A folha dos Valentes - dezembro 2011

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dos conteúdos

28 – sobre a bíblia Natal sem anjos, nem pastores, nem magos...

O prólogo de São Joã

A caminho do Natal, parece-me oportuno propor uma vez mais um tema do Evangelho segundo S. João. Trata-se do trecho do Evangelho que a liturgia propõe no dia de Natal, e que é o início – prólogo – do IV Evangelho. É um belo poema que constitui como que o pórtico de entrada nesse mundo fantástico que é o Evangelho do Discípulo Amado.

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á aqui fomos propondo, em números anteriores, outros traços deste Evangelho: concretamente, o da amizade como chave de leitura do IV Evangelho e as afirmações de Jesus sobre si próprio – “Eu sou…” – e mormente a sua auto-definição como “porta”. Pretendemos, agora, mostrar como este poema inicial (Jo 1, 1-18) constitui como que o “resumo” do Evangelho segundo S. João; ou seja, aquilo que se diz nos primeiros dezoito versículos deste Evangelho será depois retomado nos quadros narrativos sucessivos.

Jesus é a Palavra O poema abre com a “Palavra” (“verbo”, derivado directamente da tradução latina de logos, que é verbum). Ficamos, depois, a saber que essa “Palavra” do v. 1 tomará corpo em Jesus de Nazaré: “O Verbo fez-se carne e habitou no meio de nós” (Jo 1, 14). Fica-nos a pergunta: como podia Jesus ser a “Palavra”? A resposta parece delinear-se na abertura da Carta aos Hebreus: “Antigamente, Deus falou aos nossos pais, muitas vezes e de muitos modos, por meio dos profetas; no final destes tempos falou-nos por meio do Filho” (Hb 1, 1-2). Se estamos certos deste paralelo, então, Jesus é a “Palavra” em dois sentidos: a Palavra do cumprimento das promessas antigas e a Palavra nova da comunicação mais perfeita entre Deus e os Homens

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Jesus – Palavra em dois sentidos: a) No sentido em que a Sua vida é a realização de promessa após promessa, feitas por Deus ao Povo de Israel, através dos profetas; neste sentido, será útil recordar que são várias as profecias a servir esta promessa messiânica e que dizem respeito ao Natal (a mais célebre delas todas: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, cujo nome será Emanuel”, Mt 1, 23; cf. Is 7, 14). Tudo isto faz sentido particularmente no contexto de um povo que vive da constante promessa da salvação que toma corpo na vinda de Jesus. A sua pessoa é presença de salvação. Veja-se que o II Concílio do Vaticano tem esta mesma leitura acerca da forma como no Antigo Testamento está preanunciado todo o Evangelho, ou seja, a libertação trazida em Jesus Cristo (cf. DV 3: “depois dos patriarcas, Deus instruiu, por meio de Moisés e dos profetas […]; assim preparou Deus através dos tempos o caminho ao Evangelho”). b) No sentido em que Jesus transmite a Palavra de Deus e é essa Palavra de Deus. A este respeito, a Palavra de Jesus no Evangelho Joanino é clara: “Já não vos chamo servos, mas amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15, 15). Neste sentido, Jesus já não é apenas o cumprimento das promessas antigas, mas o mais perfeito comunicador da mensagem de Deus, que Ele ouviu a seu Pai – a quem nunca ninguém viu, mas que o Filho dá a conhecer (cf. Jo 1, 18). E podemos mesmo ir mais longe e concordar com o que acima se expôs acerca da realização das promessas: Ele não só comunica a mensagem do Pai, como também é a própria mensagem do mesmo Deus Pai.

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