A LIBERDADE NA CIDADE: UM OLHAR SOBRE A SIMBIOSE ENTRE O PROCESSO DE GENTRIFICAÇÃO E A PRIVATIZAÇÃO DO CARNAVAL DO RECIFE
Mellyna Andréa Reis dos Santos Borges1 Resumo: A proposta deste artigo, de caráter ensaísta, é analisar as conexões entre o desenvolvimento do projeto de cidade empresarialista no Recife, capitaneado por representantes do poder público e grandes empresários, e a privatização do Carnaval Multicultural da cidade. Atravessado pela conjuntura política, esse processo tem favorecido para uma articulação e engajamento da sociedade nas questões de planejamento urbano, usos e apropriações dos espaços públicos. O artigo também traz reflexões sobre o processo de desconfiguração do carnaval popular de rua em decorrência de práticas espaciais segragacionistas, que resultam na territorialização dos espaços. Tendo como referência as percepções do campo da cultura e territorialidades, o trabalho utiliza-se de um mapeamento de matérias jornalísticas e textos publicados em redes sociais, entrevista, somados às metodologias de netnografia (Kozinets) e observação participante (Geertz) no período de vivência da festa. O artigo tem como principais referências bibliográficas sobre as disputas na cidade, David Harvey, Marcelo Lopes de Souza e Angelo Serpa, além de Mikhail Bakhtin e Denys Cuche, que dialogam sobre identidades, festas e culturas populares.
Palavras-chave: Carnaval; festas; espaço público; gentrificação; política. As cidades do Recife e Olinda produzem anualmente um carnaval de rua que reúne milhões de foliões, o qual é considerado uma das maiores manifestações culturais populares do mundo. Pode-se dizer que o reconhecimento internacional da grandiosidade dessa festa se deu em 1994, quando o Guiness Book elegeu o Galo da Madrugada como o maior bloco de carnaval de rua do planeta. Contudo, ao longo das décadas, a tradicional festa momesca nas cidades vizinhas foi se transformando a partir da influência dos contextos sociopolíticos, dentre os quais podemos destacar a implantação do Carnaval Multicultural do Recife, em 2001, no início do primeiro mandato do ex-prefeito do Recife, João Paulo Lima e Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). O modelo, definido como “democrático, popular e diversificado, [...] com polos de animação espalhados por toda a cidade, buscando oferecer ao folião espetáculos acessíveis a todos, tanto no âmbito espacial como no social” (GAIÃO et al., 2014), foi mantido ao longo de 12 anos da gestão petista. A chegada de Geraldo Julio 1
Mestranda em Cultura e Territorialidades da Universidade Fluminense (PPCult/UFF-RJ. mellynareis@gmail.com.