Revista Milímetros nº9

Page 1



editorial

A

14ª Mostra Produção Independente - Resistências busca dar destaque ao cinema enquanto instrumento de resistência político-cultural e incentivar que, cada vez mais, a produção audiovisual seja inclusiva. Em um momento marcado pela restrição de direitos, o cinema e a arte em geral cumprem o importante papel de dar voz e visibilidade para questões e lutas que costumam ser silenciadas pelo conservadorismo. Entre os mecanismos de luta de mulheres, negros, pobres, povos indígenas e comunidades tradicionais, pessoas LGBTQI+, entre outros grupos, a expressão artístico-cultural é um dos mais eficientes e afetivos, pois sensibiliza e angaria a empatia de públicos que, no seu cotidiano, estão desatentos às reivindicações desses segmentos. Se considerarmos a democratização do acesso aos meios de produção e de difusão possibilitada pela tecnologia digital das últimas décadas, essa potencialidade de intervenção e de transformação social via audiovisual é ainda mais ampla. Entendemos que o respeito às diferenças passa, cada vez mais, pela possibilidade de veiculação de uma produção cultural que contemple a diversidade. Diante disso, é cada vez mais oportuno defendermos a efetivação dos nossos direitos culturais, ficarmos de pé e não recuarmos diante de retrocessos políticos e sociais. Felizmente, apesar do obscurantismo que nos ameaça, o cinema do Espírito Santo comemorou uma ótima notícia neste ano: juntos os Governos Federal e Estadual estão investindo aproximadamente R$12 milhões em editais públicos para o audiovisual. Esse valor recorde é, sem dúvida, uma conquista histórica para o setor e que merece ser celebrada. À frente dessa empreitada estiveram sempre presentes a ABD Capixaba, outras entidades e diversos militantes que protagonizaram por décadas a construção de políticas públicas de cultura, defendendo as reais demandas da sociedade e promovendo o desenvolvimento de uma cadeia produtiva do audiovisual sustentável. Cinema é resistência! A ABD Capixaba resiste! Leandra Moreira Presidente da ABD Capixaba Gestão Biênio 2017/2019


14ª Mostra Produção Independente Resistências Coordenação Geral e Produção Executiva Leandra Moreira Coordenação de projeção da Mostra Competitiva e de produção do DVD Coletânea Thiago Moulin Produção de projeção Diego Navarro Assessoria de Comunicação e Redes Sociais Leonardo Vais e Paulo Gois Bastos Fotografia Luara Monteiro Concepção Visual Gabriel Perrone Produção de eventos Bernardo Andrade

Comissão do Júri da Mostra Competitiva André Felix Iza Rosenberg Tânia Caju Apoio All Dubbing Group Comunicação Impressa Cine Jardins Instituto de Artes e Técnicas em Comunicação (Iatec) Link Digital Sebrae ES Secretaria de Cultura da Ufes Secretaria Municipal de Cultura de Vitória TV Gazeta Colaboração Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo Realização Associação Brasileira de Curtas-Metragistas e Documentaristas do Espírito Santo (ABD Capixaba) / Gestão 2017-2019 www.abdcapixaba.com.br Facebook e Instagram: @abdcapixaba

Vinhetas Thiago Rocha Vídeo Homenagem Seu Manoelzinho Lucas Bonini Vídeo Homenagem Bernadette Lyra Heitor Rigette e Lívia Corbellari Comissão de Seleção da Mostra Competitiva Alessandra Toledo Jussan Silva Niciane Estevão Castro

REVISTA-CATÁLOGO MILÍMETROS Edição nº 9 / Ano 2019 Edição Paulo Gois Bastos (MTB/ES 2530) Fotos Agência Popular Raio de Luz e Luara Monteiro Reportagem e Redação Adriano Monteiro, Daniel Marçal, Leonardo Vais, Lívia Corbellari, Luã Quintão, Marcos Sacramento, Maurílio Mendonça, Paulo Gois Bastos e Vitor Taveira Revisão de Textos Luiz Cláudio Kleaim Projeto Gráfico e Diagramação Comunicação Impressa Tiragem: 350 exemplares DISTRIBUIÇÃO GRATUITA


17

6

acessibilidade e audiovisual

22

O CINEMA DAS MULHERES Os perfis das diretoras Daiana Rocha, Eliza Capai, Margarete Taqueti, Saskia Sá e Rosaria

28

O cinema capixaba fora do armário

12 O legado de Seu Manoelzinho

HOMENAGEM A BERNADETTE LYRA

33

ARTIGO O Cinema Negro do Espírito Santo

46

balanço da gestão 2017-2019

48

POLÍTICA CULTURAL Volume recorde de recursos públicos x atrasos e descontinuidades


homenagem/perfil

Uma

vida entre

filmes e

livros

Com uma história que representa a grande força das mulheres, Bernadette Lyra é a homenageada da 14ª Mostra Produção Independente - Resistências

Foto: Luara Monteiro

[ Lívia Corbellari ]

6


E

m um pequeno barracão, em Conceição da Barra, um simples cinema mudou a vida de uma menininha. O “Cinema do Seu Cunha”, o avó dessa menina, talvez não soubesse na época, mas os filmes que passavam ali transformaram a vida da ainda criança Bernadette Lyra. “Era muito misterioso para mim ver aquelas imagens em preto e branco movendo-se magicamente. Eu me lembro muito bem do cinema, tinha bancos de madeira como os bancos de praça, a tela era um lençol esticado e, quando o rio enchia, as pessoas tinham que passar pela lama para chegarem ao cineminha. E eu me via mergulhada nesse ambiente mágico de sonhos”, lembra Bernadette Lyra. Em um momento em que a nossa educação pública se vê ameaçada, homenagear uma pesquisadora em cinema é uma potência para a luta da ABD Capixaba em defesa da educação. Além disso, em momentos difíceis, o cinema e a arte revelam ainda mais a sua força política. “Um filme não precisa ser engajado, não precisa ensinar, não acredito que a arte veio para ensinar, a arte é magia. O cinema tem esse papel de abrir as mentes para a diversidade. O cinema tem essa força sobretudo porque ele cria uma realidade mágica e ele forma as mentes e os corações muito mais do que a doutrinação”, explica Bernadette.

Na academia e nas salas de cinema Nascida em Conceição da Barra, em 1938, Bernadette Lyra é formada em Letras Português/Francês pela Ufes (1972), especializou-se em Cinema e fez pós-doutorado na Sorbonne, em Paris, em 1989. Conhecida por criar o termo e dar luz ao Cinema de Bordas, Lyra também foi a nossa primeira Secretária de Cultura do Espírito Santo, cargo que ela ocupou entre os anos de 1996 e 1997, e em 2018 foi considerada Pesquisadora do Ano pela Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine), da qual é membro-fundadora. No meio literário, Bernadette tem reconhecimento nacional e internacional e já foi indicada ao Prêmio Jabuti, o mais importante prêmio literário do Brasil com a sua obra Memórias das ruínas de Creta (1997). Com onze obras literárias publicadas, muitos conhecem apenas o seu lado de escritora, mas poucos sabem que a sua primeira paixão foi o cinema. Quando,

com apenas cinco anos de idade, frequentava o pequeno cinema de seu avô, Manoel da Cunha, às margens do Rio Cricaré, em Conceição da Barra, ainda muito criança, Bernadette não se lembra dos filmes a que assistiu, mas recorda da maquinaria por trás e de esperar os filmes chegarem de navio. “Era um aparelho que até hoje nunca mais vi. Como não havia eletricidade, era movido a querosene. A lente era pesada e feita de metal, uma lente dupla por onde o facho de luz passava. Eu ainda a guardo comigo. E, então, tudo isso constituía um mundo mágico que faz parte da minha raiz, do meu primeiro encantamento pelo cinema, muito mais do que as histórias exibidas, mas sim a ambiência: aquilo que o sentido não dá conta, mas é algo que está no ar, uma atmosfera”. Após esse primeiro encantamento, veio a fase da cinefilia quando na adolescência frequentava as matinês do Cinema do Teatro Glória e do Cine Santa Cecília. Aos 12 anos, Bernadette vem estudar em Vitória no Colégio do Carmo. Na época, como aluna interna, as freiras permitiam as alunas meninas que saíssem apenas um domingo por mês. E, claro, esse dia de “folga” era dedicado ao cinema. Anos depois, Bernadette começou a estudar como aluna externa e a rotina do cinema ficou mais intensa. “Ao lado da Tia Glorinha, que também era louca por cinema, talvez pela lembrança do cineminha do pai, nós íamos a todas as matinês do Glória e víamos aqueles filmes americanos que dominavam na época: muitos faroestes e musicais. A minha formação no cinema vem de longe e tudo isso contribuiu para que eu me interessasse e começasse a estudar”. Entretanto, ao finalizar os estudos, Bernadette Lyra retornou a Conceição da Barra, onde veio a casar-se, e o amor pelo cinema precisou ficar em segundo plano por alguns anos. Pouco depois da graduação em Letras, Bernadette começa a ministrar aulas na mesma universidade que a formou, lecionando por vários períodos, de 1976 a 1991. Porém, foi só com o fim do casamento, e ainda como Professora de Letras, na Ufes, no final da década de 1970, que ela voltou a frequentar os cineclubes e a vontade de escrever sobre os filmes só crescia. Morando em Vitória novamente, Bernadette começou a participar ativamente da vida cultural

7


Foto: Acervo pessoal de Bernadette Lyra

Tudo isso constituía um mundo mágico que faz parte da minha raiz, do meu primeiro encantamento pelo cinema, muito mais do que as histórias exibidas, mas sim a ambiência: aquilo que o sentido não dá conta, mas é algo que está no ar, uma atmosfera.

Bernadette Lyra aos 17 anos

8

da cidade, momento em que fez muitos amigos. Eram os anos 1970 e havia uma efervescência cultural muito grande. No final da década, Bernadette conheceu o seu verdadeiro amor. Coincidentemente, ambos tinham em comum o interesse por cinema e, junto com esse amor, veio também o primeiro livro de contos As Contas no Canto (1981). Seguidamente, vieram: O Jardim das Delícias (1983), Corações de Cristal ou A Vida secreta das Enceradeiras (1984) e Aqui começa a dança (1985), que na época foi até censurado por tratar-se de uma obra “pornografica”. Entretanto, o livro não possui nada de escandaloso, apenas reflete o moralismo exacerbado da época. Sua relação acadêmica com cinema começou a partir do seu mestrado em Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981). “A Estação Botafogo ainda estava em formação e eu logo me associei e passei a participar das reuniões e junto com elas: muitos debates e ideias. Eu me embrenhei de vez na área. Lembro muito bem que havia o time do Godard e o time do Greenaway e eu, claro, era do time do Godard”, conta. Quando foi fazer seu doutorado, Bernadette prontamente se decidiu pela área de Artes/Cinema, na Universidade de São Paulo (USP). O curso, entretanto, ainda estava em fase experimental na época, mas ela foi e o completou mesmo assim. Seu trabalho foi sobre o cinema marginal brasileiro de Júlio Bressane. Após o doutorado, finalizado em 1988, ela começou a dar

aulas como professora convidada Departamento de Cinema da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). “Essa época foi muito intensa porque eu precisava manter meu vínculo na Ufes e, ao mesmo tempo, continuar dando aulas na USP. Tive que dividir-me entre as duas universidades, mas foi muito bom também porque, mesmo como colaboradora do programa da USP, eu montei cursos que estão até hoje. A USP era muito tradicional e eu baguncei um pouco: trouxe o cinema do Greenaway e do Godard, além do maneirismo do Wim Wenders”, conta. Dentro do mundo acadêmico, Bernadette criou, estruturou o projeto acadêmico, montou o corpo docente e foi a primeira Coordenadora do PPGCom em Comunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi; foi Professora no PPGCom da UAM; do PPGCom da Universidade Tuiuti do Paraná/UTP e do PPGCom da Universidade Paulista/Unip. Também lecionou como professora visitante na Universidade do Algarve, em Portugal. Atualmente, Lyra é professora emérita da Ufes e também a mais nova integrante do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades (PósCom-Ufes). Pela sua contribuição à Universidade, o prédio do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários leva seu nome. Gauche na vida Com um doutorado so-


Foto: Acervo pessoal de Bernadette Lyra

bre cinema marginal pela USP, Bernadette decidiu que seu caminho na pesquisa seria estudar as “vias tortas”, como ela mesma gosta de falar. Depois de levar o cinema brasileiro marginal para a França, durante o seu pós-doutorado na Sorbonne, ela se voltou para o Cinema de Bordas. Em 1996, já como Secretária de Cultura do Estado, Bernadette conhece os filmes do Seu Manoelzinho. “Alguém me contou que havia um moço do interior do Espírito Santo fazendo uns filmes engraçados e eu me interessei. Quando assisti a um dos filmes do Seu Manoelzinho, na hora eu imaginei que haveria pessoas como ele fazendo filmes dessa maneira em outros lugares do Brasil. Entrei em contato com uma amiga da Paraíba, também da Socine. Ela me passou o contato de outros realizadores desse tipo de cinema, mandou-me algumas fitas em VHS e eu fiz a primeira mesa sobre Cinema de Bordas: ‘Juntando os cacos e reciclando o lixo nas bordas do cinema brasileiro, que foi criticadíssima na época, um escândalo, muitos falavam que aquilo não era cinema’”. A autora criou o termo, baseado no trabalho da professora da USP, Jerusa Pires Ferreira, sobre cultura das bordas na América Latina, para nomear as produções realizadas à borda de grandes produções comerciais, como Hollywood, por exemplo. Os filmes do Cinema de Bordas são as produções que estão fora dos padrões do sistema industrial e fora, também, dos circuitos de exibição. São feitos

Bernadette Lyra – Rio de Janeiro, 1980

com baixíssimo orçamento; há histórias originais, mas alguns recriam filmes famosos à sua própria maneira com pitadas regionais, como, por exemplo, o Rambú da Amazônia, no qual o guru do Rambo ao invés de ser um general é um pajé, ou em Lady Macbeth, produzido por alunos de uma escola, no qual a coroa da Lady é um pequi, uma fruta da região central do Brasil. Por meio desse trabalho, Bernadette foi curadora de Mostras de Cinema, tendo organizado e feito a curadoria de seis Mostras de Cinema de Bordas junto ao Instituto Itaú Cultural, em São Paulo. Além de já ter sido jurada de Mostras e de Festivais de Cinema em todo o país, tais como o Festival de Cinema de Tiradentes e o Festival de Cinema de Vitória. “Eu tenho vontade de dar destaque a essa produção e garantir um espaço legítimo dentro do cinema porque eu acredito que o Cinema de Bordas é uma força. Era muito maravilhoso ver os realizadores dos filmes nessas mos-

tras vendo pela primeira vez os seus filmes na tela grande e o cinema lotado. Então, eles formaram em torno de mim uma rede de afeto. Por isso, o Cinema de Bordas deve resistir assim como o cinema Marginal, porque essas pessoas existem e estão produzindo até hoje. Acho que essa minha vontade de estudar as ‘coisas tortas’ vem um pouco disso. Acho que estou com Drummond, pois, quando eu nasci, um anjo torto deve ter dito: ‘Vai, Bernadette, ser gauche na vida!’”. Uma escrita cinematográfica O jeito de menina sonhadora que inventava histórias e via filmes no cineminha do avô permanecem em Bernadette Lyra. Sua obra é permeada por memórias dessa época e muito de Conceição de Barra e do Espírito Santo são assuntos de seus trabalhos e livros. Na literatura, escreveu dois romances que retratam de forma ficcional a vida de duas mulheres importantes para o estado, mas que tiveram seus feitos apagados ou distorcidos: A

9


Panelinha de Breu (1992), recriação parodística sobre a vida de Maria Ortiz, uma mulher que defendeu a capitania do Espírito Santo da invasão espanhola de uma forma bem inusitada; e A Capitoa (2014), sobre Luisa Grimaldi, a primeira mulher a ocupar um cargo de governadora de uma capitania hereditária. O livro de crônicas Água Salobra (2017) é um compilado de memórias da sua infância e juventude em Conceição da Barra. Em seus projetos acadêmicos, a presença capixaba é também marcante, como, por exemplo, no trabalho “O Jogo Cultural do Ticumbi” e nos estudos sobre o Cinema de Bordas, com a presença de Seu Manoelzinho, capixaba do noroeste do estado, que produz esse tipo de filme. Além de escritora, ocupante da cadeira 01 da Academia Espírito-Santense de Letras, com 11 obras publicadas, entre elas, Tormentos Ocasionais (1998), O Parque das Felicidades (2009) e o mais recente romance Ulpiana (2019), Bernadette possui prêmios literários obtidos por todo o país e tem trabalhos em antologias, revistas e jornais do Brasil e do exterior. Como pesquisadora de cinema publicou O jogo dos filmes (2018), Fotogramas do Brasil; As chanchadas” (2014) e assina, junto ao seu companheiro Gelson Santana, o livro Cinema de Bordas (2006). Com uma gama de trabalhos que passeiam entre a literatura e o cinema, era de esperar-se que houvesse um intercâmbio entre os dois campos. “Amilton de Almeida já dizia que tenho uma escrita cinematográfica. Ele falava: ‘Eu vejo uma cena cinematográfica quando leio seus contos’. Ele falava dO Jardim das Delícias e do As contas no canto, mas eu acho que o que via na verdade era o ritmo. A criação com imagens é uma coisa e a criação com palavras é outra, mas há uma interseção: as duas precisam de técnica e de ritmo para se sustentarem”. Bernadette conta que nunca filmou, mas já teve vontade. Uma vez escreveu um roteiro e percebeu que na superfície as duas formas trabalham com a criatividade, tanto a arte de jogar com as palavras quanto a de jogar-se com as imagens. “Para mim, cinema e literatura representam a mesma coisa, eles não representam

10

a realidade, eles são outra realidade. O cinema engana direto o olho, porque ele só funciona quando o olho se engana. A magia do cinema é a técnica, é encontrar a medida exata que engana perfeitamente o olho humano. Já a literatura, não. A literatura é conseguir que da esquerda para a direita o seu cérebro apreenda e imagine aquelas imagens. Na verdade, é o ritmo que para mim fornece todo esse link entre filme e livro”. Sobre seus livros virarem filmes, Bernadette confessa que gostaria muito que isso acontecesse. Algumas pessoas já pediram os direitos de alguns contos, que ela os cedeu com o maior prazer, mas as obras ainda não foram filmadas. Os contos solicitados foram o “Dourado e o Negro”, que está no livro O Jardim das delícias, e o conto “Três prendas”. Além disso, alguns alunos do curso de Cinema da Ufes filmaram um curta do conto “Nossos comerciais, por favor”, do livro Corações de Cristal. “Eu gostaria muito que alguém filmasse A Capitoa, porque é um hino de amor ao Espírito Santo, apesar de ser uma brincadeira. É uma mulher falando do Espírito Santo e é tão raro você ter uma mulher dizendo a sua visão de mundo”, comenta. Bernadette também se mostra antenada com a nossa produção atual tanto cinematográfica quanto literária. No cinema, ela destaca os nomes de Alexandre Serafini, Saskia Sá e Luiza Lubiana. Na literatura, ela comenta sobre o escritor João Chagas, que recentemente lançou seu terceiro livro Quiche (2018). “Esse livro me encantou muito. Ele é muito bom, ele tem garra de escritor, só precisa de uma circulação maior e acreditar no dom. A inspiração é apenas a partícula preciosa. Para ser um bom escritor é preciso unir três coisas: dom, técnica e inspiração”.


11

Foto: Luara Monteiro


homenagem/perfil

Sonhos e lições de

Seu

Manoelzinho Cineasta de Mantenópolis que ganhou o Brasil e virou expoente do chamado Cinema de Bordas recebe homenagem póstuma

Foto: Luara Monteiro

[ Vitor Taveira ]

12


À

sombra de uma árvore, com um graveto na mão, Manoel Loreno desenha o roteiro de um filme. Franzino, de jeito simples e sorriso fácil sob o bigode, ele conseguiu feitos improváveis: analfabeto, ajudante de pedreiro e morador de Mantenópolis, no interior do Espírito Santo, produziu mais de 40 filmes e ficou conhecido nacionalmente por sua arte. Personagem emblemático do cinema capixaba, Seu Manoelzinho, como era conhecido, faleceu de forma súbita aos 56 anos em novembro do ano passado. Deixou saudades a seus queridos e um legado não só de obras, mas, sobretudo, de paixão e vontade de fazer cinema. Seu fazer surgiu justamente da paixão que o acompanhava desde os tempos de menino, como ele contou em entrevista ao jornalista Claudiney Ferreira: “De tanto frequentar cinema - na minha cidade tinha um cinema em 1966 -, desde aquela época ficava ajudando a mexer com filme; eu trabalhava no cinema e fui apaixonando-me por cinema até hoje gostando de filme. Então, eu falei assim: ‘você quer saber de uma coisa? Vou reunir um pessoal aqui e vou fazer um filme também, imitar aqueles faroestes que passavam’”. A estética e a narrativa dos faroestes norte-americanos inspiraram a construção de seus filmes, que também passavam por romance, terror e muito humor. Manoelzinho não era só diretor, mas também produtor, roteirista e ator principal da maioria de suas obras, filmadas inicialmente em formato VHS, contando com a participação voluntária de atores amadores do município. Filmar era também uma forma de divertir-se. Em dois ou três dias, com longos planos e edição caseira, estavam prontos os longas-metragens. “Eu via Seu Manoelzinho, na verdade, como um folclore vivo no sentido mais puro e encantado da palavra. Acho que a figura dele superava sua obra, era uma pessoa incrível, simples, criativa, imaginativa, um empreendedor de sua própria criatividade”, afirma Alana Almondes, que foi diretora de Cultura de Mantenópolis e uma das pessoas mais próximas do trabalho do cineasta. Mesmo sem contar com recursos,nem conhecimentos teóricos ou técnicas que são ensinados em escolas de cinema, ele fez acontecer. “Os filmes de Seu Manoelzinho retratam as histórias, os usos, os costumes culturais e sociais da região em que ele habitava. Fazem isso com perfeita fidelidade ao espírito interiorano e de modo despretensioso, quase caricato em sua singeleza”, analisa a profes-

13


Frame do filme A Gripe do Frango

sora e pesquisadora de Cinema Bernadette Lyra, criadora do termo “Cinema de Bordas” para nomear e estudar um modelo de cinema alternativo em relação à historiografia tradicional que privilegia, quase sempre, o cinema autoral ou de arte e que tem Manoelzinho como um representante importante. “Meu interesse era definir alguns contornos e estratégias desse fenômeno cultural que retrata um Brasil profundo e que sobrevive no universo audiovisual brasileiro, envolvendo realizadores autodidatas e as próprias comunidades em que vivem”, explica Bernadette. Como a maioria desses cineastas, Seu Maneolzinho se mantinha no anonimato. Alana Almondes conta que, quando

14

o conheceu nos anos 90, ele era visto por alguns de seus conterrâneos como louco e até era vítima de chacota. “Ele só passou a ser respeitado por todos na cidade quando apareceu na TV; até então era o bobo da corte. Passou a ser Seu Manoelzinho, o cineasta capixaba”. Um pop star pobre Foi em 2003, quando já acumulava cerca de duas dezenas de filmes rodados, que a história de Seu Maneolzinho ganhou destaque para além de Mantenópolis por meio de uma reportagem da TV Gazeta, que depois repercutiu nacionalmente e o levou a conceder entrevistas e a ser tema de matérias de programas como

de Ana Maria Braga, Jô Soares e Gugu Liberato. O documentário O Sonho de Loreno, dirigido por Alana, para contar a história e a forma de produzir do cineasta, iniciase com uma cena de pop star: uma multidão se aglomera em torno de um carro que traz Seu Manoelzinho de volta a Mantenópolis enquanto um locutor


anuncia sua chegada sob aplausos efusivos. É noite e sobre o palco uma TV de tubo reprisa o programa que havia ido ao ar na TV Globo na manhã do mesmo dia. Ele discursa e agradece, primeiro a Deus e depois ao povo de Mantenópolis. Porém, a fama gerou não só reconhecimento e visibilidade para Seu Manoelzinho; criou também problemas para continuar sua produção cinematográfica. “Quando ele aparece na TV, em rede nacional, isso traz um grande transtorno em sua vida. Criou-se um boato de que Seu Manoelzinho tinha ganho muito dinheiro para aparecer nos programas”. Ele contava que, a partir daí, os atores e figurantes que apareciam voluntariamente em suas obras passaram a querer ganhar cachês, que ainda que modestos, de R$ 20 ou R$ 30, representavam uma grande dificuldade. Chegou a parar por alguns anos, mas voltou a filmar. “Eu passei pela televisão do Brasil inteiro, mas não levantei dinheiro para fazer esse filme. Então, eu tô contando com a ajuda do povo em geral que ajude eu fazer esse filme”, diz com sua fala interiorana em vídeo no YouTube, em que tentava arrecadar fundos para filmar Liberados para Matar. Também pedia pequenas doações a comerciantes locais, apoio da prefeitura para transporte e lanches para atores e equipe e, por vezes, algum pequeno financiamento estadual. Seguiu com a carreira, mas fazer filmes se tornou mais difícil e complexo do que antes. “A fama não nos levou a ganhar dinheiro e o Manoelzinho aqui na cidade era só cineasta; dinheiro mesmo ele não ganhou”, diz Iza Bacelar, viúva de Manoel Loreno. De fato, ele seguiu com uma vida simples e se foi sem deixar muitos recursos materiais. A família ainda sente a dor. “A vida hoje não tá

sendo fácil. Não dá pra ser falsa; sinto muita falta dele, parece que o mundo desabou. Não aceito ele ter morrido. Meu coração tá doendo, machucado”, diz Iza, que também foi atriz em diversos filmes do cineasta. Hoje, por conta da diabete, ela encontra dificuldades para chegar até a casa onde moravam, em área íngreme, e acabou tendo que mudar-se com a filha mais nova, Eliza, e pagar aluguel, deixando a casa para o filho mais velho, Zaqueu. Manoel e Iza começaram a namorar ainda muito jovens e estiveram juntos por 34 anos, parte deles vivendo um amor proibido, pois o pai dela não autorizava. Ela lembra com alegria do casamento e via Manoelzinho como uma pessoa especial, que era querida por toda a cidade. Pensa em continuar fazendo filmes e busca apoio. “Não quero que o trabalho dele pare. Quero que continue. Quero ser a primeira dama do cinema de Mantenópolis, quero continuar o serviço dele”, afirma ela, que ajudava ativamente no processo de produção dos filmes. O filho Zaqueu, que atuou em dois filmes, lembra da imagem do pai quando chegava a casa e o encontrava sempre no mesmo lugar, mexendo no aparelho com um pássaro nos ombros. Diz que as filmagens eram muito descontraídas, mas não pretende seguir a carreira do pai. “Aos filmes não vou dar continuidade não. Acho que, quanto aos dons, meu pai que nasceu com eles. Não tenho dom de atuar, sou mais de ficar atrás das câmeras. Agora, preservar as obras dele eu vou sempre preservar”. O legado de Seu Manoelzinho Falando em lembranças, Bernadette Lyra lembra do medo que Manoelzinho tinha de avião, sendo que na ocasião de convidá-lo para participar da Mostra Itaú Cultural de Cinema de

Frames dos filmes O homem sem lei e Loreno contra o espantalho assassino

15


Frame do filme A Gripe do Frango

Bordas, em São Paulo, teve que pedir ajuda a Alana Almondes e ao cineasta Ricardo Sá para se anteciparem e buscá-lo na rodoviária. No evento, lembra de o produtor de Mantenópolis explicar para uma plateia encantada sobre como fazia seus roteiros desenhando na areia. “Foram muitos encontros e muitas histórias em um tempo de alegrias, de descobertas, de reunião, de muitas conversas, de fotografias em grupo, de trocas e de divulgação, com a participação de muitos realizadores de bordas, vindos de todo o país, e de sua produção fílmica”, conta a pesquisadora. Mesmo tendo sido exibida em diversos lugares, a filmografia de Seu Manoelzinho é um tanto incerta. Alana explica que, como não contava com muito apoio no início, ele acabava vendendo os originais de seus filmes. O próprio cineasta afirmava ter feito mais de 40 filmes. Entre eles se destacam: A vingança de Loreno; O homem sem lei; O rico pobre; Amor proibido; A gripe do frango; Loreno, o gatinho mais rápido do Oeste; O aluguel assombroso; Loreno contra o espantalho assassino e A maldição da casa de Vanirinho. Alana destaca Manoelzinho como um ser muito inventivo e “um grande empreendedor de sua inventividade”. Não sabendo que era impossível, foi lá e fez, como diz a frase consagrada do cineasta francês Jean Cocteau. Hoje, vivendo nos Estados Unidos, ela considera que seu encontro e convivência com o pequeno grande cineasta marcou sua vida. “Mudou muito minha forma de entender o que é cultura e manifestação artística, dentro de uma inquietação de um ser humano muito profundo e lindo. Fico emocionada em lembrar; é quase uma terapia, uma catarse”, diz. Bernadette Lyra considera que Manoelzinho merece ser lembrado, homenageado e honrado

16

por todos que amam o cinema. “Pela sua gentileza singela de realizador, pela sua verdadeira paixão por fazer filmes, pela sua coragem em fazê-los, de fato, a todo custo, mesmo com os recursos baixíssimos de que dispunha ou quase sem recurso algum, quaisquer que fossem as dificuldades e as deficiências. Era um modelo de cineasta autodidata, periférico, totalmente sem grana, mas com muita garra. E, sobretudo, ele foi um retrato perfeito de quem acalenta o desejo intenso de fazer cinema. E dava conta dessa tarefa com toda graça e com toda dignidade”. Com a mesma simplicidade do pai, Zaqueu Loreno resume o ensinamento que leva dele: “Que nunca devo desistir dos meus sonhos. Correr atrás deles, que um dia eu consigo assim como ele conseguiu. Chegar tão longe com tão pouco”. O sonho de Loreno A lembrança de Manoel Loreno segue viva em Mantenópolis, onde era comum encontrá-lo pela praça ou pela rua. A prefeitura do município está terminando de remontar o museu local, que trocou de espaço. Na nova montagem, haverá um espaço especial, com filmes, fotos e outros materiais lembrando o ilustre cineasta da cidade. “Ele foi uma das pessoas que levou o nome de Mantenópolis. Foi agente cultural que teve importância para o município e que, com tanta simplicidade, lotava os espaços na exibição dos filmes. Foi realmente importante para a cidade, uma figura que destacou o município a nível nacional”, reconhece o secretário de Educação, Cultura e Turismo Denilson Paizante. Entretanto, Manoelzinho partiu sem cumprir um de seus grandes sonhos: construir uma cidade cinematográfica permanente em Mantenópolis. Alana Almondes tentava viabilizar recursos a partir dos Estados Unidos, mas todos foram pegos de surpresa com as imprevisibilidade da vida e da morte. “Eu via isso de uma forma muito linda. Achava que seria muito bacana para a cidade, para o estado, para o país. Imagina uma cidade cinematográfica do Seu Manoelzinho, que coisa incrível, uma cidade de faroeste”. E assim, com um sonho, terminamos essa singela homenagem ao homem bravo nas telas e manso fora delas. Simplesmente: Seu Manoelzinho.


Acessibilidade e Audiovisual

O audiovisual acessível para todos Os bens e serviços culturais, e em especial as produções audiovisuais, precisam ser repensados a fim de atenderem às exigências legais que estabelecem as normas e os critérios de acessibilidade visual e auditiva [ Leonardo Vais e Maurílio Mendonça ]

F

alar de acessibilidade ainda é um desafio, mas não deixa de ser fundamental, pois se trata de um atributo essencial para garantir a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Um local acessível não se restringe aos espaços, públicos ou privados, ao meio físico ou à mobilidade. A acessibilidade também deve fazer parte do processo de informação, inclusive, nos sistemas de tecnologia da informação e de comunicação e da produção cultural sendo uma publicação, um show musical, um espetáculo de teatro ou uma sessão de cinema.

Entretanto, o assunto ainda é recente. No Brasil, o termo passou a ser mais enfaticamente discutido a partir de 1998 com o Projeto de Lei nº 4767/98 o qual indicava normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Naquele contexto histórico, como está descrito na legislação, o termo acessibilidade foi definido como “uma possibilidade e condição de alcance para a

17


Arte e Cultura, estando em formatos acessíveis, utilização, com segurança e autonomia, dos como Audiodescrição, Braille, Cão Guia, Língua espaços, dos mobiliários e dos equipamentos Brasileira de Sinais (Libras), Maquetes Táteis, urbanos, das edificações, dos transportes e dos Pisos Táteis e uma série de recursos inerentes sistemas e meios de comunicação a portador de à quebra de barreiras”, explica Menenguci. deficiência ou com mobilidade reduzida”. Desde Desde 2014, por exemplo, por meio da então, o Brasil se tornou, disparadamente, o Instrução Normativa nº 116, a janela de Libras país com a maior quantidade de legislações (um espaço separado na tela para a tradução e voltadas à garantia de Direitos das Pessoas com interpretação do áudio para Língua Brasileira de Deficiência no mundo. Sinais) foi incorporada ao Plano Audiovisual. Em “O desafio, hoje mais que nunca, especial2015, foi sancionada a Lei nº 13.146, conhecida mente neste momento de ataque à democracia como Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com e aos Direitos Humanos, é efetivar esses direiDeficiência, a partir da qual as pessoas com tos”, salienta a escritora, professora e doutora deficiência passam a ter direito à cultura em em Educação pela Ufes Lilian Menenguci, que igualdade de oportunidades com as demais tem experiência na área da educação especial pessoas, sendo garantido o acesso aos bens e de processos de ensino e aprendizagem na culturais em formatos acessíveis. perspectiva inclusiva e na formação continuada Essa nova lei ainda veda qualquer recusa de de professores e profissionais da Educação. oferta de obra intelectual em formato acessível à Entre os marcos na legislação nacional que pessoa com deficiência sob qualquer argumento. trata desse tema, Menenguci cita a Lei nº 10.436, Isso quer dizer que os espaços de difusão culde 24 de abril de 2002, que reconhece a Língua tural precisam garantir a acessibilidade a todos Brasileira de Sinais (Libras) como segunda língua sendo proibidos de recusar a oferta. No caso do oficial do Brasil e o Plano de Diretrizes e Metas audiovisual, além de tudo isso, para o Audiovisual, da Ancine, ainda devem ser oferecidas, em de 2013, que estabelece várias todas as sessões, recursos de metas e indicadores de forma A acessibilidade aplicada acessibilidade para as pessoas a envolver toda a cadeia produao campo da Cultura com deficiência nas salas de tiva do audiovisual relacionada precisa estar presente na produção e no acesso cinema. à acessibilidade, em especial aos espaços, assim como E são diferentes modalidades à Audiodescrição e ao Closed nos conteúdos de Arte de tradução audiovisual acessíCaption. e Cultura, estando em veis já disponíveis no mercado e formatos acessíveis que devem ser adotadas. Além Acessibilidade Cultural da inserção de legendas, funda A partir desses importantes mental para a compreensão do marcos legais, começam a ser filme, e das janelas de Libras (incluída a partir alcançados resultados sociais positivos que da lei 13.146, de 2015), a utilização do recurso contribuem para o desenvolvimento inclusivo. de audiodescrição (descrição das cenas para Dessa forma, as decisões governamentais e as os cegos) tem sido cada vez mais presente na políticas públicas passam a ser indispensáveis produção audiovisual tanto na televisão quanto para estimular uma nova forma de pensar, de no cinema, no Brasil e no Mundo. agir, de construir, de comunicar e de utilizar recursos que garantam a realização dos direitos Cineclube Vendo Vozes e da cidadania para todos, inclusive na cultura. No Espírito Santo, uma experiência ino A acessibilidade cultural é a acessibilidade vadora vem desenvolvendo formas eficazes de atingindo sua amplitude máxima, pois “atende a envolver a comunidade surda cada vez mais no todas as suas dimensões, sejam elas atitudinais, cenário audiovisual. A acessibilidade, no caso, arquitetônicas, comunicacionais, estratégicas, vai além das traduções e interpretações. O Cimetodológicas ou outras. A acessibilidade aplineclube Vendo Vozes atua com o objetivo de cada ao campo da Cultura precisa estar presente, possibilitar o acesso de pessoas com deficiência entre outras coisas, na produção e no acesso auditiva às produções cinematográficas em aos espaços, assim como nos conteúdos de

18


Libras e de estimular a reflexão e o debate nos espectadores sobre acessibilidade e democratização do acesso à cultura. Organizado por estudantes dos cursos de Artes Visuais, Cinema, Geografia, Filosofia e Letras-Libras da Ufes, o Cineclube Vendo Vozes começou em 2017 de forma 100% independente trabalhando com cinema, poesia e construção social. Há dois anos, ainda em Colatina, o grupo começou a atuar na cidade com parceria da Secretaria de Cultura de Colatina e com a Associação dos Surdos de Colatina (Asurcol). Depois dessa experiência, conseguiram recurso, por meio de edital junto à Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult), e iniciaram um cronograma itinerante pelo estado passando pelos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Linhares, Venda Nova do Imigrante, Vitória e Serra. Durante pouco mais de um ano, foram realizadas 13 exibições em espaços como escolas, faculdades, centros culturais, teatros e, por último, um cinema: o Cine Metrópolis, na Ufes. “Foi para fechar o ciclo”, explica Iasmin Santos Ferreira, uma das organizadoras do cineclube, estudante de Letras-Libras da Ufes e intérprete-tradutora do Ifes. Segundo ela, o momento nesse espaço foi fundamental para debater sobre o cineclubismo e a comunidade surda. A escolha dos filmes é feita pela equipe que integra o cineclube. Entre as obras estão filmes destinados à comunidade surda, a tradutores-intérpretes e a ouvintes. “Quando marca a exibição para a comunidade surda, a gente escolhe um filme que seja todo em línguas de sinais, sem som nem nada, e que lhes seja representativo. Quando o público é formado por tradutores-intérpretes, a gente escolhe filmes que falem sobre a temática de tradução e interpretação para línguas de sinais. E, se for um público ouvinte, a gente escolhe filmes em

libras e em língua portuguesa”, explica. O acervo é construído, quase todo ele, por meio do Youtube, em canais de produções de surdos ou por meio de solicitações, enviadas por e-mail, direto aos criadores e produtores, além dos trabalhos que são desenvolvidos pelo próprio Cineclube Vendo Vozes. “Com o cineclube, a gente conseguiu produzir alguns vídeos de até cinco minutos como manifesto da comunidade surda reivindicando acesso ao cinema. E também fizemos um curta, o Fluxo, que conta um pouco da história de um surdo capixaba”, cita a cineclubista. Todas as sessões contam com a parceria das associações de surdos locais e com debates após a exibição. São nesses momentos em que se discute a importância de protagonizar o sujeito surdo permitindo que ele também possa ser produtor, diretor ou protagonista de um filme. “Como podemos produzir e filmar em línguas de sinais e, assim, permitir que toda essa narrativa fale a partir das mãos? Como seria essa nova estética cinematográfica? Vai ser incrível algum cineasta capixaba produzir filmes protagonizando surdos, por exemplo”, salienta Iasmin. Segundo a cineclubista, o simples ato de já incluir um surdo durante o processo de produção de um filme já ajudaria, e muito, na acessibilidade. “Normalmente o tradutor-intérprete só é chamado no final de todo o processo somente para incluir a tradução na janela de Libras ou para traduzir durante a ação. Seria muito melhor já ter um cego ou um surdo participando do processo todo, desde a criação, para que a Libras ou a audiodescrição estejam, de fato, garantindo o acesso ao surdo e ao cego. Não basta apenas colocar um tradutor no palco, no show, no filme, no teatro, na exposição, para que se alcance a acessibilidade”, defende.

19


entrevista

Foto: Divulgação

[ Leonardo Vais ]

O que é a audiodescrição? Nesta entrevista, Ana Lúcia Motta fala sobre a audiodescrição, que é uma das modalidades da tradução audiovisual acessível. Com 15 anos de experiência, ela é proprietária do Estúdio Alldubbing Group, onde administra projetos de dublagem e de acessibilidade para produtoras brasileiras e atende a trabalhos em dublagem internacionais. Ana tem MBA em Gestão Empresarial, Marketing e Estratégia Competitiva, é palestrante em projetos de acessibilidade e dublagem e é diretora geral na empresa Herbert Richers S/A, além de ser presidente e sócia do estúdio Riosound. 20


Como a audiodescrição pode ser definida? A audiodescrição consiste em traduzir. Descrever de forma objetiva e clara o que vemos e o que não é mencionado nos diálogos, como figurino, ação, mudança de tempo, expressão corporal, facial, créditos, títulos e demais informações que surjam na tela no caso de filmes, documentários programas de TV, entre outros. A definição que mais usamos é que a audiodescrição é a tradução de imagens em palavras. Como a audiodescrição é feita? Pode contar um pouco como ela acontece no dia a dia? A audiodescrição pode ser pré-gravada, por exemplo. A obra passa pelo audiodescritor, que faz o roteiro. Este é submetido ao consultor que é uma pessoa com deficiência visual, sendo finalizado com as mudanças orientadas por esse profissional. Após esse processo, entra o trabalho de gravação da locução do roteiro, que pode ser realizado pelo próprio audiodescritor ou por um locutor. Em eventos ao vivo, por exemplo, a tradução é feita simultaneamente ao que está acontecendo no evento. Em apresentação de teatro, balé ou ópera, no caso, o audiodescritor tem acesso ao roteiro original, participa de alguns ensaios e faz o roteiro da audiodescrição que será realizado no espetáculo. Você pode dar alguns exemplos dos recursos de audiodescrição que vocês realizam? O do Museu do Amanhã ainda está em exposição. Fizemos um trabalho incrível e inovador, realizado pelo laboratório do Museu. Chamase RePangea, uma experiência tecnoxamânica em realidade virtual com audiodescrição e Libras. Assim como a realidade virtual é uma novidade, a acessibilidade na realidade virtual também é. Também fizemos a audiodescrição na Sapucaí. Os desfiles das Escolas de Samba foram traduzidos em detalhes para as pessoas com deficiência visual. Foi um

momento muito emocionante em que fomos impactados com a participação imersiva dessas pessoas. Quais são os principais desafios desse trabalho? Embora existam leis que assegurem a inclusão, ainda não há uma participação efetiva da realização das obras com acessibilidade. Além disso, quando a obra é realizada com apoio financeiro da Ancine, do fundo setorial ou da Lei Rouanet, esses filmes são obrigados a terem acessibilidade e são depositados no arquivo. O desafio é fazer esses filmes serem exibidos para o público que quer a acessibilidade. Existem outros produtos para atenderem ao público de pessoas com deficiência? Sim. Também há tradução para Libras, ao vivo e pré-gravado, legendagem descritiva, legenda e dublagem. O número de pessoas interessadas em tornar os conteúdos acessíveis tem aumentado? Sim. No último evento que fizemos acessibilidade, quando os realizadores anunciaram que teria tradução para Libras e audiodescrição, houve interesse de pessoas com deficiência em participar do evento. Temos que ofertar o serviço nos eventos, nos cinemas, nos teatros, nos shows, nas exposições etc. Assim, deixa-se de ser uma coisa excepcional e se torna parte do cotidiano da nossa cultura e lazer para que sejam inclusivos. O que é importante saber na hora de contratar um serviço de audiodescrição? Importante conhecer a empresa e os profissionais que trabalham para ela. Todos precisam ser qualificados e cumprirem as normas para não comprometer a qualidade do produto final. E o principal: é fundamental cumprir a inclusão.

21


perfil

O Cinema Delas O olhar feminino como protagonista. Conheça a trajetória de cinco realizadoras capixabas de diferentes gerações que romperam a hegemonia masculina no cinema para produrizem seus filmes [ Lívia Corbellari ]

A

inda estamos distantes de uma realidade em que homens e mulheres acessam de forma equânime os meios de produção audiovisual. Dados do informe Diversidade de Gênero e Raça nos Longa-Metragens Brasileiros, realizado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), mostram que, dos filmes lançados em 2016, a direção liderada por elas não chega a 20%.

22

A seguir, apresentamos o perfil de cinco mulheres cineastas capixabas. Elas são o exemplo do quanto a participação e o trabalho feminino estão cada vez mais presentes nas produções cinematográficas. Apesar dos avanços, essas realizadoras deixam claro o quanto as mulheres ainda precisam caminhar para conquistarem o cenário de plena igualdade no meio audiovisual.


Eliza Capai

Foto: João Pina

Eliza nasceu no Rio de Janeiro, mas morou em Vitória até os 19 anos. Sua paixão pelo cinema começou por aqui, no Cine Metrópolis, na Ufes. Formada em Jornalismo pela ECA/ USP, ela assina a direção e o roteiro de quinze curtas-metragens e quatro séries para TV, três séries para web, além de três médias e três longas-metragens documentais. Durante esta entrevista, Eliza estava nos Estados Unidos lançando o seu terceiro longa Espero tua (re) volta, no Seattle Film Festival, e preparandose para mais dois festivais: Sheffield Doc Fest, na Inglaterra, e Olhar de Cinema, em Curitiba, primeira exibição do filme no Brasil. O filme foi lançado este ano no Festival de Berlim, onde recebeu o Prêmio da Anistia Internacional e o Prêmio da Paz. O longa trata, a partir do ponto de vista de três estudantes envolvidos, do movimento estudantil que ganhou força a partir do ano de 2015 ao ocupar escolas estaduais por todo o Brasil. A diretora explica que lançar o filme fora do Brasil tem gerado reações muito interessantes. “Começar a trajetória do filme fora do Brasil foi muito importante para entender o Brasil de agora, perceber o que ele tem de universal e de peculiar. Na Alemanha, por exemplo, um espectador achou um absurdo a violência policial com os estudantes. Já na Venezuela, uma mulher veio me contar que se viu no filme pelo fato de o país já ter passado por uma situação semelhante. Nos Estados Unidos agora também estamos

tendo uma grande aceitação por relacionarem o filme com o projeto Black Lives Matter (Vidas Negras Importam)”, conta. Esse é o primeiro longa que Eliza realiza com recursos; alguns de seus trabalhos foram feitos literalmente sem orçamento como é o caso de #Resistências (2017), que também aborda o movimento estudantil e foi exibido em mais de 80 cidades com sessões gratuitas organizadas por voluntários, além do documentário Tão longe é aqui (2013) que revela o cotidiano de mulheres em diferentes países africanos. “O que me motiva a fazer cinema é conhecer outros mundos, outras realidades. É uma curiosidade e uma vontade de entender-me e entender o mundo. Sinto-me privilegiada em transformar minhas inquietações em trabalho. Óbvio que encontrei um mercado machista, pois sabemos que mulheres ainda recebem menos que homens e têm menos oportunidades. Porém, eu procurei beneficiar-me dessa minha fragilidade aparente; não foi algo premeditado, mas eu comecei a perceber que as pessoas confiavam mais em mim na hora de dar uma entrevista e na hora de receber-me em casa. Quando viam que era uma mulher, sentiam-se mais à vontade para contar suas histórias. Então, ser mulher me deu muitas oportunidades e uma proximidade maior na hora do encontro com as pessoas”. Atualmente, Eliza está realizando oficinas de audiovisual e discutindo questões do feminismo em presídios, em Serra, com detentos que aguardam julgamentos pela Lei Maria da Penha. “Esse é mais um lugar no qual eu posso observar esse nosso Brasil de 2019, mais uma realidade com que eu me deparo e pode ser que vire um filme… Ainda não sei. Eu procuro trocar muito com os detentos e ainda não decidimos o que se pode tornar”, explica.

FILMOGRAFIA Tão Longe é Aqui (2013) Severinas (2014) O jabuti e a Anta (2016) #Resistência (2017) Espero Tua (Re) volta (2019)

23


Margarete Taqueti Margarete trabalha com tões de Cinema, maratonas de cinema há cerca de 30 anos e cinema que viravam a noite no no momento está envolvida Centro Cultural Carmélia. Tamna produção de seu primeibém nessa época começou a ro longa-metragem: Sob Os enveredar-se pela produção de Nossos Pés. O documentário cinema, primeiro como roteié uma parceria com Adriana rista e assistente de direção de Jacobsen e é focado na conAymilton de Almeida e depois tribuição dos povos indígefez sua primeira direção com nas que habitaram a região o documentário Lira Mateense norte e noroeste do Espírito (1992) sobre a banda musical Santo, na formação da sociede São Mateus. dade capixaba. “Este filme Outra produção de destaestá sendo realizado a partir que foi O fantasma da Mulher de uma pesquisa que resulAlgodão (1995), uma ficção tou no descobrimento de um sobre a lenda capixaba que dos maiores depositários de mistura o medo do sobrenacerâmica funerária indígena tural com o medo da ditadudos Tapuia, ou seja, os índios ra, época em que se passa o que não falam a língua Tupi, filme. “Era um fantasma que e que datam de muitos anos convinha porque ele atacava antes da colonização. E por as professoras no banheiro, mais que não seja o foco do violando a privacidade das vífilme, o trabalho de cerâmica timas, e não se sabia quem as é um ofício exclusivamente atacava; se eram os alunos ou das mulheres”, explica. o Estado”. Em 1970, Margarete co Não podemos deixar de meçou a envolver-se com o mencionar a grande parceimovimento do teatro univerra de Margarete em diversas sitário e com o cineclubismo produções: Glecy Coutinho. em 1970, dentro da Ufes. Ela Em 2002, elas conquistaram teve importante atuação no o prêmio do 5º Concurso de Cineclube Penedo e no Centro Roteiros do Vitória Cine Víde Estudos Ludovico Persici no deo com o roteiro de A Pasinício dos anos de 1980. Essa sageira, filmado em 2006. participação nos cineclubes foi Essa aproximação começou o seu primeiro encantamendurante uma trilogia sobre to com a sétima arte, o que lhe FILMOGRAFIA motivou a tamLira Mateense (1992) bém produzir. Danúbio Azul (1995) No final dos O Fantasma da Mulher Algodão (1995) anos 1980 e coEu Sou Buck Jones (1997) meço dos 1990, esteve à frenO Ciclo da Paixão (200) te de diversos Dietriste (2001) projetos, como Menestrel (2001) o jornal cultural Por Quem os Sinos Dobram (2002) Trippé e os NoiRelicário de Um Povo (2003) Ter-Ver-Comer (2003) Festa na Sombra (2005) A Passageira (2006)

24

Foto: Acervo pessoal de Margarete Taqueti

artistas importantes da cena cultural capixaba. A primeira foi Maria Stella de Novaes, no documentário Relicário de um povo (2003), a segunda foi a poetisa Haydeé Nicolussi no documentário Festa na Sombra (2005) e a terceira seria a maestrina Lycia de Biase, mas o projeto ficou engavetado. Também é importante ressaltar a sua contribuição durante o período em que foi da Coordenação e da Subgerência de audiovisual da Secult-ES. Entre os vários projetos que desenvolveu vale destacar a Mostra de Vídeo Ambientais (MoVa), entre 2004 e 2008, no interior do estado; o 10 Maes Vídeo, entre 2003 e 2005, com sessões e debates com a retrospectiva dos principais videomakers capixabas. Margarete considera que uma maior diversidade dentro dos sets de filmagens é sempre benéfica para o audiovisual. “Em qualquer campo artístico, essa diversidade é uma coisa efervescente, maravilhosa e surpreendente. Isso me entusiasma e me comove, tira-me do lugar comum e do meu umbigo, faz-me olhar para o lado e a estar dentro do movimento e a conhecer bandeiras novas. Neste momento, resistência é a palavra de ordem; não podemos abrir mão de tudo que já conquistamos”, finaliza.


Diretora, roteirista e cine-educadora, Saskia Sá sempre prioriza equipes compostas de mulheres na sua produção. “Meu ideal é uma equipe de maioria feminina, colocar mulheres principalmente em funções técnicas, como no som ou na fotografia, que são cargos majoritariamente ocupados por homens. Meu desejo é FILMOGRAFIA dar oportunidade para mulheres Moda (1993) trabalharem nessas funções já Mundo Cão (2002) que as temáticas dos meus filVestuário Capixaba (2004) mes são sempre voltadas para São Benedito (2006) o protagonismo feminino tamA Fuga (2007) bém”. Exílio (2014) Saskia foi uma das funVento Sul (2014) dadoras da ABD Capixaba, foi Rio das Lágrimas Secas (2018) vice-presidente da instituição (2001-2004) e presidente por duas vezes (gestão 2004-2006 e 2006-2008). Seu envolvimento com o audiovisual, entretanto, é bem mais antigo. Começou na década pelo rompimento da barragem de rejeitos de de 1980 participando de cineclubes na Ufes: mineração da Samarco, que ocorreu em 2015 no “Nós formamos um grupo, que hoje poderia município mineiro de Mariana. Apesar de tratarser chamado de coletivo, que discutia diversas se de uma tragédia, o filme trouxe muitas alegrias questões e era a época das locadoras. Então, e prêmios para a realizadora: foi distribuído para começamos a ter acesso a muito filmes e a mais de 20 festivais por todo o Brasil e também vontade de produzir também nasceu dentro do fora, sendo visto em países como Egito, Índia e movimento. Primeiro, de forma bem intuitiva, Colômbia. Porém, para Saskia, ainda é preciso pois ainda não havia uma faculdade de cinema garantir verba para retornar às comunidades e aqui, e depois nos fomos profissionalizando. No fazer exibições para essas mulheres que colacinema, encontrei a minha forma de colocar as boraram e se doaram para o filme. minhas narrativas para fora”. Paralelamente a essa circulação, ela já foi Em sua trajetória na militância cultural, vencedora de dois editais e tem trabalhando Saskia sentiu na pele o machismo do meio e nesses projetos. O primeiro é o documentário aprendeu formas de combatê-lo. Um de seus Garotas do Game, que aborda as mulheres dentro projetos que foi fundamental para esse cresdo mercado de games, tanto como desenvolvecimento foi o cineclube Feministas de Quinta, doras como jogadoras. Outro é a série de ficçãorealizado durante os anos de 2014 e 2015, no Cine científica Viagem à Xibalbá, cujos roteiros estão Metrópolis. “A partir dos filmes e das discussões, em fase de conclusão e o teaser já está sendo pude aprender muito com outras mulheres até apresentado para o mercado a fim de viabilizar em questões relacionadas à minha vida pessoal. as filmagens. Foi uma troca muito grande e importante”, conta. Apesar das conquistas, Saskia reforça Atualmente, Saskia está finalizando a cirque o caminho ainda é de luta. Além de ainda culação do seu documentário Rio das Lágrimas precisar brigarem pelos meios de produção, pela Secas (2018). O filme traz um recorte sobre as capacitação e pela difusão de seus projetos, as perdas sofridas por mulheres de três pequenas mulheres estão sendo atacadas em seus direitos comunidades localizadas no caminho da lama mais básicos. “Precisamos continuar unidas, de destruição do crime ambiental provocado porque juntas conseguimos fazer barulho”.

25

Foto: Acervo pessoal de Saskia Sá

Saskia Sá


Rosaria Rosária entrou no mercado de animação aos 17 anos e já trabalhou para diversos estúdios do Rio de Janeiro e de São Paulo em comerciais, institucionais, filmes autorais e séries de TV. Muitas vezes, era a única mulher dentro do estúdio, cursos, workshops, debates, viagens, reuniões e mesas de bar. “E o machismo estava lá, embora por muito tempo eu mesma preferisse não ver, porque eu queria estar ali e precisava sentir-me confiante de que estava tudo bem. Hoje, as coisas mudaram um pouco pras meninas que chegam a esse mercado. Acredito que esteja um pouco mais amigável, com essa reflexão sendo feita e divulgada diariamente em muitos ambientes, mas ainda não acho que esteja resolvido por completo”, diz. O desenho faz parte da sua vida desde criança quando sonhava que um dia suas criações pudessem se mexer. Após uma visita ao festival Anima Mundi, esse sonho se tornou realidade. Depois disso, o caminho até o cinema foi acontecendo aos poucos. Ela dirigiu, animou e produziu os curtas Tem um Dragão no Meu Baú (2005), Menina da Chuva (2010) e O Projeto do Meu Pai (2016). Este último foi indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2017, premiado no Anima Mundi 2016 nas categorias Melhor Curta Brasileiro (Júri Popular RJ e SP) e Melhor Curta do Festival (Júri Popular RJ), além de ter sido vencedor do Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas 2017, entre outros festivais nacionais e internacionais. Esse reconhecimento foi importante para que Rosaria continuasse investindo na sua carreira. “Além de ser uma história muito pessoal, eu fiz esse filme praticamente sozinha enquanto estava grávida, sem suporte financeiro ou profissional. Digo, foi um filme independente em muitos aspectos. No fim, ele ganhou mais prêmios que os outros dois e teve uma carreira muito feliz. Deu muita energia para começar outro”. Atualmente, Rosaria está animando o longa-metragem Bizarros Peixes das Fossas Abissais, um projeto independente, que ela confessa que talvez demore alguns anos para sair já que não pode dedicar-se exclusivamente, especialmente agora que diminuíram as chances de receber apoio financeiro. A falta de diversidade e de troca de experiência com outras animadoras mulheres dentro dos estúdios também é uma questão que sempre a preocupou: “Produzi muita coisa que seria avaliada somente por homens e isso, de alguma forma, afetou a minha relação pessoal com meu trabalho. O produto final de negros, gays e mulheres será ainda mais rico artisticamente quando os caminhos também forem diversos”. Ela conta também que o estímulo para continuar e persistir veio dos amigos que sempre acreditaram no seu trabalho: “Mais que prêmios, mais que dinheiro, mais que o próprio prazer de fazer meu próprio filme, o que mais me motiva a dar-me voz são essas pessoas que ainda querem que eu exista”. FILMOGRAFIA Tem um Dragão no Meu Baú (2005) Menina da Chuva (2010) O Projeto do Meu Pai (2016) Foto: Acervo pessoal de Rosaria

26


Daiana Rocha FILMOGRAFIA Braços Vazios (2018) Arquitetura dos que Habitam (2018)

Daiana Rocha

Foto: Julia Galdino

O trauma da perda de um filho e o extermínio da juventude negra são os temas que a diretora Daiana Rocha aborda em seu primeiro curta: Braços Vazios (2018). O filme é uma mescla de documentário e ficção e é resultado de seu trabalho de conclusão de curso na graduação em Cinema e Audiovisual da Ufes. A ideia surgiu depois da notícia do assassinato de cinco jovens da comunidade de Costa Barros no Rio de Janeiro por policiais militares. O carro em que os jovens estavam foi alvejado com mais de 50 tiros de fuzil. Após o lançamento, o filme percorreu diversos festivais nacionais, como o Festival Taguatinga, Sercine, Mostra do Audiovisual Negro e Festival Tudo Sobre Mulheres. Também foi exibido em algumas escolas e projetos sociais. O filme também conquistou dois prêmios: Prêmio Cineclubista de Melhor Filme para Reflexão, concedido pelo júri da Federação Pernambucana de Cineclubes (Fepec), na categoria Mostra Universitária, do 11º Curta Taquary – Festival Internacional de Curta Metragem e Prêmio de Melhor Filme Pelo Júri Popular na 22ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas-Metragens do Festival de Cinema de Vitória. Mesmo com uma estreia bem recebida, Daiana conta que em muitos momentos como diretora passou por

situações em que precisava impor-se ou mesmo provar que tinha capacidade de ser chefe de equipe. “Não podemos desanimar, é importante dizer que precisamos de mais mulheres negras no audiovisual, principalmente aqui no estado. Vejo muitas produções que se propõem a falar de vivências negras, mas do lugar da branquitude. Estamos vivendo um momento em que queremos ser autoras e autores de nossas narrativas, queremos contar nossas histórias”, fala. Ela conta também que o cinema sempre fez parte da sua vida e, quando chegou o momento do vestibular, não pensou duas vezes ao escolher o curso: “Ao longo do curso me dei conta do poder do cinema como construtor de imaginários e narrativas”. Além de cineasta, Daiana também é Membra-fundadora do Coletivo Palavra Negra e Coletivo DAMBALLA, foi produtora do programa de rádio Afro-Diáspora entre os anos 2015 e 2018 e idealizadora do projeto fotográfico Negradê. No momento, ela está trabalhando na escrita de outros projetos de filmes e seu mais recente trabalho foi o documentário experimental Arquitetura dos que habitam, que mostra o cotidiano de moradores da ocupação Chico Prego, que ocorreu em 2017 no prédio do IAPI, no Centro de Vitória.

27


reportagem

Uma nova geração de realizadores assumiu seu lugar de fala e tem contribuído para tirar a sétima arte do armário com filmes que expressam a diversidade sexual [ Leonardo Vais ]

N

as últimas décadas, a diversidade sexual ganhou novos contornos em todo o mundo. No Brasil, a reorganização da sigla GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) para LGBTQ+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Queer) agrega diversas orientações sexuais e identidades de gênero que denominam a pluralidade de ser o que se é. E a produção audiovisual reflete tais transformações. Desde a retomada do cinema brasileiro, na década de 1990, que uma série de realizadores assumiram seu lugar de fala e uma pluralidade de produções - tanto em curtas quanto em longas-metragens - surgiu com a proposta de debater os temas ligados à diversidade sexual e deu novos contornos à produção nacional. Essa geração de diretores e diretoras se tem dedicado a realizar filmes protagonizados por, entre outros, personagens gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. O resultado é um desdobramento em publicações, mostras e festivais voltados para o tema, além das produções em si que criam um panorama de representações do universo LGBTQ+ no audiovisual.

28

Na última década, a produção audiovisual capixaba também ganhou novos realizadores, que colocam em primeiro plano as experiências e o cotidiano de personagens LGBTs. Muitos tratam o assunto com propriedade por pertencerem a este universo. Seus filmes, de forma ficcional ou documental, abrem um olhar para as vivências e humanizam as histórias que envolvem esse público. Caminhando para o seu terceiro curta-metragem, a ficção Inabitáveis, uma adaptação livre do espetáculo de dança homônimo da Cia In Pares, Anderson Bardot é um deles. “Eu realizo filmes que eu gostaria de ver na tela do cinema. E, sem dúvida, celebrar a diversidade é o que me move enquanto artista-pensador. Desbravar novas narrativas LGBTQ+ é preciso e o cinema queer é a minha nau - o Q pra mim não é uma sigla, mas uma posição política de todas elas” afirma o diretor. Para Bardot, a representatividade dos sujeitos LGBTQ+ na tela caminham para além de uma liberdade de gueto. “A Sétima Arte foi uma forma moderna que a humanidade encontrou para retratar o corpo no tempo,


Curta-Metragem Os Mais Amados, de Rodrigo de Oliveira

29

Foto: Divulgação

isto é, o corpo como um arquivo histórico em constante escrita preenchido de demandas também históricas onde passado, presente e futuro se misturam. Por isso, lutamos tanto por representações dignas que fujam de estereótipos e preconceitos. Quando defendemos um cinema LGBTQ+, não estamos defendendo só o direito de sermos assim; estamos, antes de tudo, defendendo o direito de qualquer um ser o que quiser”. Enquanto realizador, ele acredita que subverter os clichês é uma forma de ir além do

óbvio na sua produção audiovisual ao tratar da temática da diversidade sexual. “Eu quero usar das caixinhas pra falar além das caixinhas. Assim como o cinema é intrínseco à vida, o espírito transgressor vive em razão de sobrepor seus limites. Quero um cinema antipanfletário, antiestereótipo e antilinear sobrepondo-se a qualquer mesquinhez de uma estética da pobreza do corpo negro-mestiço, do corpo LGBTQ+ comum, do corpo-filme higienizado e convencional”. Para o diretor, a categorização de filme gay ou LGBTQ+ é importante. “São espaços de fortalecimento de identidades que historicamente foram negados, mas não acho que devemos ficar retidos. Nós estamos produzindo uma quantidade considerável de filmes independentes com um nível de qualidade muito acima do mediano. Estamos nos maiores festivais do mundo e paralelamente nos cineclubes e festivais/mostras regionais. Só não ocupamos a TV aberta ainda, mas isso é uma questão de tempo. Somos um baita mercado comercial em expansão. O mundo ainda está dando voltas”.


Ampliar a compreensão e o debate Um dos grandes destaques da produção audiovisual recente do Estado é Transvivo (2017), documentário de Tati W. Franklin, documentário que acompanha as vivências de Izah e Murilo enquanto passam pelo processo de transição de gênero. A ideia do curta surgiu a partir da postagem de um dos personagens em uma rede social informando que estava passando pelo processo de transição de gênero. A partir daí, a diretora reuniu curiosidade, os estudos sobre corpo e sexualidade e a representatividade no audiovisual para realizar o seu trabalho de conclusão de curso, que também é o seu primeiro curta. “Eu já estudava um pouco sobre as questões de gênero e sexualidade no cinema. Também estudava o corpo no cinema. Então, foi nessa pegada de levar essas questões para a tela. Eu acho que a gente está nesse tempo de falar de representatividade, das diferenças. Enquanto mulher lésbica, eu tinha vontade de levar essa representatividade LGBT também para a tela e acho que foi meio que nessa pegada que tudo surgiu”, explica. Depois de percorrer vários festivais, o filme foi selecionado no mês de maio para o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, premiação anual

30

Queremos ao nosso lado pessoas que consigam compreender esse lugar e estamos fazendo filmes sobre as histórias de vidas de pessoas LGBTQ+. Então, é importante que a gente consiga ter o mínimo de implicação com esse tema

promovida pela Academia Brasileira de Cinema. Integrando a categoria de curtas-documentários, é a única produção capixaba entre 19 concorrentes. “Foi uma surpresa imensa o Transvivo ter sido indicado para o prêmio. Uma premiação que a gente acompanha e conhece”, comemora a diretora, que atribui a seleção ao trabalho de equipe do filme. Ela acredita que estar entre os filmes selecionados é um estímulo para continuar filmando. “É uma resposta em relação ao nosso trabalho. É um gás para continuarmos produzindo mesmo em tempos tão sombrios e tão incertos como a gente sabe que está em relação à arte e à cultura em que tudo está sendo minado. Ter o filme nessa premia-

ção tem essa importância”. Tati acredita que a representatividade no set de filmagem é algo que colabora para a realização do filme. “Transvivo tem uma equipe de 90% de pessoas LGBTs e a representatividade fica muito mais coerente nesse sentido. A gente está o tempo inteiro pensando e vivendo essa micropolítica. Queremos ao nosso lado pessoas que consigam compreender esse lugar e estamos fazendo filmes sobre as histórias de vidas de pessoas LGBTQ+. Então, é importante que a gente consiga ter o mínimo de implicação com esse tema. Se as pessoas que trabalham nesse filme são sapatonas, são viados e são pessoas trans - como no caso dos meninos que trabalharam como pesquisadores no início do projeto -, isso fica muito mais coerente, principalmente no documentário cuja história extrapola”. Tati acredita que o cinema pode atingir um número maior de pessoas e ser uma das janelas para ampliar a compreensão e o debate sobre a diversidade sexual. “É fundamental a gente levar todos os temas sobre representatividade, diferenças e diversidade para as telas. Essas temáticas vêm sendo discutidas há muito tempo na Academia, nas universidades, em artigos acadêmicos, livros difíceis de serem lidos por qualquer pessoa que não esteja estudando ou que


tenha acesso a isso. Então, o produto audiovisual: ele é diferente, ele atinge, ele fala com todo mundo. Eu tento falar com todo mundo nesses filmes que a gente está fazendo. A gente precisa falar. É a hora de falar. É a hora de afetar. É a hora de tentar plantar essa sementinha na maioria dos espaços possíveis. E o cinema fala com todo mundo”. Narrar sua própria história Entre os novos diretores, Rodrigo de Oliveira é o que tem uma estrada mais longa no audiovisual atuando como diretor, roteirista e montador. Ele realizou, desde 2012, três longas e três curtametragens, mas a temática LGBTQ+ - apesar de ser tensionada em alguns trabalhos anteriores - só passou a ter protagonismo em suas produções a partir do curta Ano Passado eu Morri (2017) em que ele se torna personagem/ diretor em busca de Eduardo, seu primeiro namorado. Na sequência, Os Mais Amados (2018), uma adaptação queer-cristã do Apocalipse: Livro das Revelações. Atualmente, segue em fase de pré-produção o seu quarto longa-metragem Os Primeiros

Soldados, que acompanha o primeiro ano da explosão da epidemia de Sida em Vitória. “O meu cinema demorou mais a sair do armário que eu, que aos 16 anos estava dançando a valsa da formatura do Ensino Médio com meu namorado na época, todo desafiador, corajoso e ingênuo como meninos de 16 anos às vezes são”, relembra Rodrigo. E continua: “Como a experiência pública da minha homossexualidade sempre foi relativamente positiva, os traumas íntimos de todo adolescente e jovem gay, que eu certamente experimentei e

Apesar de entender que a arte está aberta a quem sensibilizar-se por seu objeto, eu acredito mais no movimento que já está acontecendo de ter pessoas LGBTQ+ não só como objeto, mas como criadores dessas histórias

sofri, ficaram reprimidos. Um dos reflexos dessa repressão é duvidar que a sua própria história tenha algum valor e também ignorar a história da sua gente”, explica o realizador. Rodrigo acredita que foi por volta dos 25 anos que ele teve real contato com a cultura LGBTQ+ e as narrativas que formam essa vivência como a homofobia, a crise da Aids e as experiências em gueto. “Isso coincidiu com o levante do conservadorismo no Brasil, um processo bem anterior ao das últimas eleições, e a necessidade de uma reação forte. É essa a minha motivação mais forte hoje em dia: quanto mais nos tentam calar, mais gritaremos. E meu jeito de gritar são os filmes”. Para ele, a representatividade tem que existir para além da temática. “Cinema é a arte do presente e é feita para muitos. E ele precisa absorver, entender e projetar todas as transformações que ocorrem hoje para o máximo possível de pessoas. E, apesar de entender que a arte está aberta a quem sensibilizar-se por seu objeto, eu acredito mais no movimento que já está acontecendo de ter pessoas LGBTQ+ não só como objeto, mas como criadores dessas histórias”. Rodrigo acredita que a diversidade também deve esten-

31


Foto/Still: Luara Monteiro

Curta-Metragem Inabitáveis, de Anderson Bardot

der-se para o set de filmagem, especialmente na formação de novos profissionais, mas para ele esse processo ainda está em construção. “No Espírito Santo, ainda é difícil montar uma equipe realmente diversa porque há um reflexo radical da diferença de classe que marca o cinema. E isso significa mais rostos brancos e héteros. É um trabalho de longo prazo e nós já estamos muito atrasados. Então, é bom apressar o passo”. Para o diretor, a produção audiovisual LGBTQ+ no Brasil cresceu e consegue abranger a pluralidade da sigla. “Os filmes brasileiros LGBTQ+ me parecem, pelo menos, sintonizados com as transformações sociais pelas quais o país tem passado e isso significa a ascensão de olhares antes relegados às margens. Contra a caricatura problemática da

32

representatividade trans na novela, por exemplo, é possível encontrar um punhado de bons filmes que lidam frontalmente, com sensibilidade, respeito e conhecimento, sobre o assunto – e, o mais importante, alguns desses filmes são não só protagonizados como dirigidos por pessoas trans. Isso é um avanço, sim, e acho que o trabalho atual é ampliar essa representatividade e, ao mesmo tempo, colocar esses filmes diante de cada vez mais gente”. Janelas Além da Mostra Produção Independente, que sempre incluiu em sua programação uma série de filmes com o tema da diversidade, na última década a produção audiovisual LGBTQ+ teve duas importantes janelas para a produção audiovisual com essa temática.

Entre 2013 e 2018, o Cineclube ES Diversidade foi um espaço para exibição e debate de assuntos relacionados à sexualidade, à identidade de gênero, às identidades marginalizadas, à afetividade, entre outros assuntos. O coletivo realizou mais de 30 sessões individuais na Grande Vitória e no município de Linhares, além de cinco Mostras Audiovisuais de Sexualidades e Afetos com uma programação de curtas e longas de diversas partes do Brasil e do mundo. Desde 2010, o Festival de Cinema de Vitória realiza a Mostra Quatro Estações. Os filmes exibidos têm a diversidade sexual como temática e possuem o objetivo de potencializar discursos afirmativos em torno das questões da população LGBTQ+ por meio das múltiplas identidades sexuais existentes.


artigo

Criativo e diverso: o crescimento do cinema

negro

capixaba Pesquisador e diretor de cinema apresenta um panorama da recente produção audiovisual do Espírito Santo protagonizada por realizadores negros [ Adriano Monteiro1 ]

33


Longa-Metragem Entreturnos, de Edson Ferreira

P

rojetar um cenário futuro requer sempre o exercício fundamental de, inevitavelmente, olhar para trás. Negligenciar tal princípio pode levar a incorrer em repetir eventuais erros, a cair em alguns tropeços desnecessários ou a caminhar por um perigoso terreno da “novidade” e a ficar “inventando a roda”, como alerta a velha expressão popular. Trazendo o princípio das culturas africanas e afrobrasileiras para o universo cinematográfico, isto é, recorrendo aos ensinamentos de nossos ancestrais, uma vez que a produção audiovisual capixaba se expressa hegemoni-

34

camente enquanto discurso e estética eurocêntricos, parecem-me mais que oportunas as lições do grande pai do cinema africano, o cineasta senegalês Ousmane Sembène, quando diz: “Para pessoas como nós não existe coisas como modelos. Somos constantemente convocados a criar nossos modelos”. E é deste modo que procuro olhar, vislumbrar e analisar a recente safra da produção audiovisual independente de jovens realizadores negros e negras capixabas que despontam na atualidade. Como bem ponderam os teóricos norte-americanos Ella Shohat e Robert Stam:


Foto/still: Louise Gripp

“Destacar a devastação psíquica infligida por representações sistematicamente negativas dos grupos por estas agredidos, seja na internalização dos próprios estereótipos ou nos efeitos negativos de sua disseminação”. Segundo eles, “[...] uma discussão mais matizada da questão racial no cinema deveria enfatizar o jogo das vozes, dos discursos e das perspectivas, incluindo aqueles operantes no interior da própria imagem”. Nesse sentido, inevitavelmente, a falta de representação e de narrativas que nos contemplem implica uma necessidade tácita de criarmos nossas referências e de, até mesmo, irmo-nos além, pois, quando falamos de Cinema Negro, não podemos reduzi-lo apenas à “temática” como muitos festivais ainda insistem em fazer pelo Brasil. Estamos reconhecendo neles potencialidades estéticas e narrativas inovadoras que algumas obras têm demonstrado e que, principalmente, têm o autor/criador como uma peça fundamental e simbólica dentro deste campo da engrenagem do cinema no qual poucos afrodescendentes ocupam um lugar de poder. Este recente movimento revela que há uma enorme e diversa produção de cineastas afro-brasileiros nos últimos anos - considerando como marco simbólico o curta-metragem Kbela (2015), da diretora carioca Yasmin Thainá - e que alguns intelectuais e pesquisadores - dos quais, eu me incluo - defendem-no como o Novo Cinema Negro brasileiro. Por aqui, ouso especular que estamos perto do florescer de nossa primavera. Arrisco afirmar que na história da produção audiovisual capixaba não tenhamos visto tantos conteúdos sendo produzidos por realizadores negros e negras como agora. Infelizmente, refletiam-se no estado do Espírito Santo as desigualdades raciais e sociais existentes no país. Por mais que os dados

do IBGE já apontassem altos índices de uma população negra capixaba (hoje já se sabe que são 60,3% ), por muito tempo, ou quase toda história do audiovisual capixaba, tais produções insistiam numa perspectiva folclorista de nossa existência; quando não, de arquétipos e caricaturas bem conhecidos do cinema brasileiro , negando-nos a diversidade de nossa humanidade e cultura, numa perspectiva da branquitude que simplesmente naturaliza e reproduz o racismo institucional e estrutural cotidianamente na sociedade brasileira. Como afirma o advogado e professor Silvio Almeida : “O racismo é uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo ‘normal’ com que se constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia social e nem um desarranjo institucional. O racismo

35


é estrutural. Comportamentos individuais e processos institucionais são derivados de uma sociedade cujo racismo é regra e não exceção”. Mesmo diante desta constatação, vemos um cenário de jovens promissores que não recuaram, nem se intimidaram. Pelo contrário, lançaram-se a superar os desafios de uma produção audiovisual, pois muitos ainda não conseguem acessar os recursos advindos das políticas públicas para o setor. Entretanto, suas produções são das mais diversas, plurais e criativas. É daí que vem meu otimismo! diretor e também ator Edson Ferreira, que por muito tempo andou solitário sendo um dos poucos ou o único cineasta negro em atividade, ainda é o único diretor da contemporaneidade a ter lançado um longa-metragem de ficção com recursos do Funcultura, o Entreturnos (2015). Há pouco, o diretor André Félix lançou seu longa-documentário, Diante dos Meus Olhos (2017), que acompanha o cotidiano de três integrantes da banda Os Mamíferos após 45 anos de sua dissolução. Reconheçamos que há ainda muito chão para caminhar, mas, depois de muitos debates e embates, o primeiro passo foi dado: pela primeira vez na história nos editais de audiovisual do Funcultura do Espírito Santo serão adotadas políticas de ações afirmativas. Esta iniciativa teve o papel fundamental do Damballa , primeiro coletivo de profissionais negros de cinema do estado, que esteve presente nas reuniões organizadas pela ABD Capixaba pautando o tema. O grupo formado por Alexander S. Buck, Daiana Rocha, Délio Freire, Ingrid Rocha, Isabella Ferreira e por mim está em fase de sua primeira produção. O curta-metragem chamado Live, realizado com recursos e equipamentos do próprio coletivo, está previsto para ser lançado para 2020. Encontraremos a ousadia dos irmãos Gabriel Nadípeh, com seu Sob Olhos (2018), e Israel Costa, com Distorção (2017), que também passeiam entre o terror e o suspense. O diretor Alexander Buck já tem como marca a experimentação e o arrojo em seus roteiros: desde Repolho (2013), premiado em diversos festivais, a seu último trabalho lançado, HIC (2016), ouve-se que seu próximo trabalho, Práticas do Absurdo (2019), preparado para lançamento no segundo semestre, é o dos mais audaciosos. Nessa linha do experimental e do videoarte, temos o artista visual Luiz Will Gama com trabalhos que versam sobre essa relação entre ser humano e a tecnologia. Entre eles estão Inhumane (2018), Unreal (2018) e 3 Gotas (2019). As mulheres negras têm deixado uma contribuição inestimável para o audiovisual capixaba. Daiana Rocha, diretora do curta Braços Vazios (2018), que funde ficção e documentário, aborda o tema do extermínio da juventude negra pela perspectiva das mães que perderam seus filhos. Um filme forte, ao mesmo tempo sensível, vencedor do prêmio Júri Popular do 25º Festival de Cinema de Vitória. Neste ano, ela lançou Arquitetura dos que Habitam (2019), um documentário experimental realizado na Ocupação Chico Prego no antigo prédio do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI), no Centro de Vitória. Charlene Bicalho é outro nome importante desta atual safra. Artista visual, produziu a relevante websérie

36


documental Raiz Forte (2014), um projeto que ganhou grande proporção por buscar refletir sobre as intervenções capilares realizadas por mulheres negras por diferentes motivos: seja por questões profissionais, seja simplesmente por inserção a grupos sociais. Sua mais recente produção foi o videoarte Onde Você Ancora seus Silêncios? (2018). Destacamos também Hegli Lotério com o documentário Anchieta, nossa história (2015), Xis Makeda com o documentário Canto da Mulher Quilombola (2017) e Karol Mendes com seu recente curta-metragem Riscadas (2019). Há também Lavínia Kalu, que dirigiu em parceria com Roger Ghil o documentário-ensaio Fala Preta (2018), que reuniu depoimentos de mulheres pretas sobre infância, amor, autoestima e sonhos. Roger Ghil possui outros trabalhos como Viva Lekâ (2017) e A Flor Azul (2018). Destacamos outros nomes desta nova geração, como Délio Freire, com Beatitude (2015); Diego Nunes, com Do Dia em que Mudamos a Rota (2018); Marcelo Reis, com Catrina (2016) e o seu recém lançado curta Uma Noite de Crime (2019), abordando a crise na segurança pública do estado que culminou no terrível episódio da greve da Polícia Militar há dois anos. Temos também Diego de Jesus, com o documentário Impeachment (2016), que esteve presente em diversos festivais e recebeu o prêmio do Os 10 Mais - Escolha do Público do Festival Internacional de Curta-metragens de São Paulo em 2016. Seu último filme, De Volta para o Passado (2018), conquistou o prêmio de melhor filme na 5º Mostra Outros Olhares, do 25º Festival de Cinema de Vitória. Como já podemos perceber, a produção audiovisual negra capixaba é diversa. Vale o destaque de outra dupla: os irmãos Jairo Santos e Izaque Hortêncio investem na produção de clipes dentro da cena hip-hop. Não se contentando apenas com o mercado musical, lançaram seu primeiro documentário chamado Dona’s (2018), no qual propõem refletir sobre a participação das mulheres no processo de ocupação do bairro Engenharia, em Vitória. Izah Candido dividiu a direção com Wanderson Viana da websérie documental Corpo Flor

(2018). Ainda no terreno das webséries, temos o Palavra Negra, dirigido pelo autor deste texto, que chegou à sua segunda temporada este ano, bem como o lançamento do meu primeiro curta-metragem de ficção, Guri. Depois deste rápido levantamento, no qual sempre corremos o risco de deixar alguém de fora, é possível apontar as potencialidades desses diretores e de suas obras. Acredito que não seria exagero afirmar que estamos vivenciando um momento histórico no cinema e em toda e qualquer tipo de produção audiovisual capixaba. O volume e a qualidade das produções dos realizadores negros resulta da oportunidade de acesso às narrativas por quem têm legitimidade para assiná-las. E, aos que ainda insistem em contar nossas histórias, encerro com mais uma lição do mestre Sembène: “Estamos no cinema para ensinar a nos verem. Ensinar a quem? A quem insiste em contar a nossa história”. 1 Jornalista, cientista social e cineasta, é mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Espírito Santo com a dissertação “Os territórios simbólicos do Cinema Negro: Racialidade e relações de poder no campo audiovisual brasileiro”, é pesquisador associado à Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) e integrante do Coletivo Damballa e da Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN). 2 SHOHAT, Ella; STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica: Multiculturalismo e representação. Tradução: Marcos Soares. São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 303. 3

Disponível no portal Afroflix: www.afroflix.com.br

Dados PNAD/IBGE divulgados, em 2017, constata-se que 60,3% da população do Espírito Santo se declara negra. 4

5 O jornalista e pesquisador João Carlos Rodrigues em seu livro O negro brasileiro e o cinema lista uma série de arquétipos e caricaturas comuns encontrados em produções cinematográficas brasileiras. São eles: Preto Velho, Mãe Preta, Mártir, Negro de Alma Branca, Nobre Selvagem, Negro Revoltado, Negão, Malandro, Favelado, Crioulo Doido, Mulata Boazuda, Musa, Afro-Baiano. 6 ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? MG: Belo Horizonte (MG): Letramento, 2018, p. 8. 7 Mais informações sobre o Coletivo Damballa: https://www. facebook.com/ColetivoDamballa/

Raiz Forte: http://www.projetoraizforte.com.br/

8

37


reportagem

A grande

tribo do audiovisual Jovens tupis-guaranis produzem cinema enquanto reinventam e fortalecem a própria cultura [ Luã Quintão ]

38


Foto: Agência Popular Raio de Luz

Karaí Djekupé, cineasta guarani

H

á cerca de meio século, o tempo soprava diferente no território hoje compreendido como Brasil. Árvores no lugar de prédios, trilhas ao invés de grandes estradas e o som da floresta não concorria com o barulho das máquinas. Ao longo da história muita coisa aconteceu. Povos foram colonizados e dizimados; paisagens e costumes passaram por diversas transformações, até chegarmos, então, ao século XXI: um momento marcado pela ascensão da revolução digital que começa a provocar grandes mudanças no comportamento humano, principalmente na forma de observar o mundo e de expressar-se. Em um pedaço remanescente de mata atlântica, dois jovens indígenas do município de Aracruz reinventam e fortalecem as suas culturas ancestrais tendo a tecnologia como aliada. O “olhar de índio” passou a se transmutar por meio de câmeras, sons e imagens digitais e o espaço virtual passou a fazer parte da realidade dos povos indígenas. “Antes era em volta da fogueira e hoje a gente pode fazer algo muito melhor, que é encenar histórias”,

relata o cineasta tupiniquim T-Kauê, nativo da aldeia Comboios, e que atualmente trabalha nas gravações de seu segundo longa-metragem. “O cinema é uma forma moderna de contar histórias”, completou. Não muito longe dali também encontramos Karaí Djekupé, um jovem guarani que está movimentando a aldeia Boa Esperança com suas produções audiovisuais. São vídeos que retratam um pouco do jeito de ser e de viver do seu povo e, por detrás das imagens, a intenção de reviver o espírito ancestral indígena. “Vejo o audiovisual como um modo de a gente reunir-se de novo, de reacender nossa cultura e de dizer que nós existimos”, disse. Apesar de aldeias e etnias diferentes, T-Kauê e Karaí utilizam o cinema como instrumento de resistência cultural, tendo em vista o passado colonizador e os rumos em que o país tem seguido ao pensar o futuro. Para ambos, as produções independentes se tornaram um jeito de trabalhar a realidade fazendo com que os próprios sujeitos se reconheçam como parte dela. Ao dar voz aos mais velhos, aos jovens e

39


Transmissão cultural e novas mídias As tecnologias digitais têm forte presença nas aldeias do Espírito Santo, principalmente entre as gerações mais novas. Câmeras, celulares, fones de ouvido, internet e mídias sociais estão cada vez mais presentes no cotidiano dos povos da floresta. Esses novos canais de telecomunicação têm sido a aposta dos produtores audiovisuais indígenas como meio de transmissão de saberes. Karaí Djekupé atua principalmente utilizando redes sociais para divulgar seu trabalho. Por meio do projeto Ayu Boatxaa, ele grava, edita e divulga vídeos que relatam saberes, músicas e lugares do povo guarani. “Na nossa cultura, somos iguais, mas apenas vivendo de forma diferente. Somos todos do planeta terra e, para nós, estamos aqui com a missão de espalhar o bem. Por isso, envolvi-me no audiovisual. Comecei fazendo pequenos vídeos com os familiares da aldeia. Depois, fui espalhando e as pessoas incentivaram bastante até que comecei a focar-me, a conhecer pessoas e a entregar-me, principalmente, com temas ligados à cultura, porque com imagens e áudio é um modo muito mais fácil de falar”. Na cultura guarani a forma ancestral e tradicional de transmitir saberes é por meio da contação de histórias, principalmente dentro da Opy - uma mistura de casa de reza e escola, onde as pessoas se reúnem toda noite para aprender e para agradecer. Por meio do projeto Ayu Boatxaa, Karaí Djekupé tem feito uso das novas mídias e do audiovisual para dar voz e disseminar os ensinamentos do povo guarani: “Minha ideia é mostrar o próprio povo da aldeia e também divulgar para outras populações um pouco da nossa cultura: como a gente trata as crianças, quais são os nossos alimentos, como é nosso dia a dia, nossas crenças, nossas lutas e sonhos”. No Youtube, o projeto Ayu Boatxaa já possui 15 vídeos publicados. Nessas produções, rostos e

40

Foto: Agência Popular Raio de Luz

às crianças das aldeias, os dois cineastas provocam interferências na cultura relembrando tradições antigas e reinventando princípios a partir do contexto de mundo moderno.

T-Kauê, cineasta tupiniquim

paisagens da aldeia Boa Esperança estão em evidência para transmitir mensagens importantes para a manutenção de seus hábitos e tradições. Em uma delas, o Txamõi Tupã Kwara - um dos mais velhos da aldeia - explica como um jovem guarani deve comportar-se em comunidade até o envelhecer. Já em outro vídeo, as crianças aparecem de mãos dadas entoando uma canção que aprenderam dentro da Opy. Audiosivual como atualização das tradições Recentemente, o cineasta independente T-Kauê gravou seu segundo longa-metragem. Bravura e Coração mistura ficção e aventura numa trama que foi filmada na restinga da aldeia Comboios. Na história, Yaruguá (Yago Francisco) vive um dilema entre o amor por Mendara (Julia Cristina) e o desejo de vingança contra Abatã (Vitor Duarte), que matou o seu irmão. “Pelo


Foto: Agência Popular Raio de Luz

fato de Yaruguá ocupar-se mais com os planos de vingança contra Abatã, está deixando de lado os sentimentos por Mendara”, completa o cineasta tupiniquim. Em meio ao tema central, há outros personagens que esquentam a aventura, como Katuí (Orlando Carlos), um kunumi que adora meter-se em confusões; Nhy’ã-Ngatu (Francismar) e Kaiuá (Cayo Francisco). “Esse filme não é no idioma tupi - a nossa língua original -, mas eu trouxe palavras, expressões simples do dia a dia, também como uma forma de motivar a nossa geração a interessar-se pelo aprendizado da língua”. Para gravar os seus filmes, T-Kauê faz uso de diversos objetos característicos da cultura Tupiniquim que, devido a todas transformações históricas e principalmente a derrubada da floresta, perderam sua funcionalidade tradicional. É o caso do arco e da flecha, instrumentos de caça e de guerra que têm o seu uso atualizado

Bastidores das gravações da ficção Bravura e Coração, de T-Kauê

quando os mais jovens passam a manuseá-los durante as encenações para os filmes. “Por isso, eu penso bem nos elementos que vou trazer em minhas histórias para que o público indígena, especialmente a nova geração, possa ser positivamente influenciado e o trabalho possa vir a resgatar o interesse e o prazer pelas atividades

41


Frame de um dos vídeos do projeto Ayu Boatxaa, de Karaí Djekupé

indígenas”, explica o cineasta. Além de roteirizar e de dirigir filmes independentes, T-Kauê é escritor, cantor, desenhista e tem publicado vídeos no seu canal do Youtube, onde fala sobre a sua cultura na língua Tupi. Ele dirigiu O Enorme Gavião (2012), curta-metragem baseado numa lenda antiga; e o longa-metragem As Faces do Coração (2015) cujo roteiro ganha continuidade na produção mais recente do cineasta. Exibido na própria aldeia e em escolas indígenas de Aracruz, esse primeiro longa narra o desafio proposto Morubixaba (o cacique da aldeia) aos jovens guerreiros. Ambicioso e com más intenções, Abatã entra na disputa. Yaruguá, o protagonista, vê o desafio como uma oportunidade para realizar sua vingança e se depara com muitas situações que testarão sua bravura e seu coração. Para T-Kauê, o audiovisual é um instrumento de luta e de resistência cultural. “Resistir a tudo que se opõe ao prevalecimento do povo indígena. Ao sistema que nos quer oprimir e extinguir-nos retirando nossos direitos em todo território brasileiro. O cinema é uma forma de mostrarmos que ainda existimos, que temos um posicionamento e não estamos alheios ao que ocorre no nosso país e que somos seres pensantes capazes de coisas grandiosas”.

42

Saiba mais: Ayu Boetxaa Facebook: https://www.facebook.com/ayuu.boatxaa Youtube: http://bit.ly/AYUBOATXAA T-Kauê Facebook: https://www.facebook.com/tiago. matheus.75470 Youtube: https://www.youtube.com/user/Tyagkaue


reportagem

Por um cinema

étnico

e popular

O professor Erineu Foerste fala sobre a importância de um cinema que registre a cultura e os saberes dos povos tradicionais [ Daniel Marçal ]

I

dealizador do projeto Pommercine - uma mostra de cinema que em 2018 celebrou as memórias de luta do Povo Pomerano, Erineu Foerste é formado em Letras pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, pósdoutor em Educação pela Universidade de Siegen, na Alemanha, e, desde 1995, é professor do Departamento de Linguagens, Cultura e Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Nesta entrevista, Erineu nos aponta para a importância do cinema étnico e popular, aquele feito basicamente pelos povos tradicionais, aqui no Espírito Santo representados pelos indígenas, pomeranos e quilombolas. Diante da lógica mercadológica que orienta a indústria do cinema, promover esse tipo de produção audiovisual é uma forma de efetivar a diversidade cultural nas telas.

43


Foto: Agência Popular Raio de Luz

Qual é o conceito de cinema étnico e de que forma esse tipo de produção contribui para o fortalecimento de uma determinada cultura? O genial filme Barravento (1969), do Glauber Rocha, ajuda-nos a pensar essa questão do cinema étnico, porque já naquela época ele tematizou pescadores e religiões africanas, trabalhando o filme a partir de culturas e de conhecimentos de sujeitos bastante invisibilizados na sociedade. O conceito de cultura nos vai ajudar muito a pensar o que é um cinema étnico, pois esse tipo de produção pesquisa e tematiza certas questões que nos remetem às culturas e às identidades de povos tradicio-

44

nais. A gente percebe que as culturas e os conhecimentos desses sujeitos, de certa maneira, ajudam-nos a problematizar o rumo das coisas na atual conjuntura do nosso país e do mundo e que o progresso é que destrói a natureza e a vida. Eu diria que filme étnico, ou documentário, são estudos que traduzem em linguagem fílmica as culturas, as identidades e os conhecimentos de grupos sociais invisibilizados dentro de um projeto de sociedade que nega os povos autóctones e os povos e as comunidades tradicionais. A Lei nº 10.639, de 2003, desafia o Brasil a pensar um projeto de educação que introduza no currículo escolar a história e as culturas dos afrodescendentes, então temos o Estatuto da

Igualdade Racial (Lei nº 12.288 de 2010) que retoma e reafirma essa questão. Acontece que em 2001, exatamente no dia 31 de agosto, aconteceu em Durban, na África do Sul, em função de todo o debate internacional sobre o apartheid, um encontro internacional da igualdade étnico-racial, saindo de lá a Declaração de Durban, que coloca o desafio de nós pensarmos um projeto que promova a igualdade étnico -racial. A produção de filmes e de documentários coloca isso de uma maneira muito apropriada para nós promovermos esse debate tão relevante no nosso país, provocando a sociedade como um todo a refletir sobre essas culturas e conhecimentos e a defender políticas públicas junto com esses povos e comunidades. Qual a diferença entre o cinema de massa e o cinema com teor popular?


Existem muitos tipos de cinemas. Se a gente for pensar na diversidade do nosso país Brasil, nós podemos falar em cinema ecológico, cinema urbano, cinema rural, assim como falamos em cinema étnico e, claro, também existe o cinema de massa, que é aquele que visa muito a atender um gosto que passa longe de certos critérios artísticos ou estéticos. Isso não pode ser confundido com o cinema popular, que é quando o povo se desafia e se deixa ser desafiado a produzir filmes e documentários a partir de temas e discussões de interesses do próprio povo. Assim como falamos em educação popular, que é aquela que nasce das bases, dos saberes e das culturas do povo e é organizada por ele, podemos aplicar isso também ao cinema popular. Nos filmes e documentários étnicos, os atores são os próprios sujeitos das comunidades e acaba sendo um trabalho de muita pesquisa e de partilha de conhecimentos e das culturas. Essa forma de fazer cinema está em ascensão? Temos percebido que o mercado se apropria de tudo que nós produzimos, seja no campo material, seja no campo simbólico. E não é diferente com o cinema. Por que será que

certos temas são mais recorrentes e acabam atraindo um público muito grande e, quando olhamos os filmes e sua produção, estes são de baixa qualidade, enquanto aquelas produções que tratam de temas épicos e de grandes problemáticas da vida humana e do nosso tempo são filmes bastante raros? Então, vejo que está em voga e que tem sido muito mais valorizado um determinado gênero de cinema que atende muito mais ao gosto do consumo do que à questão estética e do prazer de assistir a um bom filme de uma obra épica e grandiosa do cinema. O que pode ser feito para que essas produções ocupem cada vez mais espaços? O interesse por esse tipo de filme é crescente, sobretudo, nos contextos locais. Precisamos de políticas públicas municipais, estaduais e federais não só para a exibição de filmes e documentários étnicos, mas também para a produção desses materiais alternativos. Isso tem a ver com todo um movimento da sociedade de resistência em um tempo de grandes perdas de direitos sociais e em um tempo de riscos de uma ditadura dominar o nosso país. Dessa forma, é preciso formar as pessoas para que elas busquem cada vez mais produzir, divulgar e assistir a esse tipo de material alternativo no campo do cinema.

Como incentivar os criadores desse tipo de conteúdo? As políticas públicas são decorrentes de uma organização de base. Então, se há uma consciência na sociedade e essa consciência promove uma organização para conquistar certos direitos, um deles seria o da produção de obras audiovisuais que atendam aos interesses das bases e que não sejam só produções com interesses mercadológicos. Eu penso que a educação e a cultura deveriam sempre andar juntas também em relação à questão da produção de audiovisuais, porque a escola tem uma potência muito grande para formar produtores e críticos desses materiais, além de sujeitos que apreciam e assistem a filmes e a documentários alternativos. É preciso promover formação e fazer o debate de que todos nós somos capazes de usar as tecnologias, isso não precisa ficar apenas na mão do mercado. Essas produções são muito bem aceitas na sociedade. O que falta realmente são políticas públicas para ampliar essa produção e promover a sua divulgação em todos os lugares. Imagina documentários da amazônia sendo assistidos por nós, ou produções feitas aqui no Espírito Santo sobre os tupiniquins e guaranis sendo divulgados em outros lugares...

45


GESTĂƒO 2017-2019

ABD

Capixaba: em defesa do audiovisual

46


N

os últimos anos, a ABD Capixaba manteve atualizada a luta pela efetivação de políticas públicas de cultura, propôs e mediou discussões sobre os rumos do audiovisual no Espírito Santo, participou de eventos para difusão do cinema local e esteve presente nos espaços de formulação e de avaliação de políticas voltadas a esse importante setor da economia criativa. Exemplo disso foi a ativa participação da entidade na jornada que resultou na publicação dos editais voltados para o audiovisual da Secult e da Ancine, que totalizam quase R$ 12 milhões, e nas discussões que levaram à adoção de ações afirmativas nos editais, com prêmios específicos para proponentes indígenas, negros e mulheres. Esta proatividade do setor é um fato consolidado. Para Leandra Moreira, presidente da ABD Capixaba, diante de uma realidade na qual as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do audiovisual são marcadas pela descontinuidade institucional e orçamentária, é preciso reconhecer que “se houve algum progresso nos últimos anos no audiovisual capixaba, isso se deve, sobretudo, ao protagonismo do próprio setor. Trabalhamos muito para chegarmos até aqui e termos esse volume de recursos sendo destinado à produção local, porém, mesmo celebrando, temos que ter clareza que essas conquistas ainda são muito frágeis do ponto de vista institucional e político. Ainda temos muito a avançar”. Recentemente, o site da ABD Capixaba disponibilizou um levantamento com o histórico dessas quase duas décadas de existência da associação. Esse conteúdo traz informações sobre o histórico de lutas da entidade, as suas principais pautas e conquistas e os assuntos e fatos que foram destaques em todas as gestões desde a sua fundação pelo cineasta Orlando Bomfim Netto, em 2000. “Organizar e disponibilizar a memória da ABD são ações fundamentais

para darmos sentido ao nosso contexto atual. Hoje a nossa associação tem o desafio de buscar, cada vez mais, estar próxima da nova geração de realizadores. Ter essa memória acessível é uma forma de conhecer aquilo que foi construído até aqui, de darmos o devido reconhecimento àqueles e àquelas que se dedicaram a essa luta coletiva e de municiar os mais jovens para uma luta que também é deles”, explica a presidente da ABD Capixaba. Com o objetivo de difundir o audiovisual local para os próprios capixabas, a ABD foi parceira de mostras e de festivais sediados em municípios do interior do estado por meio da disponibilização de acervo, da composição de comissões de júri e da colaboração com a divulgação dos eventos. Nessa investida, contribuiu com a realização da 7ª Mostra de Curtas Araçá, iniciativa do Projeto Araçá, em São Mateus; do Festival de TV e Cinema do Interior (Fecim), em Muqui; e do Cine.Ema - Festival Nacional de Cinema Ambiental do Espírito Santo, no distrito de Burarama, em Cachoeiro do Itapemirim. Como forma de estimular o aperfeiçoamento profissional de seus associados e colaboradores, a ABD Capixaba estabeleceu parceria com o Instituto de Artes e Técnicas em Comunicação (Iatec) por meio da qual ofereceu descontos em cursos como os de sistemas de sonorização, produção de eventos e produção musical. Outros desdobramentos dessa parceria com o IATEC foi a concessão de bolsas de estudo a alguns dos realizadores premiados nas últimas edições da Mostra Produção Independente. A atual gestão chega ao fim de seu mandato reafirmando o compromisso da entidade em defender o audiovisual capixaba por meio da mobilização de realizadores e de produtores, da articulação junto ao poder público e a outras organizações da sociedade civil e do fortalecimento institucional da própria associação.

47


POLÍTICAS CULTURAIS

Audiovisual no Espírito Santo:

trabalha e

desconfia

O volume recorde de recursos públicos destinados ao fomento do audiovisual capixaba ainda não é garantia de continuidade e de aperfeiçoamento das políticas culturais voltadas ao setor [ Marcos Sacramento ]

48

O

recente lançamento dos editais para o audiovisual da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult) foi, sem dúvida, uma notícia muito aguardada pelo setor audiovisual. São recursos no valor R$ 11,9 milhões para fomentar a essa vertente da cultura por meio de 14 editais de incentivo voltados para a produção obras de diversos gêneros e formatos, formação, pesquisas cineclubismo e difusão. Apesar de ser marco na história das políticas públicas de cultura voltadas para o setor, essa cifra recorde já chega

com atraso. Tal situação evidencia que ainda há muito a ser feito para tornar a produção audiovisual do Espírito Santo uma atividade econômica e cultural sustentável. Desse total de recursos anunciados, R$ 2,39 milhões vêm do governo do estado, por meio Fundo de Estado da Cultura (Funcultura), e pouco mais de R$ 9,5 milhões são provenientes da Ancine, dentro da linha Coinvestimentos Regionais. Esse valor corresponde a mais de sete anos de investimentos no setor realizados pela Secult. Tal aporte vai impactar em quase 100 obras audiovisuais, como curtas, longas, animações e séries de TV, o que envolve diretamente inúmeros profissionais e empresas locais. Os números expressivos trazidos pelos editais deste ano e as possibilidades que eles oferecem tanto no campo criativo, com a previsão de lançamentos de realizadores capixabas nos cenários local, nacional ou mesmo internacional nos próximos anos, quanto na esfera econômica, na medida em que o audiovisual movimenta toda uma cadeia de prestadores de serviço, fornecedores de materiais e de equipamentos, colocariam o momento atual como um dos marcos nas tentativas de o poder público alavancar o audiovisual capixaba. Descontinuidade e atrasos Durante boa parte 2018 e até o início de junho deste ano, o audiovisual sentiu a ameaça do desmonte das políticas cul-


turais do atual governo federal pairar como um fantasma sobre a Ancine. Parte desse temor se deveu à instabilidade institucional que atingiu a agência reguladora a partir do ano passado quando o Tribunal de Contas da União (TCU) propôs que as verbas do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) fossem bloqueadas sob a alegação de que as prestações de contas de projetos realizados entre 2008 e 2016 não foram realizadas de forma adequada. Em março deste ano, mais uma notícia do TCU abalou o meio audiovisual e trouxe ainda mais incertezas. Por meio do acórdão 721/2019, o tribunal exigiu mudanças na fiscalização dos projetos ou a suspensão da liberação das verbas. Apesar dos impasses, os recursos foram liberados. Todo esse imbróglio, contudo, não tira a responsabilidade da Secult no atraso da publicação dos editais em parceria com a Ancine. “Ano passado, a ABD fez reuniões de fevereiro a maio e encaminhamos à Secult, via Conselho Estadual de Cultura, a proposta de divisão dos valores dos recursos da Ancine e da Secult. Em agosto, abriram as inscrições para os Arranjos Regionais. A Secult não apresentou isso em agosto, só o apresentou em setembro, ou seja, ficou um mês parada sem entregar os documentos. Em dezembro, descobrimos que o texto-base de todos os editais possuíam um equívoco: traziam uma redação pensada para um edital anterior. Dessa forma, os documentos precisavam ser corrigidos. A Secult foi ao Rio, tentou resolver isso, mas não conseguiu publicar no ano passado”, relembra Leandra Moreira, presidente da ABD Capixaba. Sem os editais, o ano de 2018 foi dado como perdido para os realizadores. “Não pode ficar um ano sem edital porque atravanca qualquer tentativa de ser realmente uma cadeia que tenha uma continuidade de produções”, lamenta o diretor Alexandre Serafini, que é membro do Conselho Estadual de Cultura. Esta descontinuidade termina, às vezes, inviabilizando de forma definitiva certos projetos que, devido às suas temáticas, perdem o timing caso não sejam finalizados no momento certo. Em vista disso, cenários incertos como o do ano passado impedem produções de saírem do papel. Do ponto de vista artístico, é um prejuízo irreversível. A produtora Ana Luiza Calmon, da LUZ Produções, também reforça o impacto negativo da ausência dos incentivos estaduais no ano passado. “Em Nina e sua Fábrica de Sonhos, curta-metragem de animação infantil que produzimos pelo edital de 2017, tivemos uma equipe de 20 profissionais envolvida desde o desenvolvimento até a finalização. Quando o setor fica um ano sem o edital de curta, por exemplo, perdemos aí oito projetos que poderiam ser contemplados e mais de 100 profissionais que poderiam estar de-

vidamente atuando na produção audiovisual, aprimorando sua experiência profissional e sendo remunerados para tal. Não só a cadeia produtiva deixa de ganhar, como também nosso estado que fica sem produções autorais a serem distribuídas em mostras, festivais e canais pelo Brasil e pelo mundo”. O fomento público ao audiovisual tem possibilitado a qualificação de empreendedores da produção independente, mas, diante dessa descontinuidade, muitos profissionais abandonam seus projetos autorais ou pequenos negócios em busca de atividades que lhes garantem mais estabilidade. Quem relata essa situação é a realizadora Juane Vaillant, da produtora Bangladesh Filmes e que também já foi contemplada nos editais da Secult: “Infelizmente, a gente se apoia muito no Estado para viabilizar a nossa produção.

49


Quando os editais atrasam, também atrasa a vida dos produtores de audiovisual. Com isso, muitos desses profissionais acabam procurando empregos formais ou em outros lugares devido a esses atrasos que comprometem o planejamento de carreira deles”. Considerando que o edital lançado neste ano é referente a um processo iniciado no ano passado, seria possível, em tese, lançar mais um edital ainda em 2019 com recursos da Secult para efetivar o que havia sido previsto em orçamento para os editais em 2018. O secretário Fabrício Noronha não descarta esta possibilidade. “É uma decisão que precisamos tomar junto com o setor entendendo nossa capacidade histórica de investimento de um milhão e poucos, dois milhões. Se o setor achar que devemos investir apenas R$ 2 milhões ou esperar um pouco para fechar o ciclo da agência nacional e ela possa coinvestir novamente de 1 para 4, nós aguardamos”, explica. Passivo histórico Este episódio de 2018 não foi o único em que a gestão estadual claudicou ao buscar recursos junto à agência de cinema. Nos anos de 2015 e 2016, a falta de zelo ao observar as regras dos editais do então chamado Arranjos Regionais fez com que o Espírito Santo captasse menos recursos do que tinha direito. Na época, a Secult deixou de acessar toda a cota disponível para o Espírito Santo por considerar que o fator multiplicador de 1,5 fosse válido apenas para o investimento local em longas-metragens quando valia inclusive para os editais para curtas-metragens. Assim, em 2015, a Secult injetou R$ 1.929.630,00 no audiovisual e captou R$ 750 mil junto ao FSA. No ano seguinte a secretaria

destinou R$ 1.936.000,00 e recebeu R$ 855 mil do FSA. Por ter considerado somente os longas, a secretaria deixou de receber do FSA R$ 1.309.500,00 em 2015 e R$ 1.279.500,00 no ano de 2016. Foram R$ 2.589.000,00 a menos só porque a Secult não conhecia as regras da Ancine de forma detalhada. Com todo este passivo histórico, é natural que realizadores fiquem com um “pé atrás” a respeito do futuro do audiovisual capixaba. “Mesmo com os editais, é preciso ter outras políticas diretas que sejam incentivos aos festivais para circularem as produções, que sejam formação ou oficinas, não só por edital, porque as coisas precisam ter continuidade e não só ficar sempre começando, nessa sensação de estar-se sempre começando”, diz Serafini. Quando questionado a respeito desses acontecimentos, no caso a ausência de edital em 2018 e o equívoco na captação de recursos federais nos anos anteriores, o secretário Fabrício Noronha afirmou que a Secult está buscando maneiras de aperfeiçoar a gestão para que esses problemas não se repitam. Em resposta a uma demanda antiga do setor audiovisual, que tratava da importância de existir na Secult um departamento voltado exclusivamente para o audiovisual que pode ter contribuído para os erros do passado, já foi corrigida. A Secult, agora, tem uma coordenação de audiovisual dentro da Gerência de Economia Criativa: “Nós temos uma perspectiva muito transversal no olhar para a cultura, então não é muito o nosso objetivo ter essas ‘caixinhas’, mas o audiovisual por outro lado demanda um olhar especial diante do fato de ter um investimento importante do governo federal e de ser um setor que impacta muito forte na economia e nos outros setores da cadeia da criatividade e da cultura”. Ainda segundo Noronha, a continuidade das ações é uma das preocupações da atual equipe à frente da Secult: “Acho importante a gente começar a pensar e a discutir políticas públicas de cultura para além dos editais. Os editais são consolidados, são bacanas, mas a gente tem também que pensar em outras políticas, pensar políticas de distribuição, de formação profissional e empreendedora e de formação de profissionais e de produtores da cultura, que é outro gargalo que nós temos”. Entre essas outras possibilidades, está a movimentação para a criação de uma Lei de


Audiovisual. A iniciativa partiu do Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado do Espírito Santo (Sinaes) em articulação com a Findes e foi apresentada ao governo do estado para apreciação e sugestões. Caso seja viável, o passo seguinte é o Poder Executivo enviar um projeto de lei à Assembleia Legislativa. “A Lei do Audiovisual é uma iniciativa que trabalha sobre o ICMS e, assim como em estados correlatos da nossa região, permite que parte do nosso ICMS possa ser investido na produção audiovisual. É uma iniciativa que, além de possibilitar a produção audiovisual, fecha uma cadeia da economia porque boa parte desses recursos, cerca de 40%, é dedicada a transporte, alimentação e estadia de pessoal. Isso aquece a economia como um todo”, explica Carlos Magno. Em relação a esse projeto, a Secult está estudando a dinâmica da lei em outros estados e tem dialogado a respeito com o Sinaes. Apesar dos ares de bonança representados pelos quase 12 milhões em editais, o setor precisa enfrentar alguns gargalos. O realizador Vitor Graize, da produtora Pique-Bandeira Filmes, elenca alguns deles: “Não temos centros culturais dedicados ao audiovisual, estímulo a salas de cinema pequenas, de rua, para exibição, não tem uma film commission, não tem nenhum tipo de ação pensada, planejada e discutida para além dos editais do Fundo de Cultura. O que deveria ser feito era um investimento em um espaço edificado, público, dedicado ao cinema e ao audiovisual, um centro de referência do audiovisual com sala de exibição, espaço de formação, que tivesse uma estrutura para receber eventos e promover atividades de formação”. Graize lembra inclusive da necessidade de pensar-se em formas de preservação de acervo que possam tanto conservar o patrimônio cultural quanto mostrar para as novas gerações trabalhos fundamentais como os curtas dos anos 60 e os longas dos anos 80 e 90. “Hoje, há lacunas da produção cinematográfica do Espírito Santo de produções que se perderam devido à falta de uma política clara de preservação”. Pesquisa ES Criativo A falta de dados a respeito do segmento do audiovisual no Espírito Santo pode ser atenuada com os resultados da Pesquisa ES Criativo promovida pelo Instituto Jones dos Santos Neves em parceria com a Setades. Foi

iniciada no ano passado com a justificativa de “prover informações que auxiliem a formulação de políticas públicas focadas no setor criativo do Espírito Santo” e abordou as atividades de artesanato, gastronomia, audiovisual e tecnologias da informação e comunicação. Em relação ao audiovisual, o coordenador da pesquisa, Victor Toscano, explicou que é um “braço importante” no contexto da economia criativa e que a pesquisa serviu para entender melhor essa cadeia tanto em relação às fragilidades quanto às potencialidades. Para a presidente da ABD Capixaba, Leandra Moreira, a pesquisa tem algumas fragilidades. “Há um equívoco em relação aos dados, eles consideram telejornalismo como audiovisual. Na semântica, no conceito explícito da palavra, tudo que tenha áudio e vídeo é audiovisual, mas telejornalismo não é considerado o audiovisual que a Secult fomenta, por exemplo. Por exemplo, não existe pesquisa sobre técnicos de som e estão preocupados com locadoras de DVD quando estamos falando do mercado de streaming”. Segundo Victor Toscano, como metodologia, utilizaram referências da Ancine que segundo ele consideram o telejornalismo um segmento do setor audiovisual. Quanto a constar itens obsoletos, como as videolocadoras, Toscano explica que assunto foi abordado pelo falo de o estudo referir-se a um intervalo de dez anos e de, consequentemente, compreender períodos em que a venda e a locação de DVDs tinham importância na economia. Resultados parciais da pesquisa foram apresentados em maio durante o encontro Imersões da Cultura: Rumos do Audiovisual Capixaba. A previsão é que o relatório final a respeito do setor do audiovisual seja publicado ainda neste ano. “Espero que não seja só uma pesquisa e que realmente seja feito um acompanhamento do que vai acontecer daqui para a frente porque o mercado é muito dinâmico. Vamos ter recursos para fazer série; nunca aconteceu isso antes, então, qual vai ser o impacto disso? Há um tempo houve um diagnóstico do audiovisual que no fim deu um livro que não foi apresentado”, afirma Alexandre Serafini. A pesquisa feita no passado, à qual o realizador se refere, foi iniciada em 2009 pela Secult junto com o Sebrae-ES e a PUC do Rio.

51


Funcultura

Uma

década

do funcultura

s de blica visual ú p s io ica o aud de polít a s r i a a ais p da a fim incip as pr nçou edit d çoa a Um erfei o la p r ã ] a n r a r ento seto se o e d v cram e cultu a o S t d s n e co me 018 [ Mar resci em 2 c o a der aten

52


N

o ano de 2008 foi publicada a Lei Complementar nº 458/2008, cujo texto informava a criação e as regras do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo, o Funcultura. De 2009, ano do lançamento do primeiro edital, até 2018, foram exatamente 3.223 projetos voltados para a produção e a divulgação de produtos culturais das mais diversas áreas, como música, teatro, literatura e audiovisual. Nesses dez anos, de acordo com dados levantados até julho de deste ano, foram investidos pelo governo o total de R$ 69.551.097,42. Corrigida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) referente a janeiro de 2019, a quantia significa R$90.835.200,51 em valores atuais. Desse total, R$ 20.475.804,14, já corrigidos pela inflação, foram destinados a iniciativas do audiovisual, contemplando o total de 300 projetos. Quando analisados ano a ano, os números destinados ao audiovisual ficam mais modestos com a média de dois milhões por ano. A verba fica abaixo de estados que, em tese, têm menos capacidade de investimento que o Espírito

Santo, como Pernambuco e Ceará, que, a despeito do PIB per capita menor que o do Espírito Santo, conseguiram promover uma cadeia do audiovisual que está anos à frente da capixaba. Mesmo com as limitações, o número de projetos financiados pelo fundo vem crescendo a cada ano. Na primeira edição foram sete projetos contemplados enquanto que na última, em 2017, foram 54, com o recorde de projetos registrados em 2013, com 60 beneficiados. No ano de 2018 não houve lançamento com a verba sendo destinada aos editais de 2019 lançados dentro do programa de Coinvestimentos da Ancine. O atraso justamente na décima edição do edital, número simbólico que convida a comemorações ou balanços, serviu para mostrar o quanto o Funcultura e por extensão as políticas públicas para o audiovisual do Espírito Santo precisam avançar. Um levantamento dos dados desses dez anos do Funcultura está sendo feito pela Secult em parceria com o Instituto Jones do Santos Neves e com a Secretaria de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades). Com previsão de entrega de um relatório parcial no fim deste ano e dos resultados parciais em 2020, o estudo tem como objetivo pesquisar o impacto do fundo ao longo de uma década e aprimorar ferramentas para análises futuras.

53


tve

TVE ES

uma janela para o audiovisual do

Espírito Santo

Importante difusora da produção do Espírito Santo, a emissora tem ampliado a veiculação de conteúdos locais em sua programação e, de forma inédita, viabilizou o pré-licenciamento de projetos de audiovisual que concorreram aos editais Secult/Ancine [ Marcos Sacramento e Paulo Gois Bastos ]

54


A

promessa de dias melhores para a produção audiovisual do Espírito Santo sinalizada pelos editais da Secult em parceria com a Ancine chegou à TV Educativa do Espírito Santo (TVE-ES). Em agosto deste ano, a Rádio e Televisão Educativa do Espírito Santo – RTV-ES, à qual a TVE-ES é subordinada, regulamentou o procedimento para apresentação de projetos de obras audiovisuais destinadas ao mercado de televisão com o objetivo de pré-licenciamento que viabilizou a inscrição de projetos nos editais Secult/2019 nº 011 e nº 012, ambos voltados à produção de obras audiovisuais destinadas ao mercado de televisão, por meio da Instrução Normativa nº 01/2019. O fomento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) à produção audiovisual para o mercado televisivo exige que os projetos possuam o pré -licenciamento de primeira licença de exibição da obra com programadora ou emissora de TV. Diante dessa exigência, a TVE-ES passou a ser procurada por muitas produtoras com o objetivo de firmar contrato de pré-licenciamento para seus projetos. Devido a esse aumento na procura, a RTV publicou Instrução Normativa para regulamentar o procedimento de apresentação de projetos culturais destinados ao mercado de televisão, o que em certa medida praticamente viabilizou o prosseguimento dos dois editais citados: dos 16 projetos inscritos nos dois editais nº 011 e nº 012 da Secult/2019, 14 fizeram uso da Instrução Normativa. Em novembro deste ano, pela primeira vez, a TVE-ES firmou dois contratos de pré-licenciamento com produtoras locais para a realização de projetos que foram contemplados pelo edital nº 12 Secult/2019: Memórias de uma Guerra Suja, da produtora Cinco Cinco Cine, e Ser Mulher, da produtora Expurgação. Ação inédita na política pública de cultura, tal medida possibilitará o investimento direto de recursos federais para o Estado na ordem de R$ 1.050.000,00 em di-

versos setores da economia criativa e deverá gerar emprego e renda em postos de trabalho que exigem alta qualificação e criatividade. Melhora na programação Outro avanço empreendido pela TVE-ES é o incremento do audiovisual produzido em terras capixabas na programação da emissora, que tem dado espaço, principalmente, para projetos que contaram com recursos públicos para a sua realização. Uma das metas, conforme explica o diretor presidente da RTV-ES, Igor Pontini, é aumentar a programação da emissora com a ampliação de produção de conteúdo próprio e de conteúdo de terceiros: “Temos uma produção audiovisual independente consistente no estado e que está fora da programação da TVE. O Funcultura está completando 10 anos, o setor audiovisual se profissionalizou e o número de produções audiovisuais cresceram exponencialmente nos últimos anos. Além do Curta Vídeo, que historicamente cumpre a missão de exibir a produção local, estamos ampliando a janela de exibição dos conteúdos de cinema e também conteúdos em outros formatos. Com a estreia dos programas Cineclube TVE, Solta o Som, TBT Memória TVE e outros programas produzidos por instituições de ensino e produtoras independentes, nós mais que dobramos a exibição semanal de conteúdo local”. Uma das prioridades da atual gestão da RTV-ES é a exibição de conteúdos produzidos por terceiros e recentemente aderiu ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro (Prodav) TVs Públicas, por meio do qual tem acessado conteúdos independentes e regionais que são destinados à exibição em emissoras de TV do campo público.

55



Mostra Competitiva Mostra Paralela PrĂŠ-Mostra e PĂłs-Mostra


Mostra Competitiva 90 Rounds

(documentário, 8’, 2019, classificação: livre) Realizado por estudantes acolhidos pela Associação Diacônica Luterana, no Distrito de Serra Pelada - Afonso Cláudio, sendo realizado por adolescentes e participantes de uma Oficina de Documentário promovida pelo Projeto Olhares - Cultura e Meio Ambiente. O filme aborda a relação do ser humano com o meio ambiente, valorizando ao patrimônio natural a partir das vivências de um agricultor que reside nas proximidades Pedra dos 3 Pontões. Aonde também, vive uma Águia Chilena, conhecida por guardiã dos 3 Pontões. Direção: dos participantes da Oficina do Projeto Olhares/Estudantes da ADL; Roteiro: Projeto Olhares; Direção de Produção: Coletiva - Oficina de Doc; Produção Executiva: Luciano Guimarães; Trilha Sonora: Jaceguay Lins CD Melodiário / Execução - Orquestra Filarmônica do ES e Coral da UFES.

(documentário, 19’26”, 2019, classificação: 12 anos) O cotidiano de Mc Noventa, um jovem rimador da periferia de Vitória que tenta dar certo no mundo do rap depois de fazer sucesso na internet participando de Batalhas de Rima.

Bate Paus

Direção, Roteiro e Montagem: João Oliveira e Juane Vaillant; Direção de Produção: Juane Vaillant; Produção Executiva: Isabella Mariano; Empresa Produtora: Bangladesh Filmes; Direção de Fotografia: João Oliveira; Som Direto: Juane Vaillant; Elenco: Mc Noventa, César Mc, Dudu Mc, Elessandra Marques e João Victor Wanzeller; Edição de som e Mixagem: Marcus Neves.

A Guardiã dos 3 Pontões

(documentário, 13’, 2004, classificação: livre) A perseguição sofrida pelos pomeranos e seus descendentes no Espírito Santo, durante a Segunda Guerra. Direção e Roteiro: Jorge Kuster Jacob; Direção de Produção e Produção Executiva: Beatriz Lindenberg; Empresa Produtora: Instituto Marlin Azul; Direção de Fotografia: Leonardo Gomes e Adriana Jacobsen; Som Direto: Leonardo Gomes, Ylênia Silva e Rogério Athaíde;

58


Montagem: Adriana Jacobsen; Edição de som: Estúdio Nova Arte.

Braços Vazios

Direção, Roteiro e Montagem: André Ehrlich Lucas; Direção de Produção: Lívia Pegneau; Direção de Fotografia: William Sossai; Som Direto: Greco Nogueira; Direção de Arte: Joyce Castello; Edição de Som e Mixagem: Audiorama.

Corpo Flor WebDoc

(ficção, 16’, 2018, classificação: 14 anos) Vera é uma mãe que perdeu seu filho, Carlos, de forma trágica. Ela não consegue se recuperar do trauma e se apega às lembranças numa tentativa de amenizar seu sofrimento. Até que um dia Vera encontra um bilhete que a obriga a fazer uma escolha.   Direção, Roteiro e Direção de Produção: Daiana Rocha; Produção Executiva: Adriano Monteiro; Direção de Fotografia: Sara Barahona; Som Direto: Lygia Machado; Direção de Arte: Ana Pagani; Elenco: Léia Rodrigues e Sandra Chagas; Montagem: Carol Covre; Edição de Som e Mixagem: Gisele Bernardes; Trilha Sonora: Esteban Viveros.

Casa de Vó

(documentário, 14’, 2018, classificação: livre) Web-documentário que pretende construir diálogo com pessoas que se organizam cultural e politicamente na contramão de imposições de gênero, sexualidade e comportamento, todas atravessadas pela negritude. Direção e Roteiro: de Izah Candido e Wanderson Viana; Direção de Produção: Larissa Azevedo; Produção Executiva: Izah Candido; Direção de Fotografia: Eriton Ribeiro; Som Direto: VIctor Neves; Direção de Arte: Castiel Brasileiro; Elenco: Mauro Sérgio e Izah Candido; Montagem: Shay Peled; Edição de Som: Gisele Bernardes.

Da Curva pra Cá

(ficção, 16’, 2019, classificação: 16 anos) Meu filho vem com o garotinho dele passar uns dias aqui, e eu tô precisando de uma menina que goste de criança que trate bem ele e que possa tomar conta dele.

(ficção, 19’, 2018, classificação: livre) Dizem que, quando você está sonhando, a única forma de descobrir se é um sonho é acender a luz.

59


Mostra Competitiva Direção, Roteiro e Montagem: João Oliveira; Direção de Produção: Juane Vaillant; Produção Executiva: Lívia Egger; Empresa Produtora: Bangladesh Filmes; Direção de Fotografia: Francisco Xavier; Som Direto: Fernando Paschoal; Direção de Arte: Raphael Araújo; Elenco: Josué Corrêa Silva, Eliene Thomas, Felipe Soul, Patrick Views e Marcos Oliveira; Edição de Som e Mixagem: Marcus Neves; Trilha Sonora: Jone BL; Assistente de Direção: Carol Covre; Produção Local: Carlos Abelhão; Preparação de Elenco: Roberta Portela; Assistente de Som: Iago Amaral; Edição de Cor e Finalização: Willian Rubim; Assistentes de Fotografia: Pedro Monteiro e Caio Fabricius; Assistente de Arte: Karolynne Alves; Storyboard: Isabela Bimbatto; Fotografia Still: Nunah Alle; Design e Identidade Visual: Rayza Mucunã.

Do Dia em que Mudamos a Rota

Dona`S

(documentário, 18’14”, 2018, classificação: livre) Dona’S é um documentário de 18m14s que busca contribuir para o conhecimento e o reconhecimento da participação feminina no processo de ocupação do bairro Engenharia, Território do Bem - Vitória ES. Mais do que isso, destaca-se o protagonismo quase invisível de mulheres que deslocavam-se entre o espaço familiar e público, na luta pela dignidade junto a seus familiares e amigos. Direção, Direção de Produção, Montagem e Edição de Som: Viella Films; Roteiro e Direção de Fotografia: Marly Rodrigues; Elenco: Dona Ana Maria, Dona Edina, Dona Irene, Dona Alice e Dona Lourdes; Trilha Sonora: Ana Campos e LiteralRua.

Eu, Mulher

(documentário, 9’58”, 2018, classificação: livre) Um breve relato da população de Jardim da Penha, bairro que abraça o aeroporto de Vitória, no dia em que descobrimos que a rota dos voos irá mudar. Direção, Roteiro, Produção Executiva e Edição de Som: Diego Nunes; Direção de Produção: Aline Alves; Direção de Fotografia: Tati Hauer; Som Direto e Montagem: Bárbara Ribeiro; Elenco: Derly Nunes, Adriane Nunes, Marianni Taufnner e Breno Scardua; Trilha Sonora: Arian Motta.

60

(documentário, 15’50”, 2015, classificação: livre) O documentário narra histórias de opressões e limitações vividas por mulheres trans, da infância à vida adulta.


Direção, Roteiro e Produção Executiva: Adryelisson Maduro; Direção de Produção: Bipe Couto; Direção de Fotografia: Dayana Cordeiro; Som Direto: Caio Teixeira, Cyntia Paulino, Igor Ferreira, José Antonio Monteiro e Thais Pereira; Elenco: Julia Santigliani, Mel Rosário e Viviana Corrêa; Montagem: Julia Galdino; Edição de Som, Mixagem e Trilha Sonora: Henrique Paoli.

Trilha Sonora: Benedito Party - Zeff Matieli, IFÁ Afrobeat - Afro-Beat Virús e Greco Nogueira.

Ilhéu

Guri (Documentário, 12’27”, 2018, classificação: livre) Ilhéu nasce do convívio diário do morador de uma cidade-ilha com sua paisagem natural de sua capital: cercada de mar. Mesmo com inúmeras alterações em sua geografia, a cidade se mantém ilha, mas, seu morador se mantém “Ilhéu”? Desde o início a inquietação que moveu esse trabalho se dava em questionar como se sente um morador da ilha em distintos pontos da capital, onde a distinção entre os quatro agentes sociais que compuseram o documentário fosse exatamente as nuances que moldaram e deram voz ao nosso “Ilhéu”.

(ficção, 12’44”, 2019, classificação: livre) Victor é um menino de 12 anos que sonha em vencer um campeonato de Bolinha de Gude do seu bairro, porém um obstáculo inesperado surge no seu caminho. Direção e Roteiro: Adriano Monteiro; Direção de Produção e Produção Executiva: Daiana Rocha; Empresa Produtora: BULE Estúdio Criativo; Direção de Fotografia: Franscisco Xavier; Som Direto: Natália Dornelas; Direção de Arte: Castiel Vitorino; Elenco: Wesley Silva, Rejane Faria, Joaquim Marques Rosa de Novais, Kauã Golfeto Escodino, Marina Maciel Vargas, Lucas Ricardo Assunção Rangel, Assíria Vitória Fernandes Silva, Markus Konká, Margareth Galvão e Leonardo Patrocínio; Montagem: Alexander S. Buck; Edição de Som e Mixagem: Greco Nogueira;

Direção, Roteiro e Montagem: Henrique Gaudio e Stella Ulhôa; Direção de Produção e Produção Executiva: Stella Ulhôa; Direção de Fotografia: Jéssika Oliveira; Som Direto, Direção de Arte e Mixagem: Henrique Gaudio; Elenco: Laura Correa da Silva, Luiz Carlos Coelho (Caliu), Rogério Leonel da Silva (Pirão) e Rosane Pereira Da Silva; Edição de Som: Ives Pádua; Trilha Sonora: Saulo Romão; Assistente de Produção Executiva: Erick Braga e Glaciel Davis; Produção: Anderson Hoffman, Erick Braga, Glaciel Davis, Henrique Gaudio, Jéssika Oliveira e Luís Gomes; Mídias Sociais: Jéssika Oliveira e Luís Gomes; Imagens: Jéssika Oliveira e Stella Ulhôa; Captação de Áudio: Anderson Hoffman, Erick Braga, Glaciel Davis e Henrique Gaudio; Edição de Imagem: Igor Silva e Stella Ulhôa; Colorização: Leonardo Souza; Design Gráfico e Finalização: Igor Silva.

61


Mostra Competitiva Inhumane I

feminino diante de suas batalhas e de seus anseios. Um filme baseado em obras de grandes autoras feministas dos nossos tempos. Liberdade trás através da sensibilidade a essência do que é ser mulher e da nossa busca por liberdade de tudo aquilo que nos prende e de tudo aquilo que nos faz ser o que não somos. Liberdade! Direção, Roteiro, Direção de Fotografia, Montagem e Edição de Som: Géssica Amâncio; Direção de Produção e Elenco:Thais Fernandes.

Maria & Ela (experimental, 19’11”, 2018, classificação: livre) O vídeo dialoga sobre o processo de desumanização que a sociedade está vivendo nas últimas décadas. As novas tecnologias nos aproximam ou nos distanciam? As relações pessoais estão sendo administradas por códigos binários, algoritmos, curtidas e número de seguidores. Quais serão as consequências dessa administração não humana? INHUMANE I dialoga sobre o poder das tecnologias na vida de um casal, mas também de certa forma nas nossas vidas. Trata-se de uma construção poética sobre o assunto. Direção, Roteiro, Direção de Produção, Direção de Fotografia, Montagem, Edição de Som e Mixagem: Luiz Will Gama; Produção Executiva: Elisa Coradini; Direção de Arte: Lilia Portilho; Elenco: Henrique Tavares e Isa; Trilha Sonora: Gimu.

Liberdade!

(animação, 1’59”, 2018, classificação: 10 anos) Baseada em fatos reais, Maria & Ela narra uma história muda entre a amizade entre espécies, uma criança humana e uma vaca, assim como mostra de forma poética e minimalista a triste realidade das vacas leiteiras, e que como um simples sentimento faz diferença na vida dela em um ser que não tem direitos. Direção, Roteiro, Direção de Produção, Produção Executiva, Empresa Produtora, Direção de Fotografia, Som Direto, Direção de Arte, Montagem e Edição de Som: Gianni Aparecida Arruda Tissi.

Meninas

(experimental, 05’, 2017, classificação: livre) Liberdade! esse é um grito de expressão do

62

(Ficção, 9’48”, 2017, classificação: livre)


Maria Carolina Finamore Santos ama Lucas de Souza Altoé. Direção: Ana Cristina Murta e André Ehrlich Lucas; Roteiro: Ana Cristina Murta; Direção de Produção: Bob Redins; Empresa Produtora: Sizenando Filmes; Direção de Fotografia: Patrick Tristão; Som Direto: Greco Nogueira; Direção de Arte: Rosana Paste; Elenco: Maria Elis Ribeiro, Nina Negri, Barbara de Munno Costa e Elis Barreira; Montagem: Tina Saphira; Edição de Som e Mixagem; Alexandre Barcelos; Trilha Sonora: Duarte; Ilustrações: Ianah Maia.

Minhas Horas com Camomila

Elenco: Patricia Pichamone, Fernanda Bighi, Nélia Lobato, Livia Vieira e Maria da Glória Dutra; Edição de Som, Mixagem e Trilha Sonora: Marcel Dadalto; Maquiagem: Bru Simões; Figurino: Pólen Sartório; Chefe de Maquinária: Sefas Baptista; Color Grading: Matheus Costa; Assistente de Arte e Maquinária: Deilson Lourenço; Assistente de Arte: Marcela Mattos; Assistente de Produção: Mariana Candido; Primeiro Assistente de Câmera: Pedro Monteiro; Segundo Assistente de Câmera: Syã Fonseca; Contra Regra: Wesley Cordeiro; Produção de Arte: Juranda Alegro; Eletro: Rafael Magrão + Rodrigo Cunha; Still / Vitória: Anderson Café.

Morenna - Blá blá blá

(ficção, 15’, 2018, classificação: 10 anos) Minhas Horas com Camomila é uma alegoria sobre a condição feminina. Desde a antiguidade as mulheres usam a Camomila para curar corpo e alma. Seu nome original é Matricaria e significa útero. Em um universo particular e solitário, uma mulher habitada por múltiplas personalidades está aprisionada pela repetição de padrões sociais decadentes. A cada dia ela busca através de rituais alguma espécie de alívio e conexão. Direção, Produção Executiva, Direção de Arte e Montagem: Tati Rabelo & Rodrigo Linhales; Roteiro: Léo Alves; Direção de Produção: Marcela Mattos; Empresa Produtora: Mirabólica; Direção de Fotografia: Yury Aires; Som Direto: Greco Nogueira e Hugo Reis;

(videoclipe, 2’44”, 2019, classificação: livre) Força, coletividade e ancestralidade são as palavras de ordem na construção visual da música. Direção, Roteiro e Montagem: Júnior Batista; Direção de Produção e Produção: Maria Grijó;

63


Mostra Competitiva Produção Executiva e Trilha Sonora: Morenna; Direção de Fotografia e Color Grading: Willian Rubim; Elenco / Convidados: Maria da Glória, Lígia Rodrigues, Ana freire, Nicolly Dalprá, Júlia Vasconcellos, Agda Feller, Jessica Vago, Lory Bascimento, Afrikanshine, Mika Brandão, Jackie Orochi e Jairo Hortêncio; Assistente de Direção: Melina Leal Galante; OP de Steadicam: Pedro Monteiro; Eletricista: Matusalém; Assistente de Elétrica: Mateus Noronha; Still: Bruna Nascimento e Andrew Gabriel; Make e Hair: Rafael Machado; Make Equipe: João Jesus; Nagô: Rastafari; Figurino: Morenna; Stylin: Heberth Portilla; Costureira: Luciene Nunes; Jóias: Diferolla; Lingerie: Lecci Lingerie; Coroa: Castiel Vitórino Brasileiro; Agradecimentos: Mel Senna e Rhuan Carlos.

O Que Resta da Imagem

(documentário, 15’35”, 2018, classificação: livre) Entre os anos de 1930 e 1960, um fotógrafo fez os primeiros registros da vida dos pomeranos no interior do Espírito Santo. Suas imagens ainda ecoam nas lembranças dos moradores de uma vila, que contam suas histórias a partir desses registros. Nesse documentário, imagem é memória. Direção, Roteiro e Direção de Arte: Rafael Wolfgramm; Produção Executiva: Beatriz Lindemberg;

64

Empresa Produtora: Instituto Marlim Azul; Direção de Fotografia: Rafael Mazza; Som Direto: Greco Nogueira; Elenco: Alberto Stange, Herta Seibel Schulz, Irma Seibel, Martinho Seibel, Matilde Velten Seibel, Nita Holz Wolfgramm e Rosalina Velten Stange; Montagem: Fernanda Rondon; Edição de Som e Mixagem: Bernardo Gebara; Trilha Sonora: Martinho Seibel.

Olhares: Patrimônio Natural e Cultural de Afonso Cláudio

(animação, 3’, 2019, classificação: livre) A animação foi realizada por meio do Projeto Olhares - Cultura e Meio Ambiente a partir de uma Oficina de Animação desenvolvida no Município de Afonso Cláudio com participação de alunos e alunas da Associação Diacônica Luterana. Sendo o filme, realizado pelos alunos e alunas, com orientação do Educador Bruno Cabus. O filme aborda cenários e personagens que compõe a rica diversidade do Patrimônio Natural e Cultural de Afonso Cláudio. Direção, Roteiro e Direção de Fotografia: alunos da Oficina de Animação do Projeto Olhares; Direção de Produção, Montagem e Edição de Som: Bruno Cabús; Produção Executiva: Luciano Guimarães de Freitas.

Os Mais Amados (ficção, 28’, 2018, classificação: 12 anos) O mundo acaba e Emanuel é deixado para trás. Quando João aparece em seu abrigo, Emanuel precisa guiá-lo até o lugar da passagem: o portal que leva os merecedores à eternidade. Emanuel


está desesperado para ascender, mas João desafiará o direito do mestre ao paraíso. Uma adaptação queer-cristã do Apocalipse: Livro das Revelações.

Direção e Roteiro: Rodrigo de Oliveira; Direção de Produção: Bob Redins; Produção Executiva: Vitor Graize; Empresa Produtora: Pique-Bandeira Filmes; Direção de Fotografia: Lucas Barbi; Som Direto e Edição de Som: Hugo Reis; Direção de Arte: Joyce Casello; Elenco: Rômulo Braga, Fagner Soares, Suely Bispo, Alberto Contarato, Gracielle Monteiro, Alê Bertoli, Sandra Chagas, Edson Bomfim, Royce Luckessy, Izah Candido, João Paulo Stein, Thiara Pagani, Lucas Colodetti, Vinicius Duarte e Castiel Vitorino; Outras funções 1ª Assistência de Direção: Melina Leal Galante; 2ª Assistência de Direção: Diego de Jesus; Produção de Set: Maria Grijó Simonetti; Assistência de Produção: Ana Carolina Pagani; Efeitos Visuais: Joel Caetano; 1ª Assistência de Fotografia: Igor Pontini; 2ª Assistência de Fotografia: Junior Batista; Figurino: Khalil Rodor; Maquiagem: Royce Luckessy; Produção de Arte: Jéssika Claudino.

que anda cada vez mais longe da realidade. O filme nos convida a mergulhar no mar que agora só pode ser navegado pelo espírito de Catarina.

Direção, Roteiro, Produção Executiva e Montagem: Dominique Lima; Direção de Produção: Melina Galante (Brasil); Direção de Fotografia: Leonhard Lerzer (Nova York), Barbara Bueno e Diogo Buloto; Som Direto: Marcelo Reis; Direção de Arte: Lorena Zanette; Elenco: Leticia Machado, Sarah Ellen Stephens, Bruna Helmer, Angela Sartorio, Rosa Pazoline, Zoé Jacob, Edson Ferreira, Juliano Rabujah e Maria Lima; Edição de Som, Mixagem e Trilha Somora: Vitor Vantil; Finalização: Iuri Galindo; Elétrica: Aurélio Ribeiro; Designer: Diana Klippel.

Redundância

Quis (ficção, 15’58”, 2019, classificação: livre) Catarina sofre um acidente aos 26 anos de idade e entra em coma. Enquanto isso, a vida aqui fora traz Maria, sua irmã mais nova, que permanece ao seu lado diariamente, quase como uma âncora de Caqui. Já a mãe, Rita, sofre de amargura e insatisfação com a vida e, apesar de não ter ainda visitado a própria filha, permeia sua consciência,

(experimental, 4’, 2019, classificação: livre) As voltas que a vida dá. Direção, Roteiro, Direção de Fotografia, Montagem e Edição de Som: Wayner Tristão; Direção de Produção e Direção de Arte: Vanessa

65


Mostra Competitiva Malheiros; Trilha Sonora: j g b (Os Ticoãs).

aliado ao movimento feminista se tornaram importantes ferramentas no enfrentamento a violência contra a mulher.

Refúgio

(documentário, 20’, 2019, classificação: livre) Recomeçar em um novo país - faces da crise humanitária da imigração. Direção e Roteiro: Gabriela Santos Alves e Shay Peled; Direção de Produção: Elisa Kobi; Produção Executiva: Willian Loyola; Empresa Produtora: Banana Produções; Direção de Fotografia e Color Grading: Willian Rubim; Som Direto: Marcus Neves e Natália Dornelas; Montagem: Claudiana Braga e Shay Peled; Edição de Som, Mixagem e Desenho de Som: Marcus Neves; Trilha Sonora: Sann Gusmão; Assistentes de Produção: Elisa Coradini e Maykon Aquino; Produção de Set: Ana Carolina Pagani; Assistente de Direção: PH Martins; 1º Assistente de Câmera: Junior Batista; 2º Assistente de Câmera: Nuno Pignaton Perim; Produtores Associados: Gabriela Santos Alves, Marcus Neves e Willian Loyola; Pesquisa: Brunela Vincenzi, Elisa Kobi, Gabriela Santos Alves, Hilquias Crispim e Shay Peled; Supervisão Musical: Marcus Neves e Shay Peled. Willian Rubim; Identidade visual: Fábio Baptista; Difusão: Luana Cabral.

Riscadas (documentário, 15’, 2018, classificação: livre) Tendo como cenário o Centro da capital do Espírito Santo, três artistas mulheres capixabas contam suas vivências e como a arte urbana

66

Direção e Roteiro: Karol Mendes; Direção de Produção: Ana Carolina Pagani; Produção Executiva: Willian Loyola; Empresa Produtora: Banana Produções; Direção de Fotografia: Luana Correa; Som Direto: Natália Dornelas; Montagem: Carol Covre; Edição de Som e Mixagem: Gisele Bernardes; Identidade Visual: Diana Klippel; Correção de Cor e Finalização: Willian Rubim; Assistente de Som Direto: Yasmin Marques; Logger: Claudiana Braga; Assistente de Fotografia: Luiza Grillo; Assistente de Produção: Carolina Campista; Assistente de Direção: Hegli Lotério; Difusão: Luana Cabral.

S.O.S Rio Santa Joana

(documentário, 12’, 2019, classificação: livre) Projeto Olhares - Cultura e Meio Ambiente realizou uma Oficina de Documentário no Município de Itaguaçu, se apropriando do audiovisual como recursos pedagógico na abordagem de novas formas de observação e percepção. O documentário S.O.S Rio Santa Joana, foi produzido durante a oficina com realização do filme pelos participantes do curso.


O documentário, apresenta memórias e relatos de populares locais, se aprofundando na intensa relação entre os moradores e o Rio Santa Joana, e na importância deste Rio para o contexto histórico, cultural e ambiental da cidade e sua população. Direção, Roteiro, Direção de Produção, Direção de Fotografia: alunos da Oficina de Documentário do Projeto Olhares - Cultura e Meio Ambiente; Produção Executiva: Luciano Guimarães de Freitas; Montagem: Olhares; Trilha Sonora: Hino de Itaguaçu, Trilha Indígena Guilherme Merçon.

Sem Saída

Fotografia, Direção de Arte: Marialina Antolini; Roteiro: Marialina Antolini e Paulo Velten; Produção Executiva: Paulo Velten, Verônica Bezerra, Marialina Antolini e Grupo de Pesquisa Homo sacer; Empresa Produtora: Grupo de Pesquisa Homo sacer; Montagem: Carla Mello; Edição de Som e Trilha Sonora: Greco Nogueira; Pesquisa: Gilmar Ferreira, Isabela Mariano, Pollyanna Laberta Iack, Thais Cabidelli e Veronica Bezerra.

Tomar O Tempo Poesia Inútil

(videoarte, 8’20”, 2018, classificação: livre) Poesia de desencontros que geram encontros dos olhos aos troncos dos seres da cidade inútil uma conversa silenciosa no côncavo que sem nexo é sentido com verso.

(documentário, 43’, 2018, classificação: 14 anos) Trata-se de uma pesquisa e constatação de que os jovens menores de 18 anos vitimados durante a greve da Polícia Militar do Espírito Santo eram egressos do Iases (Instituto Socioeducativo do Espírito Santo. A seletividade penal é a marca do documentário na medida em que demonstra que há 20 anos são os mesmos bairros, pobres e abandonados que, “fornecem ocupantes” para serem internados no sistema, e que, ao saírem de lá tornam-se matáveis.

Direção, Roteiro e Direção de Arte: Amanda Brommonschenkel, Carol Covre, Juane Vaillant, Marcéu Rosário Nogueira e Thaís Rodrigues; Direção de Produção: Amanda Brommonschenkel, Carol Covre, Marcéu Rosário Nogueira e Thais Rodrigues; Produção Executiva: Amanda Brommonschenkel e Thaís Rodrigues; Direção de Fotografia: Amanda Brommonschenkel, Carol Covre, Juane Vaillant e Marcéu Rosário Nogueira; Som Direto, Montagem e Edição de Som: Carol Covre; Elenco: Marcéu Rosário Nogueira, Juane Vaillant e Amanda Brommonschenkel; Trilha Sonora: Biblioteca Gratuita de trilhas sonora; Projeto Gráfico: Thais Rodrigues.

Direção, Direção de Produção e Direção de

67


Mostra Competitiva Transcender

Websérie Palavra Negra #02EP01 Tiro ao Alvo

(documentário, 15’, 2018, classificação: 12 anos) Transcender é um documentário que aborda o ser mulher no Espírito Santo, estado com maior índice de feminicídio do Brasil, na perspectiva de três mulheres de diferentes gerações. A obra reúne a trajetória de vida de cada uma, mostrando que o sexismo, machismo, e até mesmo abusos mentais e físicos, velados, ou não, não as impedem de transcender Direção: de Layla Pena e Joceane Alves; Roteiro: Fabieli Feijó; Direção de Produção: Gabrielle Gomes; Produção Executiva: Layla Pena; Empresa Produtora: Alunos CEET Vasco Coutinho; Direção de Fotografia: Fabricia de Jesus e Moises Ramos; Som Direto e Edição de Som: Davi Nilo; Direção de Arte: Luziani Salvalaio; Elenco: Maria Ferreira de Jesus, Lara Toledo e Sandra Chagas; Montagem: Rafael Moraes; Mixagem: Rafael Moraes; Trilha Sonora: Triste Louca Ou Má, banda Francisco el Hombre.

68

(videoarte, 1’14”, 2019, classificação: livre) Palavra Negra é uma websérie de poesias de autores exclusivamente negros e negras. Tem como protagonistas jovens poetas negrxs oriundos de comunidades carentes da Grande Vitória. Direção e Roteiro: Adriano Monteiro; Direção de Produção: Daiana Rocha; Produção Executiva: Maicom Souza; Empresa Produtora: BULE Estúdio Criativo; Direção de Fotografia e Montagem: Syã Fonseca; Som Direto: Fepaschoal; Elenco: Jairo Pereira e Felipe Rocha; Edição de Som: Fepaschoal.


69


Mostra PARALELA Fluxo (ficção, 10’, 2019, livre) O curta-metragem se passa em Patrimônio da Penha no Espírito Santo. Ivo é terminólogo e trabalha com tradução de textos técnicos da área de Biologia. O tradutor vai em busca de inspiração para sua próxima tradução, e é desafiado a vivenciar a natureza da forma que ela se manifesta e se faz parte dela. Direção: Iasmyn Santos Ferreira; Roteiro: Iasmyn Santos Ferreira e Leonan Miguel Rocha; Edição: Iasmyn Santos Ferreira e Leonan Miguel Rocha; Trilha sonora: Vitor Martins Lopes; Elenco: Leonan Miguel Rocha e comunidade de Patrimônio da Penha-ES.

Torre das Donzelas (documentário, 97’, 2018, livre) Há desejos que nem a prisão e nem a tortura inibem: liberdade e justiça. Há razões que nos mantêm íntegros mesmo em situações extremas de dor e humilhação: a amizade e a solidariedade. Quarenta anos após serem presas durante a ditadura militar na Torre das Donzelas, como era chamada a penitenciária feminina, do Presídio Tiradentes, em São Paulo, ao lado da ex-presidente da República Dilma Rousseff, um grupo de mulheres revisita a sua história. O filme é resultando em um exercício coletivo de memória feito por mulheres que acreditam que resistir ainda é um único modo de se manter livre. Direção e Roteiro: Susanna Lira; Empresa Produtora: Modo Operante Produções; Produção: Nuno Godolphim; Fotografia: Tiago Tambelli e Jorge Bernado Montagem: Célia Freitas E Paulo Mainhard; Música: Flavia Tygel.

70


pré-mostra

pós-mostra

22 de novembro de 2019

Dia 10, 11 e 12 de dezembro de 2019

Das 8h às 12h Workshop de Dublagem adultos (acima de 18 anos) Das 13h às 17h Workshop de Dublagem infanto-juvenil (11 a 17 anos) Das 19h às 21h Palestra A Importância da Acessibilidade no Audiovisual

Das 18h30 às 21h30 Oficina de Roteiro para Série Documental


pré-mostra

pós-mostra

22 de novembro de 2019

Dia 10, 11 e 12 de dezembro de 2019

Das 8h às 12h Workshop de Dublagem adultos (acima de 18 anos) Das 13h às 17h Workshop de Dublagem infanto-juvenil (11 a 17 anos) Das 19h às 21h Palestra A Importância da Acessibilidade no Audiovisual

Facilitadoras: w Ana Lúcia da Motta Diretora geral na Herbert Richers S/A, proprietária/ presidente do Estúdio de Dublagem Alldubbing Group, possui MBA em Gestão Empresarial, Marketing, Estratégia Competitiva e 15 anos de experiência em Dublagem e Audiovisual. Realizou palestras sobre a temática da Acessibilidade no RIO2C, Anima Mundi/ 2019, OAB/RJ, BR Distribuidora, RIO ORIENTE FESTIVAL, Riowebefest2018/ Riowebfest2019. w Patrícia Saiago Gerente Com. e MarKeting:J&J e HDI do Brasil, atriz, dubladora, diretora e audiodescritora, possui MBA em MKT, relacionamento com cliente FGV-RJ, Coaching –Act coaching. É sócia na Empresa Alldubbing Group. Foi palestrante na Game XP, OAB, Anima Mundi, Rio2c, Riowebfest2019. Local: Sebrae-ES (Sala Multiuso 4) Rua Belmiro Rodrigues da Silva Enseada do Suá – Vitória-ES

72

Das 18h30 às 21h30 Oficina de Roteiro para Série Documental

Facilitador: w Gustavo Moraes Mestre pela Columbia University nas áreas de produção e direção. Participou ainda como criador de projetos audiovisuais no Binger Film Lab (Holanda), Produire au Sud-Festival 3 Continents (França) e do Laboratório SESC de Roteiros. O capixaba já roteirizou e dirigiu mais de 200 minutos de conteúdo finalizado entre documentários, curtas-metragens e comercias de tv. Dentre seus mais recentes trabalhos no audiovisual destacam-se a consultoria de roteiro para o filme Paraíso Perdido de Monique Gardenberg e a escrita da série dramática televisiva Baile de Máscaras, dirigida por Flávio Tambellini. Como educador, leciona em faculdades e escolas de cinema há mais de 10 anos nas áreas de roteiro, direção e produção. Entre elas, a Escola de Cinema Darcy Ribeiro, a Faculdades Integradas Hélio Alonso - FACHA, a Universidade Veiga de Almeida - UVA e a Escola de Séries, no Rio de Janeiro. Moraes atua ainda como consultor em projetos audiovisuais. Local: Sebrae-ES (Sala Multiuso 4) Rua Belmiro Rodrigues da Silva Enseada do Suá – Vitória-ES


73


02 a 05 de dezembro Mostra Competitiva • Mostra Paralela Lançamentos • Homenagens • Debates

CINE JARDINS - 19H

entrada gratuita

programação completa em www.abdcapixaba.com.br


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.