Revista Política Democrática ● Ano X ● Nº 29 (páginas 153 - 156)
O Carnaval do Povo... Existe! Texto de Luiz Carlos Prestes Filho*
O desfile das escolas de samba dos grupos C, D e E, que é realizado todos os anos na Estrada Intendente Magalhães, no bairro de Madureira, “é um dos mais importantes projetos culturais e de inclusão social do mundo”, afirma com autoridade o urbanista Ephim Shluger, que trabalhou mais de dez anos para o Banco Mundial em Nova Iorque, desenvolvendo projetos em países asiáticos, africanos e europeus. É dele a autoria do projeto que recuperou o sítio histórico de São Petersburgo, na Rússia, para o entretenimento e o turismo. Durante três noites, madrugada adentro, 41 escolas de samba apresentam seus desfiles que podem e devem ser comparados com os grupos Especial, A e B, realizados no Sambódromo, na Marquês de Sapucaí. A diferença? A marca comunitária dessas escolas, coisa que as grandes já perderam. E - claro - o entusiasmo popular. A cada desfile surgem inovações. Porém, o mais importante em Madureira é a concreta proposta de respeitar a tradição e a raiz do carnaval carioca. As menores escolas cariocas sabem o que é samba no pé. O evento reúne cerca de 30 mil pessoas diariamente. Dessa maneira, são cerca de 120 mil pessoas domingo, segunda, terça e sábado, quando foi realizado o desfile das campeãs. Como não existe cobrança de ingressos, parece uma viagem no tempo, à época das pequenas arquibancadas modulares ou da simples corda que separava a escola de samba do público, permitindo ao espectador e ao desfilante estar no mesmo nível. É a população da zona oeste, da zona norte e da Baixada Fluminense que ocupa este espaço planejado e organizado pela Prefeitura e pela Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro (AESCRJ). Muita gente vem para o desfile com suas cadeiras de praia, guarda sol, mesinhas, isopores e garrafas térmicas. Padronizadas, as barracas de comes e bebes se derramam ao longo de um quilômetro em luzes coloridas. Na opinião do urbanista Ephim Shluger “a infraestrutura não corresponde à magnitude do que acontece com tanta espontaneidade e originalidade, aqui está aquele carnaval que tantos dizem que foi perdido para sempre, aqui está a festa das comunidades do samba da periferia desassistida em equipamentos culturais, que não sabe o que é ter um cinema, sala de teatro, museus ou livrarias perto de casa”. As 16 escolas do grupo C desfilaram este ano com uma média de 600/1.000 sambistas; as 13 escolas do grupo D com a média de 500/600; e a do grupo E com 350/500. Por Revista Política Democrática ● Ano X ● Nº 29 (páginas 153 – 156)