M&E 309 1ª dez

Page 5

Entrevista

Marx Beltrão: sem medidas de impacto turismo não tem como crescer Luiz Marcos Fernandes

M&E – O senhor tem defendido um novo modelo de gestão para o turismo. Isso passa também por novas parcerias e pela busca de entendimento com outros setores do Governo. Qual a sua visão a respeito e como elevar o turismo a um novo patamar? Marx Beltrão – Neste pouco tempo à frente do Ministério, pude observar que muitas demandas não dependem apenas de recursos, mas sim de vontade política. Estamos preparando uma série de medidas para dar um novo impulso ao setor. A indústria do turismo reúne todas as prerrogativas para ajudar na retomada da economia neste momento de recessão. Precisamos fazer do turismo uma política de Estado. Pela primeira vez o nosso setor tem assento no conselho de politica econômica do país. Chegou a hora de colher os frutos do legado dos mega eventos. Precisamos dar um salto adiante e o turismo é a ferramenta para ajudar neste processo. M&E – O senhor tem defendido abertamente junto a outros setores do Governo um novo modelo de flexibilização do visto. Como estão essas negociações? Marx Beltrão – O modelo de flexibilização dos vistos merece uma atenção. Queremos isso para países como Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália. Além disso tem a questão do mercado da China. O modelo para o mercado chinês poderia ser semelhante ao adotado pela Argentina, no qual, os turistas chineses que visitam os Estados Unidos e têm interesse em estender a viagem até a Argentina não precisam de visto. Queremos adotar um modelo semelhante a este, uma vez que o Brasil precisa criar facilidades para atrair mais turistas daquele país. Atualmente nós recebemos pouco mais de 55 mil turistas da China, que envia ao exterior anualmente mais de 130 milhões de turistas. Lembro que na Olimpíada dos mais de 156 mil estrangeiros dessas quatro nacionalidades que entraram no Brasil entre 1 de junho e 12 de setembro, 75% (117,09 mil) afirmaram que usaram a dispensa do visto. A economia nacional faturou US$ 142.1 milhões com eles. Vamos discutir a pauta com todos os envolvidos, como o Ministério da Justiça e o Ministério das Relações Exteriores.

M&E – O Brasil ganhou uma grande visibilidade internacional com a Olimpíada. Como aproveitar melhor esse legado e aumentar o fluxo de visitantes, bem como a entrada de divisas com o turismo internacional? Marx Beltrão - O legado das Olimpíadas deve ser explorado com uma estratégia comercial e promocional, de modo a ampliar rapidamente o fluxo de turistas estrangeiros, bem como o crescimento das divisas. Se conseguirmos estender ou tornar permanente a flexibilização dos vistos, injetaremos milhões de dólares na economia nacional com a entrada de divisas. O Turismo pode ser um dos principais propulsores da economia. Se tomarmos as medidas acertadas e avançarmos, certamente iremos atrair novos investimentos. Temos procurado divulgar o novo momento do Brasil nas feiras internacionais, como fizemos durante a WTM em Londres junto a empresários locais e na Espanha durante a Fitur vamos prosseguir com este trabalho. Afinal o país ganhou uma grande visibilidade no exterior e precisamos atrair novos investidores. M&E – O que seriam as áreas de interesse turístico? Marx Beltrão – As Áreas Especiais de Interesse Tu-

rístico (AEITs), são locais com licenciamento diferenciado e crédito facilitado para investidores estrangeiros. Entre as preocupações nesta minha gestão está a maior integração com o trade. Eu aposto no estreitamento das relações e do diálogo com o mercado, com o Congresso Nacional, com o poder público e o privado para a criação de uma agenda propositiva pelo turismo brasileiro. E esse diálogo permanente é uma das minhas grandes premissas para a geração dos resultados que o país espera, de promover o setor gerando emprego e renda. Outro tema importante é o turismo natural e o cultural, fatores de atração dos turistas que viajam a lazer pelo Brasil. De acordo com pesquisa realizada com turistas internacionais em 2015, quase 70% buscavam o turismo de “sol e praia”, seguido de “natureza, ecoturismo ou aventura”, segmento responsável por 15,7% da demanda internacional. Por isso, precisamos investir na promoção dos destinos com esses atrativos, transformando-os em verdadeiros roteiros e produtos turísticos. Podemos fazer parcerias público privadas para tornar os atrativos e destinos ainda mais competitivos. Assim, poderemos aumentar o potencial e a oferta turística desses lugares e de toda a região em que estão inseridos. M&E – Um dos temas preocupantes já manifestados pelo senhor e pelo presidente

Marx Beltrão, ministro do Turismo

da Embratur é a questão dos recursos para o setor e para a pasta. Como resolver a falta de verbas que vem sendo reduzida ano a ano para o setor? Marx Beltrão - Acredito que o orçamento do Ministério do Turismo esteja aquém do satisfatório. Temos nas emendas parlamentares um orçamento de R$ 400 milhões para o próximo ano. Por isso, o aumento do orçamento está entre as minhas prioridades. E esse esforço para recuperar os recursos é um trabalho cuidadoso que vamos construir com a equipe econômica brasileira, mostrando a importância do turismo para o desenvolvimento do país. Está mais do que na hora do Brasil abrir as portas para o turismo. Lembro que enquanto países como o México investem R$ 485 milhões e Argentina cerca de R$ 100 milhões em promoção internacional nós aqui só investimos pouco mais de R$ 20 milhões por ano, o que é muito pouco. Temos que mudar isso. Queremos atrair investimentos privados para a Embratur e capital estrangeiro para investimentos como o dos cassinos. Para isso é preciso aprovação da legalização do jogo.

Dezembro de 2016 - 1ª quinzena

Preocupado em dar um novo impulso ao setor, o Ministério do Turismo prepara um pacote de medidas com o objetivo de fomentar o turismo doméstico e internacional. A informação foi confirmada pelo ministro do Marx Beltrão, que assumiu o cargo há pouco mais de dois meses. O dirigente admite que são medidas que terão alcance a curto e médio prazo, e que têm como meta fomentar o setor. Algumas delas já foram divulgadas como a questão da flexibilização dos vistos. Outras estão sendo discutidas, como o uso ordenado de parques naturais e criação de áreas de interesse turístico. Segundo Beltrão, as ações serão divulgadas gradativamente. O dirigente também reconhece gargalos que impedem o desenvolvimento do Turismo, como a burocracia que dificulta a liberação de licenças ambientais e o Cadastur, que está sendo reestruturado. Ele prometeu ainda rever a Lei Geral do Turismo para torná-la mais eficaz e defende a liberação dos cassinos.

M&E – Em relação ao turismo doméstico, o senhor tem defendido medidas como a ocupação ordenada dos nossos parques nacionais e estaduais. Qual sua opinião a respeito deste tema? Marx Beltrão – Eu defendo a ocupação ordenada dos parques públicos, numa parceria com o setor privado e temos que vencer os entraves da burocracia. Lembro que somos o primeiro país no mundo em recursos naturais, mas não sabemos aproveitar esse imenso potencial. Temos exemplos bem-sucedidos com a iniciativa privada neste processo de exploração de áreas naturais como é o caso de Foz do Iguaçu e Noronha. São 65 parques e temos que saber explorá-los. Temos também que avançar na aviação regional. Lembro que o Brasil tem um mercado consumidor que é o terceiro maior do mundo em demanda da aviação comercial, mas temos destinos que precisam de mais rotas. Não temos preços de tarifas aéreas competitivas. Precisamos de medidas como a abertura do capital para o mercado estrangeiro das companhias aéreas para que outras empresas possam vir explorar a aviação comercial no nosso país. Isso vai gerar mais emprego e competitividade, reduzindo os preços e aumentando a oferta de voos. É preciso diversificar a malha aérea muito concentrada no Rio e São Paulo. Estamos trabalhando também a reforma da Lei Geral do Turismo e vamos retomar o Programa de Regionalização do Turismo com a criação de áreas de interesse turístico.

5


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.