Marcelo de Mello Rangel; Mateus Henrique Faria Pereira; Valdei Lopes de Araujo (orgs). Caderno de resumos & Anais do 6º. Seminário Brasileiro de História da Historiografia – O giro-linguístico e a historiografia: balanço e perspectivas. Ouro Preto: EdUFOP, 2012. (ISBN: 978-85-288-0286-3)
NARRATIVAS SOBRE A HISTÓRIA E AÇÃO POLÍTICA NO DOMÍNIO DOS ENREDOS DAS ESCOLAS DE SAMBA DO RIO DE JANEIRO DURANTE A DÉCADA DE 1980 Eduardo Pires Nunes da Silva* O riso como arma no carnaval O carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro caracteriza-se como espaço privilegiado para observarmos diversas nuances de articulações político-sociais em distintas temporalidades. Originário do calendário cristão, o carnaval sedimenta-se como uma festa em que o riso ocupa lugar central. Rachel Soihet mostra que uso do “recurso do riso, como instrumento de crítica, revela uma prática muito antiga, que remontaria a um período da história da humanidade anterior à própria formação do Estado” (2008: 11), ou seja, a antiguidade. Mikhail Bakhtin mostra que o riso festivo durante os carnavais medievais dirigiam-se contra a hierarquização social (1987: 9). Soihet ainda nos lembra do pensamento de Aristóteles, de que “o homem é o único ser vivente que ri”, sendo o riso um dom divino unicamente concedido ao homem (2008: 13-14). Apesar do discurso de inúmeros sambistas do carnaval carioca de supressão do riso na festividade em detrimento da modernização dos desfiles das escolas de samba, os anos de 1980 nos oferecem vista privilegiada para encontrarmos no discurso de enredo das agremiações carnavalescas um sentido político-social latente. A década em questão marca a redemocratização política brasileira, ocorrida de forma lenta, gradual e, na visão dos militares, “segura”. O Rio de Janeiro à época era um “centro tradicional de oposição ao regime” (SILVA, 2003: 272), irradiador de movimentos como a campanha das Diretas Já!, para o restabelecimento de eleições presidenciais. O carnaval das escolas de samba da cidade, primeiramente de maneira ainda velada e no fim da década de maneira explícita, faz eco às vozes políticas cariocas dissonantes ao regime, como veremos adiante neste trabalho. Os estudos de Rachel Soihet sobre o carnaval carioca durante a primeira metade do século XX iluminam as vias teóricas que utilizarei. A historiadora trabalha com o conceito de *
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Agência financiadora CAPES.
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