Do samba à bossa nova: uma invenção de Brasil
Pedro Bustamante Teixeira 1
RESUMO: A partir de uma leitura da canção História do Brasil de Lamartine Babo, o presente artigo pretende demonstrar a importância da invenção que ocorre nos ritmos brasileiros com a incorporação das síncopes em seus sistemas em processos de hibridismo cultural e o papel da síncope na constituição de um ethos na música popular brasileira, do samba à bossa nova.
Palavras-chave: Síncope; Lamartine Babo; História do Brasil; Identidade
No ano de 1933, o jornalista e compositor Lamartine Babo apresentava em forma de marchinha uma bem humorada versão da história do Brasil. Na primeira parte da marchinha, que no caso corresponde ao refrão, encontramos:
Quem foi que inventou o Brasil? Foi seu Cabral! Foi seu Cabral! No dia vinte e um de abril Dois meses depois do carnaval
No refrão da marchinha História do Brasil, primeiramente, observamos a significativa troca do verbo “descobrir” pelo verbo “inventar” na pergunta inicial da canção, o que por si só significará uma releitura descomprometida da versão oficial da história nacional na qual Cabral descobre o Brasil no dia 22 de abril de 1500. A partir dessa troca, Lamartine Babo, no início da década de 30, apontava para a famosa tese de Benedict Anderson na qual a nação é resultado de uma invenção (ANDERSON, 1996). Para responder a pergunta inicial da marchinha carnavalesca, um coro lúdico demonstra o domínio da versão oficial e oficiosa da nossa história, e de maneira apressada irá responder a questão: “Foi seu Cabral”, sem, contudo, atentar-se para a mudança do verbo. Revelando com mais clareza toda a confusão, o enunciador, aqui coletivo, representado pelas vozes do coro, que simboliza o próprio povo brasileiro, trocará a data do descobrimento do Brasil antecipando-a em um dia. Não bastando, o coro complica ainda mais essa história, ao dizer que o descobrimento, ou a invenção, se dá dois meses depois do carnaval. 1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras Estudos Literários da UFJF.
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