O Falsificacionismo de Karl Popper

Módulo 5.

O conhecimento e a racionalidade científico-tecnológica.

5.2. O ESTATUTO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO.

5.2.2.

Ciência e Construção: Validade e Verificabilidade das Hipóteses Prof. MARINA SANTOS 2011

a) A construção do facto científico A construção do facto científico: A realidade natural, espontânea, é um conjunto de factos que ocorrem no mundo que nos rodeia, mas cuja constatação, empírica e feita passivamente, não interessa aos cientistas. => os cientistas movem-se num universo científico que é uma realidade construída.



1. Os factos, no seu estado bruto ou natural, isto é, conforme ocorrem na natureza, têm de ser modificados para poderem ser utilizados na ciência e, assim, virem a ter algum significado.

2. Tal modificação consiste em despojar os factos das qualidades subjectivas, reduzindo-os ao que de objectivo possuem: as qualidades passíveis de serem matematicamente traduzidas (mensuráveis e, portanto, quantificáveis).

Prof. MARINA SANTOS 2011

2

O facto científico 





A transformação dos factos empíricos, recolhidos pela percepção sensorial é facilitada pela intervenção de artifícios técnicos apropriados.

Instrumentos como o termómetro, o microscópio ou o telescópio permitiram introduzir rigor e objectividade na observação dos factos. => mensurar os fenómenos => quantificação O facto científico é um facto construído (não em bruto).

Prof. MARINA SANTOS 2011

3

O que é uma teoria científica? 



Uma teoria é científica quando é uma visão descritiva, explicativa e preditiva baseada em evidências seguindo um método científico (i.e., um conjunto específico de procedimentos e técnicas) que garanta um conhecimento objectivo e rigoroso da realidade.

As suas principais características são: - Testabilidade: uma hipótese deve ser suportada por dados empíricos e comprovada empiricamente. As experiências científicas realizadas devem poder ser repetidas por outros cientistas e, sob as mesmas condições, devem chegar às mesmas conclusões.

- Revisibilidade: os cientistas deverão estar prontos para reconhecerem e corrigirem os erros, reformulando ou mesmo negando as teorias.

- Falsificabilidade: segundo Karl Popper, uma teoria científica é válida enquanto resistir às tentativas para a derrubar e é tanto mais forte quanto mais tempo resistir.

Prof. MARINA SANTOS 2011

4

b) O método científico 

1.O método indutivo-experimental e o

problema da indução.  

2. O método hipotético-dedutivo.

3. Verificacionismo vs. Falsificacionismo



Karl Popper

Prof. MARINA SANTOS 2011

5

1) Método indutivo 

A sua aplicação baseia-se no princípio de que os casos ainda não observados serão semelhantes aos que já foram observados.



As regularidades observadas são projectadas no futuro ou assume-se que as coisas ainda não observadas exibirão as mesmas regularidades que as coisas já observadas.



Exemplo: A observação de muitos cisnes brancos confirma 1 ) A hipótese de que todos os corvos são brancos; e 2) A hipótese de que o próximo cisne a ser visto será branco.



O grau de confirmação de uma hipótese depende do número de casos observados que estão de acordo com ela.

Prof. MARINA SANTOS 2011

6

LEIS E TEORIAS Indução

Dedução

FACTOS ADQUIRIDOS PELA OBSERVAÇÃO

PREVISÕES E EXPLICAÇÕES

Ex: Newton e a maçã

Prof. MARINA SANTOS 2011

7

O problema da indução

Prof. MARINA SANTOS 2011

8

O problema da indução 







Tal como David Hume, Popper analisa os fundamentos lógicos da indução, concluindo que por maior que seja o número de observações particulares, não há garantias de generalização.

Exemplo: mesmo que tenha observado milhares de cisnes brancos, nada permite afirmar que «todos os cisnes são brancos» e bastará a observação de um único cisne negro para refutar/falsificar a conclusão.

Note-se a assimetria entre verificação e refutação: por mais cisnes brancos que observemos, nunca teremos a certeza absoluta de que a lei geral seja verdadeira; mas basta que um único cisne não seja branco para a refutar (falsificação).

Assim, as inferências indutivas não conferem aos enunciados científicos nem necessidade lógica nem validade universal.

Prof. MARINA SANTOS 2011

9

2) Método hipotético-dedutivo: versão verificacionista









Hipotético-dedutivo: porque de determinada hipótese são deduzidas consequências testáveis (também ditas enunciados observacionais) que se confrontam com factos empíricos para verificar se são verdadeiras.

Esquema:  Da hipótese H deduzem-se consequências testáveis C.  Observa-se que C é verdadeira.  A hipótese H é confirmada por C. Esta forma verificacionista de conceber o método hipotéticodedutivo encontra também problemas lógicos.

A afirmação ou confirmação do consequente, deduzida da hipótese, não é prova válida da verdade do antecedente (da hipótese) » falaciosa.

Prof. MARINA SANTOS 2011

10

3) versão falsificacionista O método proposto e aconselhado por Popper é uma depuração do método hipotético-dedutivo, sem referência à verificação e à indução. Esquema:  Da hipótese H deduzem-se consequências testáveis C;  Observa-se que C não é verdadeira.  A hipótese H é refutada (falsificada) por C.  Há semelhanças entre o método falsificacionista e a descrição habitual do método hipotético-dedutivo: também se deduzem certas consequências de determinadas hipóteses. Mas o facto de aquilo que se observa ser aquilo que se deduziu da hipótese não confirma esta.  Não busca acordo entre a predição (a consequência deduzida da hipótese ) e a observação, mas observações que falsifiquem aquela.  O desacordo entre o que a conjectura prediz e o que é observado conduz à refutação da hipótese.  O acordo corrobora a hipótese, mas nunca a confirma ou verifica. 

Prof. MARINA SANTOS 2011

11

Em que consiste o método científico?

Perspectiva indutiva da ciência

(Verificabilidade das hipóteses)) OBSERVAÇÕES HIPÓTESES EXPERIMENTAÇÃO

Perspectiva hipotético-dedutiva de Karl Popper (Falsificabilidade)

FACTO-PROBLEMA HIPÓTESES FALSIFICAR/REFUTAR as hipóteses

VERIFICAÇÃO da hipótese

CORROBORAÇÃO

TEORIA

CONJECTURA Prof. MARINA SANTOS

12

Verificacionismo vs.

Falsificacionismo



Popper substitui o critério de verificação empírica pelo critério de falsificabilidade: «uma proposição é científica, se e apenas se, puder ser falsificada pela experiência», ou seja, se for possível invalidá-la ou refutá-la empiricamente.

VERIFICAÇÃO Se Hipótese, então Consequência.

Consequência (verificada).

Logo, Hipótese (confirmada). 

Conclusão inválida

FALSIFICAÇÃO Se Hipótese, então Consequência.

Não Consequência (refutada).

Logo, não Hipótese (falsificada)  Conclusão válida

Prof. MARINA SANTOS 2011

13

c) Popper e o Falsificacionismo Segundo Karl Popper, a ciência é uma construção, onde assume particular importância a formulação de hipóteses e conjecturas para a resolução dos problemas que se colocam na actividade de investigação.  A ciência, é um fenómeno em perpétuo crescimento: essencialmente dinâmica, nunca algo acabado; uma aproximação à verdade.  Uma teoria científica é uma hipótese, uma «tentativa» que visa compreender o mundo - nunca pode ser «verificada», mas pode, em contrapartida, ser «corroborada».  Será considerada corroborada uma teoria que até então tenha resistido com êxito aos testes mais severos e não tenha sido substituída.  A metodologia científica: 1. O ponto de partida é sempre um problema ou uma situação problemática; 2. Seguem-se tentativas de solução. Estas consistem sempre em teorias e estas, sendo tentativas, estão frequentemente erradas: são, e sempre serão, hipóteses ou conjecturas; 3. Aprendemos eliminando os nossos erros, eliminando as teorias falsas. 

Prof. MARINA SANTOS

14

c) Popper e o Falsificacionismo 

Questão: como distinguir as teorias científicas das pseudo-científicas?



O critério de demarcação proposto por Popper é a testabilidade, refutabilidade ou falsificabilidade: “Um enunciado ou teoria é falsificável, segundo o meu critério, se e só se existir, pelo menos um falsificador potencial” , ou seja, se existir pelo menos um enunciado que descreva um facto logicamente possível que entre em conflito com a teoria.

As teorias científicas, quando combinadas com condições específicas, devem proibir algum acontecimento que é logicamente possível de ser observado.

A falsificabilidade das teorias científicas é coerente com a atitude crítica.

Não há formas de se provar a veracidade do conhecimento científico mas a ciência pode perseguir a verdade através da exclusão de teorias falsificadas, substituindo-as por novas teorias que poderão aproximar-se mais da verdade.

"Essa é uma concepção de ciência que considera a abordagem crítica a sua característica mais importante. Para avaliar uma teoria, o cientista deve indagar se esta pode ser criticada, se se expõe a críticas de todos os tipos e, em caso afirmativo, se resiste a essas críticas."







Prof. MARINA SANTOS 2011

15

c) Popper e o Falsificacionismo  







Para Popper, a ciência é um tipo de conhecimento conjectural.

A ciência consiste numa sequência de tentativas e erros visando encontrar a solução para determinados problemas, construída a partir de conjecturas e de refutações.

Uma teoria científica constitui uma perspectiva sobre a realidade que resistiu às tentativas mais sérias e severas de falsificabilidade (foi «corroborada», mas não verificada ou demonstrada) e, portanto foi aceite provisoriamente pela comunidade científica, que deverá continuar a submetê-la permanentemente à prova.

O conhecimento é conjectural, inclusive as falsificações das teorias: as falsificações não se encontram livres de críticas e nenhuma teoria pode ser dada como “definitiva ou terminantemente falsificada” e, portanto, “qualquer falsificação pode, por sua vez, ser testada de novo”.

Segundo Popper, «a ciência não é mais do que uma eliminação indefinida do erro.»

Prof. MARINA SANTOS 2011

16

MÉTODO Método indutivo-experimental Observação empírica

Método hipotético-dedutivo Observação de Problemas/Teorias Hipótese

Hipótese

Popper e o método

Dedução de consequências Método hipotético-dedutivo

Experimentação

Experimentação

Lei

Lei Visa a objectividade

Hipóteses Falsificação das hipóteses Corroboração

Construções racionais: acordo intersubjectivo da realidade.

Prof. MARINA SANTOS 2011

Conjectura Teorias provisórias 17

«A dignidade concedida à «refutação» em detrimento da «verificação» provoca várias consequências: Uma teoria com pretensão a ser científica deve, em primeiro lugar, satisfazer uma condição de testabilidade. Será considerada «testável» a partir do momento em que se possam inferir de forma dedutiva um ou vários predicados que, em virtude de algumas condições chamadas iniciais, poderão ser confrontados com factos e submetidos a testes severos e acessíveis.

O critério popperiano deve, em segundo lugar, ser entendido como uma regra de «preferência» e não como uma regra de «justificação». O homem de ciência nunca pode «fundar» positivamente uma asserção geral, mas é-lhe lícito, em contrapartida, «preferir» uma asserção a outra se defrontar mais eficazmente a prova da experiência.

Finalmente, uma teoria nunca é mais do que uma hipótese, uma «tentativa» que tem em vista compreender o mundo, nunca pode ser «verificada», mas pode, em contrapartida, ser «corroborada». Será corroborada uma teoria que até então tenha resistido com êxito aos testes mais severos e não tenha sido substituída com vantagem por uma teoria rival.

Mas a «corroboração» popperiana não é de forma alguma um sucedâneo da «confirmação»: uma hipótese corroborada é uma hipótese aceite provisoriamente pela comunidade científica, mas cujo destino natural é ser, um dia, desmembrada pela superveniência de novos factos. No fundo, para Popper, as teorias mais válidas nunca são teorias verdadeiras, mas apenas teorias que ainda não são falsas.»

(J. Baudouin, Karl Popper) Prof. MARINA SANTOS

18

O Método Científico Fácil De Entender



http://www.youtube.com/watch?v=uZ_vdGFMbBA Prof. MARINA SANTOS 2011

19