Entrevista com Martha Mendes

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ao microscópio

entrevista "A Janela do Leopoldino" foi ilustrada por Inês Murta

ticularmente os que já leram, é uma coisa maravilhosa. Uns fazem críticas porque têm pena do Leopoldino, outros acham bem que ele tenha começado a gostar de livros. É maravilhoso porque ninguém escreve para a gaveta. Quando se escreve, é para ser lido, independentemente do público – neste caso é infantil, mas espero que alguns pais também achem piada ao livro. Como escreves para ser lido, a maior recompensa é ouvir o feedback dos leitores. Isso tem sido a maior recompensa desta minha aventura.

O feedback dos leitores tem sido a maior recompensa desta aventura

O nome Leopoldino foi inspirado no seu avô. É uma homenagem? Sim, é uma homenagem ao meu avô paterno, mas todos os personagens do livro têm nomes invulgares. O meu avô s contribuiu muito para que eu tenha tido uma infância feliz. Como o livro é dedicado à infância, parece-me uma homenagem justíssima. E é fácil escrever para a infância? Eu acho que é muito difícil. Eu tenho uma grande amiga que é escritora e ela costuma dizer que só depois de se adquirir um certo nível de maturidade é que se consegue escrever para crianças, o que até pode parecer antagónico. Mas eu concordo. Se é verdade que toda a escrita exige criatividade, a escrita para crianças exige uma criatividade extra. Depois, acho que a escrita para crianças é difícil porque nos obriga a recordar a criança que nós fomos e, às vezes, entrar na cabeça de uma criança não é tão fácil como à primeira vista possa parecer. Eu comecei a apreciar mais a escrita para a infância e a ter mais interesse por este campo da escrita quando começaram a nascer os bebes desta geração da minha família, comecei a ter priminhos pequeninos e foi aí que comecei a ler e a escolher livros destes. As perguntas que fazem mostram que são leitores muito mais atentos, perspicazes e exigentes do que se poderia esperar.. É importante ter uma personagem com quem as crianças se podem relacionar? Como a maioria esmagadora dos meninos de hoje, o Leopoldino, no início, não achava muita graça aos livros. Muitas crianças podem identificar-se. Se eles lerem ou os pais lhe lerem, as crianças podem chegar à conclusão de que se o Leopoldino aprendeu a gostar e agora é viciado em livros, eu também vou dar uma oportunidade aos livros. Se houver uma criança que siga o exemplo do Leopoldino e dê valor aos livros… já valeu a pena.

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Foi mãe já depois de ter escrito o livro. A maternidade teve algum impacto na obra? No livro em si não teve impacto, mas na publicação da obra, sim. Eu tive o livro na gaveta durante quatro anos. Se não tivesse sido a minha filha Constança, teria adiado por mais alguns anos a publicação.

não gostem de escrever.

Como surgiu a parceria com Inês Murta, que ilustrou a história? A Inês é uma amiga de infância, crescemos juntas, é artista plástica, e tem trabalhado na área da animação para a infância. Quando surgiu a ideia de fazer o livro – nós já tínhamos feito trabalhos em conjunto – o nome da Inês foi evidente, não só por ser uma grande amiga, mas também porque sou uma fã do talento dela. O livro não seria a mesma coisa sem as ilustrações dela.

Essa vertente mais literária esteve sempre presente ao longo do seu percurso académico… Na apresentação em Coimbra, Ana Teresa Peixinho [professora da Faculdade de Letras] disse que a Martha "levou alguns puxões de orelhas" por escrever de forma mais artística… As características literárias estiveram sempre presentes na minha escrita: tanto na pouca escrita jornalística que fiz, como mesmo agora, ao escrever a minha tese de mestrado. A Ana Teresa Peixinho foi minha orientadora e tivemos algumas discussões em que ela dizia: "olhe, Martha, isto está muito bem escrito, mas não é uma tese, não pode ter essa linguagem". Sim, às vezes tenho dificuldades em afastar-me de escrita literária.

A Martha é formada em jornalismo. É uma profissão que não se pode dissociar da escrita? Eu tirei o curso de jornalismo porque não havia curso para ser escritora. Se existisse um curso de escrita, eu teria tirado esse. Acho muito estranho haver jornalistas que

O que lhe reserva o futuro literário? Não sei, não sei o que o futuro me reserva em nenhum dos campos. Posso dizer que tenho muita vontade de continuar e alguns projetos para concretizar. Para já tenho alguns Leopoldinos na gaveta, à espera de sair, e outras ideias na cabeça. Vamos ver.

22MarÇo 2012


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