sociabilidades urbanas: cronistas e ranchos carnavalescos no rio de janeiro Renata de Sá Gonçalves
A principal atração do carnaval do Rio de Janeiro nos dias de hoje é o desfile das escolas de samba. Essas agremiações surgiram na década de 1920 e se desenvolveram em direção ao monumental espetáculo que tem sido apresentado nos últimos anos. Desde a sua origem, articularam diversos grupos sociais – as “comunidades”, o poder público, os meios de comunicação, o turismo e mesmo o mecenato do jogo do bicho –, ajudando a demarcar as permanentes transformações da cidade (Cavalcanti, 1994). Como eram, no entanto, os carnavais cariocas nas primeiras décadas do século xx, quando elas ainda se formavam e conviveram com os ranchos, a principal forma de organização carnavalesca dessa época? Este artigo propõe uma leitura etnográfica de material histórico sobre os “ranchos carnavalescos”, com foco nos cronistas do jornal diário tido como o mais “popular” da época, o Jornal do Brasil. Os cronistas eram comentadores e intérpretes privilegiados do carnaval carioca, pois foram não apenas críticos, como também participantes extremamente ativos no processo de formação e na consolidação dessa forma carnavalesca, orientados tanto por uma visão de mundo abstrata quanto pela negociação e pela mediação no cotidiano urbano das ruas, dos pontos e dos salões no Rio de Janeiro. Elaboraram, portanto, for
Em geral, estudos sobre a história do carnaval (Araújo, 1991; Eneida, 1958) e da música (Alencar, 1965) mencionam os ranchos apenas numa perspectiva ampliada, que não os inclui como foco de atenção. Sua ênfase recai, com freqüência, na história da evolução linear das diversas formas carnavalescas inseridas num painel carnavalesco mais abrangente. Em vez disso, este artigo retoma algumas questões abordadas em Gonçalves (2007) sobre o processo gradativo de constituição dos ranchos como importantes agremiações carnavalescas das primeiras décadas do século xx.
Chamam a atenção a riqueza e a falta de sistematicidade das fontes bibliográficas sobre os ranchos, seja em livros, seja em jornais e demais periódicos. Na primeira metade do século xx, destacam-se descrições detalhadas e comentários de cronistas carnavalescos. Na segunda, o
as festas e os dias
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