A escola de samba como espaço para o marketing - Os enredos patrocinados do Grêmio Recreativo Escola

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – CCS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS – FAF

LAILLA FERREIRA NASCIMENTO E RENATO SOUZA DE OLIVEIRA

A ESCOLA DE SAMBA COMO ESPAÇO PARA O MARKETING - OS ENREDOS PATROCINADOS DO GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL

Rio de Janeiro 2018


Nascimento, Lailla Ferreira. Oliveira, Renato Souza. A escola de samba como espaço para o marketing - Os enredos patrocinados do Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel. / Nascimento, Lailla Ferreira; Oliveira, Renato Souza - 2018. 31 f. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Bacharelado em Administração de Empresas, Rio de Janeiro, 2017. Orientadora: Maria Cecília Trannin. 1. Resumo. 2.Introdução. 3. Método. 4. Conclusão. 5. Referências. I. Trannin, Maria Cecília. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. IV. A escola de samba como espaço para o marketing - Os

enredos patrocinados do Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel CDU:xxxxxx


À

Professora

Maria

Cecília

Trannin,

Faculdade de Administração e Finanças do Departamento

de

Ciências

Sociais

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

da


AGRADECIMENTOS

Agradecemos, especialmente a nossa professora orientadora Maria Cecília Trannin por todo amparo, suporte e conhecimentos dedicado a nós durante toda a produção deste artigo. Graças ao seu carinho e dedicação, conseguimos nortear e traduzir em palavras transformando em conhecimento tudo aquilo que um dia foi sonho. Agradecemos aos solícitos Rodrigo Pacheco e Alexandre Louzada por toda disponibilidade em participar deste projeto, seja colaborando com a pesquisa seja se fazendo presente para esclarecimento de dúvidas.

Lailla Ferreira Nascimento Agradeço aos meus pais e irmãos que apesar das dificuldades me apoiaram e não mediram esforços para que eu conseguisse chegar nesta etapa da minha vida. Aos meus amigos que sempre me motivam e acreditam na minha capacidade. Aos colegas de classe que me acompanharam ao longo de cada semestre da graduação. Aos professores pelos ensinamentos, orientações e incentivos. A todos os envolvidos que ajudaram direta ou indiretamente no desenvolvimento deste trabalho, o meu muito obrigada.

Renato Souza de Oliveira Agradeço especialmente aos meus pais pelo apoio e carinho nos momentos difíceis da graduação, além de terem me dado toda base para que eu chegasse nesse momento tão especial. Agradeço ao meu namorado, Fabricio, que esteve comigo me incentivando, dando amor, carinho e prestando apoio em todos os instantes da graduação. Agradeço por toda ajuda e suporte. Dedico com orgulho este trabalho ao amor da minha vida. Aos amigos e familiares que sempre acreditaram no meu potencial e foram essenciais no decorrer da graduação. Agradeço aos professores e mestres pela oportunidade de aprendizado ofertada diante de tantas dificuldades enfrentadas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Somos prova da resistência.


RESUMO Os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro são um dos principais movimentos da cultura brasileira, reconhecido mundialmente como o maior espetáculo da Terra. A importância é tamanha que os interesses acerca desse espaço crescem constantemente e as empresas cada vez mais querem firmar parcerias com as escolas de samba. O objetivo deste trabalho é aferir a relevância do enredo patrocinado para uma escola de samba e o que a parceria com uma organização/empresa pode proporcionar a uma agremiação. Para tal análise, foi realizada uma abordagem qualitativa, através de entrevistas com o vice-presidente Rodrigo Pacheco e com o carnavalesco Alexandre Louzada, ambos do G.R.E.S Mocidade Independente de Padre Miguel, umas das escolas de samba do Rio de Janeiro que mais se relaciona com os enredos patrocinados no Carnaval carioca. O artigo foi baseado em pesquisas de natureza qualitativa, dentre elas bibliográfica exploratória acoplada com Estudo de Caso. Os resultados da entrevista demonstraram que embora haja muita resistência da comunidade carnavalesca para que não se desenvolvam enredos patrocinados, de acordo com a desenvoltura do G.R.E.S Mocidade Independente de Padre Miguel no cenário do Carnaval carioca, os resultados do relacionamento entre escola de samba e as empresas patrocinadoras têm se mostrado satisfatórios, já que ambas as expectativas são correspondidas. Salientamos as limitações enfrentadas por essa pesquisa, por ser pioneira na relação entre as variáveis apresentadas.

Palavras-chave: Enredo Patrocinado. Marketing. Marketing Cultural. Patrocínio. Escola de Samba. Carnaval


ABSTRACT

The parades of the Samba Schools of Rio de Janeiro are one of the main movements of Brazilian culture recognized worldwide as the greatest spectacle on Earth. The importance is so great that interests about this space grow steadily and companies increasingly want to establish partnerships with the Samba Schools. The objective of this work is to assess the relevance of sponsored plots for a samba school and what the partnership with an organization can provide for an organization. For this analysis, a qualitative approach was carried out, through an interview with the vice president of GRES Mocidade Independente de Padre Miguel, Rodrigo Pacheco, who manages one of the Samba Schools in Rio de Janeiro, most related to the sponsored plots in the Carioca Carnival. The insert the interview results showed that although there is a lot of resistance from the carnival community about the sponsored plots, according to the resourcefulness of GRES Mocidade Independente de Padre Miguel in the Carioca Carnival scene, the results of the relationship between Samba School and the sponsoring companies were satisfactory since both expectations are matched. We highlight the limitations faced by this research, since it is a pioneer in the relationship between the presented variables.

Keywords: Sponsored plots. Marketing. Cultural Marketing. Sponsorship. Samba school. Carnival


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11 1.1. Objetivo ......................................................................................................................... 12 1.2. Revisão da Literatura ..................................................................................................... 12 2. OS DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA AO LONGO DOS ANOS – DA PRAÇA ONZE AOS ENREDOS PATROCINADOS ......................................................... 13 3. O MARKETING CULTURAL NO UNIVERSO DAS ESCOLAS DE SAMBA ...... 18 4. METODOLOGIA ........................................................................................................... 20 5. RESULTADOS E ANÁLISE DE DADOS .................................................................... 21 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 27 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 28 ANEXO A – Perguntas para a entrevista ............................................................................. 32 ANEXO B – Transcrição da entrevista com o carnavalesco Alexandre Louzada e o VicePresidente Rodrigo Pacheco da Mocidade Independente de Padre Miguel ...................... 33


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1. INTRODUÇÃO Conhecido como o “maior espetáculo da Terra”, o Carnaval do Rio de Janeiro, mais precisamente, aquele que passa pela Passarela do Samba Darcy Ribeiro, vulgo Marquês de Sapucaí ou simplesmente Sambódromo, conquista não só os brasileiros, como também os turistas de todas as partes do planeta. As escolas de samba do Rio de Janeiro sempre foram conhecidas como propulsoras de grandes discussões e debates culturais desde suas fundações, quando ainda desfilavam na Praça Onze de forma restrita as suas comunidades (FERREIRA, 2015). Com o passar do tempo, tornou-se notória a necessidade de fazer o espetáculo crescer. A construção do Sambódromo simbolizou o desenvolvimento de uma nova era de potenciais investimentos (ALBUQUERQUE, 2005), no que acarretou em um processo de midiatização e mercantilização, ocasionando mudanças estéticas nos desfiles das escolas de samba (CAMPOS; MESSAGI JÚNIOR, 2015). A visibilidade, a movimentação econômica e financeira que tal evento gera atraíram a atenção de organizações que não são do ramo da cultura, gerando novos atores de investimento nacionais e estrangeiros que visavam estratégias de marketing (FERREIRA, 2012). Os desfiles cresceram e com isso os investimentos que os cercam acompanharam o ritmo sendo necessárias novas fontes de patrocínio. As escolas de samba passam a receber subvenções de diversas origens: direitos de transmissão de TV, vendas de ingressos e CDs, da prefeitura e da publicidade do Sambódromo (ALBUQUERQUE, 2005). Além dessas, há também os patrocínios de organizações, com as quais as escolas podem negociar sem intervenção da prefeitura ou da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA). Surgem, dessa forma, os famosos enredos patrocinados utilizados por muitas escolas de samba, a fim de garantir o campeonato. Como foi o caso deste ano (2017), em que o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel conquistou o título com um enredo patrocinado por empresários marroquinos. Dessa maneira, o Carnaval acaba se tornando um produto da indústria cultural devido os crescentes usos dos enredos patrocinados, entre outros fatores. As empresas estão cada vez mais dispostas a investirem em espetáculos desse porte utilizando o chamado marketing cultural (BOLLER; REICHELT, 2016) trazendo para as escolas de samba, por exemplo, o auxílio financeiro necessário para possibilitar um desfile com mais glamour (PANZARINI, 2004), mesmo que por vezes exercem influências sobre decisões internas na escola.


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A escolha pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, ou simplesmente Mocidade, não se deu somente pelo êxito do Carnaval de 2017. Desde o início, a agremiação é conhecida por sua ousadia e pelo poder de inovação tornando-se ao longo dos anos uma das mais importantes escolas de samba. A Mocidade se encaixa neste contexto exatamente por ser uma das agremiações que está mais propicia a subvenção dos patrocínios nos últimos anos. Além disso, existe facilidade no acesso de informações sobre a escola de samba devido a um dos autores deste artigo estar inserido nas atividades da Mocidade.

1.1. Objetivo O objetivo deste trabalho, por meio de um estudo de caso, é descobrir a relevância do enredo patrocinado para uma agremiação e o que a parceria com uma empresa pode dispor a uma escola de samba, evidenciando os benefícios para ambas as partes relacionadas, principalmente as intervenções na qual as escolas de samba estão sujeitas. O primeiro capítulo é dedicado à Mocidade, com a finalidade de expor seus patrocínios ao longo de sua história realizando uma breve descrição do contexto histórico do Carnaval. O segundo capítulo apresenta a discussão das ações de marketing no universo das escolas de samba, trazendo os benefícios que tais ações acarretam para uma empresa. O terceiro capítulo trata da metodologia que consiste em entrevistas qualitativas realizadas com pessoas do universo da Mocidade. O quarto capítulo consiste na apresentação das conclusões sobre o objeto deste trabalho. O quinto capítulo se baseia na análise de dados através da entrevista qualitativa com relatos bibliográficos exploratórios, acoplado com estudo de caso. O sexto capítulo expõe as conclusões acerca da análise de dados.

1.2. Revisão da Literatura

O Carnaval das escolas de samba deixou de ser uma simples manifestação popular, tornando-se um espetáculo midiático, no qual a voz da comunidade deu lugar ao brilho e ao luxo (PANZARINI, 2004). Em virtude dessa mudança, as agremiações têm a necessidade de se modernizar e buscar novas fontes de recursos, pois a ajuda da prefeitura já não é mais suficiente para a criação do Carnaval contemporâneo (PANZARINI, 2004). É nesse contexto que os enredos patrocinados ganham força (CAMPOS; MESSAGI JÚNIOR, 2015), levando o Carnaval


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carioca a se tornar um produto midiático, de mercado e instrumento de propaganda (OLIVEIRA, 2005). A notoriedade conquistada pelas escolas de samba atraiu grupos empresariais, tanto nacionais quanto internacionais, a perceber potenciais possibilidades de ações de marketing (FERREIRA, 2012), uma vez que a organização desenvolve ações de marketing cultural visando capitalizar o máximo de estratégias mercadológicas que possam surgir de um evento como o Carnaval (ALBURQUERQUE, 2005). Portanto, ao mesmo tempo em que leva fontes de cultura para a população, o marketing cultural adquiri renda para a organização patrocinadora (ALCÂNTARA; ALMEIDA; ARAÚJO, 2015). Todavia, as escolas de samba ao obter patrocínios estão sujeitas às aprovações não apenas da direção da escola, mas também dos patrocinadores do enredo (FERREIRA, 2012). As agremiações geralmente concebem o enredo de acordo com a proposta que o patrocinador sugere. A partir de então, a equipe de Carnaval produz um esboço e apresenta a ideia finalizada para o patrocinador a fim de averiguar se a ideia inicial foi atendida.

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OS DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA AO LONGO DOS ANOS – DA PRAÇA ONZE AOS ENREDOS PATROCINADOS

A maior festa popular do planeta tem suas origens no final da década de 1920 quando o Carnaval carioca começa a ganhar novas características. Ainda que tímido e restrito para suas comunidades, o espetáculo já chamava a atenção da intelectualidade e do poder público da época. Mas foi somente em 1932 que surgiram as primeiras subvenções vindas de verbas públicas, o que fomentou os desfiles e proporcionou uma determinada estrutura para que eles acontecessem na Praça Onze (OLIVEIRA, 2012). Com o passar das décadas, os desfiles foram ganhando notoriedade e passaram a ser realizados na Avenida Rio Branco e posteriormente na Avenida Presidente Vargas (FERREIRA, 2015). As grandes contribuições produzidas pelas agremiações Portela, Deixa Falar (Estácio de Sá), Mangueira, Salgueiro, Império Serrano e Beija Flor de Nilópolis, entre outras, nas primeiras décadas do Carnaval, foram essencial para o crescimento do espetáculo que norteou as décadas seguintes. Novas camadas sociais estavam adentrando o mundo das escolas de samba, o que


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exigiu das agremiações maior organização administrativa e alterações no espetáculo (LEOPOLDI, 1978). Os espaços das escolas de samba ultrapassaram as barreiras dos desfiles e de seus terreirões a partir da comercialização dos long-play (LPs) com os sambas de enredo e mais à frente as transmissões através da TV. A construção da Marquês de Sapucaí potencializou as dimensões das agremiações ocasionando um boom1 durante as décadas de 80 e 90, dando o pontapé inicial à indústria do Carnaval (FERREIRA, 2015). Além disso, a chegada de patrocínios por intermédio dos bicheiros fomentou o Carnaval proporcionando para as escolas de samba abundância financeira para a produção dos desfiles, gerando certa dependência (VALENÇA, 2003), que estaria sendo desvinculada somente a partir da década de 2000 com o surgimento em grande escala dos enredos patrocinados por empresas. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel nasce na década de 50, exatamente no momento em que as escolas de samba estão ganhando novos agentes das camadas sociais em seus desfiles. Reconhecida desde o início como propulsora de diversas inovações no Carnaval carioca, como as famosas paradinhas do mestre André e inclusão do cargo de rainha de bateria nos desfiles, a Mocidade, assim como muitas das escolas de sambas, viveu intensamente o processo de midiatização do Carnaval, principalmente nas décadas de 80 e 90. Esse processo aconteceu de forma concomitante com os “anos de glória” da agremiação de Padre Miguel, que viveu um grande marco em sua história nas décadas de 70, 80 e principalmente 90, onde conquistou três dos seus seis títulos atuais. Os “anos de glória” da Mocidade se deram exatamente com o boom que a “era Sapucaí” proporcionou para as escolas de samba. Nesta época, o Carnaval da Mocidade passou a ser financiado principalmente pelo contraventor Castor de Andrade, que bancava a grandiosidade já exigida na época aos desfiles das agremiações (CAVALCANTI, 1999). O advento do “bicheiro” criou uma dependência para a agremiação, que após a morte do patrono no final da década de 90, encontrou-se sem saída, já que o Castor de Andrade era o principal financiador do Carnaval da escola. A dependência pelo patrono prejudicou a agremiação que enfrentou problemas a partir do início dos anos 2000 (BASTOS, 2003). A Mocidade não foi a única agremiação que sofreu com a diminuição de verba dos patrocínios dos bicheiros no início dos anos 2000. Uma nova era tomava

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Expansão rápida e muito abrangente de uma atividade.


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conta do Carnaval carioca e os patronos já não davam conta de bancarem enredos de forma exclusivamente própria. Deu-se então, o início da era dos enredos patrocinados, que podem ser divididos naqueles que acontecem através das parcerias entre o setor público e as escolas de samba, e aqueles que são patrocinados pelas empresas privadas. No caso dos patrocínios vindos do setor público geralmente estão vinculados aos chamados enredos CEPs2, em que prefeituras, estados brasileiros ou até mesmo países custeavam os enredos das agremiações e em contrapartida garantiam que a história de suas cidades, estados e países fossem contados (VALENÇA, 2005). Foram os casos dos enredos “Mais vale um jegue que me carregue do que um camelo que me derrube... Lá no Ceará”, de 1995 da Imperatriz, que contou com o patrocínio do governo do Ceará; “Salgueiro no mar de Xarayés, é Pantanal, é Carnaval”, de 2001 do Salgueiro, que recebeu patrocínio do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul; “Goitacazes... Tupi or not tupi in a south american way” de 2002 da Imperatriz, que teve o patrocínio da cidade de Campos dos Goytacazes entre outros. Já no caso dos patrocínios vindos das empresas, os enredos passaram a ser discutidos e debatidos de acordo com interesses dessas organizações patrocinadoras (VALENÇA, 2005). Foram os casos de “O Brasil dá o ar de sua graça. De Ícaro a Rubem Berta, o ímpeto de voar”, de 2002 da Beija-Flor de Nilópolis, patrocinado pela Viação Aérea Rio-Grandense (VARIG); “Asas de um sonho, viajando com o Salgueiro, o orgulho de ser brasileiro”, de 2002 do Salgueiro, patrocinado pela Táxi Aéreo Marília (TAM) entre outros. Somente através desses patrocínios que as escolas conseguiam levar a grandiosidade que o espetáculo exigia (VALENÇA, 2005). A Beija-Flor de Nilópolis foi vice-campeã em 2013 com um dos mais polêmicos enredos que gerou embates entre os favoráveis e os contrários as subvenções vindas de empresas. Na ocasião, a escola levou para a Sapucaí o enredo "Amigo fiel Do cavalo do amanhecer ao Mangalarga marchador" patrocinado pela Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM). A ABCCMM patrocinou o Carnaval da Beija-Flor de Nilópolis, na ocasião para propagar a raça de cavalos Mangalarga Machador enaltecendo que ela faz parte da cultura brasileira, realizando a maior ação de marketing da empresa até então.

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Termo muito utilizado no mundo do Carnaval para definir um enredo que contará a história de uma cidade, um estado, um país ou uma localidade. Por isso usa como referência a sigla CEP - Código de Endereçamento Postal.


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A Vila Isabel foi campeã em duas ocasiões com "Soy loco por ti, América: A Vila canta a latinidade", de 2006 da Vila Isabel, na qual contou com patrocínio da empresa Petróleos de Venezuela (PDVSA) e “A Vila canta o Brasil celeiro do mundo – Água no feijão que chegou mais um”, de 2013 que teve o patrocino da Badische Anilin & Soda Fabrik (BASF), empresa química líder mundial. Através desse patrocínio, a BASF tinha a seguinte estratégia: valorizar a agricultura nacional. Consequentemente, a empresa alemã ganhou a apoio de diversos grupos, tanto agricultores e cooperativas, como representantes da área (BASF, 2013). Ademais, foi homenageada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (APROSOJA), recebendo o troféu “O Cultivador”, por meio dessa parceria com a Vila Isabel (DINHEIRO RURAL, 2013). Para o vice-presidente da Unidade de Proteção de Cultivos da BASF, tal parceria foi um dos investimentos de marketing mais benéficos e de maior impacto no país (DINHEIRO RURAL, 2013). Uma vez que atingiu um público além do mercado agrícola. Ao longo de 2012 e 2013, a BASF realizou diversas estratégias de marketing (BASF, 2013). Tais ações direcionadas para os veículos de comunicação, como revistas, canais de televisão fechados, utilizando também a Internet visando atingir outros públicos (DINHEIRO RURAL, 2013). Outro feito dessa parceria foi o projeto de neutralização de carbono de todo o carnaval da Vila Isabel. A ação se configura como estratégia marketing ambiental, no qual a empresa realiza ações estratégicas pretendendo relacionar sua marca às questões ecológicas (CARVALHO et al., 2017). A BASF, portanto, posiciona-se como uma empresa que demonstra preocupação com a sustentabilidade. A nova fórmula de fazer Carnaval virou um artifício utilizado por quase todas as escolas, pelo menos uma vez a partir do início dos anos 2000. O Acadêmicos do Salgueiro é uma das agremiações que mais se utiliza de enredos patrocinados. Em 2013, a agremiação obteve o patrocínio da revista Caras para levar à Sapucaí o enredo “Fama”, que tratava das celebridades. O intuito de patrocinar uma escola de samba com a visibilidade do Salgueiro garantia a revista, da editora Abril, a exposição necessária para expor sua marca de forma explicita sem precisar expor claramente sua logomarca.


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Um ano depois, a agremiação garantiu o patrocínio das empresas Renault-Nissan, firmando uma parceria de forma estratégica para lançarem um novo produto e utilizarem a exposição permitida pelos desfiles de Carnaval da Marquês de Sapucaí. A fim de lançar uma linha de carros elétricos e propagar uma nova imagem sustentável, a aliança firmada pelas empresas Renault-Nissan e o Salgueiro resultou no enredo "Gaia, A Vida Em Nossas Mãos", onde a agremiação em seu desfile daquele ano revisitava a forma como o planeta vinha sendo tratado, sem preocupação com a preservação da natureza e, por fim, o espetáculo trazia as novas alternativas e opções de manter o padrão de vida da humanidade sem denegrir o meio ambiente. Nesse contexto, fazia-se menção as novas formas de combustível, e claro, ao carro elétrico produto que a Renault-Nissan acabará de lançar. Figura 01 - Carro da Nissan durante o ensaio técnico do Salgueiro

Fonte: Nissan do Brasil

Durante o ano, a Renault-Nissan aproveitou a visibilidade dos ensaios técnicos e apresentou alguns dos novos modelos dos carros elétricos que foram lançados (figura 1). Os carros desfilaram na Marques de Sapucaí enquanto a escola ensaiava seus componentes. A estratégia da Renault-Nissan ultrapassava a barreira de Marketing. As empresas garantiram ainda acesso livre para seus funcionários durante todo o período de ensaios do Salgueiro em sua quadra. A parceria se estendeu até o ano de 2015, desta vez com a participação somente da Nissan, que neste ano usou o espaço de marketing para divulgar um novo produto, mas para propagar que a Nissan, empresa de origem Japonesa, cada vez mais era “brasileira” (NISSAN, 2014).


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Esse era o novo cenário das escolas de samba a partir dos anos 2000. A Mocidade resistiu a esta fórmula até o Carnaval de 2002. No ano seguinte, a agremiação contou com uma modesta parceria da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), quando levou para Sapucaí o enredo “Para sempre no seu coração - Carnaval da doação” (BASTOS, 2003) para falar sobre doação de órgãos. Em 2004, a escola contou com a parceria da Companhia de Bebidas das Américas (AmBev) para tratar do enredo "Não corra, não mate, mão morra. Pegue carona com a Mocidade" com o intuito de promover uma campanha de conscientização e educação no trânsito. Em 2005, a lógica dos enredos patrocinados seguiu na linha de trabalho da Mocidade. A escola levou a arte italiana com o enredo "Buon mangiare, Mocidade! A arte está na mesa" que garantiu para a agremiação o patrocínio da operadora Telecom Italia Mobile (TIM). Nos Carnavais seguintes, a lógica não mudou muito na escola. A agremiação contou somente com dois anos sem enredo patrocinado, até 2012. Em 2013, a Mocidade foi muito criticada ao levar o enredo “Eu vou de Mocidade com Samba e Rock in Rio – Por um mundo melhor” que contou com a subvenção da produção do festival e quase rebaixou a agremiação naquele ano. Nos anos seguintes, a Mocidade contou com enredos autorais fugindo da lógica dos enredos patrocinados dos anos anteriores. A nova dinâmica do “Carnaval grandioso” necessita de altos custos para se manter. Os enredos patrocinados vieram para serem parceiros sendo um caminho inevitável (GUEDES, 2013). Foi por isso, que em 2017, a Mocidade voltou a fazer um enredo patrocinado com “As mil e uma noites de uma Mocidade pra lá de Marrakesh” que contou com o patrocínio da companhia aérea Royal Air Maroc, entre outras empresas, e garantiu para escola o campeonato de 2017. 3. O MARKETING CULTURAL NO UNIVERSO DAS ESCOLAS DE SAMBA Categorizado como um show de grande porte, o Carnaval da Sapucaí, transformou-se em uma das festas mais conhecida do planeta. A dimensão desse espetáculo fez do Carnaval uma atividade propícia para grandes negócios, tornando-se naturalmente um produto da indústria cultural, na qual a cultura se transforma em mercadoria com intuito de lucro (CAMPOS; MASSAGI, 2015). O retorno financeiro e econômico observado por empresários e pelo governo abriu espaço para a exploração dessa manifestação popular e cultural. As empresas, portanto, começaram a utilizar o Carnaval como uma ferramenta mercadológica traçando estratégias de


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marketing para posicionar, promover e agregar valor à sua marca através de seus produtos e serviços oferecidos. Ao investir em cultura com o intuito de obter vantagens, as organizações estão explorando cada vez mais o marketing cultural, que se trata de uma ferramenta estratégica de comunicação por meio de patrocínios a eventos que agreguem valor à sua imagem (ARAÚJO; FREITAS; QUEVEDO; SCHONARTH, 2015). As organizações têm conduzido recursos financeiros para a área de marketing a fim de patrocinar ações culturais, visando promover sua marca ou interesses através de ferramentas e práticas que contribuem para o alcance dos objetivos de comunicação e de construção de sua imagem (REICHELT ,V. P.; BOLLER, B, 2016). As empresas estão atentas também às leis de incentivos, por meio das quais adquirem benefícios fiscais no âmbito federal, estadual ou municipal ao investirem em marketing cultural. Mais conhecida como Lei Rouanet, a Lei Federal de Incentivo à Cultura estimula as instituições a patrocinar eventos culturais ao conceder incentivos fiscais, permitindo as organizações a aplicarem parte do Imposto de Renda devido em eventos e ações culturais (ARAÚJO; FREITAS; QUEVEDO; SCHONARTH, 2015). Caso a empresa não se beneficie com a lei federal, essa pode optar pelas leis estaduais que concedem isenção de ICMS e as municipais com as isenções de ISS e IPTU (ARAÚJO; FREITAS; QUEVEDO; SCHONARTH, 2015). As empresas no Carnaval carioca possuem inúmeras possibilidades para realizar ações de marketing, envolvendo o público presente na Sapucaí, seus fornecedores nacionais e estrangeiros, cotas de transmissão na televisão (ALBURQUERQUE, 2005), clientes corporativos e a própria comunidade (ARAÚJO; FREITAS; QUEVEDO; SCHONARTH, 2015). Dentre essas ações estão os famosos camarotes na passarela do samba, que incluem diversos setores, como empresas de beleza, de revistas, calçados e cervejarias, com interesses além da diversão. Um dos mais badalados camarotes são os da cervejaria, como o camarote número 1 (um) da Brahma. A AmBev marca presença também com suas outras marcas como a Antártica e a Itaipava. A companhia conta com a experiência que a festa da Sapucaí proporciona para prover suas marcas e aumentar suas vendas. Nesses camarotes, as instituições pretendem principalmente estreitar relacionamentos com empresas e possíveis executivos e fornecedores, lançar e divulgar produtos, serviços e projetos, além de fortalecer sua posição perante o público-alvo. O Carnaval,


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portanto, é um meio de realizar negócios, sendo notória a relação de benefício para a festa como um evento e para os participantes. O período do Carnaval atrai a atenção de todas as partes do mundo, contraindo um grande fluxo de turistas para a cidade do Rio de Janeiro. Em virtude da repercussão que a visibilidade do evento proporciona, as organizações já se beneficiam realizando ações antes mesmo do desfile das escolas de samba. As instituições realizam ações de merchandising, por exemplo, com o objetivo de promover a marca, fixar o produto ou serviço na mente do potencial consumidor, deixando a festa mais mágica e encantadora (ALBURQUERQUE, 2005). A festa da Marquês de Sapucaí, transformou-se em um grande palco de patrocínios e investimentos, na qual a inserção desses recursos fez com que o evento se tornasse milionário. Em virtude dessa dimensão, as organizações perceberam que era um bom negócio vincularem sua marca ao evento, em busca de um retorno comercial e reconhecimento. Em 2003, ocorreu uma parceria inusitada, quando a Companhia Vale do Rio Doce decidiu patrocinar a escola de samba Acadêmicos do Grande Rio. Nesse contexto, a Vale comprou camarotes de um setor inteiro e realizou diversas atividades para seus funcionários e convidados. Além do marketing externo, a companhia também utilizou estratégias de marketing interno para modificar a imagem marca no mercado. Visto que, apesar de ser conhecida, a Vale não era uma empresa querida pelos seus públicos de interesse. O exemplo da Vale chamou atenção devido ao grande fluxo de relação entre a escola de samba em questão e a empresa patrocinadora. Ambas as partes aproveitaram o máximo dessa relação, seja para a divulgação da marca, no caso da Vale, seja para captação de recurso para realização do desfile, no caso da Grande Rio.

4. METODOLOGIA A pesquisa busca expor o efeito da relação de parceria entre escolas de samba e empresas patrocinadoras. Para tal, a realização do trabalho consiste em um estudo que se configura na combinação de pesquisas de natureza qualitativa. Para maior compreensão do tema foram utilizadas as pesquisas exploratórias para maior familiaridade da situação apresentada (VIEIRA, 2002); a descritiva a fim de observar e explicar o fenômeno (VIEIRA, 2002); e a bibliográfica através da revisão de literatura sobre o tema, por


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meio de fontes como artigos científicos e acadêmicos, teses e dissertações que auxiliaram na melhor compreensão sobre o objeto, aprofundando e ampliando o conhecimento. Para tanto, todas as fontes utilizadas foram referenciadas conforme a lei que trata dos direitos autorais (BRASIL, 1998). A abordagem qualitativa é o conjunto de técnicas interpretativas a fim de descrever, decodificar, traduzir, visando uma compreensão mais profunda de determinada situação (COOPER; SCHINDLER, 2016). A coleta de informações consistiu em entrevistas gravadas em áudio com personagens que se enquadravam no estudo, feita no barracão da Mocidade, localizado na Cidade do Samba, para a realização da análise do objeto de estudo. Para a análise e apreciação do conteúdo da entrevista foram utilizadas nuvens de palavras. A criação de tais nuvens foi realizada a partir da inserção dos trechos mais importantes da entrevista na plataforma online WordleTM. Nesse tipo de nuvem, as palavras surgem, conforme o tamanho proporcional à sua frequência (LEMOS, 2016), cujo principal propósito é levantar as chamadas categorias emergentes ou “a posteriori”, que surgem espontaneamente.

5. RESULTADOS E ANÁLISE DE DADOS A pesquisa realizada para obtenção dos dados é de natureza qualitativa com relatos bibliográficos exploratórios acoplado com estudo de caso baseado em relatos do vice-presidente Rodrigo Pacheco e do carnavalesco Alexandre Louzada ambos do G.R.E.S Mocidade Independente de Padre Miguel. A coleta dos dados aconteceu em outubro de 2017 para buscar reforçar os argumentos desenvolvidos anteriormente. Os entrevistados em questão se contextualizam de acordo com a proposta desse artigo por tamanha importância diante do tema abordado. Rodrigo Pacheco é o vice-presidente da Mocidade desde 2015, no entanto, sua atuação na escola advém de períodos anteriores. Ele é responsável por mudar o panorama da agremiação que sofria com as gestões anteriores. A importância da contribuição de Rodrigo Pacheco para esse artigo se dá também devido às grandes expectativas geradas por ser uma figura representativa no processo de renovação que o Carnaval vive (FABATO, 2017). Já Alexandre Louzada é um dos principais carnavalescos da atualidade. Sua contribuição para o artigo fica por conta do número expressivo de escolas de samba nas quais já


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trabalhou, o que lhe dá bagagem suficiente para tratar do assunto. Além disso, tornou-se o único carnavalesco campeão do Carnaval carioca em quatro escolas de samba diferentes. Para a análise de dados foi realizada uma entrevista com 16 perguntas, em 14 de setembro de 2017, no barracão da Mocidade, na Cidade do Samba, localizado no Rio de Janeiro. A referida entrevista foi informal caracterizada na simples conversação visando à obtenção de dados (BRITO; FERES, 2011). Através da entrevista, foi possível corroborar os argumentos expostos nos capítulos anteriores a respeito da importância de um enredo patrocinado para uma agremiação e sobre os benefícios dessa parceria tanto para a escola de samba como para uma organização patrocinadora. Para o carnavalesco Alexandre Louzada, a busca por patrocinadores é relevante. Visto que haverá uma contribuição não só financeira, mas também a sociedade usufruirá dessa parceria. Ao longo da entrevista, o carnavalesco afirmou: “(...) o marketing, ele abrange várias coisas, não só a parte de patrocínio. Mas eu sou favorável que a gente busque sempre parceiros financeiros para que você possa... é

levar um pouco mais de contribuição para a sociedade, para a comunidade.

”. O carnavalesco acrescenta ainda que tal parceria proporciona a realização do desfile na Marquês de Sapucaí e viabiliza projetos sociais da Escola de Samba: “Então, o marketing é importante como um combustível para alimentar projetos sociais da escola, não só do enredo. Cabe ao carnavalesco disfarçar isso. É, eu acho que esse é o maior desafio da gente fazer um enredo que tem uma possível, um aporte financeiro. ” Para Rodrigo Pacheco, um enredo patrocinado precisa ser abordado de uma forma enriquecedora, na qual agregará conhecimento para o público, isto é, para a sociedade em geral. Ele enaltece ainda que a Mocidade vem buscando esse formato cada vez mais: “(...) topar encarar um enredo patrocinado de uma maneira cultural, de uma maneira enriquecedora. E a gente vem fazendo isso duas vezes seguida. ”. O vice-presidente salienta ainda que o retorno para o patrocinador é imediato: “Porém, tudo isso nasce da... de uma parceria criada obviamente com foco no financeiro e no marketing né porque hoje é muito mais que só financeiro. ” Ambos os entrevistados concordam que a exposição dos patrocinadores no carnaval é benéfica, uma vez que o desfile é visto por vários países. Sendo, portanto, uma boa ferramenta de propaganda, na qual atrairá a atenção de possíveis consumidores e parceiros. Acrescentam ainda


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que parcerias ajudam a fomentar o marketing da empresa em questão, e no caso do enredo seja sobre determinado país ou localidade, ajuda a aquecer a economia. Rodrigo Pacheco ilustra como essa parceria pode ser benéfica utilizando o exemplo de parceria feita no Carnaval de 2017 entre a Mocidade e algumas empresas marroquinas:

Para vocês terem uma ideia nós começamos a desenvolver o nosso enredo do Marrocos e estava lá ainda frio, no início do trabalho... é, começou a crescer, as procuras começaram a aumentar muito em relação a viagens ao Marrocos e aí eles reativaram a linha área que existia o voo Rio de Janeiro/Casablanca, que eles já tinham (estalos com os dedos) acabado com ela há mais de dez anos atrás porque não tinha público. (...), ou seja, isso aqueceu o turismo, aqueceu a vontade de conhecer, aqueceu tudo.

O caso relatado pelo vice-presidente da Mocidade ilustra claramente os benefícios que as empresas patrocinadoras podem obter ao patrocinar uma agremiação. Segundo Louzada, essa relação também é benéfica para ambos os lados e quando se trata de pensar no enredo patrocinado as conversas entre escola e empresa são positivas: “Nós nunca levamos um não. A gente pode levar um não do que se pretende financeiramente. A gente pode levar um não financeiramente. (...) eles gostam de fazer esse tipo de propaganda que é muito barato para eles.”. Rodrigo Pacheco compartilha do mesmo pensamento de Alexandre Louzada. Ele também concorda que a parceria tem conversas benevolentes para as escolas de samba e para as empresas:

Todas as áreas e você tem só de desfile, sem contar o pré-Carnaval, você tem todas as etapas, mas só de desfile você tem setenta e cinco minutos. Quanto não custaria setenta e cinco minutos de propaganda? (...) não tem preço, né? Isso é pro-je-ção. E o retorno é imediato.

O vice-presidente entende ainda que o processo de patrocínio permeia por uma cadeia de possíveis patrocinadores e que normalmente outras empresas vão sendo agregadas no planejamento de patrocínio:

Então, você conversa com um grupo pequeno, mas esse grupo estende isso para outra pessoa, aí aparece mais um representante, vem uma empresa e na verdade eles fazem a coisa andar (...) porque eles têm interesse, o Carnaval é uma coisa, uma festa de repercussão mundial, então eles querem trazer, eles querem montar, estarem juntos com a escola.


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Os entrevistados ressaltaram ainda que o Carnaval é positivamente enriquecedor para além do marketing que pode ser gerado para as empresas parceiras, que aquece a economia e setores da indústria que antes não faziam parte da cadeia produtiva do Carnaval. Para o carnavalesco isso se mostra de forma enriquecedora:

Mas tudo que a gente compra ou é chinês ou é coreano ou é indiano. Todo material de Carnaval, os tecidos de brocados, tudo a preço de banana, lá né (...) tem empresas que hoje fornecem para Carnaval e nem sonhavam de um dia a matéria, o material que eles fabricam seriam utilizados em Carnaval (...) então, eu acho que o Carnaval também desperta esse interesse da indústria, né? De crescer. Isso gera emprego.

Mesmo diante de tantos pontos positivos, o carnavalesco ressalta alguns pontos que devem ser levados em consideração para que a parceria não se torne um fracasso nem para escola de samba nem para a empresa. Para Louzada a relação entre agremiação e patrocinadora não pode acontecer como em um passado recente em que as empresas impunham suas vontades sem o diálogo e o entendimento de que Carnaval é cultura e não um produto:

Então, o profissional de Marketing ele quer que a marca dele quando você está vendendo um produto (...) cabe a gente inverter esse jogo. E, eu trabalhei com publicidade antes de ser carnavalesco então o poder de convencimento, que a gente vê muito em filme aquela mesa para mostrar o que o cara criou em casa para o dono do produto, então isso vai muito da gente de catequiza-los do que é cultura, que patrocina cultura é importante (...) a gente leva sempre para esse lado, mas houve um tempo que era toma lá da cá... eu quero seu dinheiro eu vou me ferrar, mas vou mostrar seu produto, entendeu? Não é bem assim. Um bom profissional de Marketing vai entender também o valor institucional que tem a marca, de agregar valores, não somente numa transação financeira, a imagem da empresa cresce muito sabendo que está ajudando um espetáculo que move tantos, tantas pessoas e atinge diretamente.

Para Alexandre Louzada a parceria com o patrocínio, que na maioria das vezes é satisfatória, poderia ser ainda mais vitoriosa se as propagandas e as marcas fossem expostas de forma mais explicitas: O ideal seria ter um telão no fundo da Sapucaí quando a escola entrasse e passasse a marca da empresa patrocinou a Mocidade, no caso (...) como acontece no futebol, entendeu? Está passando o jogo, a gente pensa que o estádio está enfeitado com todas aquelas marcas (...) a gente está desfilando e aparecendo lá Brahma. Está para aparecendo, é... A Friboi ano passando. Fica aparecendo lá na telinha. A gente não está ganhando para isso.


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A análise de dados nos permitiu dar importância para alguns termos que apareceram com bastante frequência durante a apreciação do conteúdo da entrevista. Para melhor analisar estas palavras e sua frequência nos diálogos foram utilizadas três nuvens de palavras. Pode-se observar conforme exposto nas nuvens de palavras, os vocábulos mais recorrentes foram: Carnaval, marketing, enredo, propaganda e patrocinado.

Figura 02 - Nuvem de Palavras 01

Fonte: Elaborada pelos autores


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Figura 03 - Nuvem de Palavras 02

Fonte: Elaborada pelos autores

Figura 04 - Nuvem de Palavras 03

Fonte: Elaborada pelos autores


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As afirmações e ponderações de Rodrigo Pacheco e Alexandre Louzada durante a coleta dos dados reforçaram as argumentações anteriormente abordadas. Ambos deixaram de forma bem explícita suas considerações favoráveis aos enredos patrocinados e suas contribuições para as escolas de samba e para as empresas sem deixar de ressaltar, sobretudo, as negatividades se a parceria não for conduzida de forma correta.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos dados e argumentos apresentados fica explícita a relevância do enredo patrocinado para uma escola de samba diante da nova dinâmica do Carnaval carioca. Toda a argumentação apresentada se baseou nessa hipótese, a qual foi comprovada mediante a realização de uma pesquisa qualitativa com relatos bibliográficos exploratórios, acoplado com estudo de caso fundamentado em entrevista realizada com o vice-presidente Rodrigo Pacheco e o carnavalesco Alexandre Louzada, ambos do G.R.E.S Mocidade Independente de Padre Miguel. Ficou evidente que as Escolas de Samba precisam de patrocinadores para desenvolverem um desfile profissional, visto que o Carnaval da Marquês de Sapucaí entrou numa fase de desfiles milionários. A manifestação cultural ganhou tamanha visibilidade que chamou a atenção de empresas nacionais e internacionais. Tais empresas perceberam que fazer parte do evento seria um grande negócio. As escolas, por sua vez, concluíram que o patrocínio seria uma forma de viabilizar seus enredos. A partir daí não foi difícil a utilização desse espaço para estratégias de marketing cultural. No presente trabalho, analisamos e pesquisamos as possibilidades das ações e estratégias por parte das empresas almejando um retorno comercial. Como foi o caso da BASF com a Vila Isabel que visava a valorização da agricultura e a parceria do Salgueiro com as empresas Renaut-Nissan, essa com o intuito de lançar seu novo produto. Ambas as empresas ainda contaram com o espaço para agregar mais valor à sua marca, utilizando, além do marketing cultural, o marketing ambiental na avenida. Neste ano de 2017, a Mocidade contou com o patrocínio de empresas marroquinas e ocasionou a vitória do campeonato. Seu enredo foi contado de forma didática e alusiva, enaltecendo os grandes aspectos da cultura do país, assim como da economia. A parceria, além de valorizar a cultura do Marrocos, levou milhares de telespectadores para o universo das


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histórias dos contos de “As mil e uma noite”. A agremiação, de forma geral, viajou dos contos como Alladin, Simbad e Ali Babá, que foram usados como fio condutor, até chegar nas riquezas, no comércio e até na astronomia do país levando conhecimento para os que acompanharam o desfile. A pesquisa, no entanto, trouxe ressalvas e apontamentos para possíveis frustrações nas parcerias entre as agremiações e empresas patrocinadoras sendo possível ressaltar que essas parcerias poderiam ser mais bem-sucedidas com a inclusão de ideias e espaços extras para melhor divulgação das marcas. Os desfiles, atualmente, são uma ferramenta utilizada por empresas visando retorno comercial e financeiro e, conhecimento. Mas também, movimentam setores da indústria que estavam à margem do Carnaval aquecendo a economia. Pode-se dizer que o espetáculo promove o aumento do fluxo de capital, aumentando a capacidade produtiva do país e gerando empregos. Além de internacionalizar o show que é divulgado para inúmeros países, expondo bens e serviços dos patrocinadores, os desfiles se tornaram um novo meio de publicidade para empresas patrocinadoras. Essas por sua vez, além de atingir o público externo chama atenção do público presente no desfile, transformando-os em possíveis consumidores de sua marca.


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ANEXO A – Perguntas para a entrevista

1. O que leva uma escola a aceitar o patrocino? 2. Qualquer proposta de patrocínio é válida? 3. O que a escola espera dessa parceria? 4. As empresas quando patrocinam um enredo elas esperam qual contrapartida? 5. O que você acha sobre os enredos patrocinados? Ajuda ou atrapalha a escola? E a empresa? 6. As empresas chegam com as propostas de enredo? Ou vocês desenvolvem de acordo com a proposta da empresa? 7. Como é o processo de escolha de enredo patrocinado? Vocês fazem algum tipo de pesquisa? Ou as empresas, empresários ou governos que chegam até a escola? 8. Como o marketing e as escolas de samba se completam? 9. As escolas firmam parcerias em busca de marketing para suas marcas? Isso incomoda? 10. Como você acha que a empresa pode se beneficiar com essa parceria? 11. Qual a importância das mídias para a imagem da empresa? E das escolas? 12. Qual a interferência da empresa no desenvolvimento do enredo patrocinado? 13. Existe algum limite para a escola aceitar um patrocínio? 14. A Mocidade já teve patrocínio de empresas? Como foi essa relação? 15. No Carnaval de 2017 a Mocidade teve patrocínio? Como foi a relação com as empresas? 16. Em 2018 a escola contará com patrocínio? Como aconteceu essa conversa com as empresas?


ANEXO B – Transcrição da entrevista com o carnavalesco Alexandre Louzada e o VicePresidente Rodrigo Pacheco da Mocidade Independente de Padre Miguel

Renato: - A gente resolveu estudar né essa relação que ultimamente vem crescendo no Carnaval. Como o marketing vem entrando no espaço do carnaval... A mídia, então a gente contextualizou isso no nosso artigo. E a gente usou como plano de fundo a mocidade porque eu tenho inserção aqui dentro então seria muito mais fácil. Lailla (interrupção): - Tem o artigo. Se quiser dar uma olhada. Renato: - É tem o artigo. O título é... Lailla (interrupção): - Não finalizado. Renato: - É ainda está em construção. O título é a escola de samba como espaço para o marketing e os enredos patrocinados... Alexandre Louzada (interrupção): -, Mas vocês... Ah. Renato: - E aí os enredos patrocinados da mocidade que é o contato que eu tenho direto. Alexandre Louzada: - Olha eu tenho um pensamen... Tá gravando? Renato: - Tá, tá gravando. Alexandre Louzada: - Eu tenho um pensamento a respeito disso. É a questão, o marketing... Ele... Abrange varias coisas, não só a parte de patrocínio. Mas eu sou favorável que a gente busque sempre parceiros financeiros para que você possa... É... Levar um pouco mais de contribuição para a sociedade, para a comunidade. No caso de um enredo patrocinado não se restringe só ao carnaval. Quando a escola se vende entre aspas, ela está vendendo, é... Os projetos que ela tem que precisam ser amparados por uma grande empresa ou por... Uns mecenas qualquer. Entendeu? Mas cabe ao carnavalesco, ele transformar isso num marketing cultural. Existe Patrocínio, mas que não venha ferir as tradições de uma escola de samba. Aí vai mais do Rodrigo. Rodrigo às vezes me convoca para uma palestra para que a gente possa colocar para o empresário e está interessado nessa parceria. De que a gente tem diversas formas de mostrar a marca ou o produto institucional. Não exatamente carimbar numa alegoria ou na camisa de um empurrador. Essa coisa de vender a escola... E, uma empresa para fazer um enredo e estampar a marca no, na camisa do empurrador, uma bandeirinha num numa... Isso está acabando. Os empresários estão entendendo a importância cultural que tem... É de você estar é patrocinando a cultural entendeu? Não vendendo o produto. A Índia, por exemplo, são empresa indianas. A


gente não leva o enredo. Se fosse num tempo passado, as fábricas de automóveis que tem, os softwares, que a Índia, hoje, é campeã mundial de... nessa área. A gente não aborda dessa forma. A gente usa é, o lugar, de origem dessa empresa ou, por exemplo, o boi que foi o, que moveu o enredo até chegar à Mocidade. Ele entra no enredo de uma forma somente cultural. A chegada do boi... A gente não trata o boi, como um alimento no enredo. E sim como, ele chega no Brasil e mexe com o imaginário do popular. Ele vira arte na mão do Vitalino, ele vira folclore de boi bumba, bumba meu boi, de boi de mamão, de boi pintadinho, do boi da cara preta, entendeu? Os índios não tinham conhecimento de... Do gado... Renato: (Concorda). Alexandre Louzada: -... Entendeu? Então isso, você vê que o boi bumba de Parintins ele mescla a cultura indígena, nativas né, das indígenas, associado tá ao folclore no bumba meu boi, na verdade, que é Parintins e amazonas, como um todo, o Pará é uma migração nordestina é que desbravou de... Dá floresta que levavam a sua cultura, encontrara uma cultura dos nativos e misturou as duas coisas. Então, o marketing é importante como um combustível para alimentar projetos sociais da escola, não só do enredo. Cabe ao carnavalesco disfarçar isso. É, eu acho que esse é o maior desafio da gente fazer um enredo que tem uma possível, um aporte financeiro. Acho que a maior utilização do carnaval, porque também seria burrice da diretoria erguer um patrocinador por causa só de um enredo. Acabou esse ano e tchau, entendeu? O trabalho do Rodrigo é que eles permaneçam que tenham outras coisas que possa ser é..Visível... Ao... A ajuda que está dando assim, contribuindo para a cultural. Isso é mais importante que... E os enredos, quer dizer, se fossem os enredos puramente comercial ele mesmo não aceitaria. Renato: - Sim. Rodrigo Pacheco: - É... Na verdade eu acho que hoje no carnaval a Mocidade ela está se especializando em desenvolver um trabalho da maneira que tem que ser. A verdade é essa! É diferente, é muito diferente de você pegar um enredo patrocinado feito pura e simplesmente por patrocínio, né. E você topar encarar um enredo patrocinado de uma maneira cultural, de uma maneira enriquecedora. E a gente vem fazendo isso duas vezes seguidas. O Marrocos é... Que tanto foi criticado no início, quando chegou no desfile todos viram que não tinha nada de patrocinado... É... Vamos dizer assim. Daquela coisa encomendada. Renato (concorda) Rodrigo Pacheco: - Foi um desfile muito criativo e enriquecedor.


Alexandre Louzada (fala por cima): - Esclarecedor até. Rodrigo Pacheco: - Através dos pontos né e o da Índia agora está seguindo a mesma. Alexandre Louzada (interrupção): O da Índia... A escola, quer dizer, o carnaval da mocidade é pequeno em relação a tudo o que poderia ser mostrado. Rodrigo Pacheco (fala por cima): - Muito interessante! Alexandre Louzada: - Poderia ter 3 capítulos de enredo. Rodrigo Pacheco: - E na verdade, acho que é um tema que poderia ter sido abordado há muito mais tempo porque é muito interessante. Mas assim a gente busca o tempo todo está integrando, fazendo com que a comunidade indiana se sinta parte desse todo e a gente também se sinta parte do que a comunidade... Alexandre Louzada (interrupção): E eles estão orgulhosos porque o monte do enredo desse enredo é mostrar que muita coisa que nos brasileiros achamos que são coisas nossas e não são. Aliás, no Brasil, fora os nativos e as árvores do serrado, as frutas exóticas que só tem aqui passas, fauna. É... Muita coisa veio de fora né e principalmente da Índia porque antes o comércio marítimo era das Índias. Ao contrário do Marrocos que a gente fazia uma viagem descobrir o país. A gente está redescobrindo o Brasil. É e vendo que muita coisa que a gente acha que e nossa veio de lá. Renato (Concorda) Alexandre Louzada: - E eles estão orgulhosos da gente esclarecer isso. Eles queriam até muito mais, mas iria confundir a cabeça. Eles acham que o candomblé, por exemplo, uma religião nossa e brasileira bebe da fonte das divindades indianas. A própria nossa senhora aparecida... Existe uma santa indiana que tem esse ritual de jogar no rio, entendeu? É possivelmente quem sabe não foi uma... Rodrigo Pacheco (interrupção): - Através de um ritual foi-se jogado no rio e aí um pescador encontrou... Alexandre Louzada (fala por cima): - Exato, foi jogar no rio e... Alexandre Louzada: - O catolicismo reparar o manto de nossa senhora aparecida é a única que tem o véu até embaixo. Cobre ela toda como toda deidade dela. Rodrigo Pacheco (interrupção): - E tem o terceiro olho né... Renato (concorda) Rodrigo Pacheco: - Ou seja, pra aquela época, a pele escura...


Alexandre Louzada (interrupção): -... De pele escura. Rodrigo Pacheco: - A pele é escura, os portugueses não fariam uma... Renato (concorda) Rodrigo Pacheco: - Não cultuariam uma santa escura, negra. Alexandre Louzada (fala por cima): - Não existia na época. Rodrigo Pacheco: - É... Então assim... Existe muito mais coisa e que a gente só vai descobrir através realmente da pesquisa e do aprofundamento. Porém, tudo isso nasce da... De uma parceria criada obviamente com foco no financeiro e no marketing né porque hoje e muito mais que só financeiro. A gente trabalha esse universo que não é explorado. A gente precisa muito sair do nosso convívio, da nossa zona de conforto. O carnaval por si só já tem as empresas atreladas e que você sabe que vai de alguma forma está sendo parceira. Mas se você não buscar fora desse universo… Não adianta! Porque você não evolui muito. Alexandre Louzada: - E isso só será solucionado no dia que a LIESA ou o órgão que rege o carnaval ser responsável também... Dono do produto a ser vendido para as televisões... Renato (concorda) Alexandre Louzada: - Porque o que prejudica mais é a gente não conseguir recursos externos é porque existe um dono porque é a rede Globo, entendeu? E eu entendo... é um espaço caro, ela pagou por isso. Ela faz dinheiro com essas propagandas. Então se a gente inseri... Renato (concorda) Alexandre Louzada: - Um produto nosso, ela não vai querer mostrar porque ela não esta ganhando, entendeu? Lailla: - Então esse seria limite? Alexandre Louzada: - É. Não, ela não aceita de forma alguma, entendeu? Você tem que negociar com ela. Então, o dia que as escolas de samba forem assim uma coisa mais democrática. Todas as estações de televisão transmitissem o Carnaval seria mais fácil porque ficaria pulverizado. O ideal seria ter um telão no fundo da Sapucaí quando a escola entrasse e passasse a marca da empresa patrocinou a Mocidade, no caso, entendeu? Renato: - Seria até um sonho do patrocinador. Alexandre Louzada: - Exatamente. Como acontece no futebol, entendeu? Está passando o jogo, a gente pensa que o estádio está enfeitado com todas aquelas marcas. Aquilo é só virtual entendeu?


Renato: - É... Alexandre Louzada: - A gente está desfilando e aparecendo lá Brahma. Está para aparecendo, é... A Friboi ano passando. Fica aparecendo lá na telinha. A gente não está ganhando pra isso. Quer dizer é o patrocinador do evento que é contratado da TV Globo que transmite entendeu. Mas vai chegar um ponto desse entendimento. Mas pra isso não sei quando vai terminar essa crise política, essa Lava Jato interminável. Quer dizer, não sobrou nin... Não vai sobrar ninguém. Entendeu? Eu acho que quando mudar a política do país e que é que tenha uma pessoa que dá a entender que nós fazemos cultura. Nós não fazemos dinheiro. Quer dizer não é uma empresa com fins lucrativos. Mas que precisa do apoio. O próprio governo que destina o que vende melhor a imagem do país do Rio de Janeiro. É a Lava Jato ou a do carnaval? Né! Você vê que mexeu... O prefeito mexeu no carnaval aqui e deu essa confusão toda. E o próprio carnaval faz parte do carioca. Ele não aceita não ter. E é até mesmo o carnaval é uma forma de protestar entendeu. É a única coisa verdadeiramente democrática. A gente está até mesmo se colocando... A Índia luta também com essa questão das castas que estão caindo à medida que o tempo passa, entendeu? A gente aponta isso no enredo. Essa similaridade do carnaval com o Holiday lá. Que é um momento onde se congraçam entendeu, se abraçam. E todo mundo participa assim como no carnaval. Rodrigo Pacheco (interrupção): - Todos são iguais. Alexandre Louzada: - Numa ala você tem um grande empresário que mora na Avenida Atlântica ou em Ipanema e, então, um cidadão de Realengo... De Bangu... Uma pessoa de comunidade ali tomando a mesma cerveja antes do desfile entendeu? O carnaval não pode perder isso. Se ele perder isso também vai ser uma coisa chata de se ver. Renato: - É... A gente tem algumas perguntas, mas aí com a conversa inicial algumas já foram até respondidas né, Lailla? Lailla: - Sim. Renato: - É... Deixa a gente só passar o olho aqui pra ver se alguma faltou. É... A gente sabe que vocês falam “Mocidade como a escola de samba”. Mas assim, o contato que vocês tiveram com essas empresas que patrocinam... Que já patrocinaram a escola. É... O que vocês acham que contribuem pra elas? Nesse caso, assim de imagem ou de retorno pra elas? Alexandre Louzada: - O mundo inteiro! Vamos colocar que o mundo inteiro vai ver. E eles começam a entender quando se fala de Índia entendeu. Se tá ali a questão do gado que a gente está falando da cultura da cana que foi o primeiro produto que chegou aqui e criou um ciclo no


Brasil colônia. É... Isso tudo e discutido lá fora. Então, sabe-se bem explicito de que foi um enredo patrocinado e que governo nenhum patrocinou. Nenhum governo deposita dinheiro. Vai reunir... Rodrigo Pacheco (interrupção): - As empresas. Alexandre Louzada: - As empresas, entendeu? Os parceiros que tem pra ver, pra falar do nosso país e tal. É por aí e isso é uma boa propaganda. Tanto é que toda vez... Antes de Índia a gente foi em outro país aí que teria apenas um carro num outro enredo. E nos nunca levamos um não. A gente pode levar um não do que se pretende financeiramente. A gente pode levar um não financeiramente. Entendeu. Mas... A gente, eles... hoje eles entendem isso. Eles gostam de fazer esse tipo de propaganda que é muito barato para eles. Rodrigo Pacheco: - É uma conta muito positiva. E na verdade existem dois formatos em relação a isso. Existe um pacote pronto, né, ou seja, ééé, vou te dar um exemplo: A Vila Isabel tá falando que vai fazer assim: de volta não, “Corra que o futuro vem aí” Renato: - (Concorda) Rodrigo Pacheco: - Mas que é um enredo encomendado pela Nissan. Que a Nissan tem um laboratório de futuro são os carros mais futuristas do mundo e que eles querem lançar em dois mil e vinte alguma coisa, ou seja, isso é muito segmentado é especifico para atender a uma... é.. Uma colocação, necessidade, enfim. A Mocidade ela tem feitos trabalhos macros, então quando eu falo de Índia eu não falo especificamente de nenhuma empresa indiana, eu não falo especificamente de nenhuma área de atuação... Alexandre Louzada (fala por cima): - Nenhum produto. Rodrigo Pacheco: - Ah! Eu tenho, nós temos aqui no Brasil, no Rio, a maior... é.. Empresa de petróleo da Índia e que hoje é muito forte no Brasil, a gente não fala de petróleo. Renato: - (Concorda) Rodrigo Pacheco: - Eu tenho o gado Zebu que é uma grande fonte de economia e a gente não fala especificamente do gado zebu, ou seja, que a gente fala? A gente fala do país. Então, isso na verdade aquece pra eles de maneira global... Alexandre Louzada (fala por cima): - Todas as áreas. Rodrigo Pacheco: - Todas as áreas e você tem só de desfile, sem contar o pré-Carnaval, você tem todas as etapas, mas só de desfile você tem setenta e cinco minutos. Quanto não custaria setenta e cinco minutos de propaganda...


Alexandre Louzada (fala por cima): - Pra cento e tantos países? Rodrigo Pacheco: -... Pra cento e dezoito países ao vivo? Renato: - (Concorda) Rodrigo Pacheco: - Não tem preço, né? Isso é pro-je-ção. E o retorno é imediato, pra vocês terem uma ideia nós começamos a desenvolver o nosso enredo do Marrocos e tava lá ainda frio, no início do trabalho... É, começou a crescer, as procuras começaram a aumentar muito em relação a viagens ao Marrocos e aí eles reativaram a linha área que existia o voo Rio de Janeiro/Casablanca, que eles já tinham (estalos com os dedos) acabado com ela há mais de dez anos atrás porque não tinha público. Renato: - (Concorda) Rodrigo Pacheco: - Tanto que eles vieram pra esse avião, pediram pra Mocidade ficar no aeroporto ficar fazendo um show pra chegada, pra recepção e voltou e tá lá. O voo taí. Rio de Janeiro/ Casablanca. Hoje é a principal porta de entrada pra Europa. Grande parte dos brasileiros vão do Rio de Janeiro pra Casablanca e de Casablanca vão pra França, vão pra Espanha, que é muito perto e é muito mais barato... Alexandre Louzada: - (Concorda) Alexandre Louzada (fala por cima): - É. Hoje quem quer viajar barato pra Europa vai vir à Casablanca. Rodrigo Pacheco: - Ou seja, isso aqueceu o turismo, aqueceu a vontade de conhecer, aqueceu tudo. Alexandre Louzada: - Olha, eu vou te dar um outro exemplo. Um tempo passado que eu já estive na Mocidade, ééé, eu ainda não vi a notícia de que foi lançado, mas no desfile da Mocidade foi testado uma câmera trezentos e sessenta graus, uma filmadora trezentos e sessenta graus em forma. Creio eu que seja uma bola ou uma coisa assim, ééé, a escola recebeu um dinheiro pra deixar testar, pra você ver a importância porque essa empresa, japonesa, ela é (pausa rápida para raciocínio) o maior evento que ela poderia, como é que se diz? Assim... Mostrar... Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada: -... Trezentos e sessenta graus o que se passa. Eu mesmo não vi nem aonde a câmera foi instalada, porque foi pedido um sigilo absoluto, eles cercaram a alegoria toda, entendeu? Porque tem espionagem industrial... Renato (fala por cima): - Claro.


Alexandre Louzada: -... Essa câmera nem foi lançada ainda, mas já foi testada anos atrás, pra você ver o que o Rodrigo estava falando aí, coisas que são projeções. A Nissan vai lançar em 2020 o carro que a gente já sabe mais ou menos como é, ééé, mas tá... Renato (fala por cima): - Testando. Alexandre Louzada: -... Começando a fazer aqui. Rodrigo Pacheco (interrupção): - É uma ótima ferramenta de propaganda, de publicidade, e isso pra gente, ééé, a cada dia que passa fica mais importante a busca da parceria externa, porque a economia brasileira... (Tosse) Rodrigo Pacheco (interrupção): -... Do jeito que tá, as empresas do jeito que estão, não consegue, você hoje não consegue um financiamento interno... Renato: (Concorda) Rodrigo Pacheco (interrupção): -... Geralmente qualquer tipo de financiamento é capital externo... Renato: - (Concorda) Rodrigo Pacheco (interrupção): -... Principalmente se for em dólar ou em euro, que pra eles saí muito mais barato, entendeu? Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada (interrupção): - Você vê que nós temos um espetáculo dessa magnitude e a maioria das coisas utilizadas, fora o ferro, a madeira, a cola, tudo vem de fora, entendeu? Nós poderíamos de repente, daqui um tempo, é uma empresa, uma indústria indiana ou coreana ou chinesa vai estar instalando uma coisa no Brasil que sabe que não vai ter um mercado... Rodrigo Pacheco (fala por cima): - É. Alexandre Louzada: -... Entendeu? Mas tudo que a gente compra ou é chinês ou é coreano ou é indiano. Todo material de Carnaval, os tecidos de brocados, tudo a preço de banana, lá né? Entendeu? A gente paga muito caro. Eu tava discutindo hoje com o Rodrigo que queria usar um negócio de setenta e cinco metros, entendeu? Mas não são cinco metros que eu vou usar... Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada: -... Entendeu? A escola contribui até mesmo pra despertar interesse. Tem empresas que hoje fornecem pra Carnaval e nem sonhavam de um dia a matéria, o material que eles fabricam seriam utilizados em Carnaval, como é o caso do etafon, que um acondicionamento


térmico, isolante e que hoje fazem jolantês, que foram as golas para ficarem mais leves. É um material que não foi pensado pra isso... Rodrigo Pacheco (interrupção): - Mas hoje é importante (tosse). Alexandre Louzada: -... Pois é. É o caso celion, que é revestimento de parede, as indústrias que fazem papel de parede, revestimento de piso, elas começam, agora já mostram pra gente coisas especificas que podem ser usadas no Carnaval, sabe? Que a gente trabalha com peço. Ééé, preço. Então, eu acho que o Carnaval também desperta esse interesse de, da indústria, né? De crescer. Isso gera emprego. Renato: - (Concorda) Renato: - Quando tem, por exemplo, um enredo patrocinado, não sei se esse é o termo certo..., mas um enredo que a escola pensa em ter parceiros. Como que se pensa no projeto? Vocês vão buscar a empresa, a empresa que entra em contato? Rodrigo Pacheco: - Isso é muito relativo. ÉÉÉÉ, num primeiro momento a gente busca (tosse) em já pensar em algo direcionado... Alexandre Louzada (interrupção): - É, mas eles que, ééé, estão, ficam, como assim, avião esperando a hora de posar. (Risos) Alexandre Louzada: - A gente sabe todos os enredos que estão ainda voando aqui em cima, entendeu? ... Rodrigo Pacheco (interrupção): - Alguns já tem até um tempo que tá... Alexandre Louzada (interrupção): - A Índia já tá, desde que eu era da Beija-Flor... Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada: -... Só que, ééé, quando tem pessoas de marketing, profissionais de marketing... Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada: -... Que vivem disso, de oferecer enredos... Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada: -... Porque sabem que país tal tá interessado em ser enredo, entendeu? Ou uma empresa que vem divulgar um produto. Então propõe, mas cabe a gente, ééé, na época lá da Beija-Flor, eu não tinha esse insite de fazer um enredo sobre a Índia dentro do Brasil, não viajando pra Índia...


Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada: -... Entendeu? Isso surge de inspiração mesmo. No caso daqui surgiu de uma, até com raiva. Eu já tinha um enredo pronto, desenhado, mas surgiu. E eu não vou ser contra de uma coisa que vem, que vai melhorar as condições da escola... Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada: -... E no momento de desespero veio uma coisa que depois foi se desdobrando, foi pesquisando pra chegar. Mas o enredo que chegou pra gente era só o boi, entendeu? Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada: -... Aí não interessaria pra ninguém... Renato: - Claro. Alexandre Louzada: -... Interessaria dinheiro, entendeu? Mas como fazer, o que adianta a Mocidade receber um bom dinheiro e fazer um enredo sobre o boi e levar um... Rodrigo Pacheco (interrupção): - Um chute. Alexandre Louzada: -... Um chute lá pro grupo de acesso. Rodrigo Pacheco (interrupção): - Mas durante o processo é interessante porque você tem empresas (tosse). Alexandre Louzada (fala por cima): - Ainda mais no momento onde a JBS é a grande estrela... Rodrigo Pacheco (interrupção): - Da operação “Carne Fraca” Alexandre Louzada (fala por cima): -... Entendeu? Rodrigo Pacheco: - E durante o processo você começa a interagir com , ééé.... Alexandre Louzada (fala por cima): - Vai crescendo. Rodrigo Pacheco: -... Do enredo, né? ... Renato: - (Concorda) Rodrigo Pacheco: - Então, você conversa com um grupo pequeno, mas esse grupo estende isso pra outra pessoa, aí aparece mais um representante, vem um empresa e na verdade eles fazem a coisa andar e chega um determinando momento que a própria empresa, por exemplo (Pausa) (Rodrigo Pacheco levanta para pegar um catalogo) Alexandre Louzada (Interrompe): - Tudo pode ser um enredo. Depende muito de como ele vai ser aceito pela sociedade...


Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada: -... E pela comissão de julgadores, todo país se tem um mínimo de cultura pode ser um enredo, entendeu? (Rodrigo Pacheco mostra para Renato e Lailla o catalogo) Rodrigo Pacheco: - Essa é uma rede de hotéis e eles nos procuraram, entendeu? Esso é um exemplo da repercussão tema, porque é uma rede de hotéis, eles só têm castelos, eles não têm... Alexandre Louzada (fala por cima algo inaudível) Rodrigo Pacheco: -... Eles assumem o castelo antigo e transformam em hotel. São noventa e oito no mundo todo... Renato: - (Concorda) Rodrigo Pacheco: -... Só na Índia são sessenta e alguma coisa e o público deles é o público elitizado, né? Classe AAA, ou seja, eles procuraram por quê? Porque eles têm interesse, o Carnaval é uma coisa, uma festa de repercussão mundial, então eles querem trazer, eles querem montar, estarem juntos com a escola no camarote pra vir com essa... Renato: - (Concorda) Rodrigo Pacheco: -... Galera elitizada para o Carnaval... Alexandre Louzada (fala por cima): - Olha, nós não mostramos... Rodrigo Pacheco: -... Ou seja, eles não querem nem explorar a marca no empurrado de carro... Alexandre Louzada (fala por cima): - Nós nem, isso. Rodrigo Pacheco: -... Não querem nada disso... Alexandre Louzada (fala por cima): - Só querem “visite a Índia”, é isso. Rodrigo Pacheco: -... Eles querem trazer pessoas... Alexandre Louzada (fala por cima): - A Índia tem interesse de... Rodrigo Pacheco: -... Ricas. Alexandre Louzada (fala por cima): -... Divulgar Bollyood, entendeu? Nós não abordamos de uma forma especifica. Lógico, que na comissão de frente ou numa outra coreografia bem vai lembrar um filme indiano que você tem essas músicas entendeu? Mas se vê como, as pessoas vão chegando... Renato (fala por cima): - Vão expandindo, né? Alexandre Louzada: - É, exato. Eles têm interesse de divulgar a cultura deles principalmente. E é bom. Olha só, cada, até o Carnaval, vamos dizer assim de cem por cento, eu, sessenta por cento


de cultura indiana já está impregnado em mim. Isso de visão geral, nada tão aprofundado, mas até o Carnaval mais coisas vão estar na minha cabeça, ééé, sobre isso, essa é a contribuição também pra sociedade, pra comunidade que passa a entender, quem é Shiva, quem é Brahma, quem é Visnhu, entendeu? Que é uma coisa complicada. Mas é complicada porque a gente vai pesquisar e ler, mas aí você já tem contato com pessoas, aí me apresenta o cônsul e me apresenta uma pessoa que é uma sumidade sobre isso e a maneira como explica pra gente se torna mais simples... Renato: - (Concorda) Alexandre Louzada: -... Onde a gente entende o porquê de cada coisa, entendeu? Renato: - Então tem empresas que vão chegando conforme... Rodrigo Pacheco (fala por cima): - Aparecem, né. Renato: -... O projeto vai se desenhando, vai andando... Rodrigo Pacheco (fala por cima): - (não entendi) e interesse. Renato: - Tem mais alguma coisa? Lailla: - Acho que todas foram respondidas. (Risos) Renato: - A conversa foi fluindo então a gente tinha feito as perguntas, mas... Rodrigo Pacheco (fala por cima): - e surgindo também alguma coisa. Lailla (fala por cima): - Antes da escolha do enredo vocês procuram a empresa ou empresas que... Rodrigo Pacheco (fala por cima): - Não. Depende muito ééé... Alexandre Louzada (fala por cima): -... O Rodrigo tava com quatro propostas... Rodrigo Pacheco (fala por cima): -... Isso. Alexandre Louzada (fala por cima): -... Entendeu? Tinha um até com saco de dinheiro picado... (Risos) Rodrigo Pacheco (Pega o saco de dinheiro picado e mostra) Rodrigo Pacheco (fala por cima): -... É aqui ó. Alexandre Louzada (fala por cima): -... Do Banco Central, da Casa da Moeda, entendeu? E eu falei “Rodrigo isso já foi enredo. O dinheiro já foi enredo, eu já fiz, o Max Lopes fez na Vila.” Já tinha escrito dessa forma. Mas de repente também aonde que a empresa quer chegar... Lailla (fala por cima): Nossa! Rodrigo Pacheco (fala por cima): - Dinheiro que saí de circulação.


Renato e Lailla (Concordam) Alexandre Louzada: -... Entendeu? Aí vai amadurecendo. Pode ser que no ano seguinte venha uma ideia bacana pra... Rodrigo Pacheco (fala por cima): - É que eles queriam abordar, tipo a importância, a conscientização em relação a utilização do dinheiro... Renato (Concorda) Rodrigo Pacheco (fala por cima): - É tipo, quanto que se gasta, né... Alexandre Louzada (fala por cima): - Para fazer. Rodrigo Pacheco (fala por cima): -... Para fazer, para ter o dinheiro, porque... Alexandre Louzada (fala por cima): - A gente amassa. Rodrigo Pacheco (fala por cima): -... É. O dinheiro gasto. É custa dinheiro. E aí, só que era uma coisa pra gente ainda discutir mais tempo, mas também existia já... Alexandre Louzada (fala por cima): - Mas já é uma coisa interessante. Rodrigo Pacheco (fala por cima): -... Uma coisa de patrocínio. Renato (fala por cima): - Isso também fica na cabeça, né? Alexandre Louzada (fala por cima): - A pessoa saber que aquela nota de dois reais que as vezes você descarta, não liga e que tá toda amassada, custou tantos reais pra ser feita... Rodrigo Pacheco (Interrupção): -... E tem muita coisa envolvendo, você vê que, ééé, todas as notas têm sempre uma figura histórica, então tem desde lá de trás, você pode trabalhar história através do dinheiro. Você pode trabalhar a parte da, dos animais que hoje representam cada cédula... Alexandre Louzada (Interrupção): - E ele vende a parte, que ele é um profissional de marketing... Renato (concorda) Alexandre Louzada: -... Que ele passa pra mim, entendeu? No caso eu aqui, o carnavalesco ainda da Mocidade. Mas como, tem a minha intuição. Eu sei que isso não vai rolar pra esse ano, então eu não vou gastar muita cabeça com isso, eu vou investir na Índia, entendeu? Por exemplo, a Índia só ia rolar, tinha um contrato que são trinta dias... Rodrigo Pacheco (Interrupção): - Quarenta. Alexandre Louzada: -... Quarenta dias pra depositar uma primeira parcela. Falei “Rodrigo, olha só, é impossível que em quarenta dias eles vão resolver isso”. Não chegou um empresário com


uma mala de dinheiro aqui. Então tem todo um trabalho, um processo, com que esse dinheiro possa se tornar realidade. Falei “Vamos investir independente de qualquer coisa, já que eles aceitam essa versão que eu estou dando do enredo, é um bom enredo”. Eu troco de, tenho os meus de coração, mas se eu achar que o enredo não é bom, eu vou bater pé e vou insistir a gente vai se dar mal com isso, entendeu? Eu, por exemplo, tenho uma ideia pra esse, mas ainda não vendi pra ele, nãos ei se vou estar aqui. (Risos) Rodrigo Pacheco: - Vou guardar o dinheiro de volta. (Risos) Renato: - É, acho que é uma pergunta que a gente ainda não fez. É, a empresa em algum momento interfere, ou não? Ou depende também? Alexandre Louzada: - No tempo passado, aquilo que eu tava falando, interferia... Renato (Concorda) Alexandre Louzada: -... Porque era aquela coisa do, da... Vocês vão estudar marketing, né? Ou propaganda? Renato: - A gente tá terminando... Lailla (fala junta): - Terminando. Renato: -... O curso de Administração. Alexandre Louzada: - Mas é essa a pretensão? Renato: - É de marketing. Alexandre Louzada: - Então, o profissional de Marketing ele quer que a marca dele quando você tá vendendo um produto... Renato (Concorda) Alexandre Louzada: -... Cabe a gente inverter esse jogo. E, eu trabalhei com publicidade antes de ser carnavalesco então o poder de convencimento, que a gente vê muito em filme aquela mesa pra mostrar o que o cara criou em casa pro dono do produto, então isso vai muito da gente de catequiza-los do que é cultura, que patrocina cultura é importante... Renato (Concorda) Alexandre Louzada: -... A gente leva sempre pra esse lado, mas houve um tempo que era toma lá da cá... Renato (Concorda)


Alexandre Louzada: -... Eu quero seu dinheiro eu vou me ferrar, mas vou mostrar seu produto, entendeu? Não é bem assim. Um bom profissional de Marketing vai entender também o valor institucional que tem a marca, de agregar valores, não somente numa transação financeira, a imagem da empresa cresce muito sabendo que está ajudando um espetáculo que move tantos, tantas pessoas e atinge diretamente. Bem eu já ouvi na internet, pessoas bem simples quando leram o enredo achando que Brahma era a cerveja... (Risos) Alexandre Louzada: -... Ao invés do deus, estava embutindo... Rodrigo Pacheco (Interrupção): - Pra poder conseguir o dinheiro pro projeto. Alexandre Louzada: -... Mas isso aí já são os pulos do gato do profissional de propaganda. Tipo, eu posso fazer um enredo sobre a Antártica... Rodrigo Pacheco (Interrupção): - E usar o duplo sentido. Alexandre Louzada: -... Exato. Renato (Concorda) Renato: - Tem mais alguma coisa? Lailla: - Acho que acabou. Renato: - Responderam tudo. Conseguimos muita coisa. (Tosse) Rodrigo Pacheco: - Surgindo mais alguma coisa também, passa, manda pra gente. Renato: - Tá. Rodrigo Pacheco: - Na medida do possível a gente vai.


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