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CONCLUSÃO
from “É fantástico, virou Hollywood isso aqui” – Os processos artísticos pós-modernos nos carnavais de Pa
CONCLUSÃO
É você que ama o passado e que não vê Que o novo sempre vem....407
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Após o término desta pesquisa, cabe observar alguns fatos acerca do estilo Paulo Barros e sua negociação com a contemporaneidade. O inventário artístico de Paulo rompe com alguns paradigmas, ao propor novas leituras, interações e possibilidades para a manifestação carnavalesca e novos modos de fazer e viver o carnaval, não como um extremo oposto do que existia anteriormente, mas como uma modificação do existente ao dialogar com as tecnologias, os temas, as narrativas e as estéticas da atualidade. O trabalho permite compreender a contemporaneidade do carnaval e as negociações das festas populares no mundo pós-moderno, globalizado. O carnavalesco dirige seus carnavais de modo claro e objetivo ao apresentar os elementos de forma saturada, não diluída. Se uma alegoria é sobre um vampiro, então ela será toda composta de vampiros, pois aquele é o elemento que todos precisam observar. Não será uma alegoria com vampiro, caçador, mocinha, padre, alho, crucifixos etc. Assim também ocorre com objetos, elementos e performances. Isso faz com que mesmo elementos que não sejam novidade na passarela do samba se tornem marcas e propriedade do artista, visto que o mesmo se reapropriou deles e os ressiginificou de modo singular, forjando a sedução pela imagem, o fetiche pelas mercadorias, tecnologias e gestos. Da mesma maneira Paulo Barros trabalha com os materiais e recursos em suas assemblages que se servem dos objetos para falar dos mesmos. Dentre suas criações, ressalta-se a associação de signos (objetos e personagens) com os figurinos dos casais de mestre-sala e porta-bandeira, característica esta que, praticamente, não existia antes que o carnavalesco a apresentasse em seus desfiles. Paulo Barros sempre aponta, em seus discursos e entrevistas, que o que objetiva é a interação da plateia, da audiência. Ao trabalhar com a patemização e a fenomenologia, em seus desfiles, pretende a cada carro, comissão de frente ou ala, mais do que contar histórias, causar uma reação, um susto, uma risada, um arrepio, entre outras sensações. Seus desfiles apresentam uma linguagem gestual muito marcante, coreografada, sincronizada, com elementos que formam novos objetos, mudanças de cores e afins. O trabalho de Barros mantém o público em suspenso, atento como quem vai ao circo e não pode desgrudar seu olho do tremor das pernas da equilibrista a beira do abismo. Há
407 “Como nossos pais” Compositor: Belchior.
quem torça para que ela consiga ou para que caia, mas todos incapazes de serem indiferentes ao espetáculo. Paulo Barros chega a assinalar que não se prende muito ao conteúdo e este fato se reafirma em suas narrativas formadas com a fragmentação das linguagens do terceiro milênio. Seu processo de criação de enredo se dá à contrapelo, ao revés. Após escolhido o tema, ele parte para as imagens, ações, desafios, movimentos e sensações e só depois disto decidido, “se vira” para criar uma história. Ao apresentar os ícones do cinema, infância, música e tecnologias de comunicação de massa, o carnavalesco atinge em cheio o arcabouço da memória afetiva do público atual que, por possuir tais referências, vai identificá-los de imediato e se sentir confortável, voltar à infância nesse jogo de sensações, lembrar daquele beijo ao som de um cantor, do susto na sala escura do cinema.
Paulo assume para si a postura de criador, de polêmico. Em seu livro e em suas declarações afirma, sem medo, que é copiado por outros, que influenciou as possibilidades do saber carnavalesco, que executaria melhor que os outros carnavalescos alguns de seus trabalhos, que criou dentre outras coisas as alegorias vivas e os carros conceitos-de- cena. O sucesso obtido com seus campeonatos e com o apreço da mídia o torna, mesmo hoje em dia, um ícone pop. Toda essa imagem do carnavalesco foi construída em conjunto com a mídia que, desde o carro do DNA, evidencia mais o nome do carnavalesco que o das escolas para as quais trabalha, além de lhe atribuir os termos que definem seu estilo como pop, pós-moderno, contemporâneo e inovador. O artista aparenta ter a consciência que os novos valores chegam ao senso popular pela televisão, rádios, jornais, internet e outros veículos de massa, e a sua maneira usa as mesmas para se promover. Como que confirmando o pensamento de Andy Warhol de que a fama vinha com a exposição frequente de uma personalidade pela mídia. Pode se fazer uma analogia dos superstars, supermodels e denominá-lo um supercarnavalesco devido ao apelo público que ele possui. Contudo, cabe ressaltar que ao assumir toda essa postura, o artista também assume o risco do fracasso, do desapontamento. Paulo Barros cria no público o vício do novo, da surpresa, da superação. O que o força a se superar em um círculo vicioso. Se em um ano alguém voa, no seguinte tem que sumir, no outro pegar fogo, no outro ser serrado ao meio e assim por diante. O mais interessante disso tudo é que os desfiles das escolas de samba vivem de tradições reinventadas. Todo ano duas forças opostas
agem como em um cabo de guerra, o público deseja ver o novo-tradicional desfile das escolas de samba.
Em síntese, o carnavalesco Paulo Barros criou um estilo próprio de fazer carnaval, ao negociar com os temas, espetáculos e tecnologias atuais e se tornou o símbolo do carnavalesco pop e pós-moderno. Não nas definições e conceitos trabalhados pelos cânones das academias, mas pelo entendimento que a cultura popular atribuiu aos termos.