A ESTÉTICA CRIADORA DE NOEL ROSA
Juliana dos Santos Barbosa (PG-UEL) julibarbosa@hotmail.com Apresentação
“Todo ato de criação é um ato de compreensão que redimensiona o universo humano”. As palavras de Fayga Ostrower (1999, p. 217) são inspiradoras para se pensar a estética criadora de um compositor que redimensionou o samba. Noel de Medeiros Rosa criou sua obra entre 1929 e 1937, deixando um legado de mais de 250 composições que referenciam e inspiram constantemente o cenário poético-musical e a cultura do samba. Neste artigo nos propomos a analisar as relações entre o artista e seu ambiente, mediadas pela produção artística. Tomamos por “ambiente” um amplo conjunto onde estão considerados o meio urbano e social, a vida cultural e a trajetória do próprio samba que naquele período fazia parte das rodas de botequim (como ainda hoje) e alcançava as paradas de sucesso nas emissoras de rádio. Como Noel percebeu a realidade? Em que ambiente criativo? Que valores éticos, estéticos, políticos e sociais estão presentes em sua obra? De que forma ele ressignifica o universo humano? É o que pretendemos tratar aqui focalizando trechos de seis composições de seu repertório, que serão observadas a partir de aportes conceituais das áreas de criação artística e expressividade linguística.
A Opção pela Cultura Popular Nascido em 11 de dezembro de 1910 no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, Noel Rosa começou sua vida como compositor aos 19 anos, quando estudava medicina. Não demorou muito tempo para que o Brasil perdesse um futuro médico e ganhasse um de seus mais representativos compositores da cultura popular. Essa não pode ser considerada, entretanto, mera troca de profissão, mas a certeza de que a música popular era a sua vida. Conforme Ostrower (1999, p.72) “é o próprio enfoque existencial dos artistas que está na raiz das decisões seletivas de sua linguagem”.