Santos da misericórdia

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SANTA FAUSTINA KOWALSKA (1905-1938)

A alegria de anunciar a misericórdia Santa Faustina foi canonizada pelo Papa João Paulo II a 30 de abril de 2000, instituindo para este mesmo dia do calendário anual a festa da Divina Misericórdia. Nesta ocasião, ele quis deixar-nos a sua mensagem, para o novo milénio, «a todos os homens para que aprendam a conhecer cada vez melhor o verdadeiro rosto de Deus e o verdadeiro rosto dos irmãos». É este o centro das mensagens que Jesus transmitiu a esta humilde religiosa polaca e por ela recolhidas no seu Diário. As duas riquezas que nos transmitiu são: 1ª – A necessidade da misericórdia, pela qual Jesus manifesta uma grande aflição pela desconfiança da humanidade em relação à sua bondade, sendo os pecados de desconfiança os que O ferem mais dolorosamente. Aponta o exemplo do sofrimento das mães que, desde as suas entranhas, sofrem o desprezo dos filhos em relação ao seu amor. Há, aqui, um convite a que porcuremos as consolações no “tribunal da misericórdia” (a Confissão), onde acontecem os maiores milagres. As palavras de Jesus são para ela e para nós, portanto, de uma ternura infinita, que une a justiça à caridade infinitas. 2ª – Os reflexos da misericórdia de Jesus desceram sobre Faustina, como resposta à sua incessante oração na qual Lhe manifestou o desejo de se transformar toda na Sua misericórdia. Ele manifestou-lhe que o Seu desejo era, também, que o seu coração fossse modelado segundo o Seu Coração misericordioso, fazendo-a a ser totalmente inundada pela Sua misericórdia.



SANTA TERESA DE LISIEUX (1873-1897)

Reconhecimento ao Deus «justo e misericordioso» Na sua «infância espiritual», Santa Teresa do Menino Jesus viveu com misericórdia até na sua inocência, concluindo a sua existência com um «ato de oferta ao amor misericordioso do Bom Deus». A palavra misericórida poderia servir de título para todos os manuscritos da sua mais importante obra, a História de uma alma, porque neles canta «as misericórdias do Senhor», contempla que o Bom Deus é Justo em atenção quer às nossas debilidades, de forma a que não devamos ter medo, porque Ele é como uma mãe que nos consola nas adversidades. Por isso, o melhor é abandonarmo-nos como alma pequenina e humilde à msiericórdia infinita do Senhor. Ali, ela descobre para si e para nós «um caminho belo e direito, muito curto, um pequenino caminho totalmente nove para ir para o Céu: deixarse levar nos braços de Jesus». Na sua vida de Teresa vê unificada, como acontece em Deus, a justiça e a misercórdia, o que a levou a concluir que Deus Criador vê perante Si três tipos de pessoas: 1º – a criancinha que O enche de ternura; 2º – o filho pequeno que caiu e se magoou; 3º – o filho pequeno que Ele avisou para que não caísse. Centrada na misericórdia divina, ela chegou ao cúmulo de ficar a saber que «há quem ame pouco porque pensa que leh foi perdoado pouco; há quem ame muito porque sabe que foi muito perdoado; e há quem ame loucamente porque sabe que tudo lhe foi perdoado por antecipação, sabe que é graça também o não ter pecado, a quem Ele livrou das possíveis quedas!



SANTO CURA D’ARS (1786-1859)

Ministro da Misericórdia Entre todos os «misericordiosos», uma veneração especial é devida àqueles que foram chamados a administrar o sacramento da misericórdia de Deus e realizaram santamente esta tarefa. Era esta a convicção do pároco de Ars, que gostava muito de repetir: «O Sacerdócio é o amor do Coração de Jesus». e acrescentava: «Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina». Por vezes, sucedia a este Santo encontrar algum penitente receoso e duvidoso do perdão de Deus, pela consciência de ter pecado uma vez mais, e então ele dava esta incrível e sublime resposta: «O bom Deus sabe tudo. Antes de vos confessardes, sabe já que pecastes mais outra vez, e todavia vos perdoa. Como é grande o amor do nosso Deus que vai até ao ponto de se esquecer voluntariamente do que me aconteceu, justamente para nos perdoar». E quando ouvia louvores por à sua paróquia ir parar toda a França, quase parecendo um rio de pecadores à procura de perdão, declarava: «Não é o pecador que volta para Deus para Lhe pedir perdão, mas é o próprio Deus que corre atrás do pecador e o faz regressar a Ele».



SANTA TERESA DE CALCUTÁ (1910-1997)

A misericórdia para os últimos A Madre Teresa de Calcutá dedicou-se a entrelação o culto da Eucaristia e as obras de misericórdia em favor dos mais pobres entre os pobres. Foi nesse sacramento do Corpo e Sangue do Senhor que pôde encontrar o segredo e a força para dar um verdadeiro abraço de caridade dulcíssima a todo o marginalizado. Ela explicou este segredo, deste mdoo, às suas irmãs: «Já observastes com que amor e delicadeza um sacerdote trata o corpo de Cristo, durante a Missa? Procurai vós fazer o mesmo na casa dos moribundos onde tendes de ir: ali está Jesus sob a aparência do sofrimento». E elas comprendiam melhor essa «presença real de Jesus» quando tocavam os membros dolorosos dos doentes, através dessa «identificação eucarística» que Madre Teresa explicava ser a identidade do seu instituto de caridade: «somos religiosas e não assistentes sociais, nem professoras, nem enfermeiras, nem doutoras. A nossa diferença dos técnicos consiste nisto: eles agem por alguma coisa; nós, pelo contrário, agimos por causa de Alguém. Nós servimos Jesus nos pobres. Tudo o que fazemos – oração, trabalho, sacrifícios – fazemo-lo por Jesus... Só Ele é a explicação da nossa vida». E «os mais pobres dos pobres», que as irmãs ainda hoje atendem, são as crianças ainda não nascidas, as deficientes, aas abandonadas, as jovens mães rejetiadas pela família, os leprosos, as prostitutas, os prisioneiros, os sem-abrigo, os alcoólicos, etc. – a quem Madre Teresa respondia com três princípios: 1º – (Ao início) Começamos a abrir os corações pela limpeza das casas de banho; 2º – (Ao centro) Eu amo Jesus com todo o coração e com todo o meu ser. 3º – (A tarefa) Trabalhar para a santificação dos pobres, para dar santos a Deus.



SÃO JOÃO DE DEUS (1495-1550)

Reconhecer o rosto sofredor de Cristo É considerado «o criador do hospital moderno». De nome João Cidade, não cuidava apenas dos doentes: as curas que ele oferecia estendiam-se a todas as obras de misericórdia, dando conta de que eram imensas as necessidades graves dos que encontrava. De interesse particular foi a sua maneira de acolher e tratar os “doentes mentais”. Alguém escreveu sobre ele dizendo: «embora desprovido de estudos de medicina, João mostrou-se mais inteligente que os próprios médicos, de modo especial na cura das doenças mentais, inaugurando, com grande antecipação, o método psicoanalítico ou psicossomático que será a glória, quatro séculos mais tarde, de Freud e dos seus discípulos». É, hoje, de grande importância o instituto por ele fundado – os Irmãos Hospitaleiros de São João de Deus –, que é um eco do modo como São João de Deus costumava pedir esmola para os seus doentes: «Quem quer fazer bem a si próprio? Meus irmãos, por amor de Deus, fazei o bem a vós mesmos!» Com efeito, não se consegue amar verdadeiramente a pobreza alheia, se primeiro não se descobrir também a própria miséria escondida. Daqui o dever de «fazer o bem a nós mesmos fazendo-o aos outros».



SÃO JOÃO BOSCO (1815-1888)

Misericórdia para com os pequeninos Toda a Igreja reconhece em João Bosco um verdadeiro génio da educação, baseada no método preventivo, que sabe ir diretamente ao coração dos rapazes. Era uma característica sua saber unir a severidade do dever e da correção com a doçura do sorriso. Quem o observava naqueles momentos dizia: «Nos santos com em Deus a justiça e a misericórdia beijam-se inefavelmente». E quando d. Bosco falava aos seus rapazes do sacramento da Confissão, fazia-o de modo a fazer compreender que «para ele a esperança, a misericórdia e a confissão eram sinónimos». Calcula-se que D. Bosco tenha assistido e educado nos seus Oratórios não menos de cem mil rapazes abandonados, inventando para eles as primeiras «escolas de trabalho”, assinando ele mesmo os primeiros contratos de aprendizagem; as primeiras “escolas noturnas e dominicais”; as primeiras “sociedades de socorro mútuo para trabalhadores”; a primeira bilbioteca para a juventude italiana, sendo ele mesmo responsável pela publicação de duzentos e quatro volumes práticos. E foi o primeiro padre a ter uma galeria especial sobre si na Exposição Nacional da Ciência da Indústria e da Arte que se celebrou em Turim em 1884. Tudo isto nascia de um juramento interior que D. Bosco esplicava deste modo aos seus rapazes: «Prometi a Deus que até ao último suspiro meu vos pertencia, jovens! Eu por vós estudo, por vós trabalho, por vós estou até disposto a dar a vida. Fazei de conta de que tudo aquilo que sou, sou-o todo para vós, dia e noite, manhãs e tardes, em qualquer momento».



SANTA ISABEL DA HUNGRIA (1207-1231)

A riqueza ao serviço da pobreza Era rainha, mas enamorou-se pelo ideal pregado por Francisco de Assis, que então ainda vivia. Eram muitas as princesas que, na época, sonhavam imitar Clara de Assis, pelo menos como “terciárias”. As que não podiam deixar os castelos luxuosos para viverem em pobreza decidiam, então, «habitar entre muros esplendorosos da caridade». Desta forma, para enfrentar a chaga de uma temível carestia que se abatera sobre as suas terras, Isabel começou a fazer construir, perto do seu castelo, um hospital onde ordenou que fossem acolhidos e alojados todos os que se conseguiam sustentar. Para aí acorreram doentes, famintos, mendigos de todo o género, e a rainha «chegou ao ponto de passar para beneficência os impostos dos quatro principados do seu marido e de vender objetos de valor e vestes preciosas...». À morte do marido, abandonou os ricos parentes, para viver num novo hospital que tinha mandado construir, para servir pessoalmente os seus doentes. O confessor que a guiava atentamente e a vigiava para que não se excedesse descobria ocasionalmente que Isabel tinha também os seus pobres incógnitos: uma criança paralítica que ela tinha no seu próprio quarto, assistindo-a pessoalmente, dia e noite; uma menina leprosa que tinha resguardado como uma filha; e um menino coberto de sarna a quem prestava os mais humildes serviços. Quando Isabel morreu, «toda cheia de compaixão», tinha somente vinte e quatro anos, quese todos passados a reivindicar a sublime e cristã dignidade de todos os pobres do seu reino. Foi canonizada apenas quatro anos após a sua morte e proclamada «Padroeira das associações caritativas». Alguns preferiram chamá-la «a santa da justiça»!



DOROTHY DAY (1897-1980)

Misericórdia para os marginalizados Descobrir santamente as «obras da misericórdia» depois de ter vivido durante muitos anos numa perturbada procura da verdade e da santidade que não conseguia identificar. Foi ateia, anárquica, socialista, contestadora e rebelde, mas nela havia também «o estilo de vida de São Francisco de Assis, a coragem profética de Santa Catarina de Sena, o dinamismo de Teresa de Ávila, a confiança na providência de Bento Cotolengo e o Espírito de acolhimento de São João de Deus». Apesar de todas as suas estranhas experiências que fazia, permitia que dentro dela crescesse, de maneira incontida, o desejo de rezar. Converteu-se aos vinte e cinco anos, literalmente lançando-se nos braços de Deus e da Igreja, renunciando a qualquer outra segurança, mas continuando a manter um movimento em defesa de todas as “batalhas” sociais que considerava justas. Continuava sempre a explicar que «ver Cristo nos outros, amá-l’O e tê-l’O em atenção é sinónimo do Paraíso, porque viver em união com Deus faz-nos apreciar a alegria celeste. Quem viver com esta consciência dentro de si é um santo» e afirmava com idêntica força que «os verdadeiros ateus são os que não veem Cristo nos pobres». Aos seus «operadores», por vezes de diferentes níveis ideológicos, falava sempre e só de «obras de misericórdia», não conseguindo entrar expressão melhor para descrever os ideais do Movimento Católico de Trabalhadores, por ela fundado em 1933. Apenas exigia que em cada casa houvesse um quarto reservado para a oração, em que cada um pudesse estar livremente como e quando queria. Dorothy foi definida como «a anárquica de Deus», mas no seu túmulo está representado um cesto de pão com dois peixes, e a frase «Deo gratias!».



SÃO PEDRO CLAVER (1580-1654)

Em missão de misericórdia rumo aos afastados Ainda jovem estudante jesuíta em Palma de Maiorca, ouviu o convite do velho porteiro do seu convento que lhe contava o que sucedia no novo mundo e lhe sugeria: «As almas dos índios têm um valor infinito, porque foram compradas pelo mesmo preço do sangue de Cristo... Vai para as Índias conquistar todas as almas que se perdem!» Foi assim que Pedro pediu para ser enviado para Cartagena, na Colômbia, em cujo porto os navios negreiros descarregavam um milhar de escravos todos os meses. Ele não tinha nenhuma possibilidade de agir social ou politicamente, mas decidiu imediatamente pôr-se ao serviço daqueles pobres, apresentando-se como «escravo dos negros para sempre» e agindo para lhes dar uma dignidade à qual eles nunca poderiam aspirar: a digidade de se sentirem amados. A todos os escravos prestava sem delongas todo o socorro possível, depois de haver pedido esmola em favor deles, para juntar géneros de primeira necessidade e de conforto. Depois, começando por aqueles que lhe apareciam já moribundos pela exaustão, dava-lhes uma catequese extraordinária através de grandes cartazes, por ele mesmo pintados a cores vivas nos quais contava a vida e a misericórdia de Jesus Crucificado. De seguida, com o mesmo método, Pedro contava a todos o Evangelho, explicando as verdades da fé cristã e ensinando os mandamentos de Deus. Assim, vivia convencido de ter alcançado o coração dos seus pobres negros, quando os ouvis repetir os seus ensinamentos. Pedro também aprendeu a falar os seus dialetos e formou viários catequistas, tornando-se o «Padroeiro universal das missões entre as populações negras».



SANTO ALBERTO CHMIELOWSKI (1945-1916)

Misericórdia ou revolução? O seu nome de batismo era Adão e em Varsóvia era conhecido como pintor, prometedor e genial. Mas a sua intensa fé cristã trazia-lhe sempre da alma a pergunta: «Qual é a finalidade da arte? Qual é o destino do artista?» Desde há algum tempo dedicavase à pintura de um Ecce homo (“Eis o homem” cf. Jo 19, 5), uma tela que lhe parecia sempre inacabada até que compreendeu que não conseguiria criar aquela obra de arte que sonhava se não se dedicasse antes de mais nada a restaurar nos pobres a imagem de Cristo sofredor. Hoje, esse Ecce homo está em cima do seu túmulo. Vestia-se com uma pobre túnica e fazia-se chamar de frei Alberto. Tomou conta de alguns indigentes na sua própria habitação; depois decidiu passar a visitar os vadios amontoados nos dormitórios públicos de Cracóvia, onde nenhum homem normal ousava alguma vez aventurar-se. Quando por lá andou, ameaçaram-no de morte somente por o verem. E Chmielowski compreendeu que aquela miséria era de tal modo excessiva que não podia ser consolada nem socorrida a não ser sob uma condição: «Deve-se viver com eles! Não se podem deixar sozinhos!» Então, vendeu todos os seus quadros e foi viver com eles, aproveitando o verão, quando os dormitórios estão mais vazios, para fazer restaurar, renovar e embelezar aqueles horríveis asilos e transformá-los em «casas de assitência». De pintor célebre a pai dos pobres, fez-se pedinte em favor dos seus marginais, percorria os mercados para comprar alimentos para eles, reunindo com ele muitos colaboradores, até fundar uma congregação masculina e uma feminina, nas quais se praticava a pobreza absoluta, em anos em que, na vizinha Rússia, estava para rebentar a revolução comunista. João Paulo II canonizou-o em 1989, em que se celebrou o fim do regime comunista.



TITO BRANDSMA (1881-1942)

Um “pai” forte e misericordioso É um exemplo vivo da parábola do filho pródigo e do pai misericórdioso, a hsitória extraordinária do padre Tito, carmelita holandês, deportado e assassinado pelos nazis no campo de Dachau. Tinha então cinquenta e nove anos; era professor de Filosofia e de “História da Mística” na Universidade Católica de Nimega, da qual tinha sido também magífico reitor. Sobre a forma como oa alemães tratavam os judeus, escreveu: «O que agora se faz contra os judeus é um ato de velhacaria. Os inimigos e os adversários deste povo são realmente mesquinhos se considerarem dever afir de maneira tão desumana, e se com isso pensarem manifestar ou aumentar a gorça do povo alemão, o que é uma ilusão da fraqueza». Na Alemanha reagiram a esta afirmação definindo-o como «professor maligno». Mas ele, consciente da sua responsabilidade como educador, nunca desistiu, correndo riscos diante dos espiões do partido alemão. No ano escolar de 1938-39, ele já oferecia aos seus estudantes cursos sobre as «funestas tendências» do nacional-socialismo, contrárias aos valores que ele professava, tais como: o valor e a dignidade de toda a pessoa humana são ou doente, a igualdade e bondade de todas as raças, presença e orientação de Deus na história humana, etc. Em 1941, avolumaram-se os conflitos entre as ideologias contrárias à defesa da dignidade humana e o que o padre Tito defendia no jornal católico que assistia. Poucos meses depois, foi preso e deportado para o campo de concentração de Dachau, onde foi sujeito a todo o tipo de torturas. Foi assassinado por uma enfermeira que depois se converteu por nunca se esquecer do seu exemplo de confiança em Deus Pai e pela oração persistente apesar dos maus tratos.



SANTA JOANA BERETA MOLA (1922-1962)

Uma mãe misericordiosa O termo «misericórdia», na linguagem bíblica, indica o apego de uma mãe ao filho que trouxe no seio. E certamente são inumeráveis os exemplos do indestrutível amor maternal. Mas a misericórida mostra-se sobretudo quando, à mesma mãe, é pedido um “mais” de amor, muitas vezes incompreendido pelos outros. Tal é o caso de Santa Joana Bereta Mola, uma mulher, esposa e mãe, que era médica e vivia essa profissão apaixonadamente. Ela escreveu no seu diário: «A nossa missão é cheia de beleza. Todos no mundo trabalhamos de algum modo ao serviço dos homens. Mas nós trabalhamos diretamente sobre o homem. O nosso objeto de ciência e de trabalho é o homem que nos diz à nossa frente: ... “Ajuda-me!”, e espera de nós a plenitude da sua existência... a nossa missão não acaba quando a medicina já não serve. Há uma alma para levar a Deus. É Jesus quem diz: “Quem visitar um doente, visitame a Mim”. Missão sacerdotal: como o sacerdote pode tocar Jesus, assim nós médicos tocamos Jesus no corpo dos nossos doentes, dos pobres, dos jovens, dos velhinhos e das crianças. Que Jesus se faça ver em nós. Que Ele tenha muitos médicos que se ofereçam a si mesmos para Ele». No projeto de família, desde o namoro, acomanhava Joana este “toque” de Jesus, pois para o seu futuro marido Pedro não havia segredos quanto ao amor de Jesus, de forma que dentro da sua família queriam que houvesse sempre um pequeno cenáculo, onde Jesus reinasse sobre todos os afetos, desejos e ações. Na gravidez do seu quarto filho, por causa de uma doença grave no útero, Joana decidiu morrer para que o seu menino vivesse. Foi uma mãe que preferiu esquecer-se de si, em vez de esaquecer a criatura que trazia no ventre e que somente ela podia salvar.



ISABEL CANORI MORA (1774-1825)

Uma esposa toda misericordiosa Hoje muito se fala da misericórdia que muitas famílias feridas e muitos cônjuges estão a necessitar, afogados em problemas e conflitos que não conseguem suportar. No entanto, talvez se pudesse falar principalmente da misericórdia que esses mesmos cônjuges em crise poderiam humildemente exercer logo desde o primeiro momento em que a família começa a vacilar. Às vezes, para a salvar, chegaria também somente a misericórdia pacientemente exercitada por um úncio membro, capaz de esperar e de amar com esperança. Tal foi a história de Isabel Canori Mora que São João Paulo II beatificou no Ano Internacional da Família (1994). O matrimónio entre Isabel e Cristóvão Mora parecia inicialmente a concretização de uma fábula. Ele era proveniente de uma nobre família romana e ele era um jovem advogado rico. Ele dizia estar encantado pela beleza da sua noiva, tanto que jurava e esconjurava que nunca procuraria outra mulher, caso ela se dignasse aceitá-lo. E inquatava-se com o pensamento de que algo a pudesse ofuscar: a sua esposa não devia nem fatigar-se, nem fazer qualquer trbabalho que a pudesse desfigurar. Nem sequer admitia que se dedicasse à costura ou a bordar, para que não se lhe endurecessem os dedos. E também tinha um ciúme obcessivo, tanto que impedia à mulher todo o contacto com os parentes. E a história que se segue é a consequência disso, da parte do marido: frieza glacial, ausência, infidelidades, jogo, dívidas. Isabel teve de se desfazer das suas jóias e até mudar para uma casa mais simples para poder pagar as dívidas do marido e educar os filhos. E pobre de afetos, para além de doente do estômago. É aqui que ela dá um testemunho belo de experiência espiritual, vivendo o sacramento do Matrimónio como sinal de uma relação com Alguém que é maior.



LAURA VICUÑA (1891-1904)

Uma filha misericordiosa Existe uma «misericórdia» especial que só «os pequenos santos» podem exercer para com os adultos: a misericórdia para com os próprios pais! A pequena Laura – santa aos doze anos – e disso uma bela demonstração. Nasceu em Santiago do Chile, mas a família, politicamente perseguida, foi obrigada a fugir para a Argentina. À morte prematura do pai, a mão, privada de todo o apoio, numa terra hostil, acabou por se confiar a um rico proprietário de muitas terras, Manuel Mora, famoso por ser violento e dado a brigas, amante do jogo, orgulhoso de se exibir à frente dos amigos com cavalos e mulheres. Chamavam-no «o gaúcho mau», que tratava os criados e mulheres como seus escravos. A história de Laura e da irmã é passada entre o colégio salesiano onde estudavam e as férias de verão na quinta, onde eram confrontadas por uma vida constrastante, de clandestinidade na oração. Laura sofria uma grande pena por ver a sua pobre mãe arrastada para uma vida longe da fé, ao mesmo tempo em que no colégio as irmãs lhe falavam sobre os valores do matrimónio. Entretanto, decidiu, com a ajuda do seu confessor, doar a sua vida a Jesus, pois achava que lhe tocava dar a vida pela mãe. Quando crescida e bela, Laura foi, também, assediada pelo senhor Mora, que lhe pagava os estudos só com o objetivo de substituir a mãe. O momento crucial do seu sofrimento, já gravemente doente, foi quando o Manuel a arrastou pelos cabelos para fora de uma casa muito pobre onde já estava com sua mãe, numa tentativa de libertação. Só á força da ajuda dos vizinhos é que se viram livres dele. Perto da morte, conseguiu que sua mãe se convertesse e se voltasse para Cristo, que veio a comungar logo no funeral da filha, aclamada por todos de “virgem e mártir”.



MARIA Mãe de Misericórdia Maria é a primeira criatura que, pela primeira vez, na Encarnação, pôde «ter a misericórdia de Deus» dentro de si, o Verbo Redentor. Outrora, no Antigo Testamento, a misericórdia foi desde sempre considerada ser o mais admirável atributo divino, entendido como um termo “materno” no sentido de uma ternura visceral de Deus para com todas as suas criaturas. Maria é a primeira a ter, inclusivamente em sentido físico, uma atração visceral por Deus, uma vez que fora concebida sem pecado para ser a Mãe de Jesus. E isto não teria sido possível se Deus não fosse desde sempre, em Si mesmo, também «Filho». Portanto, como nova Arca da Aliança, Maria guardou no seu coração a misericórdia divina em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. Chamar a Maria «Mãe da Misericórdia» significa exatamente dizer que Ela conhece como ninguém, humana e visceralmente, o mistério da «filiação de Deus» e das «vísceras do Pai» que contém também a promessa, que nos é dirigida, de nos fazer a todos «filhos no Filho». No Natal, Maria teve entre os braços toda a misericórdia de Deus, para, na Páscoa, junto ao Calvário poder consentir ser também Mãe de todos os crentes, representados em João, o discípulo amado. Através de uma nova e definitiva entrega, Maria, apaixonadamente, por um novo amor e um novo parto, é recebida pela Igreja como uma Mãe de inumeráveis filhos que a haveriam de aclamar: «Salvé Rainha, Mãe de Misericórdia, vida e doçura, esperança nossa».


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