Revista Cultura Crítica nº 12 - Adoniran e Noel 100 anos

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RM Pastiche Crônicas de Noel Rosa III

O samba reverente de Noel Rosa: o feitiço, a oração e o problema 1

Mayra Pinto

N

a década de 30 do século passado, período em que se consolidaram as bases da canção popular urbana, sobretudo as formais, a obra de Noel Rosa foi um paradigma que apontou para diferentes possibilidades discursivas. A filiação ao humorismo – que alia o discurso coloquial a um tipo de humor mais crítico e sofisticado – é, sem dúvida, uma das mais marcantes. Além disso, sua obra tornou-se paradigma de uma visão que imprime um olhar crítico no alegre e descomprometido universo da canção popular − o sambista pobre de Noel fala sobre seu lugar tenso na sociedade; não é só o cantor afável e alegre da festa, ou o clown inofensivo; é também o crítico mordaz que denuncia que o mundo o “condena” exclusivamente porque ele é pobre. A marca de rejeição é exclusivamente por sua condição social precária. O jovem compositor contribuiu, assim, para fundar um modo de dizer na


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