Nós somos batutas: uma antropologia da trajetória do grupo musical carioca Os Oito Batutas e suas ar

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que chegava a me dar certo desapontamento de não encontrar aquele debate tão citado (e esperado). Na medida em que ia lendo os vários jornais do Rio de Janeiro próximos ao período da estréia do grupo, em abril de 1919, ia aumentando minha decepção por não encontrar nada sobre o grupo no tão falado Cine Palais43. Nem mesmo nos anúncios publicitários ou nas programações dos cinemas eles figuravam como atração na maioria dos jornais por mim pesquisados44. A primeira citação a Os Oito Batutas que encontrei em 1919 foi uma nota nos anúncios comerciais, na última página do jornal Correio da Manhã45 do dia 07 de abril46, onde se expunham as atrações dos vários cinemas e teatros da cidade47. A propaganda era da “Agência Geral Cinematográfica Claude Darlot”, administradora dos cinemas Palais e Parisiense, sendo que o espaço reservado a estes era de destaque ao fim da página, com fotos das protagonistas dos filmes anunciados, “Meu Ídolo” com “Miss Edna Goodrich” no primeiro e “A Estrada Real” com “Marian Irvayne” no segundo. No canto direito do quadro do Cine Palais está a referência aos Oito Batutas, nos seguintes termos:

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Já se iam três dias que eu acompanhava as notícias de 1919 nos jornais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e nada de meus nativos! Neste período estava em contato com outros colegas em trabalho de campo que passavam por situações de, ao chegarem a campo, não encontrar mais os movimentos ou grupos que iriam estudar a princípio, o que despertava em meus colegas o sentimento de perda dos nativos, o que parecia muito com meu sentimento nestes dias iniciais da pesquisa hemerográfica. Estes sentimentos são interessantes na medida em que nos colocam frontalmente a uma desconstrução da pré-conceituação do campo. Aqui a noção de “rastreamento do social” de Latour (2008) foi inspiradora. 44 Em alguns dos jornais consultados não consegui encontrar referência nenhuma aos Oito Batutas em todo o ano de 1919. 45 O Correiro da Manhã foi um jornal carioca diário e matutino fundado em 15 de junho de 1901, por Edmundo Bittencourt e extinto em 8 de julho de 1974. Foi durante grande parte de sua existência um dos principais órgãos da imprensa brasileira, tendo-se sempre destacado como um jornal de opinião, caracterizado como oposicionista. Em 1919, o jornal apoiou mais uma vez Rui Barbosa à presidência, combatendo a candidatura de Epitácio Pessoa. Diante da vitória deste último, o Correio capitaneou a oposição a seu governo. Durante a campanha da Reação Republicana, que, no momento da sucessão de Epitácio Pessoa, promoveu a candidatura de Nilo Peçanha em oposição a Artur Bernardes, o Correio colocou-se ao lado do primeiro, declarando-se decididamente antibernardista. Cf. (DHBB-FGV, acessível em http://cpdoc.fgv.br). Segundo Martins e Luca (2008: 101), o Correio com duas edições diárias tinha uma tiragem de 40 mil exemplares, o que era um número expressivo para o Rio da época. 46 Neste mesmo dia o jornal A Notícia anuncia a fundação do Partido Republicano Nacional, como uma “nova via de valor nacionalista”. Neste jornal não há menção à estréia dos Batutas, talvez por que o Palais não fosse seu anunciante. 47 Confesso que senti certo alívio ao encontrar tal anúncio!

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