Nobres subversivos: a performance de mestres-salas e porta-bandeiras e possíveis debates sobre gênero, sexualidade e raça1
Felipe Gabriel de Castro Freire Oliveira (PPGAS-USP/São Paulo)
Palavras-chave: Performance, marcadores sociais da diferença, escolas de samba
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre um caso que acredito ser bom para pensar questões sobre performance e gênero, discussão que foi recentemente iniciada dentro de uma pesquisa de mestrado mais ampla sobre a transmissão de conhecimento entre casais de mestre-sala e porta-bandeira no carnaval das escolas de samba paulistanas. Como será apresentado mais detalhadamente abaixo, as escolas são agremiações que realizam um concurso de desfile durante o carnaval e, para tanto, se organizam ao longo de todo um ano por meio de um calendário de eventos e preparações de seus diversos componentes. Um deles é o casal de mestre-sala e porta-bandeira, que desenvolve uma dança específica ostentando e apresentando o pavilhão (uma bandeira com o brasão e as cores da escola de samba). Esses movimentos são baseados na ideia de que a porta-bandeira, representada de forma feminilizada e portando esse objeto, é cortejada e protegida pelo mestre-sala, que deve ser masculinizado. Dessa forma, o casal se baseia também em uma concepção de gênero, desempenhada na expressão corporal por meio das técnicas da dança. Para pensar sobre isso e organizar melhor esse exercício de análise, escolhi trabalhar com o caso de Anderson Morango, primeiro homem a ser empossado como porta-bandeira no Brasil, ao lado do mestre-sala Wladimir Bulhões, na Acadêmicos do Sossego, escola de samba integrante da Série A do carnaval carioca. Escolhi tal caso apesar de trabalhar no mestrado com foco maior sobre os casais paulistanos por ser justamente bom para pensar as possibilidades criativas e, em certo sentido, politicamente subversivas do carnaval das escolas de samba. O carnaval, nesse sentido, por conta de sua dimensão de liminaridade, pode ser um campo de criação de narrativas sobre o mundo social e também de disputa política. Trabalho apresentado na 31ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 09 e 12 de dezembro de 2018, Brasília/DF. 1