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MerCADo e FInAnçAS
OPINIÃO
A FinTech está a modificar o mundo bancário II
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Brett King • É autor, co-fundador e CEO da Moven, uma startup de mobile banking sediada em Nova Iorque
o objectivo do ICBC era claro. Se eles querem que os servi-
ços bancários do ICBC sejam omnipresentes e incorporados, devem começar por permitir o acesso à API criando estruturas de dados, ferramentas, equipas de negócios e recursos para implementá-los o mais rápido e o mais amplamente possível. Eles enfrentam a concorrência de fintechs e gigantes da tecnologia com ampla aceitação e confiança em toda a economia chinesa, com a capacidade de introduzir novos produtos no mercado em dias, não meses, como é típico nos bancos. A maneira como o ICBC costumava administrar o seu banco passou definitivamente à História A China Life e o ICBC falaram sobre a integração de sensores e dados comportamentais para reduzir riscos e antecipar as necessidades dos clientes. A China Life falou sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) para detectar fraudes de seguros, incluindo grupos de alegações falsas para identificar actores suspeitos. O ICBC discutiu os dados de transacções de rastreamento de IA para garantir que um carro roubado não pudesse ser revendido através da sua rede, apenas como um exemplo simples. Alexander Vedyakhin, primeiro vice-presidente executivo do Sberbank, discutiu as mudanças estruturais ‘tectónicas’ que ocorrem globalmente no sector bancário. Mostrou que o ROE (Return on Equity) do banco global caiu mais da metade desde seu pico de 2007 e que os desafios de gigantes da tecnologia como Amazon, Alibaba / Ant Financial e outros foram onde a verdadeira batalha está a formar-se. E reforçou que o desafio é o acesso e o engajamento dos clientes, mostrando o maior risco: a maioria dos bancos ainda depende de clientes que chegam ao “balcão” em busca de produtos e serviços bancários, em oposição aos gigantes da tecnologia que estão a construir a infra-estrutura e as plataformas que vivem onde os clientes estão todos os dias. O Sberbank, de 177 anos de idade, está a apontar para os 17 mil milhões de dólares em lucros no próximo ano de 2020. São um dos 20 principais bancos ao nível da capitalização no mundo, mas claramente não estão a repousar sobre os louros. Clemens Müller, do Erste Group, reforçou outro tema recorrente. As Fintechs reformularam dramaticamente os custos e estratégias de aquisição com base em tecnologias como o smartphone e a Internet. Enfatizou que, neste novo mundo, os bancos têm mais a aprender em termos de distribuição e cultura digital do que as fintechs sobre bancos. A capacidade das fintechs em se articularem e adaptarem, claramente permite que continuem a ‘perturbar’ as suposições seculares de grandes bancos históricos muito mais rapidamente do que os próprios bancos. E dizer que esses bancos globais estão a despertar com a forma como os clientes estão a aceder a experiências digitais não é, de todo, um eufemismo. O ICBC e a China Life falaram sobre Alipay e WeChat. Sberbank falou sobre Yandex, Amazon, Google e Apple. Erste recordou o impacto que o N26 teve no mercado pan-europeu. E a mensagem que ressoou foi simples… Os bancos que sobrevivem precisam de criar ecossistemas para integrar clientes, parceiros e concorrentes, de modo a que a banca esteja incorporada cada vez mais neste novo mundo que está a surgir. Se os bancos não o fizerem, os gigantes da tecnologia e as fintechs irão fazê-lo, e são mais baratos, mais rápidos e já em escala. O que faltava nesta conversa era a retórica usual. Nenhum desses players sugeriu que os clientes ainda confiassem mais nos bancos do que na tecnologia - eles não acreditam nisso. Nenhum desses participantes disse que a necessidade de uma interacção cara a cara era essencial para a viabilidade bancária contínua, embora falassem em manter a presença de uma agência, mas em formatos muito diferentes do que vemos hoje em dia com a maioria dos bancos. Nenhum desses participantes sugeriram que a tecnologia e o sistema principal existentes fossem suficientes para competir. Nenhum desses jogadores sugeriu que eles tinham as habilidades, a cultura e as pessoas para garantir o sucesso a hoje. O número de bancos que, em todo o mundo, têm vontade e consciência para lidar com essa magnitude de mudança é
O número de bancos que, a nível global, tem vontade e consciência para lidar com essa magnitude de mudança, é uma fracção de 1% dos bancos em todo o mundo
uma fracção de 1% dos bancos em todo o mundo. Pode haver uma dúzia daqueles que realmente começaram a ir por este caminho. Potencialmente o ICBC. O DBS está a caminho, assim como o Sberbank, Bradesco, BBVA, Capital One e outros, mas o maior obstáculo, na maioria dos casos, não é o financiamento, mas a cultura bancária central. A maior coisa que cada um desses players teve que superar foi que o seu actual modelo de negócios, combinado com o rápido comportamento do consumidor, é agora a ‘plataforma em chamas’. Se tem alguma hipótese de fazer o que precisa? Novamente, as mensagens principais eram repetitivas: 1. Novas habilidades, novas pessoas - pare agora de contratar banqueiros! 2. Mudança de cultura - pare de pensar e de se comportar como um banco, comece a comportar-se de maneira diferente. 3. Mais cloud, menos core - a panóplia de tecnologias que permite a mudança é totalmente nova e a IA não funciona com os sistemas principais de mainframe. 4. A - alavancar dados ainda é uma lacuna enorme dos gigantes da tecnologia, mexa-se! 5. Experiências bancárias incorporadas - o futuro está lá fora com os clientes! E há mais uma coisa. Passei uma semana a analisar alguns dos desenvolvimentos da Huawei em Inteligência Artificial, Edge Computing e 5G e, embora esteja constantemente a pesquisar estas coisas, fiquei surpreso com o tempo que elas percorrem nessa jornada. Progresso verdadeiramente surpreendente, mas, mais criticamente, existem várias abordagens para a computação em que estão a trabalhar e que mudarão a maneira como usamos os computadores nas próximas décadas, incluindo a maneira como as soluções de Edge e Cloud estão a optimizar o poder de computação e armazenamento de maneira bastante separada. Certamente reforça a mensagem de que estamos a mudar para o mundo do BANK 4.0 - Banking Everywhere, Never at a Bank. Como disse um dos executivos da Huawei, é hora de “simplesmente fazer!”
Esta é a segunda parte do artigo publicado na edição de Novembro da Economia & Mercado.
mercado e finanças
a Cidade do gás está a sair do papel
Vai custar 1,5 mil milhões de dólares, albergar 200 mil habitantes e ser o ponto focal das operações na Bacia do Rovuma. A E&M mostra os números impressionantes da cidade que vai nascer em Afungi, em Cabo Delgado
será a casa de 200 mil habitantes que,
prevê-se, venham a residir numa nova cidade que começa a ganhar corpo real para lá das linhas de um projecto que, para muitos, parecia irreal. Irá crescer na península de Afungi, na província de Cabo Delgado onde, hoje, as perto de 15 mil pessoas que já por ali vivem irão ganhar (muitos novos) vizinhos e uma vista privilegiada para o novo futuro do país. O primeiro vislumbre do projecto da Cidade do Gás (o nome não é, por ora, oficial, mas será difícil que não o venha a ser) foi apresentado publicamente por Lorenzo Monti, representante da Renco Energy e director do projecto, na recente feira MozGaz Summit, que aconteceu em Maputo, em meados de Novembro.
1,5
mil milhões de dólares é o orçamento estimado da construção de uma cidade do presente, virada para o futuro
o projecto A Renco Energy é, de resto, uma empresa moçambicana, cuja maioria do capital pertence à empresa mãe, a italiana Renco S.p.A. (que tem operações em 20 países e mais de 4 mil funcionários). Recentemente, assinou um contrato com o Grupo ENH, a empresa estatal moçambicana responsável pela identificação e desenvolvimento dos depósitos de hidrocarbonetos, em que esta depositava na Renco a realização do plano director detalhado da chamada Cidade do Gás que vai ser criada em Afungi, nas proximidades das
fábricas de liquefacção do gás extraído dos depósitos offshore que irão ser explorados pela Total, Exxon, Eni e Anadarko (os accionistas maioritários das Áreas 1 e 4). O plano director da Cidade foi, desta forma, apresentado num ambiente palpável de excitação generalizado. O termo escrito (e lido) em inglês resulta melhor, é certo, mas o simbolismo é semelhante. A cimeira sobre gás em Moçambique duplicou o número de expositores do ano passado e atraiu mais visitantes do que nas últimas edições em conjunto, reunidos para debater os grandes temas relacionados com a indústria de petróleo e gás ao nível nacional e internacional e apresentar os seus serviços aos grandes players do sector. Depois de anos de espera, o gás está aí à porta e já está prevista, para o primeiro dia de Novembro de 2022, a saída do primeiro navio cargueiro com exportação de gás natural moçambicano proveniente da plataforma flutuante (FLNG) da Área 4, que está a ser construída na Coreia do Sul, operada pelo consórcio da Área 04 e constituído pela ExxonMobil, Eni e CNODC – China National Oil and Gas Exploration and Development Corporation que conjuntamente detém uma participação de 70%, cabendo três parcelas de 10% à coreana Kogas, à portuguesa Galp Energia e à moçambicana ENH. Assim, com os desenvolvimentos dos últimos meses, as perspectivas de crescimento a duas casas, ou o novo parâmetro monetário do ‘bi’, a entrar nas conversas do dia-a-dia e nas previsões semestrais e anuais, o crescimento ganha contornos reais.
o plano Em Novembro do ano passado, Gianluca Mattioli, director-geral da Renco-AK abria a porta a projectos como o da Cidade do Gás, falando de um “modelo de negócios altamente elástico em que estamos sempre à procura de novas áreas para explorar. O nosso futuro está principalmente na construção, estabelecemos um nome forte nos mercados onde estamos presentes, não vejo razão para que não desenvolvamos uma presença maior também no sector de petróleo e gás”, assumia. E a construção da Cidade do Gás surge nesse contexto de implementação da empresa nos mercados onde se prevê maior desenvolvimento económico. Voltando ao encontro empresarial que decorreu em Maputo, promovido pela Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, o promotor da Cidade do Gás e parceiro estatal nos megaprojetos, dos quais detém percentagens do capital, foram divulgados mais detalhes sobre o empreendimento. E são todos, claro, megalómanos. No total, serão perto de 200 quilómetros quadrados de uma área que se divide por 1 200 hectares dedicados a zonas residenciais, 3 800 hectares alocados a um espaço industrial, 2 300 hectares de lotes para agricultura a que se somam 8 000 hectares de áreas verdes e 214 hectares destinados a infra-estruturas de lazer e turismo.
Mais números de uma grande conta Mas mais pormenores sobre esta urbe do século XXI foram revelados: contará com 50 a 60 quilómetros de rede de distribuição de electricidade, 400 quilómetros de condutas de distribuição de água potável, incluindo uma central de purificação e bombagem. E a infra-estrutura de água terá capacidade para o abastecimento de 25 a 30 mil metros cúbicos por dia. Está também projectada a construção de uma rede de recolha de águas residuais e, seguindo as boas práticas ambientais, será construída uma plataforma de separação, reciclagem e recuperação de resíduos sólidos. Vários edifícios públicos completam o projecto, no sentido de dotar o espaço de serviços de saúde, educação e segurança, além de dezenas de quilómetros de rede viária. Olhando à zona industrial, esta será dividida em quatro áreas: uma para o funcionamento de uma central elétrica que rá ‘alimentar’ a cidade, uma outra está reservada para a fábrica de petroquímicos que vai produzir combustível a partir do gás. Depois, existirá uma outra unidade fabril para produção de fertilizantes. E, por fim, existirá uma zona logística, onde serão construídos armazéns destinados aos fornecedores de serviços para estas indústrias. O Plano Director da Cidade do Gás não esquece, de igual forma, o turismo e é por isso que prevê, também, uma área de 214 hectares onde serão construídas 15 unidades hoteleiras. Lorenzo Monti resume, assim, os números de tamanha grandeza e aclara, em detalhe, as linhas mestras do projecto da Cidade do Gás: “O Plano Director orienta-se por cinco valores: desenvolvimento económico e social, atracção de