Economia & Mercado_Edição 35_Março 2021• As profissões do futuro

Page 12

ESPECIAL

GARIMPO DESCONTROLADO: O ELO MAIS FRACO DOS MINÉRIOS MOÇAMBICANOS Há garimpeiros de todas as idades que aceitam trabalhar em túneis precários. Dizem não ter alternativas para se sustentar a si e às famílias. Veteranos dizem que há formas de minimizar os riscos, mas as mortes sucedem-se Texto André Catueira * Serviço especial da agência Lusa para a Economia & Mercado • Fotografia André Catueira

a

chuva cai forte e ainda não passaram três dias desde o último acidente mortal com um garimpeiro em Fenda, distrito de Manica, no centro de Moçambique. “Não ouvem nada quando a gente fala em prevenção. Quando dizemos para não trabalharem em zonas perigosas”, queixa-se Manuel Pedro, 69 anos, o garimpeiro mais velho daquela zona de extracção ilegal de ouro. “Eles entram, a maioria de noite, sozinhos, com alavanca, pá e um saco. Vão para garimpar sozinhos” explica, sem aprofundar mais detalhes sobre o mais recente infortúnio. Uma morte a coberto de uma actividade informal e ilegal e

12

que por isso não vai constar de estatísticas, nem aparecer nas notícias. A época ciclónica tem sido muito activa, os riscos aumentam, mas nem isso demove os garimpeiros, que dizem não ter outra forma de sustentar as famílias. Mesmo quando encaram a morte. Para as empresas que operam no sector, eles são vistos como um risco para a segurança dos terrenos, promovendo a erosão. São também apontados como um risco para transacções financeiras ilícitas, dada a informalidade em que vivem. Mas entre umas análises e outras, o garimpo está no terreno. Nem a forte precipitação da actual época das chuvas o tem parado. Porque é que persiste? Manuel Pedro, o escavador mais antigo

de Fenda, trabalha na mineração há 33 anos e gaba-se de ter sustentado “muitos filhos” graças à venda de ouro, numa área com um grande contraste entre a intensidade da exploração e a pobreza que caracteriza a região. Hoje, diz que tem ensinado aos jovens formas de “ter cuidado” no garimpo. Mas os acidentes são inevitáveis. “Já assisti a muitos acidentes. Nem dá para contar. Foram vários e eu a ver mortos entre amigos, encarregados do garimpo ou outros colegas”, relata Belito Paulino, 29 anos, há dois no garimpo em Fenda. O risco é grande, mas “se ficar em casa não tenho como sustentar a família. Por isso, arrisco”. É difícil perceber como se pode ter cuidado perante a paisagem caówww.economiaemercado.co.mz | Março 2021


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
Economia & Mercado_Edição 35_Março 2021• As profissões do futuro by Media4Development - Issuu