Introdução Noite de desfile é uma festa. Também não poderia ser diferente. Afinal, estamos no carnaval, uma manifestação que funda sua identidade sobretudo na alegria. Ao longo das diversas épocas e civilizações, absorveu características múltiplas. Tudo era motivo para comemorações e excessos: homenagens ao Boi Ápis, no Egito, ao Sol, que voltava aparecer depois do inverno, aos deuses da mitologia greco-romana etc. No Brasil, o carnaval encontrou terreno fértil para desenvolver suas múltiplas faces. A elite dançava à moda de Veneza no salões, indo depois para as ruas através das grandes
sociedades.
O
povo
formava
núcleos
organizados,
gerando
inúmeras
manifestações, dando um colorido especial à festa. Nas senzalas, o negro incubou o samba, para anos depois, tornar-se elemento de integração nacional, instituindo-se a expressão máxima da chamada “brasilidade”. A integração de todos esses elementos foram sintetizados numa única manifestação: o desfile das escolas de samba. Nela verificamos a presença de diferentes estilos e manifestações artísticas, processos rituais, canto e dança em abundância, exercícios criativos de construir a ilusão de ser rei por uma noite. Noite de desfile é mesmo uma festa. Percorrendo os vagões do metrô ou dos trens que conduzem à avenida Marquês de Sapucaí, caminham, ansiosos e envaidecidos, componentes que irão defender “no gogó”, nos seus passos e na alegria estampada no rosto, as cores da sua agremiação. Faltam dez minutos para a escola deixar a armação na avenida Presidente Vargas e dobrar para a avenida. Aos olhos de quem não está acostumado com o processo de montagem de um desfile, aquilo tudo parece um grande quebra-cabeças que não vai conseguir se encaixar. “Não vai dar tempo”, pensam os mais desatentos, esquecendo que carnaval também é improviso. Uma contagem regressiva mental passa a tomar conta do ambiente, que é tomado pela ansiedade. Em poucos segundos, tudo se transforma: as alas se agrupam, os destaques sobem nas alegorias, os efeitos especiais são testados pela última vez na “boca” da avenida. O intérprete do samba, o puxador, convoca os componentes que passam a viver momentos de tensão e ansiedade que explodem na avenida em forma de alegria.
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