113).

Aparece, pela primeira vez, o anúncio da possibilidade de construçao de um pavilhão gimnodesportivo em Valongo, assunto que rondava todos os espírito ligados ao hóquei em patins, desde o anterior Presidente da Câmara. Agora, o actual Presidente, Armando de Magalhães, diz que a construção já só depende da entrega de uma planta topográfica, assinalando o local. A notícia acrescenta que o Presidente não referiu a habitual falta de verba e diz que até já houve uma oferta de 25 contos de “dois desportistas, Armando Peixoto e João Castro”. (RJ, 19661113).

No seguimento do Campeonato Nacional, o Valongo foi ao Porto perder por 7-0, num jogo considerado muito desequilibrado. Depois, ganhou ao Marítimo por 7-3 e impôs uma derrota ao Infante, no seu pavilhão, por 4-3. (RJ, 19661117, 19661120, 19661126).

Assinalado um empate a duas bolas dos Juniores com o Paço d’Arcos; depois, uma vitória sobre o Carvalhos, por 1-0, no Pavilhão do Infante, a contar para o Campeonato Nacional de Juniores, a decorrer. E ainda uma derrota contra o Paço d’Arcos, no Estoril, por 5-3. (RJ, 19661127, 19661206, 19661211).

Na continuação do Campeonato, os encontros com os demais clubes não se revelam felizes. Assim, o Valongo perde com o Benfica, no Lima, por 2-1; perde com o Porto, no Porto, por 1-0; ganha ao Marítimo por 4-2; empata a uma bola com o Belenenses; perde por 4-3, com o Benfica, em Lisboa; e acaba classificado em penúltimo lugar, à frente do Marítimo, num lote de 8 clubes. (RJ, 19661129, 19661204, 19661206, 19661211, 19661213).

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2019, refere a ADV como vencedora, em 1965-1966

- do Campeonato Regional de Juniores – Final

- do Campeonato Distrital de Principiantes

1967

No Torneio de Abertura deste ano, o Valongo ficou colocado na Série B e o seu primeiro jogo foi com o Águias, na Senhora da Hora, que venceu por 8-0. Depois, perdeu com o Infante, em casa deste, por 4-1, e empatou com o Porto, na Constituição, por 4-4. Nos jogos subsequentes, foi ganhar a Espinho, por 2-1, e venceu o Centro por 15-2, o Educação Física por 4-2, o Vilanovense por 5-2, o Nun’Álvares por 6-2, o Carvalhos por 4-0, o Porto por 4-2, o Vigorosa por 3-2. Com tais resultados, o Valongo passou para o 1º lugar da tabela. (RJ, 19670408,

19670411, 19670415, 19670418, 19670422, 19670425, 19670425, 19670503, 19670516, 19670520, 19670523).

Entretanto, em 8 de Maio, surge uma notícia reconfortante, para o próprio e para o clube: Nora fora seleccionado para a Selecção Nacional que iria disputar o Campeonato da Europa em Bilbau. A notícia acrecenta um pormenor nada sossegante para os adeptos do hóquei em patins e é que os excelentes jogadores moçambicanos Fernando Adrião e Carrelo não farão parte da Selecção porque a Federação não tem dinheiro para lhes pagar as passgens e a estadia… (RJ, 19670508_ CP).

Prosseguiu o Torneio de Abertura e o Académico cerceou as expectativas do Valongo ao vencê-lo por 6-1, pelo que passou ele a ocupar o lugar cimeiro da classificação. A seguir, a Sajoanense ganhou ao Valongo por 4-1, a 26 de Maio. A 29, foi a vez de o Infante derrotar o Valongo por 4-1; e talvez a 2 de Junho, o Carvalhos venceu o Valongo no seu campo por 4-2. Depois, no dia 5, o Porto ganhou ao Valongo por 5-2. (RJ, 19670527, 19670527, 19680530, 19670603, 19670606).

No dia provável de 11 de Junho, o Valongo conseguiu a primeira vitória, após esta série de derrotas, contra o Vigorosa, por 6-2, logo seguida de novas derrotas, primeiro com o Académico, por 1-0, depois com o Infante, por 7-5.

O Académico ganhou o Torneio de Abertura e o Valongo ficou em 4º lugar, atrás do Porto (2º) e do Infante (3º). (RJ, 9670612, 19670613, 19670617).

Chegou uma notícia animadora, dizendo que o Manuel Pires, que tinha sofrido o castigo de irradiação, viu a sua pena reduzida para 3 anos de suspensão. É um caso que ainda irá fazer correr muita tinta. (RJ, 19670615_CP).

De facto, os comentários sobre o caso Manuel Pires sucederam-se e, no dia 23 de Julho, registámos mais um, oriundo do Correio do Douro, dando conta do ofício enviado pela Federação à APP, a fim de que informasse o clube de que o seu atleta tinha visto a pena reduzida a 3 anos. Com a falta de rigor que é típica em muitos organismos, o ofício não precisa em que consite a pena reduzida de irradiação que passa para uma pena de 3 anos, de modo que temos de deduzir que decerto se trata de supensão. (RJ, 19670723_CD).

Outra notícia boa que surgiu, no dia 17 de Junho, foi o louvor concedido pela Associação de Patinagem do Porto ao José Nora, assim como ao Júlio Rendeiro e ao José Azevedo, pela contribuição que deram para o trinunfo da Selecção Portuguesa no Campeonato da Europa, em Bilbau.

Cerca de 15 dias depois desta notícia, no dia 1 de Julho, não só a ADV como as pessoas gradas da terra, desde o Presidente da Câmara ao Presidente da APP, os dirigentes do clube e vários colegas do Porto, todo o Valongo esteve representado na homenagem que foi prestada sentidamente ao José Nora, realçando as suas qualidades desportivas e o contributo da Associação para o hóquei nacional e internacional.

Foi de novo abordado o asunto que a todos interessa e mobiliza, a construção do Pavilhão Gimnodesportivo. Das conversas havidas, depreendeu-se que o pavilhão irá ser mesmo uma realidade. Resta saber quanto haverá ainda a esperar. (RJ, 19670617_CP, 19670701, 19670705).

No início do Campeonato Regional da 1ª Divisão, o Valongo foi a Espinho ganhar por 5-4. De seguida, ganhou ao Fânzeres por 7-2, em Valongo, e foi ao campo das Cavadas vencer o Vigorosa por 4-3. (RJ, 19670620, 19670701, 19670704).

O jogo subsequante foi com o Águias e o Valongo venceu-o por 14-1. A seguir, nos Carvalhos, foi vencido por 6-3. Em 17 de Junho, o Valongo vence o Infante por 4-2, em Valongo, o que foi a sua primeira derrota no Campeonato. (RJ, 19670711, 19670715, 19670718).

Cerca de um mês depois desta data, a 22 de Julho, os Juniores do Valongo derrotaram os do Infante por uma soma ainda mais significativa: 13-1. E a 25, nos Carvalhos, conseguiram a proeza de vencer o clube local por 4-3.(RJ, 19670723, 19670726).

No dia 23, saiu no Correio do Douro um artigo encomiástico do Valongo e do seu alfobre de jogadores, como é hábito saudável deste periódico, e relembrando a questão do Pavilhão. (RJ, 19670723_CD).

No começo da segunda volta do Campeonato Regional, o Valongo venceu o Espinho por 3-2. Depois, foi bater o Vigorosa por 12-2. E a seguir, no Lima, ganhou ao Académico por 5-0; e então bateu a Sanjoanense por 5-2. Ganhou ao Vigorosa por 6-2; a seguir, venceu o Porto por 3-2. Foi à Senhora da Hora ganhar ao Águias por 5-0. De seguida, bateu o Carvalhos por 8-4. São oito vitórias de tomo!! (RJ, 19670729, 19670730, 19670805, 19670812, 19670826, 19670902, 19670909, 19670916).

Pena que este caminho triunfal tenha sido interrompido pela derrota no Pavilhão do Infante, por 4-1. Este era um jogo decisivo, pelo que houve uma enchente no Pavilhão do Infante. O jogo foi renhido, mas, segundo o comentador habitual, mal jogado por parte do Valongo. Embora o Infante tenha jogado bem e merecido a vitória, ela ficou a dever-se porventura mais aos erros do Valongo do que à inventiva do Infante.

E com esta vitória o Infante sagrou-se capeão

regional, aliás revalidadndo o título, e o Valongo averbou o segundo lugar, quando poderia ter tido o primeiro. (RJ, 9670923_CP).

Para fazerem boa companhia à equipa sénior, os Juniores ganharam ao Porto por 3-2 e isolaram-se no topo da classificação, com 15 pontos, contra os 13 do Porto e os 11 da Sanjoanense. E voltaram a ganhar ao Carvalhos, desta vez em Valongo, por 8-1. (RJ, 19670807_CP, 19670924_CP).

Num torneio promovido pelal APP, Valongo venceu o Infante por 2-1. E aqui se mostra uma das ironias do jogo: o mesmo Infante que ganhou ao Valongo e lhe tirou a possibilidade de ser campeão regional, foi batido, 20 dias depois, pela mesma equipa e no mesmo local… (RJ, 9671014_CP).

Agora já na fase de apuramento do Campeonato Nacional, o Valongo bateu o Carvalhos por 4-1, no dia 28 de Outubro; e no dia 30, perdeu nos Carvalhos, por 3-2, mas eliminou o Carvalhos, pela diferença de tentos.

E, no começo do Campeonato propriamente dito, em Valongo, perdeu com o Académico, por 2-1, e ganhou ao Marítimo, por 6-0. (RJ, 9671029, 19671104, 19671109).

No dia 11 de Novembro, o Comércio do Porto publicou uma nota, sob o título A intensa actividade da Associação Desportiva de Valongo, que merece destaque:

“Depois de cinco anos a disputar o campeonato regional da II Divisão, ascendeu à divisão principal em 1961. Nos últimos anos, tem sido particularmente intensa a sua actividade e, senão, vejamos:

– 1965 - SENIORES – 4º lugar, no então chamado Nacional da I Divisão da zona Norte e presença na fase final.

PRINCIPIANTES – Campeões Regionais

– 1966 – SENIORES – 3º lugar no Regional da I Divisão e presença na fase final do Nacional da I Divisão.

JUNIORES – Campeões Regionais e 3º lugar no Nacional

PRINCIPIANTES – Campeões Regionais. – 1967 – SENIORES – 2º lugar no Regional da I Divisão e actual presença no Nacional Metropolitano – Apurado finalista da Taça «Joaquim Ferreira».

JUNIORES – Campeões regionais e presença no Nacional.

A título de curiosidade, salientemos que, o ano passado, apenas Valongo e Benfica estiveram representados nos nacionais de seniores e juniores e, este ano, o Valongo é o único clube com as duas equipas em prova.

Repare-se que, na passada quarta-feira, os seniores do Valongo tiveram de se equipar com o equipamento transpirado, do jogo de momentos antes, na categoria de juniores. Pormenor que, se revela pouca higiene, denota a força de Valongo e a dedicação dos jogadores do Valongo.” Voltando ao Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Valongo perdeu, no Lima, com o Sporting, por 3-2; foi derrotado pela CUF por 4-1; ganhou ao Sintra por 6-3; perdeu com o Benfica por 3-0 e com o Académico por 4-2; depois ganhou ao Infante, em Valongo, por 3-2 e ao Marítimo por 2-0. (RJ, 19671112, 19671113, 19671114, 19671118, 19671121, 19671123).

No dia 12 de Novembro, os Juniores da Salesiana ganharam aos do Valongo, no Pavilhão do Infante, por 5-1. (RJ, 19671113_CP).

Na final da Taça Joaquim Ferreira, no Pavilhão do

Infante, o Valongo venceu o Porto por 4-3. (RJ, 19671203_CP).

Outra vez, uma notícia sobre o futuro Pavilhão dos Desportos de Valongo: foi entregue na Câmara o ante-projecto do novo Pavilhão, da autoria do arquitecto Fernando Seara. A obra foi orçada em 2.000 contos. (RJ, 9671203_CP).

No dia 20 de Dezembro, a fechar o ano, o Comércio do Porto publicou novamente uma notícia lisonjeira para a ADV, sob o título “O VALONGO, outra equipa poderosa”:

“A equipa do Valongo formará, com o Académico e F. C. do Porto, o trio de equipas de maiores possibilidades na próxima época.

Formada por jogadores de apreciáveis recursos técnicos, como Nora, Camilo e Américo, contará ainda com Pires, que acabou agora o seu castigo, ao beneficiar da amnistia ministerial.

Nesta ordem de ideias, o Valongo será um grupo para grandes cometimentos, talvez até produzindo mesmo mais do que a época finda, em que ficou em segundo lugar no Campeonato Regional e quarto lugar na prova nacional.”

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2019, refere a ADV como vencedora em 1966-1967:

- do Campeonato Regional de Juniores

- da Taça Joaquim Ferreira, da Série A e da final.

1968

O Torneio de Abertura só começpou a 8 de Março, para o Valongo. Antes disso, porém, o habitual comentador do Comércio do Porto, não identificado nesta notícia, mas que suponho ser Manuel Correia de Brito, faz um especioso comentário-elogio à equipa do Valongo, sob o título “ACADÉMICO. F. C. do PORTO e VALONGO – AS TRÊS EQUIPAS PORTUENSES MAIS PODEROSAS”, augurando-lhe um grande futuro e chegando a escrever frases como esta: “O Valongo (…) é, em nosso entender, a equipa que em Portugal produz o óquei mais límpido e mais pendular.” Vale a pena ler todo o comentário, na entrada 19680201.

Em 8 de Março, o Valongo venceu o Carvalhos por 9-2 e a notícia refere o regresso de Manuel Pires à equipa, após o castigo que o manteve afastado quase dois anos, dizendo que “a sua presença veio dar maior poder ofensivo à já notável equipa do Valongo.”

Depois, em 15 de Março, foi a vez de ganhar ao Porto, por 5-0. (19680309, 19680316).

A seguir, venceu o Leixões por 6-0 e o Vigorosa por 5-2. No pavilhão do Infante, ganhou ao Carvalhos por 1-0, empatou com o Académico por duas bolas e ganhou ao Porto por 4-0, num jogo cheio de incidentes. (RJ, 19680402, 19680406, 19680518, 19680521, 19680601).

Com esta vitória, o Valongo ganhou o Torneio de Abertura.

Num jogo de torneio promovido pelo Académico, 17 dias depois, no Pavilhão do Lima, o Porto venceu o Valongo por 3-0 e o Valongo ganhou ao Carvalhos por 9-1.(RJ. 19680618_CP, 19680620_CP).

Em data não indicada, provavelmente 21 de julho,

os Juniores do Valongo ganharam ao Boavista por 10-0. Depois, talvez em 29, venceram o Infante por 6-1. (19680722, 19680730).

Também as Reservas do Valongo ganharam ao Vilanovense por 6-1 (RJ, 19680817).

Apareceu uma única notícia dizendo que os Juvenis tinham vencido o Educação Física por 3-2 (RJ, 19680730_CP).

Não houve mais notícias sobre Juniores ou Reservas, E então, em 1 de Setembro, surge a notícia de que “O Valongo é campeão de reservas e de juniores em óquei em patins.” (RJ, 19680901_CD).

O Campeonato Regional da 1ª Divisão começou em 22 de Julho e o primeiro jogo do Valongo foi com o Porto, mas não obtive a notícia respectiva. Só sei que o Valongo perdeu, porque o jogo seguinte, com o Espinho, que derrotou a ADV por 5-4, em Espinho, no dia 26, vem referido como “nova derrota surpreendente do Valongo” (RJ, 19680727_CP).

A seguir, houve uma série notável de vitórias: contra o Vigorosa, por 10-5, nas Cavadas; contra o Carvalhos, por 6-2; contra o Académico, por 5-2; contra o Vilanivense, 11-1. (RJ, 19680730, 19680803, 19680813, 19680827).

O Campeonato Regional da 1ª Divisão continuou em 9 de Setembro, com uma vitória do Valongo sobre o Espinho por 5-4; depois, outra sobre o Vigorosa, por 6-1; e uma terceira sobre o Carvalhos, em casa deste, por 2-1, com o que ficou em igualdade de pontos com o Porto. (RJ, 19680910, 19680914, 19680917).

Seguiu-se uma vitória fulgurante sobre o Infante, por 5-1. No mesmo dia e local, as Reservas do Valongo ganharam às do Infante por 7-1. (RJ, 19680921, 19680921).

Depois, vieram vitórias sobre o Académico, por 7-1, e sobre o Vilanovense, em Gaia, por 8-1. (RJ, 19680928, 19681001).

De novo, uma notícia sobre os Juniores, dizendo que eles bateram o Porto no último jogo por 2-1 e assim ganharam o campeonato regional pela terceira vez. E acrescenta uma nota importante, que documenta a atenção devida ao que é relevante: o treinador do grupo deste ano foi o sénior Nora, que já fora o treinador do grupo que ganhou pela primeira vez, assim o senior Camilo foi o treinador do grupo que ganhou na época pssada. E ainda fornece o nome dos “heróis”: Monteiro, Ricardo, Camilo, Vale (2), Camões, Gomes, Carlinhos e Queiroz. (RJ, 19681001_CP).

Quanto ao Campeonato Regional da 1ª Divisão, Porto e Valongo foram vencedores na última jornada, tendo o Valongo ganho ao Fânzeres por 5-0 e assim ficando com um número de pontos igual: 51. Houve, pois, uma finalíssima, entre os dois clubes, no Pavilhão do Infante, que o Valongo venceu por 2-0, deste modo se sagrando campeão regional de 1998

E aqui vão os “heróis” seniores: Alves, Leal (1), Nora, Camilo e Américo (1)

O jogo foi épico, cheio de acontecimentos e de peripécias. Vale a pena ler o relato longo e detalhado do correspondente do Comércio do Porto, desta vez assinado, Manuel Correia de Brito. É um relato objectivo, conhecedor, que parece justo e a que eu só coloco uma reserva, que aliás coloquei noutras circunstâncias, porque ele por várias vezes repetiu o “mantra”. Que, em resumo, é este: o Valongo é “um clube modesto, mas com uma grande equipa que foi «forjada» há anos nos juniores do F. C. do Porto”; 4 dos 6 jogadores hoje a jogar contra o Porto foram formados na “escola

perfeita” (a expressão é dele) deste clube e o mérito do Valongo vem daí (estou a resumir muito, mas este é o miolo essencial; por isso, convido o leitor a ler o relato na entrada 19681008_CP). Isto é uma meia verdade, logo é uma mentira. Toda a gente sabe que o Porto tem dinheiro e teinadores de qualidade e que os jogadores que por lá passam aprendem muito. Aliás, são os próprios a reconhecerem isso mesmo. Porém, o Porto não tinha, pelo menos nessa altura, nunca teve uma “escola”, no sentido próprio, isto é, “local em que se ensina algo a alguém que não sabia nada”. O Valongo, sim, tinha e tem essa escola, foi ele que a quis e que a criou. Esquecer isto, com a teoria de que o Valongo é uma boa equipa, porque tem jogadores treinados na escola perfeita do Porto, é tentar apagar a realidade de que era o Porto que vinha a Valongo buscar os melhores jogadores, para depois os treinar o mellhor que sabia. E que esses melhores jogadores o eram também por mérito próprio, pelas suas bem treinadas capacidades pessoais. O Porto foi sempre uma espécie de empresa de competições da fórmula 1: tem dinheiro e compra os melhores carros e treina-os para ganhar. O Valongo dedicou-se a contruir os carros… e, mesmo sem dinheiro, ganhar ao Porto. É uma diferença enorme e cheia de mérito. É feio tentar distorcer esta realidade, ainda que seja por mero clubismo, como creio que era o caso de M. C. B. (RJ, 19681008_CP).

No início da fase metropolitana do Campeonato Nacional, o Valongo empatou em casa com o Espinho, a zeros, o que constitutiu uma surpresa. A seguir, perdeu com o Porto por 3-1, e com o Carvalhos, por 2-1. (RJ, 19681025_CP, 19681027, 19681031).

Veio depois uma rodada de vitórias, já em Lisboa, sobre o Campo de Ourique, por 4-3, e sobre o

Parede, por 3-2, seguidas de um empate com a Salesiana, a zeros, e nova vitória, sobre a CUF, por 3-0. (RJ, 19681104, 19681104, 19681104, 19681105).

De seguida, o Valongo venceu o Espinho, por 5-0, e o Porto, por 3-2. Talvez em 16 de Novembro, o Valongo impôs um empate a uma bola, no Pavilhão do Infante, ao Benfica, num jogo marcado por um comportamento muito defensivo do então Campeão Nacional, que desagradou a toda a gente. Depois, ganhou ao Campo de Ourique, por 1-0, já no Porto, e à CUF, no Infante, por 3-1. (RJ, 19681108, 19681110, 19681117, 19681118, 19681119).

Não consegui obter mais notícias sobre a posição final do Valongo na tabela classificativa.

Em compensação, sairam varidas notícias sobre os embates dos Juniores. Assim, para além da já apontada vitória, em 19681001, sobre o Porto, por 2-1, que lhes deu o Campeonato Regional, registou-se uma outra sobre o Vigorosa, por 6-0 no começo dos Campeonatos Nacionais de Juniores. Depois, o Valongo voltou a ganhar aos Juniores do Vigorosa, por 7-1, no Pavilhão do Infante, e a seguir ao Algés, por 2-1, ficando com uma classificação tal que lhe bastaria empatar com a Salesiana para ganhar o título. O que acontece, porém, foi que os Juniores ganharam à Salesiana por 4-1! E assim “O VALONGO GANHOU BRILHANTEMENTE O CAMPEONATO NACIONAL DE JUNIORES”, dizia o título da notícia do Comércio do Porto.

Eis os “heróis”: Monteiro. Ricardo, Camilo, Vale (1, de grande penalidade), Camões (3), Queiroz, Armindo e Silva. (19681027, 19681110, 19681117, 19681118).

Uma notícia de 27 de Novembro dá conta de que três jogadores do Valongo, Nora, Américo

e Santos, foram escolhidos para integrarem a equipa do Porto, num Porto-Lisboa a jogar em Ílhavo, num festival organizado pela Associação de Pationagem de Aveiro.

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2019, refere a ADV como vencedora em 1967-1968:

- do Torneio de Abertura - Final

- do Campeonato Regional da 1ª Divisão

- do Campeonato Regional de Reservas

- do Campeonato Regional de Juniores

1969

A acta da Assembleia-Geral da ADV, de 23 de Fevereiro de 1969, para lém de intervenções várias e da habitual eleição dos corpos gerentes para o ano em curso, registou uma intervenção de grande lucidez e coragem do sócio José Viterbo, que por si só define a seriedade e a sensatez que o fizeram apreciado e estimado por todos aqueles que o conheceram. A propóstito de coisas que não lhe pareciam bem, disse ele:

“Disse que as Contas não mostravam com clareza a verdadeira face do clube e que, em sua opinião, a Direcção, para ser sincera consigo mesma, deveria ter a lealdade de dizer ali à Assembleia Geral que não cumpriu como devia o mandato que lhe foi confiado pelos sócios. Lamentou que não tivesse sido publicado um Relatório no qual ficasse registada, para a posteridade, toda a extraordinária actividade desportiva, todos os sucessos e todos os títulos conseguidos pelo clube durante o ano, talvez

aquele em que maior projecção o clube conseguiu ao nível regional e nacional, como se verifica pelo s títulos conseguidos nos seguintes torneios e Campeonatos: Torneio de Abertura da A.P.P.; Campeonato Regional de Juniores; Campeonato Regional de Seniores; Campeonato Regional de Reservas; Campeonato Metropolitano de Seniores; Campeonato Regional da Disciplina (Nota: é isto que está na acta; porém, não havia um Campeonato da Disciplina, mas sim uma Taça Disciplina, instituída pela APP para os clubes cujos jogadores tivessem menos castigos). A terminar, disse que era absolutamente indispensável que o clube se impusesse não só ao nível desportivo, mas também ao nível directivo e, como consequência deste, ao nível associativo e das relações com os outros clubes.”

Em seguida, tomou a palavra o Presidente da Direcção, Sr. Renato Chaves, para dar explicações, “tendo confessado, muito lealmente, que houve de facto uma certa negligência da Direcção a que presidia”, embora achasse que, “dentro daquilo que humanamente é possível, todos procuraram cumprir e prestigiar o clube.”

Voltou José Viterbo para dizer que “era indispensável haver na Secretaria elementos não só escritos, mas até fotográficos, que pudessem recordar todos os feitos desportivos do clube. Lamentou particularmente que, num ano como o findo, em que tantos títulos foram conquistados, não haja uma colecção de fotografias de todos os atletas titulares.”

O ano inicia-se com duas notícias simpáticas para a ADV: uma é que o Nora e o Américo estão a treinar no Estoril, no Pavilhão da Salesiana, sob

a direcção do treinador nacional António Raio, com vista ao próximo Campeonato da Europa, a realizar em Lausane; a outra é que se ultimam os preparativos para o começo da construção do tão esperado Pavilhão Desportivo de Valongo que, já se sabe, ficará situado junto à Capela do Calvário e custará 2.000 contos. (RJ, 19690228_ CP, 19690313_CP, 19690314).

Principiou o Torneio de Abertura, a 18 de Abril, com uma vitória do Valongo sobre o Infante de Sagres, por 12-0, outra sobre o Educação Física, por 9-1; e uma terceira sobre o Centro Universitário, por 6-1. (RJ, 19690419, 19690429, 19690510).

Entrando na fase final do Torneio, o Valongo venceu

o Espinho, por 3-2, e foi derrotado, supreendentemente, pelo Carvalhos, por 2-1. (RJ, 19690603, 19690607).

No Torneio de Ílhavo, realizado no dia 8 de Junho, com quatro clubes em prova, o Valongo, o Porto, a CUF e o Parede, o Valongo venceu o torneio, numa final com o Porto, com o resultado de 3-2. (RJ, 19690609_CP).

Na terceira jornada do Torneio de Abertura, o Valongo, que jogou sem o Manuel Pires, perdeu com o Porto, por 3-2. (RJ, 19690614).

Houve depois um torneio quadrangular, organizado pelo F. C. do Porto, no Pavilhão dos Desportos do Porto, com o Porto, o Fânzeres, o Valongo e o

de

J. Ferreira, M. Pires

Sentados: Albino Poças, José Costa, Eduardo Figueira, Joaquim Camões e Alcides Machado (Deleg. APP).

Nota interessante: O estandarte ostenta a menção “Fundada em 1954”.

Dia
festa. Em pé: Vale J. Viterbo, A. Camões, V. Francisco, Américo, A. Santos (enfermeiro),

REUS, campeão de Espanha e europeu, com quem o Valongo jogou e perdeu por 2-1. De seguida, ganhou ao Fânzeres por 15-2. (RJ, 19690713, 19690714).

Uma nova informação sobre o Pavilhão de Desportos de Valongo, que vai avançar, iniciativa da Câmara Municipal. A notícia termina com estas palavras: “Saudemos, pois, a edilidade valonguense e rejubilemos com mais este triunfo do verdadeiro desporto, (s)em deixar de se considerar honra de primeira grandeza o indefectível brio, dignidade e entusiasmo que caracteriza a gente de Valongo.” (RJ, 19690716).

O Porto e o Valongo foram convidados para um torneio quadrangular em Guimarães e o Valongo ganhou um torneio idêntico em Paredes. (RJ, 19690725).

Os Juniores obtiveram um triunfo esmagador sobre o Académico, por 20-3, no Campeonato Regional de Juniores, a decorrer. Os Juvenis perderam, por 4-2, com o Carvalhos, no Candal, e ganharam ao Porto, por 3-2, a 23 de Agosto. (RJ, 19690728_CP, 19690811_CP, 19690824).

No Campeonato Regional da 1ª Divisão, o Valongo venceu o Académico, por 6-3, e a Sanjoanense, na casa desta, por um resultado que a notícia não diz, dando antes uma informação errada. Depois, ganhou ao Espinho, por 3-1 e ao Carvalhos por 4-2. (RJ, 19690809, 19690814, 19690816, 196900902).

Os Juniores venceram o Porto , por 11-3, a 23 de Agosto. (RJ, 19690824).

Uma notícia de relevo: Vale, júnior do Valongo, esteve a treinar para a Selecção Nacional de Juniores, no Pavulhão do Infante, e está considerado um dos 10 prováveis jogadores para o próximo Campeonato da Europa de Juniores. (RJ, 19690825, 19690901).

No prosseguimento do Campeonato, o Valongo ganhou ao Carvalhos por 4-2 e, no mesmo local e data, as Reservas venceram o Carvalhos por 8-2. Depois, o Valongo ganhou ao Infante por 5-2 e à Sanjoanense por 6-2, tendo as Reservas, no mesmo dia e local, ganho às Reservas da Sanjoanense por 9-3. (196900902, 19690906, 19690927).

A 28 de Julho, realizou-se um festival, na Constituição, promovido pelo F. C. do Porto, em que o Valongo ganhou ao Porto por 2-1 e houve jogos de equipas infantis de vários clubes. Na altura, foi feita uma homenagem a quatro dirigentes, “pelos serviços prestados à patinagem”, entre os quais se contou José Viterbo, figura grada da ADV. (RJ, 19690929_CP).

A notícia, sob a epígrafe “O VALONGO cada vez mais afastado do título”, informa que o Valongo foi derrotado pelo Espinho, por 4-3, e fala em nova derrota, sem ter noticiado a anterior. Depois, o Valongo venceu o CDUP, por 9-1, o Vigorosa, por 7-2, o Fânzeres, por 4-1, e empatou com o Carvalhos a uma bola, no dia 17 de Outubro, tendo as Reservas ganho ao Carvalhos por 4-1. (RJ, 19690930, 19691008, 19691011, 19691014, 19691018).

Em 20 de Outubro, o Valongo venceu o Infante por 2-0. A notícia fala do “trabalho de Américo, em noite verdadeiramente inspirada”. (RJ, 19691021_ CP).

Depois, houve mais uma cena verdadeiramente lamentável, com o jogo Porto-Valongo, no Pavilhão do Infante, a ser terminado pelo árbitro, antes do intervalo, por incidentes entre os jogadores, difíceis de entender, ao cotejar as notícias de 28 e 31 de Outubro do Comércio do Porto. Ao ler estas notícias, pela primeira vez, em 2019, fiz uma Nota, que mantenho. De qualquer modo,

os incidentes deram origem a castigos, aplicados pela Federação, a Nora, 18 jogos de suspensão, e a Américo, 10 jogos. (19691028, 19691031).

Na continuação do Campeonato Nacional, o Valongo venceu o Termas por 6-1; perdeu com o Carvalhos, por 1-0, e de novo com o Porto, por 2-0. Depois, ganhou ao Termas, por 18-1, e empatou com o Carvalhos a zeros. (19691101_CP, 19691104, 19691108, 19691111, 19691115,).

Surgem, entretanto, notícias dos Juniores, que foram vencer o Vigorosa, no Pavilhão do Infante, por 9-2, sagrando-se Campeões Regionais de Juniores. Desta vez, os “heróis” foram: Queiroz, Armindo, Camilo, Vale (6, sendo um de grande penalidade), Camões (3, sendo um de grande penalidade), Sampaio e João. (RJ, 19691118).

No Campeonato Metropolitano de Juniores, o Valongo ganhou ao Vigorosa, por 2-1; empatou com o Campo de Ourique a duas bolas; foi derrotado pela Salesiana, por 3-2; e venceu o Campo de Ourique por 2-1.

A notícia termina comm a frase: “Se vencer hoje a Juventude Salesiana, o Valongo revalida o título nacional.” Porém, não há mais notícias sobre o assunto, pelo que só com o documento seguinte ficamos saber que o Valongo não ganhou o Campeonato Metropolitano. (19691121, 19691123, 19691124, 19691130).

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2019, refere a ADV como vencedora em 1968-1969:

- da Série B do Torneio Início

- do Campeonato Regional de Reservas - do Campeonato Regional de Juniores

1970

O ano hoquista, a Norte, inicia-se com o Torneio da Imprensa, patrocinado pela Federação Portuguesa de Patinagem, e no seu jogo inaugural, o Valongo, sem Américo, Nora e Pires, perdeu com o Carvalhos por 5-1. (RJ, 19700214).

O habitual comentador do Comércio do Porto entende que as novas regras do hóquei em patins, que começaram agora a ser aplicadas, estragaram o hóquei como espectáculo. (RJ, 19700217).

Nos jogos seguintes do Torneio, o Valongo venceu a Sanjoanense por 8-3, empatou com o Infante a uma bola, ganhou ao Académico, na casa dele, por 8-5, venceu o Leixões por 4-2. O Torneio terminou com a vitória do Porto, mas não foi fornecida a classificação do Valongo. (19700221, 19700228, 19700307, 19700314).

José Vaz Guedes, seleccionador nacional, escolheu os 10 jogadores que irão a Montruex, disputar o torneio internacional, nos dias 27 a 29, e neles está Américo, do Valongo. (RJ, 19700321).

No Torneio promovido pela APP, o Valongo.A venceu o Infante por 3-1, enquanto o Valongo.B perdia com o Fânzeres por 10-2. Depois, Valongo.A e Leixões empataram a 4 bolas e o Valongo.B foi derrotado pelo Académico por 12-0. Nos jogos seguintes, o Valongo venceu o Boavista por 14-3 e o Paredes por 5-0. (RJ, 19700407, 19700411, 19700414, 19700414, 19700418, 19700418).

Ainda no Torneio, o Valongo.B perdeu com o Vigorosa por 3-1 e o Clube Propaganda da Natação não conseguiu reunir os jogadores necessários para jogar com o Valongo.A… pelo que perdeu o jogo, por 5-0, por falta de comperência. O Valongo.A ganhou ao Educação Física por 12-0, o Valongo.B venceu o Porto por 8-2 e o Porto ganhou

ao Valongo por 3-2. (RJ, 19700421, 19700425, 19700425, 19700505).

No início da fase final do torneio associativo, a decorrer por inteiro no Pavilhão do Lima, o Valongo venceu o Espinho, por 7-2, depois o Académico, por 2-1. A seguir, foi derrotado pelo Porto, num jogo com incidentes provocados pelal assistência, que chegou a agredir o árbitro, por este ter expulsado Cristiano, do Porto. (RJ, 19700509, 19700512).

A 18 de Maio, ainda para o Torneio, o Valongo venceu o Fânzeres por 10-6, naquela que foi noticiada como sendo a penúltima jornada do Torneio, mas depois não houve mais notícia dele, pelo que ficamos sem saber quem o ganhou e a classificação do Valongo. Foram de imediato iniciadas as notícias sobre os Campeonatos Nacionais. (RJ, 19700519).

No novo Campeonato Nacional Metropolitano, o primeiro e o segundo calssificados disputarão a final no Porto e a seguir haverá a última fase a disputar em Angola, na primeira quizena de Novembro.

O Valongo teve o seu primeiro jogo com o Carvalhos, que ganhou, por 2-1, em 1 de Julho, e o segundo em Leixões, que também venceu, por 6-2. Aparentemente, jogou e perdeu com o Infante, por 4-2, e ganhou ao Espinho, por 6-5, em 15 de Julho, e ao Vigorosa, por 9-5, no dia 20. (19700702, 19700707, 19700711, 19700716, 19700721).

Há depois dois jogos, um com o Fânzeres, outro com a Sanjoanense, de que não sei o resultado, depois um empate a uma bola com o Académico. (RJ, 19700725, 19700801, 19700804).

Em 20 de Agosto, o Valongo estava em primeiro lugar, no Campeonato Regional da 1ª Divisão, com 41 pontos, seguido do Académico, com 38,

e do Infante, com 36. Depois, ganhou ao Carvalhos, por 5-1, nos Carvalhos, enquanto as Reservas ganhavam por 5-2, e venceu o Infante, por 5-4, numm jogo difícil, com “sangue, suor e lágrimas”, assim reconquistando o Campeonato Regional da 1ª Divisão. O artigo salienta especialmente a exibição de Américo.

Aí estão os “heróis”: Vítor Francisco, Cruz, Nora, Américo (3), Pires (1), Vale (1), Camões e Rogério. (RJ, 19700820, 19700827, 19700901).

No mesmo local e data, as Reservas do Valongo ganharam às do Infante, por 6-4, e com essa vitória tornaram-se Campeãs do Campeonato Regional de Reservas. (19700901).

Não há indicação dos nomes dos vencedores, porque os jornais quase nunca os dão.

Depois dos sorteios para os jogos dos Campeonatos Nacionais das 1ª e 2ª Divisões, o Valongo jogou com o Académico e ganhou-lhe por 6-3, depois empatou com o Porto, nos Carvalhos, a 3 bolas, e venceu o Termas por 5-2. (RJ, 19700912, 19700920, 19700924, 19700927).

Entretanto, em 20 de Setembro, já tinha havido uma entrevista importante do Presidente da Direcção da ADV, José Costa, ao jornal Norte Desportivo, em que ele afirma que a Associação, fundada em 1954, por iniciativa de um grupo de jovens encabeçado pelo João Lino Vale, viveu sempre “com a corda na garganta”, porque tinha as cotizações dos sócios e pouco mais; mas foi-se aguentando, até que em 1962 se dá o grande salto: o começo da participação no Campeonato da 1ª Divisão (para o qual tinha transitado no ano anterior, 1961, ao vencer o Boavista, num jogo épico, realizado em Valongo). Acontecem depois os grandes êxitos de 1968: a conquista do título regional, além dos Campeonatos Regionais de

Reservas e de Juniores. Êxito que agora se repetiu, com a vitória no Regional da 1ª Divisão. Comenta a seguir a próxima conclusão do Pavilhão novo, cuja construção está em marcha e que poderá vir a ser utilizado ainda no corrente ano, o qual corresponde a uma real necessidade do clube, visto que o rinque antigo não tinha já condições para o clube e para os visitantes. Além de que, com a sua possível lotação de 2.000 a 3000 pessoas se espera que ajude a melhorar as finanças da associação. Termina comentando a sitação actual do hóquei em Portugal, exprimindo a ideia de que é preciso encontrar os bons dirigentes, que os há, para ultrapassar a crise instalada. (RJ, 19700920_ ND).

São realizados os sorteios para os jogos dos Campeonatos de Juvenis e Juniores, que devem efectuar-se em Setembro e Outubro, sendo o Nacional na 2ª quinzena de Outubro. (RJ, 19700922).

Em Juvenis, o Valongo ganhou ao Infante, por 7-2, venceu o Carvalhos, por 3-2; ganhou de novo ao Infante, por 7-1; venceu o Porto, por 3-1; e com esta vitória conquistou o Campeonato Regional de Juvenis. (RJ, 19700930, 19701007, 19701009, 19701011).

Infelizmente, e ao invés do que fiz nas páginas anteriores, não forneço os nomes dos ‘heróis’ do feito, porque o jornal não os forneceu. O que é aliás estranhamente contraditório com a razoável atenção que deu aos jogos e campeonatos das camadas jovens.

Já no Campeonato Metropolitano, os Juvenis do Valongo perderam com o Benfica, em Lisboa, por 6-1; ganharam ao Paço de Arcos, por 2-1, também em Lisboa. A seguir, empataram com o Porto, a duas bolas, no Lima. E em 22 de Outubro,

ganharam de novo ao Porto e no Lima, por 8-0; a 25, empataram com o Benfica, a uma bola;

Depois, disto, mais nenhuma notícia. Ficamos sem saber qual a posição final dos Juvenis no Campeonato Metropolitano. (RJ, 19701018, 19701019, 19701021, 19701023, 19701025).

No prossegumento do Campeonato Nacional de Seniores, o Valongo ganhou ao Académico, no Lima, por 3-2; depois, no Infante, com um pavilhão cheio a deitar por fora, ganhou ao Porto por 2-1. No Carvalhos, venceu o Termas de S. Pedro do Sul por 17-1. (RJ, 19701001, 19701004, 19701008).

No Campeonto Metropolitano, o Porto venceu o Valongo, por 7-0, no Lima, e o Benfica ganhou ao Valongo, em Lisboa, por 9-3. Ainda em Lisboa, o Valongo venceu o Paço de Arcos por 5-1 e depois, no Lima, com o pavilhão cheio, foi vencido pelo Benfica, por 2-1. Em 25 de Outubro, também no Lioma, o Valongo venceu o Paço de Arcos por 4-3. (RJ, 19701015, 19701018, 19701025, 19701026).

A última notícia do ano, a merecer destaque no Comércio do Porto, é a de que “Carece de fundamento o boato de que o jogador do Valongo, Américo, vá para o F. C. do Porto.”

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2019, refere a ADV como vencedora em 1969-1970:

- do Campeonato Regional da 1ª Divisão

- do Campeonato Regional de Reservas

- do Campeonato Regional de Juvenis – Vencedor da Série B e da Final.

A maneira como foram dadas as notícias sobre as várias vitórias do clube neste ano fizeram-me reflectir sobre como é e como tem funcionado a

imprensa desportiva a que tive acesso. E foi com uma mistura de irritação e mágoa que escrevi esta “Nota”, agrafada à notícia de 19700901 que incito o leitor a consultar pelo “escândalo” que denuncia.

1971

A 8 de Janeiro, começaram 5 torneios promovidos pela APP: Seniores, Clubes da 2ª Divisão, Juniores, Juvenis e Iniciados.

Na mesma data se soube que a Sanjoanense tinha sido integrda na Associação de Patinagem de Aveiro, conta a sua vontade, visto que queria continuar na AP Porto. (RJ, 19710108, 19710110)

Na qualificação para o Nacional de Seniores, o Valongo perdeu com o Infante, ao que parece no Pavilhão deste, por 4-2. No mesmo torneio, agora nos Carvalhos, o Valongo venceu o Académico por 6-2 e depois o Carvalhos, por 7-4. (RJ, 19710112_ CP, 19710126, 19710202).

Em Juvenis, o Valongo começou por ganhar ao Infante, por falta de comparência deste, por 5-0; depois, venceu o Porto.A por 3-2 e a seguir perdeu com o Espinho por 12-0, em 15 de Fevereiro, com o Educação Física, por 6-5, em 23 de Maio, com o Vigorosa, por 4-2, em 6 de Junho, com o Porto.A, por 5-2, em 9 de Junho, com o Infante por 3-1, com o Carvalhos, por 6-3, com o Educação Física, por 6-3, com o Porto.B por 12-0, com o Vigorosa, por 10-1. (RJ, 19710112, 19710206, 19710216_ CP, 19710524, 19710607, 19710610, 19710621, 19710628, 19710719, 19710728, 19710730).

No mesmo dia, em Iniciados, o Valongo empatou com o Espinho e 3 bolas e depois perdeu com o Porto por 2-1. Voltou a perder com o Porto por 4-2, em 9 de Junho. E empatou com o Porto.B a duas

bolas. Ganhou ao Boavista, por 4-3, a 29 de Julho, foi vencido pelo Porto, por 2-1, pela Salesiana, por 11-1, pelo Oeiras, por 8-1, no Infante, a 19 de Setembro; pelo Porto, por 5-3, no Lima; pela Salesiana, por 14-0, em Lisboa (RJ, 19710216, 19710227, 19710610, 19710728, 19710730, 19710917, 19710919, 19710920, 19710923, 19710926).

Em Juniores, o Valongo ganhou ao Porto.A por 6-2, depois ao Infante, no Lima, por 4-1, e a seguir, ao Vigorosa, por 8-2. Depois, perdeu com o Carvalhos por 6-2 e ganhou ao Boavista por 7-1. Empatou com o Porto a 3 bolas, a 9 de Junho, e com o Infante a duas bolas. Venceu o Boavista por 10-0, a 29 de Julho, o Carvalhos, por 3-2, em 11 de Setembro, empatou com o Carvalhos, a duas bolas, a 16; perdeu com o Benfica, por 3-1, no Infante, a 18 de Setembro; com a Salesiana, por 5-3, no Infante; de novo com o Benfica, por 6-2, em Lisboa; com o Carvalhos, no Lima, por 4-2 (RJ, 19710206_CP, 19710213, 19710302, 19710313, 19710607, 19710610, 19710621, 19710730, 19710912, 19710917, 19710919, 19710920, 19710926, 19710929).

Notícia de convocação de dois Juvenis do Valongo, Queirós e Sousa, para os treinos da Selcção de Juvenis. (RJ, 19710305_CP).

Nova notícia sobre convocatória de dois Juvenis do Valongo, Ferreira e Queirós, a treinar no Pavilhão dos Carvahos, no dia 9 de Março, para a selecção portuense. (19710310_CP).

As Reservas do Valongo ganharam ao Boavista por 9-5, no Lima, ao Infante de Sagres, em Valongo, por 11-4, ao Carvalhos, por 20-3, em 9 de Junho, e ao Infante por 11-4. Ganharam o jogo com o Fânzeres, por 5-0, por falta de comparência deste. A seguir, perderam com o Porto, por 4-3, em 11 de Setembro, e registou-se um incidente grave,

com agressão de Camilo I ao guarda-redes do Porto, seguida de expulsão e detenção de Camilo. (19710320_CP, 19710422, 19710613, 19710706, 19710718, 19710912).

Na segunda volta da qualificação para o Campeonato Nacional, o Valongo empatou com o Infante a 4 bolas, venceu o Espinho, em sua casa, por 8-1, e o Leixões, no Pavilhão do Infante, por 13-1. Depois, perdeu com o Porto, no Lima, por 3-1, e empatou com o Carvalhos a 5 bolas. Seguiu-se “uma extraordinária exibição do Valongo” (no dizer do jornalista) que ganhou ao Académico por 16-6. Depois, venceu o Termas de S. Pedro do Sul por 23-2 e o Académico por 7-2. (RJ, 19710213, 19710216, 19710306, 19710309, 19710313, 19710320, 19710411, 19710422).

Uma notícia do Camércio de 24 de Maio, dá conta do regresso de Nora ao F. C. do Porto, depois de ter actuado no Valongo, e refere que a ADV não levantou qualquer obstáculo à mudança (19710524_CP).

No Campeonato Metropolitano da 1ª Divisão, o Valongo venceu o Oliveirense, em Valongo, por 22-4. O jogo Porto-Valongo, a decorrer na Constituição, no dia 5 de Junho, foi interrompido aos 12 minutos da segunda parte, por causa da chuva. O Porto ganhava por 5-2. O jogo realizou-se depois, em 14 de Junho, na Constituição, e o Porto ganhou por 5-4, mas foi um jogo acidentado, que durou quase duas horas e em que houve pouca sorte da equipa da ADV. (19710530_CP, 19710615).

A seguir, o Valongo venceu o Carvalhos por 9-5 e o Infante por 5-2, naquela que foi a primera derrota do Infante.

A notícia sublinha que, do lado do vencedor, se evidenciaram Vítor Francisco e Camões

Depois, venceu o Académico, por 7-1, em Valongo, no dia 14 de Julho, e o Fânzeres, por 10-3, a 17. Ganhou aoo Espinho, por 10-1, em 31 de Julho, e perdeu com o Porto, por 7-5, em Fânzeres, a 28 de Agosto. (19710622, 19710706, 19710715, 19710718, 19710801, 19710829).

No dia 8 de Setembro, o Comércio dá notícia de uma exposição enviada pela ADV à Federação, “sobre várias ocorrências no jogo com o Carvalhos”, que terá sido realizado, segundo a notícia, no dia 4. Acontece que não obtive nenhum registo de um jogo com o Carvalhos nesse dia. Mais uma falha. (19710908_CP).

Anunciado um jantar de confraternização da ADV, no dia 7, para homenajear os atletas que mais se distinguiram no ano a decorrer. (19711204_CP).

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2019, refere a ADV como vencedora em 1979-1971: - do Campeonato Nacional de Juniores.

1972

O ano desportivo de 1972, para além das notícias habituais sobre a distribuição das séries do Torneio Início, começa com uma notícia de grande agrado para todos os hoquistas e para a maioria, senão a totalidade das pessoas de Valongo: o Pavilhão Gimnodesportivo está finalmente pronto a ser utilizado e até já foi inspeccionado e aprovado pelo Conselho Técnico da APP, no dia 24 de Fevereiro. Leva cerca de 4.000 pessoas e custou 3.000 contos. (19720225_CP).

O primeiro jogo no novo Pavilhão realizou-se no dia 29 de Fevereiro e o Valongo bateu o Fânzeres

por 3-2. Houve um segundo jogo, entre o Porto e o Vilanovense, que o Porto ganhou por 19-0.

A notícia sublinha que, embora tenham estado presentes várias personalidade da terra, como o Presidente e o Vice-Presidente da Câmara Municipal, e representantes de entidades desportivas, como o delegado da Direcção-Geral dos Desportos, não houve cerimónia oficial de inauguração, embora a estreia tenha ficado assinalada “como acontecimento de grande relevo.”

Depois, salienta os 4.000 lugares sentados, os balneários amplos e arejados, os 10 grandes camarotes, a magnifica iluminação e o piso admiravelmente construído e até bancos para os jogadores, forrados a napa! Pelo que “passa o pavilhão de Valongo a constituir um recinto admirável para a prática de hóquei em patins para o grande representante da vila que tanto tem feito pela modalidade, com jogadores cujo tecnicismo impunha realmente um rinque de dimensões largas.”

Acaba por decidir que “a sua arquitectura, simples mas vistosa, coloca-o como um dos melhores do País”. (RJ, 19720301_CP).

A 6 de Março, o Valongo perdeu com o Carvalhos por 2-1; provavelmente, a 13, ganhou ao Vilanovense, por 5-3; foi batido pelo Porto.A, nos Carvalhos, por 3-2, no dia 10 de Abril; venceu o Vigorosa, por 11-0, em Valongo, talvez a 13 de Abril; a 24, o Valongo bateu o Carvalhos, no Pavilhão do Infante, por 5-2; e derrotou o Fânzeres, nos Carvalhos, por 6-2, assim ficando apurado para a ‘poule’ final do Torneio de Abertura. (RJ, 19720307_CP, 19720314, 19720411, 19720414, 19720501).

A 6 de Maio, o Valongo foi derrotado pelo Académico, no seu pavilhão, por 7-4, uma vitória considerada “sensacional”. Depois, perdeu com o Porto, por 4-2, também em Valongo; e ganhou ao

Fânzeres, por 5-3. Venceu o Vilanovense, por 16-2, em Valongo, e empatou com o Porto, na Constituição, por 7 bolas.

Este último jogo teve uma característica notável: o Américo foi expulso, duas vezes, a segunda por 4 minutos, e foi mesmo assim, com quatro jogadores, que o Valongo empatou, 5-5, e ainda se colocou na posição de vencedor, 6-5!! E, depois de o Porto empatar e passar a 7-6, o Valongo ainda conseguiu o empate final! (19720507_CP, 19720521, 19720619, 19720810, 19720813).

Já a jogar o Campeonato Nacional Metropolitano de Seniores, Zona Norte, o Valongo venceu o Oliveirense, por 9-3, a 19 de Agosto, e o Fânzeres, por 9-2, provavelmente em 13 de Setembro, e colocou-se no 3º lugar da tabela, atrás do Infante e do Porto; depois, talvez a 23, ganhou ao Carvalhos, por 13-0; a notícia diz que, na 1ª parte, o Carvalhos dominou, mas o guardião local, Horácio, “foi rei e senhor”... ; a seguir, a 25 de Setembro, o Valongo perdeu com o Infante por 5-3 e a notícia diz em título “Espectáculo degradante no jogo Infante-Valongo” e descreve assim o início da cena: “Ao intervalo, o Infante vencia por por 3-0, mas, no início da segunda parte, o Valongo conseguiu marcar dois tentos e empatar e, mais adiante, fez 3-2. Até aqui o jogo tinha decorrido quase normalmente, mas depois gerou-se tamanho pandemónio que nunca houve o verdadeiro espectáculo desportivo.”

O Infante e o Porto ficaram apurados para a fase final. (RJ, 19720820, 19720914_CP, 19720924, 19720926).

Numa iniciativa de jogos amigáveis, com equipas de Aveiro, os Juniores do Valongo ganharam ao Mealhada, em Oliveira de Azeméis, por 6-2, no dia 23 de Abril.

Em 21 de Maio iniciaram-se os Campeonatos

Regionais de Iniciados, Juvenis e Juniores. Os Juniores do Valongo jogaram em Valongo com o Espinho, em 21 de Maio, e ganharam por 4-1. A 28, na Constituição, venceram o Porto por 3-0. Em Valongo, provavelmente em 5 de Junho, os Juniores venceram o Infante por 4-2. Depois, decerto a 18 de Junho, bateram o C.D.U.P. por 41-0!!

Não posso deixar de remeter para a nota que escrevi sobre este jogo, no Resumo dos Jogos (Cf. 19720619), que é um exemplo gritante daquilo que afirmo na introdução desse capítulo: que os jornais dão muita atenção aos clubes grandes e às primeiras divisões e pouca ou quase nehuma a tudo o que resta.

De qualquer modo, em 20 de Junho, os Juniores ocupavam o 1º lugar da tabela classificativa. (RJ, 19720424_CP, 19720522,19720529, 19720606, 19720619, 19720620).

O Comércio noticia a vitória por 5-0 dos Juniores do Valongo sobre o Vigorosa, por falta de comparência deste, e acrescenta que, com a inesperada derrota do Espinho, a corrida ao título ficou circunscrita a dois clubes: Valongo e Carvalhos. (RJ, 19720626_CP).

Talvez a 6 de Julho, os Juniores vencem o Boavista por 10-0; depois o Fânzeres, por 12-0. E então, perdem, em Valongo, com o Carvalhos, por 5-2, o que constituiu surpresa, “dado a excelência de técnica do grupo valonguense, este perdendo assim uma grande possibilidade de revalidar o título.” (RJ, 19720707, 19720713, 19720831).

Ainda vencem o Porto por 2-1, em 1 de Setembro, e, a 8, o Fânzeres, por 11-1. Depois, a 13, batem o Vigorosa, por 12-1, e, a 30, no Lima, ganham ao Mealhada, por 6-3. (RJ, 19720902, 19720909, 19720914).

A seguir, jogam no Lima, com o Porto e perdem por 4-2. Transcrevo a notícia: “O triunfo portista só foi possível por expulsão de um jogador do Valongo, quando esta equipa vencia por 2-1. Depois do empate, novas expulsões, colocou (sic) o Valongo com três e o Porto com quatro, o que possibilitou a vitória azul-branco.(sic)”

Em 1 de Outubro, ainda no Lima, os Juniores empatam com a Sanjoanense a duas bolas. A opinião do jornalista: “O treinador do Valongo «afundou» a equipa com duas substituições inconcebíveis, a última das quais a minuto e meio do fim, quando o Valongo vencia por 2-1, tirando o médio e colocando na pista nada menos que três avançados…” (RJ, 19721002_CP).

E acabam aqui as notícias sobre os Juniores em 1972.

Em 21 de Maio, como já se viu, iniciou-se o Campeonato Regional de Iniciados e os do Valongo jogaram com o Porto na Constituição e perderam por 8-0. Depois, em Valongo, perderam com o Infante por 4-2. Em 26 de Junho, em Valongo, venceram o Académico por 7-4; perderam com o Boavista por 4-3, ganharam ao Águias por 3-0, ao Académico por 5-1 e ao Carvalhos por 11-3. Em 1 de Setembro, perderam com o Porto por 2-1, em Valongo, e ganharam ao Águias, por 6-4, em 8 de Agosto. Ficaram assim em 3º lugar, atrás do Porto e do Boavista, pelo que terão de disputar apuramento. (19720529_CP, 19720606, 19720626, 19720707, 19720713, 19720824, 19720831, 19720909, 19720913).

Na primeira fase dos jogos de apuramento, dia 30 de Setembro, os Iniciados do Valongo ganharam, no Lima, ao Conimbricense, por 4-1. Depois, perderam com o Porto por 5-4. (RJ, 19721001_CP, 19721005).

A seguir, não há mais notícias, como de costume, pelo que ficamos sem saber o desfecho.

Em 21 de Maio, dia em que se iniciou o Campeonato Regional de Juvenis, os do Valongo perderam em casa com o Porto por 3-2. A 28, perderam de novo com o Porto, no Porto, por 12-1. Depois, ganharam ao Infante por 1-0. A 25 de Junho, em Valongo, venceram o Académico por 10-2 e o Educação Física, por 10-1. Bateram o Fânzeres por 6-2 e foram derrotados pelo Porto.B por 3-1.

A 23 de Agosto, venceram o Académico por 9-2. Talvez a 30, ganharam ao Carvalhos por 11-3. A 1 de Setembro, perderam com o Porto por 2-1. (RJ, 19720522_CP, 19720529, 19720606, 19720626, 19720707, 19720713, 19720816, 19720831, 19720902).

Nos jogos de apuramento dos segundos representantes nortenhos de Juvenis, no Lima, no dia 1 de Outubro, os do Infante bateram os do Valongo por 6.1. Também no Lima e no mesmo dia, os Juvenis do Valongo venceram a Ac. Coimbra por 5-1. Mais tarde, no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, os Juvenis da Salesiana, a 7 de Outubro, venceram o Valongo por 15-2. Também em Lisboa, no dia 8, o Sporting bateu o Valongo por 7-0 e a Salesiana ganhou ao Valongo por 9-4. (19721002_CP, 19721008, 19721009, 19721015).

Mais uma vez se encerram as notícias dos jogos sem conclusões.

Há um comentário do jornalista de serviço que quero sublinhar, porque corresponde àquilo que digo na introdução e que é aliás a opinião dos escritores do hóquei que cito. E é que, particulamente neste ano, nos cinco campeonatos realizados, veio ao de cima a melhor preparação, técnica e física, dos grupos do Sul, que se manteve por muitos anos. (RJ, 19721008_CP, com o título

“O

SUL VITORIOSO EM TODA A LINHA”).

A 30 de Maio, aparece a notícia de que a ADV tem novo treinador: Fernando Brandão. Assim, sem mais explicações. (RJ, 19720530_CP).

Uma notícia de 20 de Dezembro comunica a transferência de Vale e Vítor Francisco, do Valongo, assim como vários outros hoquistas de diferentes clubes, para o Porto, após uma série de negociações, destinadas a reforçar a sua equipa. (RJ, 19721220_CP).

Encerro este ano com uma notícia de 2 de Setembro, anunciando que a APP tinha oferecido uma dúzia de pares de patins ao Valongo no dia anterior, no âmbito da ideia de apoiar os clubes. O jornalista tinha discutido, numa anterior notícia, o critério da distribuição que deveria ser seguido, alvitrando que ela fosse proporcional ao número de equipas que cada clube tivera em competição no ano anterior. O meu contra-argumento é o de que, além desse critério, é preciso integrar um outro, que é o da capacidade económica de cada clube, sob pena de a APP oferecer patins a quem tem dinheiro de sobra para os comprar. (RJ, 19720902_CP).

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2019, não apresenta registos da ADV em 1971-1972.

1973

O ano abre com uma notícia algo insólita, logo em Janeiro: o treinador Fernando Brandão, que tinha assumido essas funções no clube em Maio do ano anterior, vai ser substituído por José Viterbo. Para os que conhecem o Zé Viterbo, é uma boa notícia, já que ele sempre foi o homem disponível para tudo o que fosse prestigiar e ajudar o clube e as pessoas a ele ligadas. Ele foi uma lição de solidariedade, de desportivismo e de vida. (RJ, 19730131_CP).

No primeiro jogo do Torneio de Abertura, o Valongo empatou com o Fânzeres por 4 bolas; depois, perdeu com o Porto, em Valongo, por 6-5, e com o Académico, por 3-0, e com o Carvalhos, no Pavilhão do Infante, por 3-1, e com o Infante, em Valongo, por 4-1, talvez em 7 de Abril. Perdeu de novo com o Infante, em 19 de Maio, por 6-1. De seguida, ganhou ao Académico, por 7-4, e perdeu com o Porto por 11-8. Depois, ganhou ao Águias, por 8-3, e ao Espinho, por 10-2, e ao Académico, por 7-2. (RJ, 19730311_CP, 19730318, 19730408, 19730415, 19730520, 19730524, 19730531, 19730614, 19730617, 19730715).

Num jogo nas Antas, para a Taça Edgar Bragança, a 20 de Julho, o Valongo bateu o Espinho por 8-1. (RJ, 19730721_CP).

No Campeonato da 1ª Divisão, o Oliveirense ganhou ao Valongo por 4-3, em Oliveira de Azeméis. Derrota considerada surpresa. Depois, venceu o Fânzeres, por 11-1, em 25 de Agosto, e o Águias, por 10-1, em 8 de Setembro.

A notícia sobre este último jogo acaba de modo insólito, dizendo: “Este último jogo não terminou por falta de jogadores do visitante.” Deveria ter explicado, porque assim não se percebe nada. (RJ, 19730819_CP, 19730826, 19730909).

A 12 de Setembro, o Valongo venceu o Espinho por 11-8. (RJ, 19730913).

Aqui terminam as notícias sobre a 1ª Divisão.

O Campeonato Regional de Iniciados começou a disputar-se a 25 de Abril e, nesse dia, os Iniciados do Valongo venceram o Boavista por 7-0. A 27, perderam com o Porto por 5-0. A seguir, ganharam ao Académico por 3-1; e ao Infante por 4-0; e ao Carvalhos por 2-1; e ao Porto.A por 2-0; e foram ganhar ao Académico por 3-0. Depois, empataram com o Infante a duas bolas. Houve ainda um Espinho-Valongo que o Valongo ganhou por 4-0. (RJ, 19730426_CP, 19730430, 19730504, 19730510, 19730523, 19730612, 19730618, 19730713).

Os Iniciados do Valongo conquistaram o Campeonato Regional, à frente do Infante, do Carvalhos e do Porto. O Comércio de 09/07 comenta esta vitória assim:

“Na categoria de Iniciados, o Valongo venceu sem qualquer espécie de discussão, obtendo o título, com todo o mérito, sem derrotas.

Foi a equipa não só mais regular, como a mais categorizada tecnicamente, pois as restantes estiveram muito longe de alardear o índice técnico da equipa vencedora. (…)

Os Iniciados do Valongo, que conquistaram o título, foram preparados pela dedicação do (treinador) do clube valonguense, José Camilo.” (RJ, 19730709_CP).

No Campeonato Metropolitano de Iniciados, que começou a 18 de Setembro, o Valongo venceu o Infante, nesse dia, por 3-2. Depois, perdeu com o Sintra por 3-2. Resultado considerado uma surpresa e cuja explicação foi: os sintrenses eram técnicamente menos evoluídos, mas fisicamente

mais fortes. (RJ, 19730919_CP, 19730924).

A seguir, os Iniciados do Valongo venceram o Infante, por 3-1 e foram batidos pelo Paço de Arcos, por 4-3.

Aqui acabam as notícias sobre o Campoenato Metropolitano de Iniciados. (RJ, 19730927, 19730927).

No dia do início do Campeonato Regional de Juniores, 25 de Abril, os Juniores do Valongo venceram o Carvalhos por 1-0; depois, empataram com o Porto a duas bolas, venceram o Vigorosa por 4-1 e o Porto.B por 5-4. Perderam, a 9 de Maio, com o Infante, por 4-2 e empataram, a 7 de Junho, a zero, com o Porto.A. Ganharam ao Vigorosa, por 5-0, provavelmente no dia 11 de Junho, e, a 17, perderam com o Infante por 7-2. Ainda ganharam ao Vilanovense por 12-1, no dia 8 de Julho e o Campeonato terminou com a vitória do Infante de Sagres, com o Porto.A em 2º e o Valongo em 3º. (RJ, 19730426_CP, 19730430, 19730504, 19730507, 19730510, 19730608, 19730612, 19730618, 19730709).

Surge, em Abril, a notícia do falecimento de um dos “grandes” do período mítico do hóquei português, Edgar Bragança Soares, um dos “cinco violinos”, como era conhecida aquela equipa cheia de talentos invulgares, dos anos 50 do século passado, em que os outros quatro eram Emídio Pinto, António Raio, Jesus Correia e Correia dos Santos. O lado mais chocante era que ele só tinha 48 anos. (RJ, 19730426_CP).

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2019, refere a ADV como vencedora em 1972-1973:

- do Campeonato Regional de Iniciados.

1974

A primeira notícia do ano com interesse para a ADV é a de que Horácio, Américo, Lino e Quelhas, do Valongo, foram selccionados para treinos das selecções. Estas são as Selecções Regionais de Seniores e de Juniores do Norte. Horácio, Américo e Lino treinam na primeira, Quelhas na segunda, todos no Pavilhão das Antas. (RJ, 19740316_CP).

No início do Campeonato Regional de Iniciados, a 5 de Abril, o Valongo venceu o Académico por 5-2; depois, talvez a 23, ganhou ao Pacense, por 6-2, ,e em 13 de Junho perdeu com o Porto por 1-0.

As notícias sobre o Campeonato acabam aqui. (RJ, 19740406_CP, 19740424).

Também o Campeonato Regional de Juvenis começou a 5 de Abril e o Valongo venceu nesse dia o Fânzeres por 21-0. Talvez a 23, ganhou ao Educação Física por 5-0 e ao Fânzeres, por 6-1. Dep+pois, perdeu com o Porto, em Valongo, a 13 de Junho, por 4-2. A seguir, venceu o Sanjoanense por 4-0 e o Oliveirense, por 6-0. Talvez a 15, no Pavilhão do Infante, empatou com o Porto a duas bolas. E em São João da Madeira, ganhou ao Oliveirense por 5-1. A seguir, foi batido pela Salesiana, por 3-2, e ganhou ao Académico também por 3-2. (19740406_CP, 19740424, 19740527, 19740614, 19740812, 19740812, 19740816, 19740821, 19740902, 19740920).

As notícias acabam aqui, perlo que mais uma vez ficamos sem saber a classificação dos Juvenis.

Os Juniores, no início do Campeonato Regional de Juniores, ganharam ao Fânzeres por 3-0; mais tarde, venceram o Educação Física por 10-3 e o Fânzeres por 2-1. Depois, perderam com o Porto.A por 4-1 e ganharam ao Curia por 5-0 e ao União

de Lamas, talvez a 11 de Agosto, por 11-2. Mais tarde, talvez a 15, foram ganhar ao Infante, por 1-0, venceram a Curia por 5-0 e o Lamas por 19-0, em São João da Madeira. (RJ, 19740406_ CP, 19740424, 19740527, 19740614, 19740812, 19740816, 19740821, 19740821).

Uma vez mais, não há quaisquer notícias sobre classificação final ou parcial dos Juniores, pelo que ficamos a zero.

O Campeonato Metropolitano de Seniores começou, para o Valongo, em 15 de Abril, com uma vitória sobre o Vigorosa, por 5-3. Depois, empatou com o Carvalhos, por duas bolas, e ganhou ao Fânzeres, por 3-2. (19740416_CP, 19740420, 19740423).

O próximo jogo foi com o Porto, nas Antas, mas não chegou ao fim, porque o árbitro expulsou, além de Cristiano, do Porto, França, Pires e Américo, do Valongo, que assim ficou reduzido a dois jogadores. Em vista disso, o árbitro pôs fim à partida. O Porto estava a ganhar por 3-1. (RJ, 19740523).

A seguir, o Valongo ganhou ao Vigorosa por 8-6 e perdeu com o Sanjoanense, a 13 de Junho, por 5-2. (19740529, 19740614).

A notícia seguinte sobre o Valongo não é àcerca de um jogo, mas relativa a um requerimento de embargo do Campeonato Nacional, feito pela ADV, onde se dá conta de um processo altamente censurável, devido a desleixo, inconsiederação ou desrespeito da Associação de Patinagem do Porto, que a notícia relata aliás de maneira veemente e acusadora. A questão foi que tanto o Valongo como o Porto foram punidos com a perda dos jogos, respectivamente, com o Beira-Mar e com a Sanjoanense, por falta decomparência.

Como a notícia sublinha, com essa derrota, cominada pela falsa falta de comparência, o Porto

“perdeu o primeiro lugar da sua zona, mas o Valongo perdeu mais, pois perdeu o direito ao seu apuramento para a fase final.”

Acontece que os dois clubes tinham recebido comunicados da APP, informando que os jogos marcados para o dia 29 de Abril não se poderiam realizar por falta de policiamento. Porém, essa falta só se verificou no Porto, porque, nos recintos do Beira-Mar e da Sanjoanense, a GNR assugurava o policiamento. Não existiu, por isso, responsabilidade dos dois clubes que lhe pudesse ser assacada. Acresce que, após esta falha da APP, a Direcção-Geral dos Desportos também não se portou bem, não respondendo ao primeiro requerimento do Valongo, de 11 de Julho (este já era o segundo), nem cumprindo as regras estabelecidas, que impõem que o clube seja ouvido, através do envio de uma nota de culpa, que lhe permita pronunciar-se e defender-se, para poder ser a seguir responsabilizado ou não. A notícia tem um final muito elogioso para o Valongo:

“a verdade é que o clube, que há vinte anos pratica a modalidade, com sacrrifícios de que poucos se podem orgulhar, com uma obra notável no domínio da preparação de jogadores, é espoliado do legítimo direito de disputar a fase final do Campeonato Nacional, apenas porque a Direcção-Geral dos Desportos não soube actuar de harmonia com os verdadeiros princípios de justiça que este organismo oficial devia ser o primeiro a defender. Impõe-se por isso e urgentemente que se faça justiça.” (RJ, 19740614_CP).

Para além de dar nota desta queixa institucional, neste caso ainda tenho uma queixa ‘burocrática’, que é o facto de não ter podido verificar a verdade interna deste requerimento e sobretudo a

respectiva sequência, porque as actas da Direcção do clube de 1974 só existem até à acta n.º 5, de 27.04. As outras ou não foram feitas (não se esqueça que o 25 de Abril aconteceu nesse ano…) ou desapareceram.

Em 5 de Outubro, deu-se início, no Pavilhão das Antas, por iniciativa da APP, ao Torneio de Infantis, com oito equipas inscritas, entre elas a do Valongo, que, juntamente a da Académica de Espinho, logo se evidenciou como possuidora de “índice técnico animador”. O Valongo nesse dia ganhou ao Pacense por 5-0, depois ao Carvalhos, por 2-1, em Valongo. Empatou com o Espinho a uma bola, ao ar livre e com chuva, e a seguir ganhou em Espinho ao Educação Física por 17-0, a 24 de Outubro. A notícia ressalta “a dignidade desportiva dos vencidos.” Depois, o Valongo empatou com o Porto, a uma bola, e assim conquistou o Torneio de Infantis. A notícia: “O Valongo foi o campeão por mérito absoluto, ficando nos lugares de honra: Carvalhos e A. de Espinho.” (RJ, 19741006_CP, 19741014, 19741018, 19741025, 19741122).

Surge uma notícia que enche de satisfação o próprio e todos os adeptos do clube: Américo na Equipa B de Portugal, de Seniores, “que no próximo fim-de-semana vai disputar em Barcelona um torneio internacional com as selecções A de Espnha, Alemanha e Itália (…) e que “ficou definitivamente escolhida pelos jogadores: Vítor Domingos (Cuf); F. Pereira (Salesiana); eng.º J. Rendeiro (Sporting); Salema (Sporting); Chana (Sporting); Américo (Valongo); e Carlos Alves (Paço de Arcos).” (RJ, 19740507_CP).

O documento da Associação de Patinagem do Porto (APP), intitulado “Vencedores Provas Hóquei em Patins”, de 1963-2019, não regista a ADV como vencedora em 1973-1974, por não ter vencido provas oficiais.

1975

O ano começa (nos jornais, claro) por uma notícia estranha: um empate a 5 bolas entre o Porto e o Valongo, aparentemente no campo do Porto. Notícia estranha porquê? Porque o habitual, tanto no Comércio do Porto como no Norte Desportivo, por exemplo, era os jornais daram sempre uma enorme atenção às actuações do Porto, não só por ele ser um clube importante, mas sobretudo, a meu ver, por clubismo, e, neste caso, não houve um só comentário.

Depois, em Fevereiro, Correia de Brito comenta a indignação dos sectores afectos ao hóquei com a decisão da Direcção-Geral dos Desportos de colocar o hóquei em patins no escalão de protecção “B”, que não garante “o máximo de protecção oficial”.

Fossem quais fossem as razões da Direcção-Geral e sem querer entrar na discussão (por desconhecer, neste momento, a realidade dos referidos escalões), há algo que para mim é uma constante: é o descaso, quer das entidades oficiais, quer da comunicação social, quer de alguns escritores do desporto, relativamente ao hóquei, que sendo a modalidade desportiva mais respersentativa do país, sempre foi tratada como de segunda…

E, a seguir, uma curiosidade: um leitor de Valongo insurge-se contra o “escalão B”… (19750211_CP e 19750216_CP).

No Torneio Quadrangular do Troéu Fernando Figeiredo , o Valongo perdeu com o Infante por 3-1.

Em Infantis, o Valongo perdeu com o Pacence por 2-6 e a seguir com o Porto por 2-4 (19750317_CP. 19750329_CP). Depois, ganhou ao Ed. Física por 8-0, ao Carvalhos por 8-1, e perdeu com o Espinho

(A) por 2-6 e com o Porto por 3-0 (19750407_CP, 19750414_CP, 19750506_CP, 19750605_CP). Cessam as notícias sobre Infantis.

Na classe de Iniciados, o Valongo ganhou ao Pacence por 7-1, empatou com o Porto (A) por 3-3, ganhou ao Porto (B) por 9-0, perdeu com o Carvalhos (A) por 2-5, ganhou ao Carvalhos (B) por 0-7, perdeu com o Porto (A) por 4-1. (19750317_ CP, 19750329_CP, 19750407_CP, 19750414_CP, 19750506_CP, 19750605_CP).

Os Juvenis do Valongo ganharam ao Carvalhos por 4-1, e ao Espinho por 1-4; perderam com o Rio Tinto por 2-3; ganharam ao S. Caetano por 5-1 e ao Infante por 3-2; empataram com o Infante, na casa deles, por 2-2. (19750317_CP, 19750329_ CP, 19750408_CP, 19750415_CP, 19750429_CP, 19750613_CP). Não há mais notícias.

Os Juniores perderam com o CDUP por 1-0, ganharam ao Ed. Física por 3-4, ao Águias por 3-1 e ao Vilacondense por 11-0; depois, perderam com o Infante por 2-4, e ganharam ao Águias por 2-4 e ao Fânzeres por 2-3. (19750317_CP, 19750329_ CP, 19750408_CP, 19750415_CP, 19750429_CP, 19750605_CP, 19750627_CP).

A equipa Sénior do Valongo, agora no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, Zona Norte, ganhou ao Espinho por 0-4, ao Académico por 1-0, ao Fânzeres por 1-2; perdeu com o Carvalhos por 5-4 e ganhou ao Beira-Mar por 4-2 e ao Porto por 3-1; empatou com a Sanjoanense, lá, por 0-0, ganhou ao Infante (que comanda a classificação) por 4-2 e ao Riba d’Ave por 2-4; empatou com o Espinho, em Valongo, por 3-3, ganhou ao Académico por 3-6 e ao Fânzeres por 7-3; perdeu com o Caravalhos, em Valongo, por 5-6, e ganhou ao Beira Mar por 2-7, tendo, de qualquer modo, ficado apurado no Norte. (19750325_CP, 19750405_CP,

19750412_CP, 19750413_CP, 19750417_CP, 19750419_CP, 19750503_CP, 19750504_CP, 19750517_CP, 19750520_CP, 19750524_CP, 19750527_CP, 19750530_CP, 19750531_CP).

Na disputa já do Nacional, o Valongo perdeu com o Sporting, por 7-2, ganhou ao Porto por 6-5, e ao Infante por 5-0 (falta e comparência), perdeu com o Oeiras por 6-3 e com o Porto por 4-2; empatou com o Infante, no pavilhão deles, por 2-2, e acabou por ficar no 3º lugar da tabela, atrás do Sporting, que ganhou o campeonato, e do Porto. (19750619_CP, 19750620_CP, 19750629_ CP, 19750706_CP, 19750724_CP, 19750731_CP, 19750802_CP, 19750804_CP)

No dia 30 de Maio, houve uma reunião considerada importante, na Casa do Desporto, com elementos da F. P. P., da A. P. P., da Comissão Distrital de Árbitros e de alguns árbitros, para resolver um problema que se arrastava e que era o facto de alguns árbitros não comparecerem a arbitrar jogos em Valongo (e por isso vimos, por vezes, o Nora ou o Camilo a arbitrar alguns). Parece que o problema se resolveu graças à intervenção do Presidente da A. P. P., Sr, Rodrigo Leite, que assegurou aos árbitros carro próprio com motorista para os trazer a Valongo… É difícil de acreditar!... (19750530_CP).

A 5 de Junho, Correia de Brito chamou a atenção para um “imbroglio” provocado por uma queixa de um clube contra o Valongo, por este ter alinhado num jogo com o guarda-redes suplente sem número, obrigatório, na camisola. (19750605_ CP).

A 29 de mesmo mês de Junho, o mesmo Correia de Brito comenta o facto de o Infante – que há meses tem uma reclamação em Lisboa acerca de um jogo feito em Valongo – não ter comparecido para o jogo com o Valongo, no dia anterior, dizendo que

também o Porto teria pedido um inquérito oficial e teria decidido não mais defrontar o Valongo em quaisquer categorias. Diz que os jogadores do Académico já há várias semanas “tomaram uma posição frontal, recusando-se a defrontar os jogadores do Valongo em quaisquer recintos.” E que, segundo informações obtidas, também o Cascais se preparava para tomar idêntica atitude, na segunda volta do campeonato.

Fala então da reunião havida a 30 de Maio, por causa dos árbitos, e revela que teve a ver com o mesmo problema. Diz que os desacatos praticados por assistentes incontidos criam situações intoleráveis para os atletas e os árbitros, mas que isso não acontece só em Valongo. Remata, argumentando que “todos temos de encontrar uma solução construtuiva para esta embaraçosa situação.” (19750629_CP).

É ainda o mesmo jornalista que chama a atenção para o facto de ter havido duas equipas nortenhas nos 3 primeiros lugares do Campeonato Nacional, o Porto e o Valongo, e que refere o “honroso terceiro lugar” do Valongo” (19750804_CP).

Em Agosto, o Comércio noticia uma homenagem aos jogadores do Valongo, promovida pela Direcção da ADV, no pavilhão desportivo, e, em Setembro, noticia a chegada a Valongo de um novo treinador da ADV, João de Brito, oriundo do Porto e do Riba d’Ave. (19750822_CP, 19750904_CP).

Em Dezembro, já na 4ª jornada do Torneio de Abertura, o Comércio do Porto publica uma nota muito elogiosa do Valongo, chamando-lhe “a prometedora equipa do Valongo”. O elogio é significativo, sobretudo porque anuncia o empate, 4-4, com o Porto, que merece sempre um desvelado carinho dos jornalistas do Comércio, que por vezes lhes dificulta a objectividade; e porque demonstra uma

grande atenção à equipa e um grande conhecimento dela. Diz a nota:

“Em primeiro lugar, o Valongo que, mercê do trabalho que está a fazer o seu novo treinador João de Brito Malheiro será com certeza, nesta temporada, a equipa de sensação. Com seis jogadores a menos: Vítor Francisco, Américo, Pires e Nora, a cumprirem castigo federativo, Vale que se casou no sábado e Horácio ainda convalescente, o grupo de Valongo fez uma exibição de muito nível e empatou com o F. C. do Porto, resultado aliás sofrido a dois segundos do fim, quando parecia inevitável o desaire total dos «portistas». A jovem e prometedora equipa do Valongo esteve sempre a ganhar, o que torna ainda mais meritório o seu êxito e pode dizer-se que o lote de jogadores que possui lhe dá boas perspectivas para a Taça de Portugal.” (19751204_CP).

Em 23 de Dezembro, quando publica o resultado do Espinho-Valongo (2-7), o Comércio anuncia a distribuição de prémios da época 1974-75, da A. P. P., no anfiteatro da Casa do Desporto, no sábado seguinte, em que será orador Manuel Correia de Brito, e repete: “VALONGO – continua a ser a equipa mais prometedora.” (19751223_CP).

O documento da A. P. P. regista, no ano de 197475, a vitória da ADV no Campeonato Regional de Juvenis.

Um dos aspectos sem dúvida impressionantes neste ano de 1975 são as várias acusações, feitas por alguns clubes e relatadas por alguns jornalistas, de que os jogadores e o público de Valongo teriam exercido violência em alguns jogos, em casa e fora dela, contra jogadores desses clubes queixosos.

Pelo que investiguei, não houve nenhum inquérito, oficial ou privado, que apurasse a verdade ou inverdade das acusações ou a dimensão do fenómeno, pelo que, a esta distância, seria um exercício difícil e talvez inglório tentar discernir responsabilidades. Porém, há uma coisa que é certa, porque decorre de inúmeros relatos de jornalistas sobre jogos do Valongo e de todos os outros clubes: houve violência, de maior ou menor dimensão, em muitos dos jogos relizados. Quem a provocou, quem a acicatou, quem beneficiou com ela, a quem ela prejudicou – são as questões que sempre se colocam e cuja resposta nunca é fácil.

Registo com gosto a atitude do meu querido Amigo Joaquim Navio, então presidente da Direccção do clube, que, acompanhado por outros dirigentes e pelo capitão da equipa sénior, Manuel Pires, decidiu desagravar o nome da ADV, segundo ele acusada sem razão, e foi ao Porto dar uma conferência de imprensa, para explicar o ponto de vista do clube. Mesmo que não tenha convencido muita gente, entendo que é um bom sintoma de carácter quando os dirigentes de um clube decidem enfrentar o incómodo e até o risco de virem à praça pública dizer de sua justiça. Por isso, bem hajam! (19750605_CP, 19750629_CP, 19750714_CD).

1976

A contar para o Torneio de Abertura, o Valongo venceu a Oliveirense por 5-4. Mais tarde, já a contar para Taça de Portugal, perdeu com o Oeiras por 2-4, ainda que tenha ganho em Oeiras, na 1ª mão, por 4-5. Depois, no Campeonato Nacionalo d 1ª Divisão, Zona Norte, empatou com o Infante, em casa dele, por 1-1, e ganhou ao Carvalhos por

6-2 e ao Académico por 1-6. De modo que, neste momento, ocupava o 1º lugar da tabela, com o mesmo número de pontos (23) do Infante.

A última notícia titulava: “Valongo – Uma Grande Equipa Jovem”. (19760118_CP, 197602223_CP, 19760316_CP, 19760327_CP, 19760411_CP).

Semana e meia depois do último jogo, o Valongo perdeu com o Porto por 6-4, ganhou ao Espinho por 8-5, perdeu com o Fânzeres por 8-4, venceu o Académico por 6-3, e a Oliveirene por 4-7. Ficou deste modo apurado para a fase final, juntamente com o Infante, o Porto e a Oliveirense. (19760427_ CP, 19760501_CP, 19760501_CP, 19760625_CP, 19760529_CP).

Na 3ª jornada do Campeonato Nacional, o Valongo perdeu com o Benfica por 9-3 e depois foi batido, em Valongo, pelo Sporting, por 5-6. Em Julho, o Valongo venceu o Benfica por 10-4, mas curiosamente não há mais notícias sobre essa vitória, a não ser que passou a ocupar o 4º lugar da tebela de oito. (19760607_CP, 19760621_CP, 19760705_CP).

Na disputa da Taça Lopes Gonçalves, o Valongo ganhou ao Infante por 1-0 e perdeu, surpreendentemente, com o Académico por 3-0. Depois, venceu o Fânzeres por 2-7, o Vigorosa por 12-1. (19761026_ CP, 19761103_CP, 19761106_CP, 19761109_CP).

Já no torneio e Abertura, o Valongo ganhou ao Águias por 10-1, perdeu com o Porto (A) por 2-1, empatou com o Académico por 2-2, ganhou à Olivierense (A) por 5-7, ao Carvalhos (A) por 4-2, à Sanjoanense (A) por 3-6, e perdeu com o Porto por 5-1. (19761116_CP, 19761120_CP, 19761123_ CP, 19761210_CP, 19761211_CP, 19761214_CP, 19761216_CP)

Em Reservas, o Valongo venceu a Olivierense por 2-0 (19760118_CP).

Em Juniores, o Valongo venceu o S. Caetano por 0-6 e o Espinho por 7-2 e perdeu com o Porto por 4-2 e com o Fânzeres por 0-1. Depois, ganhou ao Vilacondense por 10-0. E é tudo o que sabemos. (19760202_CP, 19760216_CP, 19760427_CP, 19760519_CP, 19760625_CP).

Quanto aos Juvenis, na 2ª série do Torneio de Abertura, eles ganharam ao Espinho por 5-0, mas este sagrou-se campeão regional. (19760216_CP , 19760315_CP).

Em Maio, os Juvenis perderam com o Carvalhos por 2-1, depois ganharam ao Académico por 5-0 e ao Porto por 0-3 e perderam com o Pacence por 4-0. (19760519_CP, 19760625_CP, 19760601_CP, 19760614_CP).

A penúltima notícia é acompanhada por um fotografia da equipa sénior, cuja legenda diz:

“VALONGO – VENCEDOR DA ZONA NORTE.- A equipa do Valongo, talvez uma das mais jovens e, com certeza, das mais prometedoras do País, acaba de alcançar o primeiro lugar no Campeonato Nacional da I Divisão (por zonas), revelando ser a mais rápida e melhor tecnicamente. Equipa formada totalmente por jogadores criados no Valongo, é um exemplo flagrante do trabalho em profundidade.

Treinada por outro elemento jovem, João de Brito, que foi jogador do F. C. do Porto e do Académico, além de internacional junior e sénior, a equipa do Valongo tem um promissor futuro diante de si. De pé, da direita para a esuerda: João de Brito (treinador); Pires, Vale, Aguiar e Lino. Em baixo e pela mesma ordem: Camões, Horácio, Vítor Francisco e Américo. À esquerda, ainda, o mecânico e o massagista do

grupo. Pires e Américo são os veteranos da equipa, mas cuja experiência é ainda muito útil ao Valongo”.

Em Iniciados, o Valongo ganhou ao Espinho por 2-4 e ao Vilacondense por 1-12 e empatou com o Pacence por 1-1. (19760308_CP, 19760519_CP, 19761228_CP).

Os Infantis doram edrrotados pelo Espinho (A) por 11-0, pelo Carvalhos, por 6-2, pelo Educ. Física, por 2-1. (19760308_CP, 19760519_CP).

Uma das notícias mais relevantes do ano foi o facto de o seleccionador nacional de Juniores, Manuel Correia de Brito – que, no ano passado reconquistou o Campeonato da Europa, em Darmstadt, na Alemanha – ter pedido a demissão, por vários motivos, mas especialmente por a Federação Portuguesa de Patinagem não ter atendido a sua sugestão de que o próximo Campeonato da Europa, aprovado para o Outubro seguinte, se realizasse no pavilhão do Porto, com capacidade para 7.000 pessoas.

A Direcção-Geral dos Desportos não quer que a prova se dispute nos grandes centros, como Lisboa ou Porto, para permitir a sua divulgação noutros locais do país e acabou por marcar a prova para Barcelos. (19760411_CP).

Em 16 de Junho, colei um recorte do Comércio do Porto que dá notícia da composição da Selacção Nacional de Juniores que irá jogar em Barcelos. Achei muito curioso que, disputando-se a prova numa cidade do Norte, aliás possuidora de um bom clube de hóquei, a Seleccção Nacional seja composta exclusivamente por jogadores de clubes do Sul…

Cada um interpretará este facto como quiser. Eu penso que, para além da realidade, que ninguém nega, de, durante muitos anos, existir uma

superioridade técnica dos clubes e jogadores do Sul em relação ao resto do país, esta composição da Selecção é também fruto de uma certa mentalidade de centralismo que afecta a todos, mesmo a algumas personalidades do Norte que vão para Lisboa e lá se esquecem da sua origem. (19760616_CP).

No dia seguinte, uma outra notícia interessante, que documenta o funcionamento deficiente da Associação de Patinagem do Porto e indica, como exemplo, o facto de ele ter já de algum modo afectado o Valongo, dado que não se sabe ainda o resultado do jogo Valongo-Pacence, visto que o boletim do árbitro andava desaparecido. (19760617_CP).

O comentário do jogo Valongo-Sporting, que o Valongo perdeu por 5-6, é muito fvorável ao Valongo. (19760621_CP).

O ano fecha com uma longa e bem feita reportagem de Alfredo Barbosa, do Norte Desportivo, sobre a história e percurso da ADV, ouvindo trestemunhos relevantes, como os de Francisco Pires, antigo guarda-redes e então chefe de secção, e João Brito, actual treinador. Faz referência a alguns dos “esteios” de sempre da Associação, como Delfim Pires e José Viterbo, e fecha com um curiosíssimo quadro, em que apresenta, com destaque, os “doze” (não de Inglaterra, mas do Valongo…) jogadores seniores em exercício, com este comentário, que, como pode ver-se nas notícias da época, impressionava toda a gente:“Todos da terra e criados no clube.”

O documento da A. P. P. regista, no ano de 197576, a vitória da ADV na fase de zonas do Campeonato Nacional da 1ª Divisão.

1977

O ano principia com uma vitória importante dos Juniores sobre o Porto, 4-0 e outra sobre o Académico, 5-0. Depois, empataram com a Sanjoanense, em São João da Madeira, por 3-3. A Sanjoanense liderava a prova e assim o Valongo ficou em 2º lugar, com o mesmo número de pontos, 29. A seguir, empatou e novo com o Póvoa, por 4-4, ganhou ao Fânzeres por 3-1 e perdeu com o Porto por 2-1, para a seguir vencer o Póvoa por 5-0 (falta e comparência). (19770105_CP, 19770119_ CP, 19770416_CP, 19770427_CP, 19770530_CP, 19770619_CP, 19771129_CP)

Os Iniciados perderam com o Académico por 0-6 e com o Infante por 7-0. Depois, ganharam ao Fânzeres por 3-1. (19770119_CP, 19770427_CP, 19770530_CP).

Na Taça de Portugal, o Valongo ganhou à Sanjoanense por 9-1 e ao Académico por 5-3 e de novo por 2-3. Após protesto do Académico, para repetição do jogo, o Valongo eliminou-o por 7-3. A seguir, perdeu com a Salesiana por 7-3 e ganhou à Salesiana por 8-2. Foram eliminados: Salesiana, G.E.D.E., Sotto Mayor, F. C. do Porto. E apurados para as meias-finais: Valongo, Carvalhos, Sporting e Oeiras. (19770109_CP, 19770123_CP, 19770130_ CP, 19770202_CP, 19770205_CP, 19770206_CP, 19770214_CP).

O Sporting ganha a Taça de Portugal e o Valongo, já no Campeonato Nacional, vence o Águias por 13-1. Depois, perde por 3-0 com o Porto, ganha ao Académico por 9-1, perde com a Oliveirense por 10-4, vence o Águias por 3-11 e a Oliveirense por 11-1 e perde com o Porto por 8-1 e com o Benfica por 6-4. A seguir, vence o Carvalhos por 6-2 e o Infante por 5-2 e empata com o Oeiras, em Valongo, por 2-2.

O Sporting ganha o Campeonato e o Valongo fica no 3º lugar da tabela, atrás do Sporting e do Oeiras. (19770313_CP, 19770313_CP, 19770326_ CP, 19770329_CP, 19770402_CP, 19770412_CP, 19770515_CP, 19770526_CP, 19770530_CP, 19770602_CP, 19770609_CP, 19770711_CP).

A Direcção do Valongo homenageia os atletas, pela sua participação na Taça dos Clubes Campeões Europeus e pelo 3º lugar no Campeonato Nacional, com um almoço num restaurante da vila. Presentes o Presidente da APP, Rodrigo Leite, o Presidente da Junta de Freguesia, Lino Ferreira, o Presidente da ADV, Carlos Figueira, o capitão da equipa, Manuel Pires, o actual e o ex-treinador, Abílio Moreira e José Viterbo, o membro da Assembleia-Geral da ADV Albino Poças, além de jogadores e convidados. (19770722).

Já na 2ª jornada do Torneio de Abertura, o Valongo empatou com o Carvalhos, por 3-3. Mais tarde, ganhou ao Porto po 3-1, ao Candal por 2-4 e ao Académico por 8-1. (19771023_CP, 19771029_CP, 19771108_CP, 19771204_CP).

Uma notícia de 28 de Janeiro anuncia o José Viterbo como o novo treinador da ADV. Porém, a notícia da homenagem aos atletas, de 22 de Julho, já o apresenta como ex-treinador, substituído por Abílio Moreira. (19770128_CP, 19770722_CP).

Uma das notícias interessantes do ano foi a de que os clubes iriam receber, a título de “fomento das escolas de jogadores”, verbas oriundas das percentagens obtidas com as receitas do jogos da Taça de Portugal. O Valongo recebe 1.770$00. (19770219_CP).

O documento da A. P. P. regista, no ano de 1976-77, vitórias da ADV no Torneio de Abertura de Juniores, Série A, e no Torneio de Abertura de Juvenis, Série A.

1978

Jogando os quartos de final da Taça de Portugal, o Valongo foi derrotado pelo Benfica, em Valongo, por 1-3 e depois por 4-2. (19780108_CP, 19780115_ CP)

Já no Campeonato Nacional, o Valongo derrotou o Porto por 4-2, empatou com os Rel. Invicta, no campo deles, por 4-4, perdeu com o Espinho por 3-1, ganhou ao Infante por 4-1 e ao Carvalhos por 2-7. Venceu a Oliveirense por 3-0 e perdeu com o Porto por 5-3. A seguir, ganhou ao Candal por 4-7 e ao Espinho por 5-0. Perdeu com o Infante por 6-5 e com a Oliveirense por 4-3. Depois, ganhou à Sanjoanense por 5-4 e empatou com o Parede por 2-2 e a seguir foi por ele derrotado por 1-2. Em sequência, o Valongo perdeu com o Sporting por 1-2 e ganhou ao Carvalhos por 9-5; perdeu com o Benfica por 10-4 e com o Oeiras por 10-4, com o que se concluiu a 1ª volta do Campeonato, com o Valongo colocado na 5ª posição da tabela. (19780218_CP, 19780221_CP, 19780228_ CP, 19780307_CP, 19780311_CP, 19780314_CP, 19780405_CP, 19780411_CP, 19780416_CP, 19780422_CP, 19780430_CP, 19780504_CP, 19780618_ND, 19780624_CP, 19780706_RC, 19780709_RC, 19780710_CP

Continuando, na 8ª jornada do Campeonato Nacional, o Valongo perdeu com o Porto por 7-3, ganhou ao Parede por 3-2, perdeu com o Sporting por 1-2, ganhou ao Infante por 6-4, empatou com o Carvalhos, no campo deles, a 5 bolas, perdeu com o Benfica por 2-3. O Sporting ganhou o Campeonato, com uma vitória sobre o Porto, por 5-4, num jogo, dizia o Record, “impróprio para cardíacos”, e o Valongo ficou colocado na 5ª posição, atrás do Sporting, Oeiras, Porto e Benfica e à frente do Parede, do Infante e do Carvalhos.

(19780720_ND, 19780723_ND, 19780725_RC, 19780727_ND, 19780803_ND, 19780806_CP).

Em Outubro, começou o Torneio de Abertura e o Valongo empatou, no pavilhão do Vigorosa, com o Rel. Invicta por 4-4; depois, venceu o Fânzeres por 8-4. (19781017_CP, 19781022_CP).

Começou depois a disputa da Taça de Portugal e surgiu a notícia da suspensão do Valongo dessa competição porque alegadamente deveria ter pago uma quantia que decidiu pagar, por conselho da APP, com dinheiro que a Federação lhe devia… Não se sabe qual foi a conclusão do processo, mas sabe-se que o Valongo continuou na prova, porque em Dezembro ganhou ao Fânzeres por 4-2 e de seguida eliminou o Espinho, ganhando por 2-3. O ano terminou com o anúncio do Porto-Oeiras e do Valongo-Belenenses nios oitavos de final. (19781123_CP, 19781210_RC, 19781217_CP, 19781227_CP).

Entretanto, tinha começado a disputar-se a Taça dos Campeões Europeus e o Valongo foi derrotado em casa pelo Iserlohn, da Alemanha, por 6-7. Foi um jogo muito renhido e a derrota contrariou as expectativas, que eram de vitória do grupo da casa.

Para compensar, foi ganhar à Alemanha por 3-6, assim se mantendo na competição. Correia de Brito entende que o Valongo deu provas de ser superior aos alemães. A equipa foi recebida em Valongo com grande festa (“em apoteose”, diz o Comércio) e houve cortejo automóvel e grande entusiasmo. (19780507_ND, 19780524_CP).

Foi promovido pelo clube um Torneio Quadrangular, sendo convidados o Relógios Invicta, o Infante e o Carvalhos, que o Valongo acabou por ganhar. (19780513_CP, 19780518_CP).

Ainda na disputa da Taça europeia, competia ao

Valongo enfrentar o Barcelona, que já havia eliminado o Sporting, e o Valongo pediu para jogar primeiro em casa, mas o primeiro jogo acabou por ser em Barcelona e o clube foi derrotado por 8-0, no dia 10 de Junho. Na 2ª mão, no desafio realizado em Valongo, no dia 24 e Junho, a ADV ganhou por 5-3, o que não foi suficiente para se manter na competição. De qualquer modo, foram duas jornadas de grande importância, que projectaram o clube além-fronteiras e lhe forneceram o ensejo de ganhar consciência do seu valor. (19780611_ ND, 19780625_ND).

Dos portugueses, só o Oeiras se manteve na prova. (19780625_ND, 19780626_CP).

Vale a pena relembrar um excerto da notícia do Comércio do Porto, de 26 de Junho, sobre as competições europeias, porque ela lança alguma luz sobre uma queixa que a Federação espanhola virá fazer mais tarde, contra o Valongo e o Carvalhos:

“Os acontecimentos em Follonica, Voltregá e Barcelona, há cerca de quinze dias, nas duas mais importantes provas europeias; Taça dos Campeões Europeus e Taça das Taças, decorreram sob o signo da dureza, da violência e da complacência dos árbitros que dirigiram esses encontros, nos quais três equipas portuguesas, duas do Porto: Valongo e Carvalhos, e uma de Lisboa: Oeiras, foram as grandes vítimas.” (19780626_CP).

Esta anotação tem a ver com uma decisão da Federaçao Espanhola de Patinagem de não voltar a enfrentar clubes portugeuses em jogos intenacionais, enquanto não fosse apresentado um pedido de desculpas pelas agressão ocasionadas nos jogos com o Carvalhos e o Valongo. (9780808_ RC, 19780810_CP).

A situação é denunciada e desmistificada na notícia-comentário, de 9 e Julho, do Norte Desportivo, que coloca os pontos nos is. (19780626_CP, 19780709_ND).

E é comentada de maneira cáustica por Livramento e definitivamente esclarecida por José Castel-Branco, então Presidente da Federação Portuguesa de Patinagem. (19780808_RC).

Parece que acabou por imperar o bom-senso. (19781217_CP).

Quanto aos Juniores, eles começaram por ganhar ao Fânzeres, por 9-1, e depois venceram o Póvoa, por 6-3 e assim asseguraram a sua participação no Campeonato Nacional e Juniores. (19780214_ CP, 19780323_CP).

Ainda na fase de apuramento do Nacional, mas sem influência na classificação, os Juniores bateram o Riba d’Ave por 9-1. De seguida, empataram com o Póvoa por 1-1, na Póvoa, venceram o Barcelos por 0-7 e empataram com o Porto, no Porto, por 1-1. Depois, foram derrotados pelo Cascais, por 5-2, e venceram o Porto por 6-2 e o Cascais por 2-1. De seguida, perderam com o Sporting por 1-2. O Sportingo revalidou o título de Campão de Juniores e o Valongo ficou na 3ª posição, atrás do Sporting e do Cascais e à frente do Porto. (19780504_CP, 19780514:ND, 19780603_CP, 19780628_CP, 19780702_ND, 19780711_RC, 19780716_RC, 19780718_RC).

Quanto aos Infantis, ganharam ao Póvoa por 3-0, ao Pacense por 11-1 e ao Porto (B) por 1-3. (19781227_CP, 19780228_CP, 19780630_CP).

Os Juvenis empataram com o Fânzeres por 3 bolas e venceram o Valadares por 8-9. (19780214_CP, 19780228_CP).

Os Iniciados ganharam ao Carvalhos por 6-5 e

venceram o Pacense por 10-2 e o Carvalhos (B) por 1-4. (19780214_CP, 19780228_CP, 19780630_CP).

O documento da A. P. P. regista, no ano de 197778, vitórias da ADV no Campeonato Regional de Juniores, Série A, no Torneio de Abertura da 1ª Divisão e no Torneio de Abertura de Juniores.

1979

Nos oitavos de final da Taça de Portugal, foi inesperada a vitória do Belenenses em Valongo, contra a ADV, por 2-4. Depois, em Lisboa, o Valongo empatou com o Belenenses por 3 bolas. (19790107_CP, 19790114_CP).

Já no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, Norte, o Valongo perdeu com o Infante por 2-1, ganhou ao Carvalhos por 9-5 e ao Espinho por 1-7, perdeu com a Oliveirense por 6-4, venceu o Fânzeres por 8-1, perdeu com o Riba d’Ave por 2-1, ganhou ao Espinho por 3-2 e perdeu com o Carvalhos, num jogo de repetição, por 8-3. De seguida, ganhou ao Rel. Invicta por 2-5, empatou com o Porto por 4 golos, venceu o Fânzeres por 1-6, o Riba d’Ave por 8-1 e a Acad. Coimbra por 3-6, deste modo se apurando para a final. (19790220_CP, 19790224:CP, 19790303_CP, 19790310_CP, 19790317_CP, 19790320_CP, 19790403_CP, 19790408_CP, 19790410_CP, 19790421_CP, 19790424_CP, 19790428_CP, 19790501_CP).

Terminada a fase preliminar, iniciou-se o Campeonato Nacional com as oito equipas apuradas: Sesimbra, Oeiras, Benfica, Sporting, Infante, Valongo, Porto e Oliveirense.

Em 20 e Maio, o Valongo perdeu com o Infante por 7-4 e depois com o Sporting por 0-4. De seguida, venceu o Sesimbra por 3-2, perdeu com

a Oliveirense por 3-2, empatou com o Porto por 3-3, perdeu com o Benfica por 3-0, empatou com o Oeiras, em Oeiras, por 3 bolas, empatou com o Infante, em Valongo, por 0-0, perdeu com o Sesimbra por 5-1 e com o Sporting por 9-3, ganhou à Oliveirense por 12-6, perdeu com o Porto por 9-1 e com o Benfica por 1-5, venceu o Oeiras por 5-1. (19790520_CP, 19790521_CP, 19790523_ CP, 19790621_CP, 19790607_CP, 19790610_CP, 19790612_CP, 19790621_CP, 19790626_CP, 19790705_CP, 19790719_CP, 19790710_CP, 19790723_CP).

O Benfica ganhou o Campeonato e o Valongo ficou colocado em 7º lugar, na tabela de um grupo de oito clubes.

Em Outubro, iniciou-se o Torneio de Abertura da APP e, em 23, o Valongo venceu o Espinho por 7-1, depois perdeu com a Sanjoanense por 2-0, no que foi assinalado como “a primeira derrota do Valongo”. A seguir, o Valongo perdeu com o Porto por 5-0, ganhou ao Rel. Invicta por 3-4, empatou com o Carvalhos por 4-4, venceu o Infante por 4-6 e o Porto por 2-0, ganhou à Académica de Coimbra por 5-6 e, passados 7 dias, por 12-1; depois, perdeu com a Oliveirense por 9-3. (19791024_ CP, 19791107_CP, 19791114_CP, 19791118_CP, 19791121_CP, 19791127_CP, 19791212_CP, 19791216_CP, 19791223_CP, 19791230_CP).

Os Juniores empataram com o Infante por 1-1, venceram o Paço de Rei por 4-0, perderam cm o Carvalhos por 3-1 e a seguir ganharam-lhe por 2-1; perderam com o Infante por 0-5, ganharam à Oliveirense por 3-0 e foram derrotados pelo Seia por 2-4.

(19790214_CO, 19790219_CP, 19790309_CP, 19790311_CP, 19790318_CP, 19790325_CP, 19790404_CP, 19790404_CP).

Começou o Campeonato Regional de Juniores e o Valongo perdeu com o Porto por 6-0, ganhou ao Paço de Rei por 4-0 e à Sanjoanense por 1-2, perdeu com o Infante por 6-1. (19791104_CP, 19791112_CP, 19791210_CP, 19791225_CP).

Os Iniciados perderam com o Porto por 0-5 e por 0-3, depois ganharam ao Académico por 0-3. (19790129_CP, 19790326_CP, 19790402_CP).

No Campeonato Regional de Iniciados, o Valongo perdeu com o Porto por 2-0 e com o Carvalhos por 5-2. (19791126_CP).

Os Juvenis venceram o Rio Tinto por 3-1 e o Porto por 5-4. (19790219_CP, 19790318_CP).

No início do Campeonato Regional de Juvenis, o Valongo venceu o Infante por 0-5 e o Paço de Rei por 4-0. (19791104_CP, 19791112_CP).

Os Infantis ganharam ao Porto por 2-1, empataram com a Oliveirense a zero e ganharam ao Poto (A) por 5-2. Depois, perderam com o Infante por 9-0 (19790129_CP, 19790129_CP, 19790402_ CP, 19790612_CP).

No Campeonato Regional, os Infantis perderam com o Porto por 7-1 e com o Carvalhos por 7-3; ganharam ao Massarelos por 0-4 (19791112_CP, 19791126_CP, 19791210_CP).

Houve, neste ano, uma notícia muito relevante: um grupo de adeptos da ADV angariou os fundos necessários para aquisição de uma carrinha de transporte de passageiros que ofereceu ao clube para conduzir os jogadores e seus assistentes a todos os desafios. Foi uma prova de grande dedicação e de amor pelo clube.. (19790723_CP).

O documento da A. P. P. intitulado “Vencedores de Provas de Hóquei em Patins”, 1963-2019, refere o ano e 1978-79 como sem vitórias da ADV.

1980

Na continuação da Taça de Portugal, o Valongo empatou com a Oliveirense por 5-5. O Benfica ganhou a Taça, com Ramalhete em grande destaque. (19800106_ND).

Iniciou-se o Campeonato Nacional da 1ª Divisão e o Porto venceu o Valongo por 4-1; depois, o Valongo empatou com o Rel. Invicta, por 2-2, ganhou ao Carvalhos por 5-4, empatou com o Infante, por 4-4, e com o Juventude de Viana por 0-0.

O Valongo ficou em 4º lugar, atrás do Porto, da Oliveirense e da Sanjoanense, o que lhe deu apuramento para a final. (19800203_ND, 19800316_ ND, 19800320_ND, 19800501_ND).

Na final, o Valongo perdeu com o Belenenses, por 4-2, e com o Sporting por 10-2; ganhou à Oliveirense por 4-3, empatou com o Belenenses, por 4-4. Ocupava, neste momento o 4º posto na tabela. (19800601_ND, 19800615_ND, 19800626_ND, 19800629_ND).

As informações sobre o final do Campeonato (que terminou em 1981, já fora do âmbito deste livro) dizem-nos que o Benfica foi o vencedor (sendo o seu 15º título), o Sportingo ficou em 2º lugar e a ADV foi o terceiro classificado, o que deve considerar-se uma conquista magnífica.

Notícia dos primeiros dias de Janeiro: o Dr. Correia de Brito foi nomeado seleccionador nacional dos Seniores. (9800110_ND).

Em Fevereiro, a ADV anuncia que irá comemorar em Março o 25º aniversário da sua fundação, ou seja, as suas Bodas de Prata! Prevê a realização de um “ torneio quadrangular”, para o qual convidou o Porto, o Infante e a Oliveirense, e que o Porto ganhou, vencendo o Valongo por 3-0. O programa

completo das festas está no capítulo sobre as Bodas de Prata. (19800224_ND, 19800309_ND, 19800328_CD).

A Câmara descerra está lápide de lousa no Pavilhão em 28 de Fevereiro de 1997, que depois alguém retirou.

O Correio do Douro noticia que Valongo tem cinco lugares nos novos corpos gerentes da APP, ocupados por pessoas da ADV, que são: José Alves da Costa, Alcides Leal Machado, José Maria Barros Claro, José Viterbo e o Dr. António Aurélio Babo de Magalhães. (19800512_CD).

Incluí dois textos que, parecendo não ter muito a ver com a história do clube, no entanto tiveram, a meu ver, profundas implicações com o seu quotidiano.

O primeiro é um artigo de um jornalista do Norte Desportivo, A. T. (António Teixeira?) que transcreve uma parte substancial de um artigo escrito por Francisco Velasco e publicado num jornal de Moçambique, tratando de uma análise do jogo, tal como está sendo praticado em Moçambique e também em Portugal. A importância que dou a este artigo de Velasco é, para lá da discussão sobre a antinomia que ele estabelece entre o hóquei

Outro aspecto das comemorações dos 25 anos. Uma homenagem a José Camilo e Américo Moreira.

individualista e o hóquei ‘táctico’ que terá sempre de ser colectivo (segundo Velasco) em especial este facto: ele pára para pensar algo com que tem vivido e que lhe interessa e continua a dizer-lhe muito. Para além das ideias de Velasco sobre o hóquei, com que se pode concordar ou discordar, mas que são sempre pensadas com conhecimento, com lógica, com bom senso e bem argumentadas, o que nele sempre me impressionou foi a sua necessidade e capacidade de pensar sobre o hóquei e de escrever sobre ele. Essa é uma atitude que considero altamente positiva e que não teve, entre nós, seguidores. O seu blogue “Carrossel” devia ser de leitura obrigatória para quem gosta deste desporto. (19800313_ND).

O outro texto que resolvi incluir no “Resumo dos Jogos” é uma convocatória de reunião com uma rubrica ilegível para quem não conheça o autor (que é, por isso, como não assinada), aparentemente oriunda de um grupo sediado ou pelo menos com maioritário acesso ao Pavilhão da Académica de Espinho.

O texto tem a data de 26.08.1980 e convoca a reunião para 5 de Setembro. O seu conteúdo trata de um dos assuntos que, nesses anos 60-70-80, mais desgastou e irritou dirigentes de pequenos ou modestos clubes e praticantes “bairristas”, que começaram a ver os seus melhores atletas, sobretudo aqueles que esses clubes tinham levado anos a formar, a serem sugados pelo Porto, ainda por cima de modo dificilmente contrariável. Isto é, o Porto aliciava os atletas com dinheiro e empregos e os clubes sugados, se tinham mesmo apreço por aqueles jogadores que lhes tinham dado o seu melhor, mas que ansiavam por uma melhoria de vida, não só aceitavam como até chegavam a incitá-los a aceitarem as propostas do aliciador.

Os clubes que a convocatória enuncia – Espinho, Carvalhos, Valongo, Infante – eram os que mais sentiam o problema, porque tinham escolas de jogadores, trabalhavam imenso para terem boas reservas para futuro e, de um dia para o outro, viam-se despojados desse capital precioso e essencial.

O problema mantém-se, mas agora mais atenuado, visto que o Valongo, por um lado, abandonou o puro amadorismo e a manutenção do clube apenas com jogadores da terra, que eram as suas duas regras de ouro, desde o seu início; por outro lado, a situação evoluiu para um sistema idêntico ao clássico do futebol, com trocas e compras de jogadores e de técnicos de todos com todos e para todos (sendo que a vantagem continua do lado dos que têm mais dinheiro).

Parece uma situação de momento inelutável, mas é, obviamente, um mau caminho. Tende a transformar algo que é do domínio técnico, da racionalidade pura aplicada ao desporto e, sobretudo, da afectividade (é isso que os adeptos dão aos jogadores e aos dirigentes nos pavilhões e nas ruas) num ‘negócio’ muitas vezes só materialista, noutras vezes arriscadamente sórdido.

Essa é, porém, uma discussão que não posso fazer aqui. (19800826).

Em Abril, O Norte Desportivo publicou uma notícia que logo pelo título - ”Hóquei em Patins Turbulento Em Espanha” – se percebia que era uma ’resposta’ às notícias, já referidas noutro local, relativas às queixas dos espanhóis sobre a violência que teriam sofrido em jogos com equipas portuguesas em Portugal, nomeadamente, o Carvalhos e o Valongo.

O que a notícia documenta é que, lá como cá, infelizmente se assiste, mais vezes do que gostaríamos, a “guerras civis” ou violência imbecil. (19800413_ND).

A notícia do Correio do Douro, de 15 de Outubro, é, que eu saiba, a primeira a abordar a questão nova, que incomodava alguns adeptos, do pagamento aos jogadores e mesmo a contratação de um elemento, aliás, credenciado, do Porto, o Chalupa,

que era o segundo jogador exterior ao clube a nele ter lugar, na sequência de Joel, também do Porto, contratado na época anterior (19801015_CD).

Considerações Finais

46. Escrever um livro, seja ele qual for, é somar uma enorme quantidade de momentos de investigação, de análise, de escrita efectiva e também de paragem, para descanso e para reflexão.

Numa destas paragens que fiz, depois de revisitar pela enésima vez o Resumo dos Jogos, (com as suas 346 páginas, 17.700 linhas, 150.513 palavras e os seus 8.269 parágrafos, que devem corresponder, ‘grosso modo’, a cerca de 8.000 notícias de jogos inventariadas), a introduzir novas notícias e a corrigir muitas das já inseridas, dei comigo a rever o decurso destes 27 anos percorridos, com os jogos copiosamente relatados e a revelação de alguns episódios saborosos. E comecei por aqueles anos e desafios que eu próprio vivi e joguei, desde 1956 até 1959, com os companheiros que cá continuam, o Armindo, o Francisco Bártolo, o Carlos Camões, o Álvaro, o Zé Eduardo, o Quim Santos, o António Campos, o Américo e o Nora, e aqueles que já partiram: o João Lino, o Eduardo, o João Cruz, o Eugénio, o Navio, o Chico Pires, o Noé Alves, o Rogério Alves, o Francisco Barros, o Quim Fontes. A aventura verdadeira que era ir jogar à Separadora e depois o deslumbramento de ter um rinque ‘só nosso’ e, ainda por cima, no meu caso, mesmo ao pé da porta!…

E então, como numa espécie de ‘sonho acordado’, dei comigo a ‘ver’ todos aqueles jogos que nunca vi, que só conheço pelas notícias que deles consultei

ou pelas narrativas que os amigos me fizeram, e surpreendi-me a apreciar a desenvoltura, o estilo, o virtuosismo de jogadores que conheci, mas lamentavelmente nunca vi actuar, porque vieram depois de mim e eu já cá não estava, a começar pelo Américo e pelo Nora, com quem ainda joguei, em jogos de treino ou de ruas, mas eles eram nessa altura apenas miúdos, a aprender a jogar, não tinham atingido o nível de excelência a que chegaram depois; mas não só eles, eu ‘vi, claramente visto’, o desempenho de jovens como o João Queirós, o Vítor Francisco, o Vítor Bruno, o Zé Alves, o Manuel Pires, o Domingos Cruz, o Leal, o Zé Augusto, toda essa gente dos anos 60, 70 e 80, que encheu o clube de vida, rumor e glória. Foi uma sensação estranha e ao mesmo tempo muito estimulante, porque me deixou perceber que fazer história talvez seja afinal isso mesmo, quer dizer, sentir na pele, por um entranhamento realizado através do conhecimento e do acreditar, tudo o que não vivemos, mas sabemos que existiu de certo modo, num certo tempo, com certas pessoas e que é o passado presente no presente em que estamos.

Ao fazer, o mais exaustivamente que pude, a recolha das notícias dos jogos realizados durante estes anos, eu não pretendi senão tornar actual a ideia de que cada jogo, com tudo o que implica –os treinos e os treinadores, os dirigentes, os sócios e as quotas, os adeptos que apoiam, o material utilizado, as despesas com ele, com os jogadores e com as deslocações, etc. – é um pedaço de vida do clube, de modo que recuperar a sua memória é, de algum modo, reconstituir, não deixar perder aquilo que nele houve de mais dinâmico e de mais vital. Os protagonistas podem já não estar cá, mas ainda estão lá, na memória do jogo que fizemos reviver. E são eles que em todos os momentos contam.

A ideia das biografias deriva da assunção dos jogos como pedaço de vida do clube: a história de vida vem actualizar e completar a ‘presença’ real daquele protagonismo, fornecendo-lhe contornos e um rosto. (Por aqui se percebe como o número escasso de biografias – não chegam a 50 – me entristece).

Chegado ao final desta caminhada pelos 27 anos de história do hóquei em Valongo e da sua inerente e acarinhada Associação Desportiva, pergunto a mim próprio o que mais me impressionou, para além da caterva de factos inventariados e de tantas ideias e opiniões recolhidas.

Creio que posso falar de duas ou três ideias, bastante gerais, que se foram sedimentando na minha cabeça à medida que fui avançando.

Julgo que a primeira impressão, não muito favorável, teve a ver com a imprensa que consultei e que são todos os jornais e revistas citados no “Resumo do Jogos” (Cap. V). À medida que ia lendo e transcrevendo notícias, comentários, entrevistas, opiniões, fui-me apercebendo de que, em matéria de notícias de desportos, os jornais ditos desportivos são em geral mais completos e mais fiáveis do que a imprensa diária generalista, que falha muitas notícias (chega a anunciar o jogo X para o dia Y, depois, vamos ver esse dia e não há relato nenhum). De qualquer modo, todos eles falham notícias sobre jogos realizados. E todos eles prestam mais atenção aos seniores do que aos mais jovens, Infantis, Juvenis, Iniciados, Juniores.

Nos jornais do Norte que fotografei (estamos a falar dos anos 60-70-80 do século passado) há uma tendência para defender e enaltecer os clubes maiores ou mais credenciados, com muito especial relevo para o F. C. do Porto, o que não raras vezes redundou num mais descarado ou mais

subtil apoucamento dos clubes mais pequenos ou ainda sem passado, como a ADV. Não sou contra, obviamente, o clubismo de cada um, jornalista ou não, mas acho que não podem deixar que ele interfira na objectividade a que estão obrigados no momento em que noticiam.

Em contrapartida, houve jornais e jornalistas mais atentos e mais conhecedores do fenómeno hóquei em patins que cedo se aperceberam do valor não só de jogadores do Valongo, mas sobretudo daquilo que vinha sendo o papel do clube na defesa da modalidade e de uma certa ideia de desporto, com a criação de escolas de jogadores e a manutenção de equipas jovens, tudo conseguido com escassíssimos recursos. Destaco o Comércio do Porto e o jornalista Manuel Correia de Brito que, em vários momentos, apoiaram as actuações das equipas e não deixaram de enaltecer o papel positivo da Associação.

Nas várias “Notas” que entendi apor a algumas das notícias ou comentários tentei dar a minha opinião, crítica, laudatória ou neutral, mas sempre com a ideia de nunca aceitarmos passivamente as informações que quem quer que seja nos fornece.

Quando olho para trás, nestes anos que levei a investigar e escrever, a segunda impressão mais forte, ainda ligada à imprensa, mas não exclusiva dela, é a clara desatenção, o descaso, mesmo o desprezo dos media em geral em relação ao hóquei em patins. Quando há campeonatos da Europa ou do Mundo, o hóquei salta para as primeiras páginas dos jornais e dos telejornais e enche por vezes mais do que uma das páginas interiores deles (mesmo assim, sempre muito atrás do futebol, que as mobiliza quase todas). Acabados os campeonatos, volta-se ao ramerrão das notícias escassas ou nulas. Continuo a falar dos anos 60-70-80 do século 20. (Nos últimos anos, julgo que a partir de

2021, a TVI começou a transmitir jogos de hóquei num dia certo da semana, o que constitui uma inovação louvável e tanto mais notável quanto parece ser única, relativamente aos demais canais televisivos).

Este relativo desinteresse não se fica pelos media, atinge mesmo alguns autores que se ocupam do fenómeno desportivo, como acontece com a obra colectiva “Uma História Do Desporto em Portugal”, cuja escandalosa omissão denuncio na nota que coloquei no final da Bibliografia.

O que verdadeiramente me choca nesta falta da devida atenção ao hóquei em patins é a contradição, que a ninguém parece incomodar, entre o que tem sido a sua importância nacional e internacional e o relevo que lhe é concedido na comunicação social em relação a outras modalidades que têm pouca ou muito menos importância do que ele. Mesmo em confronto com o futebol (que suscita, como é sabido, a reverência dos media e de um vasto público) o hóquei em patins apresenta dezenas de campeonatos internacionais ganhos pelas equipas nacionais, contra um (um!!) campeonato obtido pela modalidade futebolística!

Há quem pense que o facto de o hóquei em patins não ser uma modalidade olímpica o prejudica na atenção social. Porém, segundo esse argumento, o futebol devia ter pouca ou nenhuma e, no entanto, tem-na toda. Confesso a minha incapacidade para entender este fenómeno.

Podem apresentar-se todas as razões conhecidas para o encantamento provocado pelo futebol, mas continuo a pensar que este descaso quanto ao hóquei em patins – para além de injusto, de desequilibrado e de propiciador de menores audiências dos media que o ignoram – é sobretudo uma

manifestação de falta de inteligência.

O terceiro aspecto que mais me impressionou ao cabo desta inquirição foi a própria Associação Desportiva de Valongo.

Não posso nem quero deixar de citar aquilo que me pareceu negativo e que foi especialmente um certo ‘desleixo burocrático’, chamemos-lhe assim, que se traduziu na perda e desaparecimento da documentação do clube, desde a sua fundação até 1963 e depois aquela posterior a 1982. Note-se que não estou a culpar nenhuma pessoa ou corpo gerente, até por este motivo elementar: não possuo nem descobri qualquer indício explicativo do extravio, a não ser o tal incêndio nos anos iniciais, na sede, seguido de inundação da água dos bombeiros, que referi, que podem explicar o desaparecimento dos primeiros documentos. Mas nem quanto a esses se tem a certeza, porque não ficou exarado em nenhum registo que assim tenha sido e as pessoas que o testemunham também não têm qualquer segurança: é apenas uma suposição.

No entanto, o incêndio dos primeiros tempos não explica o desaparecimento da documentação posterior a 1982. Há coisas que aprendemos, porque fazem parte da sabedoria das nações: que os clubes pequenos, com sede precária (como tem sido até agora a sede da ADV) e com a pressão de terem de cuidar do dia a dia difícil, por falta de apoios e de meios, tendem a preocupar-se preferentemente com esse imediato e a descurar o passado e aquilo que o representa, nomeadamente os papéis velhos…. Por outro lado, como sublinhei logo ao princípio, há uma espécie de tradição em considerar que “os papéis velhos são para o lixo”, o que leva a que sejam mesmo destruídos ou pelos menos descurada a sua conservação.

Há uma aprendizagem que demora o seu tempo, mas que cada vez mais se revela essencial para a boa compreensão do mundo: o futuro não existe, só ganha autonomia quando se torna presente; e o presente é fugaz, em cada dia, em cada hora, em cada minuto ou segundo desaparece e torna-se passado. De modo que aquilo que mais temos é passado. Desconhecê-lo é ignorar a nossa vida inteira. Descurá-lo é desprezar ou desperdiçar aquilo que fomos e somos, é não perceber ou não dominar as amarras que nos ligam aos outros, ao resto da vida. Quem poderá acreditar que um tal afastamento transporta qualidades positivas?

Porém, há uma outra ADV que conhecemos como aquela que, desde o seu início, nos ensinou a crer que, com trabalho persistente, com dedicação, acreditando que se é capaz e se conseguirá resultados (a que alguns chamam fé) é possível levar a bom porto um qualquer projecto. Foi essa ADV que esteve 4 épocas na 2ª Divisão e conseguiu passar para a 1ª; que ganhou jogos e taças e torneios e campeonatos e gerou jogadores de nível nacional e internacional, apenas com o apoio dos sócios e pouco mais, sendo que este pouco mais era tudo o que havia: alguns subsídios camarários e o pagamento de custas e despesas com dinheiro do bolso dos próprios (alguns) dirigentes.

É essa Associação que me interessa, que sempre suscitou a minha curiosidade e a minha admiração. É uma agremiação em que havia ainda uma certa ideia de desporto como actividade por definição amadora, cujo único pagamento era simbolicamente personificado no “prego e fino” ao fim de cada jogo. Esta “regra de ouro” estava apoiada e secundada por uma outra: só podiam ser jogadores rapazes (ou raparigas, nunca foram excluídas; simplesmente o clube não se organizou para elas) oriundos da terra, do concelho.

A primeira regra foi alargada pelo presidente Joaquim Paupério, que, sendo ela aplicada apenas aos seniores, a tornou extensiva a todos os jogadores em competição, e mais flexível, através de uma senha trocável em qualquer café local.

O que é importante sublinhar é que estas duas regras de ouro definiam, na boca dos dirigentes e até dos jogadores, o verdadeiro espírito, a “alma” do clube. Por várias vezes, as notícias deram conta desta ideologia.

Sabemos que este clube acabou em 1979 ou 1980, quando se admitiram jogadores de fora do concelho e se começou a pagar aos praticantes. O clube que resultou é melhor ou pior do que o anterior? Creio que a questão não deve ser colocada dessa maneira, que nos arrasta quase sempre para uma discussão de cariz fundamentalista, sem fim à vista. O que interessa é olhar para a realidade e o que vemos é uma associação que continua a ter vitórias impressionantes e que, em 2014, cometeu o “feito”, para muitos impossível de prever, de ganhar um Campeonato Nacional!

Por conseguinte, o facto de ter abandonado duas regras de ouro neste seu percurso depois de 1980 (que o livro já não cobre) não se pode dizer que tenha piorado o rendimento do clube: ele continua a obter vitórias notáveis. Porém, poderá verdadeiramente afirmar-se que nada se perdeu desde então em clubismo, em espírito de grupo, em ligação do clube à terra natal? (não esqueço que a Associação se diz “de Valongo”, não de “Portugal, Mundo, Universo”, como se anunciava, num dos seus poemas, o Fernando Pessoa…) Que não se terá desvanecido o que era porventura o aspecto mais entusiasmante do desporto e do jogo: o puro gozo de jogar, de mostrar habilidades e capacidades técnicas superiores às de outros, mas por simples realização pessoal ou de grupo, mesmo

por vaidade (que é legítima, em limites definidos) sem o engodo dos prémios ou das vitórias em campeonatos? (e sem o dissolvente atractivo dos “cachets” ricos ou milionários…)

Espero, muito sincera e ansiosamente, que o autor do próximo volume sobre os seguintes 43 anos da ADV responda a estas perguntas.

Até lá, só posso desejar as maiores alegrias e os maiores triunfos à Associação Desportiva de Valongo, que é, afinal, um pouco filha de todos nós, aqueles que, de algum modo, ajudámos a criá-la e continuamos assistindo para que se mantenha.

04 As Biografias

39. Como expliquei no início, era minha intenção apresentar um leque alargado de biografias ou mesmo minibiografias, de todos os atletas e dirigentes, assim como do pessoal de apoio, desde a fundação do clube. Pelas circunstâncias que também expliquei, isso não foi possível e é porventura o que mais lamento. Porque, para mim, as biografias não são apenas aquele retrato formal, às vezes estereotipado, que tantas vezes vemos difundido na comunicação social. São sobretudo uma fonte de informação e de manutenção da memória, além de modo de relacionamento, através dos nomes de família, num meio ainda não muito grande, como é Valongo.

Quero deixar aqui expresso que muito me custa não publicar as biografias de tantos colaboradores do clube – dirigentes, atletas, treinadores e amigos – que a ele deram a sua fé e o seu melhor esforço. Em muitos casos, por absoluta ausência de dados utilizáveis; noutras situações, por estranhável falta de colaboração dos próprios ou das famílias e amigos.

Por razões que agora me abstenho de explicar, porque creio que ficaram patentes ao longo do livro, apresento em primeiro lugar a biografia do Dr. João Lino Vale.

As restantes biografias são apresentadas por ordem alfabética do primeiro nome.

É importante ter presente que algumas das biografias foram escritas por mim, com os elementos que me foram fornecidos ou eu consegui descobrir. Essas são da minha responsabilidade. Todas

as outras que me foram entregues, quer pelo seu autor, quer por um terceiro que as escreveu, eu mantive-as tal qual me chegaram, por uma questão de respeito pelas pessoas que as fizeram, pelo que são da responsabilidade de quem as subescreveu. Só poderei, nestes casos, ser responsabilizado por alguma gralha, na passagem de várias delas, manuscritas, para o texto escrito, que tive de fazer.

Não posso deixar de fazer menção ao enorme apoio do Américo Moreira na busca e redacção de várias das biografias que, sem ele, teriam ficado no tinteiro…

João Lino Azevedo Alves do Vale

O João Lino Vale nasceu no dia 25 de Maio de 1937 e faleceu em 14 de Março de 2006.

Conhecemo-nos na escola primária, ao cimo da Avenida Cinco de Outubro, na terceira ou quarta classe, em que oficiava o querido professor Isidro Matos, que depois se licenciou em Direito, em Coimbra, e de quem ficamos amigos para a vida.

O João Lino já então era o bom aluno que sempre foi. Ele, o Mário Neves e eu, por decisão do professor Isidro, que considerou que éramos os mais avançados e já não precisávamos, pelo menos tanto, desse desempenho, ditávamos rotativamente o texto dos exercícios diários de escrita aos restantes colegas (era o ditado), o que preenchia toda ou quase toda a manhã, enquanto o professor Isidro Matos vigiava e estudava as suas sebentas de Coimbra.

Quando fizemos a 4.ª classe, o João Lino foi continuar os estudos no Colégio de Ermesinde e eu, por razões dos meus pais, só fui um ano depois, o que significou dois anos, porque ainda tive de fazer a admissão ao liceu, que era, na altura, obrigatória. Isto é para dizer que convivemos durante 5 anos no colégio e, quando o João Lino saiu, rumo ao Liceu Alexandre Herculano, no Porto, para fazer os 6º e 7º anos liceais, eu ainda continuei durante dois anos no colégio.

Ele acabou o liceu e ingressou na Faculdade de Medicina. Eu acabei o liceu e ingressei na Faculdade de Direito de Lisboa, o que significa que esse foi um período de relativo afastamento entre nós. Quando vinha a Valongo, eu visitava-o. Ainda me lembro de uma ou duas vezes que nos encontrámos no café que havia na Rua da Fábrica, no Porto, quase ao cimo, do lado esquerdo quando se subia, e que era o sítio onde ele habitualmente estudava.

Depois de licenciados e de casados, continuámos a dar-nos regularmente. Sempre que vinha a

Valongo, visitava-o em sua casa, quando ele desistiu definitivamente do convívio de tertúlia, que durante bastante tempo mantivemos no Café Vale, e resolveu passar os seus serões em casa, fazendo aquilo de que mais gostava: ler, conversar, carpinteirar ou marceneirar e arranjar os seus carros antigos.

Um dos períodos mais fecundos do nosso convívio foi esse dos anos 50 do século passado, quando “conspirámos” para a criação do clube de hóquei em patins. A partir dos anos 60, eu deixei de estar regularmente em Valongo, mas fui sempre sabendo dele e das suas actividades, por ele próprio e pelos amigos comuns.

Soube aquilo que já contei no texto. Ele foi, não apenas a alma inspiradora de todo o projecto do clube de hóquei em patins, como igualmente o fazedor dele em inúmeros aspectos. Fez o móvel que separava os balneários do visitante e do visitado, na casa do Sr. Joaquim Cruz. Fez a mesa de ping-pong que havia na sede da Rua do Padrão. Fez os Estatutos e discutiu-os e reformulou-os. Fez as propostas de admissão de sócio e as fichas de sócios, isto é, não só organizou o modelo, como depois as preencheu religiosamente durante tempos infindáveis. Escreveu os primeiros livros de listas de sócios e de pagamento de quotas. Como dirigente do clube, interveio activamente, durante anos, antes e depois da tropa no Ultramar, nas decisões relevantes das várias direcções a que pertenceu e apoiou de vários modos as deliberações e o corpo dirigente da Assembleia-Geral da Associação. Apoiou e deu ânimo tantas vezes aos colaboradores mais dedicados do clube, que lhe reconheciam autoridade moral e competência institucional.

O que considero absolutamente notável é ele ter conseguido estar presente e dar o seu apoio

durante todo o tempo que medeia entre os anos 50, de criação do clube, e os anos 90 ou 2000, em que já tinha uma vida familiar e profissional muito preenchida e em que, não obstante, se manteve interessado pelas actividades da Associação.

Tudo isto e muito mais, que todos aqueles que com ele conviveram poderiam testemunhar, foi reconhecido em 1964, quando ele ainda se encontrava em Angola, prestando o seu serviço militar. A Direcção da altura, presidida pelo Sr. José Alves da Costa, levou à Assembleia-Geral ordinária desse ano uma proposta que diz bem da consideração e estima em que todos o tinham. A proposta dizia:

“A Direcção da Associação Desportiva de Valongo, deliberando ao abrigo do preceituado no artigo 4º, parágrafo 2º dos seus Estatutos, em sua reunião de 21 de Janeiro de mil novecentos e sessenta e quatro, decidiu submeter à apreciação da Assembleia-Geral Ordinária a realizar em 26 de Janeiro do mesmo ano a seguinte proposta: (…) Atendendo à sua qualidade de sócio fundador do clube; aos serviços prestados como atleta e director; à sua devotada e inultrapassável dedicação ao clube, em todos os tempos, em todas as circunstâncias, em todos os lugares, que o personificam como elemento número um de todos os sócios, propõe a Direcção que o Ex.mo Sr. Dr. João Lino Azevedo Alves do Vale seja eleito sócio honorário do clube.” (Acta da Assembleia-Geral de 26.01.1964)

O Presidente da Direcção propôs também que a proposta fosse votada por aclamação (um costume da época). Então, continua a acta, “Posta à votação, a digníssima Assembleia aprovou com entusiástica aclamação”.

É ainda ele que, em 1980, por altura da celebração dos 25 anos de vida oficial do clube, faz o discurso da história-resumo da ADV, na sessão solene do dia 9 de Março, em que evoca, com emoção e saudade, tantos acontecimentos importantes da vida associativa, em todos aqueles anos passados, e profere a frase que se tornou célebre e repetida: “Eu tenho oito filhos: os sete mais novos deu-mos a minha mulher e, graças a Deus, são todos perfeitinhos. Mas o mais velho, esse, pari-o eu. Sou eu a mãe. O seu nome é A. D. V.: cresceu, tornou-se adulto, não precisa da mãe para nada.”

Foi uma grande, uma enorme pena que ele tenha partido tão cedo.

Álvaro de Sousa Reis Figueira

Nasceu na Rua do Padrão, em Valongo, em Janeiro de 1940.

Filho de Eduardo Joaquim Reis Figueira e de Maria Elisa de Almeida e Sousa Figueira, naturais respectivamente de Valongo e do Porto.

Pertenceu à primeira geração de “patinadores” da ADV, que iniciou esta actividade desportiva nas instalações da chamada “Separadora”, em S. Martinho de Campo, empresa que, tendo sem actividade um pavimento em cimento, generosamente o facultou, para o exercício da patinagem e a prática dos primeiros rudimentos de hóquei em patins.

Ali começou a crescer a ideia de criar uma associação de hóquei em patins em Valongo. Ideia que depois se foi desenvolvendo e culminou com a criação da própria Associação Desportiva de Valongo e a construção pela Câmara Municipal de Valongo do rinque de patinagem na Praça Machado dos Santos (onde generosa foi então a colaboração do Sr. Joaquim Gonçalves da Cruz, que facultou uma divisão da sua casa, próxima do rinque, para servir de balneário aos “atletas”, suportando os custos com a água).

Jogou na equipa de hóquei em patins da ADV, nos primeiros anos (talvez 1956/57/58), como júnior, e um curto período de tempo (em 1959), já como sénior, até que em Setembro deste último ano abandonou definitivamente a prática da modalidade, altura em que foi para Coimbra frequentar a Faculdade de Direito. Ao que consta, herdeiro dos seus patins foi, com muita alegria do próprio, o José Augusto.

Neste momento, é o sócio nº 3 da AD de Valongo e tem as quotas em dia.

É Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, Jubilado.

Américo Carneiro Moreira

Américo Carneiro Moreira nasceu no centro da cidade de Valongo, no dia 20 de março de 1945, onde trabalhou e fez escola.

Profissão - Desenhador Técnico de Construção Civil

Com dez anos de idade, despertou a sua atenção para a modalidade do hóquei em patins, deslocando-se a pé para a freguesia de Campo para poder assistir aos treinos que aí se realizavam pelos jovens que mais tarde iriam formar a Associação Desportiva de Valongo, nomeadamente, no Pavilhão Fabril e Industrial aí existente.

A partir de 1955/56 e após construção do rinque público municipal, no centro da vila de Valongo (hoje cidade) iniciou a prática da patinagem em conjunto com inúmeras crianças, firmando-se a partir daqui o gosto pela modalidade, hóquei em patins.

Em 1960, faz parte da primeira equipa de juniores do clube ADV participando em vários torneios não oficiais, os chamados campeonatos inter-ruas.

Dois anos mais tarde, em 1962, faz parte da equipa de juniores representativa da AD Valongo, do 1º Campeonato Oficial de Juniores, organizado pela Associação de Patinagem do Porto, com a classificação de vice- campeão.

Em 1963, foi convidado pelo Futebol Clube do Porto para fazer parte da equipa de juniores desse Clube, uma vez que a AD Valongo não filiou a sua equipa por falta de verbas, tendo sido campeão regional, sem derrotas, ao serviço do FCP.

Em 1964 embora ainda pudesse alinhar na categoria de juniores, passou à categoria de seniores na equipa da AD Valongo, através de uma autorização especial concedida pela Federação Portuguesa de Patinagem, representando o clube AD Valongo até ao terminus da sua carreira.

O seu curriculum desportivo conta 25 internacionalizações além de inúmeros campeonatos nacionais, regionais e torneios ibéricos.

Ao serviço da Seleção Nacional

1964 – Campeonato Europeu de Juniores, Salamanca/Espanha (vice-campeão)

1965 – Torneio Internacional de Juniores, Madrid (2º classificado)

1970 – Taça das Nações em Montreux, Suíça (campeão)

1970 – Campeonato do Mundo, San Juan, Argentina (vice-campeão)

1972 – V Jogos Luso-Brasileiros (1º classificado)

1974 – Torneio Ibérico Olivera de La Riba, Barcelona (2º classificado)

Ao serviço do clube AD Valongo

1964 – Campeonato Distrital Norte de Juniores (2º classificado)

1967 – Torneio Início APP/Taça Joaquim Ferreira (1º classificado)

1968 – Campeonato Nacional (vice-campeão)

1968 – Campeonato Distrital (campeão)

1977 – Presença na Taça Clube Campeões Europeus, onde atingiu a meia final (Valongo/Barcelona)

1978 – Presença e vitórias em dois Torneios Nacionais e um Internacional

1985 a 1988 – Campeonato de Velhas Glórias, nível Regional (campeão 4 anos consecutivos)

Homenagens de Mérito e Valor Desportivo

- Associação Desportiva Valongo – 6 sessões de homenagem (Troféus: salva de prata e 6 medalhas)

- Câmara Municipal de Valongo – 2 sessões de homenagem (Troféus: 1 medalha banhada a ouro e 1 escultura em ardósia)

- Junta de Freguesia de Valongo – 1 sessão de homenagem (Troféu: peça em faiança com símbolo representativo da freguesia)

- Associação de Patinagem do Porto e Assembleia Geral – 10 sessões de homenagem (Troféus: 2 medalhas Campeão Regional, 3 medalhas Torneio Início, 1 medalha Taça Manuel Maria, 1 medalha Edgar Soares, 1 medalha Vaz Guedes, 1 medalha Torneio Internacional Salamanca, Espanha)

- Associação das Coletividades do Distrito do Porto – 1 sessão de homenagem (Troféu: medalha comemorativa Dia Nacional das Coletividades do Distrito do Porto)

- Federação Portuguesa de Patinagem – 2 sessões de homenagem (Troféu: medalha Iº Torneio Inter-Associações 1971 e Torneio de Tomar 1972)

- Federação Internacional RollerSkatingFIRS - 1 sessão de homenagem (Troféu: medalha comemorativa XIX Campeonato do Mundo)

- Confederação dos Desportos do Brasil – Oferta de uma medalha de participação 150 Anos da Independência do Brasil (1822-1972).

(O nome aparece pela primeira vez no jogo Valongo-Infante de Sagres (que o Infante ganhou por 1-09, em 19620913, na equipa de juniores. Em 19630326, no Valongo-Sanjoanense, aparece já a jogar na equipa sénior).

ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA DE VALONGO – EXERCÍCOIO DE 1967/1968

António de Castro Alves Aguiar, nascido a 08/08/1936, terceiro filho de Cosme de Castro Neves Aguiar e de Ana Alves Moreira, Filho, Neto, Bisneto, e talvez trineto de industriais de padaria e fabricantes de biscoitos. Viveu e trabalhou

sempre na microempresa de biscoitos de seu pai, até que, em 1961 assumiu por sua conta essa microempresa, e a transformou numa pequena empresa onde chegou a ter cerca de 60 trabalhadores, vendendo os seus produtos, biscoitos, numa grande área do território nacional, Norte, Centro e Sul, contribuindo assim para a expansão do nome de Valongo e dos seus produtos tradicionais.

Fui associado da Associação Desportiva de Valongo desde quase a sua fundação, e fui acompanhando sempre os jogos e atividades da Associação. em todos os jogos realizados em Valongo, como também em muitas deslocações aos clubes da Cidade do Porto e a outras localidades próximas.

Como ao tempo já tinha a minha empresa a funcionar na Rua de S. Mamede, era meu hábito diário, depois do almoço, ir tomar café ao Café Vale, onde sempre me encontrava com um grupo de amigos que também trabalhavam nessas imediações, e nos juntávamos sempre ao balcão a tomar o café e em amena cavaqueira. Cerca das duas horas da tarde, cada qual seguia para o seu trabalho.

Um certo dia, não sendo habitual, quando cheguei ao café, estavam numa mesa duas pessoas amigas que ao chegar, cumprimentei e segui para junto do meu grupo habitual. Essas Pessoas eram Francisco Pinto de Barros Cruz e António Nicolau Gonçalves, que faziam parte da Direção da A. D. V. nesse exercício.

Quando se percebem que estamos a sair, saem de imediato e aguardaram no passeio a minha saída e dizem que querem falar comigo, o que aconteceu logo ali.

A conversa era para me convidar para presidir à nova Direção para o exercício seguinte, que seria eleita proximamente.

Como estava numa fase de desenvolvimento da minha atividade profissional, recusei, mas insistiram explanando as suas ideias, insistindo para eu pensar primeiro antes de decidir em definitivo.

Foi sempre o meu lema, quando assumo alguma ação de gestão que envolva a minha responsabilidade, o que por várias vezes aconteceu, dedico-me sempre de corpo inteiro, e procuro fazer sempre algo de diferente que deixe marca. Neste caso era minha intenção a concretização da construção do tão necessário Pavilhão Desportivo, para que a A. D. V. tivesse instalações condignas e à sua altura, praticando um desporto de relevo, para poder exercer a sua atividade com dignidade, e poder também receber com dignidade todos os grandes clubes que sempre disputaram com a nossa equipa. Nesses tempos, nem um balneário condigno havia para uso próprio nem para receber os visitantes.

Procurei saber da situação geral da Associação que não era nada satisfatória. Disseram-me que esse exercício tinha corrido bastante mal e a situação da Associação não era famosa. Como equipamento havia apenas um stique, e havia um saldo negativo de cerca de 12.000$00. Pensei a situação, mas com tinha em mente procurar resolver o problema do Pavilhão, acabei por aceitar e parti para a escolha dos elementos para a formação da nova Direção. Consultados todos os outros Corpos Sociais, todos aceitaram continuar o que me facilitou bastante essa tarefa.

A minha Direção foi composta desta maneira: Eu, Presidente, Vice-Presidente, António Nicolau Gonçalves, Secretário, Arménio Reis da Silva Tesoureiro, Francisco Pinto de Barros Cruz, Vogais, Lino Martins da Silva Poças, Joaquim Gomes, e quanto ao terceiro Vogal não me recordo de quem foi.

Tive muita sorte com a Direção que escolhi porque todos os membros estiveram sempre em ação e na hora. Foi uma Direção muito coesa e dedicada à causa, até porque havia um grande entusiasmo pelo Hóquei de Valongo, que estava numa forma invejável, batendo-se de igual para igual com qualquer equipa a nível nacional.

Conseguimos criar um ambiente agradável e harmonioso entre todos. Diretores, atletas e todos os outros colaboradores, o que decerta forma contribuiu para o êxito final. Ninguém sozinho consegue grandes êxitos, mas quando se consegue um bom ambiente e colaboração, tudo se torna mais fácil. Foi o que aconteceu nesse exercício o que de certa forma contribuiu para o êxito final.

Não havia na Associação um massagista com formação para tal, era uma pessoa que, embora com muita boa vontade procurava fazer o melhor, mas não tinha qualquer formação para executar essa função ao nível da nossa equipa.

Assim, fui à Delegação se Saúde que funcionava na Praça Machado dos Santos e falei com o enfermeiro dessa delegação, Sr. António Santos, explicando-lhe a situação e pedindo-lhe para ser ele a executar esta tarefa, mas de forma graciosa porque o clube era amador e não tinha condições para remunerar essa função. Sem qualquer hesitação aceitou de imediato. Assim, os atletas da nossa Associação passaram a ter um massagista com formação para tal, prestando assim os seus serviços durante muitos anos. O que merece ser referenciado e reconhecido.

O Zé Viterbo, que sem saber andar de patins, foi treinador dos Hoquistas de Valongo, julgo que desde a formação da Associação, mas no exercício de 1966/1967, não sei qual a razão da quezília, deixou de exercer essa função, zangando-se

mesmo com o clube, passando a ser o Armindo Leal, jogador, a acumular essa tarefa.

Logo numa das nossas primeiras reuniões, convidamos o Armindo para comparecer nessa reunião para lhe perguntar se queria continuar na mesma situação. Mostrou algum desconforto porque não era fácil nem se sentia bem, estar a mandar nos colegas, e queria voltar à situação anterior e ser só jogador. Em face desta situação abordamos o Zé Viterbo que, com muita agrado, aceitou voltar à situação que sempre tinha exercido. Assim ficou resolvido este problema.

Tivemos um ano muito fértil em bons ressoltados, quer desportivos quer financeiros, com a total colaboração de todos os Diretores, Atletas e colaboradores, não esquecendo a preciosíssima colaboração do Delfim Pires, que na sua função era imprescindível. Apesar de termos tido diversas despesas extra, sendo a maior, a homenagem ao Nora, e outras, porque tivemos uma boa gestão financeira, conseguimos solver a situação inicial e no final ainda deixamos um pequeno saldo positivo, de cerca de três mil escudos, cerca de uma dezena de stiques e uma parte do equipamento de Guarda Redes. Foi assim um exercício repleto de sucessos incluindo a seleção de um jogador, o Nora, para o Campeonato da Europa que se realizou em Bilbau. Poderíamos ter tido um outro jogador nesse campeonato, se esse jogador não tivesse tido uma situação de desrespeito para com selecionador Nacional.

Quanto ao pavilhão, como era minha intensão iniciar o processo, falei várias vezes com o Presidente da Câmara, Eng.º Armando Magalhães, para esse efeito, que sempre me disse que a Câmara não tinha condições para tal, mas que ficaria registado para um futuro próximo. O terreno que indiquei era exatamente aquele onde se encontra o Pavilhão.

Sugeri que cedesse o terreno à Associação por cem anos, e depois por cinquenta anos, mas nem assim consegui demove-lo. Alegou sempre que não era por ele, mas a Câmara não o permitia.

Pedi ao Sr. Arquiteto Fernando Seara para nos fazer um anteprojeto, que o fez graciosamente, e o apresentei ao Presidente da Câmara, mas nem assim o consegui que alterasse a opinião. Para mim foi uma grande desilusão.

Porque esse ano foi excelente para a história da Associação, no fim do exercício, elaboramos e editamos um Relatório e Contas num pequeno livro onde constava com pormenor todos os atos da atividade desse exercício, onde incluíam todos os resultados, todas as deslocações, classificações, nome dos jogadores, colaboradores, e com pormenor, tudo o que aconteceu e contribuiu para poder ficar na sua História.

Imprimiram-se algumas centenas de exemplares que foram distribuídos por todos os Associados, Colaboradores e algumas Instituições. Ficaram na Sede duas ou três dezenas de exemplares desse relatório, e eu próprio também guardei cerca de uma dezena, que estão todos extraviados, incluindo os meus que também se extraviaram, não havendo agora qualquer prova desse tão precioso documento, que seria tão útil neste momento.

Não menciono os pormenores da homenagem ao Nora porque estão descritos naquele recorte do exemplar do jornal que é conhecido.

De momento e um pouco à pressa, é isto que poderei dizer a respeito desse período de 1967/1968. Se necessário, estou às ordens para todo e qualquer esclarecimento.

António Emílio Magalhães

António Emílio Queirós de Magalhães nasceu em Valongo, em 03.06.1948, aqui foi criado e viveu até aos 60 anos, tendo, a partir desta época, feito vivência partilhada com o Brasil.

Profissionalmente, foi Engenheiro Técnico Civil e professor do ensino secundário.

Desportivamente, aprendeu a patinar, na companhia de outros amigos de infância, no rinque de patinagem construído pela Câmara Municipal de Valongo na Praça Machado dos Santos, na vila de Valongo, hoje cidade.

Mais tarde, por volta de 1961-62, participou nos campeonatos amadores chamados “campeonatos de ruas”, organizados pela A. D. Valongo, representando a Rua 1º de Maio.

Após a sua filiação no hóquei federado, no escalão de Juniores, ao serviço da ADV, participou no seu primeiro Campeonato Regional de Juniores Norte, organizado pela Associação de Patinagem do Porto, com a classificação final de Campeão 1967.

Ainda no ano de 1967, no Campeonato de Reservas Norte, foi campeão.

Em 1968, com participação no 1º escalão do Campeonato de Reservas Norte, foi campeão.

Em 1970, com participação no 1º escalão do Campeonato de Reservas Norte, foi campeão.

Ainda em representação da ADV, participou em dois Campeonatos de Velhas Glórias.

Representou em toda a sua carreira desportiva apenas e só a Associação Desportiva de Valongo nas categorias de Juniores, Reservas e 1º escalão de Velhas Glórias.

António Figueiredo

António Figueiredo foi um dos notáveis jogadores do Infante de Sagres dos anos 50-60 do século 20. Ele e o seu irmão Fernando Figueiredo (que já

faleceu) eram uma dupla de grande impacto no jogo do Infante.

Nasceu a 8 de Agosto de 1930 e jogou no Vigorosa em 1947-48 e depois sempre no Infante, desde 1948 até 1963.

António Figueiredo foi um dos internacionais portugueses que ganharam alguns Campeonatos da Europa e do Mundo e que se lamentava, numa entrevista de 11.04.1957, ao Norte Desportivo, de não ter sido seleccionado nesse ano para a equipa que foi disputar o Torneio de Montreux, dizendo:

“Quem como eu que se tem dedicado à prática da modalidade, na qual tenho desenvolvido o melhor do meu esforço, nunca poderia receber uma tal resolução com o ar das coisas insignificantes e daí o ter ficado bastante contristado.”

Nos primeiros anos da ADV, o António Figueiredo foi nosso treinador oficioso, isto é, durante algum tempo vinha a Valongo graciosamente para nos ajudar com a sua experiência e o seu saber do hóquei em patins, explicando as tácticas e os truques. Contei no texto que ele me ensinou a marcar penáltis.

Era uma pessoa afável, cordata e muito simpática. Tem agora 93 anos.

António Cândido Abreu de Sousa Aguiar

António Cândido Abreu de Sousa Aguiar nasceu no centro da cidade de Valongo, no dia 14 de fevereiro de 1953, onde fez a escola primária.

Profissão - Engenheiro Civil

Com 13 anos de idade despertou a sua atenção para a modalidade do hóquei em patins, iniciando a prática de patinagem, em conjunto com outras crianças, no rinque público municipal, no centro da vila de Valongo (hoje cidade).

Em 1966 fez o primeiro jogo oficial pela equipa de Juvenis do clube ADV.

Na época 1969/1970, na categoria de juvenis, foi Campeão Regional do Norte, cujo campeonato foi organizado pela Associação de Patinagem do Porto.

Em 1972, e pela única vez, foi convocado para a seleção do Norte para disputar os V Jogos Desportivos Luso-Brasileiros, realizado em Barcelos.

Na época 1975/1976 venceu o Campeonato Regional Séniores do Norte.

Em 1977 participou na Taça Clube Campeões Europeus, onde atingiu a meia final (Valongo/Barcelona). Na época 1980/1981 disputou a Taça CERS.

Em 1983 foi Campeão Nacional da 2ª Divisão.

Em 1986 foi novamente Campeão Nacional da 2ª Divisão.

Representando em toda a sua carreira a ADV, nas diversas categorias, terminou a sua atividade, como hoquista, em 1987

António Oliveira Alves nasceu em 24 de junho de 1948 na Praça Machado dos Santos, a praça

onde viria a ser construído o rinque de hóquei

Nessa casa de família, a casa Noé, fez a escola primária e viveu até aos 25 anos, com exceção dos três anos de serviço militar obrigatório, incluindo dois anos na guerra colonial Trabalhou na drogaria da família e noutros locais até se fixar como empregado do Banco Borges e Irmão em 1973.

Profissão e formação académica – Foi analista de informática no Banco Borges & Irmão e no Banco BPI.

Como trabalhador estudante, concluiu a licenciatura em psicologia da Faculdade de Psicologia do Porto

Desde cedo, brincando no “mercado” em frente a casa onde estava o rinque, foi atraído para a prática do hóquei em patins. Havendo em casa uns patins de rodas, adquiridos a um vizinho que tinha dado o salto para patins com botas, quatro dos cinco irmãos Alves vieram a ser guarda-redes da A. D. Valongo.

Com 16 anos, integrou a equipa de juniores da A D Valongo durante dois anos Aos 18 anos, apesar de estudar à noite e não poder treinar com assiduidade, foi convidado a ocupar o lugar de guarda-redes titular da equipa dos seniores Em 1968 foi nessa qualidade campeão regional do Norte pela A D Valongo

Tendo ainda integrado a equipa da A. D. Valongo depois do regresso da Guerra colonial, em 1972, viria a deixar a modalidade em 1975 por força de muitas atividades cívicas a favor dos valores da Revolução dos Cravos

António Pereira Gomes (Picaria ou Baiana, para os amigos)

Conheci o António devia ele ter uns 14 ou 15 anos (o que significa que eu teria 11 ou 12) quando ele circulava numa bicicleta velha e bastante desengonçada pelas ruas próximas de minha casa, tinha um ar algo selvagem e bastante desengonçado e era um tipo bem disposto. Ficámos amigos até ele morrer, em 2020 ou 2021.

Não me lembro de o ver jogar hóquei ou de jogar com ele, mas sei que ele praticou durante algum tempo, como puro amador, o que de resto éramos todos. Talvez ele tenha sido mais amador do que nós, os que alinhámos em jogos oficiais.

Fez parte da Direcção da Associação em 1968.

Quando voltei a reencontrá-lo, em Valongo, já ele tinha deixado o hóquei há muitos anos. Era então um bem estabelecido industrial louseiro, cheio de

sucesso. Ele teve, a meu ver, uma história de vida tão genial e misteriosa que bem merecia um Orson Welles que lhe fizesse o seu “Citizen Kane”. Várias vezes tentei convencê-lo a contar a sua vida, que sempre achei fabulosa (em sentido próprio), por ele ou por alguém que lha escrevesse. Ele sorria e dizia sempre que ninguém se interessaria. Eu insistia: - Ficaria para a tua família. Ele dizia que a família já a conhecia toda. Acho que nunca tomou a ideia muito a sério. Era um bom amigo e sinto a falta dele e das nossas conversas, na sua casa, no sopé da Serra de Santa Justa.

Armando Freitas Camões

Nasceu em Valongo, em 1951, fez a escola e trabalhou como metalúrgico numa empresa familiar, mais tarde foi comerciante.

Ao serviço da ADV:

Em 1969, inicia a sua prática da modalidade de hóquei oficial, tendo sido campeão regional.

Em 1964, novamente campão regional.

Em 1965, passagem a júnior.

Tendo sido campeão regional três épocas seguidas: 1967 – 1968 – 1969.

Também no ano 1968-69, participou no Campeonato Metropolitano, com a classificação de Campeão.

Ainda nestes anos, fez parte da selecção de juniores, ao serviço da selecção do Norte.

Como

Sénior:

- 1970 – Campeonato Distrital de Seniores –Campeão

- 1971 – Torneio Início

- 1977 – Presença na Taça dos Clubes Campeões Europeus, atingindo a meia final (Valongo – Barcelona).

- 1978 – Presença e vitórias em torneios nacionais (2) e internacional (1).

Homenagem de Mérito e Valor Desportivo

- A. D. Valongo

- Junta de Freguesia de Valongo

- A. P. do Porto

- Principiante: 4 medalhas juniores

Final da carreira desportiva em 1986/87.

Armindo Leal da Fonseca

Nasceu em Valongo, no dia 18 de Setembro de 1935, filho de Maria Rita Jesus Leal e de Manuel Bruno da Fonseca

Começou a jogar em 1955, quando se preparava a formação do clube.

Atleta filiado desde 1956 até 1969.

Dirigente do clube desde 1956 (Secretário-Adjunto, 2º Secretário, etc.) até 1972.

Treinador da equipa sénior desde (durante 1 ano)

Membro do Conselho Técnico da Associação de Patinagem do Porto desde 1991 até 2016.

Jogou sempre no lugar de avançado ou médio, mas maioritariamente neste último. Era um jogador muito rápido, com um grande domínio dos patins e uma grande capacidade de driblar e marcar. Nos anos iniciais, afirmou-se como o melhor jogador da equipa.

Profissionalmente, foi funcionário, até se reformar, do Grémio da Lavoura de Valongo, que depois do 25 de Abril passou a Cooperativa dos Produtores Agrícolas do Concelho de Valongo.

Recordações do Armindo:

A iluminação do rinque (que chamavam “ramada”) era constituída por pequenas lâmpadas, que davam pouca luz. Numa das noites de treinos, apareceram milhares de pequenas borboletas brancas, provavelmente atraídas pela luz, que envolveram o rinque e impossibilitaram a realização do treino, porque impediram a patinagem e, ao caírem no chão, tornavam-no escorregadio. Mas foi um espectáculo deslumbrante!

Antes dos treinos, no Inverno, era necessário limpar as folhas caídas das árvores que existiam à volta do recinto. Isso criava quase uma ‘liturgia’ e havia quem se oferecesse para o trabalho e o fizesse com grande gosto.

E, é claro, não esquece a outra ‘liturgia’ que era a colocação e retirada da lona que envolvia o rinque nos dias de jogo… o que significava um trabalho enorme, que todos os envolvidos valorizavam devidamente.

Foram treinadores da equipa, primeiro, o Adolfo Nogueira, depois o Agostinho (ambos jogadores do Académico), de seguida o Dr. Aragão (dentista, que jogou no Vigorosa), depois o António Figueiredo (jogador do Infante de Sagres e na selecção, campeão da Europa), a seguir o Zé Viterbo, durante vários anos, que nunca patinou e chegou a ser selecionador do Norte…

O Maurício Claro Dias foi o mecânico dos patins do clube, com grande paixão.

Os patins não tinham os rolamentos como agora.

Nas rodas, havia uma caixa, onde eram alojadas as esferas e que eram limitadas por um tampão. Acontecia que, com o andamento, por vezes o tampão desenroscava e as esferas espalhavam-se pelo rinque…

No início, as botas dos patins não tinham calços. Quando começaram a ter calços, estes, que estavam agarrados à biqueira da bota, tinham tendência a levantar, dobrando a biqueira, pelo que a travagem ou o arranque se tornavam menos efectivos. Então, o Maurício inventou um gancho, preso entre o rodado e o calço, que fixava este e não o deixava levantar.

Os patins iniciais tinham rodas estreitas de ferro. Depois, os patins de competição, começaram a usar rodas largas de madeira, que aderiam melhor ao piso habitualmente de cimento. Porém, quando chovia, a madeira deslizava muito e era incómoda e ineficaz. Além de que absorviam a água, ficavam moles e partiam-se muito. Passou então a usar-se rodas de alumínio, que aderiam melhor ao rinque em tempo molhado. Quando se começava o jogo com rodas de madeira e entretanto principiava a chover, os jogadores iam-se revezando, para permitir aos que saíam trocar de rodas. O problema actualmente não existe, porque os jogos são todos efectuados em recintos cobertos.

Presidentes que achou terem tido um bom desempenho: Joaquim Camões e Joaquim Paupério. Isto, no seu tempo de jogador. A pessoa que, depois disso, mais garantiu a permanência do clube e não o deixou cair foi o João Carlos Paupério.

Os jogadores que mais o impressionaram foram, em primeiro lugar, o Américo Moreira, como jogador excepcional. Houve muitos outros com grande categoria, como jogadores e como pessoas, que só não quer referir para não cometer

o ‘pecado’ de esquecer algum. Sublinha o comportamento do Zé Camilo, como jogador e mais tarde como treinador das escolas, durante vários anos.

O momento mais alto da sua carreira como jogador foi a subida à Primeira Divisão, ao ganharem ao Boavista, em Valongo, por 7-6, depois de terem estado a perder por 5-1!

Aurora Padilha e Manuel Ferreira. Este é o casal que cuidou da sede da ADV, situada na Rua do Padrão, 173, enquanto ela durou, ou seja, desde 1958 até bastante depois de 1972, mais de 14 anos.

Eram pessoas afáveis, simpáticas, com enorme paciência para algumas atitudes dos sócios que não primavam pela correcção e que nunca criaram problemas a ninguém. Serviram com zelo e dedicação. Passaram a pertencer à “família ADV”.

Antes da implantação do rinque de hóquei em patins na Praça Machado dos Santos, em Valongo, alguns jovens desta terra começaram a adquirir patins e a patinar em variados locais. Entre estes, destacavam-se o rinque já existente na moradia do Sr. Mamede Reis Figueira, sita na então Rua 1º de Maio, o recinto de uma empresa de metalurgia de Campo, designada por “A Separadora” e, mais tarde, também a garagem da casa dos meus pais, sita na Rua do Padrão.

Era tal o entusiasmo que, em boa hora, a Câmara Municipal de Valongo, presidida pelo médico Dr. João Alves do Vale, decidiu construir o referido rinque, o que foi concretizado em 1954.

Pouco tempo depois, foi criada a Associação

Desportiva de Valongo.

Creio que comecei a andar de patins quando

Camilo Moreira Camilo

tinha ainda cinco anos de idade, ainda antes da existência do rinque, pois um dos meus irmãos mais velhos, o José, era um dos principais impulsionadores da prática da patinagem e, mais tarde, da modalidade do hóquei em patins,

Em 1963, tendo eu 15 anos de idade, altura em que o Valongo (ADV) já vinha disputando campeonatos de seniores e de juniores (só mais tarde surgiram, sucessivamente, juvenis, iniciados e infantis), teve início um novo campeonato de juniores da Associação Regional do Porto.

Não pude fazer parte dessa nossa equipa, porquanto não era permitido ser filiado sem perfazer 16 anos, regra que, pouco tempo depois, foi abolida, permitindo-se a filiação aos 15 e creio que mesmo aos 14 anos de idade.

Perante tal situação, tive de aguardar o ano seguinte.

Só que diversos jogadores dessa equipa de juniores passaram a fazer parte dos seniores, pelo que o Valongo não tinha jogadores em número suficiente para entrar no respectivo campeonato.

Sabendo disso, os dirigentes do Grupo Coral e Desportivo de Fânzeres, que só tinha a categoria de juniores, contactaram-me, pedindo-me para fazer parte da sua equipa, dado que iriam participar nesse campeonato, tendo eu aceitado o convite para representar o Fânzeres, tendo mesmo aconselhado a levarem para a equipa mais 2 ou 3 jogadores de Valongo.

No ano seguinte, como o Valongo já entraria de novo no campeonato de juniores, abandonei o Fânzeres, passando a representar o clube da minha terra.

Mais tarde, passando a fazer parte dos seniores, fiz muitas vezes parte da equipa.

Nessa altura, nos jogos, uma equipa apenas podia ter 8 jogadores, pois só era permitido ter três suplentes, entre os quais um guarda-redes.

Entretanto, houve períodos em que, simultaneamente com o então Campeonato Regional do Porto, se realizaram campeonatos de reservas, sendo que estes jogos eram efectuados mais cedo, antes dos de seniores.

Sendo assim, por vezes, para reforçar a equipa de reservas, um ou outro jogador, que devia fazer parte dos 8 da equipa principal, optava por jogar naquela equipa, o que contribuiu para diversas vitórias do campeonato regional de reservas por parte da ADV.

Fiz parte dos seniores da ADV durante longos anos, designadamente aquando da conquista do Campeonato Regional do Porto em 1968, sendo certo que, por motivos académicos, profissionais e de cumprimento do serviço militar obrigatório, vi-me obrigado a estar ausente durante longos períodos.

Na verdade, estive 5 anos a frequentar a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, sendo que, quando estava por Valongo, continuava a participar nos treinos e, muitas vezes, a vir de Coimbra, faltando mesmo a aulas, para fazer parte da equipa em jogos à segunda-feira (Torneio Início) e à sexta-feira (Campeonato Regional).

Depois de cerca de seis meses a trabalhar no Tribunal de Mogadouro, fui para a E.P.I., em Mafra, para o serviço militar, tendo passado depois por diversos quartéis em Portugal e em Angola, sendo certo que, tendo estado 5 meses no quartel da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, na medida do possível, continuei a fazer parte da equipa da ADV. Regressado de Angola em Agosto de 1975, estive

ausente, por motivos profissionais (Seixal e Aveiro), período em que não tive possibilidades de, assiduamente, fazer parte dos quadros da ADV, o que se alterou quando, em Junho de 1977, vim trabalhar para a área do distrito do Porto.

Voltando a sair daqui no princípio de 1980, deixei de dar o meu contributo à ADV, sendo que, mais tarde, fiz parte da nossa equipa em campeonatos de veteranos, nos quais a ADV saiu sempre vitoriosa.

Realço aqui o facto de, provavelmente na época de 1968/1969, no torneio início, onde se incluíam equipas das 1ª e 2ª divisões (únicas então existentes), a ADV, da 1ª divisão, ter, no antigo rinque, obtido uma vitória de 46-1 sobre o Maia, da 2ª divisão, resultado que deverá constituir um recorde a nível mundial, sendo certo que, nessa altura, os jogos tinham de duração apenas 40 minutos, divididos em duas partes, cada uma delas de 20 minutos, e que o ´tempo de jogo era seguido (sem paralisação), pois o cronómetro só parava quando havia um golo ou era marcada uma grande penalidade, para além de qualquer outra situação que levasse o árbitro a determinar a interrupção da contagem do tempo de jogo.

Nesse jogo, joguei apenas cerca de 20 minutos, tendo marcado 16 golos, o que também será provavelmente um recorde a nível mundial.

Cândido Marques Santos Cruz

Nascido a 9-3-1953, natural de Valongo.

Ingressei na A. D. Valongo em 1968. Nas camadas jovens, em 1970.

Em 1971, Campeões Regionais de Juvenis

Em 1972, Campeões Regionais de Juniores.

Em 1972, participei nos Jogos Luso-Brasileiros.

Em 1972, fui chamado à Seleção do Porto, pela mão do selecionador Vladimiro Brandão, o que me valeu a chamada aos treinos com a Seleção Nacional de Juniores.

Em 1974, ingressei no Regimento de Comandos da Amadora, até 1976.

Em 1977-78, fiz parte da equipa sénior do Valongo, onde também estavam o grande Américo, Pires, Lino, Aguiar, Alves e mais alguns colegas.

Depois, começaram a vir jogadores e treinadores de fora de Valongo.

Entretanto, casei e desisti do hóquei.

Tenho muito orgulho em ter dado o meu contributo à A. D. Valongo, onde o prémio era um prego e um fino.

Carlos Freitas Camões

Carlos Freitas Camões nasceu em 4 de Junho de 1937, na Rua do padrão, Vila de Valongo, hoje cidade, onde fez escola e trabalhou como empregado de escritório numa Empresa de Extração de Ardósia, Firma Seixas, Lda.

Aprendeu a patinar por volta do ano 1953, com colegas de escola, num pavilhão fabril inativo de uma empresa de nome Separadora, na freguesia de Campo, Valongo.

Posteriormente, no ano 1954.55, com a construção do rinque de patinagem na Praça Machado dos Santos, em Valongo, pela Câmara Municipal, tudo o que era jovem masculino e feminino “toca a patinar”…

Depois, um grupo de patinadores resolveu inscrever a equipa com o nome de A. D. V., da qual o Camões

começou a fazer parte como jogador “defesa”, sendo o 1º jogo no rinque do Vilanovense, resultado 5-1; o 2º jogo em Valongo, contra o Centro Universitário do Porto, resultado 6-6. Com a seguinte formação da equipa do Valongo:

Guarda-redes: Serafim Barros; defesas: Carlos Camões e João Lino Vale; médios: Eduardo Figueira e João Loureiro; avançados: Armindo Fonseca e Eugénio.

O Carlos Camões jogou até aos 32 anos de idade, sempre como atleta da ADV, como amador e com muito orgulho de ter servido esta instituição desde a sua criação até esta parte.

Êxitos desportivos:

1963 Campeão Distrital da Zona Norte e subida à 1ª Divisão

1967 Campão no Torneio Início Regional da APP

1967 Torneio Taça Joaquim Ferreira APP 1º classificado

1968 Torneio “Iliabur” Aveiro 2º classificado

Homenagem de mérito e valor desportivo:

- ADV 3 sessões de homenagem

Troféu, salva e 5 medalhas

- Junta de Freguesia de Valongo

Valor desportivo: uma medalha

- APP Mérito desportivo: uma medalha

- Federação P. Patinagem

Valor desportivo: oferta de cartão vitalício de acesso aos rinques federados em todo o país, para assistir a jogos de hóquei em patins.

Carlos Köehler Reis Figueira

O Carlos Figueira era filho de um médico conhecido e muito apreciado, de Valongo, o Dr. Álvaro Figueira, não só por ser um bom médico, mas também por ser uma pessoa afável e simpática, com disponibilidade e gentileza, quando visitava os doentes. Digo isto porque, durante a minha infância, ele chegou a ser médico da minha família e visitou-nos várias vezes. Além disso, tinha um laboratório de análises no Porto (foi dos primeiros a estabelecer-se com tal módulo científico) que prestou bons serviços, lhe deu nome e fortuna.

O Carlos nasceu por isso, como costuma dizer-se, em “berço d’oiro”. Ao contrário dos primos, Eduardo e Álvaro Figueira, nunca se interessou pelo hóquei nem jogou. É por isso muito curioso que, a certa altura, por volta dos anos 1972-73, ele apareça a fazer parte de uma Direcção da ADV e em 1975

surja como Presidente dela. A partir dessa data, quer como Presidente (a que voltou, em 1980) quer noutros cargos directivos, e por mais de 20 anos, ele deu o seu contributo ao clube. E não foi um contributo qualquer. Além da longevidade da prestação – o que por si só já é de um valor inestimável, sabendo nós o trabalho, a preocupação, as dores de cabeça, o desgaste e até mesmo a despesa que tais cargos sempre originam – ele exerceu uma gestão do clube que mereceu rasgados elogios de pessoas mais novas e mais velhas, sobretudo dos jogadores que com ele privaram.

Eu conhecia mal o Carlos dessa fase (porque não estive em Valongo durante muito tempo) e por isso não esqueço o impacto que em mim teve a descrição muito laudatória que o meu primo João Queirós (guarda-redes da ADV até 1987, muito premiado) lhe faz no vídeo mandado realizar pela Câmara Municipal para a Exposição sobre o Hóquei em Valongo, em 2013. O João não era pessoa de grandes manifestações, nem elogiosas nem recriminatórias, por isso impressionou-me muito que ele tenha aproveitado o seu testemunho sobre a sua experiência como hoquista e como pessoa na ADV pata tecer tão gratas considerações sobre o Carlos Figueira. Fui naturalmente comentar as apreciações do João Queirós junto de amigos e conhecidos ligados ao hóquei e verifiquei que a opinião é unânime: todos o consideram um dirigente de excelência, que se entregou de alma e coração à ADV e, sabe-se hoje, nela enterrou abnegadamente muito do seu dinheiro. Deixou-nos muito jovem e foi muita pena.

Não resisto a transcrever um comentário notável e justíssimo do “Correio do Douro”:

“O

ARQUITECTO DA EXPANSÃO”

O hóquei em Valongo, ou seja, a ADV, teve inúmeros dirigentes, qualquer deles digno dos maiores encómios da terra, do clube e da modalidade. Mas entre eles um sobressai pela visão, ambição e empenho colocados ao serviço do que para ele foi uma causa que resultou na expansão repentina e significativa da Associação Desportiva de Valongo nos teatros regional, nacional e europeu do hóquei sobre rodas. Referimo-nos a Carlos Figueira.

Falecido extemporaneamente, Carlos Figueira continua com lugar cativo e único na história do concelho e do clube, posição que também ocupa em muitos dos corações e memória dos amantes da modalidade. A ele se deve o fim do total amadorismo dos atletas do clube, culpado de “fugas” que, ano após ano, amputavam significativamente a Associação. Numa altura em que o “salário” dos atletas era “um prego e um fino”, normalmente “pago” no também saudoso

Café Bela Cruz, Carlos Figueira percebeu que, se queríamos crescer, era necessário acompanhar os tempos e remunerar, ainda que sem entrar em loucuras, os atletas. Foi o início de uma época que ainda não acabou, mas que conheceu as melhores páginas sob a sua égide. Daqui – desta terra onde a crise, por grave que seja, não provoca amnésia – vai um recado. Continuamos a lembrá-lo e a manter respeitosa admiração pelo trabalho que fez.”

(Correio do Douro n.º 38, de 30.04.2013)

Domingos Manuel Castro Gonçalves da Cruz

Nasceu a 6 de Outubro de 1949 e faleceu a 27 de janeiro de 1992.

Estudou na Universidade do Porto, na Faculdade de Economia.

Adorava a natureza e explorava as serras do concelho de Valongo.

Era amante de espeleologia, colheu centenas de fósseis, tendo vários modelos completos de espécies extintas.

Tinha um grande hobbie: a fotografia, que era um legado de seu pai, Sr. Joaquim Cruz.

Era uma pessoa que amava a leitura, dedicava-se muito à leitura, amava os livros.

Era insaciável na busca de conhecimento.

Muito sociável e grande amigo de todas as pessoas.

Preocupava-se com os aspectos sociais, na sociedade em que estava integrado.

Um maravilhoso pai de 3 filhos e companheiro dedicado à mulher.

Adorava o desporto. Era um grande defensor do hóquei em patins em Valongo.

Foi Júnior da ADV em 1966 e foi Sénior durante 6 anos, de 1968 a 1973, tendo sido campeão em 1970 e 1971.

No dia 1 de Fevereiro de 1968, no Jornal O Correio do Douro, Licínio Dias Marques escreveu sobre ele o seguinte:

“Domingos Manuel Castro Gonçalves da Cruz, da A. D. Valongo, principiou a sua carreira oficialmente, na modalidade de hóquei em patins, nos juniores da A. D. Valongo no ano de 1965.

Fazendo três épocas em juniores, Cruz contribuiu para a conquista de dois campeonatos regionais.

É um jogador habilidoso e correcto. A sua melhor característica é o remate desferido do meio do recinto. Forte e certeiro quase sempre. Pelo seu valor, tudo leva a crer que este elemento venha a ser chamado para a Selecção Nacional de Juniores, a fim de disputar o Campeonato Europeu. No Campeonato Regional findo, este brioso atleta distinguiu-se como o melhor jogador e o mesmo bom comportamento teve no «nacional» que foi disputado por quatro equipas, duas do Norte (Valongo e Porto) e duas do Sul (Paço de Arcos e Salesianos). O Paço de Arcos foi o campeão. Uma vez promovido a seniores e dado o seu valor real, este elemento oferecerá o seu concurso à equipa de honra da A. D. Valongo que bem necessita dele. Agora que Leal abandonou a actividade por compromissos profissionais. Cruz é pois um atleta de largo e promissor futuro.”

Nasceu em Abril de 1937, na Rua do Padrão, em Valongo.

Filho de Eduardo Joaquim Reis Figueira e de Maria Elisa de Almeida e Sousa Figueira, naturais respectivamente de Valongo e do Porto.

Pertenceu à primeira geração de “patinadores” da ADV, que iniciou esta actividade desportiva nas instalações da chamada “Separadora”, em S. Martinho de Campo, empresa que, tendo sem actividade um pavimento em cimento, generosamente o facultou, gratuitamente, para o exercício da patinagem e a prática dos primeiros rudimentos de hóquei em patins.

Ali começou a crescer a ideia de criar uma associação de hóquei em patins em Valongo. Ideia que depois se foi desenvolvendo e culminou com a criação da própria Associação Desportiva de Valongo, e a construção, pela Câmara Municipal de Valongo, do rinque de patinagem na Praça

Eduardo António de Sousa Reis
Figueira

Machado dos Santos (onde generosa foi então a colaboração do Sr. Joaquim Gonçalves da Cruz, que facultou uma divisão da sua casa, próxima do rinque, para servir de balneário aos “atletas”, suportando os custos com a água).

Patinou e jogou hóquei em patins naquele rinque, durante poucos anos, participou em pelo menos três jogos oficiais registados, e foi dirigente da respectiva Direcção.

Era um dos primeiros sócios da ADV, com o n.º 4, porque pertenceu sempre ao grupo inicial que a discutiu e ajudou a organizá-la. Teve um papel decisivo, com o Armindo Fonseca, em 1955, na inscrição da associação no Campeonato da 2ª Divisão Regional, como foi relatado no texto

Faleceu em 1994.

Eduardo Joaquim Reis Figueira

Nasceu em Valongo, em Junho de 1901, na Rua do Padrão, como todos ou a maior parte dos seus irmãos.

Filho de Eduardo Carlos Figueira e de Teresa Gonçalves dos Reis Figueira, ambos naturais de Valongo.

Enquanto Vice-Presidente da Câmara Municipal de Valongo, foi, com o Presidente Dr. João Alves do Vale, um dos promotores da construção do Rinque de patinagem na Praça Machado dos Santos.

Foi um dos primeiros sócios da AD Valongo, com o n.º 9.

Foi Vice-Presidente da ADV quase desde a sua fundação até 1974. A sua saída foi saudada com grande aplauso e agradecimentos pelo serviço prestado.

Faleceu em 1987.

Eugénio Martins da Silva

Eugénio Martins da Silva, nascido em Valongo, a 26 de Março de 1938, numa casa da Praça Machado dos Santos, mesmo em frente do rinque.

Era filho de José Almeida Silva e Florinda Martins Moreira, sendo o mais novo de 9 irmãos.

Foi um dos primeiros jogadores das equipas da ADV e jogou desde o primeiro jogo, em 19560703, até pelo menos 19630730 (jogos registados em Resumo dos Jogos).

Era uma pessoa bem-disposta, com sentido de humor, gostava de brincar. A jogar, era de um grande entusiasmo e um grande marcador, como pode ver-se nos relatos dos jogos.

Foi funcionário da Câmara Municipal de Valongo

Faleceu a 2 de Outubro de 2013, com 75 anos, a idade com que morreu o seu pai.

Fernando Manuel Vitorino de Queirós foi um jornalista, nascido em Sobrado, que nos anos 50 do século passado, fundou um jornal a que chamou O Correio do Douro, que fazia a cobertura sobretudo local, aspirando a cobrir o Douro todo, como o nome aponta.

Ele era uma personalidade sui generis, com grande sentido de humor e também com muito gosto pelas coisas da sua terra. Por isso, o jornal foi um bom relator dos acontecimentos locais e um grande defensor das suas gentes, instituições e valores. Nestas últimas, ele incluiu denodadamente a Associação Desportiva de Valongo, cuja vida acompanhou com atenção, comentando as várias épocas, biografando dirigentes e jogadores e, especialmente num certa fase, relatando os jogos com um pormenor que só alguns jornais desportivos atingiam. E sempre, mais do que eles, defendendo as cores da ADV.

Fernando Queirós

A actuação do Correio do Douro e do seu Director foi espacialmente notável na pugna, que durou anos, por um Pavilhão Gimnodesportivo que honrasse Valongo e permitisse treinos e jogos ao nível da qualidade e do valor que as equipas da ADV acabaram por assumir. Chegando a enveredar pela brincadeira publicitária, como daquela vez em que noticiou, numa reportagem longa, com fotografias e tudo, o acabamento do Pavilhão para daí a dias… quando afinal era uma “mentira” do 1º de Abril…

Destaco, como ilustração do que era a sua relação com o clube e do que os sócios sobre ele pensavam, um excerto da acta da Assembleia-Geral da ADV, de 17.01.1971:

“De seguida, Fernando Queirós, representando a imprensa, agradeceu as referências que lhe são dirigidas no Relatório e felicitou os atletas e a Direcção pelo nobre exemplo de desportivismo e administração, não havendo razões para críticas, mas sim para os maiores louvores e admiração. Esperava que a Direcção, que se propõe continuar por mais um ano, fizesse mais e melhor. A construção do Pavilhão era uma urgência, pelo que devia fazer-se todas as insistências e sacrifícios para torná-lo uma realidade. Terminou com palavras de incitamento aos atletas, sócios e Direcção.”

Ao que o Presidente da Direcção respondeu:

“Ao Sr. Fernando Queirós, director e proprietário d’O Correio do Douro’, queria agradecer as suas palavras e a colaboração do jornal durante o ano findo, assim como apelar a que continue a desenvolver esforços para alertar todos os Valonguenses para as actividades do clube,

que, sendo pequeno, tem dado grandes feitos à sua terra.”

A 13 de Setembro de 2009, a Câmara de Valongo, presidida pelo Dr. Fernando Melo, deu o seu nome a uma rua de Sobrado, onde morava, dizendo em comunicado que “a inclusão do nome de Fernando Queirós [falecido há cinco anos] na toponímia do concelho de Valongo é uma homenagem da Câmara Municipal a este filho da terra e ao serviço que prestou na divulgação do concelho na comunicação social”.

O Presidente da Câmara declarou à Lusa: “Era um jornalista natural de Sobrado que se bateu muito, quer pelo concelho, quer pela freguesia, e que durante muito tempo fez o que pôde fazendo sair notícias [sobre a região].”

Francisco Azevedo Moreira Bártolo

A Origem. Súmula histórica

Decorria o ano de 1952(?) quando seis jovens, Álvaro Figueira, Eduardo Figueiras, Francisco Bártolo, João Cruz, João Lino Vale e João Loureiro, dão corpo a um pequeno sonho das suas existências, o de iniciarem uma equipa de hóquei em patins na, então, Vila de Valongo. Vontade férrea que os leva a realizar os primeiros treinos no pátio da casa dos pais do João Lino Vale. A estes vieram a juntar-se, mais tarde, o Armindo Fonseca e o Adalberto Camões.

Mais tarde passaram a treinar nas instalações da fábrica “A Separadora”

São estes jovens que estão na origem do que veio a constituir-se, formalmente, como a Associação Desportiva de Valongo (ADV).

Este sonho, esta férrea vontade, foi desafio a que responderam, de forma positiva, o Presidente da

Câmara de Valongo, doutor João Alves do Vale e o seu e vice-presidente, senhor Eduardo Figueiras, os quais vieram a criar as condições para a construção de um ringue com piso de cimento na Praça Machado dos Santos.

A visibilidade proporcionada por uma estrutura deste tipo, criada no centro da Vila de Valongo, e o desejo de jogar hóquei certamente contribuiu para que jovens como o Carlos Camões, o Eugénio Pires, o Joaquim Navio, o Serafim Barros, o Jorge Braga e o João Pereira, praticante de patinagem artística, viessem a ingressar na equipa.

A ADV veio a ser constituída em 1954 tendo como primeiro presidente o doutor João Alves do Vale.

O primeiro jogo oficial de hóquei, ocorreu no ringue de cimento no dia 3 de Julho de 1956 Os elementos que constituíram essa primeira equipa foram: Serafim Barros, João Lino, Armindo Fonseca, Carlos Camões e Eugénio Silva (1), com Francisco Bártolo, a sexto.

A modalidade de hóquei em patins, ao longo dos anos foi suscitando elevado entusiasmo nas gentes de Valongo.

BIOGRAFIA.

Francisco Azevedo Moreira Bártolo filho de José Moreira Bártolo e Raquel Maria Azevedo nascido a 04/02/1934 na antiga Rua do Sol, hoje Rua Joaquim Marques dos Santos com o cruzamento com a Rua João Lino Castro Neves.

Guarda Redes no primeiro jogo da associação até ao jogo do Riba D´Ave para a taça de Portugal. (O último jogo registado é o Infante-Valongo, em 19630618. Ver Resumo dos Jogos)

Francisco Pires

Francisco José Marques dos Santos Pires, nascido a 24 de fevereiro de 1938, em Valongo, e falecido a 19 de novembro de 2020.

Foi bibliotecário da Fundação Calouste Gulbenkian, uma das suas paixões, foi um veículo da cultura para várias gerações de Valongo. Integrou as primeiras gerações de Hóquei em Patins de Valongo, na posição de Guarda-Redes. Pertenceu a uma família com enorme tradição no Hóquei em Patins, não só como jogadores bem como dirigentes.

Sei que, como filho, sou suspeito ao afirmar que pertence a um grupo de pessoas que personifica o que é ser jogador de Hóquei em Patins da Associação Desportiva de Valongo, à mística “Orgulho, Raça e Tradição” aliou a dedicação, trabalho e abnegação a esta modalidade e terra.

Depois de terminar a carreira como guarda-redes da AD Valongo (fazendo ainda uma “perninha” nas “velhas guardas”), enveredou pelo dirigismo desportivo, não só na Associação Desportiva de

Valongo, como também na União Desportiva Valonguense, onde “marcou” diversas gerações que passaram pela ADV.

Dos vários relatos sobre a sua carreira, o mais demonstrativo da sua dedicação ao Hóquei é a descrição do dia do seu casamento (realizado a um sábado de manhã). A A.D Valongo foi jogar ao Clube Infante Sagres, ele foi assistir á partida e dirigiu-se ao balneário a cumprimentar os colegas, deixando a esposa na bancada; quando a equipa entrou no ringue, lá estava o “Xico Pires”, como era conhecido nestas andanças, equipado a rigor para disputar a partida. Esta foi mais uma demostração do amor e dedicação à camisola e ao clube do coração. A A.D. Valongo venceu este jogo por 2-3 a um Clube Infante Sagres que nessa altura tinha no seu plantel o internacional Júlio Rendeiro e Irmão. No dia seguinte (na altura existiam as jornadas duplas) foi jogar a Lisboa. Como costumava ressalvar, deve ser o único jogador que casou e foi disputar jogos do campeonato no próprio dia do casamento e no dia seguinte!

Das várias marcas que “ganhou” durante a carreira, em um jogo que se o Valongo perdesse descia de divisão, perante uma grande penalidade, retirou a máscara (que na altura, com o suor, não seguravam bem na cara) para defender o mesmo e defendeu sem a máscara, tendo a bola embatido na trave.

Outra das marcas foram os dezasseis pontos que levou na boca, ao defender um remate de um jogador do Espinho (Vladimiro), onde deu literalmente a cara às “balas”. No dia seguinte estava a defender mais uma vez, com as marcas do dia anterior, contra o Vigorosa.

Como dirigente ajudou o desporto em Valongo, onde foi um dos obreiros de várias subidas de

divisão, sendo uma delas colocar a A.D. Valongo na primeira divisão, em 1961. Como era seu apanágio, o desporto, Valongo e em especial o Hóquei em Patins eram as suas paixões.

Francisco Trindade Soares

Francisco Trindade Soares, natural de Valongo, nascido em 14 de Abril de 1955. Desde miúdo que ajudava a pôr os panos em volta do rinque da Praça.

Fui guarda-redes da ADV entre 1969 e 1976.

Comecei a treinar no antigo rinque que se situava na actual Praça Machado dos Santos, na equipa de juvenis, no ano de 1969. No ano seguinte, tornamo-nos campeões da Zona Norte.

Em 1971, entrei para a equipa de juniores e tornámo-nos novamente campeões da Zona Norte. A meio da época de 1972, integrei a equipa principal do Valongo, tinha eu 18 anos.

As minhas melhores recordações, das quais me orgulho e não paro de as contar a familiares e amigos, remontam a esse tempo.

O meu primeiro jogo na equipa principal foi com a equipa do Carvalhos e ganhámos por 7-4. E na segunda volta, ganhámos por 13-0! Foi um jogo emocionante e fiz uma boa exibição, porque os adeptos gritavam pelo meu nome: “Horácio!... Horácio!...”

Nesse mesmo ano, o de 1972, fui convocado para os jogos desportivos luso-brasileiros, que decorreram em Barcelos. No ano seguinte, fui convocado para a seleção nacional de juniores e também para a seleção de seniores da Zona Norte.

Ainda nesse ano, participei no Torneio Edgar Soares, que se realizou no Pavilhão das Antas, frente às equipas do Porto, Carvalhos e Infante de Sagres. Ganhei a Taça João de Brito por ter sido o guarda-redes menos batido do torneio.

Nesse tempo, jogávamos por amor à camisola, porque ganhávamos apenas um prego e um fino por jogo.

A equipa do Valongo era “aquela máquina”, à qual tinha muito orgulho em pertencer.

Dr. João Alves do Vale

Filho de Miguel Alves do Vale e de Teresa Marques da Rocha, padeiros, residentes na Rua Dias de Oliveira.

Nasceu a 21 de Outubro de 1898; casou com Maria Carolina Paiva de Azevedo a 4 de junho de 1936 e faleceu em 13 de Fevereiro de 1982.

27-08-1931– 17-04-1934 – Dr. João Alves do Vale, Presidente da Comissão Administrativa

Licenciado em Medicina e cirurgia, residente na Rua Alves Saldanha, em Valongo.

Em 5 de Junho 1934, na sequência de concurso, foi nomeado para o lugar de facultativo médico do partido municipal, com sede na vila de Valongo.

Foi nomeado Presidente da Câmara Municipal de Valongo, distrito do Porto, em 03-06-1941 (DGII nº 37, 16-06-1941). Reconduzido por portaria de 13-05-1949. (DGII nº 113, 18-05-1949). Findou o

mandato em 1957 e voltou a ser nomeado para o mesmo cargo em 07-08-1969. (DGII nº 190, 14-081969). Exonerado a seu pedido em 01-02-1972 com louvores. (DGII nº 29, 04-02-1972).

Em 25 de Março de 1953, por despacho do Conselho de Ministros, foi autorizado a acumular os cargos de médico municipal, subdelegado de saúde e diretor clínico do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Valongo.

Foi, desde o seu início, sócio e apoiante da Associação Desportiva de Valongo. Era o sócio n.º 5. Como Presidente da Câmara de Valongo, teve um papel determinante na construção do rinque da Praça e, mais tarde, na viabilização do Pavilhão Gimnodesportivo, quer através da descompressão dos procedimentos burocráticos, como na obtenção de subsídios.

Foi Presidente da Assembleia-Geral desde, pelo menos 1964 até 1974, ano em que pediu para ser substituído.

Ficaram célebres os seus discursos no final de cada reunião anual da A-G, em que sempre sustentou uma atitude positiva e entusiasmante de todos os elementos da ADV e fez questão de salientar, ano após ano, os aspectos mais relevantes da vida da associação. O seu contributo foi largamente apreciado por todos os sócios e simpatizantes da Associação.

Era pai do Dr. João Lino Azevedo Alves do Vale, filho único.

Nasceu em Valongo, em 28 de Junho de 1904, filho de João Amaro Ribeiro das Neves e de Cândida de Castro Lima, e faleceu em Valongo, em 4 de Setembro de 1972.

Viveu com os pais e os irmãos (dois) e irmãs (duas) no palacete que é agora a sede das Serras do Porto, na Rua do Padrão. O pai era comerciante e os filhos ajudaram na loja, até arranjarem o seu próprio emprego.

Casou em 6 de Novembro de 1935 com Olívia Marques Loureiro da Cruz, ficando a morar na casa da família dela, pertença do sogro, José Moreira Marques, e sita na Praça Machado dos Santos, em Valongo.

Foi empregado da Empresa das Lousas de Valongo, até 12 de Outubro de 1939, data em que a empresa se viu forçada (segundo sua própria declaração) a fechar as portas, por motivo da Grande Guerra, que então começara.

João Amaro de Castro Neves

Cerca de 1942, abriu uma loja de mercearia, mais tarde também de fazendas e miudezas, na casa da morada da família, na Praça Machado dos Santos, onde antes existira um conhecido “botequim”, frequentado pela gente da terra e também pelas então muito conhecidas “cadeireiras”, que transportavam, a pé e à cabeça, durante a madrugada e parte da manhã, as cadeiras em branco, desde Rebordosa e Paredes para a Porto, onde eram acabadas.

Mais tarde, a pequena empresa desenvolveu-se e abriu uma nova loja no prédio em frente, no n.º 111 da mesma Praça Machado dos Santos, chegando a constituir uma sociedade efémera, de roupas e pronto-a-vestir, que esteva instalada no prédio da Rua de S. Mamede, ao lado do Banco Montepio, onde agora existe o Raffa Store.

Foi durante muitos anos presidente da Direcção dos Bombeiros Voluntários, que tratava com desvelado carinho, e era, desde a juventude, um apaixonado caçador. Pertenceu, durante algum tempo ao grupo de peritos, chamados “louvados” que faziam as avaliações das casas e dos terrenos para que as Finanças pudessem estabelecer as bases da matéria tributável.

Era adepto do Valonguense e do Futebol Clube do Porto e sócio antigo e frequentador diário do Clube Recreativo.

Tinha uma relação cordial com todas as pessoas e gostava de ajudar. Ainda hoje, há gente em Valongo que o lembra com recordações gratas.

Era meu pai e era um homem bom.

João Castro Gonçalves da Cruz

João Castro Gonçalves da Cruz nasceu em Valongo, no dia 22 de Julho de 1940 e faleceu no dia 29 de Junho de 2021.

Era filho de Joaquim Gonçalves da Cruz e de Ana Ventura de Sousa Castro.

Fez parte do grupo de jovens que fundaram a Associação Desportiva de Valongo, pelo que era o sócio n.º 46. Jogou nas primeiras equipas, entre 1957 e 1963, sempre como Sénior, até porque no início a Associação ainda não tinha Juniores.

Tinha como hobbies a fotografia, o desporto –especialmente o hóquei e o futebol – a dança, viajar e a leitura.

Como características pessoais, o João era educado, respeitador, calmo, culto e íntegro. Tinha muito amor para dar à família e amizade para os amigos.

Foi sempre um bom companheiro e grande entusiasta do hóquei e da Associação. Fez parte da

equipa de ‘heróis’ que, em 1961, levaram o Valongo para a 1ª Divisão!

João Lino da Silva

João Lino da Silva (27.08.1952-28.06.2000)

nasceu e viveu em Valongo e, quando rapazinho, era um daqueles que ajudavam na penosa, trabalhosa e difícil tarefa de colocar e retirar a lona que envolvia o rinque quando havia jogos oficiais, pagos. Nunca lhes agradeceremos demais.

João Queirós

João António de Castro e Paiva Queirós, um dos três filhos de Maria Luísa Castro Neves e António Paiva Queirós, nasceu a 20 de julho de 1951, na vila de Valongo e veio a falecer em 15 de março de 2022.

Homem singular, de pensamento livre, espírito combativo, sonhador e leal, que no passo certo, traçou o seu caminho, em busca de si e do próximo, e percorreu os atalhos, destacando-se a passagem pelo serviço militar, em Lamego, com especialização na Força de Operações Especiais, unidade do exército conhecida por Rangers, e pelas funções de alferes e comandante da companhia em regime de substituição, em Moçambique – Cabo Delgado.

A vida académica teve início na escola primária de Valongo, transitando para o liceu Alexandre Herculano, tendo, anos mais tarde, obtido

licenciatura em Direito na Universidade Portucalense e mestrado em Solicitadoria.

O início da atividade profissional verificou-se com o estágio no Serviço de Finanças de Valongo, seguindo-se a progressão na carreira e a aposentação como Chefe de Finanças de 1.ª classe, em Gondomar. Sucedeu-se o exercício das funções de solicitador, especializado em matéria fiscal e contratual, formador e preletor na Câmara dos Solicitadores e instituições de ensino superior.

Abraçou, ainda, as funções de Vice-Presidente da Câmara Municipal de Valongo, no mandato de 2005-2009, movido pela convicção do interesse público, em prol dos interesses do município e dos munícipes.

Apreciava e envolvia-se com entusiasmo numa boa conversa ou debate. Desde cedo desenvolveu a paixão por viagens, fascínio por cultura e encanto pela música.

Na família encontrou o expoente máximo da vida, um maior apego. Homem de valores, João Queirós tornou-se a âncora e o porto de abrigo para a mulher Maria Cândida, para os filhos Maria João, Joana e João Nuno e netos Eduardo, Jorge, António e David.

No que toca à biografia de “atleta” praticante de hóquei, posso adiantar-te:

- Praticante de patinagem desde os 4 anos, ingressei nas camadas jovens da ADV com 14 anos, nos Principiantes, tendo sido Campeão Regional Principiantes nos anos de 1965 e 1966, Campeão Regional Juvenil em 1967, Campeão Regional de Juniores em 1968, Campeão Metropolitano de Juniores em 1968, Campeão Regional de Juniores em 1969, 2º Classificado no Campeonato

Nacional de Juniores em 1969, fiz parte da equipa de Reservas até 1971, interrompendo neste ano a prática da modalidade para cumprimento do serviço militar até inícios de 1975. Após regresso do Ultramar, reiniciei a prática desportiva até 1981. Nos anos de 1977, 1978, 1979, 1980 e 1981, fiz parte da equipa principal da ADV que disputou, além do campeonato Regional e a fase final do Campeonato Nacional, inicialmente a Taça CERS (acho que ano de 1977) e nos anos posteriores o Campeonato Europeu, com deslocações (que me recorde) à Alemanha, Espanha, Holanda, Itália ... Como já referi, em 1981, por motivos profissionais (já não podia conciliar a parte profissional com a exigência dos treinos/jogos, e dois filhos ...), que tive de deixar a modalidade.

Esta a breve biografia hoquista.

Nota: Nesta biografia, a parte inicial foi escrita pela família. A parte sobre o hóquei já tinha sido escrita pelo próprio e eu quis deixá-la intocada.

Joaquim Augusto Castro Paupério

Joaquim Augusto Castro Paupério, filho de Joaquim Sousa Paupério e Lucinda Martins de Castro, nasceu em 25/7/1926 e foi casado com Maria Georgina Castro Santos Paupério, tendo nascido deste matrimónio sete filhos. dos quais seis passaram pela A. D. Valongo, cinco como atletas e um como dirigente (ver famílias do hóquei). Gerente comercial e profissional de seguros desde novo, se dedicou ao dirigismo e Associações da então Vila de Valongo.

Membro e dirigente das extintas JOC (Juventude Operária Católica) e da LOC (Liga Operária Católica) foi ainda membro de um grupo tertuliano e musical denominado os Triunfantes, foi também dirigente da Santa Casa da Misericórdia de Valongo e membro da Assembleia de Freguesia de Valongo (como independente) pelo então PPD. Presidente também do Clube Recreativo de Valongo e de várias confrarias religiosas.

Dirigente da U. D. Valonguense (futebol), foi Presidente da Comissão Pró-bancada do Campo do

Calvário, obra encetada com outros Valonguenses e que ainda hoje prevalece no mesmo sem que jamais se tenha construído um único degrau a mais do que aqueles que foram feitos na altura.

No entanto, a sua verdadeira paixão era a A. D. Valongo, tendo sido Presidente pela primeira vez nos anos 1964 e 1965, culminando no exercício de Presidente do Clube no ano de 1979/80 como responsável pela comemoração das “Bodas de Prata”, 25 anos, a ultima época em que os jogadores Seniores ainda foram verdadeiramente amadores, passando o testemunho a Carlos Reis Figueira, o criador e impulsionador dos subsídios aos mesmos.

Coincidência ou não, foi nesse ano que criou a famosa senha do “prego e fino”, alargada a todos os escalões do Valongo e que podia ser trocada em vários cafés da Vila (prémio que, até então, era exclusivo ao plantel sénior e restrito ao hoje extinto Café Bela Cruz), com a salvaguarda de que os mais novos poderiam substituir por sumo e “tosta mista” (ou bolos).

Viria a falecer, vítima de doença prolongada, em 08/03/1990, ficando na memória dos Atletas com quem privou, como sendo o mais carismático Presidente.

Joaquim Gonçalves da Cruz

Joaquim Gonçalves da Cruz nasceu em Valongo, em 5 de Outubro de 1917 e faleceu em 2000. Viveu sempre em Valongo, na Praça Machado dos Santos, na casa com o n.º 47.

Este senhor possuiu algumas características que o tornaram merecedor da mais alta consideração e respeito dos dirigentes e atletas da ADV, pelo menos durante todo o período da localização do primitivo rinque de patinagem na Praça Machado dos Santos, que se estendeu desde a sua construção, em 1954, até à inauguração, em 1970, do Pavilhão Gimnodesportivo, ou seja, 16 anos.

A primeira dessas características foi ser pai de dois jogadores da ADV, o João Cruz e o Domingos Cruz. O João Cruz fez parte do grupo de jovens que ajudaram a fundar a ADV, naqueles distantes anos 50 do século 20, era o sócio n.º 46 e jogou nos primeiros tempos, entre 1957 e 1963, como pode ver-se no Resumo dos Jogos. O Domingos Cruz foi

um dos muito bons jogadores do clube e jogou a partir de 1965, primeiro como Júnior e, já como Sénior, até 1973.

A segunda característica do Senhor Joaquim Cruz foi que, morando na casa que ficava fronteira ao rinque, sensivelmente no seu lado sul, teve a grande, a imensa generosidade de deixar que a ADV e depois todos os seus convidados, ou seja, os variados clubes que – durante 16 anos, relembre-se!! – vieram com ela jogar, utilizassem uma dependência da sua casa como balneário, não cobrando qualquer renda, nem sequer pela água e eletricidade gastas!

Note-se que ele não demonstrou apenas altruísmo e desprendimento. Qualquer cidadão tem o direito de estar sossegado em sua casa e de não ser incomodado com actividades que possam perturbar-lhe o conforto. Ora, ele aceitou, repito: durante 16 anos, que 10 ou mais jovens em geral desconhecidos entrassem periodicamente – o que, por vezes, era bi-semanal!! – numa dependência de sua casa para se despirem e equiparem e desequiparem e tomarem banho!

Creio que não chegou a haver, oficialmente, um reconhecimento à altura desta enorme generosidade. É sempre tempo de o fazer. Além do mais, ele era meu Amigo.

Possuía um grande, mesmo um enorme gosto pelo convívio dos filhos com os amigos, que ele aceitava e quase promovia na sala da sua casa, onde tocávamos piano e dançávamos. Era, ao mesmo tempo, autoritário e afável. Disse-me uma vez que tinha uma grande ternura por mim, porque eu lhe lembrava muito o filho que lhe morrera.

Tinha um hobbie-paixão, a fotografia, que passou ao filho Domingos e que, de algum modo, também contribuiu para o meu próprio gosto, durante

largos anos, por esse culto das imagens fixas, que é uma maneira privilegiada de prestar atenção ao mundo que nos rodeia. Como bom cultor desse entusiasmo, o Sr. Cruz instalou em sua casa um pequeno estúdio de revelação das suas fotografias, devidamente equipado, de modo que um dos temas preferidos das nossas conversas, quando o visitava, por sermos vizinhos e por ser amigo dos seus quatro filhos, era ele a mostrar-me algumas das fotos que ia fazendo, explicando como as obtivera e como as revelara, ciência que, confesso, não cheguei a aprender. Mas a transmissão do companheirismo, da simpatia e da amizade, essa foi uma aprendizagem que ficou.

Joaquim Manuel Mendes Leal

O Quim Manel Leal, como era conhecido, filho de Maria da Luz Mendes e de Miguel Pinto Barbosa Leal, nasceu em 26.10.1941, em Santa Marta, Penafiel, e faleceu em 16.05.2017, em Valongo, com 75 anos.

Veio viver para Valongo aos 5 anos de idade, aqui fez todo o seu percurso académico e por volta dos 14 anos começou a jogar hóquei. Jogou habitualmente como avançado e médio e revelou grandes qualidades e empenho no jogo. Jogou no tempo do Américo e do Manuel Pires e saiu no ano seguinte àquele em que foram campeões. Foi um jogador notável que prestou um forte contributo às equipas da ADV, como bom avançado e bom marcador.

Profissionalmente, estabeleceu-se como industrial de confecção de pronto a vestir.

Joaquim Navio nasceu em Valongo, em 21.10.1937, na Rua do Norte, onde sempre morou e onde faleceu, em 28.06.2018.

Filho de Américo Navio e de Guiomar Martins Moreira, foi casado, durante 53 anos, com Margarida Maria Queirós Magalhães Fez o serviço militar na Guiné, entre 1961 e 1963.

O primeiro jogo que realizou, ainda como suplente, sendo o Francisco Bártolo o titular, foi em 19570619, contra o Centro Universitário, que o Valongo ganhou por 8-2.

O Joaquim Navio jogou, pois, pela ADV, como titular e suplente, pelo menos 109 jogos oficiais, durante 11 anos.

Em 1974-75 foi Presidente e em 1975-76 foi Vice-presidente da Direcção da ADV. E em 1976-77 foi tesoureiro da mesma Direcção. Em 1975, promoveu, com outros dirigentes e o “capitão” Manuel Pires,

uma conferência de imprensa para repor a verdade sobre certas atoardas que corriam contra o clube.

Profissionalmente, foi vendedor de lixas.

Era um companheiro correcto, sempre muito sério, mas com um sorriso aberto e luminoso, quando lhe acontecia. Ainda jogámos juntos algumas vezes e sempre o vi compenetrado e calmo, senhor de si. Deixou saudades.

Joaquim Moreira Duarte Navio

José Alves Costa (19.02.1915-26.04.1991), nascido em Valongo, numa pequena quinta, chamada Quinta do António Miguel, que era seu pai, situada no espaço actualmente ocupado pelo Tribunal e pela rotunda em frente dele, foi um Presidente de Direcção da ADV muito presente e muito actuante, em 1962 e depois de 1970 a 1972.

Em 20.09.1970, há uma entrevista que ele concedeu ao Norte Desportivo (aqui registada, em Resumo dos Jogos, Cap. 5) em que expressa bem, não só o seu grande conhecimento da realidade do clube, como as aspirações que acalentava como sócio e como Presidente da ADV, entre todas a da vinda finalmente do tão esperado Pavilhão, então já a ser construído.

Ele foi, desde o início, um sócio activo e interessado: era o sócio n.º 159 e a sua inscrição é de 05.03.1958.

Foi também membro da Direcção da Associação de Patinagem do Porto.

José Augusto Gonçalves Marques

José Augusto Gonçalves Marques nasceu a 2 de Fevereiro de 1945, na Praça Machado dos Santos, Valongo, a praça onde viria a ser construído o rinque de hóquei em patins. Aqui fez a escola e trabalhou como comerciante, em negócio de família, “Drogaria César”, tendo a sua residência frontal ao rinque. Desde cedo tomou o gosto pelos patins. Era só atravessar a estrada e já estava em campo-rinque, era só calçar os patins e pedir aos mais velhos um stik já gasto para jogarmos hóquei… e assim se formaram grandes jogadores.

Nesses anos de 1957, 1958, 1959, vários amigos reuniam para formar equipas, para jogarem uns contra os outros, dando a isso o nome de Campeonato Amador “Interruas”.

Chagado o ano de 1961-62, a Direção da AD Valongo resolveu reunir um punhado de jovens com 15 e 16 anos de idade, com alguma habilidade de patins e stik, e formar uma equipa que foi inscrita na AP Porto para participar no 1º Campeonato de Juniores da AD Valongo, da qual fiz parte, ficando Vice-Campeão da Região Norte.

Constituição da equipa: de pé, da esq. para a dir.: Jaime Camões, Américo Moreira, Zé Pires e Zé Augusto. Em baixo: Manuel Pires, José Cruz “Faina”, Júlio Moreira e Delfim A. Reis da Silva “Aquela Máquina”

Nos anos seguintes, a AD Valongo não voltou a inscrever Juniores por falta de verbas, só foi possível voltar a inscrever em 1966. Assim, em 1963 passei a Sénior até ao ano de 1969. Neste período de tempo, fiz parte de todas as equipas.

Curriculum desportivo:

- Campeão Regional de Reservas

- 1965 – Fiz parte da 1ª equipa que disputou a final nacional, 1º escalão

- 1967 – Torneio Início Regional Norte – Campeão

- 1967 – Taça Joaquim Ferreira

- Abandonei em 1969, por motivos profissionais

- Regresso à AD Valongo, no ano de 1976, para orientar equipas classificadas como “escolares” até à idade de Juniores. Fiquei até 1981.

José Avelino Abreu Aguiar

José Avelino Abreu Aguiar nasceu na Rua Marques da Rocha, em Valongo, no dia 31 de outubro de 1947, filho de José de Sousa Aguiar e de Teresa da Conceição Abreu Barbosa Leão. Fez a escola primária na Escola do Calvário, em Valong o e o ensino secundário no Liceu Alexandre Herculano, no Porto. Licenciou- se em Engenharia Electrotécnica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Ainda criança, despertou a sua atenção para a modalidade do hóquei em patins, após ter aprendido a andar de patins na garagem do rés-do-chão da moradia do vizinho do outro lado da rua, casa dos irmãos Camilo

Sendo os pais agentes da OLIVA, a mãe bordou na máquina de costura o emblema da Associação Desportiva de Valongo (ADV), entretanto criada, que ostentava na camisola Ta mbém é de recordar que realizou as primeira s caneleiras para o filho, colocando desperdícios atrás de umas canas que aplicava na parte frontal de uma espécie de bolsas tubulares dessas caneleiras,

para proteger as pernas.

Iniciou a prática do desporto do hóquei, em conjunto com outros jovens, no rinque público municipal, no centro da vila de Valongo (hoje cidade), na Praça Machado dos Santos. Curiosos eram os b alneários, numa divisão da casa do senhor Joa quim Cruz, cedida e adaptada para esse fim. Tinha de se atravessar a rua até ao centro da praça, onde ficava o ringue de patinagem

Foi jogador da equipa de juniores do Grupo Desportivo e Coral de Fân zeres durante um ano, juntamente com outros valonguens es, por não haver na ADV esse escalão. No ano seguinte integrou a equipa de juniores da Associação Desportiva de Valongo

Foi jogador dos senior es da ADV durante alguns anos, realizando 12 jogos nos anos 1966 e 1967, contribuindo com um hat-trick num desses jogos.

Integrou a equipa de Reservas em que a ADV conquistou o tricampeonato, no âmbito da Associação de Patinagem do Porto.

Já nos anos 80, fez parte da equipa de Veteranos, onde participou em campeonatos regionais durante 4 anos, sem derrotas.

José de Oliveira Alves

O José Alves nasceu em Valongo, no dia 2 de Março de 1943, filho de Noé Rodrigues Alves e de Cândida Martins de Oliveira, comerciantes de drogaria, com uma loja na Praça Machado dos Santos, praticamente em frente ao local em que existiu o rinque inicial, a famosa “eira”.

Os seus pais tiveram 8 filhos: três raparigas, a Dilma, a Odília e a Cândida Maria, e 5 rapazes, o Noé, o Joaquim, o José, o António e o Rogério, e todos eles, menos o Joaquim, atraídos pelos espectáculo diário do que se passava no rinque em frente do seu nariz, jogaram hóquei na ADV e todos como guarda-redes.

Começou a jogar apenas aos 18 anos, em 1962, porque no seu tempo ainda não havia equipa de juniores em Valongo. Jogou até aos 21, altura em que foi para a tropa, em 1964. Eram os anos da guerra no Ultramar, pelo que foi mobilizado

para Angola e Moçambique. Acabou por prestar serviço durante 4 anos e só então, em 1968, após ser desmobilizado, voltou a alinhar pela equipa da ADV. Jogou mais 3 ou 4 anos, sempre como guarda-redes.

Começou a participar nas competições oficiais em 1963. O seu nome aparece no primeiro jogo de Março de 1963, contra o Carvalhos e faz parte das equipas até Maio de 1964. Depois de um interregno de 4 anos, reaparece numa equipa de Julho de 1968, em jogo contra a Académica de Espinho. E joga o resto desse ano e o ano de 1969, até ao final de Setembro. Continua a aparecer na listagem das equipas pelo menos até 1974.

José Jorge Viterbo Fernandes das Neves

O Hóquei em Patins e o José Viterbo

O José Jorge Viterbo Fernandes das Neves nasceu no Susão, a 17 de Novembro de 1933. Era um Valonguense.

Cedo ficou conhecido como José Viterbo, aos 10

anos, para ser distinguido de outros “Josés” que com ele partilhavam a turma na Escola Comercial Oliveira Martins, no Porto, onde fez o Curso Comercial, e mais tarde o Instituto Comercial, vindo a ser profissionalmente Contabilista (posteriormente Técnico de Contas e Técnico Oficial de Contas).

Eram suas características a capacidade de trabalho, a competência, a determinação, a lealdade, a disponibilidade, e com estas cedo veio a ser admitido no Grupo Pinto Magalhães, de onde nunca saiu, tendo atingido o cargo de confiança de Director Financeiro da sociedade gestora dos investimentos da Família Pinto de Magalhães, a SOGIN.

Por amor à Maria Regina, casou com ela em 23 de Abril de 1959, casamento que foi consagrado com os seus seis filhos. A família era o seu espaço de excelência para a transmissão dos valores que o caracterizavam.

Também por amor às coisas da sua terra, disponibilizou-se, dedicou-se e empenhou-se. Fê-lo como Vereador da Câmara Municipal de Valongo, como membro da mesa da Assembleia Geral da Associação Humanitária dos Bombeiros de Valongo, como mesário e Vice-Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Valongo, como Chefe do

Agrupamento 446 do Corpo Nacional de Escutas e na militância político-partidária.

A sua paixão pelo desporto, levou-o, - ainda jovem, era, então, o Zézinho, - à prática de futebol na União Desportiva Valonguense.

Como desportista seguiu-se-lhe o hóquei em patins, modalidade que dava os seus primeiros passos em Valongo e que, ele próprio, com outros, ajudou a estabelecer com sucesso. Tornou-se, então, treinador de hóquei em patins da Associação Desportiva de Valongo e, mais tarde, selecionador do Norte. A gestão de equipas e as estratégias do jogo fascinavam-no. Foi, por isso, um empenhado treinador, cujos resultados se podiam apreciar na relação entre jogadores e treinador e ao longo dos jogos do campeonato onde pontuava a dinâmica e coesão da equipa, o que tornava alguns momentos desta relação em “momentos únicos” de um jogo de hóquei em patins, patins que nunca calçou!

Foi sob a sua orientação que a equipa de hóquei em patins da ADV se sagrou “Campeão do Norte”, no ano de 1968. Como reconhecimento, todos os jogadores assinaram a faixa de treinador que ele ofereceu à Associação Desportiva de Valongo, o seu Clube, o Clube da sua terra! Isto aconteceu num tempo em que em Valongo não havia profissionais de hóquei em patins. Todos eram amadores. Tudo se fazia por amor!

Já depois de ser treinador, passou a integrar a Associação de Patinagem do Porto, tendo sido eleito Presidente do Conselho Técnico a partir de 1990/1991, cargo que desempenhou até ao seu último dia.

O exemplar legado da VIDA do José Viterbo ficou a germinar na família, na Associação Desportiva de Valongo, na Santa Casa de Misericórdia de

Valongo, na Associação de Patinagem do Porto e no Grupo Pinto de Magalhães.

É no que dá uma vida partilhada! É para o que serve uma vida doada!

Êxitos desportivos do José Viterbo, coligidos por Américo Moreira:

- 1967 - Taça Joaquim Ferreira – Torneio Início –Campeão Regional

- 1968 – Taça Torneio Início A. P. P. Idem

- 1968 – Campeonato Regional A. P. P. Idem

- 1970 – Campeonato Regional A. P. P. Idem

- 1976 – Taça Manuel Maria A. P. P.

2.º Classificado

- Homenagem de mérito e valor esportivo

- Presença e vitórias em Dois Torneios Nacionais

- A. D. Valongo – Seis Sessões de Homenagem (troféus, salvas de prata e 6 medalhas).

- Federação Portuguesa e Patinagem – Uma Sessão de Homenagem.

- Associação de Patinagem do Porto – Assembleia-Geral – Várias Homenagens.

- 1966 – Medalha do Torneio Vaz Guedes

- 1972 – Medalha do Torneio Abílio Moreira

- 1973 – Medalha do Torneio Edgar Soares

- ?? – Medalha do Torneio Vladimiro Brandão

Em Anexos está colocado um excerto de uma acta da Assembleia-Geral do clube, de 23.03.1969, com uma intervenção do José Viterbo, que mostra bem algumas qualidades do seu carácter: a serenidade, o empenhamento, a lisura, a generosidade.

Nascido em Julho de 1941 e criado em Valongo, onde vivi até aos 50 anos de idade.

Em Valongo fiz a antiga 4.ª classe.

A minha profissão foi de técnico industrial de metalomecânica, após ter estudado na cidade do Porto a partir dos 10 anos.

Desportivamente, aprendi a andar de patins na garagem da residência, na companhia de outros amigos de infância. Mais tarde, com a construção do rinque na Praça Machado dos Santos, o nosso paradeiro era o recinto e onde muitas crianças aprenderam o “abc” do hóquei em patins.

Por volta do ano de 1957, já a A.D.V. participava em provas oficiais na categoria de Seniores, tentou-se formar uma equipa de Juniores no clube. Por diferentes razões, não foi possível concretizar o nosso anseio e surgiu-me o convite para trinar no F. C. do Porto, através de um colega de escola.

E assim integrei a formação da primeira equipa

de Juniores esse clube, jogando lá dois anos nessa categoria e, findo esse período, regressei à minha terra, para fazer parte da equipa de seniores da A. D. V., juntando-me a alguns atletas que haviam estado na formação do clube.

Por volta dos 30 anos, abandonei a modalidade que sempre servi em puro amadorismo, dedicando-me mais a ministrar o ensino da modalidade às classes mais jovens.

Em Valongo, posso dizer que, como treinador, passei por todas as classes etárias do clube.

Colaborei também com outras colectividade, como: Estrela Vigorosa Sport, Juventude de Viana, Desportivo de Fânzeres, Paredes, Olá Mouriz e Sobreira.

Apraz-me registar a minha breve passagem pelo Rossiense, que foram muito simpáticos em permitir que eu lá treinasse, aquando da minha estadia militar em Santa Margarida.

As minhas vitórias desportivas foram as do clube que procurei servir o melhor possível. Nunca tive grandes ambições no desporto competitivo.

Pela negativa, tive dois acidentes que me levaram do rinque para o hospital.

Fui agraciado pelo clube (A. D. V.) na passagem dos 25 anos de existência, e também pela Junta de Freguesia e Câmara Municipal de Valongo.

O meu maior prazer foi ensinar inúmeras crianças na prática da modalidade e ter contribuído com algo que pudesse melhorar a formação dos “homens de amanhã”.

Não é em vão que dedicámos cerca de 30 anos da nossa vida ao serviço das Escolas de Patinagem.

José Moreira Camilo

FEV. 2023

José Joaquim Alves Nora

Nasceu em Valongo a 08-06-1941, filho de Teresas Alves Santos e de Adão Ferreira Nora. Viveu sempre em Valongo.

Profissão: Função Pública.

Começou a patinar com 10 anos em pavilhões sem condições, pois só em 1955 é que foi feito o rinque no centro da vila.

Em 1957, foi para o F. C: do Porto, porque no Valongo não havia ainda equipas inscritas na Associação de Patinagem do Porto, pois só em 1960 é que o Valongo se filiou na dita associação.

Trajecto na modalidade:

F. C. Porto

57-58 – 59-60 Júnior

60-61 Campeão da IIª Divisão - Sénior

Campeão Distrital e vencedor de vários Torneios:Tomar; Sesimbra; Madeira; Suíça; Alemanha.

Épocas no Valongo:

1961-1967 1º classificado no Torneio Início

1967 1º classificado no Torneio Olímpico

1968 2º classificado no Campeonato Nacional

1968 1º classificado no Campeonato Distrital

1970 1º classificado no Campeonato Regional

1970-1975 Campeonatos Nacionais e Distritais - Presenças

Época 67 Como Atleta:

Campeonato da Europa, em Bilbau, Espanha: Portugal, Campeão da Europa.

Foi internacional 15 vezes.

Como Treinador

75-76 – 76-77 Clube Desportivo de Fânzeres

77-76 – 78-79 Vigorosa F. C.

79-80 – 80-81 Marco F. C.

Como Selecionador – Treinador

Durante 8 épocas responsável pelas equipas da Associação de Patinagem do Porto

Anos 1955 a 1974

15 anos a jogar hóquei e futebol, no União Desportiva Valonguense

Como Treinador

Épocas 1993 a 2001

Treinador das equipas Infantis e Juvenis do F. C. do Porto.

Campeão nas duas equipas, todos os anos.

Anos 2002 a 2005

Treinador na Associação Desportiva de Valongo

- Equipas Escolas Infantis, Juvenis, Iniciados

- Juvenis, como Coordenador

Épocas 85-88

Jogador no Campeonato de Veteranos. Vencedor 3 anos seguidos.

Homenagens

A. D. Valongo Medalha. Salva de Prata.

Câmara M. Valongo » »

Junta F. Valongo » »

Assoc. P. Porto » (Jogador)

Assoc. P. Porto » (Treinador)

Federação Portuguesa de Patinagem

Salva de Prata mais Medalha de Mérito Desportivo

Faixa de Campeão Europeu Momentos

1960 Jogo em Valongo (na “eira”) Jogo Valongo-Porto

Vitória do Porto com um golo de penalti marcado por mim.

1967 Selecção Nacional, Bilbau, Espanha.

1º golo marcado à Inglaterra, também de penalti.

1967 Ser Campeão Europeu

Uma vida – Anos 1958 – 2005

José Nora

Lino Serafim Leal Pinto Gomes

Nascido em Valongo a 1 de Dezembro de 1953. Profissão: Motorista

Com 12 anos de idade comecei a praticar a modalidade de Hóquei em Patins na Associação Desportiva de Valongo, no antigo Ringue, no centro da Vila

Na Época 1969 / 1970 - Campeão Regional de Juvenis - Associação de Patinagem do Porto;

Na Época 1969 / 1970 – Vice- Campeão Nacional de Juvenis;

Na Época 1970 / 1971 - Campeão Regional de Juniores - Associação de Patinagem do Por to;

Em 1972 representei a Seleção de Juniores da Associação de Patinagem do Porto no torneio Inter-Seleções na Cidade de Tomar;

Em 1972 representei a Seleção de Juniores da Associação de Patinagem do Porto nos Jogos Luso-Brasileiros na Cidade de Barcelos;

Em 1976 representei a Seleção de Seniores da Associação de Patinagem do Porto nos Jogos intercidades Lisboa e Porto;

Em 1976 - Campeão Regional Seniores da Zona Norte;

Em 1978 a Associação Desportiva de Valongo participou pela 1ª vez na Taça dos Clubes Campeões Europeus, tendo eliminado o Iserlohn da Alemanha e depois foi eliminada pelo Barcelona de Espanha;

Em 1980 a Associação Desportiva de Valongo participou na Taça CERS, tendo eliminado o Nantes de França e depois foi eliminada pelo Monza de Itália;

Em 1981 representei a Seleção Nacional no “ VI Troféu Vitoriano Oliveira de La Riva” na Corunha, em 8 e 9 de Maio de 1981;

Na Época 1987 / 1988 - Campeão Regional de Seniores - II Divisão Zona Norte;

Na Época 1987 / 1988 - Campeão Nacional de Seniores da II Divisão (sem derrotas).

Luís Miranda

Luís Marçal Varela Sant’Ana de Miranda nasceu no dia 1 de Agosto de 1942 e faleceu a 7 de Fevereiro de 2021.

Era filho de D.ª Margarida Sousa Raposo Coutinho

Varela Sant’Ana de Miranda e do Sr. José Egas de Azevedo e Silva Sant’Ana de Miranda, e irmão de José Manuel Varela Sant’Ana de Miranda, mais

velho quatro anos.

O Luís Marçal viveu em Valongo nos anos do início da ADV e foi seu pai, então administrador da “Separadora”, que propiciou a utilização de um dos seus armazéns para a prática do hóquei em patins, como neste livro se conta.

Por artes do destino, o Luís Marçal veio a casar com a Eduarda Santos, irmã do Joaquim Santos, de quem se fala neste livro como uma das primeiras patinadoras da terra. Tiveram duas filhas, a Ana e a Inês.

Na sua estadia em Valongo, o Luís acabou por se envolver com amigos ligados ao hóquei em patins, fez-se sócio, colaborou em vários momentos com os órgãos dirigentes e acabou por ser eleito Presidente da Direcção em Março de 1969, numa eleição algo acidentada por causa de umas contas menos claras sobre patins que ele teve relutância em aceitar.

Manuel João Marques Santos Pires

Nasceu na Avenida 1º de Maio, na cidade de Valongo, em 2 de Março de 1945, onde trabalhou e fez escola.

Profissão: industrial de lavandarias.

Aquando da construção do rinque de patinagem, em 1955, na Praça Machado dos Santos, com a idade juvenil nasceu o gosto pela modalidade do hóquei em patins, motivado pelos treinos desta modalidade efetuados pelos atletas que deram origem à formação da A. D. Valongo. A partir desta data, em conjunto com outros colegas, formou o Clube dos Patinadores da Rua 1º de Maio.

Em 1960, fez parte da primeira equipa de juniores do clube ADV, com participação em torneios não oficiais, chamados campeonatos inter-ruas e outros regionais.

Dois anos mais tarde, em 1962, ao serviço da ADV, faz parte do primeiro Campeonato Oficial de Juniores, organizado pela Associação de Patinagem do Porto, com a classificação final de vice-campeão.

Em 1963 e 1964, foi convidado pelo F. C. do Porto para fazer parte da equipa de juniores desse clube, ao qual aderiu, motivado pela não filiação da ADV na A. P. Porto, por falta de verbas para tal.

Classificações ao serviço do FCP:

- Em 1963, campeão regional.

- Em 1964, vice-campeão nacional e melhor marcador do campeonato nacional.

Regressou a Valongo, em 1965, para fazer parte integrante da equipa sénior.

Conquistas:

- 1967 – Torneio Início – 1º classificado

- 1968 – Campeonato Nacional – Vice-campeão

- 1968 – Campeonato Distrital – Campeão

- 1970 – Campeonato Distrital – Campeão

- 1973 – Torneio Início Intercidades – Vice-Campeão

- 1973 – Torneio Edgar Soares – 1º classificado

- 1977 – Presença na Taça dos Campeões Europeus, onde atingiu a meia final (Valongo-Barcelona)

- 1978 – Presença e vitória em dois torneios nacionais e um internacional

Ao serviço do Hóquei Juventude de Viana, 5 épocas, de 1979 a 1984.

- Vencedor de várias Taças Regionais

- Vencedor de vários torneios em Espanha (Liceu da Corunha)

- Participação no Campeonato Regional, com a melhor classificação do clube:

3º classificado, 6º classificado, 5º classificado.

- 1985 – 1988 – Regresso a Valongo

Ainda ao serviço da ADV, Campeonato Velhas Glórias

Campeão 4 anos consecutivos (nível regional).

Homenagem de Mérito e Valor Desportivo:

- A. D. Valongo – Seis sessões de homenagem. Troféus: salva de prata e 6 medalhas.

- Câmara M. Valongo – Duas sessões de homenagem. Troféu: Medalha bordada a ouro.

- Junta de Freguesia de Valongo – Uma sessão de homenagem. Troféu: Peça de faiança com símbolo da freguesia.

- Associação de Patinagem do Porto e Assembleia-Geral – 10 sessões de homenagem.

- Troféus: 2 medalhas de campeão regional;

- 3 medalhas de Torneio Início;

- uma medalha da Taça Manuel Maria;

- uma medalha Edgar Soares;

- uma medalha Vaz Guedes;

- Torneios Internacionais, várias.

-. Federação Portuguesa de Patinagem – 2 sessões de homenagem. Troféu: medalha

- 1º Torneio Inter - Associações, 1971 e Torneio de Tomar, 1972.

- Confederação dos Desportos do Brasil – Oferta de medalha de participação, 150 anos de independência do Brasil, 1882-1972.

Renato Chaves

Renato Alberto Miranda de Sousa Chaves nasceu em 10.09.1931, em Vila Pouca de Aguiar, e faleceu em 27.07.2019, em Valongo.

Em Valongo casou e foi industrial de ardósia, sendo proprietário de uma pedreira situada no concelho. Era um apaixonado pela fotografia, tinha duas Leicas e uma Hasselblad. Mostrou-me algumas belas fotografias feitas pelas suas belas máquinas, com ele no comando, claro.

Em 1968, foi eleito Presidente da Direcção da ADV.

Rogério Alves

Nasceu no dia 20 de Janeiro de 1946, no centro da Vila de Valongo, hoje cidade, na Praça Machado dos Santos, na sua casa familiar e de negócio, com o nome de Drogaria ou Casa Noé. Casa situada na Praça onde posteriormente viria a ser construído o rinque de patinagem. Faleceu a 6 de Março de 2013.

Desportivamente, por volta do ano 1958/59, motivado por colegas de escola e pelo acesso fácil ao rinque, começa a aprender a andar de patins.

Posteriormente, entusiasmado por três irmãos que já praticavam o hóquei ao serviço da ADV como guarda-redes, resolveu ele também ser mais um guarda-redes. Passou então a Família Noé a ser constituída por quatro guarda-redes, inscritos como atletas na ADV e jogando nos jogos oficiais!! Que se saiba, é caso único no país!!!

Há ainda a realçar outro feito histórico, ocorrido no ano de 1963, num jogo em que participou como

guarda-redes titular contra o Clube da Maia, para a Taça Regional, que teve como resultado final o score invulgar de 46-1!. O golo sofrido foi marcado, como auto-golo, pelo saudoso Grande Guarda-Redes ROGÉRIO!

(Escrita por Américo Moreira)

Vítor Francisco Sousa Dias

Vítor Francisco Sousa Dias nasceu a 8 de Maio de 1949, na Travessa Jorge Malta, na cidade de Valongo, onde fez escola e trabalhou, tendo como profissão comerciante, na área de livraria e papelaria, “Papelaria Livraria Ducal”.

Desportivamente, desde muito cedo tomou o gosto pela patinagem, dada a proximidade da sua residência ao rinque, que dista cerca de 50m (Praça Machado dos Santos), e onde se patinava brincando, o que era extensível a toda a gente.

O Vítor desde logo se apaixonou pelas balizas do hóquei, gostava de ouvir os relatos da rádio dos mundiais de hóquei em patins, bem como imitar os lendários guarda-redes que defendiam as balizas nacionais, das décadas de 50 e 60, tais como Emídio, Matos, Vítor Domingos e outros.

Lá para o ano de 1963, com 13 anos de idade, já participava em jogos de hóquei “interruas”, a sua equipa era a da Praça Machado dos Santos, que defendia com unhas e dentes. Já diziam os entendidos do clube ADV: “Este rapaz parece ser uma boa promessa”. O que mais tarde se tornou realidade, quando lhe coube a titularidade do lugar, em substituição de grandes guarda-redes que também deram o seu melhor à ADV. Caso de Joaquim Navio, Mário A. Correia (“Mário da Domingas”), Francisco Pires.

Em 1965, participou no seu primeiro e único campeonato como Júnior, sendo 1º classificado na Região Norte, ao serviço da ADV.

No ano seguinte, 1966 / 67, subiu à categoria de Sénior, para se integrar na equipa, lutando pela titularidade. Jogou neste escalão cerca de 5 a 6 anos, até 1972, ao serviço da ADV.

No ano seguinte, 1973, foi convidado pelo F. C. do Porto, tendo ingressado neste clube motivado pela oferta de boas condições profissionais. Aqui permaneceu como guarda-redes titular até ao ano de 1977. Após este período, regressou às suas origens, Valongo, até ao fim da sua carreira, com a idade de 36 anos.

Todas as suas vitorias desportivas foram as do clube que serviu o melhor possível.

O seu curriculum desportivo conta:

Ao serviço do F. C. do Porto (5 anos):

- 1 Torneio Ibérico – 1º classificado

- 1 Torneio das Astúrias – 2º classificado

- 1 Torneio Início – 1º classificado

Ao serviço da A. D. Valongo:

- 1965 – Campeonato Distrital de Juniores –Campeão

- 1968 – Campeonato Distrital de Seniores –Campeão

- 1969 – Torneio Início Regional de Seniores –Campeão

- 1970 – Campeonato Regional de Seniores –Campeão

- 1977 – Taça Clubes Campeões Europeus – atingiu a 1/2 final, Barcelona

- 1978 – Presença com vitórias em 2 torneios: Aveiro e Cascais – 2º classificado

- 1985 a 1988 – Velhas Glórias, nível distrital –Campeão 4 anos consecutivos

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.