Comunicacoes ´ Modernidade, Instituicoes ´ e Historiografia Religiosa no Brasil ~
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AS RELIGIÕES DE CLARA NUNES: O CANTO COMO MISSÃO ______________________________________ Profa. Dra. Silvia Maria Jardim Brügger Universidade Federal de São João del Rei sbrugger@mgconecta.com.br ______________________________________
Introdução Esta comunicação é fruto de uma pesquisa que venho desenvolvendo sobre a vida e a obra da cantora Clara Nunes (1942-1983). Aqui, pretendo refletir especificamente sobre a importância das religiões na trajetória da intérprete. Assim, procurarei analisar a presença da temática religiosa em sua carreira, mas também como ela se relaciona com a sua experiência pessoal de fé. As fontes que embasam o trabalho, além do repertório da cantora, são entrevistas realizadas com pessoas que conviveram com ela em diferentes momentos de sua vida e depoimentos da própria registrados em matérias jornalísticas. Antes, porém, de entrar no tema propriamente dito da comunicação, vale ressaltar que Clara Nunes iniciou sua carreira discográfica, em 1966, com o LP “A Voz Adorável de Clara Nunes”, dedicado, sobretudo, a boleros e sambas-canção. Suas primeiras gravações de sambas aparecem no LP “Você Passa, Eu Acho Graça”, de 1968. Mas, é a partir de 1971 que sua carreira assume uma vinculação expressa com a busca de valorização da cultura popular, em especial a de matriz afro. É também a partir de então que as músicas com temáticas religiosas, ligadas principalmente às religiões dos orixás, assumem papel de destaque em seu repertório. É a importância da temática religiosa em sua obra que justifica a proposta desta comunicação de problematizar o seu significado e sua relação com a vida da intérprete. Clara Francisca: A formação católica Clara Francisca - nome de batismo da cantora - nasceu em uma família extremamente católica, em Paraopeba, interior de Minas Gerais, em 1942. Segundo depoimento de Mariquita, irmã de Clara, os pais eram pessoas de muita fé e impunham aos filhos participarem na reza do terço, em casa, uma vez por semana. As crianças, porém, cansavam durante a oração, sobretudo, quando uma vez por mês se rezava o rosário. Aí aos poucos, eles iam dormindo e a mãe os retirava para a