O bairro e a escola de samba : sociabilidade e pertencimento em Vila Isabel (RJ)

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pessoas vão chegando e esperam no espaço destinado a sua ala. Nesse período anterior ao ensaio, os recados são dados pelos coordenadores de ala, e os integrantes vão estabelecendo relações de amizade e também de hostilidade entre si. Se, no momento da inscrição, fui informada que os ensaios ocorreriam nas quartas e sextas-feiras, com a proximidade do carnaval os ensaios ocorridos aos sábados também passaram a ser obrigatórios. Conhecidos como “ensaios-show” e dirigidos a um público bastante heterogêneo, os ensaios de sábado - ora funcionando como substituto dos ensaios de domingo, ora funcionando como um terceiro dia de ensaio na semana, articulavam um novo arranjo de integração e sociabilidade entre os componentes. Não mais presos em suas alas, os componentes tinham a possibilidade de conhecer os demais integrantes da escola, assim como de estabelecer outro tipo de relacionamento com os “conhecidos”: aqueles com quem já se tem algum tipo de conhecimento, pelo fato, por exemplo, de pertencerem a mesma ala, mas com quem não se tem laços de intimidade. Sempre ia sozinha aos ensaios de rua, pois gostava de circular entre as pessoas no início e no fim dos ensaios, e porque durante o ensaio tinha que ficar no espaço da minha ala. No primeiro ensaio de sábado a que fui, procurei por uma companhia, pois diferentemente dos ensaios de rua que tinham um local específico para onde eu deveria ir, na quadra as pessoas estariam espalhadas e eu ficaria sozinha. Sem arranjar companhia e sem alternativa, fui para o ensaio sozinha. Assim que entrei na quadra, um grupo de mulheres da minha ala veio em minha direção dizendo que eu tinha demorado e que quase todo mundo da ala já tinha chegado. O grupo ficou junto comprando bebidas e comidas e dançando juntas não só samba, ou especificamente o samba-enredo daquele ano como estávamos acostumadas, mas também todas as outras músicas que tocavam. Eu era uma das mais novas da ala e as mulheres mais velhas ficavam me imitando dançar os passinhos e danças “modernas”, isto é: músicas baianas e funks coreografados. Assim ficamos até o momento em que nos dirigimos ao local onde era registrada a presença do dia. Como a presença só era recolhida na maioria das vezes após as duas horas da manhã, depois de anotada a presença o grupo se dispersava e ia embora. Na hora da saída, sempre arrumava uma carona. Seja de carro até um lugar melhor para eu pegar ônibus, seja na minha caminhada até a frente da UERJ no início do Boulevard Vinte e Oito de Setembro, local onde eu pegava ônibus. Esse quadro de convivência e integração permaneceu nos demais ensaios. Isso que fez com que minha percepção sobre a obrigatoriedade dos ensaios de sábado


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