Revista IFashion - 2ª Edição - Divina Cor

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CROQUIS Desenhos inspirados na cultura afro

D I V I N A C O R

ENTREVISTA COM A HISTORIADORA NOEMI SANTOS

Como podemos combater o racismo

"BLACK IS BEAUTIFUL"

Uma seleção de celebridades negras que influenciam a moda

ER ODAT C U RSOTÉCNICOEMPRODU ÇÃEDO AD
2°EDIÇÃO-NOV/2022
I F A S H I O N
2 0 2 2
Modelo: Kaio Paiva Foto: Shiro Katto

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EDITORIAL

Nomêsemquese comemoraaSemanada ConsciênciaNegranossa diretoradeconteúdofala sobreotemaescolhido paraesta2ªedição.

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CROQUIS

Confiraalgunscroquis criadospelosanosdo 1ºanodoCurso TécnicoemProdução deModaretratando tendênciasparaa belezanegra.

ENTREVISTA 10

Conheçaumpoucoda historiadorae doutorandaNoemi Santos,quefaladasua lutapordireitosiguais.

15 Shootingcomotema: SempreaCantar

EDITORIALDEMODA

20 Apresentamosalgumas personalidadesnegras quelançamtendências.

INFLUENCIADORAS

24 Shootingcomotema:A belezaeaforçadosOrixás

EDITORIALDEMODA

5 ESSA COR TEM HISTÓRIA

I F A S H I O N 2 0 2 2
Modelo: Dyenifer Baena Foto: Léo Nunes Modelo: Maria Eduarda Assis Foto: Shiro Katto

Betânia Oliveira

diretora de conteúdo

Consciência Negra

Nesta edição de novembro, trouxemos um tema de extrema importância que deve ser sempre discutido e lembrado. No dia 20 de novembro se comemora a Consciência Negra e, por isso, o protagonismo preto toma conta das páginas da nossa revista.

Nas primeiras páginas, você encontrará croquis de pessoas negras criados por alguns alunos do 1º ano do Curso Técnico em Produção de Moda do Campus Avançado Goioerê do IFPR. Em seguida, você poderá ler uma entrevista feita pelo aluno Léo Nunes (2º ano) com a historiadora e doutoranda Noemi Santos, em que ela conta um pouco da sua vida e relata desafios que enfrentou para conseguir chegar aonde chegou. A entrevista foi transcrita pelos alunos do 2º ano e editada por Letícia Salomone. Você também encontrará um editorial de moda incrível produzido pelas alunas do 3º ano com dois temas diferentes. Um deles é inspirado em alguns dos orixás da umbanda, que é uma religião de matriz africana; o outro é inspirado em cantoras negras. Os/as modelos são alunos/as ou servidores/as do nosso campus. Por último, nossas alunas do 4º ano separaram uma seleção de personalidades da mídia que influenciam a moda hoje.

Desfrute das próximas páginas e veja toda beleza dessa Divina Cor!

Modelo: Sandra Costa Foto: Léo Nunes

CROQUIS

RAFAEL COSTA

"PEGUEI INSPIRAÇÕES DA CULTURA E DAS CORES QUE CHAMAM ATENÇÃO. A INSPIRAÇÃO DO CABELO NO CROQUI VEIO DE UM

PERSONAGEM QUE TINHA OS CACHOS PARECIDOS. JÁ NO BRAÇO, PESQUISEI ALGUMAS PINTURAS

AFRICANAS E

REPRESENTEI ESSE MARCO DA CULTURA EM MEU DESENHO".

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"BLACKFLOW"

CROQUIS

"SENSIBLECOLOR"

"MEU PONTO INICIAL FORAM REFERÊNCIAS DA INTERNET QUE ME DESPERTARAM IDEIAS. REPRESENTEI NAS CORES E NO CABELO BLACK AS PRÍNCIPAIS CARACTERÍSTICAS DESSA CULTURA".

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ULIANE SILVA

CROQUIS

LETÍCIA IADICOLA

"PEGUEI INSPIRAÇÕES

PRINCIPALMENTE NAS CORES UTILIZADAS NESSA CULTURA E NO CABELO BLACK, POIS É UM SÍMBOLO DESSA REPRESENTATIVIDADE".

8 IFashion
"THECOLOROFPOWER"

CROQUIS

"DIVINE BLACK"

"ME

INSPIREI EM ESTAMPAS CLÁSSICAS

AFRICANAS

DESTACADAS PELO COLORIDO E PELOS

DESENHOS

MARCANTES. NA PEÇA EM SI, COLOQUEI O

DETALHE NA BARRA DA SAIA PRETA E O

COLORIDO LARANJA NA BLUSA PARA O SER UM PONTO FOCAL".

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GABRIELI OLIVEIRA

REPÓRTER

MulheresdeLuta

Noemi Santos da Silva é historiadora e doutorandaem

História Social pela Unicamp, mestre e graduada em História pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente coordena o grupo de trabalho Emancipações e Pós-Abolição da Associação Nacional de Pesquisadores deHistória-SeçãoParanáe pertence à Rede de Historiadores Negros. Seu campo de estudo enfoca a educaçãodenegros/asno

AhistoriadoraNoemiSantosexplicaoqueéoracismo estruturaleapontacaminhosparacombatê-lo. período de escravidão e pós-abolição, passando também pelo tema do associativismo e outras mobilizações negras por direitos no mesmo período.

Nascida em Mogi das Cruzes-SP, fez sua formação em Curitiba-PR, sempre na rede pública. Foi na pós-graduação que ela começou a se perceber como uma mulher negra e se engajar na luta contra o racismoapóspassarporumepisódionovestibularcomoalunacotista.

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(NoemiSantosSilva/Foto:LéoNunes)

NEGRO, PARDO OU PRETO?

Noemi: "De acordo com a classificação do IBGE, negro é como se fosse um guarda-chuva que abarcasse pretos e pardos. Geralmente entram nessa classificação as pessoas que se identificam como pretas, com a pele mais retinta e fenótipos mais africanizados. Pardo está numa zona fluida do mestiço que tem vários traços pretos na sua descrição fenotípica, contudo, ao mesmo tempo, tem traços brancos. Ser pardo é fruto dessa junção de raças que deixa a pessoa indefinida, comumaidentidadeincógnita."

Até entrar na faculdade, Noemi sofria uma crise de identidade, pois não conseguia se ver como negra (por ter a pele mais clara), porém também não se sentia uma pessoa branca. Mas conta que sofria preconceito e ouvia frases do tipo:"Ah,mastunemétãonegraassim".

OQUEÉORACISMO ESTRUTURAL?

Noemi: "O pardo é importante para as estatísticas do país, porque a população negra é maior que a branca por conta deles. A palavra negro, no passado, às vezes queria dizer escravizado, mas o movimento negro, desde a década de 1980 tem incutido uma positivação do termo. Somos negros, sim. Porém, as pessoas devem tomar cuidado, pois toda cor tem que ser uma opinião pessoal. Eu não posso dizer a cor de ninguém, pois existem muitas pessoas negras que ainda não chegaram a essa consciência pessoal dasuacor."

Noemi: "A primazia da ideia de racismo estrutural é que existem espaços sociais para cada grupo racial, espaços destinados a grupos étnicos diferentes. Um exercíciomuitolegaldesefazerparaentenderoracismoestruturaléeste:quando vocêimaginaummédico,queimagemvemàsuacabeça?Quandovocêimaginaum juiz, que imagem tem na sua cabeça? Quando imagina um favelado? Um bandido? Umadoméstica?Pensandonisso,conseguimospercebercomoonossoimaginárioe nossa cultura foram construídos prevendo lugares sociais para cada grupo étnico. Sentimos esses choques quando se trata de nós. Hoje que estou num lugar social privilegiado,issoacontecemuito,porexemplo,quandoaspessoasvãoàminhacasa e perguntam onde está a dona da casa. Quando você provoca um choque de expectativa,vêqueoracismoestruturalestádandoumaabalada."

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COMO VOCÊ VÊ A IMPORTÂNCIA DE SUA FORMAÇÃO?

Noemi: "Isso se liga muito com a questão das cotas raciais. Elas abrem uma série de debates que são relacionados ao racismo, os impactos antirracistas na sociedade, pois as cotas provocam a troca de espaços sociais. Quantos profissionais que se formaram por cotas e hoje estão atuando em áreas ditas de privilégios? Quantos negros que entraram nessa maré universitária vão ocupar espaços de privilégio? Igual eu me sentimalquandoeraumaacadêmica,queaquelenãoeraomeulugar.Ia àcasadosmeusamigoseelesmoravamemmansõeseandavamdeavião, sentia que aquilo não era para mim. Eu tenho plena noção de que, entrando numa categoria de privilégio, estarei ocupando um espaço graças a uma política de inclusão que teve seus efeitos na minha trajetória. Me vejo tomando esse espaço como um referencial para que meninas que vivem nessa situação [o racismo] se sintam motivadas a seguir em frente e continuar os estudos. É o negócio do ' eu posso ' . Posso chegar lá, posso estar em um espaço de privilégio, e isso não vai ser estranho. [Em oposição,] uma criança negra que passa por violência policial na infância e depois na adolescência de forma injusta, vai ter o policial como um inimigo. O negro suspeito é muito forte, isso é muito triste,nós,enquantosociedade,precisamospôrissoempauta."

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Noemi: "Apropriação cultural é uma coisa que sempre existiu na história da humanidade, desde que o humano entra em contato com outros grupos culturais.Esseconceitofoitomadodeformamaispolêmicananossavivência. A América inteira passou por um processo de escravização, com tráfico de seres humanos, um comércio que relegou uma marginalização para pessoas negras. Esse mesmo continente americano passou por um processo de colonização,queproduziuviolênciacontraaspopulaçõesoriginárias.Esseéo nosso contexto que dá início à apropriação. O pós-abolição é um longo período, com isso grupos minoritários como negros e indígenas passam a ter umaformaderesistênciamaisexpressivacontraoracismo,pois,comofimdo regime da escravidão, ainda sobra a herança da marginalização e do racismo. Essa minoria se reunia e passava a se questionar o porquê. Mesmo em tempos deImpério,issosempreexistiu,aindamaisnoperíodopós-abolição.Aideiade afirmação cultural se tornou muito forte em um momento quando as pessoas começam a se afirmar como negras, e ver que sua cultura é algo positivo, fazendo crescer ainda mais a resistência e sendo contra a aculturação vivida na escravidão. Hoje a apropriação cultural não passa apenas pela própria característica física, como também por questões estéticas, entre vestuários e acessórios.Desdeadécadade60atéagora,aÁfricavemsendoretomada comoalgopositivo,jáqueoafricanopassou por um processo de apropriação, assim como o indígena. É uma forma de dizer que os meus ancestrais foram pessoas guerreiras, as suas raízes são bonitas, isso temqueserexposto.Aapropriaçãocultural hoje [desperta questionamentos]: ' como assim você não tem noção de que os elementos negros têm uma função de resistência e você quer se apropriar disso?'.

A estética fala por si, uma pessoa black é automaticamente associada hoje como alguém que não tem vergonha de suas origens, não está nem aí se você está incomodadocomocabelodela."

9 IFashion O
QUE É APROPRIAÇÃO CULTURAL?
13 IFashion

VOCÊ GOSTARIA DE DEIXAR UM RECADO PARA OS LEITORES DA REVISTA?

Noemi: "Meu recado é que a juventude use a energia que ela tem para questionar valores que sempre estiveram aí, mas que são valores excludentes, para que siga em frente em ideais com mais justiça, por menosdiscriminação.Nãoénecessáriosernegroparaserantirracista. A moda é um espaço que precisa ter representatividade também. O manequim é sempre branco, de modo que você não consegue saber se a sua paleta fica boa igual fica no manequim, porque não acontece aquela distribuição de cor mais democrática. Quando esse debate chega na moda, ele chega para questionar e para representar mais pessoas. A consciência antirracista estando em vocês, jovens, formandosdeModa,émaisdoquefundamentalparaasuaatuaçãono mundonessesetor,éaconsciênciadofuturo.Seascoisascaminharam positivamente dessa forma, futuramente a gente pensa que estarão muito mais aprimoradas. Então a gente precisa usar a energia e a garra para avançar, para acreditar, para lutar pelos valores, para pensarnademocratizaçãodarepresentatividade."

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IFashion 14

Sempre a Cantar

PRODUÇÃODEMODAESTYLING:

AMANDAOLIVEIRA,ANACLARASOUZA,BEATRIZGOMES,CAROLINE REISDÉBORABOSCHETTIMARIAEDUARDABARBOSA FOTOGRAFIA: LÉO NUNES

Modelo: Sandra Costa

Dyenifer Baena

Foto: Léo Nunes

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Modelo: Dyenifer Baena

Foto: Léo Nunes

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Modelo: Sandra Costa
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Foto: Léo Nunes
"Se a coisa tá preta, a coisa tá boa."
MONIQUE EVELLE

Modelo: Dyenifer Baena

Foto: Léo Nunes

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"O MUNDO É GRANDE DEMAIS PARA NÃO SERMOS QUEM A GENTE É!"

ELZA SOARES

19IFashion

Influenciadoras da moda

GRANDES NOMES E PERSONALIDADES

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RIHANNA

Rihanna-Alémdecantorade sucessocomvárioshits,em2018 setornouaprimeiramulher negraateraprópriamarcade propriedadedaLVMH,aFenty. Tambémcomandaaslinhasde lingerieSavagexFenty,Fenty BeautyeaFentySkin.Rihannaé umainspiraçãoparatodos, principalmenteparaapopulação negra.Suamarcatambémé responsávelporumagrande representatividadedecorpos, pelesecabelosempropagandas.

KELFEREY

Kel Ferey - A estilista baiana é responsável por levar o nome do país para o exterior como a maior reserva de recursos naturais. A partir disso, tornouse referência quando se fala sobre moda ecossustentável e sempre está fazendo um trabalho icônico e se destacando nos eventos de moda internacionais. Foi a única brasileira a desfilar na Semana de Moda de Milão em 2020.

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NAOMI CAMPBELL

NaomiCampbell-Umadasmodelosmaisimportantes domundo,nasceuemLondreshá52anos.Ela começouacarreiranamodanosanos1980erecebeuo títulodesupermodelonoanode1990.Apareceuem maisde500capasderevistas.Suainfluênciaabriu portasparamaismodelosnegrassubissemna passarela.Apesardeapareceremrevistase publicaçõesimportantes,tambémfoivítimademuito preconceito.

IZA

Iza-IsabelaCristinaCorreiadeLimaLima,nasceuem Olaria,RiodeJaneiro-RJ,em1990.Atualmenteéuma cantorapopdesucesso.Veiodefamíliahumildee começouacantarnaigrejaaos14anos,tendotambém amãecomoprofessorademúsica.Elacontaquesofria bullyingnasuaadolescênciaporseraúnicacriança negraemumaescolaparticulartradicional.

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LINIKER

Liniker-Acantora,compositora,atriz,artistavisualeumadas maioresvozesdamúsicanacionalétambéméumíconeda moda.NasceuemAraraquara,em1995,étambémumagrande inspiraçãoparaacomunidadepretaeLGBTQIAP+,sendomuito poderosaetendoorgulhodesimesma.Umadassuasmúsicas demaiorsucessoé“Zero”,quepodeserencontradaem qualqueraplicativodemúsicaouvídeo.

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A BELEZA E A FORÇA DOS ORIXÁS

Produção de Moda e Styling: Giovanna Aguera, Julia Santos, Kaylanne Silva, Layza Souza, Maria Eduarda Assis, Mariclei Soares e Raissa Frigerio

Fotografia: Shiro Katto

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Modelo: Maria Eduarda Assis Foto: Shiro Katto

Modelo: Maria Eduarda Assis

Foto: Shiro Katto

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Modelo: Maria Isabel Ribeiro

Foto: Shiro Katto

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Modelo: Isis Silveira Foto: Shiro Katto

DIREÇÃO ARTÍSTICA E DE CONTEÚDO

Betânia Oliveira REVISÃO

Suelen Trevizan

PRODUÇÃO GRÁFICA

Leonardo Nunes

REDAÇÃO

Leonardo Nunes

Letícia Salomone

Renata Franzo

Eloara Segantim

PRODUÇÃO DE CONTEÚDO

Caroline Calixto

Gabrieli Oliveira

Giovanna Aguera

Eloara Segantim

Leonardo Nunes

Letícia Moreschi

Letícia Salomone

Rafael Costa

Renata Franzo

Uliane Silva

AGRADECIMENTOS

COLABORADORES

Ana Carla Parussolo

Dandara Rocha

Daniely Dalacqua

Igor Affonso

Mirela Rolim

Projeto Moda Goioerê - @modagoioerê

IFPR Campus Avançado Goioerê - @ifpr goioere

Curso Técnico em Produção de Moda - @producaodemodaifpr

NEABI IFPR Goioerê

I F P RC a m p u s A v a n ç a d o G o i o e r êC u r s o T é c n i c o e m P r o d u ç ã o d e M o d aP r o j e t o R e v i s t a O n l i n e I F a s h i o n

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