Introdução à Axiologia

II: A AÇÃO HUMANA E OS VALORES II.2. Os valores – Análise e compreensão da experiência valorativa II.2.1.

Valores e valoração – a questão dos critérios valorativos

Conceptualização • Axiologia ou Teoria dos Valores: área da Filosofia que reflete sobre a dimensão valorativa da ação humana. deriva dos termos gregos axios (valor, valioso) e logos (ciência).

O que são os valores? Qual é a natureza dos valores?

São meramente ideais ou reais? Os juízos de valor são subjetivos ou objetivos? Existem valores universais?

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Conceptualização • Valor: Qualidade atribuída a objetos, animais, pessoas, acontecimentos ou ações reconhecidos como ideais por indivíduos ou grupos e que os torna desejáveis ou estimáveis. => orientam a ação para o TER ou o SER (bom, justo, belo)

•

Valoração: ato de atribuição de valor às coisas, pessoas ou acontecimentos.

• Experiência axiológica: Consiste em vivenciar a realidade através dos valores: os objetos, ações e acontecimentos não são neutros, mas vivenciados como algo de bom ou mau, preferível ou recusável, positivo ou negativo.

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A experiência axiológica e a noção de valor • Se o agente tem o poder de deliberar racionalmente sobre os fins e os meios da sua ação, então…

Qual é a base das suas preferências que o levam a agir neste ou naquele sentido?

• Os valores são elementos fundamentais na ação humana individual e coletiva, tanto ao nível dos motivos que a impulsionam como das intenções que a orientam.

• Os valores permitem não só interpretar e compreender as ações (dimensão descritiva) como orientar a ação (dimensão normativa) => Como agir bem/corretamente?

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A experiência axiológica e a noção de valor Num referendo, quais são os valores subjacentes ao voto contra ou a favor da interrupção voluntária da gravidez?

Pró-escolha

Pró-vida

Valor: “liberdade individual”

Valor: “vida humana”

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A experiência axiológica e a noção de valor • Relação entre valor e ação: Os valores explicitam muitos dos motivos e das intenções do agente e estabelecem preferências nos momentos da deliberação, decisão e escolha do agente; conhecer os valores e a tábua de valores* de um agente é importante para compreender a intencionalidade da sua ação. => Importância dos valores para a ação: Definem percursos da ação humana, explicando as suas razões e dando-lhe intencionalidade; conferem uma dimensão normativa à ação.

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A experiência axiológica e a noção de valor “Valoramos as mais diferentes coisas.

O nosso valorar recai sobre todos os objetos possíveis: água, pão, vestuário, saúde, livros, homens, opiniões, atos.

Tudo isso é objeto das nossas apreciações.”

J. Hessen(2001), Filosofia dos valores

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FACTO O que existe em si, independente de qualquer sujeito.

VALORAÇÃO O sujeito atribui valor ao facto enquanto objeto de preferência ou de rejeição.

JUÍZO DE VALOR O sujeito expressa o que vale o facto para si.

O juízo de valor não diz como um facto é em si, mas como é avaliado pelo sujeito.

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FACTO: -

o o o o o

SER que É REAL DESCRITÍVEL ACONTECIMENTO

JUÍZOS DE FACTO: Ex. “Hoje está a chover” - Descrevem a realidade; -Informam sobre acontecimentos; - São verdadeiros ou falsos; -São objetivos; - São passíveis de verificação empírica; - São consensuais.

ATITUDE TEORÉTICA: - O mundo é encarado como simples espetáculo; as ações, como puros acontecimentos. => Atitude de indiferença, imparcialidade e neutralidade; => Atitude própria das ciências e do jornalismo: registo, descrição e análise fria, rigorosa e objetiva dos factos.

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VALOR: Vivência humana

LINGUAGEM

SABER

-

o o o o a

DEVER SER que VALE POSSÍVEL PREFERÍVEL NORMA

JUÍZOS DE VALOR: Ex. “Hoje está um tempo magnífico” - Avaliam a realidade (os factos); - Apreciação pessoal dos acontecimentos; - São mais ou menos plausíveis; - São sobretudo subjetivos; - Não são passíveis de verificação/prova; - Dificilmente serão consensuais.

ATITUDE VALORATIVA: - O mundo surge diferenciado, transformado pelas preferências ou rejeições com que o encaramos. => Atitude de rutura da indiferença, tomada de posição, parcialidade; => Atitude própria da Filosofia (e do Homem em geral): avaliação da realidade, em que as escolhas e decisões são orientadas segundo valores.

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Os meus dois gatos

Juízo de facto vs. Juízo de valor

JUÍZOS DE FACTO

JUÍZOS DE VALOR

Descritivos (descrevem a realidade)

Normativos (enunciam princípios de ação)

O valor de verdade pode ser determinado empiricamente => gera consenso.

O valor de verdade é de difícil atribuição => gera discussão e o consenso é difícil.

Os juízos são verdadeiros ou falsos.

Os juízos são mais ou menos plausíveis.

A função é informar sobre como o mundo A função é indicar como o mundo deveria é (factos). ser (normas) e as preferências (avaliação).

• Juízo de valor: Proposição, formulada à luz de valores, que expressa uma avaliação ou preferência em relação a um ato, objeto ou acontecimento e cujo valor de verdade pode ser discutível sem chegar a gerar consenso; são ainda proposições normativas - dever ser, pois estabelecem como agir ou avaliar.

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Caraterização dos valores 1) Polaridade dos valores: expressa a dimensão avaliativa, positiva e negativa, como experienciamos a realidade quando a interpretamos à luz dos valores (vivenciamos as coisas, acontecimentos e ações como bons ou maus, justos ou injustos, iguais ou desiguais, belos ou feios e assim sucessivamente) Filosofia 10º ano - Marina Santos

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Caraterização dos valores 2) Hierarquia dos valores: expressa-se em tábuas de valores* e consiste em considerar que há valores mais importantes do que outros, organizando-os numa escala de importância.

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Caracterização dos valores • Os diversos valores e as suas categorias não têm o mesmo grau de importância para os indivíduos e para as sociedades.

Há valores superiores e inferiores, subordinados a outros => hierarquia de valores

• Tábua de valores: um determinado conjunto de valores hierarquizado que é adotado pelos indivíduos, por uma sociedade ou uma comunidade.

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Caracterização dos valores • “Se tivéssemos que optar entre salvar a vida de uma criança, que é uma pessoa, e, portanto, contém valores morais supremos, ou deixar que se queime um quadro, preferiremos que se queixe um quadro. (…) Isto é o que quer dizer a hierarquia dos valores.”

Manuel Garcia Morente, Fundamentos de Filosofia

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Caracterização dos valores

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O problema dos critérios valorativos • Qual é a natureza dos valores: objetiva ou subjetiva?  Poderão os valores ter um conteúdo objetivo que se impõe independentemente das preferências dos sujeitos?  Dependerão os valores apenas das preferências meramente subjetivas de cada sujeito?

As coisas são boas porque gostamos delas?

Ou Gostamos delas pois são boas?

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O problema dos critérios valorativos • Os valores e os juízos de valor são apenas subjetivos (relativos aos indivíduos ou grupos) ou se são objetivos (se possuem um fundamento que ultrapasse a mera subjetividade dos agentes).

• Quando reconhecemos um valor nas coisas (por ex., considerando-as belas, justas ou sagradas), temos uma atitude favorável para com elas que se reflete nas nossas escolhas e atos.

• Quem tem uma postura objetivista em relação aos valores julga que as coisas são valiosas independentemente de as valorizarmos, mas para um subjetivista as coisas são valiosas simplesmente porque as valorizamos, i.e., as preferimos.

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1) Subjetivismo axiológico: • Defende que os valores e os juízos de valor expressam preferências que são apenas relativos aos indivíduos, a determinada comunidade ou sociedade.

Por ex. só defende a igualdade de género quem vive numa sociedade cuja cultura assenta na valorização da igualdade entre homens e mulheres; se vivesse numa comunidade com valores diferentes, teria uma preferência axiológica diferente.

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1) Subjetivismo axiológico Ideias principais:

• Os juízos morais têm valor de verdade, mas a sua verdade é relativa ao sujeito.

• Não existem verdades universais, mas apenas opiniões pessoais; deste modo, cada sujeito tem a sua verdade.

• Os juízos morais descrevem os sentimentos de aprovação ou reprovação do indivíduo que julga. O certo e errado dependem meramente dos sentimentos de cada um. Assim, “X é bom” significa que “Gosto de X”.

Argumentos que sustentam a teoria:

• Torna possível o livre-arbítrio: Somos livres se não nos impuserem opiniões diferentes das nossas que limitem as nossas possibilidades de ação.

• Promove a tolerância: se o certo e o errado dependem dos sentimentos de cada um, toleramos preferências e opiniões dos outros pois não há motivos para pensar que as preferências de uns são melhores ou piores do que os de outros.

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Objeções ao subjetivismo axiológico 1. Permite que qualquer juízo moral seja verdadeiro: Nenhum ponto de vista, por absurdo ou monstruoso que seja, pode ser considerado errado ou pior do que posições alternativas.

2. Torna absurdo o debate racional sobre questões morais: Se todos estão certos porque defendem o que sentem, não faz sentido pretender que mudem de opinião ou argumentar que estão enganados.

3. Não explica a preferência por valores partilhados: a vida em sociedade é orientada por valores comuns e há cartas universais de direitos assentes em valores como liberdade, paz e segurança.

4. Não explica o “progresso axiológico”: considerarmos que há uma evolução positiva na sociedade quando se alcançam valores considerados superiores, como a condenação da escravatura.

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Objeções ao subjetivismo axiológico 5. Implica consequências bizarras na educação moral: Ensinaríamos as crianças a deixarem-se guiar pelos seus gostos. Assim, se uma criança gostar de maltratar outra, o subjetivista tem de aceitar isso.

6. É incapaz de explicar a existência de desacordos morais: Se os juízos morais equivalem a descrições dos sentimentos dos indivíduos que os fazem, então dois indivíduos que fazem juízos aparentemente diferentes estão na verdade a dizer apenas que têm sentimentos opostos.

Ex. Não há contradição entre o “José aprova X” e a “Maria reprova X” => o desacordo é ilusório.

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2) Objetivismo axiológico • Princípio: os juízos morais têm valor de verdade e devem ser suportados por boas justificações ou razões imparciais.

• O objetivismo defende que um juízo moral é correto quando, independentemente de gostos e de convenções, tem as melhores razões do seu lado – racionais e imparciais.

As avaliações morais têm de ser justificadas de uma forma que seja aceitável para qualquer indivíduo racional, seja qual for a sua crença ou sociedade. Quanto melhor for a justificação que suporta o juízo moral, mais razões teremos para considerá-lo objetivamente verdadeiro.

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Ex. A violĂŞncia contra as mulheres

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Ex. A violĂŞncia contra as mulheres

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2) Objetivismo axiológico: • Posição sobre o problema da natureza dos valores que defende a possibilidade de existirem valores e juízos de valor universais que ultrapassam a subjetividade dos indivíduos e das sociedades onde estão inseridos.

• O objetivismo axiológico permite encontrar valores transubjetivos.  Avaliação imparcial da moralidade de atos e práticas  Condenação de certas práticas e promoção de outras a nível global  Aceitação por todos os indivíduos racionais (independentemente dos seus gostos ou interesses).

 Promoção do diálogo, nomeadamente o diálogo intercultural.

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Critérios transubjetivos de valoração • Critério de valoração: Aquilo que serve de norma para julgar, decidir ou proceder conforme a atribuição de valor às coisas, pessoas ou acontecimentos. Os critérios podem ser pessoais, socioculturais ou transubjetivos (universais).

• Critério transubjetivo de valoração:

critério para fazer juízos de valor que ultrapassam o ponto de vista de cada sujeito ou grupo de sujeitos, (uma vez que os critérios subjetivos são avaliações à luz dos nossos gostos e preferências pessoais ou determinado grupo ou comunidade).

A nível coletivo existe uma variabilidade das escalas socialmente estabelecidas, conforme a época histórica, a cultura, o lugar e o grupo civilizacional. Mas para avaliar as ações segundo critérios transubjetivos, devemos adotar uma perspetiva imparcial, pensada à escala planetária e procurada em conjunto com outros povos.

Os principais critérios são: o democrático; o da dignidade humana (Kant); e o da fundamentação consensual (Habermas).

(Adaptado do Dicionário Escolar de Filosofia, disponível em http://www.defnarede.com) Filosofia 10º ano - Marina Santos

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