Confia na lança do santo guerreiro!”: cultura e política na carreata de São Jorge do GRES (Grêmio Re

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“Confia na lança do santo guerreiro!”: cultura e política na carreata de São Jorge do GRES (Grê mio Recreativo Escola de Samba) Impé rio Serrano/RJ. Carlos Eduardo Dias Souza 1 Departamento de Sociologia, FFLCH-USP Resumo: Ao analisar as práticas de devoção a São Jorge e a Ogum realizadas no âmbito da carreata em suas homenagens em 2011 como expressão de disputas políticas dentro da escola de samba Império Serrano, no Rio de Janeiro, busca-se neste artigo compreender discursos e práticas sobre tradição, memória e religião. A partir de observações feitas na carreata realizada naquele ano, véspera de eleição na escola, e também de vivências pessoais em outras situações de sociabilidade, pretende-se aqui desenvolver a análise dessas práticas religiosas de duas formas: a primeira, dentro de uma situação de disputa política que demanda a reconstrução de discursos tradicionais como forma de legitimação; a segunda busca articular esse processo de reconstrução a discussões sobre cultura e política, tomando a cultura co mo prática exercida pelos agentes a partir de um repertório comum de temas e significados disponibilizados em contexto de periferia urbana e também dentro da hierarquia das grandes escolas de samba do Rio. Palavras-chave: Tradição; Religiosidade; Política.

O meu Império é raiz, herança E tem magia pra sambar o ano inteiro Imperiano de fé não cansa Confia na lança do Santo Guerreiro E faz a festa porque Deus é brasileiro! O trecho acima, refrão do samba-enredo O Império do Divino de autoria de Arlindo Cruz – ele próprio um imperiano de fé – junto a outros compositores 2 e com enredo homônimo, foi defendido pela escola no ano de 2006. Esse enredo, desenvolvido num desfile em que a escola veio toda de verde, branco e dourado, mexia com os brios do torcedor do Império Serrano, recém-retornado do grupo de acesso do carnaval carioca em 2001 e desde então lutando para se manter entre a nata das escolas de samba que desfilavam no grupo especial do carnaval do Rio de Janeiro. Já em 1984, no famoso samba do enredo Bumbum Praticumbum Prugurundum, a escola criticava as “super escolas de samba S/A” que 1

Aluno de doutorado do Programa de Pós -graduação em Sociologia da USP, bolsista FAPESP. E-mail: kdudiaz@g mail.co m. Agradeço a Adilson Chacon Filho por me lembrar de detalhes que a memória e as anotações não captaram; agradeço, ainda, às sugestões dos colegas presentes na sessão do dia 2 de dezembro de 2014, por acaso também dia do samba, do ST Crenças, discursos e práticas religiosas do V Encontro do GT História das Religiões e Religiosidades, para o qual foi preparado este artigo. 2 Alem de Arlindo Cru z, co mpuseram a obra Maurição, Carlos Sena, Alu ízio Machado e Elmo Caetano.


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