Revista Em Família

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Política juvenil: Grêmios escolares lutam por votos nas escolas

Ano 2 - Edição 7 Junho/Julho 2011

Ser feliz é o melhor remédio!

Alegria transforma hospitais e faz deles um lugar melhor para a recuperação de pacientes Educação turbinada: Feira internacional mostra o grande avanço da tecnologia na educação e propõe mudanças no modo de ensinar




16 - A receita do riso Palhaços fazem a recuperação médica ser divertida para os pequenos pacientes Foto: Divulgação Doutores da Alegria

Índice

Capa

Carta ao leitor 06 - Investimento municipal é desafio do novo PNE Espaço do leitor 08 - Vamos viajar!

Conheça alguns lugares para curtir as férias de julho com a criançada

Educando 10 - Vote em mim! Grêmios iniciam a vida política de estudantes

14 - Por uma vida mais saudável Esporte ajuda no desenvolvimento físico e mental de estudantes

Cultura 32 - Pé na estrada

Imagem: Divulgação

Conheça os filmes estilo ‘road’ que marcaram as telonas

36 - As férias escolares chegaram.

É hora de ir ao teatro!

Coluna Literária 40 - A fantástica fábrica de chocolate Uma excelente viagem pela imaginação com teor filosófico e justiça social

Profissão educação 22 - Testes vocacionais: realidade ou ilusão?

Vida digital 24 - Educar Versão 2011 Século XXI

Saiba as novidades tecnológicas que prometem revolucionar o modo de ensinar nas escolas

30 - Vigilância 24 horas

As câmeras invadem a vida escolar e ainda é motivo de muita polêmica entre alunos e instituição

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Foto: Mauricio Barreira

Saiba a opinião de pessoas que realizaram o teste e os prós e contras da eficácia dele



Carta ao leitor Investimento municipal é desafio do novo PNE Está em tramitação na Câmara dos Deputados o novo Plano Nacional de Educação (PNE) que vai estabelecer metas para a próxima década (2011-2020) em toda área educacional do país. Ao todo são 20 metas que o Brasil vai ter que atingir até 2020. A principal questão são os valores de investimento que os municípios terão que arcar com o novo PNE. De acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), R$ 17,6 bilhões sairão dos cofres dos municípios de um total de R$ 52 bilhões previstos. O restante virá do Fundo de Desenvolvimento e Manutenção da Educação Básica (Fundeb). Os municípios e estados são os principais culpados pela falta de investimentos no setor. A queda na qualidade da educação pública se deve principalmente aos muitos governadores e prefeitos que simplesmente colocaram a educação de lado. Desde o início da década de 1980 foi assim, hoje a situação começou a melhorar um pouco, mas somente nas grandes capitais e alguns municípios. No mais, a degradação do ensino público só aumenta. Para o PNE funcionar é preciso regras fortes e eficazes contra a corrup-

ção em licitações, desvios de verbas, qualificação dos educadores e o uso das novas tecnologias (ver pág. 24). Se depender dos municípios a reclamação vai persistir e a desculpa que não tem dinheiro para investir na educação vai ser a panaceia usual. Algumas metas para o novo PNE: • Até 2020 50% das crianças com menos de 3 anos de idade tem que estar sendo atendidas em creches. Hoje, esse percentual não chega a 20%. Os municípios precisariam investir R$ 9,9 bilhões para cumprir a meta; • A universalização da matrícula na pré-escola, para crianças de 4 e 5 anos, até 2020. Isso significa, segundo a CNM, incluir mais 1 milhão de alunos na rede de ensino, com custo adicional de R$ 700 milhões às prefeituras, além da complementação do Fundeb; • 50% das escolas do ensino fundamental ofereçam ensino em tempo integral. A ampliação da jornada, modelo que hoje atende aproximadamente 10% dos alunos das redes municipais, teria um custo de R$ 30,9 bilhões, com participação de R$ 7 bilhões dos municípios. Abraço a todos e boa leitura.

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Felipe César - Editor-chefe

Comunicação & Editora Revista Em Família Diretores Felipe C. Santos e Mauricio Barreira Editor-chefe Felipe C. Santos Editor assistente Mauricio Barreira Repórteres Felipe C. Santos e Mauricio Barreira Repórteres colaboradores Fábio Farias, Isabela Pimentel, Lucia Vieira Pinheiro, Mônica Wanderley, Ricardo Martins, Romário Ferreira e Vinicius Veloso Colunista Jacira Fagundes Fotografia Mauricio Barreira e Thaís Carvalho Editor de arte e imagem Mauricio Barreira Designer e Diagramação Mauricio Barreira Foto Capa: Divulgação Doutores da Alegria Capa Mauricio Barreira Personagens Revista Em Família Antônio Carlos Taverna Junior Contato: (11) 8405-7928 Publicidade: comercial@revistaemfamilia.com.br Redação: redacao@revistaemfamilia. com.br (11) 6323-7265 / (11) 2218-2898 A Revista Em Família é uma publicação bimestral totalmente digital. A reprodução total ou parcial de qualquer matéria só é permitida mediante autorização. Os artigos assinados não expressam necessariamente a opinião da revista.


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Espaço do leitor

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Oba, férias! Nessa edição destacamos alguns destinos de férias para passar com a família ou a dois. Se você não vai viajar agora, pense em relaxar e conhecer novos lugares nas férias de final de ano ou nas suas férias do trabalho. A vida é curta e é preciso aproveitá-la.

Imagens: Divulgação

Santa Catarina Urubici – para quem gosta de um friozinho Montanhas, cavernas, cachoeiras e muito frio fazem de Urubici um dos destinos mais cobiçados da serra catarinense. Em 1996, a cidade registrou a temperatura mais baixa do país: 17,8 graus negativos, no Morro da Igreja, a 1.828 metros de altitude. A probabili-

Bonito - MS dade de nevar entre os meses de junho e agosto é grande, atraindo turistas e aventureiros que aproveitam os cenários para a prática de atividades radicais.

Urubici - SC 08 Revista Em Família - Junho/Julho - 2011

Mato Grosso do Sul Bonito – transparência nas águas de rios e lagoas Bonito seria uma pacata cidadezinha do interior se, em meados dos anos 70, o peão de uma fazenda não tivesse descoberto um buraco no chão. Dentro do buraco de 72 metros de profundidade - batizado de abismo Anhumas - havia um imenso lago de águas cristalinas tomado por estalactites. Aos poucos, o tal buraco, a


Morro de São Paulo - BA

encantadora gruta da Lagoa Azul, as cachoeiras e os rios incrivelmente transparentes e repletos de peixes coloridos ganharam fama e infraestrutura turística, tornando a região, na década de 90, uma espécie de Disney ecológica. Bahia Morro de São Paulo – praias paradisíacas Um dos destinos mais cobiçados da Costa do Dendê, a cosmopolita Morro de São Paulo fica na Ilha de Tinharé, a 248 quilômetros de Salvador. Para chegar lá é preciso pegar um catamarã ou um avião na capital baiana, ou então, ir de carro ou ônibus até Valença e dali seguir em um barco ou uma lancha. A logística não é das mais simples, mas a aventura compensa. Mato Grosso Chapada dos Guimarães – a natureza aos seus pés Impressionantes paredões de

arenito vermelho-alaranjado marcas registradas da Chapada dos Guimarães - dão as boas-vindas aos turistas que aportam no coração do Mato Grosso. Porta de entrada do Parque Nacional, a cidade que leva o mesmo nome da reserva oferece pousadas confor-

táveis, restaurantes charmosos e uma pracinha que, nos finais de semana, funciona como feirinha de artesanato durante o dia e ponto de encontro dos visitantes quando a noite cai. Fonte: www.feriasbrasil.com.br

Chapada dos Guimarães - MT

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Educando Vote em mim! Garantido por lei mas atualmente pouco comum nas escolas brasileiras, grêmios estudantis são importantes ferramentas de amadurecimento da cidadania e de preocupação com o bem comum Colaborador Fábio Farias Toda quinta-feira, Anne Coimbra lidera uma reunião que discute ações para melhorar o dia a dia da sociedade em que vive. O grupo analisa resultados, planeja o orçamento, debate ideias, planeja atividades com focos nos objetivos. Organizadas no papel, as propostas são levadas até as autoridades competentes. Anne não é (ou ainda não é) nenhuma líder comunitária de seu bairro, mas é a presidente do grêmio estudantil do colégio Santo Agostinho, no Paraíso, em São Paulo. O tradicional colégio da zona sul exemplifica uma organização que já foi fundamental nas definições políticas do país, mas que parece ter sua importância diminuída no mundo de hoje. Os grêmios estudantis são organizações formadas por alunos e que representam os interesses

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dos estudantes em unidades de ensino de todos os níveis. Por meio deles, é possível reivindicar junto à direção melhores condições na infraestrutura da escola ou organizar festas e campeonatos esportivos. Os grêmios também possibilitam o estreitamento das relações das instituições de ensino com a comunidade onde se localizam, visto que suas ações nem sempre estão restritas aos muros escolares. Assim é na escola estadual Professor Antônio José Leite, na Vila Amália, zona norte da capital paulista, cujo grêmio já organizou a distribuição de informes de conscientização sobre a prevenção da Gripe A em 2010. Desde 2008, eleições anuais escolhem o grupo de alunos que representará todo o corpo estudantil junto à direção da escola. Podem ser eleitos estudantes do 8º ao 2º colegial, e toda a escola pode votar. Os mandatos são de um ano,

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com possibilidade de reeleição. “Os alunos querem ser ouvidos e a garantia desse diálogo é representada pelo grêmio”, comenta a diretora Marisa Batista Ribeiro. Para a diretora, a principal importância do grêmio na escola da zona norte está no cunho social. “A defesa dos direitos dos alunos com a garantia de aulas de boa qualidade, prevenção e orientação ao não uso de drogas, panfletagens informativas sobre doenças, dentre outras”. No octogenário colégio Santo Agostinho, a Chapa Chapéu já está em seu segundo mandato de um ano e pretende disputar o terceiro. Os oito alunos do 9º e 1º ano foram eleitos com 200 votos a mais que a segunda colocada, formada por estudantes do 3º colegial e considerada favorita ao pleito. “Vencer o terceiro ano foi a melhor parte”, admite a presidente. “Nossa principal ação até agora, foi a reativação da rádio da escola”, diz


Fotos: Thaís Carvalho

Estudantes debatem sobre diversos temas em reunião de grêmio estudantil orgulhosa a estudante de 14 anos. A rádio em questão funciona uma vez por semana nos intervalos das aulas, com programação basicamente formada por anúncios, divulgação de aniversariantes e, principalmente, por músicas sugeridas pelos colegas. “Nós também reorganizamos a formação de filas na cantina e agora tentaremos ampliar a rádio para duas vezes na semana”, destaca o vice-presidente Gabriel Lanzuolo. Todas as propostas são analisadas pela coordenação pedagógica, levadas a direção e podem ser aceitas ou rejeitadas, com as devidas respostas aos alunos. “Os grêmios estudantis são responsáveis por boa parte da formação política de nossos jovens. Ali começam a participar das reuniões,

debates, eleições, aprendem a discutir ideias e propostas, sabem que o futuro da escola depende também deles. Essa é a tomada de consciência da cidadania”, explica a doutora em antropologia e pertencente ao Departamento de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Rita de Cássia Alves Oliveira, co-autora do livro “Jovens na cena metropolitana: percepções, narrativas e modos de comunicação” (Paulinas, 2009). De fato, as semelhanças com a atividade política oficial começam desde a formação das chapas. Toda a organização e custos da campanha ficam a cargo dos participantes. No Santo Agostinho os alunos assistem a vídeos produzidos pelos concorrentes, debates, recebem panfletos e ouvem promessas. Denúncias de compras de votos de alunos menores com pirulitos, espiões de chapas oponentes e difamações anônimas pela internet agitam a campanha, sejam fundamentadas em fatos reais ou não. No Antônio José Leite as duas semanas de campanha se baseiam em debates e apresentações de propostas no anfiteatro, além do corpo a corpo tradicional no dia a dia. Em ambas as escolas, as redes sociais são imprescindíveis. Após a posse são muitas as responsabilidades para os novos representantes. Os grêmios possuem organograma rígido, calendário de reuniões, controle de entrada e saída de gastos, livro de

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Anne Coimbra, líder do grêmio estudantil atas, planos de ações. Para arrecadar fundos são vendidas rifas e ingressos para eventos promovidos pelos grêmios. Os trabalhos normalmente são apoiados por algum professor. “As reuniões são realizadas fora do horário de aula e há o cuidado para que a vida acadêmica dos alunos não seja prejudicada”, explica o coordenador pedagógico do Santo Agostinho, Reinaldo Correia Aquino. Em São Paulo, a formação dos grêmios estudantis é orientada pelo guia “A Organização do Grêmio Estudantil”, publicado em 1998 pela Secretaria de Estado da Educação, que fornece os subsídios necessários para a formação e o funcionamento do Grêmio Estudantil. As diretorias de ensino e as escolas da rede estadual possuem exemplares dessa publicação, de acordo com a Secretaria. Para formar um grêmio é preciso, primeiramente, convocar uma assembleia geral, onde deverão estar presentes alunos representantes de todas as séries existentes na escola. A assembleia decidirá os detalhes da organização: fundação, nome, estatuto, funcionamento, data das eleições, quantidade e tipos de cargos, entre outros. Formação política Para a educadora e professora de psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Silvia Gasparian Colello, os grêmios são muito importantes para o amadurecimento político dos jovens, mas a simples existência de uma agremiação não garante essa formação. “Muitos grêmios estão muito voltados para a promoção do lazer,

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mesmo quando isso não é uma necessidade exigida pelos outros alunos. Por isso, os grêmios devem ser direcionados pela escola para que sirva ao bem comum”, explica a educadora. Para Colello, esse recurso deveria ser mais explorado pela escola e mais incentivado pelo Estado, mas isso, muitas vezes, é prejudicado por questões infraestruturais. A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo não sabe informar quantas agremiações estudantis existem nas escolas públicas estaduais. No Paraná, cerca de 400 escolas possuem grêmios, de acordo com dados divulgados pela secretaria de educação daquele estado. A região Sul do Brasil, tradicionalmente, concentra um maior número de organizações desse tipo. A organização de estudantes tem amplo amparo legal. A Lei Federal n.º 7398/85, de 04/11/1985, assegura a organização do Grêmio Estudantil como unidade autônoma representativa dos estudantes, em qualquer escola do país, seja ela pública


ou particular. A lei 9394, de 1996, regulamente e assegura a criação de duas instituições representativas dos interesses dos estudantes: a Associação de Pais e Mestres (APMs) e os grêmios, cabendo a direção da escola propor condições para a organização dos alunos, além de garantir a participação de alunos nos Conselhos de Classe e Série. O Estatuto da Criança e do Adolescente (lei 8.069de 1990), também garante a formação dos grêmios estudantis, além de normativas estudais espalhadas pelo Brasil. Apesar do apoio legislativo, a participação política de jovens não desperta mais as paixões do passado. Entre as décadas 1970 e 1980, grandes manifestações populares tiveram início no movimento estudantil, sendo que muitas figuras políticas de destaque do cenário nacional tiveram início nesse meio. Para muitos jovens os grêmios nem são vistos como forma de política. “Alguns estudos mostram como a política não está entre as priorida-

des dos jovens, atrás de questões como profissão e relações pessoais”, pontua Silvia Colello. “Ações hedonistas, como o esporte, tomam a frente de questões políticas, muito causado pela decepção com o cenário político atual”, completa a educadora. Para Rita Alves, nos últimos anos os jovens brasileiros têm participado politicamente, mas não exatamente nas instâncias formais, como partidos e grêmios. “Os jovens buscam atuar politicamente, mas por outros caminhos, como nos grupos que lutam por questões culturais como a literatura periférica, a liberação da maconha ou a liberdade de expressão, manifestações sociais como ocupações junto aos sem-teto e transporte público, e ambientais como o consumo consciente”. A internet e a explosão de ferramentas digitais de comunicação tornaram-se propulsores dessa movimentação. “O ciberativismo é um dos principais motores da movimentação política juvenil e as ferramentas digitais, como redes sociais e blogs, oferecem um caráter transnacional à essas práticas políticas”, explica a antropóloga. Cargos políticos não parecem estar nos planos dos membros do grêmio do Santo Agostinho. A perspectiva é prontamente rejeitada por quase todos os adolescentes. Apenas Gustavo Tavares acena para a ideia. “Tenho um parente deputado. Estou em dúvida se me formo em administração ou viro político”. Qualquer que seja a opção escolhida, a boa formação política voltada para o bem comum é fundamental para o futuro de todo o Brasil. É esperar pra ver.

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Educand o Por uma vida mais

saudável

Praticar um esporte pode ajudar a criança se desenvolver fisicamente e psicologicamente Colaborador Vinícius Veloso É consenso entre a comunidade médica ao redor de todo o planeta: quem pratica exercícios físicos possui uma melhor qualidade de vida em relação às pessoas sedentárias, aquelas que não praticam nenhum tipo de atividade. Já que o esporte faz tão bem ao corpo e a alma, por que não acostumar as crianças a praticar uma modalidade desde pequenas, para que tomem gosto pela prática esportiva e tenham uma vida mais saudável? É normal que o primeiro contato com as práticas esportivas ocorra na escola, durante a educação física. Durante as atividades a criança possui os primeiros contatos com os conceitos de time, competição, vitória e derrota, e cabe ao professor incentivá-la para que estas aulas se tornem prazerosas e não um temor, o que, frequentemente, ocorre com os alunos. A professora de educação física Roseli Araújo afirma que a

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carga e tipo de atividades devem ser selecionados com cautela, levando em consideração a idade da turma. “A melhor maneira de se trabalhar a educação física com a criança é fazer com que ela se divirta durante as aulas. Eu costumo transformar esse período que passo com elas o mais prazeroso possível”, explica a professora. Segundo Araújo, o maior problema encontrado nas escolas é a falta de preparo e empenho de alguns profissionais. “Tem professor que chega na quadra, joga uma bola de futebol para os alunos e deixa o jogo rolar. Isso é complicado, pois as crianças vão aprender o quê? Este tipo de aula não deveria ser chamada de educação física e sim recreação”, completa. Porém, incentivar os pequenos a realizar uma atividade física também é dever dos pais, que precisam conversar com as crianças e descobrir qual o tipo de esporte ela gosta de praticar e se possível inscrevê-la em uma escolinha ou academia que ofereça tal modalidade. Neste momento,

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é importante procurar um local onde os profissionais estejam treinados para trabalhar com o público infantil. Também é importante que, antes de se iniciar qualquer treinamento mais específico, se procure um médico. Ele irá orientar os pais sobre a atividade escolhida. Como por exemplo, uma criança de 5 anos ainda não está apta para jogar tênis pois não desenvolveu toda a sua capacidade neuromotora ainda, mas na mesma idade ela já pode jogar futebol normalmente. O acompanhamento profissional também se faz necessário para que a atividade não prejudique a criança. Não é aconselhável


Imagens: sxc

que menores de 18 anos façam musculação, pois como o corpo ainda não se desenvolveu completamente, o crescimento saudável pode ser comprometido. Além disso, o risco de lesões é maior. Potências olímpicas A atividade física não é somente importante para manter o corpo em forma e a boa saúde, ela também ajuda a criança a se concentrar, respeitar seus próximos, ter disciplina e concentração. Por todos estes motivos, a prática esportiva é altamente recomendável para todas as idades, principalmente se o Brasil um dia quiser alcançar o status de “potência olímpica”. Dois exemplos de países que poderiam ser seguidos pelo Brasil são os EUA e a China. As universidades norte-americanas prezam muito por seus atletas e oferecem bolsas de estudos para os alunos que as re-

presente em competições. Com este incentivo, os Estados Unidos conseguem formar atletas de diferentes modalidades e que costumam brilhar durante os jogos olímpicos. Já a China aproveitou a oportunidade das olimpíadas de 2008, que foram realizadas em Pequim, e criou o “Projeto 119”, no qual, o governo investiu em “internatos esportivos”, onde olheiros federais vão buscar as crianças que recebem treinamento especial. Estes estudantes, muitos de origem pobre, enxergam no esporte uma grande oportunidade, já que terão ajuda financeira, moradia gratuita na própria escola, alimentação e horas de treino duro intercalados com o ensino do currículo escolar comum. São cerca de 400 mil jovens chineses matriculados em três mil escolas esportivas. Exemplo recente foi a campeã Na Li, primeira chinesa a vencer um torneio Grand Slam de tênis, no dia 4 de junho. Nos jogos olímpicos de

2008, a China participou com uma delegação composta por 639 atletas e terminou em primeiro lugar, com 51 medalhas de ouro, os EUA ficaram em segundo, com a conquista de 36 medalhas douradas. Vamos ver o que o governo brasileiro faz até 2016, por enquanto as atitudes são pífias, infelizmente.

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Capa

A receita

Foto: Divulgação Doutores da Alegria

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Colaboradora Mônica Wanderley

do

R I S

Nesse ano o Doutores da Alegria completa duas décadas de existência, levando alegria para dentro dos hospitais, mudando a vida de médicos, enfermeiros, pais e, principalmente, das crianças que estão internadas. Nascido em São Paulo, o projeto já está implantado no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e, mais recentemente, Recife. Além das apresentações nos centros médicos, o grupo conta com um espaço cultural que leva o nome da iniciativa, um bloco de carnaval apelidado de Miolo Mole e oficinas dedicadas aos profissionais da área de saúde, além da apresentação de palestras e intervenções em empresas: “Isso tudo só acontece porque é aqui no Brasil. Em nenhum outro país o trabalho acontece nessa complexidade, e tenho muito orgulho disso. Nossos próprios colegas no exterior reconhecem isso”. “Ainda temos muita coisa para fazer, mas creio que estamos num bom caminho. Sou muito, muito grato a todos que me apoiaram todos esses anos”, declara Wellington Nogueira ou, como é conhecido no meio, palhaço Doutor Zinho, especialista em Besteirologia. Difícil encontrar alguém que não conheça e admire o projeto, tanto por usar o riso em um ambiente como o hospital - conhecido pela seriedade e tensão que lhes são características - como pelo público alvo, que são as crianças (que muitas vezes não entendem porque estão deitadas em uma cama e não brincando na rua). É uma iniciativa que merece todos os elogios e incentivos possíveis, e é um dos melhores exemplos de como o uso do riso pode influenciar de forma extremamente relevante a vida de toda uma sociedade. Não são só os pais que se sentem mais alegres ao ver os pequenos interagindo com os palhaços; a relação da criança com os médicos e enfermeiros também apresenta melhoras. “Na última pesquisa realizada, consta que a presença constante dos Doutores fez com que os profissionais da área de saúde pudessem conversar questões delicadas entre eles. Além disso, muitos relatam que hoje olham a criança como criança, mais do que paciente. Isso é uma revolução - dois seres humanos se encontrando!”, conta Nogueira. A formação de um médico besteirologista Nogueira saiu do Brasil em 1983, rumo a Nova York, nos Estados Unidos. Então professor de inglês, ele resolveu se aventurar em terras estran-

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geiras com uma missão: estudar teatro musical, a fim de se tornar uma artista completo, capaz de cantar, dançar e atuar. Chegando lá, começou seus estudos e, um belo dia, acabou conhecendo o trabalho de palhaços no hospital: “Nunca tinha visto nada tão revolucionário na minha vida”. O que impressionou Nogueira, além da iniciativa em si, foi como os artistas usavam com maestria o que aprendiam na aula (canto, dança e interpretação) e, dessa maneira, conseguiam resultados surpreendentes. Ele começou a se envolver no projeto e em 1988 tornou-se parte integrante do Big Apple Circus Clown Care Unit (um programa pioneiro em levar profissionais treinados para visitar crianças hospitalizadas) e formou-se na Academia Americana de Teatro Dramático e Musical de Nova York. Em 1991, Wellington voltou ao Brasil e no mês de setembro implantou um projeto que seguia a mesma premissa: o Doutores da Alegria. Desde então o palhaço Dr. Zinho vem trabalhando para ampliar o número de profissionais aptos a atuar nos hospitais (constituídos sempre de palhaços ou atores especializados) e disseminar a prática da ‘Besteirologia’ no país. Mas o que é besteirologia? Wellington explica o conceito em uma entrevista ao programa Radiola, da TV Cultura: “Da mesma forma que o médico usa suas habilidades pra cuidar da criança, o besteirologista faz a mesma coisa, só que utilizando a sua linguagem, no caso, as besteiras”, aquilo que o palhaço sabe fazer de melhor, diga-se de passagem. Por trás de todo esse lado descontraído, existe uma vasta pes-

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quisa empregada pelos Doutores com o objetivo de entender quais são as técnicas que mais funcionam no atendimento nos hospitais, para assim aprimorá-los e potencializar os resultados das visitas, chamado de NUFO (Núcleo de Informação e Pesquisa): “O NUFO é muito importante no sentido de organizar o conhecimento que vem do hospital para disseminação para outros públicos, inclusive o interno de palhaços. O NUFO documenta, organiza as experiências e trabalha muito a metodologia da escola dos Doutores da Alegria, que é fundamentada no trabalho do besteirologista nos hospitais”, destaca o fundador. Além disso, o NUFO também se mostra importante porque é constituído da opinião dos próprios pacientes-mirins, a respeito do que funciona ou não no momento das visitas, e pode contribuir para a disseminação do projeto: “ A criança é o mestre, porque procuramos entender o que aprendemos com ela e também, como formar novos e melhores besteirologistas e como levar essa experiência sob a forma de uma palestra ou uma oficina numa empresa ou escola”, enfatiza. A expansão da palhaçada

Doutores da alegria em 2010 Total de visitas a hospitais em 2010: 74.216 Publicações: 12 Grupos cadastrados no ‘Palhaços em Rede’: 416 Público que assistiu às palestras e intervenções: 29,116 Apresentações artísticas nos hospitais: 80 Número de pessoas que assistiram as apresentações: 11 mil Total de estudantes atendidos: 1.155 Pessoas que frequentaram o Espaço Cultural Doutores da Alegria: 1.546 Fonte: Relatório/Balanço anual - Doutores da Alegria

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Foto: Divulgação Grupo Esparatrapo

Eu diria que o palhaço no hospital foi a primeira gota d’água. Sabe aquela gota que, quando cai, vai formando círculos e esses círculos vão ficando cada vez maiores e vão se transformando numa grande onda? É exatamente essa a história do Doutores da Alegria: fazer com que essa onda aconteça e que essa onda carregue em si a cultura da alegria. - Wellington Nogueira, fundador e coordenador do Doutores da Alegria no Brasil.

Com 20 anos a frente do Doutores, Nogueira conta como esse trabalho influenciou a sua vida: “Pelo aspecto profissional, vivo sempre aprendendo de tudo e a todo o momento com esse trabalho, porque ele me desafia a pensar e fazer de maneira diferente do que estamos acostumados; por outro lado, sinto que, quanto mais me dedico aos Doutores, mais portas se abrem para o meu crescimento pessoal e isso eu credito totalmente

ao exemplo que vem das crianças, da maneira corajosa com que elas enfrentam a adversidade da hospitalização”, ressalta. Ele também fala como o projeto mudou sua percepção acerca da vida: “Não há como vivê-la da mesma forma depois de conviver com a realidade do hospital; creio que valorizo mais o meu tempo com minha família e tudo o que a vida me dá de alegrias, saúde, desafios, sinucas de bico, “roubadas”...

Nada se perde, tudo é aprendizado! Também por meio do trabalho, conheci empreendedores sociais, artistas e profissionais que me inspiram muito. Posso dizer que fiquei mais “sem vergonha” de assumir minhas bobices” [risos]. Terapia do sorriso Além de ser um projeto pioneiro no Brasil e de grande credibilidade, o Doutores da

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Foto: Divulgação Grupo Esparatrapo

Alegria serve como inspiração para quem deseja ajudar ao próximo: “Acho muito legal o trabalho que eles fazem. É algo revigorante não só para quem é atendido, mas para eles mesmos. Eles levam um motivo para sorrir aos que estão necessitados” declara a estudante Camila Braga, que já participou de diversos trabalhos voluntários organizados pela sua escola. “Só não participo mais por falta de tempo”, diz. Também acabaram surgindo outros projetos que seguem o mesmo estilo do Doutores, como é o caso do Esparatrapo, grupo situado em São Paulo que também realiza visitas a hospitais. “O Esparatrapo atua em dois hospitais (Hospital Infantil Cândido Fontoura e Hospital Sepaco) e uma casa de apoio (Casa Ronald Mc Donald - do Graacc). As visitas são sempre aos sábados e levam cerca de 5 horas cada, exceto na casa de apoio, onde o ambiente é menor.”, explica Inaiá Correia, atriz profissional e integrante do grupo (além de palhaça) Correia conta que um dia, de péssimo humor, quando esperava um ônibus para casa, um palhaço desceu de um dos coletivos, foi em sua direção e começou a brincar com ela e, de repente, seu mau humor se transformou em choro: ”Fui para casa, já controlada, e percebi que aquele palhaço serviu para expor meus medos e minhas falhas,

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meus sentimentos. Ele foi essencial naquele dia, pois eu me expus completamente. Ali eu vi a força e a responsabilidade do palhaço na sociedade. Ali eu percebi que queria de alguma forma ajudar as pessoas a se exporem ao seu ridículo e também me expor ao ridículo. Foi o start de toda essa brincadeira.” A atriz explica a importância desse tipo de trabalho nos centros médicos. “Quando falamos dos Doutores da Alegria e do Esparatrapo, estamos falando em humanização, ou seja, deixar hierarquias e regras de lado e amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. “Nos hospitais onde atuamos isso é cada vez mais visível. Levamos mais que uma simples


brincadeira ou entretenimento, levamos para os ambientes sérios a beleza de um sorriso. Isso muda a vida de qualquer pessoa”. Ela também destaca a necessidade da atuação de um profissional preparado para essa tarefa: “Preciso ser clara: não somos ‘curandeiros’ e sim, espécie de terapeutas, eu diria. O riso é uma terapia alternativa, como existem tantas outras. Para levá-lo aos hospitais é preciso estudo, muito estudo! Aprender a jogar, aprender técnicas circenses e teatrais, entre tantas outras coisas.

O palhaço é um profissional como qualquer um outro”. Outro projeto que trabalha de forma semelhante aos Doutores é o projeto Arlekinos, que faz parte do Grupo Guapos de Teatro, localizado no Rio de Janeiro, que também atua em hospitais. “Uma, vez visitando a emergência de um hospital, eu tive que entrar sozinho em um quarto de uma menina chamada Clara, que estava praticamente em coma. Entrei com o violão e comecei a conversar com ela, que não se movia. Então comecei a tocar uma

música e cantar para ela, de repente ela abriu um sorriso lentamente. Meu coração disparou e não contive a emoção, ela marcou a minha vida e me deu mais força ainda para continuar trabalhando com isso. Nunca vou esquecer, é muito gratificante.”, conta Fernando Dias, fundador do grupo. O próximo passo do Arlekinos é a inclusão de animais durante as visitas aos centros clínicos. O Doutores da Alegria é, sem dúvida, um projeto que incentiva e inspira tantas outras inciativas a promover um trabalho totalmente voltado para o público infantil, com o objetivo de “levar a besteirologia, de todas as formas para todos os públicos a partir do hospital, porque nossos grandes mestres são as crianças com quem a gente trabalha“, afirma Wellington Nogueira, ou melhor, Dr. Zinho, o responsável pela primeira gota que formou uma onda de alegria nos hospitais do Brasil.

Fotos (cima e baixo): Divulgação Grupo Arlekinos

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P rofissão educação Testes vocacionais: realidade ou ilusão? Especialista e jovens opinam sobre a eficácia dos tradicionais testes vocacionais

Colaboradora Isabela Pimentel interrogada sobre os rumos de sua vida. Desde os primeiros anos da vida escolar, o futuro profissional já se apresenta como uma incógnita para muitas crianças e jovens e uma

pergunta persiste: o que você vai ser quando crescer? É neste momento que entram em cena os educadores, professores e pedagogos, que podem auxiliar

Imagem: Divulgação

Bombeiro, médico ou advogado. Todas essas profissões já passaram um dia pela mente de uma criança que imagina sua carreria e se vê, desde cedo,

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na escolha do futuro profissional, através da orientação vocacional e realização de testes com especialistas na área de psicologia, pedagogia e educação. Para a pedagoga e professora Paula Belmino, os testes vocacionais são de grande importância. “Eles ajudam as crianças e jovens a refletir sobre seus gostos, afinidades, sobre aquilo que se poderia fazer melhor, e além do que é necessário para poder saber o que pode dar certo, ou o que não seria mais aprazível numa carreira profissional que pode ser para toda vida”, explica. Os prós e os contras Belmino ressalta que através da metodologia dos testes, é possível saber em que área se tem mais chance de dar certo, descobrindo a inteligência para trabalhar em grupo e a profissão mais adequada. Como ponto positivo do teste ela destaca a possibilidade de se conhecer melhor as afinidades que cada um possui com determinada área do conhecimento. Um aspecto negativo seria a impossibilidade de seguir aquilo, que por influências externas, especialmente dos pais, você considerava um sonho. O estudante do curso de economia, Rafael Camacho, de 24 anos, acredita que o teste é importante, porém, bastante inconclusivo. “Na teoria é uma coisa, na prática, é outra. Eu fui apresentado a um e o realizei, mas no final, os resultados para o meu futuro foram opções para as quais não tenho a mínima pré-disposição”, afirma. Apesar disso o estudante considera que o procedimento tem vantagens, possibilitando aos jovens encontrar novos caminhos e opções. “Sabendo certas direções é possível pesquisar esses novos caminhos e buscar mais referências”, complementa.

Ele defende que seja criado um órgão de ensino federal que regulamente os testes, para evitar confusões e desorientação. Belmino concorda com o estudante sobre a importância do conhecimento dos limites de um teste vocacional. “Acho válido desde que você se conheça o suficiente e saiba na verdade o que se já deseja para o futuro. Há, porém, limites por o ser humano ter uma mente multifacetada e cheia de novas ideias, sonhos, anseios e, assim, tem o poder de se adequar àquilo que por ventura não se aplicaria à sua personalidade. Com luta, afinco e garra, qualquer pessoa pode dar o melhor ao empreendimento e a profissão escolhida”. O teste é um caminho Os testes podem dar certo e um exemplo é Maria Carolina Lefebvre, de 28 anos. A jovem tem uma história interessante. Sempre quis cursar psicologia e chegou a forma-se no curso em 2007, mas também tinha desejo de fazer outra faculdade na área de saúde. Então, para poder ter certeza de sua escolha conversou com colegas, amigos, professores e também realizou um teste vocacional, que revelou-se insuficiente para sanar sua dúvida. Não satisfeita com os resultados do teste vocacional, a jovem buscou orientação vocacional e enfim, encontrou seu caminho. “Considero que a orientação foi de grande importância, pois consegui escolher uma profissão que se adapta bem à rotina e tem retorno financeiro interessante”, declara a jovem, que escolheu cursar fisioterapia e hoje está no sétimo período do curso. O que dizem os jovens Para o adolescente João Guilherme, de 14 anos, os testes vocacio-

nais tem grande importância na vida dos jovens e mostram a eles o que realmente gostam, ajudando na escolha da profissão. Apesar de acreditar na eficácia do método, o jovem afirma que um ponto negativo é a padronização. “As pessoas, não muitas vezes, duas pessoas, que gostam das mesmas matérias, podem não gostar da mesma profissão”, exemplifica. O estudante acredita que os métodos tradicionais poderiam dar espaço a testes mais modernos, via redes sociais. “Muitas vezes os jovens ‘postam’ tudo o que gostam, e as mais diversas formas de expressão nas redes sociais. Se os testes fossem feitos com base nos ‘posts’ da pessoa, acho que seria mais seguro do que só por uma prova”, considera. Por outro lado jovens do ensino médio, como Renan Maglio, afirmam que o teste é fundamental: “O teste é muito importante na vida dos jovens, pois na idade de 14 a 17 anos todos, ou a maioria (sem generalizar), ainda não decidiram a carreira e por isso procuram os testes, mas nem sempre eles dão certo”, diz. Maglio conta que alguns de seus professores aconselham a quem está em dúvida a realizar o teste. O estudante Pedro Lopes conta que acredita na importância da análise do perfil de cada jovem, mas que os testes vocacionais podem ter resultados equivocados: “Acho que o teste pode dar uma ideia do que realmente você quer trabalhar e em qual área deseja, mas há casos que podem não dar certo. Conheço pessoas que fizeram e lá na frente se arrependeram e trocaram de profissão, pondera. Para você, os testes vocacionais são eficazes? Comente nas redes sociais da Revista Em Família!

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Vida Digital EDUCAR VERSÃO 2011 SÉCULO XXI A Revista Em Família esteve na Feira Internacional de Tecnologia Educacional, realizada no início de maio, e comprovou que a educação moderna é muito mais que carteiras enfileiradas, e que lousa e giz estão com os dias contados

Scanner inovador projeta objetos em questão de segundos na tela do computador 24 Revista Em Família - Junho/Julho - 2011


Fotos: Mauricio Barreira

Lousa digital conta com software próprio de ensino em 3D

Por Mauricio Barreira Não há como negar que ensinar pode ser considerado uma arte. Aliás, uma arte das mais árduas que existem. Com os avanços cada vez mais rápidos da tecnologia em todo o planeta, a tendência é que essa arte seja simplificada pelo uso dos novos aparelhos educacionais que chegam com maior frequência ao mercado nacional. Todo aquele trabalho que o professor tinha em ter de colocar a matéria na lousa, explicar, passar exercícios, e repetir todo esse processo por várias e várias vezes, até que os alunos absorvessem todo o conteúdo da matéria, se depender dos avanços tecnológicos, o professor vai ter que reaprender o modo de educar do novo século, e a matéria na lousa vai ser coisa exibida em museu. A feira Interdidática, realizada no último mês de maio em São

Essa nova geração de crianças e adolescentes está acostumada a ser bombardeada com imagens, portanto, investir em tecnologia é a saída para atrair a atenção dos alunos Paulo, trouxe exatamente tudo o que há de mais novo e tecnológico para a área da educação. Escolas, educadores e outros profissionais da área viram de perto tudo o que a tecnologia é capaz de fazer para aproximar ainda mais o conteúdo da matéria à realidade. E principalmente, aumentar a praticidade das aulas com conteúdos muito mais interativos e fáceis de absor-

ção para o educando. Apesar dos valores elevados de grande parte dos produtos em lançamento, o custo benefício acaba, por fim, compensando qualquer tipo de investimento nesse sentido. Vale lembrar que professores (principalmente os profissionais mais antigos) que sentem dificuldades, por exemplo, com o manuseio de um computador comum, terão

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Não consigo enxergar o futuro educacional sem a tecnologia

Multiterminal permite até dez crianças num só servidor provavelmente problemas para se adaptar a esse novo estilo de aula. Para isso, a escola que investir numa educação digital, tem de ter consciência que o investimento não deve ser feito somente em equipamentos modernos, mas também em qualificação dos profissionais. Portanto, os avanços tecnológicos na rede de ensino devem ser muito bem estudados pela escola que desejar investir nessa nova empreitada. Quadros interativos e projetores Os quadros interativos, ou se preferir, lousas interativas, é o produto de maior repercussão

entre os profissionais da educação. Em especial os professores, que adoraram o modo de poder interagir, transformar, modificar, girar, entre outros movimentos, qualquer objeto ou arquivo que esteja inserido no quadro interativo. Para se ter uma ideia, é possível que um professor de biologia, por exemplo, possa mostrar aos alunos aspectos do corpo humano que um livro não conseguiria demonstrar. Um simples toque com a caneta mágica transforma a imagem exibida, o que torna mais simples a maneira do professor demonstrar e explicar aos alunos o conteúdo a ser passado. Para facilitar ainda mais o trabalho do professor, os fabri-

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cantes trouxeram também softwares educacionais que já vem instalado no próprio sistema do aparelho. Esses programas são totalmente educacionais, e traz os principais temas abordados em sala de aula, como ciências, biologia, química, história, entre outros, tudo em 3D multimídia. Professor de química há 17 anos, Francisco Carlos de Oliveira é a favor da modernização na rede de ensino no país e no mundo. Ele testou a lousa digital e aprovou a experiência. “Essa lousa é fantástica, é a tecnologia a favor da didática e da educação. Não consigo enxergar o futuro educacional sem a tecnologia”, declara. Do mesmo modo pensa João Pau-


lo Ramos, professor de história há três anos. Ele acredita que as novas tecnologias poderão ser capazes de atrair o interesse dos alunos da atual geração em aprender. “Essa nova geração de crianças e adolescentes está acostumada a ser bombardeada com imagens, portanto, investir em tecnologia é a saída para atrair a atenção dos alunos”, diz. “Com a lousa você consegue trazer para dentro da sala de aula as atualidades, dá para fazer conexões entre uma matéria e outra, acredito que a interdisciplinaridade é muito importante”, enfatiza Tânia Cristina da Costa Lima, supervisora educacional. Parecidos com as lousas digitais, porém muito mais práticos por conta de seu tamanho reduzido, os projetores funcionam com quase todas as funções de um quadro interativo, com exceção feita aos softwares de ensino, criados somente para as lousas. A principal característica dessa

tecnologia é poder projetar em praticamente qualquer tipo de fundo uma tela interativa, com liberdade total para o educador criar suas aulas da maneira que bem entender. Assim como nos quadros interativos, nos projetores é também a caneta mágica que permite ao usuário total liberdade para usufruir do aparelho. Transformar um computador em dez Imagine utilizar somente um computador para transformá-lo em dez. Parece mentira, mas a empresa ThiNetworks trouxe essa concepção para quem precisa acomodar muitos alunos e ao mesmo tempo gastar pouco. O sistema é basicamente simples. Chamado de Multiterminal, ele funciona com o uso de um computador como servidor principal, este que passa as informações para os outros terminais menores. O consumidor economiza justamente porque os terminais menores são uma espécie de computadores compactos, com suporte

Com a lousa você consegue trazer para dentro da sala de aula as atualidades

Quadros interativos, sensíveis até com o toque das mãos

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para receber as coordenadas do servidor. Desta forma, gasta-se bem menos, pois os preços desses terminais saem muito mais em conta que um computador comum para cada educando. “O sistema ideal que propomos é de utilizar no máximo cinco terminais num mesmo servidor, pois quanto mais terminais tiverem, maiores são as chances do servidor não suportar”, explica o gerente de rede, Rodrigo Ruiz. O sistema com dez terminais pode ser usado perfeitamente, desde que o servidor seja, no mínimo, uma máquina de boas configurações. O sistema também traz o controle total do servidor sob os terminais, ou seja, o professor consegue filtrar tudo o que os alunos fazem. Robótica educacional Desenvolvida na sala de aula por meio de grupos de cinco alunos, sendo um desses considerado o “líder”, a robótica educacional é uma ferramenta para estudar as ciências exatas. Principalmente matemática, geometria, física, mecânica e também, por que não, o português. O sistema consiste a partir da interação entre os componentes do grupo e das direções e decisões tomadas pelo líder desse grupo, como se fosse uma empresa, com cada aluno tendo sua função. A intenção é fazer os alunos aprenderem robótica educacional por meio da interação, estimulando vários fatores, como a cooperação, a criatividade e a curiosidade. “A gente preza em ensinar os fundamentos da ciência primeiro, para em cima disso os alunos conseguirem montar projetos. Nós ensinamos a fazer tecnologia e não a usar uma tecnologia já pronta”, explica Leon Levi, responsável pelo desenvolvimento de novos produtos da empresa Modelix. Segundo Levi, crianças a partir de oito anos de idade já conseguem montar, por exemplo, um robô que ande para todos os lados e que ainda por cima reaja quando bater em algum obstáculo. O interessante é que esses movimentos são programados pelo

Software permite calcular física de forma rápida e atrativa

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software Camarada, criado pela própria Modelix, cuja interface é bastante simples. Por meio dele a criança desenvolve logo cedo uma intimidade com softwares de edição. “A partir do momento que a criança entende a lógica do programa, no futuro quando ela usar softwares mais complexos, será como andar de bicicleta”, compara Levi. Esse sistema requer curso para que os professores estejam aptos a darem todas as matérias que a robótica educacional envolve. Cerca de 80% das aulas são práticas e os outros 20% são distribuídos em vídeos-aula e explicações teóricas dadas pelos professores. Mesas educacionais As mesas educacionais desenvolvidas pela Positivo são indicadas para as crianças menores que ainda estão aprendendo a ler, escrever e interpretar cores, nomes de animais, sons etc. Elas interagem com a criança conversando e contando histórias, pedindo a participação dos pequenos em jogos e brincadeiras educativas. Uma delas, por exemplo, possui um próprio tabuleiro montado diretamente na mesa e um dado de pelúcia para realizar as jogadas. O representante da Positivo, Ubirajara Moreira, enaltece que as mesas educacionais são uma ótima opção para as crianças aprenderem e brincarem ao mesmo tempo. “São diversas brincadeiras interativas, um exemplo é a história da fazenda, a criança coloca as plaquinhas do animal correspondente, de acordo com a narração da história, e nisso ela vai interagindo e aprendendo”, explica. As mesas educacionais agradaram também profissionais da educação. “Achei muito apropriado, para as crianças essas mesas chamam muito a atenção”, conta Tânia Cristina da Costa Lima, superviso-


Projetos dos alunos de robótica educacional

ra educacional. Simone Carneiro, professora de português, resume o que achou da nova maneira de ensinar. “Achei interessante essa interação do aluno com os objetos sendo reproduzidos na tela do computador, além de proporcionar a alfabetização você une a educação digital também”, diz. Interação com objetos e um novo jeito de aprender física e biologia Muitas matérias exigem que o professor utilize manualmente ou, em forma de desenho, figuras ou objetos para que os alunos possam entender exatamente o que ele quer passar. Mas nem sempre essa técnica manual é completamente eficaz. Os scanners em tempo real X500 e X600 apresentados pela Scan System, permitem que o professor leve mais interatividade e facilidade para as aulas. O equipamento é capaz de projetar em questão de segundos o objeto ou figura digitalizado. Basta um simples toque no botão e a imagem está pronta para o professor usufruir da melhor maneira possível. Prático e portátil, eles não precisam de outro equipamento para funcionar e nem ocupam muito espaço. Deste modo, o docente pode exibir de forma prática e digital tudo o que for relevante para que a aula flua com mais qualidade. A Vernier aposta num modo inovador de ensinar e aprender física e biologia. A empresa desenvolveu uma tecnologia que é capaz de acompanhar, calcular e analisar, em tempo real, diversos fenômenos científicos. É possível, por exemplo, acompanhar o processo de fotossíntese de uma planta, ou então, analisar a velocidade, distância e a altura que um jogador de basquete arremessa a bola ao garrafão. Essas informa-

ções e dados podem ser analisados detalhadamente, o docente é quem determinará o que calcular e medir, ou qual fenômeno natural será estudado. Além disso, criar comparativos entre o que acontece com a planta durante uma tarde de sol e o que acontece depois, quando o tempo virou noite, também são opções no software da empresa. Administrador de sistemas, Fábio Araújo enaltece que a parte de hardware desse novo conceito de educação está bem avançada, ele aprova a tecnologia nas redes de ensino. “Tudo isso só acrescenta, deixa mais dinâmica a aula e a interação na sala de aula é bem melhor”, diz. A ferramenta não é das mais fáceis de manusear, pois requer conhecimentos de informática do professor em questão, mas vale a pena para criar comparativos e aprender a ensinar física e biologia de forma muito mais convidativa.

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Vida Digital Vigilância 24 horas Monitorar alunos e professores por meio de câmeras ainda é motivo de discussão e polêmica, embora aumente a segurança na escola

Colaborador Romário Ferreira O massacre na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, trouxe a tona, novamente, uma discussão que gera conflitos: até que ponto o uso de câmeras nas escolas pode ser benéfico? Para especialistas, as câmeras podem ter objetivos polêmicos. Muitos defendem a utilização como forma de prevenção para casos como o ocorrido no Rio de Janeiro; enquanto outros desaprovam se a intenção for controlar o comportamento dos alunos e a metodologia dos professores. Na cidade de Sorocaba, interior paulista, foi aprovada a lei que obriga a instalação de câmeras nas escolas, em locais que permitam o monitoramento das áreas internas e externas usadas pelos alunos. O autor da proposta, vereador José Francisco Martinez (PSDB), disse que o objetivo é exclusivamente reforçar a segurança dos alunos. As câmeras foram instaladas inclusive nas salas de aulas. Os estudantes aceitam as câmeras com ressalvas. “Acho interessante para evitar a violência, mas discordo se for para nos vigiarem durante as aulas”, afirma a estudante Larissa Gomes de Oliveira, de 14 anos. As câmeras, segundo os professores, podem inibir o aluno e fazê-lo a se comportar bem diante dela. Além disso, os próprios professores se sentem vigiados e têm seu trabalho afetado. A pedagoga Núbia Santiago relata que os alunos se comportam

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bem em locais onde são filmados, mas fora do alcance das câmeras voltam a bagunçar. Ela acredita que as câmeras não podem agredir a privacidade de alunos e professores. Já os pais se sentem mais seguros com a vigilância imposta sobre os filhos. “É mais um motivo para eles se comportarem bem, além de aumentar a segurança de todos”, afirma a dona de casa Maria Aparecida Bezerra, mãe de uma menina de 12 anos. Em algumas escolas particulares, principalmente nas creches, já é possível monitorar os filhos por meio do computador. As salas de aula são filmadas e os pais podem, por meio de uma senha oferecida pela escola, acessar o site da unidade escolar e assistir ao filho durante a aula. No início a novidade causou polêmica, mas, ultimamente tem


virado tendência. A professora Ivanir da Silva Ferreira, mãe de uma criança de 1 ano e seis meses, revela que gostou da novidade e já procura escolas que ofereçam o serviço de monitoramento das aulas via internet. “Só assim me sentirei mais segura, pois quando quiser posso dar uma ‘espiadinha’ no meu filho”, conta. Mudança de comportamento

filmados”, declara. A maioria das escolas que possuem câmeras aponta duas justificativas para o uso delas: melhoria da segurança, embora não seja tão garantida assim; e a melhoria na disciplina dos alunos. “O monitoramento beneficia, principalmente, aquele aluno que quer estudar, mas é prejudicado pelos colegas bagunceiros de sala. Como são muitos alunos, as câmeras ajudam a identificar o causador dos conflitos e das brincadeiras”, explica Ferreira, que acredita que as câmeras podem ser eficazes contra a prática do bullying e outras formas de violência. Outro assunto que gera polêmica

é o destino das imagens. Na cidade de Sorocaba, por exemplo, elas são de responsabilidade do município e não podem ser exibidas ou cedidas, salvo em caso de requisição judicial. “É essencial que os pais perguntem à escola o que é feito com as imagens para evitar que elas caiam na internet e sirvam como motivo de brincadeira entre os alunos”, alerta a professora. De qualquer forma, polêmica ou não, o uso dessa tecnologia nas instituições educacionais é cada vez mais utilizado, e a tendência é se tornar padrão, queira quem goste ou não.

O monitoramento beneficia, principalmente, aquele aluno que quer estudar, mas é prejudicado pelos colegas bagunceiro de sala

Imagens: sxc

Para os professores, a limpeza da escola seria um dos fatores mais beneficiados com o uso da câmera. Os alunos saberiam que estão sendo vigiados e evitariam sujar as carteiras, paredes, o chão etc. Além disso, muitos parariam de falar palavrões e de fazer bagunça. “Cientes das câmeras, eles se comportariam bem, pois saberiam que estão sendo vistos pelos pais”, afirma Ferreira. Já a pedagoga Santiago acredita que os alunos devem aprender a se comportar mesmo sem as câmeras, pois muitas crianças se portam bem diante dos pais, e fora da atenção deles aprontam em dobro. “O ideal seria a escola conscientizar o aluno sobre a importância da educação também quando não estamos sendo

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Cultura

estrada

Pequena Miss Sunshine

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Imagens: Divulgação

Pé na


Colaborador Ricardo Martins Os EUA possuem 6 milhões e 500 mil quilômetros de rodovias, ou seja, 25% de todas as rodovias existentes no planeta. Fruto das antigas trilhas dos pioneiros que, durante os séculos XVII e XVIII cruzaram o país da costa leste a oeste, desbravando o país. Aventuras estas retratadas em vários filmes de western, onde vimos caravanas andando pelas pradarias, cercadas de manadas de bisões, ocasionalmente sendo atacadas por índios. A indústria automobilística norte-americana nasceu em 1903, quando Henry Ford fundou sua empresa, a Ford Motors Co, que tinha por estratégia a construção de automóveis de baixo preço e pouco luxo, ao contrário do que era praticado pela indústria alemã e francesa de então. Esse automóvel de baixo custo era o Ford T, popularmente conhecido aqui no Brasil como “Ford Bigode”. Bom, não é difícil de imaginar que esse automóvel – no justo conceito de “popular” – caiu no gosto da população. E também não é difícil calcular de onde vem essa paixão do americano pelo automóvel. E daí, o alto investimento na construção de rodovias. Filmes de Estrada (Road Movies) Em cima disso, a indústria cinematográfica começou a produzir roteiros com histórias envolvendo automóveis e estradas, símbolo da modernidade

Central do Brasil

da época e um indivíduo, geralmente tido como “rebelde” pela sociedade de então, que “cai na estrada” em busca de uma redenção, autoconhecimento ou simplesmente liberdade, seja ela de que tipo for. Basicamente são filmes onde os principais componentes são estradas e veículos. As histórias se desenrolam através da interação entre o viajante e as pessoas à margem dessas estradas. Road Movies Aconteceu Naquela Noite (It Happened One Night, 1934) – Dirigido por Frank Capra, ganhador de quatro prêmios Oscar. Conta a história de uma milionária (Claudette Colbert) que foge para se casar, e de um jornalista (Clark Gable) que, para poder escrever uma reportagem sobre a fuga, a acompanha através do país até o altar. No meio da viagem eles se apaixonam. O interessante do filme é mostrar o cotidiano americano dos anos 1930,

de como eram as viagens de ônibus, o hábito ainda saudável de pedir caronas e como eram os hotéis de beira de estrada. Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath, 1940) – Dirigido por John Ford, baseia-se num livro de John Steinbeck. Conta a história de uma família de fazendeiros pobres do meio oeste americano que partem rumo à Califórnia, durante o a Grande Depressão – período de forte crise econômica dos EUA no início dos anos 1930. O filme tem forte apelo social, ao mostrar a pobreza, a crise do capitalismo e o preconceito que atingiu o país, ao mostrar as agruras que a família passa ao atravessar a América. Uma Rajada de Balas (Bonnie and Clyde, 1967) – Dirigido por Arthur Penn, Faye Dunaway e Warren Beatty interpretam o casal de assassinos e ladrões de bancos que durante a Grande

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Depressão foram perseguidos pela polícia por vários estados do interior do país. O American Film Institute considera este filme o 27º entre os 100 maiores filmes de todos os tempos. O casal foi morto em maio de 1934 numa emboscada no estado da Louisiana. Sem Destino (Easy Rider, 1969) – Um filme que retratou a geração da paz e do amor, dos hippies dos anos 1960. Dirigido e atuado por Peter Fonda, mostra a história de dois motoqueiros (ele e Dennis Hopper) que, pilotando duas Harley-Davidson, atravessam os EUA, envolvendo-se com drogas, sexo e rock n’roll (a trilha sonora tem Jimmy Hendrix, Bob Dylan e Steppenwolf). Nesse mesmo ano ocorre o festival de Woodstock e o momento do filme não poderia ser mais simbólico. Foi uma obra que definiu o estilo Pé na Estrada. Thelma e Louise (1991) – Dirigido por Ridley Scott, conta as aventuras de mulheres (Susan Sarandon e Geena Davis) que, cansadas de viverem sob a violência dos homens do meio-oeste americano, pegam um automóvel (Thunderbird 1966 conversível) para viajarem. Numa de suas paradas, matam um rapaz que tentara estuprar uma delas, tornando-se assim fugitivas da polícia. Sua fuga a leva a muitas aventuras, onde mudam sua atitude de ver o mundo e a si mesmo como mulheres. Um hino à liberdade. Priscilla, a Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, Queen of Desert, 1994) – Dirigido por Stephan Elliot, “Priscilla” é o nome do ônibus que transporta uma troupe de drag queens que parte pelo interior australiano para participarem de um show. Durante a viagem enfrentam preconceito e aventuras bizarras. Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006) – Olive (Abigail Breslin) parte junto com a família - composta por um tio suicida e viciado em heroína, um irmão que se recusa a falar, um pai especialista a motivar pessoas à beira da falência e uma mãe meio hippie – todos numa kombi em uma viajem do Novo México até a Califórnia para participar de um concurso kitsch de beleza pré-adolescencente. Produção norte-americana independente dirigida por Jonathan Dayton e Valeri Faris. Pé na Estrada no Brasil O cinema nacional também produziu filmes pé na estrada.

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Thelma e Louise Não com a mesma quantidade quanto o cinema norte-americano, pela própria formação histórica do país, mas tem seus representantes que não deixam nada a dever aos criadores do gênero, pois como no cinema americano, retratam os brasileiros na sua essência: Bye Bye Brasil (1979) – De Cacá Diegues. É seu primeiro filme “pé na estrada”. O segundo seria “Deus é Brasileiro” (2003) – ver logo em seguida. Retrata um grupo de artistas mambembes – grupo de artistas viajantes – que compõem a Caravana Rolidei, que parte da região amazônica, rumo a Brasília. Fazem parte do elenco


José Wilker, Betty Faria e Fábio Júnior. É considerado uma das principais produções brasileira da década de 1970. Foi indicado ao prêmio “Palma de Ouro” no Festival de Cinema de Cannes de 1980. Central do Brasil (1998) – De Walter Salles. Dora (Fernanda Montenegro) vive de escrever cartas para analfabetos na estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Muito interessante o momento em que várias pessoas aparecem e ditam suas mensagens, mostrando um retrato do país. Ela se envolve com Josué (Vinicius de Oliveira) que sonha encontrar seu pai. E essa busca a leva

para o nordeste, numa viagem um pouco atribulada. Teve duas indicações ao prêmio Oscar de 1999, para a de melhor atriz e melhor filme de língua estrangeira, e vencedor do Leão de Ouro de 1999 no festival de Cinema de Berlim. Deus é Brasileiro (2003) – Dirigido por Cacá Diegues, o filme mostra que Deus, interpretado por Antônio Fagundes, vem à Terra, mais precisamente no nordeste brasileiro procurar um substituto para poder tirar umas “férias”. Pede ajuda a Taoca (Wagner Moura) e partem pelo interior do país a procura desse substituto. Filme leve, cômico e emocionante.

Cinema, Aspirina e Urubus (2005) – Dirigido por Marcelo Gomes, mostra o encontro de Johan (Peter Ketnath), um alemão fugido da II Guerra e Ranulfo (João Miguel), um homem simples do sertão nordestino. Johan pilota um caminhão pela região, indo de povoado em povoado vendendo aspirinas e exibindo filmes a pessoas que nunca viram cinema, filmes estes que promovem sua mercadoria. Na grande maioria das vezes, os roteiros destes e outros filmes não mencionados discutem o conceito de liberdade. E há vários. Estrada é liberdade.

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Cultura As férias escolares chegaram.

É hora de ir ao teatro! Colaboradora Lucia Vieira Pinheiro cipalmente as fábulas e contos clássicos. Aquelas que um dia alguém contou a você e ficou

Fotos Peça Cinderela: Divulgação Tonel das Artes

As férias é uma ótima oportunidade para incentivar as crianças a ler, prin-

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no fundo das suas lembranças. Sempre há como extrair de cada história um aprendizado. E melhor ainda se unir a leitura ao “lugar que se vai ver” (significado da palavra teatro em grego) o que se leu. Ao assistir as peças teatrais, no auge da empolgação, porque não estimular a imaginação e entregar um livro sobre o assunto? “Lugares que se vai ver”: Cinderela, O Musical Uma encantadora garota serve de criada a sua madrasta e meias-irmãs. Com ajuda de seus amigos ratinhos “Jack e Tata”, e de sua fada madrinha, ela vê seu sonho de felicidade se tornar realidade conquistando o amor do seu príncipe. Adaptação e Direção - Marina Costa. Teatro Brigadeiro. Telefone: (11) 3107-5774. Local: Av. Brig. Luís Antônio, 884, Bela Vista, aos sábados e domingos, às 16h. Ingresso: R$ 40,00 (inteiro), R$ 20,00 (meia). Temporada: 19 de março a 31 de julho de 2011. Censura: livre. A bruxinha que era boa Angela é uma bruxinha que não gosta de fazer maldades, mas terá que aprender para poder passar no exame dos bruxos e, quem sabe, ganhar a tão sonhada vassoura a jato. Em um dos testes conhece Pedro e juntos passarão por aventuras. Pedro mostra que não podemos julgar as pessoas antes de conhecê-las. Essa história é de Maria Clara Machado. Teatro Ressurreição. Telefone: (11) 5016-1787. Local: Rua dos Jornalistas, 123 – Jabaquara, aos sábados e domingos, às 16h. Ingresso: R$ 30,00. Temporada: até 23/07. Censura: livre. Alice no país das maravilhas Conta a história de Alice, uma menina inteligente e curiosa que está cansada do seu mundo monótono de estudos e livros sem gravuras, e acaba caindo no maluco País das Maravilhas, após correr atrás de um coelho muito atrasado.

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Foto: Divulgação Teatro Maria Della Costa

Adaptação: Elisa Reis Teatro Ressurreição Telefone: (11) 5016-1787 Local: Rua dos Jornalistas, 123 – Jabaquara, aos domingos, às 17h30. Ingresso: R$ 30,00. Temporada: De 12/06 até 31/07. Censura: 2 anos.

Telefone: (11) 3864-4513. Local: Rua Tito, 295 Lapa, aos sábados e domingos, às 16h. Ingresso: R$ 10,00. Temporada: Até 26/06. Censura: livre.

Andersen sem palavras Inspirado em contos de Hans Christian Andersen. Andersen viveu uma infância pobre e através dela conheceu os contrastes da sociedade. As obras de Andersen muitas vezes são complexas para o público infantil, sendo necessária a participação dos pais para interpretá-las as crianças. A peça reúne cinco famosos contos de Andersen: O Patinho Feio, Soldadinho de chumbo, Os Namorados, A Menina dos fósforos e O Sapo. O espetáculo une a magia do teatro de sombras com a poesia dos contos de Andersen. Feito um cinema mudo, sem palavras, figuras entram e saem de cena, acompanhadas por uma trilha musical. Teatro Cacilda Becker.

Branca de Neve e os sete anões A clássica história da menina “branca como a neve, cabelos negros como ébano e lábios vermelhos como o sangue”, que é enviada por sua malvada madrasta para ser morta na floresta. Ela, porém, consegue se livrar e encontra os sete anões que a acolhem e

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Teatro Ruth Escobar - Sala Dina Sfat. Telefone: (11) 3289-2358. Local: Rua dos Ingleses, 209 – Bela Vista, aos domingos, às 16h. Ingresso: R$ 25,00. Censura: 3 anos.

O gato de botas Um gato muito esperto e inteligente transforma seu dono – um simples trabalhador rural – em Marquês de Carabás e, com isso o ajuda a realizar seu grande sonho: casar com a princesa.

Os três porquinhos - O musical Numa linda casa de campo mora Dona Porca Porbela, que são os três porquinhos, cada um com uma personalidade diferente. Certo dia esses três porquinhos decidem morar so-

zinhos e deixam a casa da mãe deles para caminhar pela floresta em busca de um lugar para morar, mas eles não contavam com um lobo com muita fome. Teatro Bibi Ferreira. Telefone: (11) 3105-3129. Local: Av. Brig. Luis Antonio, 931 – Bela Vista, aos sábados e domingos, às 15h. Ingresso: R$ 30,00. Temporada: Até 28/08. Censura: 2 anos.

Imagem: Divulgação Teatro Ruth Escobar

protegem. Até que... Adaptação: Vito Barsotti. Teatro Maria Della Costa. Telefone: (11) 3256-9115. Local: Rua Paim, 72 – Bela Vista, aos Domingos, às 17h40. Ingresso: R$ 25,00.

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Coluna literária Fantástica

A Fábrica de Chocolate

Imagem: Divulgação

A metáfora da felicidade

40 Revista Em Família - Junho/Julho - 2011


Colunista Jacira Fagundes A obra de Roald Dahl (19161990) é marcada por histórias cuja referência recai nos sofrimentos familiares, aliados a lances mágicos tratados com ironia. A Fantástica Fábrica de Chocolate, livro bastante conhecido no Brasil, que teve adaptação para o cinema pelo próprio autor, é uma obra de alto valor literário que apresenta uma típica família da classe proletária, suas esperanças e penúrias; segue pela linha da magia e do fantástico chegando às raias do delírio e com muito humor. A história remete à fábula, de quando a sorte ou a fortuna recaiam sobre aquele que se destacasse por suas qualidades morais, pela obediência, paciência e abnegação. Aquele que se insurgisse contra os preceitos morais, no reino dos homens ou dos animais, haveria de sofrer as mais duras penas. A história remete aos contos de fadas onde os pertencentes às castas inferiores e os menos favorecidos eram agraciados e escolhidos por reis, príncipes e princesas para habitarem palácios suntuosos privando com a nobreza, e assim viverem felizes para sempre. Detendo-se ora na fábula, ora no conto de fadas, na Fantástica Fábrica de Chocolate o leitor interage num campo bastante peculiar comum aos dois gêneros de literatura. Não será impróprio afirmar que tanto a fábula quanto o conto de fadas buscam, junto a ensinamentos, castigos e doses maciças de sabedoria, um bem maior, fantástico e de conturbado acesso - a felicidade. Daí a razão de trazer para reflexão a questão da felicidade como metáfora na obra de Dahl. O pequeno Charlie Bucket faz parte de uma família onde apenas o pai trabalha. A casa onde moram

Charlie, a mãe, o pai e os quatro avós é minúscula e possui apenas uma cama, reservada aos quatro velhinhos. Todos da casa se alimentam pouco e mal. A barra de chocolate que Charlie recebe de presente, resultado de muita economia feita pela família a cada aniversário, constitui o momento esplendoroso de felicidade entre os familiares. Tanto é assim, que o menino permanece por semanas admirando a iguaria e adiando o instante dedicado ao grand finale, quando enfim dá vazão ao prazer de ir saboreando o doce aos pedacinhos dia após dia. A felicidade adiada, a recompensa pelos sacrifícios em tempo de abstinência, o sonho tornado realidade, tudo isso traz uma satisfação imensurável. Neste momento toda a família fica feliz. “Na cidade, pertinho da casa de Charlie, havia uma imensa fábrica de chocolate. Imaginem só!”, anuncia o narrador. O leitor não só imagina, como divide com o protagonista toda a frustração de saber-se próximo da felicidade sem poder atingi-la. Dahl escolhe justamente uma fábrica, local onde é possível produzir sonhos de consumo, por tempos e tempos. E a fábrica produz chocolate!,Numa variedade indescritível, em profusão, chocolate! Se não o maior, pelo menos o mais saboroso e incrível entre os maiores objetos de desejo em todo o universo. E surge a oportunidade única. A de ser um dos cinco felizardos a encontrar o Cupom Dourado que acompanha apenas cinco entre milhares de barrinhas de chocolate produzidas pela fábrica cujo proprietário é o Sr Willy Wonka. O próprio Sr. Wonka promete receber a visita das cinco crianças sortudas e as conduzirá pelo interior da fá-

brica de chocolate numa viagem fantástica. E mais, dará garantia de provisão generosa de doces para a família da criança que conseguir chegar ao término da viagem. Pelo resto da vida. A esperança precede a felicidade que pode estar à espreita logo adiante. O cupom dourado tem a mesma força do bilhete da megasena, uma feliz caça ao tesouro, um pedacinho de papel que pode mudar destinos. O cupom dourado é o bilhete de passagem que dará acesso à poltrona vip na aeronave rumo ao espaço sideral. Dahl é brilhante nesta trajetória que envolve o leitor em expectativas e esperança, embora óbvio. O leitor já é sabedor do desfecho, mas isto não lhe tira o valor. Nesta possibilidade habita a semente da felicidade, não aquela felicidade que se constrói, que se vai tecendo pouco a pouco no interior de cada alma, mas a outra, a que vem de fora com uma lufada de vento, trazida pela sorte, pela mão do destino. A felicidade não é racional. Para o autor, faz-se necessário conhecer um caminho de dificuldades antes de se atingir esta felicidade benfazeja, que vem trazida pelos ventos. Buscá-la e reconhecê-la é tarefa para os pobres de valores e de espírito, para aqueles que se movem pela fé e que acreditam na ventura, os que recolhem na simplicidade da vida a fração que confere o mágico e o fantástico, reduto inquestionável. A Fantástica Fábrica de Chocolate nos deixa esta lição. Falsa ou verdadeira, talvez valha pena conferir. Aos pais de hoje, fica a sugestão de leitura.

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