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HÉDITO MARCELINO

O Rei Dos Cocktails

Hédito Inácio Marcelino, 32 anos de idade, Natural de Chimoio província de Manica.

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Fale-nos da “Laranjinha”, surgimento e crescimento?

A Laranjinha Cocktails surge em 2013, quando um amigo meu veio a Maputo, e ele trabalhava com um Bar na Cidade da Beira, Ele já tinha umas noções do mundo de cocktails. Ele vinha para tentar novas oportunidades aqui em Maputo, e, na altura, veio viver comigo. Nesse tempo, ele insistia-me para que ambos aprendêssemos mais a preparar cocktails, ou, mais especificamente, para eu aprender essa “arte” de fazer cocktails. Porém, na altura, eu estava focado na Faculdade, e não tinha muito tempo para tal, e, na verdade, não achava ser uma área que eu realmente precisasse, pois não apreciava.

Um mês depois, surgiu a oportunidade para podermos preparar cocktails no FEIMA, que é uma Feira de Gastronomia, que acontecia, na altura, em Maputo. Os organizadores deram-nos a possibilidade de abrir o nosso próprio “stand”, onde fizemos uma junção dos nomes para poder a fazer a nossa primeira marca, que era “ML Cocktails”, uma junção do “M” do Mike e “L” do Laranjinha. Foi um começo muito fixe; muitos dos amigos que nos conheciam, na altura, deram-nos algum apoio: vinham fazer a compra com o pessoal.Então, fui fazendo pesquisas, inclusive acabei comprando alguns livros, fui pesquisando, estudando… quatro meses depois, o meu amigo teve que voltar à Beira, porque teve uma outra oportunidade. Para nós, foi muito bom sabermos que ele tinha que voltar à Cidade da Beira, numa posição melhor, em termos de trabalho.

Diante disso, tivemos que romper a nossa parceria, porque eu sem ele não poderia conseguir, poia ele tinha mais experiência. Nesse tempo, fiquei um pouco “parado”, e decidi ir à Cidade de Chimoio, de férias da Faculdade. Para o meu espanto, deparo-me com o facto de a mãe de um amigo meu possuir um Restaurante lá na Cidade de Chimoio, de nome “Xeirinho”. E, como ela já sabia que eu já estava no mundo dos cocktails, propôsme algo da seguinte forma: “olha que tal tu poderes fazer aqui uns cocktails numa sexta-feira?” Mas eu não tinha nem o material, acredita!. Mas antes fiz uma pesquisa na cidade de Chimoio, para ver onde é que eu poderia encontrar algum material, e, na altura, se a memória não me falha, encontrei um shaker na Sena Centro, e foi o único material que eu encontrei; não tinha mais nada, mas esse material eu usei durante sete anos, só que, infelizmente, quando a empresa foi crescendo, fui partilhando o mesmo material com outros colegas, que trabalham comigo até hoje, e, como sabes, quando o material é usado por várias pessoas não dura muito.

Qual tem sido a demanda pelos vossos serviços?

A demanda foi sempre crescendo, desde que conseguimos abrir o nosso Escritório; porque além dos eventos privados, como casamentos, aniversários, baptizados, noivados, por aí em diante, começámos a atacar também o lado mais corporativo, que são as Empresas. O negócio foi crescendo, que, em 2016, concluí meu primeiro Curso de Bartender Internacional, que é o “Cash Selecta”, que é o meu ídolo até hoje. Portanto, tive a primeira formação, que, na altura foi ministrada pela Pernod Ricard, que o título era “Bar Stars Academy”, reservado só para os Restaurantes de alto nível em Maputo, e alguns hotéis, como Dolce Vita, Silk, na altura, Hotel Polana, News Café.

Confesso que eu tive a sorte de ser o único, como privado, a ser chamado para essa formação. Acredito que foi pela qualidade de trabalho e pela qualidade de serviço que estávamos a oferecer na altura. Acho que eles olharam para nós e disseram que “Bom, eles estão a trabalhar com isto, e porquê não os formar também?” Então, aquela formação despertou-me muito, ou seja, abriu a minha mente em termos do “Mundo de Coquetelaria

Em que cidades presta ou já prestou esses serviços?

Prestamos serviços em todo o Moçambique, mas neste momento temos escritórios em Maputo e Chimoio. Dependendo da localização do cliente, vemos qual das equipes está mais próxima para evitar que o cliente gaste muito com a logística. E já prestamos serviços em Durban e Krüger Park, na África de Sul.

Como você se tornou um mestre em Coquetelaria?

Tornei-me mestre através das formações que fui fazendo. A primeira foi através do meu amigo, foi uma formação cá. A segunda foi através da internet, através de pesquisas. A terceira foi em 2016, quando tive a oportunidade de ter uma formação com o meu ídolo, que até hoje é o Karl Schlatter, um dos melhores Bartenders do mundo, que já ganhou três competições mundiais. Depois, em 2017, fiz o meu curso nas Cidades do Porto e Amsterdam. Em 2018, consegui ganhar o prémio de melhor Bartender da África Austral, competindo com os bartenders da África do Sul, Zâmbia, Namíbia, Botsuana, Malawi e Zimbábwe. Este concurso decorreu em Lusaka, na Zâmbia.

Competir com pessoas que estão em países mais desenvolvidos que nós, como a África do Sul, por exemplo, que têm mais ferramentas à sua disposição do que nós, e, mesmo assim, vencê-los, é algo que me fez sentir muito, muito, muito importante nesta área, e como um mestre; tanto que, a partir daí, comecei já a usar a sigla de Mixólogo e não de um normal Bartender.

Quais são as principais habilidades que você acredita que um bom mestre de Coquetelaria deve ter?

As principais habilidades que um bom mestre tem que ter é basicamente olhar para um produto, seja em qualquer categoria das bebidas, poder apreciar, sentir o cheiro e tentar decifrar o que pode criar como receita. É o primeiro ponto.

O segundo ponto é olhar para aquilo que é a apresentação da tua bebida, o “look and feel”, ou seja, como é que o cocktail vai apresentar-se.

O terceiro ponto é ter o equilíbrio das misturas que tu vais fazer; e o quarto ponto é a decoração que tu vais implementar neste copo. Então esses são os aspectos ideais para tu basicamente teres uma abordagem de Mestre de Coquetelaria. A partir daí tu consegues criar novas receitas e, acima de tudo, os bons Bartenders, os Mixólogos ou Mestres de Coquetelaria devem saber usar conteúdos locais para poderem impulsionar mais aquilo que é do seu país para o mundo lá fora.

Qual é a sua abordagem para criar novos cocktails? O que inspira suas criações?

E o que é que me inspira nas criações é mesmo aquilo que eu acabei de dizer. É olhar para aquilo que é o nosso, local, porque tudo o que nós aprendemos no mundo de cocktail vem de fora, é tudo internacional. Então, porque é que não levarmos também aquilo que é nosso lá para fora? Acrescentando mais um ponto: para eu poder ter vencido o prémio de “Melhor Bartender da África Austral”, em Lusaka, deveu-se ao facto de ter usado um fruto local, num cocktail, que é a maçanica. Eu venci com o “Jameson Maçanica”, o prémio do melhor Bartender da África Austral.

Como você escolhe os ingredientes para seus cocktails? Quais são seus ingredientes favoritos?

Essa pergunta é um bocadinho... um bocadinho assim, estranha, porque, normalmente, eu escolho os ingredientes mediante aquilo que são as necessidades que nós temos. Se, por exemplo, chega uma nova marca de bebida, ou se aparece um cliente que quer um serviço, e ele diz olha, eu gostava de ter a base de manga ou a base de toranja ou a base de qualquer um ingrediente ou qualquer bebida; aí eu vou tentando juntar aquilo que é a necessidade do cliente com a nossa realidade moçambicana. Como vês, não temos uma base fixa de escolha de ingredientes. Pois nosso foco é satisfazer e agradar as necessidades dos clientes. Então, aquilo que o cliente pede é aquilo que nós oferecemos.

Qual é a sua opinião sobre a importância da apresentação de um Cocktail? Como você trabalha a apresentação dos seus cocktails?

A importância da apresentação dos cocktails é algo que todo o Bartender tem que olhar como uma prioridade, porque é o “look”, a imagem, que vende o produto todo. Não basta tu teres um copo com um cocktail muito saboroso, mas a sua apresentação ser muito fraca. Eu acho que no mundo de hoje as pessoas não fazem decorações muito, muito trabalhadas.

Digo muito trabalhadas em que sentido? Em encher o copo de muitas coisas. Vou dar um exemplo muito prático. Hoje em dia vejo muita gente a preparar Gin, ou seja, “Gin and Tonic” com frutos vermelhos. E tu vês um copo tão cheio de frutos vermelhos que até parece uma salada de frutas. Aquilo estraga o sabor da bebida

Como você lida com clientes que têm gostos e preferências diferentes? Como você adapta seus cocktails às necessidades dos clientes?

Bom, conforme eu disse antes, cada cliente é um cliente, e cada cliente tem os seus gostos e preferências. No entanto, eu vou de acordo com aquilo que é a necessidade do cliente, mas vou sempre aconselhar quando for uma mistura que eu sei que não faz bem. Porque não basta só tu misturares qualquer bebida e já tens um cocktail. Não! Isso tudo requer uma base de formação, de conhecimento, porque nem todas as misturas são corretas, posso assim dizer.

Por exemplo, nunca podes misturar uma Coca-Cola e um Jameson. As pessoas normalmente têm essa tendência de um “whisky cola”, mas faz mal por causa da cafeína, por causa do açúcar. O mesmo posso dizer a tendência de misturar um Jameson com uma Red Bull. Na hora que tu estás a consumir, sabe muito bem, mas tem efeitos a posteriores, como AVCs, problemas de coração… então, é sempre importante podermos dar aquilo que é a nossa opinião, mas, acima de tudo, seguir a linha das necessidades do cliente.

Qual é o seu processo de treinamento para Bartenders iniciantes? Como você os ensina a criar cocktails e servir seus clientes?

Bom, o processo de treinamento para Bartenders iniciantes é algo que eu adoro e gosto muito de fazer formações para novos aprendizados, porque conforme eu disse, a ideia é de unificar a qualidade de um cocktail desde o Rovuma ao Maputo, e para os iniciantes eu sempre digo uma coisa antes da formação: façam o trabalho com amor e não pelo dinheiro. Digo isto porque se tu fazes pelo dinheiro, tu não vais ter uma paixão pela área que estás a exercer. Não vais conseguir dar o que o cliente precisa, tu vais fazer porque sabes que no final do evento ou no final do mês tens o teu ordenado e a tua vida está a andar. Isto é extremamente errado, primeiro nós temos que amar aquilo que fazemos e depois é que vêm os bónus Temos que nos inspirar nos outros, e nós temos que ensinar os outros; essa é a nossa missão. Queremos desenvolver esta “arte” magnífica em Moçambique, mas ainda não há muita valorização, desde os proprietários das casas aos próprios clientes, porém acredito que em breve vamos conseguir dominar isso

Qual é a sua opinião sobre a utilização de ingredi entes locais e sazonais em cocktails? Como você incorpora esses ingredientes em suas criações?

A minha opinião em relação ao uso de ingredientes locais e sazonais é algo muito importante. Primeiro, ingredientes sazonais são ingredientes que agregam mais lucros ao seu bar. Isto porque nós sabemos que, nas épocas de certas frutas, o custo é mais reduzido e automaticamente nós podemos criar várias receitas com o mesmo ingrediente em diversas categorias de bebidas, e aí o nosso custo de produção é mais baixo e conseguimos ter mais “profit” nisso tudo.

E, mais, a utilização dos ingredientes locais é bom, porque valorizamos aquilo que é nosso; o famoso “Made in Mozambique” serve para ajudar as comunidades locais, que têm produzido estes mesmos produtos. E além de valorizar, estamos a publicitar o nosso produto ao nível internacional.

Qual é o seu cocktail favorito e por quê?

O meu cocktail favorito? Uauh! Essa questão é um bocadinho complicada de responder, porque dos cocktails que eu fui aprendendo e dos que eu criei... Perdão, dos que eu criei, porque eu até acho que devo ter por aí uns 93 ou 90 e tal cocktails criados por mim; então, é difícil eu dizer que o meu favorito é este, porque cada criação envolve um sabor diferente um do outro; e garanto-lhe a 200% que os cocktails que a Laranjinha cria, são os melhores de Moçambique. Isto não há dúvidas, mas olhando para a questão, eu se calhar diria que o HERI 16, que é o cocktail que eu criei com o nome da minha filha, é um dos favoritos. Porquê? Primeiro, porque tem o nome da minha filha, segundo, porque em comparação mesmo, parte de duas cores, e ao longo do tempo que tu vais consumindo ele vai mudando de cor, então posso assumir que é um cocktail favorito nesse sentido. É um bocadinho “sweet”. em termos de sabor, e é mais aconselhável para mulheres, alguns homens podem consumir, para quem não gosta de coisas mais ácidas, mais cítricas, mais amargas, por aí em diante; mas eu posso dizer que HERI 16.

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