










ÂNGELA RUSSI MARCOS VAZ

ÂNGELA RUSSI MARCOS VAZ
Umuarama-PR, primavera de 2015.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
V393 Vaz, Marcos
Umuaraminha, o contador de histórias / Marcos Vaz, Ângela Russi. - 1 ed., - Umuarama, PR: Marcos Vaz Produções, 2015. 28 p. : il. col. ; 20 X 25 cm. (Coleção A alma de Umuarama é a literatura)
ISBN 978-85-98715-02-5
1. Literatura infantojuvenil. I . Título. II. Série.
CDD 028.5
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil 028.5
2. Literatura infantojuvenil 028.5
Texto
Ângela Russi
Direção de arte, capa e edição Marcos Vaz
Ilustração miolo Rodrigo Faccio
Cores Gustavo Urbanski
Foto editorial Luci Lemes
Impressão e acabamento Gráfica Paraná
Copyright c 2015 Marcos Vaz Produções / Ângela Russi - Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc., nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização dos autores. Os personagens da Turma do Umuaraminha são criações do cartunista Marcos Vaz, proprietário dos direitos autorais.
Marv Produções Ltda
Fone: (44) 3622-7774 - Umuarama-PR | email: contato@marcosvaz.com.br sites: www.marcosvaz.com.br | blog.marcosvaz.com.br | loja.marcosvaz.com.br www.umuaraminha.com.br
A cidade de Umuarama tem como símbolo oficial uma personagem de história em quadrinhos, o Umuaraminha, criado por Marcos Vaz. Segundo o Dicionário, símbolo é a imagem que representa e encerra a significação de ideias e acontecimentos.
Esta personagem mora nas revistas e nos livros onde são apresentados os quadrinhos. Umuaraminha é um índio Xetá, representante da etnia que habitava esta região antes da colonização.
Hoje, existem pouquíssimos representantes deste grupo entre nós, infelizmente.
A mensagem desta típica personagem é lembrar que Umuarama é um lugar que foi criado para ser bom. Um lugar em que deve ser respeitada sua natureza e aqueles que nela vivem, pois uma cidade é feita para cuidar de quem mora nela.
Mas, o Umuaraminha antes de nos dizer algo, é na sua essência uma personagem de literatura. O que quer dizer isto? Que para encontrá-la, há de se compreender desenho (imagem) e escrita (texto) que são partes essenciais de uma história em quadrinhos.
Logo, a vocação desta cidade é tornar a leitura acessível a todos os seus habitantes. Pois só sendo leitor para entender a alma de Umuarama.
Quem lê constrói melhor a sua história e da sua terra.
Irma Lovato Professora
Acredito que uma boa história é feita de duas coisas: afeto e tempo.
Tempo para pensar, refletir, elaborar, construir, degustar e amar o texto. Afeto para colocar no papel emoções que são humanas e devem ser absorvidas pelos personagens, de forma que estes toquem a alma do leitor. Tempo e afeto é o que faz do Umuaraminha o sucesso que é.
Fazer 25 anos não é brincadeira. Esse tempo é resultado de trabalho sério, dia a dia, e de muito afeto. Afeto pela cidade, pelos cidadãos, pela história. Afeto é o que transborda do meu coração ao pensar no convite que o cartunista Marcos Vaz me fez há alguns meses: escrever uma história para celebrar os 25 anos do Umuaraminha. Nossa, é uma responsabilidade e tanto, pensei. E por isso, mais afeto senti pelo personagem e pela história desse cartunista que foi em busca de seu sonho e que hoje é referência para tantos que ousam sonhar também.
Provado pelo tempo e pelo afeto, o Umuaraminha completa 25 anos!
Sinto-me honrada por apresentá-lo aqui como contador de história.
Uma história de ficção que resgata um pouco da verdadeira História de Umuarama. Escrita com todo o meu afeto para registrar agora o tempo passado para que seja sempre lembrado.
Ângela Russi
Olá! Sou o Umuaraminha. Símbolo oficial de Umuarama criado pelo cartunista Marcos Vaz em 1990. Sou da tribo dos índios Xetá, os primeiros habitantes de nossa região. Olha só que legal, em 2015, Umuarama fez 60 anos e eu fiz 25 anos. Para comemorarmos esses aniversários, vou contar um pouquinho da História de nossa cidade através da história do umuaramense Zezinho. Vamos lá?
Amanhece em Umuarama, a capital da amizade, lugar alto e ensolarado onde os amigos se encontram. Num casebre de um bairro afastado do centro da cidade, um garoto carente e pobrezinho despertou sozinho. Seu nome é Zezinho.
Zezinho se espreguiça e ainda na cama, boceja dizendo:
-UAAAAA!!!! Que sono! Que fome! Meu pai saiu cedo para trabalhar. Será que tem o que comer nessa casa? Aqui em casa só tem café com pão. Parece até aquele poema do Manuel Bandeira que a professora leu quando eu ia à escola:
Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
-Que saudade da escola. Minha professora era tão legal!
Mas meu pai diz todos os dias:
- “Zezinho, você vai trabalhar como eu.
Eu não estudei, então por que você vai estudar”?
A barriga de Zezinho ronca de fome e ele se levanta.
-Minha barriga está roncando. Que fome! Vou sair e pedir comida aos meus amigos da cidade.
Bom, para começar o meu dia vou tomar um café!
Eu sempre tomo café no Bar Carioca.
O Bar Carioca ficou aberto por 50 anos no centro de Umuarama. Estava sempre lotado pelos “picaretas”, que vendiam terras para quem vinha tentar a vida aqui.
O primeiro dono do Bar Carioca era do Rio de Janeiro. Em 1958, Seu Português chegou de Portugal e comprou o bar. Não quis mudar o nome. Ficou em Umuarama porque ouviu que era a cidade do futuro. Todas as manhãs, Zezinho ia para o centro da cidade sozinho. Olha só o perigo que ele corria!
Crianças, não façam isso nunca!
Zezinho chega ao Bar Carioca e diz ao dono:
-Bom dia, Seu Português.
-Bom dia, menino. Chegou cedo, hein?
- “Deus ajuda quem cedo madruga”, né? Dá um cafezinho para mim, Seu Português?
-De novo? Ah, menino!!! Todo dia você vem aqui e me pede um café.
-E todo dia o senhor reclama e mesmo assim me dá. Sabe como é, né?
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Dá um cafezinho
Seu Português. Por favor, por favor, por favor.
Seu Português sente dó do menino e com seu marcante sotaque, por fim, diz:
-Ah, menino!!! Diga-me Zezinho, como é o seu nome de verdade?
Zezinho responde com orgulho.
-Meu nome é José Grandi.
-Então o seu apelido é Zezinho porque você é pequenininho?
-Sei lá. Meu pai sempre me chamou de Zezinho.
Seu Português resolve então, aconselhar o menino.
-Pois é Zezinho, o tempo passa e um dia você vai ser grande como o seu nome e não poderá ficar me pedindo café.
Zezinho fica olhando para ele sem entender. Então, Seu Português fica irritado e o manda embora, dizendo: -Tome o seu café e vá achar o seu rumo, menino.
-Que susto Seu Português!!! Não posso pagar o café, mas “O dinheiro compra pão, mas não compra gratidão”. Então, obrigado Seu Português.
Porém, Seu Português já havia ido cuidar de seus afazeres e não escutou o agradecimento do menino. Zezinho sai do Bar Carioca, anda um pouco e para em frente à primeira igreja de Umuarama, a matriz São Francisco de Assis, construída em 1955 pelos padres Capuchinhos. Enquanto toma o café, uma linda menina passa a caminho do Educandário São José, o ‘coleginho’ das irmãs, primeira escola particular da cidade. Quando ela o vê, fica com pena dele, e exclama:
-Que dó, um menino de rua. Coitadinho dele! Zezinho não gostou do que ouviu, faz uma careta e vira as costas para a garota. Começa a caminhar. Está muito pensativo. Tinha duas certezas: era pequeno e não era um menino de rua. No entanto, o que mais o afligia era uma dúvida: o que seria ‘rumo’?
Zezinho nunca tinha pensado em ser grande e não sabia o que era aquele negócio de rumo. Em frente à Escola Estadual Isa Mesquita, a mais antiga de Umuarama, ele se lembrou da escola onde estudou. Saudoso, exclamou: -Que saudade da minha escola! Padre José de Anchieta, fundada em 1963. Que saudade da professora que dizia: “Estudar deixa a gente inteligente. Para quem sabe ler, pingo é letra”. Nossa, minha barriga está roncando ainda! Calma aí barriguinha! ‘Tô’ com uma fome de leão. Igual ao poema do Vinicius de Moraes: “Leão! Leão! Leão! Rugindo como o trovão. Leão! Leão! Leão! És o rei da criação”! Minha professora era tão legal. Aprendi esse poema com ela.
Zezinho ficou andando pela Avenida Paraná até ao meio dia. Nesse momento viu que estava em frente ao bar do Seu Sato. Quando foi inaugurado chamava-se Bar e Lanches Central, mas, de tanto os fregueses falarem que iam ao ‘Bar do Sato’ ele acabou mudando o nome na fachada. O bar abriu em 1971 quando o Seu Sato veio de Terra Roxa para Umuarama. Aqui ele costumava guardar malas para os recém-chegados à cidade e era conhecido também por ser muito querido pelas crianças. Quando Zezinho viu o Seu Sato atrás do balcão, foi logo dizendo: -Seu Saaaaaato, me dá um pastel? -De novo, menino? Todo dia é um pastel? -Tô com fome. Escuta minha barriguinha roncando. O senhor sabe que “saco vazio não para em pé”, né?
Seu Sato estava muito ocupado, pegou um pastel e foi logo entregando ao Zezinho, dizendo com seu característico sotaque:
-Pega aqui, menino, o seu pastel. Escuta aqui, Zezinho, você vai ficar a vida inteira me pedindo pastel? Quando você crescer vai continuar pedindo o que comer?
-Sei lá. Quando eu crescer penso nisso. “Ainda sou pequenininho do tamanho de um botão. Carrego papai no bolso e mamãe no coração”!
Seu Sato percebe que Zezinho não entendeu o que ele quis dizer e resolve então explicar melhor para o menino:
-Preste atenção, Zezinho, esse pastel é de vento, mas, sua cabeça não pode ser de vento não.
-Cabeça de vento? Vai sair vento pelo meu nariz? Pela boca? Pelos olhos? Pelas orelhas???? Meu Deus, acho que vou ficar descabelado!!! Cabeça de vento? Tenho medo de vento. Meu pai diz que “Quem planta vento colhe tempestade”. Deus me livre.
Seu Sato tinha muito trabalho esperando por ele no balcão, mesmo assim pacientemente, diz:
-Nada disso, Zezinho! Pense no futuro menino! E vai achar o seu rumo. Vai, vai.
Zezinho sai e senta-se num banco da Praça Santos Dumont. Ali foi a segunda rodoviária da cidade. Antigamente era só um espaço redondo de terra, mas em 1972 foi construída como é hoje. Zezinho olha para cima e vê o obelisco com as quatro altas colunas que fica no centro do espelho d’água e diz:
-Nossa, que alto, Dá até tontura. Meu pai me disse que essa piscina não tem fundo. Pulou, morreu. Ai que medo!!! Vou ficar longe. “Um homem prevenido vale por dois”, né?
Enquanto Zezinho olhava para cima a mesma menina que o viu de manhã passa novamente. Ela para e fica olhando para ele. De repente, diz:
-Olha só, é o mesmo menino. Ele é uma gracinha, mas, coitadinho, é um menino de rua.
Zezinho fica irritado e grita com a menina:
-Vai-te catar, vai! “Em boca fechada não entra mosquito”.
Depois, já mais calmo, Zezinho pensa em comer um doce.
-Hum, que vontade de comer um doce! Vou pedir um sonho para o Seu Real, o dono da Panificadora Real. Pensa num sonho gostoso demais. Aquele recheio... Huummmm.
Quando Seu Real era criança seus pais tinham uma Panificadora chamada Nápoli. Quando ele cresceu tinha o sonho de ter uma também. Lutou muito pelo seu sonho e apesar das dificuldades abriu a Real em 1981. Tudo o que a Real faz é tão gostoso que é digno de ser servido a reis e rainhas. Zezinho chega lá cantando:
-“Sonho meu, sonho meu, vai buscar quem mora longe sonho meu”. Oi Seu Real, me dá um sonho? E põe na conta do Abreu. Se ele não pagar, nem eu.
Seu Real, acostumado com as visitas diárias do menino na panificadora, fala um pouco desanimado:
-De novo moleque? Todo dia você vem aqui e pede um doce. Você não acha que está comendo doce demais?
-Não!!!! E “o que não mata, engorda”, né?
-Hoje você quer um sonho. Você nunca pensou em outros sonhos, não?
-Pensei sim. Pensei em sonho de goiabada, de creme e de brigadeiro. Huuummmm.
Seu Real acha graça e, ainda rindo, diz:
-Eu estou falando de outros sonhos. Que menino atrapalhado! O que você quer ser quando crescer?
-Eu quero ser jogador de futebol, piloto de Fórmula 1, ator da Globo, bombeiro, polícia, médico e astronauta.
Seu Real acha graça, dá uma gargalhada e fala:
-Só isso? Tem certeza de que não quer ser mais nada?
-Ah, e cantor também. “No dia e que eu nasci. Até um galo cantou. Minha mãe disse a meu pai: Esse vai ser cantor”. Mas falta muito tempo para eu crescer, né Seu Real?
Seu Real fala então, seriamente com o menino:
-O tempo passa rápido Zezinho. Ganhando sonhos você não vai conseguir ter nenhuma dessas profissões. Vá atrás de construir o seu sonho verdadeiro.
E dando o sonho que Zezinho tanto queria, diz:
-Toma esse sonho e vá achar o seu rumo, Zezinho.
Zezinho saiu pensativo. Percebeu que já estava perto do bosque que tem o nome de um pássaro que canta lindo demais: Uirapuru. De repente, escutou uma voz conhecida. Era aquela menina que já tinha encontrado, por acaso, antes. Ela faz uma carinha de dó e diz: -É o mesmo menininho, que dó ser um menino de rua! Ele é tão bonitinho!
Zezinho se irrita profundamente e fala olhando para a menina: -Que menina tonta! “As aparências enganam”, viu?
A tarde foi chegando sem Zezinho entender o que era aquele tal de rumo. Junto com a tarde veio a fome e ele foi no Choppatinhas onde sempre ganhava do dono, o Seu Patinhas, um franguinho frito. Zezinho já estava preocupado e falou consigo mesmo: -Só falta eu levar bronca dele também.
Seu Patinhas mudou-se para Umuarama por acreditar no progresso da capital da amizade. O nome da lanchonete era Tio Patinhas quando foi inaugurada em 1970, pois era o seu apelido. Zezinho foi chegando de mansinho e dizendo com cuidado:
-Seu Patinhas, me dá um franguinho?
Seu Patinhas olhou para o menino que todos os dias pedia um franguinho frito ali na sua lanchonete e diz:
-De novo pedindo frango, Zezinho? Sabia que “o trabalho enriquece e a preguiça empobrece”?
-Não sabia não, Seu Patinhas.
Seu Patinhas então, continuou, dizendo:
-Dá trabalho esse frango que você vai comer, viu? Zezinho, desconfiado, pergunta:
-Por que o frango dá trabalho? Ele é desobediente?
Seu Patinhas, pacientemente, explica: - Zezinho, Zezinho! Você nunca ouviu dizer: “Comerás o pão com o suor do seu rosto”?
-Mas eu não quero pão. Quero frango. E meu rosto já sua no sol. ‘Tá’ um calor!
-É preciso trabalhar, mas você é criança e não deve trabalhar até ser adulto, então, o que você deve fazer agora? Zezinho não sabia o que responder e por isso, apenas diz:
-Eu acho que eu tenho só de comer, beber e brincar. Essas coisas de criança, sabe?
Seu Patinhas fica irritado com a resposta e diz ao menino:
-Comer e beber? Ah moleque. Você não ouviu dizer que “É de pequenino que torce o pepino”? Pensa menino. Pensa. O que você precisa fazer é... E S T U D A R!!!
Toma aqui o seu frango e vá achar o seu rumo, Zezinho.
-Seu Patinhas, me dá um franguinho?
Zezinho sai triste da lanchonete. O pacote com o frango que o Seu Patinhas deu para que ele levasse, continuava fechado. Ele perdeu o apetite. Estava pensativo, mas ainda assim escutou novamente a voz daquela mesma menina: -Que menino mais fofinho!!! Acho que estou apaixonada. Zezinho está sem paciência e fica muito bravo com a menina: - Sai daqui menina!
Ela se assusta e vai embora. E ele desabafa: -Estou tão cansado. Vou sentar um pouquinho nesse banco da Praça Arthur Thomas. Esta praça foi a primeira rodoviária de Umuarama. Ali, onde a cidade começou, havia a estátua do homem que veio de Londres em 1923 para desbravar o norte do Paraná: Arthur Thomas. Zezinho começa a conversar com a estátua: -Seu Arthur Thomas, o que é rumo? É de comer? É de beber? Não quero perder a ajuda dos meus amigos do comércio. Ah se essa estátua pudesse falar! Ai,ai,ai! Vou fundir minha cuca de tanto pensar! Nossa, está quase escurecendo. Hora de ir para casa. Os amigos de Zezinho estavam praticando aquele velho ditado: “Não dê o peixe, ensine a pescar”, pois queriam que ele aprendesse. Porém, Zezinho não entendia isso.
Tinha medo de não ter mais a ajuda de seus amigos do comércio. A tristeza se tornou tão grande que começou a vazar pelos olhos do menino. Ele se sentou na calçada da rodoviária municipal, a terceira e atual, e chorou.
As lágrimas não permitiram que ele percebesse alguém se aproximando. Foi quando ouviu uma voz suave que perguntou:
-O que aconteceu, meu querido?
Ele olhou para cima e viu uma moça muito bonita. Zezinho, então respondeu para ela:
-Tenho de achar o meu rumo e não sei o que é. Preciso procurar, mas não sei onde.
A moça bonita tocou o rosto dele molhado pelas lágrimas e disse:
-Eu posso lhe ajudar. Rumo é direção e quem dá direção a uma criança são os pais e a escola. Onde você estuda? Onde estão seus pais? Zezinho, enxugando as lágrimas, falou tristemente:
-Minha mãe morreu.
Só tenho pai, mas ele trabalha muito e só encontro com ele um pouquinho de noite. Ele não me matriculou na escola esse ano. Ele disse que logo eu vou trabalhar.
-Lugar de criança é na escola.
Eu sou professora, posso conversar com seu pai se você quiser. - Você é professora? As professoras são as mais legais! Eu quero. Quero sim, sim, sim, sim.
-Venha comigo. Eu o levo para casa.
A professora levou Zezinho para casa e falou com o pai dele que estava muito preocupado. Ela se propôs matriculá-lo na escola em que trabalhava e cuidar dele. Assim aconteceu e na escola ele tornou-se o aluno mais esforçado
O tempo passou e Zezinho se tornou o professor universitário José Grandi. Ele mora numa bela casa nas imediações do Lago Municipal Aratimbó e dá aulas na UNIPAR, a Universidade Paranaense, fundada em 1972. Ele é muito querido por seus alunos e ajuda quem precisa, conforme ele foi ajudado. Atualmente, Zezinho caminha pela cidade com orgulho de ser umuaramense. E visita seus antigos amigos, agradecendo pela ajuda que recebeu. Inclusive, paga por tudo o que come, viu? Ele até se casou, sabem com quem?
-Comigo!!! Sou aquela menina que simpatizou com ele quando achava que ele era um menino de rua. A gente se apaixonou sabe? E temos um filhinho.
O professor José Grandi, o querido Zezinho, teve ajuda para ser o cidadão que é hoje. Só podia ser assim mesmo, afinal ele mora em um lugar alto e ensolarado onde os amigos se encontram: a nossa querida cidade de Umuarama!
E eu, Umuaraminha, fiquei muito feliz em contar essa história, afinal, em 2015, Umuarama completou 60 anos, e eu, 25.
É uma forma de comemorarmos juntos. Não é à toa que fui escolhido como símbolo oficial de Umuarama. Cidade que amo do fundo do meu coração, também conhecida como capital da amizade.
Tudo começou como uma singela homenagem do cartunista Marcos Vaz aos amigos de infância, da baixada da Rua Arapongas. Contava 15 anos quando criou a personagem Umuaraminha, como coadjuvante nas histórias em quadrinhos da turma do Brilhante. O que ele não imaginava era que o pequeno Xetá agradasse tanto, a ponto de ser elevado à condição de símbolo oficial de Umuarama, quatro anos depois, na promulgação da Lei Orgânica Municipal de 1990, exatamente no dia 05 de abril. Em 2014 este dia foi institucionalizado pela Câmara Municipal como o Dia do Umuaraminha, para que o curumim seja sempre lembrado pelas crianças nas escolas. Ele e a etnia daqueles que povoaram estas terras antes da chegada do homem branco. Umuarama foi a 1.ª cidade brasileira a adotar como símbolo uma personagem de histórias em quadrinhos e fez escola. O próprio criador do Umuaraminha viria a criar o Curitibinha, que por quase duas décadas fez a alegria das crianças curitibanas. E ainda vieram o Paranazinho, o Brasilzinho e toda uma galeria de meninos e meninas que representam cidades e estados brasileiros.
Umuaraminha foi uma semente importante, que nos fala sobre a importância de valorizarmos as nossas raízes, aquilo que é nosso, que nos é caro. Nos fala do amor à natureza e do respeito à nossa terra. Foi tema de desfile de Escola de Samba, de gibis e jornais educativos, concursos de redação, trabalhos escolares , teses universitárias. Visitou escolas, virou peça teatral, ganhou um site, bonecos em logradouros públicos, produtos personalizados, brindes e até seu próprio hino, que marcou toda uma geração de crianças umuaramenses. A história de sucesso do Umuaraminha é marcada por quatro professoras: Judith Barbisan, Cléa Larsen, Célia Gastaldin e Irma Lovato. Talvez por isso ele seja um personagem eminentemente das artes e da educação. Ao completar 25 anos e comemorar seu Jubileu de Prata, o Umuaraminha teve sua alma lida. Literalmente lida. Alma literária, que se traduz a partir de agora na Coleção A Alma de Umuarama é a Literatura. Que essa alma continue tocando e encantando toda a gente.
Ângela Russi é escritora, professora, contadora de histórias e coordenadora do projeto Biblioteca Itinerante Caminhos da Sabedoria da Prefeitura Municipal de Umuarama. Membro da Academia Umuaramense de Letras, é autora dos cinco livros que compõem a Coleção Vire a Página (Químio, o Caçador - A Árvore Careca - O Anjo Querubim - A Vitória Régia - Eu, no Espelho), do livro infantil O Rio Sagrado e do livro de crônicas Papel Machê, que reúne suas publicações dominicais na coluna Culturanja, do Jornal Umuarama Ilustrado.
Marcos Vaz é cartunista, arte educador, fundador e presidente do Instituto Brasilzinho. Criador dos personagens Umuaraminha, Curitibinha, Paranazinho e Brasilzinho, entre muitos outros. Seus gibis e periódicos institucionais somam milhões de exemplares distribuídos em todo Brasil. Em 2011 a Cartilha do Direito Internacional do Trabalho em quadrinhos produzida pelo artista foi lançada na sede da ONU para Europa (Genebra, Suiça), em português, inglês, francês e espanhol. Em 2012 lançou um gibi especial bilíngue do Brasilzinho (português e japonês) através do Rotary International, em Tóquio, no Japão.
COLEÇÃO A ALMA DE UMUARAMA É A LITERATURA
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