Lisboa

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3ยบ Encontro Intergeracional

Lisboa

Agrupamento de Escolas das Olaias EB 2,3 das Olaias 31 de Maio de 2013


Lenda de S. Vicente A igreja de S. Vicente de Fora, em Lisboa, está ligada ao padroeiro desta cidade, S. Vicente, um mártir cristão que levou toda a sua vida a combater os muçulmanos e a implantar a fé cristã pelo mundo. Segundo a lenda, após a morte do Santo, os seus restos mortais foram levados para o Cabo de Sagres por fiéis cristãos. Logo a seguir à reconquista de Lisboa aos Mouros alcançada por D. Afonso Henriques, este ordenou que os restos mortais do mártir fossem trazidos para a cidade de Lisboa. O corpo foi transportado de barco. Reza a lenda que dois corvos terão acompanhado os restos mortais de S. Vicente durante toda a viagem até Lisboa, só abandonando o Santo após ter sido sepultado em solo cristão. S. Vicente é o patrono de Lisboa e o brasão de armas da cidade, precisamente por aquele facto, tem como símbolos os corvos e a barca. Por seu turno, aquelas aves passaram a ser conhecidas por vicentes.


Lisboa em dois sĂŠculos


Trabalhava-se assim


Viajando na cidade


Pregões da Lisboa Antiga Lisboa de há quase cinquenta anos atrás. Pelas ruas ouviam-se os célebres pregões da época, que enchiam o ar de sons cantados pelos pregoeiros: " Ferro Velho!"... "Olha a Fava-rica!"... "Bolinhas de Berlim!"..." Olha a baunilha!"... " Quem tem trapos e garrafas para vender?!"... " Olha língua da Sogra!"..."Há carapau e sardinha linda!"... “Vivinha da costa!”... “Venha ver freguesa!”... "Quem me acaba o resto!"... "Queijo saloio"..."Olha o funileiro" etc... Os típicos carros do vendedor de castanhas... “Quem quer quentes e boas”, e do vendedor de gelados “Olh'ó gelado, há o rajá fresquinho”. Mas havia alguns pregões que eram autênticas maravilhas: "...Ó meninas desta rua venham todas à janela venham cá ver o Germano e comprar uma cautela É o 28 mil novecentos e vinte e três amanhã é que anda a roda!" Era o "tio Germano" cauteleiro, que subia e descia, todo o dia, a Morais Soares. Ou ainda: " Há figuinhos de capa rôta quem quer figos quem quer almoçar!" Havia outros vendedores: O "amolador"- com uma geringonça feita em madeira com uma enorme roda, guardachuva às costas e boina. O "petrolino" - Era uma carroça em metal puxada por um cavalo, uma mula ou um macho, que vendia produtos tais como: Petróleo para os fogões, álcool etílico, piaçabas, vassouras, penicos, sabão, palha-de-aço, etc... “Olh’ó Popular”, “Diário de Noticias” cantavam os ardinas, percorrendo as ruas de lisboa, entrelaçando o jornal num nó e com mão certeira lá o iam enviando para a varanda do destino. Raramente falhavam. “É regar e pôr ao luar!”... da boca da vendedeira de manjericos. “ Fava-rica!”... “Anda amanhã a roda!”... do cauteleiro, “É de Sintra e é de Sintra, moranguinhos!”... “ Água de Caneças!... Era uma outra Lisboa. Dos pregões se faziam pequenos versos e poemas. Aqui se apresenta um, da autoria de Euclides Cavaco:


“PREGÕES DE LISBOA” Mal rompeu a madrugada, Já Lisboa era acordada, Com seus pregões matinais, Pela varina peixeira, Lá p'rós lados da Ribeira, Ou o ardina dos jornais. A Rita da fava-rica, Que vem do bairro da Bica, Traz pregões à sua moda. E o homem das cautelas, Diz p’las ruas e vielas, Amanhã, é que anda a roda… Apregoa-se a castanha, Desde o Rossio ao Saldanha, Os pregões são sempre assim, Flores na Praça da Figueira E diz cada vendedeira Ó freguês!.. compre-me a mim!… E de canastra à cabeça, Quase até que anoiteça, Há em mil bocas pregões. Mas não se vê já passar, A figura popular, Da Rosinha dos limões!…


Referências de outros tempos Ídolos de gerações


Lisboa nas canções Gaivota Letra: Alexandre O´Neill Música: Alain Oulman Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa no desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar é uma asa que não voa, esmorece e cai no mar. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se um português marinheiro, dos sete mares andarilho, fosse quem sabe o primeiro a contar-me o que inventasse, se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se ao dizer adeus à vida as aves todas do céu, me dessem na despedida o teu olhar derradeiro, esse olhar que era só teu, amor que foste o primeiro. Que perfeito coração morreria no meu peito meu amor na tua mão, nessa mão onde perfeito bateu o meu coração.


Maria Lisboa Letra: David Mourão Ferreira Música: Alain Oulman É varina, usa chinela, tem movimentos de gata; na canastra, a caravela, no coração, a fragata. Em vez de corvos no xaile, gaivotas vêm pousar. Quando o vento a leva ao baile, baila no baile com o mar. É de conchas o vestido, tem algas na cabeleira, e nas velas o latido do motor duma traineira. Vende sonho e maresia, tempestades apregoa. Seu nome próprio: Maria; seu apelido: Lisboa.


Canoas do Tejo Letra: Frederico de Brito Música: Frederico de Brito Canoa de vela erguida, Que vens do Cais da Ribeira, Gaivota, que andas perdida, Sem encontrar companheira O vento sopra nas fragas, O Sol parece um morango, E o Tejo baila com as vagas A ensaiar um fandango Canoa, Conheces bem Quando há norte pela proa, Quantas docas tem Lisboa, E as muralhas que ela tem Canoa, Por onde vais? Se algum barco te abalroa, Nunca mais voltas ao cais, Nunca, nunca, nunca mais Canoa de vela panda, Que vens da boca da barra, E trazes na aragem branda Gemidos de uma guitarra Teu arrais prendeu a vela, E se adormeceu, deixa-lo Agora muita cautela, Não vá o mar acordá-lo


Lisboa Menina e Moça Letra: Ary dos Santos / Joaquim Pessoa / Fernando Tordo Música: Paulo de Carvalho No castelo, ponho um cotovelo Em Alfama, descanso o olhar E assim desfaz-se o novelo De azul e mar À ribeira encosto a cabeça A almofada, na cama do Tejo Com lençóis bordados à pressa Na cambraia de um beijo Lisboa menina e moça, menina Da luz que meus olhos vêem tão pura Teus seios são as colinas, varina Pregão que me traz à porta, ternura Cidade a ponto luz bordada Toalha à beira mar estendida Lisboa menina e moça, amada Cidade mulher da minha vida No terreiro eu passo por ti Mas da graça eu vejo-te nua Quando um pombo te olha, sorri És mulher da rua E no bairro mais alto do sonho Ponho o fado que soube inventar Aguardente de vida e medronho Que me faz cantar Lisboa menina e moça, menina Da luz que meus olhos vêem tão pura Teus seios são as colinas, varina Pregão que me traz à porta, ternura Cidade a ponto luz bordada Toalha à beira mar estendida Lisboa menina e moça, amada Cidade mulher da minha vida Lisboa no meu amor, deitada Cidade por minhas mãos despida Lisboa menina e moça, amada Cidade mulher da minha vida


Um Homem Na Cidade Música: José Luís Tinoco Letra: Ary dos Santos Agarro a madrugada como se fosse uma criança, uma roseira entrelaçada, uma videira de esperança. Tal qual o corpo da cidade que manhã cedo ensaia a dança de quem, por força da vontade, de trabalhar nunca se cansa. Vou pela rua desta lua que no meu Tejo acendo cedo, vou por Lisboa, maré nua que desagua no Rossio. Eu sou o homem da cidade que manhã cedo acorda e canta, e, por amar a liberdade, com a cidade se levanta. Vou pela estrada deslumbrada da lua cheia de Lisboa até que a lua apaixonada cresce na vela da canoa. Sou a gaivota que derrota tudo o mau tempo no mar alto. Eu sou o homem que transporta a maré povo em sobressalto. E quando agarro a madrugada, colho a manhã como uma flor à beira mágoa desfolhada, um malmequer azul na cor, o malmequer da liberdade que bem me quer como ninguém, o malmequer desta cidade que me quer bem, que me quer bem. Nas minhas mãos a madrugada abriu a flor de Abril também, a flor sem medo perfumada com o aroma que o mar tem, flor de Lisboa bem amada que mal me quis, que me quer bem.


Namorados da Cidade Música: Fernando Tordo Letra: Ary dos Santos Namorados de Lisboa, à beira Tejo assentados, a dormir na Madragoa. Namorados de Lisboa, num mirante deslumbrados, à beira verde acordados. Namorados de Lisboa, ao Domingo uma cerveja, uma pevide salgada, uma boca que se beija e que nos sabe a cereja, a miséria adocicada, à beira parque plantada. Namorados de Lisboa, sempre, sempre apaixonados, mesmo que a tristeza doa, namorados de Lisboa. Namorados de Lisboa, na cadeira dum cinema, onde as mãos andam à toa, à procura de um poema, namorados de Lisboa, que o mistério não desvenda até que o escuro se acenda. Namorados de Lisboa, a apretar num vão de escada o prazer que nos magoa e depois não sabe a nada. Namorados de Lisboa, a morar num vão de escada. Namorados de Lisboa, sempre, sempre apaixonados, mesmo que a tristeza doa, namorados de Lisboa.


Bairro Alto Letra: de Carlos Simões Neves Música: de Nuno de Aguiar/Francisco Carvalhinho Bairro Alto aos seus amores tão dedicado Quis um dia dar nas vistas E saíu com os trovadores mais o fado Pr'a fazer suas conquistas Tangem as liras singelas, Lisboa abriu as janelas, Acordou em sobressalto Gritaram bairros à toa Silêncio velha Lisboa, Vai cantar o Bairro Alto Trovas antigas, saudade louca Andam cantigas a bailar de boca em boca Tristes bizarras, em comunhão Andam guitarras a gemer de mão em mão Por isso é que mereceu fama de boémio Por seu condão fatalista Atiraram-lhe com a lama como prémio Por ser nobre e ser fadista Hoje saudoso e velhinho, Recordando com carinho seus amores suas paixões Pr'a cumprir a sina sua Ainda veio pr'o meio da rua, cantar as suas canções Trovas antigas, saudade louca


Fado do Campo Grande Música: António Vitorino de Almeida Letra: Ary dos Santos A minha velha casa, por mais que eu sofra e ande, é sempre um golpe de asa, varrendo um Campo Grande. Aqui no meu pais, por mais que a minha ausência doa, é que eu sei que a raiz de mim está em Lisboa. A minha velha casa resiste no meu corpo, e arde como brasa dum corpo nunca morto. À minha velha casa eu regresso à procura das origens da ternura, onde o meu ser perdura. Amiga amante, amor distante. Lisboa é perto, e não bastante. Amor calado, amor avante, que faz do tempo apenas um instante. Amor dorido, amor magoado e que me doí no fado. Amor magoado, amor sentido, mas jamais cansado. Amor vivido é o amor amado. Um braço é a tristeza, o outro é a saudade, e as minhas mãos abertas são chão da liberdade. A casa a que eu pertenço, viagem para à minha infância, é o espaço em que eu venço e o tempo da distância. E volto à minha casa, porque a esperança resiste a tudo quanto arrasa um homem que for triste. Lisboa não se cala, e quando fala


é minha chama, meu castelo, minha Alfama, minha pátria, minha cama. Amiga amante, amor distante. Lisboa é perto, e não bastante. Amor calado, amor avante, que faz do tempo apenas um instante. Amor dorido, amor magoado e que me doí no fado. Amor magoado, amor sentido, mas jamais cansado. Amor vivido é o amor amado. Ai, Lisboa, como eu quero, é por ti que eu desespero


O Homem das Castanhas Letra Ary dos Santos Música Paulo deCarvalho Na Praça da Figueira, ou no Jardim da Estrela, num fogareiro aceso é que ele arde. Ao canto do Outono,à esquina do Inverno, o homem das castanhas é eterno. Não tem eira nem beira, nem guarida, e apregoa como um desafio. É um cartucho pardo a sua vida, e, se não mata a fome, mata o frio. Um carro que se empurra, um chapéu esburacado, no peito uma castanha que não arde. Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado o homem que apregoa ao fim da tarde. Ao pé dum candeeiro acaba o dia, voz rouca com o travo da pobreza. Apregoa pedaços de alegria, e à noite vai dormir com a tristeza. Quem quer quentes e boas, quentinhas? A estalarem cinzentas, na brasa. Quem quer quentes e boas, quentinhas? Quem compra leva mais calor p'ra casa. A mágoa que transporta a miséria ambulante, passeia na cidade o dia inteiro. É como se empurrasse o Outono diante; é como se empurrasse o nevoeiro. Quem sabe a desventura do seu fado? Quem olha para o homem das castanhas? Nunca ninguém pensou que ali ao lado ardem no fogareiro dores tamanhas. Quem quer quentes e boas, quentinhas? A estalarem cinzentas, na brasa. Quem quer quentes e boas, quentinhas? Quem compra leva mais amor p'ra casa.


O Amarelo da Carris Música: José Luís Tinoco Letra: Ary dos Santos O amarelo da Carris vai da Alfama à Mouraria, quem diria. Vai da Baixa ao Bairro Alto, trepa à Graça em sobressalto, sem saber geografia. O amarelo da Carris já teve um avô outrora, que era o xora???. Teve um pai americano, foi inglês por muito ano, só é português agora. Entram magalas, costureiras; descem senhoras petulantes. Entre a verdade, os peliscos e as peneiras, fica tudo como dantes. Quero um de quinze p'ra a Pampulha. Já é mais caro este transporte. E qualquer dia, mudo a agulha porque a vida está pela hora da morte. O amarelo da Carris tem misérias à socapa que ele tapa. Tinha bancos de palhinha, hoje tem cabelos brancos, e os bancos são de napa. No amarelo da Carris já não há "pode seguir" para se ouvir. Hoje o pó que o faz andar é o pó (???) com que ele se foi cobrir. Quando um rapaz empurra um velho, ou se machuca uma criança, então a gente vê ao espelho o atropelo e a ganância que nos cansa. E quando a malta fica à espera,


é que percebe como é: passa à pendura um pendura que não paga e não quer andar a pé. Entram magalas, costureiras; descem senhoras petulantes. Entre a verdade, os peliscos e as peneiras, fica tudo como dantes. Quero um de quinze p'ra a Pampulha. Já é mais caro este transporte. E qualquer dia, mudo a agulha porque a vida está pela hora da morte.


O Cacilheiro Música: Paulo de Carvalho Letra: Ary dos Santos Lá vai no mar da palha o cacilheiro, Comboio de lisboa sobre a água: Cacilhas e seixal, montijo mais barreiro. Pouco tejo, pouco tejo e muita mágoa. Na ponte passam carros e turistas Iguais a todos que há no mundo inteiro, Mas, embora mais caras, a ponte não tem vistas Como as dos peitoris do cacilheiro. Leva namorados, marujos, Soldados e trabalhadores, E parte dum cais Que cheira a jornais, Morangos e flores. Regressa contente, Levou muita gente E nunca se cansa. Parece um barquinho Lançado no tejo Por uma criança. Num carreirinho aberto pela espuma, La vai o cacilheiro, tejo à solta, E as ruas de lisboa, sem ter pressa nenhuma, Tiraram um bilhete de ida e volta. Alfama, madragoa, bairro alto, Tu cá-tu lá num barco de brincar. Metade de lisboa à espera do asfalto, E já meia saudade a navegar. Leva namorados, marujos, Soldados e trabalhadores, E parte dum cais Que cheira a jornais, Morangos e flores. Regressa contente, Levou muita gente E nunca se cansa. Parece um barquinho Lançado no tejo Por uma criança.


Se um dia o cacilheiro for embora, Fica mais triste o coração da água, E o povo de lisboa dirá, como quem chora, Pouco tejo, pouco tejo e muita mágoa.


Cheira a Lisboa Letra: César de Oliveira Música: Carlos Dias Lisboa já tem sol e cheira a lua Quando nasce a madrugada sorrateira E o primeiro eléctrico da rua Faz coro co'a chinela na Ribeira Se chove, cheira a terra prometida Procissões têm cheiro a rosmaninho E na tasca da viela mais escondida Cheira a iscas com elas e a vinho Um craveiro numa água furtada Cheira bem... cheira a Lisboa Uma rosa a florir na tapada Cheira bem... cheira a Lisboa A fragata que se ergue na proa A varina que teima em passar Cheiram bem porque são de Lisboa Lisboa tem cheiro de flor e de mar Lisboa cheira aos cafés do Rossio E o fado cheira sempre a solidão Cheira a castanha assada, se faz frio Cheira a fruta madura, quando é verão Nos lábios há o cheiro dum sorriso Manjerico, tem um cheiro de cantigas E os rapazes perdem o juízo Quando lhes dá o cheiro a raparigas


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