Branding & BDSM: Sexo, BDSM e Rituais na Nova Sociedade

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Branding & BDSM Sexo, BDSM e Rituais na Nova Sociedade Anna G.Khalil & Gebara Khalil

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Copyright by Anna G.Khalil e Gebara Khalil Capa: Símbolo da comunidade internacional BDSM Produção e organização: Anna G.Khalil e Gebara Khalil Revisão: N.Godunov Tradução: Mark Van Bloemm Todos os direitos reservados aos autores M387ir Khalil, Anna G. e Gebara Sexo, BDSM e Rituais na Nova Sociedade 54 Páginas 1.Sexo; 2.Psicanálise; 3.Gênero Editora A Nova Sociedade Porto Alegre (RS), Brasil, 2012

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Introdução Um grupo de fanáticos religiosos, denominados Irmandade dos Flagelantes, ganhou notoriedade durante o período da peste negra na Europa da Idade Média - entre os anos de 1347 e 1350. Os primeiros grupos teriam surgido em 1260, na cidade de Perugia, Itália. Costumavam desfilar durante 33 dias pelas cidades, em autoflagelação. O número de dias, 33, é uma alusão à idade de Cristo. Em locais mais protegidos da chegada da peste negra, homens vestidos em túnicas e capuzes negros, munidos de chicotes e flagelos, despertavam medo, admiração e respeito entre as classes sociais mais elevadas, principalmente entre os nobres e o clero, estes - abrigados em castelos e moradias afastados da montanha de lixo e peste em que havia se transformado a Europa. Rapidamente o clero observou significado paralelo nas ações daquelas criaturas sinistras e no tipo de reação que causavam naqueles que presenciavam suas autoflagelações em praça pública. Segundo Helmuth Schaff, frade alemão responsável por monitorar e vigiar os deslocamentos dos flagelantes no país, “não há nada de santo nesse ato, apenas uma cruel perversão sexual que choca e oprime a imaginação destes pobres desesperados com a peste; que vêem nestes homens, exemplos inócuos a serem seguidos”. Testemunhos como estes podem ser encontrados em atas religiosas daquele período: "O flagelante passou a noite abrigado na casa de R. Acordei de madrugada ouvindo gritos e barulho de chicotadas. Vi pela janela que o flagelante era chicoteado por R., e depois copulavam. Tudo acompanhado por preces, cânticos e incensos do Diabo – ou o que quer que isso possa significar."

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Friederich von Spee, autor de Cautio Criminalis, o livro que denunciava os crimes dos inquisidores alemães, deu seu depoimento sobre o caso: "Pura covardia. Sem precedentes na história do cristianismo. Basta que apareça algo que coloque em risco a pretensa autoridade espiritual do alto clero, e logo surge algo para minar as legítimas demonstrações de fé dos homens não consagrados pela Igreja." A epidemia arrefeceu e com ela o número de flagelantes, mas a identidade sadomasoquista semeava as origens que dariam os frutos proibidos nas palavras de Sade e Masoch. Von Spee poderia ter razão quanto às calúnias provocadas pelo clero contra a maioria dos flagelantes, mas não poderia ignorar a atmosfera sensual alimentada por eles. Durante as procissões, as mulheres eram ampla maioria na platéia, e fantasiavam com aquelas cenas: num ambiente onde quase sempre eram dominadas, maltratadas, submissas e sofredoras - a relação entre fé, espiritualidade, sensualidade e blasfêmia, travavam dura batalha nas mentes e nos corações que esperavam a chegada da morte a qualquer instante. Basta lembrar que durante o pico da epidemia, o clero perdeu autoridade espiritual sobre os fiéis e os mais diversos tabus sexuais eram quebrados sem nenhuma cerimônia. Portanto, castigá-los e depois consolá-los com carícias mais íntimas e acolhedoras era algo extremamente excitante para aquelas mulheres, como atesta este relato atribuído à esposa de um Barão de Marselha - que fazia parte da compilação de material erótico relacionado ao período da peste na França, de propriedade de Rétif de la Bretonne, inimigo número um do Marquês de Sade, de quem fez uma bem sucedida paródia de Justine e os Infortúnios da Virtude: Eis o relato: "A noite escura, mais escura das noites. Esta noite é a noite deles. Quão adorável é este homem.

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Com sua face crua e lisa, protegida pelo negro capuz. Por que escondê-lo? Protegê-la das minhas mãos? Minhas carícias? Talvez uma pequena punição. Para tu ou para mim (...). Confesse menino! Venha confessar seus pecados para mim! Darei-te alimento, proteção e o que mais precisar (...)" O texto é atribuído a esposa de um rico barão francês da cidade de Marselha. Lamentavelmente, Bretonne morreu enquanto preparava aquela que certamente seria mais uma das tacadas de mestre que ajudariam a pôr ainda mais lenha no forno do governo e do clero francês. Da Idade Média e do Renascimento até os dias de hoje, pouca coisa mudou. Fingimos vivenciar a liberação sexual que se manifestou nas décadas de 20 e 30, principalmente na Europa e na década de 60 nos Estados Unidos. Nestes períodos, surgiram os Spankin' Clubs, um deles funcionava adjacente a Igreja de Satã na Califórnia. Eram, e ainda são, locais freqüentados por satanistas que também fazem uso de práticas sadomasoquistas misturadas à práticas de magia sexual. Foi em locais como este que gente como Zeena Galatea LaVey, ajudaram a desenvolver as práticas BDSM misturadas com rituais satanistas e ocultistas em geral.

Ilustração: Flagelantes

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Ascetismo A ascese consiste na prática da renúncia do prazer, ou a não satisfação de algumas necessidades primárias, com a finalidade de atingir determinados fins espirituais. O conceito abrange grande espectro de práticas, em culturas e etnias diferentes, que vão dos ritos iniciáticos - maus tratos, incisões e escoriações no corpo, repreensões de extrema severidade, mutilação genital, participação em provas que exigem atos excessivos de coragem, aos hábitos monásticos de diversas religiões, incluindo o celibato, o jejum e a mortificação do corpo por diversos meios. Segundo as interpretações mais correntes, alguns dos fenômenos religiosos e místicos, envolvendo visões ou estados de êxtase resultam do enfraquecimento do corpo e da alteração do equilíbrio sensorial. Segundo o idealismo platônico, a ascese servirá para aproximar a pessoa (o asceta) da verdadeira realidade espiritual e ideal, ao desligar-se da imperfeição e materialidade do corpo. Para a Teologia Cristã há uma ascética - com um sentido amplo, e uma ascese - com sentido mais restrito. A ascética consiste no esforço metódico e continuado, com a ajuda da graça, com o fim de favorecer o pleno desenvolvimento da vida espiritual, aplicando meios e superando obstáculos. Neste momento atuam e são organizados os meios e práticas da vida espiritual, a oração, a penitência, o retiro e o exame de consciência, a direção espiritual e os sacramentos. Também é este o momento do uso de métodos - como projetos e disciplina interior, na busca de maior aproveitamento da graça e dos meios para sua consecução. Ascese - no sentido mais restrito, é compreendida como o conjunto dos exercícios mortificantes, aplicados diretamente a eliminar vícios, dominar e reorientar tendências desordenadas, robustecer a liberdade. É o que

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normalmente se expressa em termos como abnegação, mortificação, penitência, renúncia. Assim, o asceticismo é filosofia de vida na qual são refreados os prazeres do mundo comum, onde se propõe a austeridade como sublimação das virtudes. O adjetivo "ascetismo" deriva de um termo grego askesis, que significa prática, treinamento ou exercício. Originalmente associado a qualquer forma de disciplina ou filosofia prática, o termo ascetismo significa alguém que pratica uma renúncia ao mundo com objetivo de adquirir um alto intelecto e espírito. Max Webber fez uma distinção entre os asceticismos innerweltliche e ausserweltliche, que significam, respectivamente, "dentro do mundo" e "fora do mundo". O ascetismo – que Weber denomina como "extraordinário" – ou “fora do mundo”, refere-se a pessoas que desistem do mundo para viver uma vida ascética. O asceticismo "ordinário" – ou “dentro do mundo”, é próprio das pessoas que vivem vidas ascéticas, mas não se retiram do mundo. Weber classificou esta distinção originalmente na reforma protestante, e - mais tarde, tornou-se secularizado, assim o conceito pertence a ambos, religiosos e ascetas seculares. Para David McClelland (The Achieving Society, 1961), o asceticismo ordinário se restringe a agir contra alvos préidentificados - como prazeres que distraem pessoas de alguma inspiração divina, e podem aceitar prazeres que não sejam distracionistas. Motivação religiosa Asceticismo é muito associado às questões religiosas, invocando monges e sacerdotes. Entretanto qualquer indivíduo pode escolher levar uma vida ascética. Lao Zi, Gautama Buddha, Mahavir Swami, Santo Antonio,

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Francisco de Assis, Mahatma Gandhi e Augustine Baker, podem ser considerados ascetas. Muitos deles deixaram as suas famílias, possessões, e lares para viver uma vida mendicante, e nos olhos de seus seguidores demonstram grande espiritualidade ou iluminação. Hinduismo Na Índia antiga, havia uma tendência a abandonar o mundo convencional em favor do ascetismo, numa vida de exclusão e renúncia, chamada tvaga ou samnvasa. Um exemplo extremo são os Sadhus - ou homens santos, que praticam uma forma extrema de auto-mortificação práticas que incluem atos de extrema devoção para uma deidade ou princípio, onde os votos nunca podem ser quebrados. Budismo O personagem histórico Gautama Buddha adotou uma vida extremamente ascética após deixar o palácio do seu pai, onde ele vivia em grande luxo. O objetivo da vida monástica era evitar as preocupações com as circunstâncias materiais da vida e introduzir no/a monge/ja a habilidade de se engajar na prática religiosa. Buddha, inicialmente, rejeitou um número de práticas específicas de ascetismo que alguns monges queriam seguir. Estas práticas - tais como dormir no chão de cremação ou em cemitério, foram vistas – inicialmente, como muito extremas. Judaísmo e Cristianismo Asceticismo é completamente rejeitado no Judaísmo, sendo considerado contrário ao desejo de Deus para o mundo. A intenção de Deus é de o mundo ser agradável, nos contextos permitidos. O Talmud afirma que "se uma

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pessoa tem a oportunidade de apreciar uma nova fruta e se recusa, ela prestará contas disto no próximo mundo". Esta é uma das principais diferenças entre Judaísmo e Cristianismo. Alguns setores do Cristianismo defendem que o mundo é basicamente mau – tese do pecado original, e deve ser evitado, em contraste com o Judaísmo, que defende a possibilidade de ascensão espiritual por parte do asceta que vive no mundo real e o aprecia. Segundo Mauro A. Souza, Revista Estudos da Religião No. 2 (2006), no ensaio ‘Nietzsche, um tipo asceta”, o ascetismo ficou conhecido pelos esforços dos metafísicos para alcançar seus objetivos “espirituais”, tendo Nietzsche dedicado uma crítica especialmente dirigida aos ideais ascéticos, porque a ascese tomara a “vida transcendente”, como referencial de todos os valores para além desta vida, que é imanente. Para Nietzsche, no ideal ascético, a finalidade do corpo é ser instrumento para se atingir o que está além dele mesmo. Para o autor, a ascese deve ser compreendida como exercício do corpo e desenvolvimento da alma, onde o dualismo entra em vigor com as mesmas “armas” da imanência deslocadas para a transcendência. E o Cristianismo atingindo a arte, a filosofia e mesmo a ciência, faz a ascese - então, se transformar naquilo que ultrapassa o conhecimento humano - a consciência, porém consciência “pura”, com o objetivo de castração dos instintos em favor do conhecimento em todos os seus aspectos e também no conhecimento mítico, o qual não deixa de ser um conhecimento. Assim, temos o dualismo do exercício - aquele relegado à educação física e aquele que é a ascese que cuida da alma, da razão. O dualismo platônico toma contornos bem visíveis. A ascese do corpo é diferente da ascese do espírito. No racionalismo ou na espiritualidade

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os dois não são um só. Temos sempre o corpo em segundo lugar. Mesmo no Oriente, em vista do trabalho “holístico” que integra corpo e alma, tudo caminha para aquele tipo de meditação, em que o corpo é percebido pela razão em variados graus dessa mesma razão, o que demonstra que ainda existe - ali, a preponderância do espírito sobre o corpo. Em termos de espiritualidade, não há, neste caso, diferenças entre o Ocidente e o Oriente. A não ser no caso de niilismo absoluto, mas aí o desprezo também é absoluto, o que não melhora em nada o tratamento da questão do “ser”. Pelo contrário, o “nirvana” o faz piorar, se a palavra for levada às suas últimas conseqüências como nir = não e vana = sopro. No nirvana, o sopro da vida se esvai. É o niilismo total. O que parece é que, até agora, não há uma clareza a respeito de que tipo de relação o homem tem que ter com seus instintos. A castração, ao que tudo indica, tem sido o único modo de lidar com eles. Ascese como castração é uma prática bastante comum ainda na atualidade, o que nos remete ao questionamento do que vem a ser “atualidade”. Na congregação do passado e do futuro no instante, isto é, só do instante como o que existe, o homem ainda está para aprender o que deve significar ascese. Mas, este homem do ideal ascético não eternizou esta vida, ele eternizou a vida no além, eternizou, em outras instâncias de seu conhecimento, a razão como consciência e como superiora ao corpo que “não pensa”. Em seus escritos, Schopenhauer, pessimista, apresenta-se com uma “categoria” nova: uma vontade cosmológica, porém metafísica. Mas, ainda a metafísica governava fortemente a filosofia. Nesta linha de pensamento, o “remédio”, a solução para o homem escapar das possibilidades que o mundo lhe apresentar para desviar-lhe o caminho, e firmar-se

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diante da vontade absoluta ao seu foco de vida, não seria outra a alternativa senão o recurso do ascetismo rigoroso. Ainda de conformidade com o autor, e segundo Schopenhauer, em “O mundo como vontade e representação”, “a natureza está sempre pronta a abandonar o indivíduo que não somente está exposto a perecer de mil modos e pelas causas mais insignificantes, como também é, desde o princípio, destinado a uma perda certa, para a qual é arremessado por ela mesma, apenas haja satisfeito a missão que tem de conservar a espécie. Com isto a natureza exprime ingenuamente esta grande verdade, que são as Idéias e não os indivíduos os detentores da verdadeira realidade, isto é, é a “objetividade perfeita da vontade”, o que, para o autor significa que “a reflexão é quase impotente contra a poderosa voz da natureza”. Nesse caso, ainda resta algo sobre o “quase”. Schopenhauer, então, apela para o ascetismo como forma de castigar a vontade e age de forma pela qual o homem atinge esse “quase”. Deste modo, a reflexão ainda traz ao homem dirigido pela vontade uma salvaguarda. Mesmo assim, na realidade, aquilo que nele próprio, o homem, é denominado de vontade, não é a sua vontade, mas é a vontade metafísica travestida de indivíduo que sempre vê a si mesmo. Não poderia ser diferente: “viver é sofrer”, o homem precisa refletir. Filosoficamente, o homem pode compreender que, afora o caminho da ascese, ele nada pode contra a vontade, já que todo conhecimento também é uma individuação da vontade. Schopenhauer foi capaz de passar para o entendimento humano o contraponto da vontade, a ponto de questioná-la em seu próprio terreno, isto é, o homem como vontade. O Budismo deu o início de um caminho: a ansiedade é sede insaciável à qual o homem incauto se deixa arrastar. “Ansiar por” exige sempre um novo “ansiar

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por”. Daí o resultado de que “cada querer” é o que está na base de “cada dor”. De uma certa forma, o filósofo pessimista admite uma superioridade do pensamento filosófico, ainda que tome por empréstimo do Budismo, que “a dor é a essência da vida”. Saciedade e o fastio são - na realidade, insatisfação. A dor está, por exemplo, oscilando na saciedade pelo prazer sexual, assim como no tédio pela rotina. O homem sabe que seu prazer é momentâneo e sabe, também, que não é difícil cair no tédio. Um “eterno insatisfeito” é este homem schopenhauriano. Nele, prazer e dor se comungam. É ilusão, pois, ser feliz sem dor. Felicidade, dizendo de outra maneira, é aprender a conviver com a dor. É o que Schopenhauer denomina de felicidade negativa. O escopo principal da nossa existência está na palavra latina vanitas (vaidade como vacuidade, como nada). Mesmo que a palavra tenha mudado de sentido ao longo dos séculos, a vaidade é o modo pelo qual o homem ainda se mantém - em relação a si mesmo, um “amor próprio” diante do seu próprio vazio, porque até quando olha para si, não vê sentido algum. Sua realidade mais próxima, por absurda que seja, parece ser a vacuidade, o nada. Do seu nada, o homem criou a sua vaidade como antropocentrismo. Mas, ainda assim tudo é “vaidade das vaidades”, é o vácuo que todo “amor próprio”. Vanitas, como origem, é o que impera no mundo humano. Porém, os homens caem na armadilha da vontade absoluta e buscam o prazer sexual e a propagação da espécie humana e - deste modo, propagam a eternidade da própria vontade que os domina. Schopenhauer descobriu o ponto nevrálgico da vontade, seu ponto fraco, atacou-o pelo ascetismo acompanhado do celibato. As partes genitais são, então, sujeitas exclusivamente à vontade e nunca à inteligência. Schopenhauer, de

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maneira interessante, coloca as partes sexuais como o local - por excelência da atuação da vontade. Sendo assim, e considerando um dualismo, a inteligência pode atuar em contraposição e mostrar a outra face do mundo isto é, do mundo como representação. Enfim, o ascetismo é o foco central de toda a obra de Schopenhauer, contra a vontade absoluta. Ainda de conformidade com Souza, Nietzsche afirma que o homem assume a responsabilidade sobre os seus atos e disso advém a noção de justiça e de dever. A partir de Nietzsche, a ascese merecerá outro tratamento - cujo resultado, num significado mais restrito de interpretação ascética, é precisamente o aniquilamento intencional da vontade, obtido com a renúncia de tudo quanto agrada, ou com a procura de tudo aquilo que não agrada, com a prática voluntária de uma vida de penitência. No geral, podemos constatar dois tipos diferentes de ascese - uma afirmativa e a outra negativa. A primeira, uma ascese da vida. A segunda, uma ascese contra esta vida e a favor de uma vida no além, em outro mundo - ou, ainda, a favor da metafísica da verdade em detrimento daquilo que o filósofo denomina de aparência. A crítica é contra a pretensão antropocêntrica do homem racionalista ao querer ser sujeito em termos de uma abstração e não querer ver sua “alma” como efeito de impulsos nervosos, desconsiderando que há vontade afirmativa e vontade negativa, mas forças fracas e forças fortes, sendo que estas últimas parecem até uma redundância. Um asceta que deseja ser forte. Para Nietzsche, este tipo asceta é um tipo humano que não espera piedade, que não espera auxílio e que não está em busca de um sentido da vida. Já o seu antípoda, o asceta negativo, espera que lhe seja dado um sentido - inclusive um sentido para o sofrimento. Assim, o ideal ascético deu ao antípoda de Nietzsche um sentido para o sofrimento, pois ele

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precisa de um objetivo - e preferirá querer o nada a nada querer. O asceta afirmativo não vislumbra objetivo - vive o momento, o instante, porque no instante está presente o passado e o futuro. Um asceta do tipo afirmativo não vê seu fatum (destino) a não ser com amor. A dignidade de um asceta está em fazer experiências consigo mesmo, o que equivale a não querer apoiar-se em pressupostos metafísicos. O ideal ascético engessa as pessoas. A ascese da afirmação - por ser aquela que promove a vida, não poderia ter outro nome - ascese dionisíaca - o que, para Souza, passa a definir Nietzsche como um “asceta dionisíco”. Esta tese para dos conceitos contraditórios como “razão pura”, “espiritualidade absoluta” e “conhecimento de si”, cuja conclusão é de que – o homem, deve saber fazer duas coisas, mandar e obedecer e - sobretudo, saber mandar em si mesmo. A pequena razão não é antropocêntrica, mas consegue entender-se com a grande razão a ponto desta indicar para aquela - o que precisa ser dominado, ou seja, quais instintos precisam ser espiritualizados. A ascese da afirmação é, sem dúvida, uma forma de disciplinar o espírito. Uma hierarquia conquistada pela espiritualização dos instintos e justamente por este caminho é que se dá o afeto e o deixar-se ser afetado, fruto da afirmação de que o mundo é um eterno constituirse e desconstituir-se de centros de vontade de poder, pois, pode-se definir o mundo como nada mais do que vontade de poder. A sensação de euforia e êxtase correspondente de fato a um momento a mais de energia: mais forte no período reprodutivo das espécies: novos órgãos, novas habilidades, cores, formas... O embelezamento como

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conseqüência necessária da elevação de energia, embelezamento como expressão de uma vontade vitoriosa, de uma coordenação potenciada, de uma harmonização de todos os desejos fortes, de um infalível peso gravitacional perpendicular.

Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX (Danzig, 22/02/1788 – Frankfurt, 21/09/1860). Seu pensamento parte de uma interpretação de alguns pressupostos da filosofia kantiana, em especial de sua concepção de Fenômeno. Esta noção leva Schopenhauer a postular que o mundo não é mais que Representação. Caracteriza-se por não estar alinhado com nenhuma das grandes correntes de pensamento da sua época. Foi o filósofo que introduziu o Budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Ficou conhecido por seu pessimismo e entendia o Budismo como uma confirmação dessa visão. Schopenhauer também combateu fortemente a filosofia hegeliana e influenciou fortemente o pensamento de Friederich Nietzsche. Sua obra principal é O mundo como vontade e representação (1819) e também escreveu Parerga e Paralipomena (1851), sua obra mais conhecida. Friedrich Wilhelm Nietzsche filólogo e filósofo alemão do século XIX (Röcken, 15/10/1844 – Weimar, 25/08/1900. De estilo aforismático representado por trechos concisos - quase sempre de uma só página, de onde são retiradas as ‘máximas’, tornaram famosas suas frases, que podem ser colocadas em diferentes contextos e – por isto, podem gerar diferentes compreensões. Nascido em família luterana, renunciou à fé e afastou-se da teologia, aproximando-se do pensamento grego antigo, pré-socrático. Escreveu Assim Falou Zaratustra (1882), difundida – principalmente, a partir de 1888.

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A Função do Orgasmo De acordo com Odila Weigand, a Teoria do Orgasmo fala de saúde e genitalidade, relacionados com a capacidade de agir ou expressar, tencionar e relaxar, expandir e contrair, amar e sentir raiva, prazer e angústia, conforme as circunstâncias. A partir da tese de Reich (1924), exposta no artigo “sobre a genitalidade do ponto de vista do propósito da terapêutica psicanalítica”, foram elaborados dois temas principais sobre genitalidade, a dificuldade da satisfação sexual genital no indivíduo adulto e a acura, dependente do grau de restabelecimento da função genital. Para Reich a busca da saúde emocional implica em evoluir do orgasmo restrito apenas aos genitais (potência eretiva) de modo a expandir as sensações orgásticas para os segmentos corporais. As sensações orgásticas chegam ao cérebro, em forma de ondas de excitação, e passam para o corpo inteiro como experiência emocional, de entrega, integradora. A pessoa que atingisse esta experiência teria adquirido a potência orgástica e hipoteticamente a cura da neurose. Reich sempre criticou o mecanicismo e o misticismo, situando-os como dois lados da mesma moeda, tanto no mecanicismo como no misticismo, o orgasmo foi transmutado em outra coisa. Com foco no misticismo, Reich define que o asceta nega a sexualidade e a transmuta em função religiosa, com negação do prazer físico. Para o mecanicista, a aceitação da negação do prazer impede a evolução plena do indivíduo. Ainda de acordo com sua teoria, na superposição cósmica - fusão de dois organismos, o que ocorre é uma função religiosa no sentido de que religa o que estava separado. Religa o homem consigo mesmo, com seu corpo, seus sentimentos, seu espírito, bem como com o parceiro, com a natureza, com a Vida.

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Lowen (1993) descreve a experiência orgástica plena, mesmo sendo uma experiência culminante (na linguagem de Maslow) que, pode não modificar profundamente a personalidade nem afetar a saúde emocional da pessoa. Assim, segundo Lowen, não podemos tornar a potência orgástica plena o objetivo da terapia, o que representou a grande mudança de rumo proposta por Lowen - da sexualidade para a busca de um Ego forte e maduro. Ainda, conforme Lowen, a personalidade saudável pode ses definida por três capacidades: -

Self connection (autoconhecimento) – ou, contato consigo mesmo; Self expression (autoexpressão) – ou, acreditar na própria expressividade; Self possession (autopossessão) – que significa ser dono de si.

O que significa que “quando o indivíduo é livre na sua autoexpressão, ele é também livre na expressão do seu sentimento sexual”, conquista advinda do estudo interior e do autoexame para aquisição do autoconhecimento. A “autoexpressão e autocontrole são dois polos do funcionamento saudável” e “... sexo é uma das vias pela qual o indivíduo se expressa”, ainda e conformidade com o pensamento de Lowen. Outro conceito que se colocou após Reich foi o da contenção, que não existe na fórmula Tensão / Carga / Descarga / Relaxamento. Para Reich, fruto da repressão vitoriana, a descarga das energias represadas traria a saúde. Recomenda a Terapia da Linha do Tempo, com análise minuciosa das etapas de construção da personalidade e comparação com a evolução da visa sexual do indivíduo. A visão sistêmica se tornou tão natural quanto à visão energética.

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A Espiritualidade do Corpo Se Lowen nos fala da espiritualidade do corpo, John Pierrakos (energia e consciência) que se dedicou a criar a ponte de ligação entre o espiritual e a psicoterapia: construiu o grounding no corpo - na realidade deste mundo e na consciência, para evoluirmos através da conjunção das energias sexual e espiritual. Essa conjunção de experiências orgásticas ocorre em nível emocional e se expressa como “amor”. Castidade As obras de literatura antiga e medieval na busca da verdade concordam em um ponto. Os mais superficiais estudos de Magia Negra, ou as mais elevadas teses filosóficas da irmandade que nós nomeamos, afirmam a virtude da castidade como de principal importância no portal da sabedoria. A castidade cuja energia mágica tanto protege quanto impele o aspirante aos mistérios sagrados é precisamente o contrário, em sua mais profunda natureza, de todas as concepções vulgares dessa virtude; pois em primeiro lugar, é uma paixão positiva, em segundo lugar, relaciona-se apenas através de obscuros laços mágicos com a função sexual e em terceiro lugar, é inimigo mortal de toda forma de moralidade e sentimentalismo burgueses. Podemos criar em nossas mentes uma concepção mais clara desta, a mais nobre e mais rara – no entanto, a mais necessária – das Virtudes, se estabelecermos a distinção entre ela e um de seus ingredientes: Pureza. Então, pureza é uma qualidade passiva, ou pelo menos estática; significa a inexistência de qualquer mistura com qualquer outra coisa; como em puro alumínio, pura matemática, pura raça. O uso da palavra em expressões

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tais como leite puro - que sugerem ausência de contaminação, é um uso derivado e secundário. Por outro lado, castidade, como a etimologia - castus, possivelmente relacionado com castrum, um campo fortificado - mesmo sugere, pode supor que afirmar uma atitude moral de prontidão para resistir a qualquer assalto contra um existente estado de pureza, é uma ação positiva. Neste raciocínio, um homem casto não é meramente o que evita o contágio de pensamentos impuros e seus resultados, mas é um homem cuja virilidade é capaz de restaurar perfeição ao mundo a o seu redor. O caminho da castidade consiste na defesa da pureza contra o assalto.

ilustração: cinto de castidade utilizado na idade média

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Missa Negra e Satanistas Retornando aos cultos satanistas contemporâneos, temos a figura destacada de Schreck "Zeena Galatea", nascida em Dublin, Irlanda - e conhecida como Zeena Galatea LaVey. Trata-se de uma celebridade entre os satanistas, tanto por ser filha de Anton LaVey e Diane Hegarty – que estudaram o conhecimento sobre a Igreja de Satanás – The Church of the Satán, que ganhou as manchetes em maio de 1967, ao batizar sua filha naquela igreja, fato conhecido como o primeiro batismo satânico. Zeena, em sua adolescência – nos anos 70 tinha posicionamento contrário aos movimentos feministas da época e defendeu a assexualidade, a bissexualidade e propôs o pan-sexismo. Tornou-se ícone de personalidades como David Bowie e Cher, além de ser homenageada em letras de canções como Evil Woman - do Eagles, e Black Magic Woman – do Santana. O livro ‘A Bruxa Satânica’ – editado por ela, teve meteórica passagem pelas livrarias dos USA, sendo retirado do mercado. O seu conteúdo introduz um novo conceito de feminismo, defendendo a libertação dos demônios que existem dentro de cada mulher. Recentemente o seu site - voltado à práticas sadomasoquistas e à dominação e supremacia feminina, aliadas à magia sexual, foi retirado do ar, censurado e bloqueado pelas autoridades norte-americanas, a quem ela acusa de conservadorismo e perseguição fundamentalista. Pois este ícone do BDSM afirma que a mulher consegue ver além da prática do sexo em relações sadomasoquistas, e que o limiar entre prazer e dor, amor e espiritualidade caminham de mãos dadas. Segundo ela, os homens, especialmente no início das práticas, têm enormes dificuldades em se concentrar nas questões espirituais, desperdiçando força e energia. Assim, ela considera imperiosa a necessidade de alertar que - a prática de BDSM junto à rituais satanistas despende uma grande quantidade de energia que - se não sendo bem

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aproveitada, pode acarretar sérios danos - tanto à pessoa submissa quanto àquele que a submete. Outro aspecto salientado por Zeena - analisando a algolagnia – como prática de transformar dor em prazer sexual e à capacidade de produção de energia espiritual, a partir deste conjunto de transformação, e utilizando o exemplo dos flagelantes, difundiu a experiência do transcendentalismo mediante a punição do corpo, imagem copiada por algumas organizações secretas como a Opus Dei e o uso do cilício. Para Zeena e seus seguidores, esta é – também, uma experiência mágico-sexual, uma forma de extrair, libertar e concentrar energia. Para quem deseja praticar o satanismo, Zeena recomenda que o candidato deva procurar em si mesmo a razão deste desejo, que é – basicamente, uma necessidade espiritual ou física, ou – traduzindo, se são desejos ou necessidades da alma ou do corpo. Sendo uma necessidade espiritual, o melhor seria optar pela submissão, iniciando pela presença ou participação em alguma Missa Negra, diante de um altar montado e constituído por seus próprios símbolos e indagações e, mais adiante, já amadurecido em suas convicções, participar ativamente em rituais BDSM. Se o desejo estiver voltado para questões físicas e mentais, o ideal é o praticante deve assumir uma posição dominante. As Missas Negras surgiram no período de evidência dos flagelantes da peste negra, quando – com o medo da morte as pessoas tentavam a libertação através da sexualidade reprimida. Estes rituais são muito semelhantes às recomendações contidas no Kama Sutra e no Tantrismo. O importante na Missa Negra é a observância dos rituais e da liturgia. O ideal é a pratica iniciar – ou ser restrita, com casais, bem como é indicada para iniciantes, que costumam dar os primeiros passos nos limites de seu lar.

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Ilustração: Preparativos para um ritual satanista.

Magia cerimonial Para Foyers, N.B. - Boleskine House, se é verdade afirmar que o universo que percebemos é o conjunto de impressões da vida e que estas dependem de mudanças que processamos em nossa mente, e considerando que podemos incluir em nossas formulações pensamentos diversos, ilusões e conclusões sobre processos percorridos, atividades que produzem marcas que ficam em nossas formulações como cicatrizes e confundem-se – como impressão de sentidos, as realidades vividas e constituem pensamentos absolutos, conclusivos, então estes pensamentos abstratos são parte do tecido real das nossas convicções e atitudes. Nesta formação da personalidade individual sofremos influência direta dos símbolos somados aos valores que nos impomos como pautas das nossas vidas. O “fenômeno mágico” - aqui, é que incorporamos estes símbolos como parte das experiências de vida e compomos a forma de comportamento que iremos adotar em nossas vidas. Os fenômenos reais e os abstratos – na forma de símbolos, a

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ele relacionados compõem – portanto, a magia cerimonial que será a liturgia das ações espirituais e psíquicas. Magia sexual Magia Sexual é o termo ocultista para designar diversas práticas sexuais usadas com propósitos mágicos, místicos ou espirituais Agrupam-se neste item diversos sistemas - thelemita, gnóstico, dentre outros, que representam uma versão ocidental do Tantra. A base destes sistemas é a concepção que o sêmen do homem e a vulva da mulher são sagrados. A premissa fundamental da magia sexual é o conceito de que a energia sexual, ou libido, do organismo humano é a força mais poderosa que se pode manipular e que algumas práticas ocultas podem acumular, direcionar ou modificar esta energia de modo a atingir objetivos prédeterminados. Existem duas escolas principais de Magia Sexual, chamadas de o 'caminho da mão esquerda' e 'caminho da mão direita' O chamado caminho da mão esquerda defende que o orgasmo deve ser adiado até que sua energia seja tanta que possa segundo a visão dos praticantes, alterar a realidade ou levá-los a estados alternativos de consciência. Os seguidores desta escola baseiam seus conhecimentos no trabalho original de Paschoal Beverly Randolph, de Theodor Reuss e Aleister Crowley. Alternativamente, o caminho da mão direita defende que o orgasmo é a antítese da sublimação sexual. Neste contexto o orgasmo não é apenas adiado, mas superado em favor do que seus praticantes consideram energias superiores. O caminho da mão direita não admite práticas como masturbação e homossexualismo. Um exemplo desta escola de magia sexual é o movimento gnóstico proposto por Samael Aun Weor.

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Thelema Sistema criado por Aleister Crowley a partir do recebimento "Liber AI Vel Legis" ("O Livro da Lei"). Tratase do início de uma Nova Era (Aeon) de Aquário, onde o ser humano percebe-se como centro de seu próprio – e divino, universo. Thelema, em grego, significa vontade. Crowley também vai contribuir na fundação da Ordo Templi Orientis, após participar ativamente da organização Golden Dawn. De acordo com a filosofia thelêmica, o ser humano está afastado de sua condição divina não pela encarnação, conforme pregava, por exemplo, o gnosticismo, e sim pela simples não conscientização desta natureza. Assim, cabia ao ser humano buscar uma profunda autoconsciência, chegando assim ao conhecimento do que foi chamado de “verdadeira vontade” (thelema, do grego, vontade). Segundo Crowley um dos caminhos desta busca pelo autoconhecimento passava pela experimentação dos próprios limites. Assim qualquer ato na vida passaria a ser uma ferramenta através da qual cada um poderia obter um profundo conhecimento de sua própria psique. Para Crowley, o “todo” é perfeição infinita e assim é cada unidade dele. Para transcender o “trance de dor” é, pois, suficiente que anulemos o assunto de nossa contemplação, casando-o em nossa imaginação com o seu igual oposto. Podemos também utilizar o método analítico e dissolver em seus átomos o complexo que parece dor. Cada átomo-evento desse complexo é um sublime e alegre ato de amor. O sistema thelêmico prescinde dos conceitos de "bem" e "mal" absolutos uma vez que lida com a individuação plena do ser humano, o que transforma todo ato em algo relativo. Por outro lado, prega também a necessidade de

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uma disciplina absoluta para que os caprichos não sejam confundidos com a “vontade”, e de uma completa responsabilidade sobre sua própria vida. Samael Aun Weo, fundador do Movimento Gnóstico Cristão Universal, ensinou a magia sexual como um dos pilares fundamentais do que chamou Revolução da Consciência. Sua principal característica é o que o próprio autor chama de "ascética revolucionária da Era de Aquário". Ainda de acordo com o autor, metafisicamente, seu processo consiste na "mescla inteligente da ânsia sexual com o entusiasmo espiritual". Contudo, em termos que se atêm somente à fisiologia desta classe de magia sexual, esta consiste, em suma, na conexão dos órgãos genitais masculinos e femininos (chamados pelos termos orientais Lingam e Yoni) evitando-se o orgasmo, tanto masculino quanto feminino, e a perda do sêmem. Ordo Templi Orientes, a O.T.O. A Ordo Templi Orientis – O.T.O, também conhecida como a Ordem dos Templários do Oriente é uma ordem explicitamente tântrica com tonalidades maçônicas. Em 1912 a sua revista, Oriflamme, deixara claro que a sua premissa central de ensinamento era a feitiçaria sexual. A ordem possui a chave que abre todos os segredos herméticos e maçônicos, isto é, o ensinamento da Magia Sexual que explicaria todos os segredos da Maçonaria. Goldew Dawn Por volta de meados do século passado quando muitos eruditos ingleses começaram a pesquisar sobre as tradições tântricas sobreviventes nas formas - oriental e ocidental, o que gerou ordens como a O.T.O. e - num menor grau, a Golden Dawn e outras ordens herméticas relacionadas. No caso Golden Dawn, acredita-se que embora a ordem funcionasse com um foco Cristão-Judeu, sob esta fachada uma forte tradição de feitiçaria sexual

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floresceu, embora estas tradições não mais são ensinadas pelas derivações modernas da organização. Magia Luciférica Sistema desenvolvido pela fraternidade "Fraternitas Saturni". Trata-se de um sistema parecido com o da O.T.O., centralizando suas práticas em magia sexual e em magia ritualística. Fraternitas Saturni busca elevar o espírito humano a uma condição de Divindade, Magia Enoquiana Sistema simbolicamente complexo, que consiste na evocação de energias astrais advinda de seres chamados de entidades. Sistema descoberto pelo astrólogo e alquimista John Dee e pelo adivinho Edward Kelley. A Golden Dawn e Aleister Crowley estudaram e aperfeiçoaram este sistema, que consiste, basicamente, em receber informações de entes angélicos, durante rituais (sessões). Magia Musical Criado por uma renomada ocultista, Juanita Wescott, estudiosa do Sistema de Franz Bardon. Faz uso dos mais elevados ensinamentos do Hermetismo e da Cabala, do ponto de vista de Bardon. Xamanismo Sistema que deu origem a diversos cultos e religiões e cuja origem remonta à Idade da Pedra, onde o Xamã é uma espécie de curandeiro, com poderes mágicos especiais.

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Branding Entende-se por Branding, o trabalho de construção e gerenciamento de uma marca junto a determinado mercado. Sua execução é tomada por ações que posicionam a marca e a divulgam neste mercado. Este trabalho é feito por profissionais de design gráfico, que desenvolvem marcas com foco na qualidade e funcionalidade. É um conjunto de interações entre a marca e todos os seus públicos. Uma dinâmica de relações que tem como objetivo potencializar as percepções acerca de uma marca, que é fundamentada acima de tudo na cultura, visão e valores da empresa. Sua execução não é tomada apenas por ações que posicionam a marca e divulgam a marca no mercado, mas também por ações internas na empresa, transmitindo para todos os interessados na imagem pretendida. Existe uma polêmica sobre o uso de uma palavra bastante associada à marca: logomarca. Alguns aconselham que se evite o uso desta, pela controvérsia sobre este termo, sendo algo ainda indefinido no meio profissional. Ações de branding podem ser manifestadas e arquitetadas através do brand equity. Essa moderna denominação se demonstra como um conjunto de recursos, inerentes a uma marca, que se agregam ao valor de algo, proporcionando share por um produto ou serviço. A Teoria do Brand Equity foi elaborada por David C. Aaker. Marca é a representação simbólica de uma instituição, qualquer que ela seja, algo que permite identificá-la de um modo imediato como, por exemplo, um sinal de presença, uma simples pegada. Na teoria da comunicação, pode ser um signo, um símbolo ou um ícone. Uma simples palavra pode referir uma marca. O termo é freqüentemente usado, atualmente, como referência a uma determinada instituição

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ou empresa: um nome, marca verbal, imagens ou conceitos que distinguem o produto, serviço ou a própria empresa. Quando se fala em marca, é comum estar-se referindo - na maioria das vezes, a uma representação gráfica no âmbito e competência do designer gráfico, onde a marca pode ser representada graficamente por uma composição de um símbolo e/ ou logotipo, tanto individualmente quanto combinados. No entanto, o conceito de marca é bem mais abrangente que a sua representação gráfica. Uma empresa através de seu nome fantasia e da sua representação gráfica - comunica a "promessa" de um produto, seu diferencial frente aos concorrentes que o faz especial e único. Busca-se associar às marcas uma personalidade ou uma imagem mental. Assim, pretende marcar a imagem na mente do consumidor, isto é, associar a imagem à qualidade do produto. Em função disto, uma marca pode formar um importante elemento temático para a publicidade. Possui vários níveis de significado, entre eles cultura, atributos ou benefício. É fundamental entender que a marca é mais intangível do que tangível, pois o consumidor de determinada classificação demográfica tem sensações, experiências e percepções diferentes sobre a mesma marca em relação a outro consumidor classificado demograficamente da mesma forma. Assim, símbolo - nesse sentido, significa um dos elementos de identidade visual que pode fazer parte de uma marca. Ele pode ser abstrato ou figurativo e tem como função ajudar a identificar uma marca, separando-a das demais, tornando-a única e distinta. O símbolo em identidade visual é desenhado para comportar e sintetizar um conjunto de associações distintas. Estas associações geralmente são feitas com a ajuda da propaganda, que através da sua ação bem sucedida, ajuda a relacionar corretamente diversos significados a um determinado símbolo.

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O símbolo, no entanto, não deve depender exclusivamente do auxílio da propaganda para criar as associações corretas. Assim, ele deve possuir características próprias que já permitam "intuir" determinadas associações, como por exemplo; "é caro", "simpático", "moderno", etc, simplesmente pela forma como foi desenhado e independentemente de ter ou não propaganda associada à sua difusão. O termo símbolo, com origem no grego σύμβολον (sýmbolon), designa um elemento representativo que está (realidade visível) em lugar de algo (realidade invisível) que tanto pode ser um objeto como um conceito ou idéia, determinada quantidade ou qualidade. O "símbolo" é um elemento essencial no processo de comunicação, encontrando-se difundido pelo quotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber humano. Embora existam símbolos que são reconhecidos internacionalmente, outros só são compreendidos dentro de um determinado grupo ou contexto (religioso, cultural, etc.). A representação específica para cada símbolo pode surgir como resultado de um processo natural ou pode ser convencionada de modo a que o receptor (uma pessoa ou grupo específico de pessoas) consiga fazer a interpretação do seu significado implícito e atribuir-lhe determinada conotação. Pode também estar mais ou menos relacionada fisicamente com o objeto ou idéia que representa, podendo não só ter uma representação gráfica ou tridimensional como também sonora ou mesmo gestual. Semiótica é a disciplina que se ocupa do estudo dos símbolos, do seu processo e sistema em geral. Outras disciplinas especificam metodologias de estudo consoantes à área, como a semântica, que se ocupa do simbolismo na linguagem, ou seja, das palavras, ou a psicanálise, que, entre outros, se debruça sobre a interpretação do simbolismo nos sonhos. Na semiótica todo signo em que a convencionalidade predomina, possui uma relação-símbolo. Exemplo disso é a paz mundial e a

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pomba da paz, a convenção fez da imagem semelhante a uma pomba branca, um símbolo de paz. Logotipo, ou logótipo, refere-se à forma particular como o nome da marca é representado graficamente, pela escolha ou desenho de uma tipografia específica. É um dos elementos gráficos de composição de uma marca, algumas vezes é o único, tornando-se a principal representação gráfica da mesma. Logotipo é uma assinatura institucional, a representação gráfica da marca. Por isso ela deverá aparecer em todas as peças gráficas feitas para a empresa. Como toda assinatura, o logotipo precisa seguir um padrão visual que a torna reconhecida onde quer que ela seja estampada. Usar corretamente o logotipo é uma das ações obrigatórias para o reforço da imagem e da personalidade da empresa. Identidade visual é o conjunto de elementos gráficos que representam visualmente, e de forma sistematizada, um nome, idéia, produto, empresa, instituição ou serviço. Esse conjunto de elementos costuma ter como base o logotipo, um símbolo gráfico e conjunto de cores. São elementos que agem mais ou menos como a vestimenta e a formas das pessoas se comportarem. Devem informar, substancialmente, à primeira vista. Estabelecer com quem os vê um nível ideal de comunicação. Ao contrário da identidade corporativa que define quem a empresa é, a Imagem corporativa que define como a empresa se parece ou, como ela é percebida. Minguez (1999) a define como “el conjunto de significados que una persona asocia a una organización”. Discute ainda que o processo de formação de uma imagem é um processo sempre complexo, pois é o resultado de uma abstração que cada indivíduo forma em sua mente a partir de operações de simplificação com atributos mais ou menos representativos para ele. Estes atributos são, em sua maioria, provenientes de três fontes de informação: os

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meios de comunicação de massa, as relações interpessoais e a experiência pessoal. Em resumo, a imagem corporativa é constituída por retalhos do que a empresa é, o que a empresa faz e o que a empresa diz. Para Costa (2001), o termo imagem é geralmente associado ao sentido da visão, ou, na melhor das hipóteses, às percepções sensoriais. Mas, imagem corporativa - para o autor, é muito mais: “La imagen de empresa es la representación mental, en el imaginario colectivo, de un conjunto de atributos y valores que funcionan como un estereotipo y determinan la conducta y opiniones de esta colectividad”. Uma analogia simples para entender esses conceitos é imaginar que a imagem corporativa é como uma tela em branco que as pessoas possuem em suas mentes em relação a uma determinada empresa com a qual ainda não tiveram contato. A imagem é o preenchimento dessa tela, como se fosse um quebra-cabeças. As pessoas vão construindo a imagem com peças que a própria organização fornece. Se a organização não sabe muito bem como é a tela original (a identidade), não consegue distribuir as peças corretas para preencher a tela na cabeça das pessoas (a imagem). Isso faz com que se forme uma imagem confusa, onde as peças não se encaixam. Assim, é difícil confiar na organização - e formar uma opinião favorável, pois não há clareza e nem coerência. A reputação institucional fica prejudicada, pois não se consegue discernir os pontos determinantes para a tomada de decisão. Há então os casos presenciados diariamente de peças que não se encaixam, como os anúncios milionários dos bancos afirmando que o cliente é especial, enquanto faz com que eles tenham um tratamento abaixo da crítica, esperando por longos intervalos de tempo para serem atendidos.

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Para resumir a questão, pode-se citar Ade (2001), que conclui: “(..) identidade é realidade; imagem é percepção. Identidade molda imagem; imagem reflete identidade“.

Ilustração: Planta baixa de Stonehenge; templo ou observatório construído pelos Celtas antigos, próximo à Londres

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Ilustração: Símbolo da Maçonaria; letra sagrada “G”, o compasso e o esquadro

Ilustração: Triske, ou Triskele; que simboliza o sagrado, as três faces da vida ou a Deusa-Mãe ou Mãe-Terra

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Relações BDSM As relações proporcionadas pelo universo BDSM podem ser descritas como parafilias, conforme o código internacional de doenças, ou até mesmo como desvio de conduta como querem fazer perecer os conservadores, mas é inegável que estas relações – quando ocorridas dentro dos preceitos ‘SSC’ – Sadio, São e Consensual, produzem resultados surpreendentes, tanto no quesito eficiência, quanto no quesito efetividade. É sabido que o resultado destas relações entre seus adeptos tende a ser coroado de exito nos itens em que não se consegue nada satisfatório no mundo ‘normal’, destacando-se a harmonia entre casais e grupos praticantes construídos neste conceito. Fidelidade, higiene e satisfação pessoal são outros dos resultados positivos. As relações no universo BDSM são – primariamente, de poder, através das manifestações sexuais dos envolvidos. E sempre de imposição de poder de um sobre o outro. Esta ‘imposição’ do poder se dá de forma permitida, aceita, pelo subjugado, o que traduz a importância dos ‘jogos íntimos’ entre as pessoas, pois toda esta relação inicia o contato primário a partir da manifestação sexual, onde se pré-estabelece a condição da relação: dominante / dominado. Desta primariedade (sexual) os praticantes transferem, parcial ou total, os princípios para uma relação mais ampla. Depende exclusivamente da vontade deles, inclusive estabelecendo os níveis de restrições e permissões, de forma conjunta, buscando o significado do prazer e do conforto emocional. O BDSM na Nova Sociedade A Nova Sociedade prega a figura feminina e todo o simbolismo que ela representa como algo sagrado, divino, ao mesmo tempo em que defende a natural superioridade do ente feminino sobre tudo e todas as coisas, bem como busca a efetivação da supremacia feminina como princípio

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e estilo de vida entre seus seguidores. Por outro lado, a Nova Sociedade inicia o resgate do passado ancestral feminino e sua glória, defendendo a condição de supremacia como solução para os males do mundo, cuja raiz está no controle mal planejado e mal executado pelo universo masculino dominante até então. Assim sendo, é natural que se busque o início do equilíbrio das relações invocando a base, a sedimentação desta idéia, através do comportamento primário – e mais importante, que são as relações sexuais, porque é através destas relações íntimas que se consolida o pensamento voltado para o futuro. E, é importante destacar, através do poder e da energia emanados das relações sexuais, se concebe a melhor possibilidade de sucesso no ponto de vista de treinamento e do condicionamento, pela aceitação, em razão do forte impacto psíquico que resultam as ações. É importante o uso das soluções oferecidas pela prática - e sistemática, BDSM no dia-a-dia das pessoas que imaginam ser possível materializar o sonho de viver em uma sociedade diferente, sob a ótica e comando absolutamente femininos. É - no mundo e arte BDSM, pode-se desenvolver a máxima capacidade de absorção destes valores, com a sistematização e estabelecimento de rotinas de promoção e inversão de comando. E, ali, vale a mágica proposta por este novo tipo de relação sexual que – da mesma, forma está sendo construído, e cujo foco – e tema central, é o prazer e o conforto feminino. Aqui, neste momento íntimo, de grande concentração e foco, quando a alma fica mais leve e o pensamento atinge a máxima abstração, é onde começa a renovação das relações entre macho e fêmea. A divinização absoluta da fêmea, centro do pensamento filosófico da Nova Sociedade, traduz uma nova linguagem social, onde a intimidade vai sair do quarto e chegar à sala, à cozinha e ganhar as ruas e o mundo.

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Liturgia A liturgia das novas relações inicia por ritualizar estas relações. São instituídos rituais para todas as ações entre macho e fêmea. Estes rituais são metódicos, longos e demorados, recheados de detalhes. Um simples jantar ou um ato banal de tomar sol num avarandado pode se tornar um ritual de subserviência, veneração e idolatria do homem pela mulher. Uma relação sexual sai da mecanização para ganhar contornos litúrgicos. O macho não vai mais utilizar-se da fêmea para saciar desejos, mas oferecerá seu corpo a ser desfrutado por esta fêmea, que toma este corpo macho como sua propriedade e para seu livre, amplo e absoluto uso. Antes da relação carnal o macho precisará adorar, venerar, orar para esta fêmea, na tentativa de receber sua atenção e obséquio, e lhe permitir o especial favor de deixar que este macho possa tocá-la em buscar e proporcionar prazer a ela, exclusivamente. O macho, aqui, é mais uma parte do patrimônio da fêmea que – assim como possui imóvel e certificado do automóvel, também tem em seu patrimônio um ou mais machos para seu desfrute. O macho verdadeiro e consciente saber disto e comporta-se como tal, pois reconhece que seu futuro como ser humano depende do exercício da sabedoria desta fêmea que controla e rege esta família, ou clã, e é responsável pelo seu funcionamento. E este controle inicia sobre o corpo e a vontade do macho – ou dos machos, em questão. Este novo homem, agora, é um cativo e não é mais proprietário sequer da sua própria vontade. O controle absoluto da fêmea sobre ele, assim o é, e se justifica, pelo conceito da divinização da fêmea. E este controle, absoluto, total, também age sobre os instintos ancestrais deste macho milenarmente egoísta. Ela controla o que ele tem de mais íntimo, sua vontade, apetite sexual, ejaculação e – com isto, transforma o orgasmo do macho em satisfação transmutada - ou seja, o orgasmo dela provoca o clímax dele, sem ejaculação. A

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ejaculação é desnecessária e representa um desperdício. Observando comportamento egoísta do macho, após a ejaculação, este costuma ficar indolente, preguiçoso e sonolento. Chega a perder o interesse pelos desejos da fêmea, quase sempre ainda na expectativa. Pois o controle da ejaculação irá mudará este macho em atitudes e em visão e mundo. Com o tempo, a ejaculação vai sendo substituída pelo orgasmo seco, pela satisfação interior de ver a fêmea realizada em seus desejos e conforto. Não existe nada mais belo e significativo do que ver o brilho no olhar da fêmea no momento do seu orgasmo. Da mesma forma é saudável que o macho experimente o sabor e as propriedades da ejaculação feminina, produzida pelos seus orgasmos. Os líquidos interiores são imprescindíveis ao macho para que ele conheça e identifique o resultado desta ação. A fêmea deve lançar mão de ferramentas pra contribuir ao controle da ejaculação masculina. Alguns grupos utilizam cintos de castidade de diversas formas que também serve para outras finalidades, como punição, além do treinamento e adestramento propostos, e pela segurança que representa.

Ilustração: Altar moderno para magia negra

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Rituais Objetivos, rotinas, sistematização É importante a presença de objetos de identidade e que produzam significado - não só afetivo, mas que registrem - de forma emblemática, o acontecimento em si e o liguem ao mundo ideal. Ou seja, o ritual faz parte do processo de branding porque tem a finalidade de construir o imaginário ideal, a convicção moral e psicológica, fatores determinantes para consolidação do modo de vida que está sendo criado, aceito como natural. O indivíduo carrega o fetiche dos símbolos. Move-se por estes símbolos, tanto social, quanto psicologicamente. Os símbolos são o fator de sociabilidade, indicativos e indutores de comportamento. Portanto, é natural que os rituais sejam importantes para o condicionamento comportamental. E, dentro desta lógica, os rituais devem conter objetos que liguem os indivíduos e seus mundos - o real e o ideal imaginário, bem como façam parte (os objetos) das ações de linguagem e das ações operacionais do processo (condicionamento). São vários os rituais que podem ser produzidos com o objetivo de fortalecer o pensamento e foco na superioridade feminina e, em relação proporcional, à inferioridade masculina. Os rituais possuem - como objetivo, o condicionamento, da criação da convicção. Quanto mais freqüentes estes rituais - e quanto mais incorporados no dia-a-dia, mais forte vai ficando a convicção e, por conseqüência, a relação. Entende-se por rituais toda uma série de atitudes e comportamentos executados de forma litúrgica e sistemática, que obedeçam a uma lógica de funcionamento programada, e com seqüência de atos interligados um ao outro. Assim, um ritual pode ser mais ou menos elaborado, dependendo da circunstância ou do momento. Por

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exemplo, servir café - ou outra refeição, na cama aparentemente um ato simples, mas que pode ser executado de forma sistemática e - elaborado com alguns aditivos, transformar-se em ritual permanente. Tradicionalmente, nas relações BDSM, os rituais mais elaborados são os que pressupõem a entrega e a veneração. Estes rituais podem ter versões caseiras e sistemáticas, menos elaboradas – mas, com muita força e significado. Outros rituais de importante significado são os que implicam em afirmação ou reafirmação de compromissos ou naqueles que implicam em sacrifícios, sublimação da dor e tangenciamento de limites.

Ilustração: ritual satânico, desenho psicodélico dos anos 60

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Ritual de apresentação, prostração e veneração: É um ritual onde o homem submisso demonstra seu apreço, afeição – e amor, manifestando-se por meio da devoção e absoluta dedicação à criatura amada. Deve ser realizado com grande freqüência e tem – como finalidade, construir a base da relação entre mulher superior e o macho inferior.

Ritual de encoleiramento e compromisso: É o ritual de união, de ingresso ao macho à família construída pela mulher superior, ou o clã. Também conhecido como ritual de entrega e submissão, este ritual promove – oficialmente, a constituição desta relação. Normalmente tem um contrato que regerá esta relação, contendo as condições de participação de cada envolvido. Implica em estabelecimento de prazo de início, maturação e duração da relação. Ritual de renovação de votos e do compromisso: Ocorre periodicamente, usualmente na data de aniversário da assinatura do contrato de compromisso, quando são renovados os votos. Aqui é possível alteração em algumas cláusulas, após exame e aceite pelas partes envolvidas. Ritual de relatórios: Rotina entre os envolvidos na relação BDSM, o ritual implica em datas pré-estabelecidas em contrato para que o macho submisso apresente seu relatório de atividades à mulher superior, onde deverá

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prestar contas de suas atividades na vida dentro e fora do universo BDSM. Esta prestação de contas tem caráter material e imaterial, ou seja, presta contas detalhadas das suas atividades rotineiras, profissionais e emocionais. Ritual de castigos e punição: Rotina muito importante, pois implica diretamente no condicionamento e na afirmação das posições ocupadas pelos participantes da relação. Previsto em contrato, faz parte de um dos momentos mais significativos porque representa – ao mesmo tempo, entrega, confiança, identificação e desafio aos limites.

Ritual de submissão: Importante ritual onde são incorporadas as rotinas da relação. Aqui convivem as rotinas da vida civil com a vida BDSM, onde ‘se encontram os dois mundos’ num mesmo momento. O homem submisso dedica todas as tarefas do seu dia-a-dia à fêmea singular da sua vida, de forma devotada e completamente submissa. Ao início da cada tarefa que lhe foi incorporada, ele a oferecerá à sua fêmea que detém o domínio da relação, bem como – ao final da tarefa, agradecerá o encargo recebido. Sempre, ao final das tarefas, esta será relatada como um presente divino, em posição de submissão. É importante – para as relações entre as pessoas, e para a manutenção da cultura a que se propõe, que estes rituais tenham sua rotina mantida, pois – objetivamente, a sistematização destas ações é o que garante o equilíbrio

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da relação. Todos os valores - expressos de forma continua e repetida, dão a garantia da manutenção da magia e mistério, ou o que chamamos de ‘mística’.

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O exercício corporal Objetivos, prática, rotina, instrumentos, estímulos e limites São os jogos BDSM. A essência deste tipo de relação. Implica em duas ações decorrentes - uma da outra, e interligadas. De um lado infligir dor e impor sacrifícios. De outro lado, sofrer a dor e cumprir os sacrifícios. Sendo o sexo a área mais íntima e primitiva do ser humano, a relação BDSM atua com excepcional impacto psicológico, produzindo resultados extraordinários. Os grupos envolvidos e divididos nas duas categorias que regem a relação - dominação e submissão, promovem um conjunto de ações entre si, que designamos como jogos, e que constroem toda a mecânica do funcionamento social. Os exercícios corporais são as práticas destes jogos que, além da prostração submissa do macho frente à fêmea, por longos períodos, também inclui e incorpora estas práticas corporais nas relações sexuais – como parte integrante e indissociável, e promovem a liturgia e manutenção da idéia do subjugo do macho. O cenário Objetivos, local, altar, celebração, elementos Os cenários dos rituais, pelo seu importante papel, devem contar com fotos, peças de roupas, artefatos de estima e peças q provoquem lembranças e estar associados a outros instrumentos e ferramentas que participam - ou influam, no comportamento que esta sendo produzido, além de estar envolvido na atmosfera ambiental que faça a ligação entre estes mundos, composta de som, iluminação e familiaridade. O ideal é que o ambiente contenha pouca luz, preferencialmente com velas, muitos odores (incensos e ervas), representações da natureza (água, fogo, terra, ar) sonoridade adequada (música ambiente ou sons naturais) e simbologia de impacto - que representa o mundo ideal imaginário, e que significa a

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passagem, a entrada para este novo universo. A simbologia é a palavra chave para esta conexão. A idéia de cenário é transportar os indivíduos por uma viagem ao seu próprio interior e contribuir para o máximo de concentração. Como uma viagem, acompanhada de memórias, sensações e expectativas. Outra forma que provoca impacto é a reprodução de cenários ligados e identificados a ideias do passado, de períodos, fatos e acontecimentos históricos ou ligados à história de vida dos envolvidos. O Sexo Prática, conteúdo, finalidade, conceito, amor, controle Para a Nova Sociedade, sexo e contrôle andam abraçados no mesmo conceito de amor e tem a finalidade de potencializar a relação de submissão do homem à figura feminina. O princípio da Nova Sociedade é de exclusivo prazer e conforto da fêmea que exerce o poder de forma total e absoluta, inclusive sobre o direito à ejaculação do macho. As relações são construídas com esta finalidade e objetivo e as pessoas que caminham nesta direção o fazem de forma consciente e natural. O amor é consquência desta relação e – ao mesmo tempo, o fator seu de impulsão. A entrega do macho à fêmea é forte, ampla e de total sinceridade, de tal maneira que não existe desconforto na execução destes temas. A fêmea recebe este amor intenso e absoluto oferecido de forma incondicional, e constrói sobre este firme alicerce a felicidade sublime. É importante destacar que o contrôle sobre a ejaculação do macho é imposto por parte da fêmea. Ora, a energia que move o universo é feminina, é nela que se concentram as principais fontes de enregia. É do ventre sagrado da mulher que tem orgiem a vida. Os povos antigos já sabiam disto quando cultuavam a Deusa-Mãe ou

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a Mãe-Terra. E a fôrça do macho só tem sentido quando voltada para a construção da estrada para o prazer da fêmea. Observemos nas relações tradicionais que o macho avança sobre a fêmea com o intuito apenas de saciar seu instinto primitivo que é a ejaculação, que ocorre – normalmente, em poucos segundos. Depois desta manisfestação o macho tende a perder os sentidos lógicos, fica malemolente, indolente e menos carinhoso. Cansa e relaxa até o sono. Além da perda de energia, perdeu o sentido sobre a vida. Ao contrário desta relação, a Nova Sociedade prega o total controle sobre a ejaculação do macho com a finalidade de satisfação da fêmea. E, para que não ocorra perda de enregia e para que o macho se mantenha ativo, amoroso, e focado no culto ao belo feminino, é que a ejaculação não deva ocorrer com frequência. A ejaculação masculina é desnecessária e deve ser utilizada como momento de reflexão do macho sobre seu passado ancestral. Um macho não deve ejacular mais do que duas ou três vezes ao ano. E o ideal é a ejaculação reflexiva, totalmente desconfortável para que não tenha prazer carnal imediato. O amcho deve construir sua imagem de prazer contemplando o prazer da fêmea, retrato do belo, da pureza e da sinceridade. O prazer sexual ideal é o da fêmea, que simboliza a vida. A ejaculação masculina é primitiva, aanimal e sem sentido. É melhor ao macho armazenar esta força e canalizá-la para o trabalho, prosperidade, prazer e conforto da fêmea. A ejaculação masculina deve ter caráter terapêutico à ele e precisa ser reflexiva, onde ele precisa pensar na materialização do universo sob lógica feminina. Deve aproveitar para refletir sobre seu passado ancestral de triste memória egoista e relegar esta condição ao lixo da história, elegendo como objetivo único a figura feminina. O ideal é que a ejaculação masculina, nos momentos em que for aplicada, seja executada pela fêmea através da ordenha e da massagem prostática, preferencialmente em condições humilhantes, e acompanhada de severos

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castigos, com o objetivo de potencializar a reflexão do macho sobre sua condição submissa frente aos novos valores que está contribuindo para edificar. Conceito de família Estilo de vida, código de conduta, ética, contrato O estilo de vida proposto pela Nova Sociedade tem base no conceito de supremacia e superioridade feminina. Supremacia porque os valores conceituais que regem e determinam a relação pressupõe a superioridade como herança natural. Contrato é o compromisso assumido pelas partes na constituição da família BDSM. Os compromissos no mundo e arte BDSM são muito sérios. Neste tipo de relação não existe lugar para a desconfiança e traição. Neste terreno não há espaço para outra atitude senão a sinceridade e coerência, pois - a única maneira de sentir-se a vontade e de tornar realidade a imaginação é a confiança, que é base deste tipo de relação. As relações no universo BDSM obedecem ao lema "São, Sadio e Consensual". Não há outra forma. E, para que a vida transcorra dentro de um limite que prime pelo respeito à condição humana, as pessoas se conhecem, namoram e se juntam em grupos constituindo a legitima família BDSM. Ora, para que exista harmonia, paz, tranquilidade e prosperidade, as pessoas fixam regras mínimas para o estabelecimento da ordem nestas relações. Tudo o que é aceito e que deve ser respeitado, bem como tudo o que se pode ou não fazer é combinado anteriormente e aceito pelas pessoas envolvidas, que costumam produzir um contrato que prevê, além destes costumes, um tempo de adaptação e de duração, bem como todas as idéias sãs, sadias e consensuais que levarão a cabo no intuito de coroar de sucesso a relação. É importante que o contrato faça previsão nos mínimos detalhes, por mais absurdos que possam parecer, porque assim as chances de decepções e mal entendidos ficam mais difíceis de acontecer.

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A ética nas relações propostas na Nova Sociedade são muito enérgicas e de severa disciplina. Neste tipo de relação não existe a possibilidade de traição. As regras do seu funcionamento são bem claras e definidas, com aceitação plena e consensual. O princípio tem por base a confiança, o consensual o sadio. Símbolos No BDSM, os símbolos representam toda a magia e mistério que envolve este tipo de relação. Traduzindo um estilo de vida, os símbolos são a representação gráfica desta forma de envolvimento entre pessoas. Para a Nova Sociedade, que adota o BDSM como pratica, estes símbolos representam a espiritualidade que vem no bojo da sua formação filosófica. E vão mais além, são a representação gráfica das expressões e grandezas dos grupos que com põe esta Nova Sociedade. Estas manifestações movem-se por símbolos, movimentam-se por símbolos e expressam-se por símbolos. Como não poderia deixar de ser, comunicam-se – da mesma forma, por símbolos. No sentido de purificar a raça humana e livrá-la do jugo masculino, submete-se – por gerações, o macho, aprimorando-se – com esta prática, as relações imposição/submissão, entre fêmeas e machos. Ilustrações: Cruz de Santo André, símbolo da humildade e do sofrimento em razão do martírio do santo. Utilizado como símbolo de castigos físicos no BDSM.

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Simbolismo de elementos da natureza A natureza, para a Nova Sociedade é sagrada e representa (e - ao mesmo tempo, é representada) a fêmea. Remonta aos tempos célticos, povos que acreditavam na natureza associada à figura feminina – símbolo da vida. Em toda a vida ritual da Nova Sociedade existe a presença de elementos da natureza e suas propriedades são invocadas. A água sempre vem associada ao simbolismo da purificação – vida, e é muito utilizada e presente em rituais. Assim, a figura Feminina é sempre Sagrada e valor de adoração e veneração por parte dos integrantes. Os rituais são elementos de construção do imaginário e devem conter lembranças de elementos da natureza: água, terra, ar, fauna, flora, etc. Simbolismo gráfico A expressão gráfica traduz a linguagem utilizada para comunicar – primeiramente em círculo restrito e dali para fora, dizendo ao mundo como funcionam as engrenagens da Nova Sociedade. A grafia e os símbolos são os agentes de fixação da imagem institucional da Nova Sociedade e tem atuação no universo do consciente coletivo dos sesus integrantes. É a tradução dos sentimentos e conceitos produzidos na oralidade, reproduzidos e eternizados no espaço visual, com objetivo de informar. Internamente, estas manifestações gráficas comunicam os tipos de grupos e preferências, assim como informam conceitos e formas de comportamento. São símbolos gráficos os brazões, flâmulas, bandeiras, palavras, nomes, apelidos, desenhos, etc. Simbolismo dos instrumentos Os instrumentos são “ferramentas” utilizadas pelos membros da Nova Sociedade na execução dos seus ofícios, deveres, jogos de Poder e como identificação das funções. Também identificam as hierarquias. Trazem na

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sua figura a essência das obrigações contidas nas funções combinadas. Por exemplo, as velas, ao mesmo tempo em que sugerem a contradição entre a Luz e a Escuridão – o que pode significar, respecitvamente, Sabedoria e Ignorância, também pode servir como instrumento (ferramenta) nos jogos do poder. Quem traz à Luz a Sabedoria, encerrndo a Escuridão da Ignorância, também pode ferir com o fogo e o calor, associando, condicionando ou fixando a imagem, sob o ponto de vista psicológico. Simbolismo das marcas e registros As marcas e registros produzidos são, talvez, o mais alto significado na Nova Sociedade. As comunidades BDSM pesquisadas tem, nos registros de contratos entre parceiros/as praticantes, o mais importante grau de confiança. Normalmente representandos por contratos de Dominação e submissão, delcarações e contratos de união estável, estes registros expressam – fundamentalmente, confiança. As marcas produzidas nos corpos dos praticantes desta arte - BDSM, são carregadas com muito orgulho pelo significado das emoções afetivas envolvidas. Os adeptos possuem marcas produzidas nos jogos (permanentes ou temporárias), tatuagens, símbolos e transformações no corpo. Estas marcas também sugerem acontecimentos, datas e/ou momentos importantes e significativos. Um das mais procuradas peças da simbologia das relações BDSM, também conhecida como branding é a produção de marcas executadas com metal quente (ou em brasa) sobre a pele contendo simbologia alusiva. Não confundir com o brandig do estudo das marcas e simbologias como uma área do desgin, do marketing e das estratégicas de publicidade.

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Referência Bibliográfica: BARREMBLITT, G. (1997) Palestra no Encontro Reichiano no Instituto Sedes Sapientiae. LOWEN, A (1982) Bioenergética. São Paulo, Summus KHALIL, Anna G. e Gebara, (2009) A Nova Sociedade – A Tese, Porto Alegre, LOWEN, A (1992) Ego Caráter e Sexualidade, Journal of the International Institute for Boenergetic Analysis, Vol 5 No. 1:3-18. LOWEN, A (1995) Alegria. São Paulo, Summus LOWEN, A (1995) A Espiritualidade do Corpo. São Paulo. Editora Cultrix. Pierrakos, J. (1987) Energética da Essência. São Paulo. Pensamento. Reich, W. (1948) The Cancer Biopathy. New York, Orgone Institute Press. Reich, W (1975) A Função do Orgasmo, São Paulo, Brasiliense. Mauro Araujo de Sousa, Doutor em Filosofia, Mestre em Ciências da Religião e Especialista em História pela PUCSP – pesquisa publicada na Revista de Estudos da Religião Nº 2 / 2006 / pp. 24-42 - em Nietzsche: Um Tipo Asceta com as citações das seguintes fontes: AC/AC - Der Antichrist (O Anticristo). FW/GC - Die fröhliche Wissenschaft (A gaia Ciência).

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GM/GM - Zur Genealogie der Moral (Para a Genealogia da Moral). JGB/BM - Jenseits von Gut und Böse (Para além de Bem e Mal). DELEUZE, G. Nietzsche e a filosofia. Tradução de António M. Magalhães. Porto: Rés Editora, s/d. NIETZSCHE, F.W. A gaia ciência. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Cia. das Letras, 2001. _______________ Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. 2ª edição e 2ª reimpressão. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. _______________. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. 4ª reimpressão. São Paulo: Cia das Letras, 2002. _______________. O anticristo: anátema sobre o Cristianismo. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2002. SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representação. Tradução e prefácio de Heraldo Barbuy. 3ª edição. São Paulo: Edições e Publicações Brasil Editora S.A., 1963. Referências em Branding: MINGUEZ, Norberto. Un marco conceptual para la comunicación corporativa. Revista de Estudios de Comunicación, n. 7, Maio 1999. Bilbao.

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COSTA, Joan. Imagen corporativa en el siglo XXI. Buenos Aires: La CrujĂ­a Ediciones, 2001. ADE, Gerhard. Brand and identity - the basics.

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Índice (página/assunto)

04. Introdução 07. Ascetismo 08. Motivação Religiosa 09. Hinduísmo 09. Budismo 09. Judaísmo, Cristianismo e Islamismo 17. A Função do Orgasmo 19. A Espiritualidade do Corpo 10. Castidade 21. Missa Negra e Satanistas 23. Magia Cerimonial 24. Magia Sexual 25. Thelema 26. Ordo Templis Orientis (OTO) 26. Golden Dawn 27. Magia Luciférica 27. Magia Eniquiana 27. Magia Musical 27. Xamanismo 28. Branding 35. Relações BDSM 35. O BDSM na Nova Sociedade 37. Liturgia 39. Rituais 44. O exercício corporal 44. O cenário 45. O Sexo 47. Conceito de família 48. Símbolos 49. Simbolismo de elementos da natureza 49. Simbolismo gráfico 49. Simbolismo de instrumentos 50. Simbolismo das marcas e registros 51. Bibliografia

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