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4 O ESTILO PAULO BARROS: A LINGUAGEM GESTUAL

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5 É SEGREDO?

5 É SEGREDO?

4 O ESTILO PAULO BARROS: A LINGUAGEM GESTUAL

Taí, o real ao picadeiro A cada instante

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Uma viagem além da imaginação É nobreza e cultura, magia, ternura Uma doce ilusão.178

Neste capítulo será abordada a linguagem gestual nos desfiles de Paulo Barros entre 2004 e 2014 no Grupo Especial do Rio de Janeiro179. Cabe mencionar que os desfiles no geral sempre apresentaram sua “performance carnavalesca”. O próprio período do ano, já permite algumas performances não habituais, numa visão Bakthiniana de inversão e liberdade, com a ocupação das ruas por cidadãos fantasiados ou não, bate-bolas, blocos de piranhas e blocos de sujos. Mas as performances que serão abordadas nos carnavais do carnavalesco investigam uma linguagem intencional do gesto, que será melhor contemplada abaixo. Para explicitar a ideia de performance, é preciso determinar os aspectos que implicam na utilização do termo, além de uma breve introdução histórica dessa manifestação, não só para uma maior compreensão do tema, mas também para perceber que há uma vulgarização do mesmo, pois convencionou-se chamar de performance a praticamente tudo. Para tal teorização, as reflexões do escritor Jorge Glusberg servirão como guia. Em um segundo momento, neste subcapítulo serão apresentadas as performances nos desfiles de Paulo Barrros.

A origem da performance remota de certa maneira a origem do ser humano, ao ter o corpo como força motriz e ritualística, o uso dos gestos como comunicação. Contudo, a denominação de arte performática, surge no inicio dos anos setenta. Quanto à etimologia da palavra, Glusberg aponta que é

um vocábulo inglês, que pode significar execução, desempenho, preenchimento, realização, atuação, acompanhamento, ação, ato, explosão, capacidade, habilidade, uma cerimônia, um rito, um espetáculo, a execução de uma peça de música, uma representação teatral ou um feito acrobático. (GLUSBERG, 2013, p. 72)

As performances colocam em prática todos os sentidos da percepção, individualmente ou simultaneamente. Podem agir sobre as experiências visuais (em geral), táteis, acústicas,

178 “O Grande Circo Místico” GRES Mocidade Independente de Padre Miguel 2002.

Compositores:Beto Corrêa, Dico da Viola, Jefinho e Marquinho Índio. 179 Chamo a atenção para a ausência de exemplos do ano de 2010, pois este desfile será trabalhado com mais ênfase no capítulo final dessa pesquisa.

gustativas, motoras, cinestésicas, etc. São baseadas na taxonomia sensorial perceptiva e, por meio dessas experiências sensoriais, produzem significados. As performances são anafóricas, seus gestos, suas sequências dependem de referenciais para serem entendidos, além da relação entre emissor e receptor, visto que a performance é um ato de transmissão de significados. Por exemplo, ao se imitar o gesto de um robô, é necessário que o público tenha conhecimento do gestual, para identificar de que se trata. Como elucida Glusberg, “em síntese, a performance procura transformar o corpo em signo, em um veículo significante. Essa unidade de trabalho se apresenta numa variedade de sentidos (no sentido perceptivo do termo): visual, olfativo, táctil, auditivo, etc. (GLUSBERG, 2013, p. 76)

Segundo o autor, os gestos, a movimentação do corpo, de braços, pernas, cabeças, e até a estática adquirem na performance uma importância em particular, e completa: “o discurso do corpo é, talvez, o mais complexo modo de discursar, derivante da multiplicidade de sistemas semióticos desenvolvidos pela sociedade.” (2013, p. 57) Sempre houve uma “performance carnavalesca” com certos gestuais definidos, que incluem o sambar e o evoluir, principalmente no que concerne as alas e nas alegorias, e o cantar e o saudar o público, nas comissões de frente. Entretanto, nota-se uma mudança nessas funções, ainda existentes, mas que atualmente dialogam com outras possibilidades. Principalmente nos carnavais de Paulo Barros, onde há uma presença marcante de coreografias e gestos plenos de significados e sentidos referenciais pertencentes a outros campos da arte que são ressignificados. Como assinala Glusberg

A performance aparece ligada a uma re-semantização dos valores contidos no processo da dinâmica corporal dentro da arte. Esse processo parte dos movimentos “naturais” significativos; continua com a apropriação destes pela arte tradicional e os estereótipos do teatro, da dança, do cinema, da televisão e da moda social; e concluise com a re-significação de todo esse vasto complexo nas performances(GLUSBERG,2013, p.57).

Deste modo a performance se torna uma metalinguagem, que tem o corpo, sobretudo, como seu objeto. A ideia de um corpo livre de significados, com atitudes “normais” e naturais não existem para o espectador de uma performance, ele fica em suspensão à espera de algo, algum gesto, movimento carregado de sentidos.

Ao tomar o corpo como objeto artístico, longe de propor um corpocentrismo, a performance busca despertar a atenção da audiência que está condicionada pelas artes tradicionais. A figura humana e os movimentos foram objetivados pela escultura e pela pintura, porém o salto aqui vai se dar a partir de uma objetivação realista alienante até uma outra verdade, que é a oferecida pelo próprio performer e através de sua gesticulação. (GLUSBERG,2013, p. 94)

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